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domingo, 18 de agosto de 2019

"Era uma Vez em Hollywood": a carta de amor de Quentin Tarantino à Los Angeles dos anos 1960 (Bilíngue)


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E aí, galerinha de cinéfilos! Depois daquele mega-ranking de todos os filmes de Quentin Tarantino, vim aqui trazer para vocês a resenha de seu novo filme. Contando com um tremendo elenco, uma icônica ambientação e um dos crimes mais violentos cometidos pelo homem como pano de fundo, é uma verdadeira carta de amor do diretor a essa conhecida época de Hollywood. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Era uma Vez em Hollywood”. Vamos lá!
(What's up, film buffs! After that massive ranking of all the movies directed by Quentin Tarantino, I come here to bring the review of his latest film. With a tremendous cast, an iconic setting and one of the most violent crimes committed by man as background, it is a true love letter from the director to this very well known era of Hollywood. So, without further ado, let's talk about “Once Upon a Time in Hollywood”. Let's go!)



Los Angeles, 1969. Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) é um ator de televisão decadente que tenta se adaptar às mudanças que Hollywood está sofrendo, por meio de audições para papéis em filmes. Enquanto isso, Cliff Booth (Brad Pitt), dublê de Rick, tenta acompanhar Dalton em sua jornada, e ao mesmo tempo, se vê envolvido com a Família Manson, responsável por assassinar a atriz Sharon Tate (Margot Robbie).
(Los Angeles, 1969. Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) is a decadent television actor who tries to adapt himself into a Hollywood filled with changes, through film auditions. Meanwhile, Cliff Booth (Brad Pitt), Rick's stunt double, tries to follow Dalton in his journey, and at the same time, sees himself involved with the Manson Family, a group of people responsible for murdering the actress Sharon Tate (Margot Robbie).)



Quem realmente conhece o trabalho anterior do diretor sabe que ele nem sempre faz de seus filmes um verdadeiro banho de sangue. Claro, Tarantino tem filmes que recorrem frequentemente à violência para funcionarem, como “Kill Bill” e “À Prova de Morte”, mas ele também foca bastante em seus personagens e nos diálogos entre eles, como em “Cães de Aluguel”, “Pulp Fiction” e “Os Oito Odiados”. E, se for para encaixar esse filme em uma dessas duas alternativas, com certeza seria a segunda. “Era uma Vez em Hollywood” é um filme diferente, para aqueles acostumados à violência desenfreada de alguns dos filmes anteriores do diretor. É um filme que se movimenta graças ao desenvolvimento de seus personagens. Assim como “Jackie Brown”, “À Prova de Morte” e “Kill Bill”, “Era uma Vez em Hollywood” também é uma homenagem, dessa vez, ao final da era de Ouro de Hollywood, com a ascensão de diretores como Sergio Leone e Jacques Demy, e a popularização de personagens icônicos, como James Bond. E, para fazer essa homenagem, o diretor faz uso de figuras da vida real para contar uma história fictícia, algo muito parecido com o que Tarantino fez em “Bastardos Inglórios”, onde Hitler e Goebbels são usados para contar a história dos Bastardos e de Shosanna Dreyfus. Da mesma maneira, aqui, figuras como Sharon Tate, Roman Polanski, Charles Manson, George Spahn, Bruce Lee, James Stacy, Wayne Maunder e Steve McQueen são usadas para, ao mesmo tempo, movimentar a trama e ajudar a contar a história dos dois protagonistas fictícios, Rick e Cliff. O roteiro de Tarantino é muito bom, é bem original, bem diferente de quase tudo que ele já fez. É algo bem metalinguístico, pois é um filme sobre fazer cinema, e pra mim, todo bom diretor precisa fazer um filme sobre cinema em algum ponto de suas carreiras. E aqui, Quentin Tarantino acerta em cheio em principalmente quatro coisas: na homenagem, na originalidade da história, nos diálogos e no desenvolvimento de seus personagens. O filme é repleto de referências, tanto à década de 1960 quanto aos próprios filmes do diretor, então é bom ficar de olhos e ouvidos atentos para que elas não passem batido. É um dos filmes mais longos do diretor, mas a atmosfera do filme é tão serena, e os personagens são tão divertidos de se ver, que a gente nem percebe o tempo passar. Tem momentos engraçados na medida certa, com aquele senso de humor ácido característico dos trabalhos anteriores de Tarantino, e um dos finais mais absurdos e desenfreados que ele já fez, e eu digo isso como um elogio.
(The people who really know the director's previous work know that he doesn't always make a bloodbath out of his films. Sure, Tarantino has films that make frequent use of violence in order to work, like “Kill Bill” and “Death Proof”, but he also focuses a lot on his characters and on the dialogue between them, as it happens in “Reservoir Dogs”, “Pulp Fiction” and “The Hateful Eight”. And, if I have to fit this movie into one of these two categories, it would absolutely fit in the second one. “Once Upon a Time in Hollywood” is a very different movie, to those who are used to the unrestrained violence in some of the director's previous work. It's a movie that paces itself through the development of its characters. Just like “Jackie Brown”, “Death Proof” and “Kill Bill”, “Once Upon a Time in Hollywood” is also a homage, this time, to the final moments of the Hollywood Golden Age, with the rising of directors like Sergio Leone and Jacques Demy, and the popularization of iconic characters, such as James Bond. And, in order to make that homage, the director uses real life figures to tell a fictional story, something really similar to what happened in “Inglourious Basterds”, where Hitler and Goebbels are used to tell the story of the Basterds and Shosanna Dreyfus. In the same way, here, Tarantino uses figures like Sharon Tate, Roman Polanski, Charles Manson, George Spahn, Bruce Lee, James Stacy, Wayne Maunder and Steve McQueen to, at the same time, move the plot forward and help tell the story of the two fictional protagonists, Rick and Cliff. Tarantino's script is really good, it's really original, very different from everything he has done so far. It's really meta, as it is a film about making films, and in my opinion, every good director needs to make a movie about cinema in any point in their careers. And, here, Quentin Tarantino nails it in mainly 4 aspects: in the homage, in the originality of the story, in the dialogues and in the character development. It is filled with references, both to the 1960s and Tarantino's own films, so keep your eyes and ears alert so that you can catch them. It's one of the director's longest movies, but its atmosphere is so serene, and its characters are so fun to watch, we end up not realizing the film was that long. It has funny moments, containing that characteristic acid sense of humor of Tarantino's previous work, and one of the most absurd, unrestrained endings he has ever done, and I mean that as a compliment.)



