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sexta-feira, 24 de setembro de 2021

"Star Wars: Visions": a melhor obra de "Star Wars" desde "Rogue One" (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para falar sobre um dos lançamentos mais recentes no catálogo original do Disney+! Sendo uma exibição estonteante do enorme talento e ambição por trás de alguns dos melhores estúdios de animação japonesa da atualidade, a série em questão homenageia os aspectos essenciais de uma das mitologias mais ricas da cultura pop, com histórias cativantes, animação tradicional, cenas de ação de tirar o fôlego e alguns cliffhangers para nos deixar com gostinho de “quero mais”. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Star Wars: Visions”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to talk about one of the most recent releases on the Disney+ original catalog! As an astounding display of the enormous talent and ambition behind some of the best Japanese animation studios working today, the series I'm about to review pays homage to the essential aspects of one of pop culture's richest mythologies, with captivating stories, traditional animation methods, breathtaking action scenes and some cliffhangers to leave us wanting more. So, without further ado, let's talk about “Star Wars: Visions”. Let's go!)



“Star Wars: Visions” é uma coleção antológica (ou seja, cada episódio conta uma história completamente diferente e independente da anterior) de nove curtas-metragens de animação produzidos por sete estúdios de animação japonesa: Kamikaze Douga, Studio Colorido, Geno Studio, Trigger, Kinema Citrus, Production I.G. e Science SARU. Cada estúdio conta uma história inteiramente original inserida no universo fictício criado por George Lucas, abordando os mais diferentes temas e aspectos narrativos presentes no cânone da mitologia. Farei aqui um ranking do pior ao melhor episódio, tentando mostrar, de forma sucinta, os prós e contras de cada capítulo da antologia. Então, bora começar!

(“Star Wars: Visions” is a collected anthology (meaning that every episode tells a completely different story that's independent from the previous one) of nine animated short films produced by seven Japanese animation studios: Kamikaze Douga, Studio Colorido, Geno Studio, Trigger, Kinema Citrus, Production I.G. and Science SARU. Each studio tells an entirely original story inserted into the George Lucas-created fictional universe, dealing with a variety of different themes and narrative aspects present in the mythology's canon. I'll make a ranking here from the worst to the best episode, trying to show, in a succint way, the pros and cons of each chapter in the anthology. So, let's get started!)



  1. BALADA DE TATOOINE” - Animado pelo estúdio Studio Colorido

    (“TATOOINE RHAPSODY” - Animated by Studio Colorido)

Prós: Não há dúvidas de que a trilha sonora instrumental de “Star Wars”, composta pelo inigualável John Williams, é icônica em todos os sentidos possíveis. Mas já as canções cantadas são um aspecto infame na fanbase do universo de George Lucas. Só para dar um exemplo: no jogo “Kinect Star Wars”, há uma paródia de uma música de Jason Derulo chamada “I'm Han Solo” (procurem no YouTube e me agradeçam depois), que se tornou um clássico cult agora, mas que na época de lançamento, era a definição de “cringe”. E “Balada de Tatooine” envolve uma banda de desajustados que precisa fazer o melhor show da vida deles para salvar um dos membros das garras de Jabba, o Hutt. É um curta bem divertido, tem uma animação bem vibrante e energética, personagens carismáticos, mas o destaque fica para a música no final. O engraçado é que funciona tão bem como uma música de anime, mas não tão bem assim como uma de “Star Wars”. No geral, é um bom curta, mas não chega perto da profundidade e criatividade que outros conseguiram alcançar.

Contras: Eu, sinceramente, não gostei da história. Achei ela muito bobinha e telegrafada, como se cada evento fosse essencialmente direcionado para o ato final do curta. Os personagens, embora carismáticos, são muito subdesenvolvidos. E o pior de tudo: “Balada de Tatooine” parece ser um trailer para algo maior que, infelizmente, não acontece. É um curta bem divertido, e o mais descontraído da antologia, mas precisava de mais desenvolvimento para se destacar mais.

(Pros: There is no doubt that the instrumental score of “Star Wars”, composed by the one and only John Williams, is iconic in every single way. But actual songs are an infamous aspect in the fanbase of George Lucas's universe. Just for an example: in the game “Kinect Star Wars”, there's a parody of a Jason Derulo song called “I'm Han Solo” (search for it on YouTube and thank me later), which became a cult classic now, but at the time of release, it was the living definition of “cringe”. And “Tatooine Rhapsody” involves a band of misfits who needs to perform the best concert of their lives in order to save one of the members from the clutches of Jabba the Hutt. It's a pretty fun short, it has a vibrant, energetic animation style, charismatic characters, but the highlight stays for the song at the end. The funny thing is that it works so well as an anime song, but not that well as a “Star Wars” one. Generally, it's a nice short, but it's nowhere close to the depth and creativity that others managed to reach.

Cons: I, honestly, didn't like the story. I thought it was quite silly and cookie-cutter programmed, as if every event was essentially directed towards the short film's final act. The characters, while charismatic, are really underdeveloped. And the worst of all: “Tatooine Rhapsody” seems like a trailer for something bigger that, unfortunately, doesn't happen. It's a pretty enjoyable short, and the most uncompromising one in the anthology, but it needed more development to make a greater impression.)



  1. A NOIVA ALDEÔ - Animado pelo estúdio Kinema Citrus

    (“THE VILLAGE BRIDE” - Animated by Kinema Citrus)

Prós: Este curta me lembrou muito da atmosfera visual das primeiras obras do Studio Ghibli, mais especificamente “Princesa Mononoke” e “Meu Amigo Totoro”. Eu gostei muito do foco na natureza e no ambiente do curta, e o estúdio fez um ótimo trabalho em dar uma personalidade distinta para essa ambientação, que me lembrou de Endor, o planeta dos Ewoks. Ao contrário do curta acima, “A Noiva Aldeã” tem sequências de ação criativas, embora somente no final. E o episódio consegue desenvolver o tema de redenção muito bem.

Contras: Minha única ressalva com relação a este curta fica com o desenvolvimento da protagonista. Todos os outros personagens são bem desenvolvidos e aprendemos a nos importar com eles, mas o roteiro não nos dá nada além das cenas de ação para torcer pela protagonista. Talvez, se os roteiristas tivessem investido numa abordagem que focasse nos outros personagens, teria funcionado um pouco melhor, mas mesmo assim, é bem melhor e visualmente mais vistoso do que “Balada de Tatooine”.

(Pros: This short reminded me a lot of the visual atmosphere in Studio Ghibli's early work, most specifically “Princess Mononoke” and “My Neighbor Totoro”. I really enjoyed the focus on nature and the short's environment, and the studio did a great job in giving a distinct personality to this setting, which reminded me of Endor, the planet of the Ewoks. Unlike the short above, “The Village Bride has creative action sequences, although only near the ending. And the episode manages to develop the theme of redemption really well.

