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segunda-feira, 16 de julho de 2018

"Ilha dos Cachorros": como Wes Anderson usa o futuro para remeter ao passado para comunicar com o presente (Bilíngue) [Leves spoilers]


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E aí, galerinha de cinéfilos! Aqui quem fala é o João Pedro! Como vocês aprenderam no meu último post, o meu diretor favorito é o Wes Anderson, e o filme que eu estive mais esperando para ver nesse ano é o novo filme em stop-motion dirigido por ele, Ilha dos Cachorros. Promovido como um filme de aventura ambientado no futuro, o filme na verdade é uma alegoria à um dos eventos mais importantes e decisivos na história do universo. Então, vamos começar a analisar a nova obra de Wes Anderson.
(What's up, film buffs! João Pedro here! As you learned from my latest post, Wes Anderson is my favorite director, and the film I've been most excited to watch this year is his new stop-motion film, Isle of Dogs. Marketed as an adventure film set in the future, it is actually, an allegory to one of the most important, decisive events in history. So, let's start analyzing Wes Anderson's new opus.)



Pra quem ainda não sabe, o filme conta a história de Atari Kobayashi (Koyu Rankin), um menino de 12 anos que é sobrinho do corrupto Prefeito Kobayashi (Kunichi Nomura), que assina um tratado que diz que todos os cachorros devem ser relocalizados para uma ilha cheia de lixo, para evitar que uma gripe canina, criada pela própria dinastia Kobayashi, se espalhe pela futurística cidade de Megasaki. Atari, então, rouba um jato em miniatura, e parte em busca do seu cachorro Spots (Liev Schreiber), começando uma aventura que irá mudar para sempre a história da cidade.
(In case you missed it, the film tells the story of Atari Kobayashi (Koyu Rankin), a 12-year-old who is nephew to the corrupt Mayor Kobayashi (Kunichi Nomura), who signs a treaty that says all dogs must be relocated to an island full of garbage, to avoid the spreading of a dog flu, created by the Kobayashi dynasty, through the futuristic Megasaki City. Atari then steals a miniature jet and leaves to find his dog Spots (Liev Schreiber), starting an adventure that will change the city's history forever.)



Começando com a crítica em si, o filme é, disparado, o melhor do ano até agora pra mim. O design dos personagens é impecável, e cada detalhe importa, sendo ainda mais rico do que a anterior obra em stop-motion de Anderson, “O Fantástico Sr. Raposo”. A narrativa é fantástica, embora tenham diálogos em japonês que não possuem tradução, mas é possível entender pelos gestos e expressões faciais dos personagens. O elenco é o mais diversificado de Wes Anderson até agora, possuindo nomes como Bryan Cranston, Edward Norton, Frances McDormand e Scarlett Johansson, mas também contando com estrelas orientais, como Kunichi Nomura, Akira Takayama e Yoko Ono (sim, a Yoko Ono). O próprio Wes disse que se inspirou em diretores como Akira Kurosawa e Hayao Miyazaki em seu novo filme e é possível captar as inspirações: pela trilha sonora, pelo tom pacífico de algumas cenas e pela riqueza de detalhes no visual do filme. O filme é um candidato certeiro à Melhor Filme de Animação nos Oscars de 2019, onde enfrentará grandes nomes, como “Os Incríveis 2” e “Detona Ralph 2”, e isso dá uma chance para que, depois de 6 indicações, o Wes finalmente possa ganhar seu Oscar. O filme também possui chances em Melhor Direção de Arte, pela impecável produção dos fantoches e dos cenários, e talvez até Melhor Roteiro Original, pela história criativa e socialmente relevante. Resumindo, Ilha dos Cachorros é um sucesso certeiro.
(Starting with the review itself, it is, without a doubt, the best film of the year for me so far. The characters' design is flawless, and every detail in it matters, being even richer than Anderson's previous stop-motion work, Fantastic Mr. Fox. The narrative is fantastic, although there are some dialogues in Japanese which there aren't any translation, but you can understand them through the characters' gestures and facial expressions. The cast is Wes's more diversified yet, with names like Bryan Cranston, Edward Norton, Frances McDormand and Scarlett Johansson, but also counting on Eastern stars, like Kunichi Nomura, Akira Takayama and Yoko Ono (yes, that Yoko Ono). Wes himself said that he got his inspirations for the film in directors like Akira Kurosawa and Hayao Miyazaki, and it's possible to get these inspirations: through the soundtrack, the peaceful tone in some scenes and through the rich details in the visuals. It is a certain nominee for Best Animated Feature in 2019's Oscars, where it will face big names, like “Incredibles 2” and “Wreck-It Ralph 2”, and there's a chance that, after 6 nominations, Wes finally gets his Oscar. It also has chances in Best Production Design, because of the flawless production of the puppets and the sets, and maybe even Best Original Screenplay, because of the creative yet socially relevant story. In a nutshell, Isle of Dogs is a certain success.)



