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segunda-feira, 6 de setembro de 2021

"Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis": uma história de origem frenética, porém inconsistente (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para falar sobre um dos lançamentos mais recentes em exibição nos cinemas! Sendo uma história de origem para um super-herói completamente novo da Marvel, o filme em questão acerta ao estabelecer uma mitologia autêntica para seu personagem-título, contando com a ajuda de um elenco extremamente carismático, personagens multifacetados e algumas das melhores sequências de ação do estúdio. Porém, a narrativa tenta ser duas coisas ao mesmo tempo, resultando em um tom inconsistente e um terceiro ato desconexo da proposta inicial. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to review one of the most recent film releases, now showing in theaters! Being an origin story for a brand-new Marvel superhero, the film I'm about to review hits its target when establishing an authentic mythology for its title character, relying on the help of an extremely charismatic cast, layered characters and some of the studio's best action sequences. However, the narrative tries to be two things at the same time, resulting in an inconsistent tone and a third act that's disconnected from what was initially proposed. So, without further ado, let's talk about “Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings”. Let's go!)



Ambientado após os eventos de “Vingadores: Ultimato”, o filme acompanha Shang-Chi (Simu Liu), um jovem chinês que, ao tentar se esconder de seu passado conturbado, se encontra na mira de seu pai, Wenwu/Mandarim (Tony Leung), líder de uma organização terrorista conhecida como os Dez Anéis. Ao descobrir que seu pai deseja visitar uma vila mística para trazer a falecida esposa de volta à vida, Shang-Chi conta com a ajuda de sua irmã (Meng'er Zhang) e de sua melhor amiga (Awkwafina) para impedir que Wenwu libere um mal antigo que trará ruína e tragédia ao mundo.

(Set after the events of “Avengers: Endgame”, the film follows Shang-Chi (Simu Liu), a Chinese young man who, when trying to hide from his troubled past, finds himself in the crosshairs of his father, Wenwu/The Mandarin (Tony Leung), the leader of a terrorist organization known as the Ten Rings. When finding out that his father wishes to visit a mystical village to bring his late wife back to life, Shang-Chi relies on the help of his sister (Meng'er Zhang) and his best friend (Awkwafina) to prevent Wenwu from unleashing an ancient evil that will bring ruin and tragedy to the world.)



Ok, para começar, minhas expectativas estavam bem baixas pra assistir a “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis”. Não pelo fato de ser outra história de origem de outro super-herói no Universo Cinematográfico da Marvel, mas pelo fato do material promocional transformar o filme em algo bastante artificial, ao invés de investir em algo mais pé-no-chão. Por ter sido filmado em agosto de 2020, quando os estúdios começaram a reabrir as portas para continuarem os trabalhos de produção cinematográfica, imaginei que, pra literalmente qualquer tipo de luta ou contato físico que os atores teriam que fazer, haveria uma dose generosa de CGI envolvida. E, infelizmente, o material promocional só veio para reforçar essa suposição.

Mas, tirando essa minha opinião pessoal, haviam muitas razões para que “Shang-Chi” fosse um filme memorável da Marvel Studios. A começar pela direção do Destin Daniel Cretton, responsável por dirigir e escrever um dos melhores filmes que vi em 2021, um drama independente chamado “Short Term 12”, que nos apresentou a talentos em ascensão como Brie Larson, John Gallagher Jr., Rami Malek, Lakeith Stanfield, Kaitlyn Dever e Stephanie Beatriz. Depois, havia a abordagem escolhida pelo diretor, que se inspirou em filmes do Jackie Chan e obras como “O Tigre e o Dragão” e “Kung-Fusão” para transformar “Shang-Chi” no mais próximo que o estúdio estaria de fazer um filme de artes marciais.

E, em terceiro lugar, o filme finalmente nos daria uma história de fundo sobre a organização dos Dez Anéis, que estava presente no Universo Cinematográfico da Marvel desde o início, em “Homem de Ferro”. Alguns materiais promocionais subsequentes, que destacavam a quantidade de lutas corpo-a-corpo, e o consenso das críticas aumentaram um pouco mais as minhas expectativas e, este fim de semana, finalmente fui conferir o segundo filme da Fase 4 do UCM. E fico bem feliz em dizer que me surpreendi positivamente por muitos aspectos da narrativa, mas, infelizmente, ela não é isenta de erros.

