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sábado, 27 de abril de 2024

"Bebê Rena": um conto preventivo sobre o impacto do trauma e a necessidade de pedir ajuda (Bilíngue)

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Graças a Deus pelo Festival Fringe de Edimburgo. O maior evento de artes do mundo, o Festival foi fundado em 1947, sendo sempre sediado na capital da Escócia no mês de agosto, servindo de palco para talentos de diferentes áreas culturais, somente perdendo para as Olimpíadas e a Copa do Mundo em termos de bilheteria. Foi lá que fomos apresentados ao fenômeno que iria se tornar Phoebe Waller-Bridge, com sua inesquecível Fleabag fazendo sua estreia mundial em Edimburgo no ano de 2013, na forma de uma peça de uma atriz só, evoluindo para a excepcional série de TV que todos veneram. O Fringe também foi o palco inicial para o comediante Richard Gadd, cujo monólogo de 2019 deu origem à minissérie de 7 episódios em análise, “Bebê Rena”, lançada no catálogo da Netflix no dia 11 de abril.

De forma similar ao trabalho de Waller-Bridge em “Fleabag”, “Bebê Rena” é um estudo de personagem do protagonista interpretado por Gadd, inspirado nele mesmo. O diferencial é que a trama da minissérie da Netflix é baseada em fatos reais, misturando a capacidade do autor e ator de envolver o público em uma história altamente viciante (algo que Waller-Bridge também faz de forma primorosa) com uma honestidade tão crua que chega a ser aterrorizante. O resultado é uma mistura impecável entre drama e suspense com um toque de humor negro, guiada por uma valsa perversa entre Gadd e a atriz Jessica Gunning, que também funciona como um conto preventivo sobre o impacto emocional que o trauma tem em uma pessoa e a necessidade de pedir ajuda.

(Thank God for the Edinburgh Festival Fringe. The largest arts event in the world, the Festival was founded in 1947, always being held in the capital of Scotland in the month of August, serving as a stage for talents of different cultural areas, only losing to the Olympics and the FIFA World Cup, when it comes to box office. It was there that we were introduced to the phenomenon that would become Phoebe Waller-Bridge, with her unforgettable Fleabag making her worldwide debut in Edinburgh in 2013, in the form of a one-woman show, eventually evolving into the exceptional TV show everybody loves. The Fringe was also the early stage for comedian Richard Gadd, whose 2019 one-man show gave birth to the 7-episode limited series in analysis, “Baby Reindeer”, which was released on Netflix on April 11.

In a similar way to Waller-Bridge's work in “Fleabag”, “Baby Reindeer” is a character study of Gadd's protagonist, inspired on himself. What makes it stand out is that the plot of the Netflix series is based on true events, blending the writer and actor's capacity of captivating the audience with a highly addictive story (something that Waller-Bridge also does wonderfully) with an honesty that's so raw, it comes out as terrifying. The result is a flawless mix between drama and thriller with a touch of dark humor, led by a wicked waltz between Gadd and actress Jessica Gunning, which also works as a cautionary tale on the emotional impact trauma has on a person and the need to call for help.)



Trama

A história acompanha Donny Dunn (interpretado por Richard Gadd), um comediante que ganha a vida trabalhando como barman em um pub. Certo dia, uma mulher mais velha, Martha Scott (interpretada por Jessica Gunning), entra em seu local de trabalho, cabisbaixa. Em um ato de bondade e compaixão, Donny oferece uma xícara de chá de cortesia para Martha. A partir daí, a mulher começa a criar uma obsessão por Donny, atormentando-o em todos os aspectos de sua vida e gradualmente forçando-o a desenterrar uma experiência traumática, encoberta por muito tempo.

(Plot

The story follows Donny Dunn (played by Richard Gadd), a comedian that makes a living by working as a bartender in a pub. One day, an older woman, Martha Scott (played by Jessica Gunning), enters his workplace, looking sad. In an act of kindness and compassion, Donny offers Martha a cup of tea on the house. From that point on, the woman starts obsessing over Donny, tormenting him in every aspect of his life and gradually forcing him to unearth a traumatic experience, which has been kept hidden for a long amount of time.)



Uma experiência envolvente, melhor vivenciada às cegas

Antes de falar qualquer coisa, é preciso dizer que assistir “Bebê Rena” é uma experiência melhor vivenciada sabendo o mínimo possível. Por isso, recomendo que vejam a minissérie antes da leitura desta crítica. A primeira qualidade a se destacar sobre o roteiro é o quão envolvente ele consegue ser. Fazia muito tempo que este crítico via uma série tão boa, a ponto de não querer parar de assistir até o último episódio. É uma trama altamente viciante que, a princípio, começa como um suspense, acompanhando a dinâmica eletrizante entre Donny e sua stalker, guiada pela narração em voice-over do comediante. Mas o mais interessante é a capacidade de Gadd de continuar surpreendendo o espectador a cada episódio, com o quarto capítulo, em particular, funcionando como uma virada de jogo que leva o público a ver a narrativa que veio antes com olhos completamente diferentes.