Cons: My only exception towards this short film relies on the development of the main character. Every other character is well-developed and we learn to care for them, but the script doesn't give us anything beyond the action scenes to root and care for the main character. Maybe, if the screenwriters had invested in an approach that focused on the other, more layered characters, it would've worked a little better, but still, it's way better and more visually striking than “Tatooine Rhapsody”.)



  1. OS GÊMEOS” - Animado pelo estúdio Trigger

    (“THE TWINS” - Animated by Trigger)

Prós: É a partir deste curta que a antologia começa a explorar alguns aspectos essenciais que marcaram todos os filmes de “Star Wars”. No curta em questão, o tema explorado de forma central foi a dualidade do bem e do mal, um dos aspectos definitivos do universo fictício. Eu gostei de como “Os Gêmeos” serve como uma espécie de prólogo para tudo no universo “Star Wars”, como se esta história fosse algo no estilo de Rômulo e Remo para a mitologia criada por George Lucas. A ação neste curta é de tirar o fôlego, canalizando toda a energia frenética e surreal presente no clássico “Akira”, de Katsuhiro Otomo, para criar algumas das melhores lutas de sabre de luz já feitas.

Contras: Uma coisa que, pelo menos para mim, importa nas animações é a sutileza de expressar certas coisas de modo implícito ao invés de explícito. E neste curta, há muitas coisas que poderiam ter sido ditas de forma visual ou expressiva, mas os roteiristas preferem dizer isso no diálogo, o que preenche o curta de artificialidade e um pouco de infantilidade. Vou dar um exemplo: um dos irmãos está encurralado durante a luta com o outro irmão. Aí, ao invés de focar na animação para expressar a desolação que o personagem está sentindo, ele fala “Ah, não, estou encurralado! Como eu vou escapar dessa?”. Tipo isso. Mas, felizmente, é a minha única ressalva para este curta visualmente vibrante e energético.

(Pros: It's from this short and onward that the anthology begins to explore some essential aspects that were present throughout all “Star Wars” films. In this particular short, the theme explored in a central way was the duality of good and evil, one of the fictional universe's defining aspects. I enjoyed how “The Twins” serves as a prologue of sorts to everything in the “Star Wars” universe, as if this story was something like Romulus and Remus for the mythology created by George Lucas. The action in this short is breathtaking, channeling all the kinetic and surreal energy present in Katsuhiro Otomo's classic “Akira”, to create some of the best lightsaber fights ever made.

Cons: One thing that, at least for me, matters in animation is the subtlety of expressing certain things in an implicit way rather than an explicit one. And in this short, there are a lot of things that could've been said visually or through expressions, but the screenwriters prefer to say it through dialogue, which fills the short with artificiality and a bit of infantility. Let me give an example: one of the siblings is cornered during the fight with the other sibling. Then, instead of focusing on the animation to express the desolation the character is feeling, he says “Oh, no, I'm cornered! How am I going to escape this?”. Like that. But, fortunately, it's my only setback for this visually vibrant and energetic short film.)



  1. ARAKIRI” - Animado pelo estúdio Science SARU

    (“ARAKIRI” - Animated by Science SARU)

Prós: A história, para mim, foi o maior destaque deste curta. Eu gostei bastante da dinâmica entre os dois protagonistas, e especialmente da forma brilhante de como “Arakiri” lida com o transtorno do estresse pós-traumático. É cativante e ajuda o espectador a se importar com a jornada dos protagonistas. As cenas de ação, como na grande maioria dos curtas, fica para o final, mas vale muito a pena. A conclusão de “Arakiri” me deixou de boca aberta, sendo um dos finais mais impressionantes e marcantes da antologia.

Contras: A minha única ressalva, novamente, fica com o desenvolvimento dos protagonistas. A abordagem do TEPT é mais do que suficiente para nos fazer importar com os dois personagens principais, mas há uma sequência de flashback que claramente mostrava uma conexão mais profunda entre eles. E é isso. Não há nada mais que explore a história de fundo destes personagens, fazendo que o conflito no final seja meio previsível e esperado. Mas, felizmente, os momentos finais do curta tiram essa previsibilidade, terminando “Arakiri” de uma maneira bem inesperada, mas emocionalmente potente.

(Pros: The story, for me, was the biggest highlight of this particular short. I really enjoyed the dynamic between the two main characters, and especially the brilliant way on how “Arakiri” deals with post-traumatic stress disorder. It's captivating and helps the viewer in caring about the protagonists' journey. The action scenes, as in the great majority of these shorts, stay reserved for the ending, but they're so worth it. The conclusion of “Arakiri” left me with my jaw dropped to the floor, being one of the most impressive and memorable endings in the anthology.

Cons: My only setback, once again, relies on the development of the protagonists. The PTSD approach is more than enough to make us care about the two main characters, but there's a flashback sequence that clearly displayed a deeper connection between them. And that's it. There's nothing else that explores these characters' backstory, making the conflict in the end a bit predictable and expected. But, fortunately, the short's final moments strip that predictability away, capping off “Arakiri” in an unexpected, yet emotionally potent way.)



  1. O ANCIÃO” - Animado pelo estúdio Trigger

    (“THE ELDER” - Animated by Trigger)

Prós: Um dos maiores acertos da trilogia de prólogos (eps. I a III) de “Star Wars” foi a dinâmica entre o General Obi-Wan Kenobi (Ewan McGregor) e seu Padawan Anakin Skywalker (Hayden Christensen). O contraste entre a sabedoria do mestre e a teimosia e vontade do Padawan de causar uma boa impressão no mestre é o fio condutor principal de “O Ancião”, e há um uso perfeito de uma narrativa dividida em três atos aqui: mestre e Padawan chegam em um lugar e se separam; Padawan faz bagunça; o mestre é chamado para consertar essa bagunça. É um curta cativante e visualmente estonteante, com os visuais me lembrando muito de “Samurai Jack” e “Avatar: A Lenda de Aang”. As cenas de ação são bem graciosas e realistas, mesmo sendo ambientadas dentro da mitologia de “Star Wars”. E o final não deixa nada a desejar.

Contras: Minha única ressalva fica com o uso de efeitos estroboscópicos nas cenas de ação. Não vou falar o contexto, mas é algo que irrita e influencia o espectador a desviar o olhar ao invés de concentrar na tela, e poderia ter sido feito de uma maneira bem mais confortável para os olhos.