Ok, com isso dito, vamos falar do roteiro. Escrito por Cretton, Dave Callaham (responsável pelos roteiros de “Mulher-Maravilha 1984” e “Mortal Kombat”) e Andrew Lanham, o roteiro de “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis” funciona melhor quando tenta ser um filme de ação mais sério, algo na veia de “Viúva Negra”, também lançado em 2021 pela Disney. Existem várias razões aqui que reforçam esse fato. Primeiro, há o teor autêntico da narrativa: assim como filmes como “A Lenda de Candyman” e o próprio “Pantera Negra” da Marvel, que se conectaram às raízes originais de suas histórias sob o comando de diretores negros e um elenco majoritariamente negro, “Shang-Chi” não só tem um diretor e elenco majoritariamente asiáticos, mas também tem grande parte do seu diálogo em mandarim, algo que eu realmente não esperava e que me surpreendeu positivamente.

Em segundo lugar, há o desenvolvimento dos personagens, que é muito bom. O próprio Shang-Chi me lembrou muito do desempenho da Natasha Romanoff em “Viúva Negra”, no contexto de ser alguém treinado para matar pessoas com as próprias mãos, e que acaba fugindo de um passado conturbado para os EUA, tentando criar sua própria identidade no processo. Mesmo com as histórias dos dois personagens sendo bem similares, a de Shang-Chi se diferencia de Romanoff pela fonte do abuso físico e psicológico ser um familiar próximo; no caso em questão, o pai do protagonista, o qual, além de ser interpretado por um dos melhores atores de Hong Kong (falaremos disso mais tarde), é o melhor vilão da Marvel Studios desde o Killmonger, de “Pantera Negra”.

Falo isso especialmente pelo fato de, assim como o personagem do Michael B. Jordan, o antagonista de “Shang-Chi” possuir motivações compreensíveis, que fogem do “AAAAAARRRGGHH!!! Eu sou um vilão e eu quero dominar o mundo!” e se aproximam de razões mais humanas e sentimentais que tentam justificar o que ele acaba fazendo. O Mandarim me lembrou muito do desenvolvimento do Rei do Crime em “Homem-Aranha no Aranhaverso”, por mais de uma razão. Há um uso muito bem calculado de flashbacks, os quais ajudam a aprofundar tanto o desenvolvimento do protagonista quanto do antagonista, permitindo que o espectador entenda os dois lados da moeda, o que é sempre bom.

A terceira razão seria o senso de humor do filme, que é extremamente eficiente, especialmente pelo fato da Awkwafina fazer parte do elenco principal. Quem conhece o trabalho dela em “Podres de Ricos”, “A Despedida” e “Raya e o Último Dragão” sabe o quanto que ela é engraçada. Há um uso particular de alívio cômico que me pegou de surpresa e que se destacou acima dos demais momentos descontraídos. Na cena em questão, há uma narração bem séria do protagonista, que reconta seu passado para outro personagem e para o espectador. Aí, do nada, vem um diálogo que quebra completamente as nossas expectativas e nos leva à uma troca de falas hilária entre os personagens envolvidos.

E a quarta e última razão seria a presença de sequências de ação de tirar o fôlego. A maior quantidade de cenas de luta no tempo de duração bem calculado de 2 horas e 12 minutos é composta de combates corpo-a-corpo, executados em sequências prolongadas e quase sem cortes, o que acrescenta para um maior dinamismo e realismo nas cenas. Há algumas partes aqui que me lembraram bastante de filmes memoráveis de ação, como “John Wick” e “Oldboy”. Já outras cenas destacaram a coreografia graciosa e artística das artes marciais presentes em obras como “Kill Bill” e “O Tigre e o Dragão”. Há uma sequência em particular aqui que, pra mim, é tranquilamente uma das cinco melhores cenas de ação em um filme do Universo Cinematográfico da Marvel.

