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E aí, galerinha de
cinéfilos! Aqui quem fala é o João Pedro! Como vocês aprenderam
no meu último post, o meu diretor favorito é o Wes Anderson, e o
filme que eu estive mais esperando para ver nesse ano é o novo filme
em stop-motion dirigido por ele, Ilha dos Cachorros. Promovido como
um filme de aventura ambientado no futuro, o filme na verdade é uma
alegoria à um dos eventos mais importantes e decisivos na história
do universo. Então, vamos começar a analisar a nova obra de Wes
Anderson.
(What's up, film buffs!
João Pedro here! As you learned from my latest post, Wes Anderson is
my favorite director, and the film I've been most excited to watch
this year is his new stop-motion film, Isle of Dogs. Marketed as an
adventure film set in the future, it is actually, an allegory to one
of the most important, decisive events in history. So, let's start
analyzing Wes Anderson's new opus.)
Pra quem ainda não
sabe, o filme conta a história de Atari Kobayashi (Koyu Rankin), um
menino de 12 anos que é sobrinho do corrupto Prefeito Kobayashi
(Kunichi Nomura), que assina um tratado que diz que todos os
cachorros devem ser relocalizados para uma ilha cheia de lixo, para
evitar que uma gripe canina, criada pela própria dinastia Kobayashi,
se espalhe pela futurística cidade de Megasaki. Atari, então, rouba
um jato em miniatura, e parte em busca do seu cachorro Spots (Liev
Schreiber), começando uma aventura que irá mudar para sempre a
história da cidade.
(In case you missed it,
the film tells the story of Atari Kobayashi (Koyu Rankin), a
12-year-old who is nephew to the corrupt Mayor Kobayashi (Kunichi
Nomura), who signs a treaty that says all dogs must be relocated to
an island full of garbage, to avoid the spreading of a dog flu,
created by the Kobayashi dynasty, through the futuristic Megasaki
City. Atari then steals a miniature jet and leaves to find his dog
Spots (Liev Schreiber), starting an adventure that will change the
city's history forever.)
Começando com a
crítica em si, o filme é, disparado, o melhor do ano até agora pra
mim. O design dos personagens é impecável, e cada detalhe importa,
sendo ainda mais rico do que a anterior obra em stop-motion de
Anderson, “O Fantástico Sr. Raposo”. A narrativa é fantástica,
embora tenham diálogos em japonês que não possuem tradução, mas
é possível entender pelos gestos e expressões faciais dos
personagens. O elenco é o mais diversificado de Wes Anderson até
agora, possuindo nomes como Bryan Cranston, Edward Norton, Frances
McDormand e Scarlett Johansson, mas também contando com estrelas
orientais, como Kunichi Nomura, Akira Takayama e Yoko Ono (sim, a
Yoko Ono). O próprio Wes disse que se inspirou em diretores como
Akira Kurosawa e Hayao Miyazaki em seu novo filme e é possível
captar as inspirações: pela trilha sonora, pelo tom pacífico de
algumas cenas e pela riqueza de detalhes no visual do filme. O filme
é um candidato certeiro à Melhor Filme de Animação nos Oscars de
2019, onde enfrentará grandes nomes, como “Os Incríveis 2” e
“Detona Ralph 2”, e isso dá uma chance para que, depois de 6
indicações, o Wes finalmente possa ganhar seu Oscar. O filme também
possui chances em Melhor Direção de Arte, pela impecável produção
dos fantoches e dos cenários, e talvez até Melhor Roteiro Original,
pela história criativa e socialmente relevante. Resumindo, Ilha dos
Cachorros é um sucesso certeiro.
(Starting
with the review itself, it is, without a doubt, the best film of the
year for me so far. The characters' design is flawless, and every
detail in it matters, being even richer than Anderson's previous
stop-motion work, Fantastic Mr. Fox. The narrative is fantastic,
although there are some dialogues in Japanese which there aren't any
translation, but you can understand them through the characters'
gestures and facial expressions. The cast is Wes's more diversified
yet, with names like Bryan Cranston, Edward Norton, Frances McDormand
and Scarlett Johansson, but also counting on Eastern stars, like
Kunichi Nomura, Akira Takayama and Yoko Ono (yes, that
Yoko Ono). Wes himself said that he got his inspirations for the film
in directors like Akira Kurosawa and Hayao Miyazaki, and it's
possible to get these inspirations: through the soundtrack, the
peaceful tone in some scenes and through the rich details in the
visuals. It is a certain nominee for Best Animated Feature in 2019's
Oscars, where it will face big names, like “Incredibles 2” and
“Wreck-It Ralph 2”, and there's a chance that, after 6
nominations, Wes finally gets his Oscar. It also has chances in Best
Production Design, because of the flawless production of the puppets
and the sets, and maybe even Best Original Screenplay, because of the
creative yet socially relevant story. In a nutshell, Isle of Dogs is
a certain success.)
Indo
para a análise, mencionei que o filme é uma alegoria à um evento
bem importante da história. Revisemos o enredo: um líder político
envia uma minoria para um lugar remoto para morrerem. Conseguem bater
com algo? Sim, Ilha dos Cachorros é uma alegoria à Segunda Guerra
Mundial. Podem-se notar as influências: o Prefeito Kobayashi seria o
equivalente ao líder nazista Adolf Hitler, os cachorros seriam os
judeus e as minorias que os nazistas enviavam para os campos de
concentração e o Atari seria uma espécie de Oskar Schindler, uma
espécie de salvador das minorias. O filme também lida com problemas
recentes, como o da imigração, remetendo às políticas do
presidente Donald Trump, o que é simplesmente brilhante, como o Wes
usa o futuro para remeter ao passado para mudar o presente. Sei que
ficou meio confuso, mas é assim que eu sinto em relação a esse
filme.