(Pros: One of the greatest things done right in the prequel trilogy (episodes I-III) of “Star Wars” was the dynamic between General Obi-Wan Kenobi (Ewan McGregor) and his Padawan Anakin Skywalker (Hayden Christensen). The contrast between the Master's wisdom and the stubbornness and will of the Padawan to make a good impression on the Master is the main conductive force of “The Elder”, and there's a perfect use of a three-act divided narrative here: Master and Padawan arrive somewhere and split up; Padawan messes up; Master shows up to fix said mess. It's a captivating and visually astounding short, with the visuals reminding me a lot of “Samurai Jack” and “Avatar: The Last Airbender”. The action scenes are quite graceful and realistic, even though being set inside the “Star Wars” mythology. And the ending leaves absolutely nothing to be desired.

Cons: My only setback stays with the use of strobe light effects in the action scenes. I'm not gonna say the context, but it's something annoying that influences the viewer to look away instead of looking closely, and it could've been done in a way that would've been way more comfortable to the eye.)



  1. T0-B1” - Animado pelo estúdio Science SARU

    (“T0-B1” - Animated by Science SARU)

Prós: Quando vi o protagonista deste curta (que compartilha o nome com o título do episódio) pela primeira vez, a primeira coisa que me veio a cabeça foi: como “Astro Boy” seria se fosse um filme de “Star Wars”. E é exatamente isso que “T0-B1” é, e muito mais. Além de conter o arquétipo eternizado por Luke Skywalker de ser um desajustado que acha que não se encaixa em nenhum lugar, o curta serve perfeitamente como uma porta de entrada para crianças interessadas no universo de “Star Wars”, graças ao seu protagonista androide fofo e ao caráter visual mais nostálgico, sendo bem mais parecido com o videogame “Cuphead” do que com uma obra de anime propriamente dita. É impossível não se apaixonar por essa história e pelo protagonista. Não tentem resistir aos charmes de “T0-B1”. Se vocês se entregarem completamente à história, saberão exatamente como toda criança que queria ser um Jedi se sentiu quando viu “Star Wars” pela primeira vez.

Contras: Só há um detalhezinho pessoal que pensei que seria aproveitado, mas não foi. Claro que não vou falar o que é, mas prestem atenção na pronúncia em inglês do nome do protagonista. É isso.

(Pros: When I first saw the protagonist of this short (whose name is the same as the episode's title), the first thing that popped in my head was: how “Astro Boy” would be if it was a “Star Wars” film. And that's exactly what “T0-B1” is, and much more. Besides containing the archetype made famous by Luke Skywalker of being a misfit who thinks he doesn't fit anywhere, the short film perfectly serves as a gateway for children that are interested in the “Star Wars” universe, thanks to its cute android protagonist and to the more nostalgic character of the visuals, which reminded me a lot more of the videogame “Cuphead” than a proper anime film or show. It's impossible not to fall in love with this story and the main character. Don't try to resist the charms of “T0-B1”. If you immerse yourself completely into the story, you will know exactly how every single child that wanted to be a Jedi felt when they watched “Star Wars” for the first time.

Cons: There's just one personal detail that I thought would be better developed, but it wasn't. Of course I won't say what it is, but pay attention to the pronunciation of the protagonist's name. That's it.)



  1. O NONO JEDI” - Animado pelo estúdio Production I.G.

    (“THE NINTH JEDI” - Animated by Production I.G.)

Prós: Este é, sem dúvidas, um dos curtas mais completos da série. Ele deixa um cliffhanger maldito para sequências futuras, mas tirando isso, é uma história com começo, meio e fim muito bem definidos, e na minha opinião, era o tipo de história presente nesse curta que a trilogia de sequências (eps. VII-IX) de “Star Wars” deveria ter investido. A protagonista me lembrou MUITO (ênfase no MUITO) da Rey. Há uma cena de ação que é uma bela homenagem à uma das melhores cenas de “O Retorno de Jedi”. Há um aspecto relacionado aos sabres de luz nesse curta que deveria ser considerado um cânone na saga, e iria fazer MUITO sentido. Tem uma reviravolta bem legal perto da conclusão, terminando uma história muito boa de uma maneira bombástica e explosiva.

Contras: A única falha desse curta é que ele acaba. Pode parecer bobo, mas é a mais pura verdade.

(Pros: This is, undoubtedly, one of the most complete shorts in the pack. It leaves one hell of a cliffhanger for future installments, but besides that, it's a story that has a very well defined beginning, middle and ending, and in my opinion, the “Star Wars” sequel trilogy (episodes VII-IX) should've invested more in this story's kind of approach instead of what it actually went for. The protagonist reminded me A LOT (emphasis on the A LOT) of Rey. There's an action scene that's a beautiful homage to one of the best scenes in “Return of the Jedi”. There's an aspect related to the lightsabers in this short that should be considered canon in the saga, and it would make A LOT of sense. There's a cool twist near the conclusion, capping off a very good story in a bombastic, explosive way.

Cons: The only flaw in this short is that it ends. It might seem silly, but it's the truth.)



  1. O DUELO” - Animado pelo estúdio Kamikaze Douga

    (“THE DUEL” - Animated by Kamikaze Douga)

Prós: Há uma razão bem clara por trás da decisão da Disney de fazer com que “O Duelo” fosse o primeiro contato do espectador com “Star Wars: Visions”: não existe “Star Wars” sem Akira Kurosawa. Sim, você ouviu certo. Não acredita em mim? Pergunta pro George Lucas, que literalmente aplicou o roteiro de “A Fortaleza Escondida”, filme de 1958 dirigido por Kurosawa, no Episódio I de “Star Wars”, “A Ameaça Fantasma”. Tudo (e eu digo “tudo”) neste curta é uma homenagem ao cultuado diretor japonês. Da animação em preto-e-branco (com exceção das cores dos sabres de luz) à história de uma vila que é atacada por bandidos e um herói solitário precisa lutar contra todos eles para trazer paz à vila (alô, “Os Sete Samurais”), tudo aqui é uma celebração ao legado que Kurosawa deixou, que varia de Star Wars ao recente videogame “Ghost of Tsushima”. E talvez o mais legal sobre “O Duelo” é que ele parece ter sua própria mitologia interior dentro do universo de “Star Wars”, como é comprovado pelos minutos finais (e pelo anúncio de um futuro livro que irá aprofundar a história do protagonista do curta).

Contras: Este curta é uma verdadeira obra de arte, e como as melhores pinturas de artistas renomados, é algo impecável, nada a reclamar.

