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“Escreva sobre o que você sabe.” Este é um conselho tão tradicional que as pessoas não sabem a quem atribuir. Porém, é uma das primeiras dicas dadas a aspirantes a escritores. Por isso, não é de se surpreender que vários cineastas, em especial hoje em dia, têm procurado as inspirações para os seus primeiros filmes dentro de suas próprias histórias de vida. E um fato interessante é que muitos dos diretores mais notáveis da década passada tiveram os seus longa-metragens de estreia distribuídos pela A24, distribuidora norte-americana independente que ganhou uma legião de fãs a partir de 2016, graças a joias como “A Bruxa” e “Hereditário”. Então, venho aqui trazer cinco estreias na direção distribuídas pela A24 que funcionam como uma espécie de autobiografia de seus respectivos cineastas. Sem mais delongas, vamos lá!
(“Write about what you know.” That is such a traditional piece of advice that people don't know who to attribute it to. However, it's one of the first tips given to aspiring writers. Therefore, it's not surprising that several filmmakers, especially nowadays, have searched for the inspirations behind their directorial debuts inside their own life stories. And an interesting fact is that many of the most notable directors in the past decade had their first features distributed by A24, an independent American film distributor that won a cult following starting in 2016, thanks to gems like “The Witch” and “Hereditary”. So, I'm here to bring you five directorial debuts distributed by A24 that work as some sort of autobiography for their respective filmmakers. Without further ado, let's go!)
“LADY BIRD: A HORA DE VOAR” (2017), dirigido por Greta Gerwig – Disponível na Netflix
(“LADY BIRD” (2017), directed by Greta Gerwig – Available on demand)
Antes de Greta Gerwig dominar 2023 com o fenômeno que foi “Barbie”; em 2017, ela nos presenteou com a verdadeira joia que é “Lady Bird”. Uma das estreias mais notáveis do ano em questão, juntamente com “Corra!”, de Jordan Peele, o longa rendeu à Gerwig uma indicação ao Oscar de Melhor Direção, sendo a primeira mulher a ser indicada na categoria desde a vitória histórica de Kathryn Bigelow em 2010 por “Guerra ao Terror”. Ambientado em Sacramento, Califórnia, cidade natal da diretora, a trama acompanha o último ano do Ensino Médio de Christine (Saoirse Ronan, em uma de suas melhores atuações), que se autointitula Lady Bird, uma adolescente excêntrica que tenta descobrir sua identidade antes de entrar na faculdade, ao mesmo tempo que enfrenta uma relação turbulenta com a mãe (uma ótima Laurie Metcalf). Assim como todos os filmes nessa lista, Gerwig injeta “Lady Bird” com uma honestidade brutal, resultando em um retrato realista e universal de amadurecimento que certamente irá se conectar com uma multidão de espectadores. E ainda por cima, o filme ganha ainda mais significado se visto como um prólogo para “Frances Ha”, co-escrito e protagonizado por Greta, longa que acompanha uma jovem adulta passando por dificuldades na vida e no amor em Nova York.
(Before Greta Gerwig dominated 2023 with the phenomenon that was “Barbie”; in 2017, she gifted us with the true jewel that is “Lady Bird”. One of the most notable debuts of that particular year alongside Jordan Peele's “Get Out”, the film earned Gerwig a nomination for the Oscar for Best Director, being the first woman to be nominated in that category since Kathryn Bigelow's historic win in 2010 for “The Hurt Locker”. Set in Sacramento, California, the director's hometown, the plot follows the senior year for Christine (Saoirse Ronan, in one of her best performances), who calls herself Lady Bird, a quirky teenager who tries to figure out her identity before getting into college, while facing a turbulent relationship with her mother (a great Laurie Metcalf). Just like every film in this list, Gerwig injects “Lady Bird” with a brutal sense of honesty, resulting in a realistic and universal coming-of-age portrait that will certainly connect with a multitude of viewers. And on top of it, the film gets extra meaning if seen as a prologue to “Frances Ha”, co-written and starring Greta, a movie that follows a young woman getting through life and love in New York City.)