Se “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis” tivesse investido 100% de suas forças nessa veia mais realista, na minha opinião, ele se equipararia à “Viúva Negra”, o qual eu chamei de “o melhor filme solo da Marvel desde 'Pantera Negra'” (você pode ler minha resenha completa aqui: https://nocinemacomjoaopedro.blogspot.com/2021/07/viuva-negra-o-melhor-filme-solo-da.html). Mas, infelizmente, a narrativa elaborada por Cretton, Callaham e Lanham tenta ser duas coisas ao mesmo tempo, e essas duas vertentes, quase que completamente opostas, não combinam bem, no meu ponto de vista. Ao mesmo tempo que “Shang-Chi” tenta emular o realismo e a crueza dos filmes de artes marciais que o inspiraram, há uma subtrama fantasiosa que desconecta completamente as duas metades do filme, em termos de tom.

Claro, sei que tal subtrama é um recurso utilizado pelos roteiristas para homenagear a cultura chinesa, e eu respeito isso. Há vários aspectos visuais que são realmente lindos e vistosos, adicionando um tom meio lúdico à narrativa. Mas o problema é que a segunda metade do filme se entrega quase que inteiramente a esta veia mais fantasiosa, que não só diferencia drasticamente a obra do que foi apresentado nas cenas anteriores, mas também tira um pouco da sua originalidade.

Só para vocês terem uma ideia, há um recurso narrativo presente no ato final de “Shang-Chi” que, se não for idêntico, pelo menos é ridiculamente similar à mitologia apresentada na animação “Raya e o Último Dragão”, que não só é do mesmo estúdio (Disney), como também compartilha membros de elenco (como Awkwafina, que interpreta o dragão titular em “Raya” e a melhor amiga do protagonista em “Shang-Chi”), além de ambos os filmes terem sido lançados em 2021.

Eu tenho um ponto de vista particular sobre uma possível abordagem alternativa que poderia ter ajudado o filme a manter a vibe mais séria e realista que marcou a primeira metade. De modo similar à “A Lenda de Candyman”, teria sido bem melhor e mais eficiente se os roteiristas tivessem feito a escolha de transformar todos os aspectos fantásticos do filme (os Dez Anéis, a vila mística de Ta Lo, o espírito protetor da vila, etc.) em metáforas para coisas do mundo real. Assim como o Candyman foi utilizado para simbolizar o racismo e a injustiça social que pessoas negras sofreram ao longo dos anos, os aspectos mitológicos de “Shang-Chi” poderiam ter sido usados como representações metafóricas que dariam forças e motivações para que o protagonista seguisse em frente com sua jornada.

Felizmente, esse terceiro ato desconexo não arruinou, de nenhum modo, minha experiência com “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis”, a qual foi bem positiva, porém com algumas ressalvas, como esta acima. E, é claro, fiquem de olho nas cenas pós-créditos. Há duas delas (uma no meio, e uma no final), que nos dão um vislumbre do futuro bastante promissor destes novos personagens no vasto Universo Cinematográfico da Marvel. E eu mal posso esperar para encontrá-los de novo nas próximas obras do estúdio.

(Okay, for starters, my expectations were quite low to watch “Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings”. Not because it was yet another origin story on another superhero in the Marvel Cinematic Universe, but because its promotional material transformed it into something pretty artificial, instead of investing in a more down-to-Earth approach to it. As it had been filmed in August 2020, right when studios started to reopen their doors in order to resume their cinematic productions, I imagined that, for literally everything that involved actors fighting or having physical contact, there would be a hefty dose of CGI involved. And, sadly, the promotional material only came to reiterate that supposition.

But, apart from that personal opinion of mine, there were many reasons for “Shang-Chi” to be a memorable Marvel Studios film. Starting with its direction by Destin Daniel Cretton, who was responsible for making one of the best films I've watched in 2021, an independent drama called “Short Term 12”, which introduced us to rising talents such as Brie Larson, John Gallagher Jr, Rami Malek, Lakeith Stanfield, Kaitlyn Dever and Stephanie Beatriz. Then, there was the approach chosen by the director, who took inspiration in Jackie Chan films and works like “Crouching Tiger, Hidden Dragon” and “Kung-Fu Hustle” to transform “Shang-Chi” into the closest the studio will ever be to making a martial arts film.

And, in third place, the film would finally give us some backstory on the Ten Rings organization, which has been present in the Marvel Cinematic Universe since its beginning, with “Iron Man”. A few subsequent promotional materials, which focused more on one-on-one combat, and the critics' consensus raised my expectations a little bit higher and, this weekend, I finally watched the second film in Phase 4 of the MCU. And I'm really glad to say I was positively surprised by many aspects of its narrative; however, unfortunately, it does have its missteps.