(Pros: There's a very clear reason behind Disney's decision of making “The Duel” be the viewer's first contact with “Star Wars: Visions”: there is no “Star Wars” without Akira Kurosawa. Yes, you heard that right. You don't believe me? Ask George Lucas, who literally recycled the screenplay of “The Hidden Fortress”, a 1958 film directed by Kurosawa, in Episode I of Star Wars, “The Phantom Menace”. Everything (and I mean “everything”) in this short film is a homage to the renowned Japanese filmmaker. From the black-and-white animation (except for the lightsaber colors) to the story of a village that is attacked by bandits and a lone hero needs to fight them all off in order to bring peace to the village (hello, “Seven Samurai”), everything here is a celebration of the legacy Kurosawa left behind, from Star Wars to videogames like “Ghost of Tsushima”. And maybe the coolest thing about “The Duel” is that it seems to have its own inner mythology inside the “Star Wars” universe, as it is confirmed by its final minutes (and by the announcement of an upcoming book that will delve into the protagonist's backstory).

Cons: This short is a true work of art, and like the best paintings by acclaimed artists, it's something flawless, nothing to complain about.)



  1. LOP E OCHÔ” - Animado pelo estúdio Geno Studio

    (“LOP AND OCHO” - Animated by Geno Studio)

Prós: Se Hayao Miyazaki, diretor de “A Viagem de Chihiro”, fizesse um filme animado de Star Wars, tenho certeza que seria algo na linha de “Lop e Ochô”. Todos os aspectos essenciais do cânone de Star Wars, explorados nos curtas anteriores, são combinados aqui: o arquétipo do protagonista desajustado, relações de amizade e família, relações contrastantes entre clãs, corrupção, redenção. Por mais fantasioso que “Lop e Ochô” possa ser, os temas abordados na narrativa são a quintessência de uma obra de Star Wars. Gostei do fato da grande maioria das cenas de ação serem com espadas de verdade e não com sabres de luz, o que me lembrou bastante da falta da arma icônica no melhor filme de Star Wars da Disney, que é “Rogue One”. Há uma crítica social afiadíssima no centro da narrativa, que diz respeito ao desenvolvimento de uma cidade através do desmatamento da natureza ao redor dela. Este curta é algo realmente especial que merece ser expandido de alguma forma pela Disney, e eu realmente espero que eles o façam.

Contras: Assim como os curtas no terceiro e segundo lugar, não tenho nada a reclamar.

(Pros: If Hayao Miyazaki, director of “Spirited Away”, had the chance to make an animated Star Wars movie, I'm sure it would've been something similar to “Lop and Ochô”. Every essential aspect in the Star Wars canon, many of which were explored in the previous shorts, is combined here: the archetype of the misfit protagonist, friendship and family relationships, contrasting relationships amongst clans, corruption, redemption. As fantasy-like as “Lop and Ochô” can be, the themes dealt with in the narrative are the real quintessence of “Star Wars”. I liked the fact that the great majority of the action scenes contained real swords and not lightsabers, which reminded me a lot of the iconic weapon's absence in Disney's best Star Wars film, “Rogue One: A Star Wars Story”. There's a razor-sharp sociopolitical criticism at its center, which says a lot about the development of a city through the deforestation of the nature around it. This short film is something really special that deserves to be expanded in some way by Disney, and I really hope they do it.

Cons: Just like the shorts in third and second place, I got nothing to complain about.)



Resumindo, como qualquer antologia, “Star Wars: Visions” tem episódios que são excelentes, e outros que não são tão memoráveis. Mas não dá pra negar que esta coleção de nove curtas animados produzidos em estilo de anime é uma das melhores e mais originais obras baseadas no universo fictício de George Lucas feitas neste século, junto com “Rogue One: Uma História Star Wars” e a já icônica “The Mandalorian”. Disney, pode mandar mais curtas, que tá pouco! (Risos)

Nota: 10 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, as in every anthology, “Star Wars: Visions” has some excellent episodes, and others that aren't as memorable. But you just can't deny that this collection of nine animated short films produced in an anime-like style is one of the best and most original pieces of work based on George Lucas's fictional universe made in this century, alongside “Rogue One: A Star Wars Story” and the iconic “The Mandalorian”. Disney, keep these short films coming, because these are not enough! (LOL)

I give it a 10 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)


segunda-feira, 6 de setembro de 2021

"Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis": uma história de origem frenética, porém inconsistente (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para falar sobre um dos lançamentos mais recentes em exibição nos cinemas! Sendo uma história de origem para um super-herói completamente novo da Marvel, o filme em questão acerta ao estabelecer uma mitologia autêntica para seu personagem-título, contando com a ajuda de um elenco extremamente carismático, personagens multifacetados e algumas das melhores sequências de ação do estúdio. Porém, a narrativa tenta ser duas coisas ao mesmo tempo, resultando em um tom inconsistente e um terceiro ato desconexo da proposta inicial. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to review one of the most recent film releases, now showing in theaters! Being an origin story for a brand-new Marvel superhero, the film I'm about to review hits its target when establishing an authentic mythology for its title character, relying on the help of an extremely charismatic cast, layered characters and some of the studio's best action sequences. However, the narrative tries to be two things at the same time, resulting in an inconsistent tone and a third act that's disconnected from what was initially proposed. So, without further ado, let's talk about “Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings”. Let's go!)



Ambientado após os eventos de “Vingadores: Ultimato”, o filme acompanha Shang-Chi (Simu Liu), um jovem chinês que, ao tentar se esconder de seu passado conturbado, se encontra na mira de seu pai, Wenwu/Mandarim (Tony Leung), líder de uma organização terrorista conhecida como os Dez Anéis. Ao descobrir que seu pai deseja visitar uma vila mística para trazer a falecida esposa de volta à vida, Shang-Chi conta com a ajuda de sua irmã (Meng'er Zhang) e de sua melhor amiga (Awkwafina) para impedir que Wenwu libere um mal antigo que trará ruína e tragédia ao mundo.

(Set after the events of “Avengers: Endgame”, the film follows Shang-Chi (Simu Liu), a Chinese young man who, when trying to hide from his troubled past, finds himself in the crosshairs of his father, Wenwu/The Mandarin (Tony Leung), the leader of a terrorist organization known as the Ten Rings. When finding out that his father wishes to visit a mystical village to bring his late wife back to life, Shang-Chi relies on the help of his sister (Meng'er Zhang) and his best friend (Awkwafina) to prevent Wenwu from unleashing an ancient evil that will bring ruin and tragedy to the world.)



Ok, para começar, minhas expectativas estavam bem baixas pra assistir a “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis”. Não pelo fato de ser outra história de origem de outro super-herói no Universo Cinematográfico da Marvel, mas pelo fato do material promocional transformar o filme em algo bastante artificial, ao invés de investir em algo mais pé-no-chão. Por ter sido filmado em agosto de 2020, quando os estúdios começaram a reabrir as portas para continuarem os trabalhos de produção cinematográfica, imaginei que, pra literalmente qualquer tipo de luta ou contato físico que os atores teriam que fazer, haveria uma dose generosa de CGI envolvida. E, infelizmente, o material promocional só veio para reforçar essa suposição.