“OITAVA SÉRIE” (2018), dirigido por Bo Burnham – Disponível para aluguel e compra digital
(“EIGHTH GRADE” (2018), directed by Bo Burnham – Available on demand)
Claro, o comediante e compositor Bo Burnham não é uma mulher, mas é impossível não conectar a sua trajetória profissional com a jornada que a jovem Kayla (uma maravilhosa Elsie Fisher) enfrenta em “Oitava Série”. Prestes a entrar no Ensino Médio, Kayla é uma menina extremamente tímida que usa o YouTube para se expressar, de maneira similar ao roteirista e diretor do filme, que começou a carreira cantando e tocando canções originais dentro do seu próprio quarto. Ao contrário de Gerwig, que tem o seu senso de humor excêntrico impresso de forma clara em “Lady Bird”, Burnham usa o humor de maneira inteligente para despertar uma espécie de vergonha alheia no espectador, mostrando um controle incrível dos aspectos técnicos ao seu dispor para aumentar este sentimento e nos colocar dentro da mente da protagonista. Pelo seu trabalho em “Oitava Série”, Bo ganhou o Prêmio do Sindicato dos Diretores de Melhor Estreia na Direção e o Prêmio do Sindicato dos Roteiristas de Melhor Roteiro Original. Além disso, o filme foi incluído nas listas de top 10 do National Board of Review e do American Film Institute, duas das organizações cinematográficas mais prestigiadas dos EUA.
(Sure, comedian and composer Bo Burnham isn't a woman, but it's impossible not to connect his professional trajectory with the journey young Kayla (a wonderful Elsie Fisher) faces in “Eighth Grade”. In her way to enter high school, Kayla is an extremely shy girl who uses YouTube to express herself, in a similar way to the film's writer and director, who started off his career by singing and playing original songs inside his own bedroom. Unlike Gerwig, who has her quirky sense of humor clearly printed out in “Lady Bird”, Burnham cleverly uses humor to constantly make the viewer cringe in embarrassment, showing an incredible control of the technical aspects he's got to enhance that particular feeling and put us inside the protagonist's mind. For his work in “Eighth Grade”, Bo won the Directors' Guild of America Award for Outstanding First-Time Feature and the Writers' Guild of America Award for Best Original Screenplay. Besides, the film was included in the top 10 lists from the National Board of Review and the American Film Institute, two of the most prestiged film organizations in the US.)
“ANOS 90” (2018), dirigido por Jonah Hill – Disponível para aluguel e compra digital
(“MID90s” (2018), directed by Jonah Hill – Available on demand)
O ator Jonah Hill, conhecido por seus papéis cômicos em “Superbad” e “Anjos da Lei”, se conecta com seu lado mais dramático em sua estreia na direção, “Anos 90”. Embora ele tome algumas liberdades criativas para compor seus personagens, como o abuso físico sofrido por Stevie (Sunny Suljic) pelas mãos do irmão mais velho (Lucas Hedges) e a distância emocional da mãe (Katherine Waterston), Hill consegue capturar a atmosfera da juventude skatista da década em questão com perfeição. A liberdade, a camaradagem, o sentimento de transgressão, tudo isso é transmitido de forma impecável, sensível e universal no arco narrativo do protagonista. Com o diretor recrutando adolescentes sem experiência anterior com atuação para representarem papéis de jovens skatistas na frente da câmera, “Anos 90” não é somente um retrato fiel da época de ambientação, como também é essencialmente autêntico na maneira que o longa desenvolve seus personagens, fazendo o espectador se sentir grato pelo filme simplesmente existir ao terminar de assistir. Ao contrário das duas obras supracitadas, a estreia de Hill não foi tão aclamada pela crítica, mas foi devidamente apreciada justamente pela sua autenticidade e nostalgia, sendo incluída na lista dos 10 melhores filmes independentes de 2018 do National Board of Review.
(Actor Jonah Hill, known for his comedic roles in “Superbad” and “21 Jump Street”, connects with his more dramatic side in his directorial debut, “Mid90s”. Although he takes some creative liberties to compose his characters, such as the physical abuse that Stevie (Sunny Suljic) suffers at the hands of his older brother (Lucas Hedges) and their mom's (Katherine Waterston) emotional distance, Hill manages to capture the atmosphere of the skateboarding youth in that particular decade with perfection. The freedom, the camaderie, the feeling of transgression, all of that is conveyed in a flawless, sensible and universal way through the protagonist's narrative arc. With the director recruiting teenagers without any prior experience with acting to play young skateboarders in front of the camera, “Mid90s” is not only a faithful portrayal of its time setting, as it is also essentially authentic in the way it develops its characters, making the viewer feel grateful for the film's mere existence when they're done watching it. Unlike the two aforementioned works, Hill's directorial debut wasn't as critically acclaimed, but it was rightfully appreciated for its authenticity and nostalgia, being included in the National Board of Review's list of the 10 best independent films of 2018.)
“AFTERSUN” (2022), dirigido por Charlotte Wells – Disponível na Netflix e na MUBI
(“AFTERSUN” (2022), directed by Charlotte Wells – Available on demand)
Tão enigmático quanto as memórias que a jovem Sophie (a excelente Frankie Corio) tem de seu pai Calum (Paul Mescal, em um de seus melhores papéis), “Aftersun” é um filme do qual eu nunca irei me cansar de falar, graças ao controle invejável que Charlotte Wells demonstra em todo aspecto de sua estreia na direção. Inspirado livremente em uma viagem que a diretora fez com o pai nos anos 1990 para a Turquia, a trama acompanha Sophie e Calum na mesma situação. É impressionante ver como Wells demonstra que a falta de proximidade entre pai e filha resulta em um conhecimento posterior fragmentado por parte de Sophie, interpretada em idade adulta por Celia Rowlson-Hall. Intercalando a narrativa principal com um cenário ofegante e misterioso representado por uma boate onde todos parecem estar dançando de forma descontrolada, a diretora oferece várias peças do seu quebra-cabeça, mas propositalmente nunca entrega um retrato completo, deixando muitas partes cruciais para a compreensão do filme à perspectiva particular do espectador, motivando-o a revisitar o longa para uma compreensão mais aprofundada. Essa escolha criativa brilhante abre o leque de interpretações do enredo, e faz de “Aftersun” uma experiência extremamente pessoal e, ao mesmo tempo, universal, levada à alturas transcendentes por seus dois protagonistas.
(As enigmatic as the memories young Sophie (the excellent Frankie Corio) has of her father Calum (Paul Mescal, in one of his best roles), “Aftersun” is a movie I'll never get tired of talking about, thanks to the enviable control that Charlotte Wells shows over every aspect of her directorial debut. Loosely inspired in a trip the director went on with her father in the 1990s to Turkey, the plot follows Sophie and Calum in the same situation. It's impressive to see how Wells displays that the lack of proximity between father and child results in a fragmented posterior knowledge on Sophie's part, who is portrayed as an adult by Celia Rowlson-Hall. Intertwining the main narrative with a suffocating and mysterious scenario represented by a rave where everyone seems to be dancing uncontrollably, the director offers several pieces to her puzzle, but she purposefully never delivers a full portrait, leaving many crucial parts for the film's comprehension to the viewer's particular perspective, motivating them to revisit the feature for a more in-depth understanding of it. That brilliant creative choice opens the plot up to interpretation, and makes “Aftersun” an experience that's both extremely personal and universal, which reaches transcendental heights thanks to its duo of protagonists.)
“VIDAS PASSADAS” (2023), dirigido por Celine Song – Disponível no Telecine
(“PAST LIVES” (2023), directed by Celine Song – Available on demand)
Tudo que o espectador precisa fazer para chegar à conclusão que “Vidas Passadas” é uma autobiografia da diretora Celine Song é dar uma visitinha na sua página da Wikipédia. As semelhanças entre o enredo e a história de vida da cineasta são impressionantes. Assim como Nora (uma incrível Greta Lee), Song nasceu na Coreia do Sul e emigrou para o Canadá aos 12 anos, conhecendo seu eventual marido, o roteirista Justin Kuritzkes, em um retiro para escritores, situação dramatizada de forma tocante, graças às performances de Lee e John Magaro. Porém, uma terceira figura é introduzida na dinâmica: Hae-Sung (Teo Yoo), amigo de infância de Nora, que parte para Nova York para um encontro pessoal que irá mudar a vida dos dois para sempre. “Vidas Passadas” é muito mais que um romance: é uma reflexão atemporal sobre memória e identidade, temas refletidos de forma impecável no roteiro de Celine, oferecendo um sopro de ar fresco e originalidade em um gênero repleto de clichês. Além de ser inspirado nas memórias da cineasta, o filme consegue ter um alcance amplo pelo seu retrato honesto da vida como imigrante e do conflito entre a identidade do seu país natal e aquele em que reside atualmente. Um filme belíssimo que usa o seu realismo e o seu silêncio para falar muito mais do que os diálogos poderiam fazer.
(All the viewer has to do to come to the conclusion that “Past Lives” is an autobiography of director Celine Song is give her Wikipedia page a visit. The similarities between the plot and the filmmaker's life story are impressive. Just like Nora (an amazing Greta Lee), Song was born in South Korea and emigrated to Canada at age 12, meeting her eventual husband, screenwriter Justin Kuritzkes, at a writers' retreat, a situation that's dramatized in a touching way, thanks to Lee and John Magaro's performances. However, a third person is introduced in their dynamic: Hae-Sung (Teo Yoo), Nora's childhood friend, who sets off to New York for a personal encounter that will change the pair's life forever. “Past Lives” is so much more than a romance: it's a timeless reflection on memory and identity, themes reflected flawlessly in Celine's script, offering a breath of fresh air and originality to a genre riddled with clichés. Besides being inspired by the filmmaker's memories, the film manages to get a wider approach thanks to its honest portrayal of immigrant life and the conflict between the identity of one's home country and their current resident country. A gorgeous film that uses its realism and silence to speak so much more than what dialogues could do.)
BÔNUS: “I SAW THE TV GLOW” (2024), dirigido por Jane Schoenbrun – Estreia a definir
(BONUS: “I SAW THE TV GLOW” (2024), directed by Jane Schoenbrun – Now playing in theaters)
Ok, eu admito: “I Saw the TV Glow” (Eu Vi o Brilho da TV, em tradução livre) não é a estreia na direção de Jane Schoenbrun. Porém, a distribuição da A24 certamente fará que seu segundo longa seja o primeiro contato da grande maioria dos espectadores com seu trabalho, após uma estreia pouco comentada com o inventivo “We're All Going to the World's Fair”. Novamente explorando como a mídia pode moldar a identidade de alguém, Schoenbrun nos apresenta a Owen (Justice Smith), um jovem que firma uma amizade com Maddy (Brigette Lundy-Paine) graças à um cultuado programa de TV. Quando este programa é misteriosamente cancelado, a realidade dos dois começa a se distorcer de forma aterrorizante, mesclando suas identidades com o enredo da série. Inspirado nas experiências de Schoenbrun com programas de terror dos anos 1990, em especial “Buffy: A Caça-Vampiros”, “I Saw the TV Glow” teve estreias aclamadas pela crítica nos festivais de Sundance e Berlim, com vários veículos colocando-o como um dos melhores filmes de 2024 até o momento. E baseado no trailer, Schoenbrun parece andar em uma corda bamba, equilibrando o aterrorizante com o emocionante, guiada por uma atmosfera inspirada no trabalho de David Lynch em obras como “Twin Peaks” e “Cidade dos Sonhos”. Fiquem de olho nesse filme e nessa diretora.
(Okay, I admit: “I Saw the TV Glow” isn't Jane Schoenbrun's directorial debut. However, A24's distribution will certainly lead their second feature to be the first contact with their work for most viewers, after a quiet debut with the inventive “We're All Going to the World's Fair”. Once again exploring how media can shape a person's identity, Schoenbrun introduces us to Owen (Justice Smith), a young man who bonds with Maddy (Brigette Lundy-Paine) over a cult TV show. When said show is mysteriously canceled, the duo's reality begins to distort itself in a terrifying way, blending their identities with the show's plot. Inspired by Schoenbrun's experiences with 1990s horror TV shows, especially “Buffy the Vampire Slayer”, “I Saw the TV Glow” was critically acclaimed in its premieres at the Sundance and Berlin film festivals, with several outlets highlighting it as one of the best films of 2024 so far. And judging by the trailer, Schoenbrun seems to be walking a tightrope, balancing the terrifying with the emotional, guided by an atmosphere inspired by David Lynch's work in “Twin Peaks” and “Mulholland Drive”. Keep an eye out for this film and this director.)
É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Se gostaram desse conteúdo, lembrem-se de compartilhar e acompanhar o blog nas redes sociais e no YouTube! Até a próxima,
João Pedro
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