O
próprio título em inglês é uma piada interna para os fãs de Wes
Anderson. É o seguinte: se o título (Isle of Dogs) for falado bem
rápido, seria como se tivesse saído “I Love Dogs” (Eu amo
cachorros), o que leva a acreditar que o filme é uma carta de amor e
uma apologia do próprio Wes aos cachorros, já que o diretor é
conhecido por não deixar os companheiros caninos sobreviverem até o
final de seus filmes. Descansem em paz, Buckley (Os Excêntricos
Tenenbaums), Cody (A Vida Marinha com Steve Zissou) e Snoopy
(Moonrise Kingdom).
(Onward
to the analysis, I mentioned that the film is an allegory to an
important event in history. Let's look at the plot: a political
leader sends a minority to a remote place in order for them to die.
Ring any bells? Yes, Isle of Dogs is an allegory to World War II. The
influences can be noted: Mayor Kobayashi would be the equivalent to
Nazi leader Adolf Hitler, the dogs would be the Jews and other
minorities the Nazis sent to concentration camps and Atari would be
some kind of Oskar Schindler, a savior of the minorities. The film
also deals with recent issues, like immigration, looking back at
President Donald Trump's politics, which is simply brilliant, how Wes
uses the future to go back to the past in order to change the
present. I know it's kind of confusing, but that's how I feel about
this movie.
Its
own title is an inside joke for Wes Anderson fans. Here's the deal:
if Isle of Dogs is spoken really fast, it will sound like “I Love
Dogs”, which leads us to believe it is a love letter and an apology
from Wes himself to dogs, as he is known for not letting the canine
companions survive until the end of his movies. RIP Buckley (The
Royal Tenenbaums), Cody (The Life Aquatic with Steve Zissou) and
Snoopy (Moonrise Kingdom).)
O
filme vem sendo acusado por conter apropriação cultural e por ter o
estereótipo do “salvador branco”, na pele da estudante de
intercâmbio Tracy Walker (Greta Gerwig). Já que eu quero proteger o
filme dessas acusações, vamos por partes:
- É “apreciação cultural”, não apropriação: quem acompanhou o processo de criação do filme sabe que o Wes adora a cultura japonesa e queria fazer uma singela homenagem a ela com seu novo filme. Só porque o filme contém cenas de lutadores de sumo, instruções pra como fazer sushi, e uma trilha sonora composta apenas por percussão e assobios, quer dizer que o filme é um exemplo de apropriação cultural? O filme é uma HOMENAGEM, e acontece que essas partes são importantes na construção da cultura japonesa. Então, lidem com isso.
- A Tracy não salvou ninguém: Ok, ela pode ter pego emprestado o soro que curaria a gripe do estoque da Yoko Ono, mas a estudante branca com cabelo afro loiro que usa um pijama com a bandeira dos EUA estampada não é um exemplo do “salvador branco”. Quem verdadeiramente criou o suposto soro foi o candidato oposto ao Prefeito Kobayashi, o Professor Watanabe, do Partido Científico. A Tracy pode ter sido a ponte para a cura, mas está longe de ser a verdadeira heroína do filme. O que eles poderiam ter feito era “orientalizar” a Tracy, dando a ela um quimono ao invés de claramente dizer que ela é americana com um pijama da bandeira dos EUA, traços orientais, e colocando uma atriz japonesa no lugar da Greta Gerwig, o que evitaria, de uma maneira muito eficiente, essas acusações.
(The
film has been accused of cultural appropriation and of possessing the
stereotype of the “white savior”. As I want to protect this film
from these accusations, let's go by parts:
- It's “cultural appreciation”, not appropriation: those who accompanied the creative process of the film know that Wes loves Japanese culture and wanted to make an homage to it with his new film. Just because the film contains scenes with sumo wrestlers, instructions on how to make sushi, and a soundtrack composed by percussion and whistling, means that the film is an example of cultural appropriation? It is an HOMAGE, and it happens that those parts were important in the construction of the Japanese culture. So, deal with it.
- Tracy didn't save anyone: Ok, she might have gotten the serum that would cure the Dog Flu from Yoko Ono's stock, but the white student with a blonde afro and pajamas with the USA flag on it is not an example of the “white savior”. Who truly created the serum was the candidate who ran against Mayor Kobayashi, Professor Watanabe, from the Science Party. Tracy might've been the bridge to the cure, but is far from being the film's true hero. What they could have done was make Tracy an Eastern character, giving her a kimono instead of clearly saying she's American by giving her pajamas with the US flag, Eastern facial features, and putting a Japanese actress instead of Greta Gerwig, which would avoid, in a very efficient way, these accusations.)
Resumindo,
Ilha dos Cachorros é mais uma obra-prima vinda da pessoa excêntrica
que é Wes Anderson, poderá ser o filme que renderá o Oscar para o
diretor, uma singela homenagem à cultura japonesa injustamente
criticada, e uma alegoria aos problemas do passado e do presente. E
no ranking que fiz, o filme ficaria em terceiro lugar, após Moonrise
Kingdom e O Fantástico Sr. Raposo.
Nota:
10 de 10!
Abraços
e até a próxima,
João
Pedro
(In
a nutshell, Isle of Dogs is another masterpiece coming from the
eccentric person that is Wes Anderson, could be the film that will
give him an Oscar, an injustly criticized dazzling homage to Japanese
culture, and an allegory to past and present issues. And in that
ranking I made, it would be in third place, after Moonrise Kingdom
and Fantastic Mr Fox.
I
give it a 10 out of 10!
Hugs
and see you next time,
João
Pedro)
P.S.:
Lembrem-se de curtir a página que eu fiz dedicada ao Wes aqui:
(P.S.:
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