Mas, tirando essa minha opinião pessoal, haviam muitas razões para que “Shang-Chi” fosse um filme memorável da Marvel Studios. A começar pela direção do Destin Daniel Cretton, responsável por dirigir e escrever um dos melhores filmes que vi em 2021, um drama independente chamado “Short Term 12”, que nos apresentou a talentos em ascensão como Brie Larson, John Gallagher Jr., Rami Malek, Lakeith Stanfield, Kaitlyn Dever e Stephanie Beatriz. Depois, havia a abordagem escolhida pelo diretor, que se inspirou em filmes do Jackie Chan e obras como “O Tigre e o Dragão” e “Kung-Fusão” para transformar “Shang-Chi” no mais próximo que o estúdio estaria de fazer um filme de artes marciais.

E, em terceiro lugar, o filme finalmente nos daria uma história de fundo sobre a organização dos Dez Anéis, que estava presente no Universo Cinematográfico da Marvel desde o início, em “Homem de Ferro”. Alguns materiais promocionais subsequentes, que destacavam a quantidade de lutas corpo-a-corpo, e o consenso das críticas aumentaram um pouco mais as minhas expectativas e, este fim de semana, finalmente fui conferir o segundo filme da Fase 4 do UCM. E fico bem feliz em dizer que me surpreendi positivamente por muitos aspectos da narrativa, mas, infelizmente, ela não é isenta de erros.

Ok, com isso dito, vamos falar do roteiro. Escrito por Cretton, Dave Callaham (responsável pelos roteiros de “Mulher-Maravilha 1984” e “Mortal Kombat”) e Andrew Lanham, o roteiro de “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis” funciona melhor quando tenta ser um filme de ação mais sério, algo na veia de “Viúva Negra”, também lançado em 2021 pela Disney. Existem várias razões aqui que reforçam esse fato. Primeiro, há o teor autêntico da narrativa: assim como filmes como “A Lenda de Candyman” e o próprio “Pantera Negra” da Marvel, que se conectaram às raízes originais de suas histórias sob o comando de diretores negros e um elenco majoritariamente negro, “Shang-Chi” não só tem um diretor e elenco majoritariamente asiáticos, mas também tem grande parte do seu diálogo em mandarim, algo que eu realmente não esperava e que me surpreendeu positivamente.

Em segundo lugar, há o desenvolvimento dos personagens, que é muito bom. O próprio Shang-Chi me lembrou muito do desempenho da Natasha Romanoff em “Viúva Negra”, no contexto de ser alguém treinado para matar pessoas com as próprias mãos, e que acaba fugindo de um passado conturbado para os EUA, tentando criar sua própria identidade no processo. Mesmo com as histórias dos dois personagens sendo bem similares, a de Shang-Chi se diferencia de Romanoff pela fonte do abuso físico e psicológico ser um familiar próximo; no caso em questão, o pai do protagonista, o qual, além de ser interpretado por um dos melhores atores de Hong Kong (falaremos disso mais tarde), é o melhor vilão da Marvel Studios desde o Killmonger, de “Pantera Negra”.

Falo isso especialmente pelo fato de, assim como o personagem do Michael B. Jordan, o antagonista de “Shang-Chi” possuir motivações compreensíveis, que fogem do “AAAAAARRRGGHH!!! Eu sou um vilão e eu quero dominar o mundo!” e se aproximam de razões mais humanas e sentimentais que tentam justificar o que ele acaba fazendo. O Mandarim me lembrou muito do desenvolvimento do Rei do Crime em “Homem-Aranha no Aranhaverso”, por mais de uma razão. Há um uso muito bem calculado de flashbacks, os quais ajudam a aprofundar tanto o desenvolvimento do protagonista quanto do antagonista, permitindo que o espectador entenda os dois lados da moeda, o que é sempre bom.

A terceira razão seria o senso de humor do filme, que é extremamente eficiente, especialmente pelo fato da Awkwafina fazer parte do elenco principal. Quem conhece o trabalho dela em “Podres de Ricos”, “A Despedida” e “Raya e o Último Dragão” sabe o quanto que ela é engraçada. Há um uso particular de alívio cômico que me pegou de surpresa e que se destacou acima dos demais momentos descontraídos. Na cena em questão, há uma narração bem séria do protagonista, que reconta seu passado para outro personagem e para o espectador. Aí, do nada, vem um diálogo que quebra completamente as nossas expectativas e nos leva à uma troca de falas hilária entre os personagens envolvidos.

E a quarta e última razão seria a presença de sequências de ação de tirar o fôlego. A maior quantidade de cenas de luta no tempo de duração bem calculado de 2 horas e 12 minutos é composta de combates corpo-a-corpo, executados em sequências prolongadas e quase sem cortes, o que acrescenta para um maior dinamismo e realismo nas cenas. Há algumas partes aqui que me lembraram bastante de filmes memoráveis de ação, como “John Wick” e “Oldboy”. Já outras cenas destacaram a coreografia graciosa e artística das artes marciais presentes em obras como “Kill Bill” e “O Tigre e o Dragão”. Há uma sequência em particular aqui que, pra mim, é tranquilamente uma das cinco melhores cenas de ação em um filme do Universo Cinematográfico da Marvel.

Se “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis” tivesse investido 100% de suas forças nessa veia mais realista, na minha opinião, ele se equipararia à “Viúva Negra”, o qual eu chamei de “o melhor filme solo da Marvel desde 'Pantera Negra'” (você pode ler minha resenha completa aqui: https://nocinemacomjoaopedro.blogspot.com/2021/07/viuva-negra-o-melhor-filme-solo-da.html). Mas, infelizmente, a narrativa elaborada por Cretton, Callaham e Lanham tenta ser duas coisas ao mesmo tempo, e essas duas vertentes, quase que completamente opostas, não combinam bem, no meu ponto de vista. Ao mesmo tempo que “Shang-Chi” tenta emular o realismo e a crueza dos filmes de artes marciais que o inspiraram, há uma subtrama fantasiosa que desconecta completamente as duas metades do filme, em termos de tom.

Claro, sei que tal subtrama é um recurso utilizado pelos roteiristas para homenagear a cultura chinesa, e eu respeito isso. Há vários aspectos visuais que são realmente lindos e vistosos, adicionando um tom meio lúdico à narrativa. Mas o problema é que a segunda metade do filme se entrega quase que inteiramente a esta veia mais fantasiosa, que não só diferencia drasticamente a obra do que foi apresentado nas cenas anteriores, mas também tira um pouco da sua originalidade.