Isso acontece pela escolha criativa acertada de Gadd de fazer com que Donny tenha um passado essencialmente ambíguo (novamente, de forma bem similar à “Fleabag” em sua primeira temporada). Pouco nos é revelado sobre o protagonista nos minutos iniciais da série, que já preparam o palco para a dinâmica supracitada. Porém, é através das interações entre Donny e Martha que o personagem vai gradualmente se abrindo para o espectador, em momentos tão honestos, retratados de maneira tão realista, que chegam a ser constrangedores. E quando tal passado finalmente é revelado, “Bebê Rena” transita para o gênero no qual ele funciona de forma ainda mais eficaz do que o suspense: o drama.

É através da abordagem dramática da narrativa que Gadd encontra uma plataforma para lidar com as temáticas profundas da minissérie, com os quatro episódios finais contendo as cenas mais emocionalmente impactantes da trama. Novamente, assim como na dinâmica entre Donny e Martha, nestes momentos, o realismo prevalece, resultando em uma proximidade cada vez mais íntima entre o protagonista e o espectador. A maneira com que o roteirista se aproxima do trauma é simplesmente admirável, ainda mais pelo fato dele abordar uma experiência traumática própria. Gadd o visualiza como um caminho sem saída, onde a incapacidade de pedir ajuda devido ao medo do julgamento dos outros força a pessoa traumatizada a enfrentar o mesmo ciclo infinito, levando à uma obsessão doentia. E a sacada mais genial dessa abordagem é o fato do roteiro fazer isso não só por Donny, mas também por Martha, trazendo uma dose de humanidade à uma personagem que, no papel, seria somente um instrumento para desenvolver o protagonista.

E aqui, eu preciso fazer um adendo breve ao quarto episódio da série, o qual, além de ser o mais longo (com 45 minutos de duração, em contraponto à predominância de meia hora nos outros 6), também funciona como uma experiência isolada, encapsulando a temática de “Bebê Rena” como um todo em um retrato aterrorizante, cru, chocante e realista das consequências da busca por atenção, e como esta busca pode levar à um trauma que é capaz de perseguir e atormentar alguém pelo resto da vida. É graças a este episódio que a minissérie passa de uma comédia de humor negro com toques de suspense, à la Irmãos Coen, para um drama brutalmente honesto, cujo impacto perdura até os segundos finais da narrativa. É uma verdadeira aula em todos os aspectos da produção, do roteiro aos aspectos técnicos, levando os três episódios finais por um caminho sufocante, que não se cansa de surpreender o espectador com suas reviravoltas.

(A riveting viewing, best experienced going in blind

Before I say anything, I need to state that watching “Baby Reindeer” is an experience that's even better if you know as little as possible. Therefore, I recommend watching the miniseries before reading this review. The first quality to highlight on the script is how involving it manages to be. It's been a long time since this particular critic stumbled upon a show that's so good, that you just don't want to stop watching until it ends. It's a highly addictive plot that, at first, starts off as a thriller, following the electrifying dynamics between Donny and his stalker, led by the comedian's voice-over narration. Yet the most interesting thing is Gadd's capacity of keep on surprising the viewer at each episode, with the fourth chapter, in particular, functioning as a game-changing turn that leads the audience into looking at the previous narrative with a brand-new perspective.

That happens because of Gadd's jackpot of a creative choice in making Donny having an essentially ambiguous past (once again, very similarly to “Fleabag” in its first season). We know very little about the protagonist in the show's initial moments, which already set the stage for the aforementioned dynamics. However, it's through the interactions between Donny and Martha that the character gradually opens himself up to the viewer, in moments imbued with such honesty, portrayed in such a realistic way, they come out as somewhat embarassing to watch. And when his past finally comes to light, “Baby Reindeer” moves on to the genre in which it works in an even more effective way than it does as a thriller: drama.

It's through the narrative's dramatic approach that Gadd finds a platform to deal with the miniseries's thematic depths, with its four final episodes containing the plot's most emotionally impactful scenes. Once again, like Donny and Martha's dynamics, realism prevails, resulting in a proximity between character and viewer that becomes more and more intimate as the story moves forward. The way the writer approaches trauma is simply admirable, even more so for the fact that he's dealing with a traumatic experience he lived through. Gadd visualizes it as a one-way trip, where the incapacity of asking for help out of fear of people's judgement forces the traumatized person to face the same endless cycle, leading to a sick, twisted obsession. And the most brilliant thing the script does with that approach is that it does it for Martha in the same way it's doing for Donny, adding a necessary dose of humanity to a character that, on paper, would only be an instrument to develop the protagonist.