Além de um roteiro criativo e original, temos aqui um elenco que esbanja talento. O Leonardo DiCaprio nunca fez uma performance ruim, e felizmente, aqui não é uma exceção. Ele está hilário e até um pouco comovente como um ator de televisão decadente que tenta se inserir no cinema. A química dele com o personagem do Brad Pitt é perfeita em todos os sentidos, nós realmente sentimos a amizade entre os dois através de suas atuações. Falando em Brad Pitt, por duas cenas em particular, ele merece, ao menos, ser indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante em 2020. O personagem dele é durão, não leva desaforo pra casa, e é violento quando necessário. A relação que ele tem com o cachorro dele é muito cativante. A Sharon Tate, através da atuação da Margot Robbie, é tratada mais como um símbolo do que como uma personagem ativa. Ela é bem unidimensional, para falar a verdade, mas no bom sentido, sendo retratada como uma pessoa otimista e muito simpática; gostei bastante da atuação dela. Agora, sobre a situação do Bruce Lee, que vem causando muita polêmica desde o lançamento do filme: “Era uma Vez em Hollywood” é promovido como um “conto de fadas moderno ambientado na Hollywood dos anos 60” (é só olhar pro título do filme), o que significa que tudo o que aconteceu na tela não é verdade, ou seja, a atuação do Mike Moh é uma versão fictícia do Bruce Lee, e ele está hilário, mas queria ter visto mais dele. Temos participações memoráveis, algumas mais prolongadas do que outras, de atores como Kurt Russell, Timothy Olyphant, Al Pacino, Dakota Fanning, Luke Perry, Damian Lewis, Margaret Qualley, Austin Butler, Maya Hawke e Bruce Dern, e todos eles trabalham muito bem, mesmo com alguns tendo mais tempo de tela e, como consequência, de desenvolvimento do que outros.
(Besides having a really creative and original script, the film also makes use of an extremely talented cast. Leonardo DiCaprio has never done a bad performance, and fortunately, he does not make an exception here. He is hilarious, and even moving, sometimes, as a decadent TV actor who tries to enter the film business. His chemistry with Brad Pitt's character is perfect in every way, we really feel the friendship between these two characters through their performances. Speaking of Brad Pitt, because of two particular scenes, he deserves to be at least nominated for Best Supporting Actor in the Oscars next year. His character is tough, he doesn't take shit from anybody, and he's violent when necessary. The relationship he has with his dog is really captivating. Sharon Tate, through Margot Robbie's performance, is treated more like a symbol than as an active character in the story. She's actually pretty one-dimensional, but in a good way, being represented as an optimistic, really nice person; I really liked her performance. Now, about the Bruce Lee situation, which has been collecting a lot of controversy since the release of the film: “Once Upon a Time in Hollywood” is promoted as “a modern fairy tale set in 1960s Hollywood” (just look at the title of the film), which means that everything that happened on-screen didn't actually happen, meaning that Mike Moh's performance is a fictional version of Bruce Lee, and he is hilarious here, but I wish I could've seen more of him. We have memorable performances, some longer than others, from actors like Kurt Russell, Timothy Olyphant, Al Pacino, Dakota Fanning, Luke Perry, Damian Lewis, Margaret Qualley, Austin Butler, Maya Hawke and Bruce Dern, and they all do a pretty great job, even with some of them having longer screen time, and, consequently, longer development time than others.)



E por último, mas não menos importante, temos os aspectos técnicos. Como um filme feito para recriar uma época bem específica, a equipe de “Era uma Vez em Hollywood” fez um trabalho sensacional aqui. O diretor de fotografia Robert Richardson, que fez um trabalho primoroso em “Os Oito Odiados”, faz um excelente trabalho aqui, guiando a câmera com uma certa fluidez quase imperceptível. A equipe de direção de arte faz um trabalho fabuloso nos cenários e nos figurinos característicos da década de 1960, em especial na caracterização da Sharon Tate, que possui figurinos idênticos aos da vida real. Há um trabalho bem eficiente de edição aqui, em especial em uma cena onde o personagem do Leonardo DiCaprio é inserido em uma cena do filme “Fugindo do Inferno”, de 1963, que é muito bem feita. E, assim como todo filme do Tarantino, de “Cães de Aluguel” à “Os Oito Odiados”, “Era uma Vez em Hollywood” tem uma trilha sonora sensacional, recheada de clássicos da época. P.S.: Não saiam da sala no início dos créditos, porque há uma cena no meio dos créditos, que é bem engraçada.
(And at last, but not least, we have the technical aspects. As a movie made to recreate a very specific point in time, the crew of “Once Upon a Time in Hollywood” did a wonderful job here. Director of photography Robert Richardson, who did a marvelous job in “The Hateful Eight”, repeats the same dosage here, guiding the camera with an almost imperceptible fluidity. The art direction team does a fabulous job in recreating sets and costumes from the 1960, especially in the characterization of Sharon Tate, who has costumes really similar to what she actually wore. There's a pretty efficient editing job here, especially in a scene where Leonardo DiCaprio's character is inserted in a scene from “The Great Escape”, a film released in 1963, which is really well done. And, just like every Tarantino film, from “Reservoir Dogs” to “The Hateful Eight”, “Once Upon a Time in Hollywood” has a sensational soundtrack, filled with classics from the 1960s. P.S.: Do not leave the room when the credits start rolling, because there's a really funny scene in the middle of the credits.)



Resumindo, “Era uma Vez em Hollywood” é uma verdadeira carta de amor de Quentin Tarantino à uma conhecida época de Hollywood. É original, engraçado, bem dirigido, bem atuado, e muito bem feito. Esperem grandes coisas desse filme no Oscar 2020.

Nota: 9,0 de 10!

É isso, pessoal! Espero que vocês tenham gostado! Até a próxima,
João Pedro

(In a nutshell, “Once Upon a Time in Hollywood” is a true love letter from Quentin Tarantino to a very well known time in Hollywood. It's original, funny, well directed, well acted, and really well done. Expect great things about this film next year at the Oscars.

I give it a 9,0 out of 10!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,
João Pedro)



2 comentários:

  1. Muito bom, Pedro! Além de tudo isso que disse, o filme também é uma homenagem a uma amizade sincera que existia entre os dois principais personagens, principalmente pelo lado do Cliff Booth!

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