Okay, with that said, let's talk about the screenplay. Written by Cretton, Dave Callaham (who wrote the scripts for “Wonder Woman 1984” and “Mortal Kombat”) and Andrew Lanham, the screenplay for “Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings” works best when it tries to be a more serious, grounded action film, something more like “Black Widow”, which was also released in 2021 by Disney. There are several reasons here that reinforce that fact. First, there's the authentic tone of the narrative: just like films such as 2021's “Candyman” and Marvel's own “Black Panther”, which connected to their stories' original roots under the command of Black filmmakers and a largely Black cast, “Shang-Chi” not only has an Asian filmmaker as a director and a mostly Asian cast, but also has a large part of its dialogue in Mandarin Chinese, something I really didn't expect and that surprised me positively.

Secondly, there's the character development, which is really good. Shang-Chi himself reminded me a lot of Natasha Romanoff's journey in “Black Widow”, in the sense of being someone who was trained to kill people with their bare hands, and ends up escaping their harrowing past towards the US, trying to create their own identity in the process. Even with both characters' backstories being extremely similar, Shang-Chi's differs from Romanoff's for the source of his physical and psychological abuse being a close relative; in this case, the protagonist's father, who not only is played by one of Hong Kong's best actors (we'll get to that later), but also is Marvel's best villain since “Black Panther”'s Killmonger.

I say that especially because, like Michael B Jordan's character, the antagonist of “Shang-Chi” has comprehensive and relatable motivations, which run away from the usual “AAAAARRGGHHH! I'm a bad guy and I'm gonna take over the world!” and walk towards more human, sentimental reasons that try to justify what he ends up doing.The Mandarin reminded me a lot of Kingpin's development in “Spider-Man: Into the Spider-Verse”, for more than one reason. There's a very well calculated use of flashbacks, which help deepen the developments of both the protagonist and the antagonist, allowing the viewer to see both sides of the coin, which is always good.

The third reason would be the film's sense of humor, which is extremely effective, especially through the fact that Awkwafina is a part of the main cast. Those familiar with her work in “Crazy Rich Asians”, “The Farewell” and “Raya and the Last Dragon” know how funny she is. There's a particular use of comic relief that caught me off-guard and stood above other lighter moments. In this scene, there's a very serious voice-over narration by the protagonist, as he tells his backstory to another character and the viewer. Then, out of nowhere, comes a dialogue that completely shatters our expectations and leads us into a hilarious exchange between all characters involved.

And the fourth and last reason would be the presence of breathtaking action sequences. The largest quantity of action scenes in its well calculated runtime of 2 hours and 12 minutes is composed by one-on-one combat, with a lot of bare-hands fighting involved, executed in prolonged sequences, which almost don't have cuts in them, which adds to a bigger dynamic and realistic tone to them. There are some parts here that reminded me of memorable action films, such as “John Wick” and “Oldboy”. Other scenes highlighted the gracious, artistic tone of the martial arts present in films like “Kill Bill” and “Crouching Tiger, Hidden Dragon”. There's a particular sequence here that, for me, rightfully earns its place among the five best action scenes in a MCU film.

If “Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings” had invested 100% of its forces into this more realistic vein, in my opinion, it would be an equal to “Black Widow”, which I called “the best Marvel solo movie since 'Black Panther'” (you can read my full review on it here: https://nocinemacomjoaopedro.blogspot.com/2021/07/viuva-negra-o-melhor-filme-solo-da.html). But, unfortunately, the narrative elaborated by Cretton, Callaham and Lanham tries to be two things at the same time, and these two sides, almost the extreme opposite of each other, are not a good match, in my point of view. At the same time “Shang-Chi” tries to emulate the realism and rawness of the martial arts films that inspired it, there's a fantasy subplot that completely disconnects the film's two halves, when it comes to tone.

Sure, I know that subplot is a resource the screenwriters use in order to create an homage to Chinese culture, and I respect that. There are several visual aspects to it that are really beautiful and luscious, which add a more playful tone to the narrative. But the problem is that the film's second half gives itself almost entirely to that fantasy approach, which not only drastically deviates the film from what was presented in earlier scenes, but also strips it a little bit of its originality.