And here, I must dedicate a particular paragraph towards the series's fourth episode, which, besides being the longest (45 minutes long, in contrast with the half-hour runtime of the other six), also functions as an isolated experience, encapsulating the theme of “Baby Reindeer” as a whole in a terrifying, raw, shocking and realistic portrayal of the consequences that come with a search for attention, and how that search might lead to a trauma that's capable of tormenting someone for the rest of their lives. It's thanks to that episode that the limited series moves from being a dark comedy with hints of suspense, à la the Coen brothers, to a brutally honest drama, armed with a powerful impact that lasts from that moment on. It's a true masterclass in every aspect of the production, from the script to the technical aspects, leading the final three episodes through a suffocating path, in which Gadd keeps surprising the viewer with the twists up his sleeve.)



Uma valsa perversa

É preciso admirar a coragem de Richard Gadd de atuar o próprio trauma, quando seria muito mais fácil escalar um ator. O fato da narrativa ter sido baseada em sua experiência de vida injeta um realismo e honestidade ainda maiores ao desempenho do comediante escocês aqui. Assim como Phoebe Waller-Bridge, Gadd consegue equilibrar uma esperteza bem-humorada com uma vulnerabilidade tocante de maneira primorosa. O uso de narrações em voice-over oferece uma perspectiva mais interna do personagem, que é refletida através de sua fisicalidade cada vez mais deteriorada. É possível ver, somente através dos olhos do ator, como a obsessão de Martha com seu personagem o faz sentir, e também se lembrar da experiência traumática que passou.

Do outro lado desta dança, temos outra performance excelente pela atriz Jessica Gunning, interpretando Martha. É incrível como Gadd faz com que o espectador sinta um misto de emoções em relação à sua personagem, desde a compaixão e a identificação com ela (porque, afinal, quem não gostaria de receber atenção?) até uma vergonha alheia que evolui para um sentimento dominante de pavor em toda cena em que ela aparece em tela. Há uma ameaça constante em relação à Martha que causa arrepios tanto em Donny quanto no público, e quando as emoções explosivas dela chegam à superfície, Gunning não precisa de nenhum esforço para ser absolutamente aterrorizante. O caráter extrovertido e invasivo de Martha é o contraste perfeito para a timidez de Donny, e é por isso que a dinâmica entre os dois funciona tão bem.

Em papéis coadjuvantes, temos performances competentes de Nava Mau como um interesse amoroso que também oferece perspectivas sobre a identidade do protagonista, Nina Sosanya como uma figura materna para Donny, Tom Goodman-Hill como alguém intrínseco para desvendar o arco narrativo do personagem principal, e por fim, Mark Lewis Jones e Amanda Root como os pais do comediante, com quem Gadd compartilha algumas das melhores cenas da série. Há uma cena em particular do episódio final que me deixou com o queixo caído, e parte deste impacto vem do desempenho específico de Jones e da naturalidade com a qual ele lida com seus diálogos.

(A wicked waltz

One must need to admire Richard Gadd's courage in acting out his own trauma, when it would've been much easier to cast someone else. The fact the narrative is based on his life experience injects the Scottish comedian's performance here with an even greater sense of honesty and realism. Just like Phoebe Waller-Bridge, Gadd manages to balance out a well-humored with a touching vulnerability in a masterful way. The use of voice-over narrations offer a more inner perspective on the character, which is reflected by his gradually deteriorating physicality. One can clearly see, only through the actor's eyes, how Martha's obsession over his character makes him feel, as well as remember the traumatic experience he's been through.

On the other side of this dance, we have another excellent performance by actress Jessica Gunning, playing Martha. It's simply amazing how Gadd makes the viewer feel a strange blend of emotions towards her character, from compassion and relating to her (because, after all, who wouldn't like getting attention?) to a second-hand embarrassment that evolves to a dominating feeling of dread in every scene she's onscreen. There's a constant threat surrounding Martha that sends shivers to both Donny and the audience, and when her explosive emotions reach the surface, Gunning needs no effort to be absolutely terrifying. Martha's extrovert, invasive character is the perfect contrast to Donny's shyness, and that's why their dynamic works so well.

In supporting roles, we have competent performances by Nava Mau as a love interest that also offers perspectives on the protagonist's identity, Nina Sosanya as a mother figure to Donny, Tom Goodman-Hill as someone that's crucial in unraveling the main character's narrative arc, and, finally, Mark Lewis Jones and Amanda Root as the comedian's parents, with whom Gadd shares some of the series's best scenes. There's a particular scene in the final episode that left my jaw dropped to the floor, and part of that impact came specifically because of Jones's performance and the natural way he deals with his dialogue.)



Realismo = tensão

Nos aspectos técnicos, “Bebê Rena” segue o realismo do roteiro e das performances, novamente sendo muito similar à “Fleabag” ao injetar uma energia visual que tenta, com todas as forças, alcançar o passo dos monólogos interiores do protagonista. Há um trabalho conjunto incrível entre a direção de fotografia e a montagem, as quais, assim como Martha, conseguem ser invasivas e excessivamente íntimas de forma bem eficaz em certos momentos, seja através de um zoom aproximado em uma situação desconfortável ou a prolongação desta mesma cena por alguns segundos a mais. Tudo isso colabora para um tom de constante tensão ao longo dos 7 sucintos episódios.

E por último, mas não menos importante, temos o design de som e a trilha sonora. O impacto que o silêncio consegue ter nos momentos mais emocionalmente vulneráveis da trama é admirável, adicionando uma vibe confessional aos diálogos e situações retratadas. Há uma cena em particular no final do sexto episódio que exemplifica perfeitamente essa força da falta de sons externos. Porém, a série não peca na trilha sonora, que conta com hits de artistas como Patsy Cline, David Byrne, Brian Eno, Jethro Tull, Frank Sinatra, Evie Sands, Bee Gees e George Harrison, presentes em momentos que comparam e combinam a trajetória do protagonista com o que as letras de cada canção desejam transmitir.

(Realism = tension

In the technical aspects, “Baby Reindeer” follows through with the realism in the script and performances, once again being very similar to “Fleabag” as it injects a visual energy that tries, with everything they have, to keep up with the protagonist's inner monologues. There's an amazing teamwork between the cinematography and the editing, which, just like Martha, manage to be invasive and excessively intimate in a very effective way in certain moments, whether it's through a close zoom towards an uncomfortable situation or the prolonging of that same scene for a few extra seconds. All of that collaborates for a tone of constant tension throughout the show's 7 succint episodes.

And at last, but definitely not least, we have the sound design and the soundtrack. The impact that silence manages to have in the plot's most emotionally vulnerable moments is admirable, adding a confessional vibe to the dialogues and situations portrayed onscreen. There's a particular scene in the end of the sixth episode that perfectly exemplifies this strength that the lack of external sounds may have. However, the series doesn't skimp on the soundtrack, which relies on hits by artists like Patsy Cline, David Byrne, Brian Eno, Jethro Tull, Frank Sinatra, Evie Sands, Bee Gees and George Harrison, which are present in moments that compare and combine the protagonist's trajectory with what the lyrics of each song wish to convey.)



Resumindo, “Bebê Rena” é uma das melhores minisséries que a Netflix tem a oferecer. Com seu criador, roteirista e protagonista baseando a narrativa em sua própria experiência de vida, a série conta com uma trama envolvente que mistura suspense, drama e humor negro; uma valsa perversa entre seus dois atores principais, que entregam performances dignas de prêmios; e aspectos técnicos que intensificam o realismo do roteiro e do desempenho do elenco, resultando em uma experiência brutalmente honesta que não vai sair da sua cabeça tão cedo.

Nota: 10 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “Baby Reindeer” is one of the best limited series Netflix has to offer. With its creator, writer and protagonist turning his own life experience into the basis of the narrative, the series relies on an involving plot that blends suspense, drama and dark humor; a wicked waltz between its two main leads, who deliver award-worthy performances; and technical aspects that intensify the realism in the script and in the cast's work, resulting in a brutally honest experience that won't leave viewers' heads too soon.

I give it a 10 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)

domingo, 21 de abril de 2024

"Guerra Civil": um filme urgente sobre o horror da guerra e os dois lados do jornalismo (Bilíngue)

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- Você tiraria uma foto deste momento, se eu fosse baleada?

- O que você acha?”

(“ - Would you photograph that moment, if I got shot?

- What do you think?”)


Certos filmes já nascem como obras que dividirão o público em dois extremos: aqueles que o consideram como uma verdadeira obra-prima, e aqueles que acham que o mesmo filme é uma bagunça sem sentido. Mesmo assim, é o suficiente para agregar uma legião de fãs. Como exemplos recentes, temos “mãe!”, de Darren Aronofsky; “Babilônia”, de Damien Chazelle; e “Saltburn”, de Emerald Fennell. O diretor e roteirista britânico Alex Garland pode ser considerado um expert em realizar este tipo de obra. Após uma aclamação unânime por sua estreia em “Ex Machina: Instinto Artificial”, seus dois longas subsequentes, “Aniquilação” e “Men: Faces do Medo”, tiveram uma reação essencialmente mista por parte da crítica e do público, deixando alguns impressionados e outros coçando as cabeças. Em sua quarta empreitada como diretor, “Guerra Civil”, um dos lançamentos desta quinta-feira (18) nos cinemas, não temos uma exceção.