Só para vocês terem uma ideia, há um recurso narrativo presente no ato final de “Shang-Chi” que, se não for idêntico, pelo menos é ridiculamente similar à mitologia apresentada na animação “Raya e o Último Dragão”, que não só é do mesmo estúdio (Disney), como também compartilha membros de elenco (como Awkwafina, que interpreta o dragão titular em “Raya” e a melhor amiga do protagonista em “Shang-Chi”), além de ambos os filmes terem sido lançados em 2021.

Eu tenho um ponto de vista particular sobre uma possível abordagem alternativa que poderia ter ajudado o filme a manter a vibe mais séria e realista que marcou a primeira metade. De modo similar à “A Lenda de Candyman”, teria sido bem melhor e mais eficiente se os roteiristas tivessem feito a escolha de transformar todos os aspectos fantásticos do filme (os Dez Anéis, a vila mística de Ta Lo, o espírito protetor da vila, etc.) em metáforas para coisas do mundo real. Assim como o Candyman foi utilizado para simbolizar o racismo e a injustiça social que pessoas negras sofreram ao longo dos anos, os aspectos mitológicos de “Shang-Chi” poderiam ter sido usados como representações metafóricas que dariam forças e motivações para que o protagonista seguisse em frente com sua jornada.

Felizmente, esse terceiro ato desconexo não arruinou, de nenhum modo, minha experiência com “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis”, a qual foi bem positiva, porém com algumas ressalvas, como esta acima. E, é claro, fiquem de olho nas cenas pós-créditos. Há duas delas (uma no meio, e uma no final), que nos dão um vislumbre do futuro bastante promissor destes novos personagens no vasto Universo Cinematográfico da Marvel. E eu mal posso esperar para encontrá-los de novo nas próximas obras do estúdio.

(Okay, for starters, my expectations were quite low to watch “Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings”. Not because it was yet another origin story on another superhero in the Marvel Cinematic Universe, but because its promotional material transformed it into something pretty artificial, instead of investing in a more down-to-Earth approach to it. As it had been filmed in August 2020, right when studios started to reopen their doors in order to resume their cinematic productions, I imagined that, for literally everything that involved actors fighting or having physical contact, there would be a hefty dose of CGI involved. And, sadly, the promotional material only came to reiterate that supposition.

But, apart from that personal opinion of mine, there were many reasons for “Shang-Chi” to be a memorable Marvel Studios film. Starting with its direction by Destin Daniel Cretton, who was responsible for making one of the best films I've watched in 2021, an independent drama called “Short Term 12”, which introduced us to rising talents such as Brie Larson, John Gallagher Jr, Rami Malek, Lakeith Stanfield, Kaitlyn Dever and Stephanie Beatriz. Then, there was the approach chosen by the director, who took inspiration in Jackie Chan films and works like “Crouching Tiger, Hidden Dragon” and “Kung-Fu Hustle” to transform “Shang-Chi” into the closest the studio will ever be to making a martial arts film.

And, in third place, the film would finally give us some backstory on the Ten Rings organization, which has been present in the Marvel Cinematic Universe since its beginning, with “Iron Man”. A few subsequent promotional materials, which focused more on one-on-one combat, and the critics' consensus raised my expectations a little bit higher and, this weekend, I finally watched the second film in Phase 4 of the MCU. And I'm really glad to say I was positively surprised by many aspects of its narrative; however, unfortunately, it does have its missteps.

Okay, with that said, let's talk about the screenplay. Written by Cretton, Dave Callaham (who wrote the scripts for “Wonder Woman 1984” and “Mortal Kombat”) and Andrew Lanham, the screenplay for “Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings” works best when it tries to be a more serious, grounded action film, something more like “Black Widow”, which was also released in 2021 by Disney. There are several reasons here that reinforce that fact. First, there's the authentic tone of the narrative: just like films such as 2021's “Candyman” and Marvel's own “Black Panther”, which connected to their stories' original roots under the command of Black filmmakers and a largely Black cast, “Shang-Chi” not only has an Asian filmmaker as a director and a mostly Asian cast, but also has a large part of its dialogue in Mandarin Chinese, something I really didn't expect and that surprised me positively.

Secondly, there's the character development, which is really good. Shang-Chi himself reminded me a lot of Natasha Romanoff's journey in “Black Widow”, in the sense of being someone who was trained to kill people with their bare hands, and ends up escaping their harrowing past towards the US, trying to create their own identity in the process. Even with both characters' backstories being extremely similar, Shang-Chi's differs from Romanoff's for the source of his physical and psychological abuse being a close relative; in this case, the protagonist's father, who not only is played by one of Hong Kong's best actors (we'll get to that later), but also is Marvel's best villain since “Black Panther”'s Killmonger.

I say that especially because, like Michael B Jordan's character, the antagonist of “Shang-Chi” has comprehensive and relatable motivations, which run away from the usual “AAAAARRGGHHH! I'm a bad guy and I'm gonna take over the world!” and walk towards more human, sentimental reasons that try to justify what he ends up doing.The Mandarin reminded me a lot of Kingpin's development in “Spider-Man: Into the Spider-Verse”, for more than one reason. There's a very well calculated use of flashbacks, which help deepen the developments of both the protagonist and the antagonist, allowing the viewer to see both sides of the coin, which is always good.

The third reason would be the film's sense of humor, which is extremely effective, especially through the fact that Awkwafina is a part of the main cast. Those familiar with her work in “Crazy Rich Asians”, “The Farewell” and “Raya and the Last Dragon” know how funny she is. There's a particular use of comic relief that caught me off-guard and stood above other lighter moments. In this scene, there's a very serious voice-over narration by the protagonist, as he tells his backstory to another character and the viewer. Then, out of nowhere, comes a dialogue that completely shatters our expectations and leads us into a hilarious exchange between all characters involved.

And the fourth and last reason would be the presence of breathtaking action sequences. The largest quantity of action scenes in its well calculated runtime of 2 hours and 12 minutes is composed by one-on-one combat, with a lot of bare-hands fighting involved, executed in prolonged sequences, which almost don't have cuts in them, which adds to a bigger dynamic and realistic tone to them. There are some parts here that reminded me of memorable action films, such as “John Wick” and “Oldboy”. Other scenes highlighted the gracious, artistic tone of the martial arts present in films like “Kill Bill” and “Crouching Tiger, Hidden Dragon”. There's a particular sequence here that, for me, rightfully earns its place among the five best action scenes in a MCU film.

If “Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings” had invested 100% of its forces into this more realistic vein, in my opinion, it would be an equal to “Black Widow”, which I called “the best Marvel solo movie since 'Black Panther'” (you can read my full review on it here: https://nocinemacomjoaopedro.blogspot.com/2021/07/viuva-negra-o-melhor-filme-solo-da.html). But, unfortunately, the narrative elaborated by Cretton, Callaham and Lanham tries to be two things at the same time, and these two sides, almost the extreme opposite of each other, are not a good match, in my point of view. At the same time “Shang-Chi” tries to emulate the realism and rawness of the martial arts films that inspired it, there's a fantasy subplot that completely disconnects the film's two halves, when it comes to tone.

Sure, I know that subplot is a resource the screenwriters use in order to create an homage to Chinese culture, and I respect that. There are several visual aspects to it that are really beautiful and luscious, which add a more playful tone to the narrative. But the problem is that the film's second half gives itself almost entirely to that fantasy approach, which not only drastically deviates the film from what was presented in earlier scenes, but also strips it a little bit of its originality.

Just so you can have an idea, there's a narrative resource in the final act of “Shang-Chi”, that, if not identical, is at least ridiculously similar to the mythology introduced in the animated film “Raya and the Last Dragon”, which not only is from the same studio (Disney), but also shares cast members (like Awkwafina, who voices the titular dragon in “Raya” and plays the title-character's best friend in “Shang-Chi”), besides both films being released in 2021.

I have a particular point of view on a possible alternative approach that could've helped the film to maintain the serious, more realistic vibe that made its first half so great. Similarly to 2021's “Candyman”, it would've been way better and way more effective if the screenwriters had chosen to transform all of the film's fantastical aspects (the Ten Rings, the mystical village of Ta Lo, the village's protective spirit, et cetera) into metaphors for real-world things. Just like Candyman was used to symbolize the racism and social injustice Black people have suffered over the years, the mythological aspects of “Shang-Chi” could have been used as metaphorical representations that would give the strength and motivation that the main character needs in order to conclude his journey.

Fortunately, this disconnected third act didn't ruin, at all, my experience with “Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings”, which was really positive, even with a few setbacks, like the one mentioned above. And, of course, stay tuned for the post-credit scenes. There are two of them (one in the middle, one in the end), and they give us a glimpse of these new characters' very promising future in the vast Marvel Cinematic Universe. And I can't wait to see them again in the studio's next films.)



O elenco, como dito na introdução, tem bastante carisma, e é uma das principais razões do porquê do funcionamento da narrativa. A começar pelo Simu Liu, que consegue equilibrar muito bem as duas facetas contrastantes do personagem-título. Nas cenas onde ele contracena com a Awkwafina, ele tem uma persona mais descontraída, engraçada, e, de fato, carismática. E eu gostei bastante de como o ator parecia estar meio fora de si nas sequências de luta, como se ele fosse uma pessoa completamente diferente. Isso, é claro, se dá pelo passado conturbado do personagem, e Liu consegue trabalhar muito bem com esse contraste, resultando numa performance bem-humorada e, ao mesmo tempo, emocionalmente potente.

A Awkwafina é um excelente alívio cômico, mas além de suprir nossa necessidade por piadinhas, ela também ajuda bastante a movimentar a trama, especialmente no terceiro ato. A dinâmica entre Liu e Awkwafina cativa o espectador de tal maneira, que pode chegar a um nível onde nós desejamos ter uma amizade parecida com a que os dois demonstram ter em tela. Eu também gostei bastante da performance da Meng'er Zhang, que, em partes, me lembrou bastante do desenvolvimento da Florence Pugh em “Viúva Negra”. Assim como a fantástica Yelena Belova, a personagem de Zhang é amargurada em relação aos seus familiares e protagoniza maravilhosas cenas de ação que adicionam um tom bad-ass (tradução: “f**ona”) à sua performance. Estou bem curioso para ver onde a personagem de Zhang irá no futuro do UCM.

Mesmo que o trio principal tenha feito um ótimo trabalho, os destaques no elenco ficam com o trio coadjuvante, composto por Tony Leung, Fala Chen e Michelle Yeoh. Leung, adorado por suas atuações nos filmes do cultuado diretor Wong Kar-wai, dá um verdadeiro show como o Mandarim, nos relembrando do seu desenvolvimento no filme de artes marciais (dirigido por Wong) “O Grande Mestre”, ao mesmo tempo que nos impressiona pela sua versatilidade em transitar entre filmes cult e algo mais comercial, replicando suas capacidades de atuação nos filmes de Wong para a fórmula da Marvel com absoluto sucesso. A performance dele me lembrou bastante do trabalho do Vincent D'Onofrio como Wilson Fisk na série “Demolidor”. Assim como o antagonista de Matt Murdock, a atuação de Leung consegue misturar a imponência inerente de seu personagem com uma sensível vulnerabilidade que diz respeito ao seu único ponto fraco, e o ator transmite essas emoções contrastantes de maneira muito crível.

A personagem de Chen, em uma performance curta, mas sensível, é a principal forma que os roteiristas usam para avançar o desenvolvimento de Shang-Chi e Wenwu. As poucas cenas onde a atriz está em tela me lembraram bastante da performance da Lucy Liu em “Kill Bill Vol. 1”. E Yeoh, presente apenas no último ato, é responsável por trazer parte do conteúdo expositivo (e mitológico) da narrativa, ao mesmo tempo que protagoniza cenas de ação que destacam o tom gracioso e artístico das artes marciais que inspiraram o filme. (P.S.: Há duas aparições incríveis de personagens já apresentados no Universo Cinematográfico da Marvel (sem spoilers!), e mal posso esperar para ver mais interações entre estes e os novos personagens em obras futuras do estúdio!)

(The cast, as stated in the introduction, has plenty of charisma, and is one of the main reasons why the narrative actually works. Starting off with Simu Liu, who manages to balance really well the title character's two contrasting personas. In the scenes where he appears alongside Awkwafina, he assumes a more chill, funny, and, indeed, charismatic persona. And I really enjoyed how the actor managed to seem out of his body during the fight sequences, as if he was a completely different person. This, of course, is due to the character's troubled past, and Liu manages to work with this contrast really well, resulting in a good-humored yet emotionally potent performance.

Awkwafina is an excellent comic relief, but besides fulfilling our occasional need for jokes and puns, she also really helps moving the plot forward, especially in the third act. The dynamic between Liu and Awkwafina catches the viewer's attention in such a way, that it may reach a level where we wish we had a friendship like the one these two seem to have onscreen. I also really liked Meng'er Zhang's performance, which, at parts, reminded me of Florence Pugh's work in “Black Widow”. Much alike the fantastic Yelena Belova, Zhang's character is bitter towards her relatives and is a central piece in some amazing action scenes that add a badass tone to her performance. I'm really curious to see where her character will be in future works in the MCU.