Just so you can have an idea, there's a narrative resource in the final act of “Shang-Chi”, that, if not identical, is at least ridiculously similar to the mythology introduced in the animated film “Raya and the Last Dragon”, which not only is from the same studio (Disney), but also shares cast members (like Awkwafina, who voices the titular dragon in “Raya” and plays the title-character's best friend in “Shang-Chi”), besides both films being released in 2021.

I have a particular point of view on a possible alternative approach that could've helped the film to maintain the serious, more realistic vibe that made its first half so great. Similarly to 2021's “Candyman”, it would've been way better and way more effective if the screenwriters had chosen to transform all of the film's fantastical aspects (the Ten Rings, the mystical village of Ta Lo, the village's protective spirit, et cetera) into metaphors for real-world things. Just like Candyman was used to symbolize the racism and social injustice Black people have suffered over the years, the mythological aspects of “Shang-Chi” could have been used as metaphorical representations that would give the strength and motivation that the main character needs in order to conclude his journey.

Fortunately, this disconnected third act didn't ruin, at all, my experience with “Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings”, which was really positive, even with a few setbacks, like the one mentioned above. And, of course, stay tuned for the post-credit scenes. There are two of them (one in the middle, one in the end), and they give us a glimpse of these new characters' very promising future in the vast Marvel Cinematic Universe. And I can't wait to see them again in the studio's next films.)



O elenco, como dito na introdução, tem bastante carisma, e é uma das principais razões do porquê do funcionamento da narrativa. A começar pelo Simu Liu, que consegue equilibrar muito bem as duas facetas contrastantes do personagem-título. Nas cenas onde ele contracena com a Awkwafina, ele tem uma persona mais descontraída, engraçada, e, de fato, carismática. E eu gostei bastante de como o ator parecia estar meio fora de si nas sequências de luta, como se ele fosse uma pessoa completamente diferente. Isso, é claro, se dá pelo passado conturbado do personagem, e Liu consegue trabalhar muito bem com esse contraste, resultando numa performance bem-humorada e, ao mesmo tempo, emocionalmente potente.

A Awkwafina é um excelente alívio cômico, mas além de suprir nossa necessidade por piadinhas, ela também ajuda bastante a movimentar a trama, especialmente no terceiro ato. A dinâmica entre Liu e Awkwafina cativa o espectador de tal maneira, que pode chegar a um nível onde nós desejamos ter uma amizade parecida com a que os dois demonstram ter em tela. Eu também gostei bastante da performance da Meng'er Zhang, que, em partes, me lembrou bastante do desenvolvimento da Florence Pugh em “Viúva Negra”. Assim como a fantástica Yelena Belova, a personagem de Zhang é amargurada em relação aos seus familiares e protagoniza maravilhosas cenas de ação que adicionam um tom bad-ass (tradução: “f**ona”) à sua performance. Estou bem curioso para ver onde a personagem de Zhang irá no futuro do UCM.

Mesmo que o trio principal tenha feito um ótimo trabalho, os destaques no elenco ficam com o trio coadjuvante, composto por Tony Leung, Fala Chen e Michelle Yeoh. Leung, adorado por suas atuações nos filmes do cultuado diretor Wong Kar-wai, dá um verdadeiro show como o Mandarim, nos relembrando do seu desenvolvimento no filme de artes marciais (dirigido por Wong) “O Grande Mestre”, ao mesmo tempo que nos impressiona pela sua versatilidade em transitar entre filmes cult e algo mais comercial, replicando suas capacidades de atuação nos filmes de Wong para a fórmula da Marvel com absoluto sucesso. A performance dele me lembrou bastante do trabalho do Vincent D'Onofrio como Wilson Fisk na série “Demolidor”. Assim como o antagonista de Matt Murdock, a atuação de Leung consegue misturar a imponência inerente de seu personagem com uma sensível vulnerabilidade que diz respeito ao seu único ponto fraco, e o ator transmite essas emoções contrastantes de maneira muito crível.

A personagem de Chen, em uma performance curta, mas sensível, é a principal forma que os roteiristas usam para avançar o desenvolvimento de Shang-Chi e Wenwu. As poucas cenas onde a atriz está em tela me lembraram bastante da performance da Lucy Liu em “Kill Bill Vol. 1”. E Yeoh, presente apenas no último ato, é responsável por trazer parte do conteúdo expositivo (e mitológico) da narrativa, ao mesmo tempo que protagoniza cenas de ação que destacam o tom gracioso e artístico das artes marciais que inspiraram o filme. (P.S.: Há duas aparições incríveis de personagens já apresentados no Universo Cinematográfico da Marvel (sem spoilers!), e mal posso esperar para ver mais interações entre estes e os novos personagens em obras futuras do estúdio!)