A proposta do quarto longa de Garland já é o suficiente para afastar uma parcela específica de seus espectadores em potencial, apresentando um país dividido, liderado por uma figura claramente inspirada no ex-presidente Donald Trump, contaminado pelo fácil acesso às armas de fogo, que possibilitam a criação de facções rivais. Porém, há uma certa originalidade no gênero específico dos filmes anti-guerra aqui, já que a trama segue o ponto de vista de jornalistas, destacando tanto a necessidade da profissão quanto o potencial sensacionalista de suas produções, em especial quando o assunto é guerra. O diretor faz um ótimo uso da câmera, do som e de um quarteto fortíssimo de protagonistas para trazer as mensagens de “Guerra Civil” à luz, e mesmo que possa faltar um contexto do que realmente está acontecendo, Garland e companhia compensam com um enredo constantemente tenso recheado de imagens chocantes que desafiam o espectador a desviar o olhar.

(Some films are already born as works that will divide their audience into two extremes: those who will consider it as a true masterpiece, and those who feel the same movie is a garbage dump of nonsense. Even so, it's enough to gather them a legion of fans. As recent examples, we have Darren Aronofsky's “mother!”, Damien Chazelle's “Babylon” and Emerald Fennell's “Saltburn”. British writer-director Alex Garland can be considered an expert in making this particular kind of work. After unanimous praise for his debut in “Ex Machina”, his two subsequent features, “Annihilation” and “Men”, had an essentially mixed reaction from both critics and audiences, leaving some impressed and others scratching their heads. In his fourth endeavor as director, “Civil War”, one of this week's releases, now playing in theaters, we have no exception.

The proposition of Garland's fourth feature is already enough to make a specific portion of its potential viewers turn their heads, presenting us with a divided country, led by a figure clearly inspired by former president Donald Trump, contaminated by easy access to firearms, which make the creation of rival factions possible. However, there's a certain originality in the specific genre of anti-war films here, as the plot follows the point of view of journalists, highlighting both the necessity of that line of work and the sensationalist potential of its productions, especially when it comes to war. The director makes a great use of camera, sound and a really strong quartet of protagonist to bring the messages of “Civil War” to light, and even though it may lack context on what's really going on, Garland and co. make up for it with a constantly tense story filled with shocking images that dare the viewer to look away.)



Trama

Ambientado em um futuro próximo, a trama acompanha Lee (Kirsten Dunst), uma fotojornalista que embarca em uma jornada pelos EUA até Washington, juntamente com três colegas: Joel (Wagner Moura), um repórter; Jessie (Cailee Spaeny), uma aspirante a fotógrafa; e Sammy (Stephen McKinley Henderson), um redator idoso. O grupo parte com o objetivo de entrevistar o Presidente (Nick Offerman) antes que as duas facções em guerra tomem a Casa Branca para si, enfrentando várias ameaças e mudanças pelo caminho.

(Plot

Set in the near future, the plot follows Lee (Kirsten Dunst), a photojournalist who embarks on a journey across the United States all the way to Washington D.C., alongside three colleagues: Joel (Wagner Moura), a reporter; Jessie (Cailee Spaeny), an aspiring photographer; and Sammy (Stephen McKinley Henderson), an elderly writer. The group sets off with the goal of interviewing the President (Nick Offerman) before the two warring factions take over the White House, facing several threats and changes along the way.)



Os dois lados da moeda jornalística

A primeira coisa que chama a atenção em “Guerra Civil” é o quão atual o roteiro de Garland consegue ser, em duas vertentes em particular. Primeiro, temos aqui uma abordagem realista de um cenário de guerra, destacando o horror da situação e o impacto que ela tem nas pessoas, através de imagens essencialmente chocantes. Corpos em diferentes estados de decomposição, atos de terrorismo, pessoas enforcadas em público. O diretor faz questão de mostrar isto da maneira mais crua possível, causando o máximo de impacto em seus personagens e nos espectadores. A segunda vertente é o perigo de uma nação ideologicamente dividida, e esta interpretação é especialmente relevante para os EUA, onde haverá eleição em 2024. O realismo e as analogias aos cenários de guerra da atualidade cooperam para a urgência da trama e para um sentimento coletivo de pavor, do quão próximo o retrato do filme parece estar da realidade.

A desolação e imprevisibilidade da guerra levam a trama de Garland por um caminho extremamente tenso, deixando o espectador roendo as unhas em antecipação do que está por vir. Aqui, o diretor replica o tom sério de um dos seus trabalhos mais famosos, o filme de zumbis “Extermínio”, aplicando a mesma energia aterrorizante e constantemente surpreendente, embora em um passo mais lento e meditativo, tomando algumas pausas entre as cenas de ação para desenvolver seus personagens de uma maneira muito eficaz. Um destaque fica para a personagem de Cailee Spaeny, que, por sua juventude e falta de experiência, é o maior veículo para transmitir as cicatrizes emocionais que a guerra deixa em uma pessoa.

Porém, o maior trunfo de “Guerra Civil”, além de seu retrato de um cenário realista de um conflito, é a abordagem do jornalismo de guerra como uma espada de dois gumes. Por um lado, ele é visto como uma profissão essencial e necessária, que é chave para conseguir registros e atualizações em primeira mão, correndo atrás do objetivo de levar a informação ao público. Além disso, no entanto, o roteiro destaca o potencial sensacionalista de um conteúdo tão explícito, onde a exposição ao extremo pode levar à uma indiferença emocional por parte do jornalista, que passa a perseguir as imagens e situações mais violentas, “glamourizando” o fazer jornalístico ao invés de humanizá-lo. Essa dualidade é refletida de forma perfeita no roteiro através da troca de experiências entre as personagens de Spaeny e Kirsten Dunst, onde a última, embrutecida por eventos passados, tenta evitar que a primeira siga o mesmo caminho.

Mesmo que a trama não seja sobre a guerra em si, mas sim o impacto que ela tem nas pessoas, a falta de contexto sobre o conflito retratado em “Guerra Civil” ainda é notável. Garland deixa migalhas de conteúdo espalhadas pelo enredo, que oferecem uma perspectiva fragmentada do porquê da nação estar dividida. Porém, não é o suficiente para que o espectador tenha uma visão abrangente e completa do cenário, deixando as motivações de cada lado, os componentes de cada facção e as razões por trás das alianças no escuro. Por exemplo, um dos grupos em luta é composto de uma parceria entre os estados do Texas, um território amplamente conservador, e da Califórnia, que segue ideologias completamente opostas, e nunca nos é explicado o motivo de uma união tão teoricamente improvável.

(The two sides of the journalistic coin

The first thing that comes to attention in “Civil War” is how timely Garland's screenplay manages to be, in two particular lines of thought. Firstly, we have here a realistic approach of a war scenario, highlighting the horror of the situation and the impact it has on people, through essentially shocking imagery. Bodies in different states of decay, acts of terrorism, people hung in public. The director makes a point in displaying this in the rawest way possible, causing maximum impact in his characters and viewers. Secondly, there's a looming sense of danger of an ideologically divided nation, and this portrayal is especially relevant for the United States, where 2024 will be an election year. The realism and the analogies towards real-life war scenarios cooperate for the plot's urgent tone, as well as a collective sense of dread, of how close this film seems to be to reality.

The bleakness and unpredictability of war lead Garland's plot through an extremely tense path, leaving the viewer biting their nails in anticipation of what's to come. Here, the director replicates the serious tone of one of his most famous screenwriting works, the zombie film “28 Days Later”, applying the same terrifying and constantly surprising energy, although in a slower, more meditative pace, taking a few breaks inbetween the action scenes to develop his characters in a most effective way. A clear standout here is Cailee Spaeny's character, who, due to her age and lack of experience, is the biggest anchor to convey the emotional scars that war can leave on someone.

However, the greatest strength in “Civil War”, more so than its realistic portrayal of a conflict scenario, is its approach of war journalism as a double-edged sword. On one hand, it is seen as a necessary, essential line of work, which is key in managing to get first-hand records and updates, running towards the goal of getting the information into the public eye. Besides that, on the other hand, the screenplay highlights the sensationalist potential of such an explicit content, where extreme exposition can lead to a journalist's emotional indifference, a state of mind where they begin chasing after the most violent situations and images, painting the journalistic line of work in a more “glamourous” light than in a human one. This duality is perfectly reflected in the script through the exchange of experience between Spaeny and Kirsten Dunst's character, where the latter, hardened by past events, tries to stop the former from following the same path.

Even though the plot isn't about the war itself, but the impact it leaves on people, the lack of context on the portrayed conflict in “Civil War” is still very visible. Garland leaves mere crumbs of content throughout the story, which offer a fragmented perspective on why the nation is divided. However, it's not enough for the viewer to have a wide, complete view of the battleground, leaving each side's motivations, the components of each faction and the reasons behind their alliances in the dark. For example, one of the fighting groups is composed by a partnership between the states of Texas, a widely conservative territory, and California, which follows completely opposite ideologies, and we never have an explanation for such a theoretically unlikely union.)



Jornalistas em diferentes estágios

Uma coisa muito interessante sobre os personagens jornalistas de “Guerra Civil” é como eles se encontram em diferentes estágios da profissão, e como que, ao longo da trama, cada um passa para uma fase diferente. De baixo para cima, temos a Cailee Spaeny, que, após uma performance reveladora em “Priscilla”, continua sua ascensão ao estrelato de maneira muito eficaz aqui. É através dela que o espectador enxerga os eventos chocantes do enredo e é fascinante acompanhar o desempenho da atriz ao retratar a evolução (ou seria involução?) da perspectiva da sua personagem em relação à guerra. Mais acima, temos o Wagner Moura, que faz um ótimo trabalho como um repórter que anseia por estar em meio ao conflito em si, e a surpresa nas expressões do ator quando os eventos no decorrer da trama o acertam em cheio é crível, humana e emocionante.

Em um estágio superior, temos a Kirsten Dunst, em uma de suas melhores performances recentes, como uma fotojornalista veterana claramente traumatizada pelas inúmeras guerras que registrou, resultando em uma personagem constantemente fechada, tensa e séria. A dinâmica entre ela e Spaeny é a força motriz do enredo, e os momentos compartilhados pelas duas emprestam uma certa leveza ao tom sombrio do roteiro, sendo essenciais para o desenvolvimento de ambas as personagens, com Dunst servindo como uma figura materna para Spaeny; e esta evoluindo como uma jornalista cada vez mais amadurecida. Na última fase, temos o Stephen McKinley Henderson, que interpreta o mentor de Dunst e Moura, alguém completamente aterrorizado pelo conflito, evitando ao máximo o contato próximo com o mesmo, sendo um dos personagens mais sensatos da trama.

Porém, há um ator em “Guerra Civil” que aparece em menos de 15 minutos de tela, e consegue roubar o filme inteiro para si através de uma única cena, e este ator é o Jesse Plemons. Após atuações mais carismáticas em “Amor e Morte” e “Assassinos da Lua das Flores”, Plemons retorna ao sadismo e à frieza de seu papel mais famoso, o Todd de “Breaking Bad”, mesmo que de forma breve. Há uma aura tão ameaçadora ao redor de seu personagem, um membro de uma milícia supremacista xenofóbica, que ela acaba perdurando pelo restante da trama, com a sequência protagonizada por Plemons encapsulando a tensão, o horror e o pavor de estar em meio à uma zona de guerra.

(Journalists in different stages

Something really interesting about the journalist characters in “Civil War” is how they find themselves in different stages of the profession, and how they manage to pass on to a different stage, throughout the plot. Starting from the bottom, we have Cailee Spaeny, who, following a revealing performance in “Priscilla”, continues her rise to stardom in a very effective way here. The viewer sees the story's shocking events through her eyes, and it's fascinating to follow the actress's way of conveying her character's evolution (or is it devolution?) of perspective towards war. One step above, we have Wagner Moura, who does a great job as a reporter who longs to be in the middle of the conflict itself, and the surprise in the actor's expressions when the narrative's subsequent events hit him straight on is believable, human and emotional.

On an upper stage, we have Kirsten Dunst, in one of her best recent performances, as a veteran photojournalist who's clearly traumatized by the countless wars she has witnessed, resulting in a constantly shut, tense and serious character. The dynamic between her and Spaeny is the plot's conductive force, and the moments they share lend some levity to the script's dark tone, being essential to the development of both their characters, with Dunst as a mother figure to Spaeny; and the latter evolving as a gradually more mature journalist. On the last stage, we have Stephen McKinley Henderson, who plays the mentor of Dunst and Moura, and is completely terrified by the conflict, doing his best to avoid close contact with it, being one of the most reasonable characters in the story.

However, there is one actor in “Civil War” who shows up in less than 15 minutes of screentime and manages to steal the entire film for himself through one single scene, and that is Jesse Plemons. After more charismatic performances in “Love and Death” and “Killers of the Flower Moon”, Plemons returns to the cold and sadistic nature of his most famous role, Todd from “Breaking Bad”, even if for a very brief amount of time. There is such a threatening aura surrounding his character, a member of a supremacist, xenophobic militia, that it's still very much present throughout the remainder of the plot, with the sequence featuring Plemons encapsulating the tension, the horror and the dread of being in the middle of a warzone.)



Imagem e som imersivos

Tecnicamente, “Guerra Civil” é um espetáculo de imagem e som que implora para ser visto na maior tela possível. É impressionante como o maior orçamento da história da A24, distribuidora do filme nos EUA, foi investido para retratar algo estritamente focado na realidade. Não há nenhum estilo na câmera de Rob Hardy, colaborador frequente do diretor, e isto é 100% proposital. As imagens que ele nos mostra são cruas, impactantes e aterrorizantes, de tão reais que parecem ser. Em partes, o visual me lembrou de “Laranja Mecânica”, no sentido de retratar um futuro próximo sem especificar o quão próximo ele está dos tempos atuais, fazendo tudo ficar ainda mais sinistro. Em colaboração com a urgência do roteiro, a fotografia de Hardy chama a atenção para o horror da guerra, quase como um aviso, e isso é simplesmente incrível.

Outro destaque fica com a montagem, que também consegue reter o realismo no retrato do conflito, estendendo certas cenas pelo tempo que for necessário, e consequentemente aumentando a tensão e a preocupação do espectador com os personagens. A montagem é especialmente eficaz nas sequências onde as personagens de Dunst e Spaeny fotografam os cenários de guerra, com cortes bem rápidos mostrando o resultado final de suas produções, de forma bem nítida e impactante. O trabalho fotográfico aqui, simulando o fotojornalismo de guerra, possui uma beleza melancólica e sombria de tirar o fôlego. Hardy consegue capturar momentos cruciais na trama e a montagem, em contrapartida, consegue eternizá-los na tela e na mente dos espectadores.

Por fim, o design de som e a trilha sonora são essenciais na construção de tensão ao longo de “Guerra Civil”. É incrível o que Garland consegue fazer com o silêncio em um cenário tão imprevisível, enchendo o espectador com a ansiedade de que algo muito grave está prestes a acontecer com estes personagens. E quando o som se faz presente, ele ecoa com muita força. Por exemplo, quando há o barulho de um tiro em uma situação silenciosa, o eco do tiro cria um zumbido enervante na mente do espectador. De fato, as melhores cenas do longa são completamente isentas do uso de trilha sonora, que, por sua vez, é reservada para momentos específicos, focados nos aspectos emocionais dos personagens, me lembrando muito do trabalho de Gustavo Santaolalla em “The Last of Us”.

(Immersive imagery and sound

Technically, “Civil War” is a spectacle of image and sound that begs to be experienced on the largest screen you can find. It's impressive how the biggest budget in the history of distributor A24 was invested to portray something strictly focused on reality. There is no style in Rob Hardy's cinematography, in his fourth collaboration with the director, and that's 100% on purpose. The images he shows us are raw, impactful and terrifying, because of how real they seem to be. Partly, the visuals reminded me of “A Clockwork Orange”, in the way of displaying a near future and not specifying how near that future is from present time, making the whole thing all the more sinister. Working in tandem with the screenplay's urgency, Hardy's cinematography highlights the horror of war, almost like a warning, and that's simply amazing.

Another highlight stays with the editing, which also retains the realism in the conflict's portrayal, extending some scenes for as long as it's necessary, which consequently ratchets up the tension and the viewer's concern towards the characters. The editing is especially effective in the sequences where Dunst and Spaeny's characters are photographing the warzones, with pretty swift cuts showing the final results of their productions, in a very clear, impactful way. The photography work here, simulating war photojournalism, possesses a breathtaking melancholic and dark beauty. Hardy manages to capture crucial moments in the plot and the editing, on the other hand, makes these moments eternal onscreen and inside the viewer's mind.

At last, the sound design and soundtrack are essential when it comes to building up tension in “Civil War”. What Garland manages to do with silence in such an unpredictable scenario is nothing short of incredible, filling up the viewer with the anxiety that something really bad is about to happen to these characters. And when sound does mark its presence, it echoes with amazing force. For example, when there's a gunshot sound in a quiet situation, the echo of the gunshot creates an unnerving ringing in the viewer's mind. Indeed, the feature's best scenes are completely free of any use of score or soundtrack, which, in turn, are reserved for specific moments, focused on the emotional aspects of the characters, reminding me a lot of Gustavo Santaolalla's work in “The Last of Us”.)



Resumindo, “Guerra Civil” peca ao não revelar muito sobre o contexto do conflito retratado, mas o roteirista e diretor Alex Garland compensa com um roteiro essencialmente atual e urgente que mostra o horror da guerra e os dois lados da profissão jornalística neste cenário, um quarteto fortíssimo de protagonistas e um uso magistral e realista de seus aspectos técnicos, resultando em uma obra tensa do início ao fim.

Nota: 9,5 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “Civil War” might not offer a lot of context on the portrayed conflict, but writer and director Alex Garland makes up for it with an essentially timely and urgent script that displays the horrors of war and the two sides of the journalistic profession in this scenario, a very strong quartet of protagonists and a masterful and realistic use of its technical aspects, resulting in a film that's tense from beginning to end.

I give it a 9,5 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)