Even though the main trio did a great job, the real highlight stays with the supporting trio composed by Tony Leung, Fala Chen and Michelle Yeoh. Leung, beloved for his performances in films by celebrated director Wong Kar-wai, steals the entire show as the Mandarin, reminding us of his development in the martial arts film (also directed by Wong) “The Grandmaster”, and at the same time surprising us with his versatility when transitioning between cult films and something more comercial, replicating his acting abilities in Wong's films into the Marvel formula with absolute success. His performance reminded me a lot of Vincent D'Onofrio's work as Wilson Fisk in the “Daredevil” Netflix show. Much like Matt Murdock's antagonist, Leung's acting manages to mix his character's inherent imposing presence with a sensitive vulnerability regarding his only weak spot, and the actor transmits these contrasting emotions in a very believable way.

Chen's character, in a short, yet sensible performance, is the main way the screenwriters use to work on Shang-Chi and Wenwu's development. The few scenes where the actress is onscreen reminded me a lot of Lucy Liu's performance in “Kill Bill Volume 1”. And Yeoh, present only in the film's final act, is responsible for giving us part of the narrative's expositional (and mythological) content, at the same time she is a central piece in action scenes that highlight the gracious, artistic tone of the martial arts that inspired the film. (P.S.: There are two incredible appearances by characters that were already introduced in the Marvel Cinematic Universe (no spoilers!), and I can't wait to see more interactions between these and the new characters in future works by the studio!))



Nos aspectos técnicos, encontramos algumas das maiores forças de “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis”, mas também algumas de suas decepções. A direção de fotografia do William Pope e a montagem feita pelo Nat Sanders, Elisabet Ronaldsdóttir e Harry Yoon trabalham em conjunto para nos entregar algumas das melhores cenas de ação do Universo Cinematográfico da Marvel. Especialmente na primeira metade do longa-metragem, Pope e o trio de editores fazem um ótimo trabalho ao transformarem as cenas de combate corpo-a-corpo em algo frenético, excitante e dinâmico, quase que descartando o uso de cortes rápidos para maior efeito.

As cenas de luta também são uma das principais maneiras que o filme usa de homenagear as obras que o inspiraram. Há uma sequência filmada pela lateral de um ônibus que me lembrou bastante da cena do corredor de “Oldboy”; há outra filmada em um cenário cheio de neve que, no meu ponto de vista, foi inspirado no confronto final de “Kill Bill Vol. 1”; e as cenas de luta na vila mística de Ta Lo, pelo teor gracioso das artes marciais (como se fosse uma dança), creio que foram inspiradas na obra “O Tigre e o Dragão”, de Ang Lee. O trabalho de coreografia é espetacular, e seria uma das razões para a Academia criar uma categoria no Oscar que celebre o trabalho dos coreógrafos de luta e dublês envolvidos.

Eu fico meio dividido em relação à direção de arte. Tenho consciência de que foi uma das principais maneiras do longa homenagear a cultura chinesa, e na grande maioria das vezes, funciona. As criaturas místicas recriadas em computação gráfica, como os dragões e os hunduns (um ser lendário que não tem face), ajudam a tornar o filme um pouco mais leve e lúdico. Mas, infelizmente, chega à um ponto que vira uma verdadeira bagunça visual, que artificializa e quase que completamente desconsidera o dinamismo e o realismo da primeira metade do filme. E este exagero no terceiro ato de “Shang-Chi” é uma das principais razões do porquê do meu apoio à predominância de efeitos práticos ao invés de uma overdose de CGI.

E, por fim, temos a trilha sonora original, composta pelo Joel P. West, que me lembrou muito do trabalho vencedor do Oscar do Ludwig Göransson em “Pantera Negra”. Assim como o compositor sueco, West conseguiu misturar muito bem arranjos mais urbanos e contemporâneos com algo mais ancestral e antigo, e tal mistura combina muito bem com o caráter corporal das melhores cenas de ação de “Shang-Chi”. Espero que tenhamos mais trabalhos parecidos em obras futuras do estúdio, tanto no cinema quanto no streaming!

(In the technical aspects, we find some of the biggest strengths of “Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings”, but also some of its letdowns. William Pope's cinematography and the editing done by Nat Sanders, Elisabet Ronaldsdóttir and Harry Yoon work together in order to give us some of the best action scenes in the Marvel Cinematic Universe. Especially in the first half, Pope and the trio of editors do a fantastic job in making the one-on-one combat scenes seem fast-paced, exciting and dynamic, almost completely discarding the use of rapid cuts for greater effect.

The fight scenes are also one of the main ways the film uses to make an homage to the works that inspired it. There's a sequence filmed on the lateral side of a bus that reminded me of the hallway fight in “Oldboy”; there's another one filmed in a snow-filled scenario that, in my point of view, took inspiration from the final showdown in “Kill Bill Vol. 1”; and the fight scenes in the mystical village of Ta Lo, for their graceful approach (almost like a dance of sorts), I believe they were inspired in Ang Lee's “Crouching Tiger, Hidden Dragon”. The choreography work is spectacular, and would be one of the reasons why the Academy needs to create an Oscar category that celebrates the work of all fight choreographers and stunt doubles involved.

I get kinda torn by the production design. I get that it was one of the main ways the film uses to make an homage to Chinese culture, and in most scenes, it works. The mystical creatures recreated with computer-generated imagery, like dragons and hunduns (legendary faceless beings), help making the film a little lighter and more playful. But, unfortunately, it reaches a point where it becomes a real visual mess, that artificializes and almost completely disregards the dynamic and realistic tone of the first half. And that overuse in the third act of “Shang-Chi” is one of the main reasons why I'm supportive of the predominance of practical effects over a CGI overdose.

And, at last, we have the original score, composed by Joel P. West, which reminded me a lot of the Oscar-winning work by Ludwig Göransson in “Black Panther”. Much like the Swedish composer, West managed to blend really well some more urban, contemporary arrangements with something more ancient and timelessly beautiful, and that mix is a match made in Heaven with the bodily character of the best action scenes in “Shang-Chi”. I hope we get more works like this in the studio's future work, both in cinema and on streaming!)



Resumindo, “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis” é mais um filme extremamente divertido da Marvel Studios. Mesmo com um tom inconsistente nas duas metades de sua narrativa, o diretor Destin Daniel Cretton consegue criar uma história que desenvolve o personagem-título de maneira perfeita, e que, ao mesmo tempo, é uma celebração da cultura chinesa, contando com a ajuda de um elenco mega talentoso e algumas das melhores cenas de ação do Universo Cinematográfico da Marvel para fazer isso.

Nota: 8,5 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings” is yet another extremely fun film by Marvel Studios. Even with an inconsistent tone in its narrative's two halves, director Destin Daniel Cretton manages to create a story that develops the title character in a perfect way, and that, at the same time, is a celebration of Chinese culture, relying on the help of a mega-talented cast and some of the best action scenes in the Marvel Cinematic Universe in order to do so.

I give it a 8,5 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)