(The cast, as stated in the introduction, has plenty of charisma, and is one of the main reasons why the narrative actually works. Starting off with Simu Liu, who manages to balance really well the title character's two contrasting personas. In the scenes where he appears alongside Awkwafina, he assumes a more chill, funny, and, indeed, charismatic persona. And I really enjoyed how the actor managed to seem out of his body during the fight sequences, as if he was a completely different person. This, of course, is due to the character's troubled past, and Liu manages to work with this contrast really well, resulting in a good-humored yet emotionally potent performance.

Awkwafina is an excellent comic relief, but besides fulfilling our occasional need for jokes and puns, she also really helps moving the plot forward, especially in the third act. The dynamic between Liu and Awkwafina catches the viewer's attention in such a way, that it may reach a level where we wish we had a friendship like the one these two seem to have onscreen. I also really liked Meng'er Zhang's performance, which, at parts, reminded me of Florence Pugh's work in “Black Widow”. Much alike the fantastic Yelena Belova, Zhang's character is bitter towards her relatives and is a central piece in some amazing action scenes that add a badass tone to her performance. I'm really curious to see where her character will be in future works in the MCU.

Even though the main trio did a great job, the real highlight stays with the supporting trio composed by Tony Leung, Fala Chen and Michelle Yeoh. Leung, beloved for his performances in films by celebrated director Wong Kar-wai, steals the entire show as the Mandarin, reminding us of his development in the martial arts film (also directed by Wong) “The Grandmaster”, and at the same time surprising us with his versatility when transitioning between cult films and something more comercial, replicating his acting abilities in Wong's films into the Marvel formula with absolute success. His performance reminded me a lot of Vincent D'Onofrio's work as Wilson Fisk in the “Daredevil” Netflix show. Much like Matt Murdock's antagonist, Leung's acting manages to mix his character's inherent imposing presence with a sensitive vulnerability regarding his only weak spot, and the actor transmits these contrasting emotions in a very believable way.

Chen's character, in a short, yet sensible performance, is the main way the screenwriters use to work on Shang-Chi and Wenwu's development. The few scenes where the actress is onscreen reminded me a lot of Lucy Liu's performance in “Kill Bill Volume 1”. And Yeoh, present only in the film's final act, is responsible for giving us part of the narrative's expositional (and mythological) content, at the same time she is a central piece in action scenes that highlight the gracious, artistic tone of the martial arts that inspired the film. (P.S.: There are two incredible appearances by characters that were already introduced in the Marvel Cinematic Universe (no spoilers!), and I can't wait to see more interactions between these and the new characters in future works by the studio!))



Nos aspectos técnicos, encontramos algumas das maiores forças de “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis”, mas também algumas de suas decepções. A direção de fotografia do William Pope e a montagem feita pelo Nat Sanders, Elisabet Ronaldsdóttir e Harry Yoon trabalham em conjunto para nos entregar algumas das melhores cenas de ação do Universo Cinematográfico da Marvel. Especialmente na primeira metade do longa-metragem, Pope e o trio de editores fazem um ótimo trabalho ao transformarem as cenas de combate corpo-a-corpo em algo frenético, excitante e dinâmico, quase que descartando o uso de cortes rápidos para maior efeito.

As cenas de luta também são uma das principais maneiras que o filme usa de homenagear as obras que o inspiraram. Há uma sequência filmada pela lateral de um ônibus que me lembrou bastante da cena do corredor de “Oldboy”; há outra filmada em um cenário cheio de neve que, no meu ponto de vista, foi inspirado no confronto final de “Kill Bill Vol. 1”; e as cenas de luta na vila mística de Ta Lo, pelo teor gracioso das artes marciais (como se fosse uma dança), creio que foram inspiradas na obra “O Tigre e o Dragão”, de Ang Lee. O trabalho de coreografia é espetacular, e seria uma das razões para a Academia criar uma categoria no Oscar que celebre o trabalho dos coreógrafos de luta e dublês envolvidos.

