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E aí, galerinha de
cinéfilos! Aqui quem fala é o João Pedro, e vim aqui falar do
segundo filme de um dos diretores mais promissores de suspense e
terror da atualidade: Jordan Peele. Com seu primeiro filme, “Corra!”,
Peele mostrou ao mundo uma sátira social com toques de humor e
suspense psicológico, e acabou por render um Oscar de Melhor Roteiro
Original para ele. Com seu segundo filme, Peele consegue fazer um
raio cair no mesmo lugar duas vezes, de forma bem mais complexa e
violenta, rendendo discussões para além do final da sessão. Então,
sem mais delongas, vamos falar de “Nós”. Vamos lá!
(What's up, film buffs!
I'm back, and I'm here to talk about the second film from one of the
most promising thriller-horror directors in recent times: Jordan
Peele. With his first film, “Get Out”, Peele showed the world a
social satire with sprinkles of humor and psychological suspense,
which ended up winning him an Oscar for Best Original Screenplay.
With his second film, Peele manages to make lightning strike twice in
the same place, in a more complex, violent way, rendering discussions
for far beyond the end of the screening. So, without further ado,
let's talk about “Us”. Let's go!)
O filme conta a
história da família Wilson, composta por Adelaide (Lupita Nyong'o),
Gabe (Winston Duke), Zora (Shahadi Wright Joseph), e Jason (Evan
Alex), que decide passar um tempo numa casa de praia na Califórnia.
Os momentos de paz dos Wilson são interrompidos quando sósias deles
mesmos com intenções homicidas entram em cena.
(The film tells the
story of the Wilson family, which is composed by Adelaide (Lupita
Nyong'o), Gabe (Winston Duke), Zora (Shahadi Wright Joseph), and
Jason (Evan Alex), as they decide to spend some time in a beach house
in California. The Wilsons's peaceful moments are interrupted when
doppelgängers of themselves, with homicidal intentions, enter the
scene.)
Eu considero o roteiro
de “Corra!” a maneira mais inteligente e criativa de se lidar com
o racismo. É uma sátira social brilhante, e, mesmo que “Nós”
não tenha a mesma relevância na sociedade de hoje em dia, Peele
consegue, com seu roteiro brilhante, nos manter conectados e
intrigados à história que se desenrola na tela. Há um constante e
eficiente uso de flashbacks nos primeiros 15 minutos do filme, para
inserir o espectador no pano de fundo da protagonista, e fazê-lo se
importar com ela. Digamos que os primeiros 20 minutos servem para
construir os laços do espectador com a família Wilson e tudo que os
circunda, para preparar os espectadores para as cenas extremamente
violentas e sinistras que virão a seguir. A partir daí, “Nós”
se torna uma complexa e ultraviolenta mistura de “Violência
Gratuita” e “Além da Imaginação”, cuja ambição vai
aumentando enquanto a trama se desenvolve. A vantagem que Peele tem é
que ele tenta, ao mesmo tempo, oferecer um filme inteligente e
diferente dos demais, e entreter aqueles que esperam uma simples
diversão, o que acaba por deixar esse último público impressionado
com o talento do roteirista-diretor. Ao comparar o roteiro de “Nós”
com o roteiro de “Corra!”, há algumas diferenças a ser notadas:
“Nós” não é socialmente inclinado, concentrando no terror, e
ao mesmo tempo, se destrinchando na ficção-científica e no drama;
assim como “Corra!”, “Nós” tem uma cena explicativa, mas nem
tudo fica encaixado e completamente compreensível ao final; e “Nós”
tem um escopo bem maior do que o filme anterior de Peele, não é
contido à um cenário e à uma quantidade exata de personagens,
fazendo de “Nós” um projeto muito mais ambicioso do que
“Corra!”. Sem contar que a reviravolta contida dentro do roteiro
de “Nós” irá deixar muitos de boca aberta, levando à várias
teorias e interpretações diferentes, o que é bem legal. Pela
complexidade, esperteza e até ambição desse roteiro, acredito que
Peele deve ganhar, ao menos, uma indicação a Melhor Roteiro
Original em 2020, porque eu nunca vi um filme de terror, ao mesmo
tempo, tão inteligente e tão divertido como “Nós”.
(I consider the script
to “Get Out” to be the most clever and creative way to deal with
racism. It is a brilliant social satire, and, even if “Us” isn't
as socially relevant in today's society, Peele manages, with his
brilliant screenwriting, to keep us connected and intrigued to the
story unraveling in the screen. There is a constant, efficient use of
flashbacks in the movie's first 15 minutes, in order to insert the
viewer in the protagonist's background, and making him care about
her. Let's say that the first 20 minutes are there to build bonds
between the viewers and the Wilson family and everything surrounding
them, in order to prepare the viewers for the extremely violent and
sinister scenes coming their way. From that point, “Us” becomes a
complex and ultraviolent mash-up between “Funny Games” and “The
Twilight Zone”, with its ambition growing bigger and bigger as the
plot thickens. The advantage that Peele has is that he tries to, at
the same time, offer people a different, never-before-seen option of
horror, and entertain those who expect nothing but fun, which makes
that last type of audience come out of the theater completely
impressed by the writer-director's talent. Comparing “Us” to “Get
Out”, some differences can be noticed: “Us” is not socially
inclined, focusing on horror, and, at the same time, branching itself
into science fiction and drama; just like “Get Out”, “Us” has
a scene that explains everything, but not everything fits and becomes
completely understandable by the end of it; and “Us” has a much
larger scope than Peele's previous film, it's not contained to a
single setting and a specific amount of characters, making “Us” a
much more ambitious project than “Get Out”. Also, the twist
contained inside “Us” will leave many people with their jaws
dropped, leading to several, different theories and interpretations,
which is pretty cool. For its complexity, cleverness and (even)
ambition of this script, I believe that Peele must, at least, be
nominated for Best Original Screenplay in 2020, because I've never
seen a horror movie that's more clever and entertaining, at the same
time, than “Us”.)
Há um detalhe
essencial a ser ressaltado sobre o elenco: os atores também
interpretam suas sósias malvadas, o que dá mais um nível de
profundidade em suas performances. O destaque fica para Lupita
Nyong'o, que, em sua versão “normal”, foge do estereótipo de
mulher indefesa e parte para a luta, enquanto que, em sua sósia
homicida, há um desenvolvimento impressionante, em sua maioria
devido ao trabalho de maquiagem e à capacidade expressiva de Nyong'o
com seus olhos e voz, e o resultado final é absolutamente
arrepiante. Ela merece uma indicação à Melhor Atriz, vamos
concordar com isso. Winston Duke faz algo similar em “Nós” com o
que o personagem de Lil Rel Howery fez em “Corra!”, servindo ao
mesmo tempo, como um alívio cômico, às vezes, forçado, e um
personagem crucial para o curso da trama. Com as crianças,
interpretadas brilhantemente por Shahadi Joseph Wright e Evan Alex,
temos finalmente protagonistas infantis inteligentes em filmes de
terror, o que é sempre (SEMPRE) bom. E como coadjuvantes, temos a
sempre fantástica Elisabeth Moss em uma performance pequena, mas
digna de prêmios, e Tim Heidecker, que, comparado com o resto do
elenco, tem pouco tempo de tela, mas ele é operante. Ter um elenco
inteiro fazendo performances duplas é algo bem difícil, mas graças
ao orçamento maior e à criatividade dos aspectos técnicos, “Nós”
consegue fazer isso com maestria, e isso é algo a ser apreciado.
(There's an essential
detail to be said about the cast: the actors also portray their evil
doppelgängers, which gives their performances one more level of
depth. The spotlight shines upon Lupita Nyong'o, who, in her “normal”
version, runs away from the helpless woman stereotype and heads to
the fight, while that, in her homicidal doppelgänger, there's an
impressive development, in its majority due to the make-up work and
Nyong'o's expressive capacity with her eyes and voice, and the final
results are absolutely chilling. She deserves to be nominated for
Best Actress in 2020, let's agree on that. Winston Duke does in “Us”
something similar to what Lil Rel Howery did in “Get Out”,
fitting in as a, sometimes, forced comic relief, and a crucial
character to the plot's unraveling. With the kids, portrayed
brilliantly by Shahadi Joseph Wright and Evan Alex, we finally have
clever child protagonists in horror films, which is always (ALWAYS)
good. And, as supporting characters, we have the always fantastic
Elisabeth Moss in a small, but award-worthy performance, and Tim
Heidecker, who, compared to the rest of the cast, has little screen
time, but he is operant. Having an entire cast doing double
performances is something really hard to do, but thanks to a bigger
budget and to the creativity of the technical aspects, “Us” does
that masterfully, and that's something to be appreciated.)
Nos aspectos técnicos,
temos um trabalho bem mais refinado, se comparado com “Corra!”,
provavelmente devido ao tamanho de seu orçamento. A maioria dos
produtores do filme anterior de Peele retornou para trabalhar nesse
filme, que, visualmente e sonoramente, é muito bem produzido. A
direção de fotografia é maravilhosa, há cenas onde a câmera
literalmente gira 360 graus para mostrar tudo o que está acontecendo
durante a cena. A direção de arte é vibrante, colorida, e às
vezes, até simbólica, o que dá uma profundidade ao trabalho.
Devido às performances duplas do elenco, temos um excepcional uso de
efeitos visuais, dublês e coreografia de lutas aqui, pois esses
aspectos fazem as cenas serem críveis. Um dos únicos membros da
equipe técnica que retornou ao seu posto ocupado em “Corra!” é
Michael Abels, que compôs a trilha sonora dos dois filmes que Peele
dirigiu até agora. A trilha sonora de “Corra!” era intrigante e
envolvente; com o tom mais sinistro de “Nós”, Abels eleva o
nível de sua trilha sonora e entrega um trabalho enervante e
fantástico, ditando o tom e a atmosfera de cada cena com perfeição.
Resumindo, devido ao orçamento maior, e à ambição do projeto,
“Nós” acaba sendo um filme mais refinado e bem produzido,
visualmente e sonoramente.
(In the technical
aspects, we have a much more refined work, if compared to “Get
Out”, probably due to the size of its budget. Most of the producers
from Peele's previous film are back to work on this one, which,
visually and sonorously, is very well produced. The cinematography is
just wonderful, there are scenes where the camera literally spins 360
degrees to show everything that's happening during the scene. The art
direction is vibrant, colorful, and sometimes, even symbolic, which
gives the work some extra depth. Due to the cast's double
performances, we have an exceptional use of visual effects, stunt
doubles, and fight coreography here, as these aspects make the scenes
believable. One of the only members of the crew to return to his post
previously occupied in “Get Out” is Michael Abels, who composed
the score for Peele's two films so far. The score for “Get Out”
was intriguing and involving; with the more sinister tone in “Us”,
Abels levels up his score and delivers an unnerving, fantastic work,
dictating the tone and atmosphere of each scene with perfection. In a
nutshell, due to the bigger budget, and to the project's ambition,
“Us” ends up being a more refined, well produced film, both
visually and sonorously.)
Resumindo, “Nós” é
mais um acerto de Jordan Peele. É assustador, é inteligente, é
complexo, é divertido, e com certeza, renderá discussões e teorias
muito depois de ser assistido no cinema. É um daqueles filmes raros
que implora para ser visto mais de uma vez, para que nada passe
despercebido. E, caso isso não tenha ficado claro pelos elogios,
também é o melhor filme do ano até agora.
Nota: 9,5 de 10!!
É isso, pessoal!
Espero que vocês tenham gostado! Até a próxima,
João Pedro
(In a nutshell, “Us”
is one more hit from Jordan Peele. It's scary, it's clever, it's
complex, it's entertaining, and it will, surely, spark discussions
and theories long after the end of the screening. It's one of those
rare films that beg to be seen more than one time, so that nothing
goes unnoticed. And, just in case I didn't make myself clear with all
the praise, it's also the best movie of the year so far.
I give it a 9,5 out of
10!!
That's it, guys! I hope
you liked it! See you next time,
João Pedro)