Indo para a análise, mencionei que o filme é uma alegoria à um evento bem importante da história. Revisemos o enredo: um líder político envia uma minoria para um lugar remoto para morrerem. Conseguem bater com algo? Sim, Ilha dos Cachorros é uma alegoria à Segunda Guerra Mundial. Podem-se notar as influências: o Prefeito Kobayashi seria o equivalente ao líder nazista Adolf Hitler, os cachorros seriam os judeus e as minorias que os nazistas enviavam para os campos de concentração e o Atari seria uma espécie de Oskar Schindler, uma espécie de salvador das minorias. O filme também lida com problemas recentes, como o da imigração, remetendo às políticas do presidente Donald Trump, o que é simplesmente brilhante, como o Wes usa o futuro para remeter ao passado para mudar o presente. Sei que ficou meio confuso, mas é assim que eu sinto em relação a esse filme.
O próprio título em inglês é uma piada interna para os fãs de Wes Anderson. É o seguinte: se o título (Isle of Dogs) for falado bem rápido, seria como se tivesse saído “I Love Dogs” (Eu amo cachorros), o que leva a acreditar que o filme é uma carta de amor e uma apologia do próprio Wes aos cachorros, já que o diretor é conhecido por não deixar os companheiros caninos sobreviverem até o final de seus filmes. Descansem em paz, Buckley (Os Excêntricos Tenenbaums), Cody (A Vida Marinha com Steve Zissou) e Snoopy (Moonrise Kingdom).
(Onward to the analysis, I mentioned that the film is an allegory to an important event in history. Let's look at the plot: a political leader sends a minority to a remote place in order for them to die. Ring any bells? Yes, Isle of Dogs is an allegory to World War II. The influences can be noted: Mayor Kobayashi would be the equivalent to Nazi leader Adolf Hitler, the dogs would be the Jews and other minorities the Nazis sent to concentration camps and Atari would be some kind of Oskar Schindler, a savior of the minorities. The film also deals with recent issues, like immigration, looking back at President Donald Trump's politics, which is simply brilliant, how Wes uses the future to go back to the past in order to change the present. I know it's kind of confusing, but that's how I feel about this movie.
Its own title is an inside joke for Wes Anderson fans. Here's the deal: if Isle of Dogs is spoken really fast, it will sound like “I Love Dogs”, which leads us to believe it is a love letter and an apology from Wes himself to dogs, as he is known for not letting the canine companions survive until the end of his movies. RIP Buckley (The Royal Tenenbaums), Cody (The Life Aquatic with Steve Zissou) and Snoopy (Moonrise Kingdom).)



O filme vem sendo acusado por conter apropriação cultural e por ter o estereótipo do “salvador branco”, na pele da estudante de intercâmbio Tracy Walker (Greta Gerwig). Já que eu quero proteger o filme dessas acusações, vamos por partes:
  1. É “apreciação cultural”, não apropriação: quem acompanhou o processo de criação do filme sabe que o Wes adora a cultura japonesa e queria fazer uma singela homenagem a ela com seu novo filme. Só porque o filme contém cenas de lutadores de sumo, instruções pra como fazer sushi, e uma trilha sonora composta apenas por percussão e assobios, quer dizer que o filme é um exemplo de apropriação cultural? O filme é uma HOMENAGEM, e acontece que essas partes são importantes na construção da cultura japonesa. Então, lidem com isso.
  2. A Tracy não salvou ninguém: Ok, ela pode ter pego emprestado o soro que curaria a gripe do estoque da Yoko Ono, mas a estudante branca com cabelo afro loiro que usa um pijama com a bandeira dos EUA estampada não é um exemplo do “salvador branco”. Quem verdadeiramente criou o suposto soro foi o candidato oposto ao Prefeito Kobayashi, o Professor Watanabe, do Partido Científico. A Tracy pode ter sido a ponte para a cura, mas está longe de ser a verdadeira heroína do filme. O que eles poderiam ter feito era “orientalizar” a Tracy, dando a ela um quimono ao invés de claramente dizer que ela é americana com um pijama da bandeira dos EUA, traços orientais, e colocando uma atriz japonesa no lugar da Greta Gerwig, o que evitaria, de uma maneira muito eficiente, essas acusações.
(The film has been accused of cultural appropriation and of possessing the stereotype of the “white savior”. As I want to protect this film from these accusations, let's go by parts:
  1. It's “cultural appreciation”, not appropriation: those who accompanied the creative process of the film know that Wes loves Japanese culture and wanted to make an homage to it with his new film. Just because the film contains scenes with sumo wrestlers, instructions on how to make sushi, and a soundtrack composed by percussion and whistling, means that the film is an example of cultural appropriation? It is an HOMAGE, and it happens that those parts were important in the construction of the Japanese culture. So, deal with it.
  2. Tracy didn't save anyone: Ok, she might have gotten the serum that would cure the Dog Flu from Yoko Ono's stock, but the white student with a blonde afro and pajamas with the USA flag on it is not an example of the “white savior”. Who truly created the serum was the candidate who ran against Mayor Kobayashi, Professor Watanabe, from the Science Party. Tracy might've been the bridge to the cure, but is far from being the film's true hero. What they could have done was make Tracy an Eastern character, giving her a kimono instead of clearly saying she's American by giving her pajamas with the US flag, Eastern facial features, and putting a Japanese actress instead of Greta Gerwig, which would avoid, in a very efficient way, these accusations.)


Resumindo, Ilha dos Cachorros é mais uma obra-prima vinda da pessoa excêntrica que é Wes Anderson, poderá ser o filme que renderá o Oscar para o diretor, uma singela homenagem à cultura japonesa injustamente criticada, e uma alegoria aos problemas do passado e do presente. E no ranking que fiz, o filme ficaria em terceiro lugar, após Moonrise Kingdom e O Fantástico Sr. Raposo.

Nota: 10 de 10!

Abraços e até a próxima,
João Pedro

(In a nutshell, Isle of Dogs is another masterpiece coming from the eccentric person that is Wes Anderson, could be the film that will give him an Oscar, an injustly criticized dazzling homage to Japanese culture, and an allegory to past and present issues. And in that ranking I made, it would be in third place, after Moonrise Kingdom and Fantastic Mr Fox.

I give it a 10 out of 10!

Hugs and see you next time,
João Pedro)



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