Eu fico meio dividido em relação à direção de arte. Tenho consciência de que foi uma das principais maneiras do longa homenagear a cultura chinesa, e na grande maioria das vezes, funciona. As criaturas místicas recriadas em computação gráfica, como os dragões e os hunduns (um ser lendário que não tem face), ajudam a tornar o filme um pouco mais leve e lúdico. Mas, infelizmente, chega à um ponto que vira uma verdadeira bagunça visual, que artificializa e quase que completamente desconsidera o dinamismo e o realismo da primeira metade do filme. E este exagero no terceiro ato de “Shang-Chi” é uma das principais razões do porquê do meu apoio à predominância de efeitos práticos ao invés de uma overdose de CGI.

E, por fim, temos a trilha sonora original, composta pelo Joel P. West, que me lembrou muito do trabalho vencedor do Oscar do Ludwig Göransson em “Pantera Negra”. Assim como o compositor sueco, West conseguiu misturar muito bem arranjos mais urbanos e contemporâneos com algo mais ancestral e antigo, e tal mistura combina muito bem com o caráter corporal das melhores cenas de ação de “Shang-Chi”. Espero que tenhamos mais trabalhos parecidos em obras futuras do estúdio, tanto no cinema quanto no streaming!

(In the technical aspects, we find some of the biggest strengths of “Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings”, but also some of its letdowns. William Pope's cinematography and the editing done by Nat Sanders, Elisabet Ronaldsdóttir and Harry Yoon work together in order to give us some of the best action scenes in the Marvel Cinematic Universe. Especially in the first half, Pope and the trio of editors do a fantastic job in making the one-on-one combat scenes seem fast-paced, exciting and dynamic, almost completely discarding the use of rapid cuts for greater effect.

The fight scenes are also one of the main ways the film uses to make an homage to the works that inspired it. There's a sequence filmed on the lateral side of a bus that reminded me of the hallway fight in “Oldboy”; there's another one filmed in a snow-filled scenario that, in my point of view, took inspiration from the final showdown in “Kill Bill Vol. 1”; and the fight scenes in the mystical village of Ta Lo, for their graceful approach (almost like a dance of sorts), I believe they were inspired in Ang Lee's “Crouching Tiger, Hidden Dragon”. The choreography work is spectacular, and would be one of the reasons why the Academy needs to create an Oscar category that celebrates the work of all fight choreographers and stunt doubles involved.

I get kinda torn by the production design. I get that it was one of the main ways the film uses to make an homage to Chinese culture, and in most scenes, it works. The mystical creatures recreated with computer-generated imagery, like dragons and hunduns (legendary faceless beings), help making the film a little lighter and more playful. But, unfortunately, it reaches a point where it becomes a real visual mess, that artificializes and almost completely disregards the dynamic and realistic tone of the first half. And that overuse in the third act of “Shang-Chi” is one of the main reasons why I'm supportive of the predominance of practical effects over a CGI overdose.

And, at last, we have the original score, composed by Joel P. West, which reminded me a lot of the Oscar-winning work by Ludwig Göransson in “Black Panther”. Much like the Swedish composer, West managed to blend really well some more urban, contemporary arrangements with something more ancient and timelessly beautiful, and that mix is a match made in Heaven with the bodily character of the best action scenes in “Shang-Chi”. I hope we get more works like this in the studio's future work, both in cinema and on streaming!)



Resumindo, “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis” é mais um filme extremamente divertido da Marvel Studios. Mesmo com um tom inconsistente nas duas metades de sua narrativa, o diretor Destin Daniel Cretton consegue criar uma história que desenvolve o personagem-título de maneira perfeita, e que, ao mesmo tempo, é uma celebração da cultura chinesa, contando com a ajuda de um elenco mega talentoso e algumas das melhores cenas de ação do Universo Cinematográfico da Marvel para fazer isso.

Nota: 8,5 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings” is yet another extremely fun film by Marvel Studios. Even with an inconsistent tone in its narrative's two halves, director Destin Daniel Cretton manages to create a story that develops the title character in a perfect way, and that, at the same time, is a celebration of Chinese culture, relying on the help of a mega-talented cast and some of the best action scenes in the Marvel Cinematic Universe in order to do so.

I give it a 8,5 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)


3 comentários: