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domingo, 6 de outubro de 2019

"Coringa": um filme frio e sombrio, assim como os dias de hoje (Bilíngue)


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E aí, galerinha de cinéfilos! Estou de volta, finalmente, para falar de um dos filmes mais comentados do ano até agora. Impulsionado por uma performance inesquecível de seu protagonista, esse filme nos convida a entrar na realidade perturbada, fria e sombria de um dos vilões mais icônicos de todos os tempos. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Coringa”. Vamos lá!
(What's up, film buffs! I'm back, at last, to talk about one of the year's most discussed films. Propelled by an unforgettable performance by its protagonist, this movie invites us into the disturbing, cold, dark reality of one of the most iconic villains of all time. So, without further ado, let's talk about “Joker”. Let's go!)


Desconectado de qualquer material fonte direto, o filme é ambientado em 1981, e segue Arthur Fleck (Joaquin Phoenix), um homem desprezado e mal-compreendido pela sociedade que vê sua saúde mental se despedaçar, devido às reviravoltas que sua vida dá.
(Disconnected from any kind of direct source material, the film is set in 1981, and follows Arthur Fleck (Joaquin Phoenix), a man who is despised and misunderstood by society. Due to the twists and turns that his life provides to him, he sees his mental health fall apart, piece by piece.)


Ok, vamos começar com duas coisas. Primeiro, esse é um filme para um público-alvo bem restrito. É um filme pesado, com uma carga psicológica imensa, e possui uma violência bem mais realista, se comparado ao que estamos acostumados. Digo isso porque irão ter pessoas que não vão entender a mensagem que o filme deseja passar, em especial as crianças, que, de uma maneira ou outra, poderão ter acesso a esse filme, por causa de sua classificação indicativa. Não é novidade dizer que “Coringa” definitivamente não é para crianças, pela carga pesada que ele carrega, e pela mensagem que ele quer passar, algo que elas são muito jovens ainda pra entender. Segundo, esse é um filme único em uma longa lista de adaptações de quadrinhos. É um filme quase que original, porque ele não usa nenhuma trama em específico como influência, apenas os nomes de certos personagens da DC. Ele tem muita relevância, porque ele traz como temas a saúde mental, uma discussão que é muito presente hoje em dia, e a diferença entre classes, que recentemente, foi trabalhada no vencedor da Palma de Ouro “Parasita”, de Bong Joon-Ho. E é um filme diferente, porque ele não segue a fórmula que os filmes da Marvel, e subsequentemente, da DC estabeleceram no gênero de “super-heróis”. Com isso dito, vamos ao roteiro. O Todd Phillips e o Scott Silver fazem um trabalho primoroso aqui de nos apresentar à realidade do nosso protagonista. Já de cara na primeira cena, dá pra ver a mudança no tom, se comparado à Gotham City do Universo Estendido da DC. Em vez de se inspirarem nos quadrinhos do personagem, os roteiristas fizeram a escolha certa de buscar inspiração no cinema Hollywoodiano da década de 1970, em especial os filmes urbanos de Martin Scorsese, mais especificamente “Taxi Driver” e “O Rei da Comédia”, ambos estrelando Robert DeNiro, que também está presente em “Coringa”. Somos apresentados à uma cidade suja, imperfeita, enfrentando uma greve de lixo interminável. Essa é uma Gotham City a qual nenhum de nós gostaria de morar. E vemos essa Gotham City pelos olhos de Arthur, nosso protagonista. O filme todo é visto pelo ponto de vista dele, e essa é uma visão que vem perturbando muita gente. Mesmo com todos os atos imperdoáveis que Arthur comete durante o filme, o espectador possui empatia por ele, justamente pelo fato do roteiro nos dar todas as motivações para apoiar tudo o que ele faz. Eu não chamaria o Coringa de “herói” desse filme. Ele é uma mistura deturpada de Travis Bickle, o protagonista de Taxi Driver, e Rupert Pupkin, o protagonista de O Rei da Comédia, com um pouquinho de Charlie Chaplin por cima. Tudo o que acontece durante o filme é consequência da alienação e da ignorância da sociedade perante a saúde mental do Arthur, e os únicos que realmente sabem pelo que ele está passando somos nós, os espectadores. E isso é algo bem raro entre os “filmes de super-herói” que temos por aí. O passo do filme é perfeito, não há do que reclamar aqui. E o final será algo que será discutido e teorizado por muitas pessoas até o diretor ter uma posição oficial a respeito. E isso é tudo que eu irei falar sobre o roteiro.
(Ok, let's start with two things. One, this is a movie for a restricted audience. It's a dark, heavy, disturbing movie, with a huge psychological baggage, and very realistic violence, a lot more violent, actually, if compared to what we're used to. I'm saying this because there will be people who will not understand the message it is trying to convey, especially children, who, in one way or another, can get access to this movie, due to its rating. It's not a new thing to say that “Joker” is definitely not for kids, because of the themes it carries, and because of the message it is trying to convey, something kids are too young to fully understand. Two, this is a unique movie in a long list of comic book adaptations. It's an almost original plot, as it doesn't search for influence in any direct source material for its screenplay, reducing itself to only using the names of some DC characters. It is extremely relevant, as it deals with important themes, such as mental health, a discussion which is really present in today's reality, and the difference between classes, which was dealt with, recently, in the Palme d'Or winner “Parasite”, directed by Bong Joon-Ho. And it is a different movie, as its plot doesn't follow the formulas that Marvel and, consequently, DC movies have established over the years in the “superhero” genre. With that out of the way, let's talk about the script. Todd Phillips and Scott Silver do a marvelous job here in presenting the reality of our main character to us. On the very first scene, we can notice the difference in tone, if compared to the DCEU's Gotham City. Instead of searching for inspiration on comic books, the screenwriters made the right choice, diving into '70s Hollywood for influences and references, especially with Martin Scorsese's urban films, more specifically “Taxi Driver” and “The King Of Comedy”, both starring Robert DeNiro, who is also in “Joker”. We are introduced to a dirty, imperfect city who is facing a neverending garbage strike. This is a Gotham City we would not like to live in. And we see this Gotham City through the eyes of Arthur, our protagonist. The whole movie stands under his own point of view, a vision which has been upsetting some people. Even with all the unforgivable acts that Arthur does throughout the film, the viewer can't help but feel empathy for him, mainly because the script gives us all the motivations to support everything he does. I wouldn't call the Joker the “hero” of this film. He's a twisted mix of Taxi Driver's Travis Bickle and The King of Comedy's Rupert Pupkin, with a little bit of Charlie Chaplin sprinkled on top. Everything that happens in the film is a consequence of society's alienation and ignorance towards Arthur's mental health, and we, the viewers, are the only ones that actually know what he's going through. And that is something really rare in “superhero movies” these days. The pacing is perfect, nothing to complain about here. And the ending is something that will be discussed and theorized about until the director gives an official statement about it. And that's all I'm gonna say about the script.)


É certo dizer que, assim como o filme, o Coringa de Joaquin Phoenix é algo único na linhagem de adaptações do personagem. Sendo um dos únicos Coringas “em construção” do cinema, o filme não se preocupa em fazer algo que poderá influenciar uma comparação à versões anteriores do vilão. E se não fosse pela atuação e dedicação do Joaquin Phoenix no papel do personagem, o filme definitivamente não teria o mesmo impacto. A fisicalidade que ele alcançou para interpretar o Coringa é algo impressionante, bem parecido com a transformação inacreditável de Christian Bale em “O Operário”. Mas Phoenix vai além do aspecto físico do personagem e entrega um protagonista melancólico, desprezado, depressivo, e completamente insano. Ele trabalha muito bem os trejeitos do personagem, sendo basicamente um Charlie Chaplin às avessas. Se ele não ganhar o Oscar de Melhor Ator, aí sim não há mesmo justiça no mundo. Como o filme gira em torno do Coringa, o restante do elenco colabora para o desenvolvimento magnífico do personagem, em especial Robert DeNiro, que interpreta o ídolo de Arthur; Zazie Beetz, que interpreta a vizinha do protagonista; e Frances Conroy, que interpreta a mãe, com quem ele tem uma relação muito próxima.
(It's right to say that, just like the movie, Joaquin Phoenix's Joker is something unique in the lineage of the character's adaptations. As one of the only Jokers who are “in construction” in the movies, the film does not worry in doing something that may spark a comparison to previous versions of the villain. And if it wasn't for Joaquin Phoenix's performance and dedication to the character, the movie certainly would not have the same impact. The physicality he reached to portray the character is something impressive, really similar to Christian Bale's unbelievable transformation in “The Machinist”. But Phoenix goes beyond the physical aspects of the character and delivers a melancholic, despised, depressed, and completely insane protagonist. He works the character's manias really well, being, basically, an upside-down Charlie Chaplin. If he doesn't win the Oscar for Best Actor next year, there really is no justice in the world. As the movie spins around the Joker, the rest of the cast collaborates to the magnificent development of the character, especially Robert DeNiro, who plays Arthur's idol; Zazie Beetz, who plays his neighbor; and Frances Conroy, who plays his mother, with whom he has a really close relationship.)


O retrato da realidade em “Coringa” é algo único no cinema de quadrinhos, e os aspectos técnicos refletem isso. A direção de arte faz um ótimo trabalho em recriar Gotham na década de 1980. Pelas cores e pelas cenas filmadas nas ruas, parece até que o filme foi filmado naquela época. O trabalho de fotografia também é algo muito bom. A câmera sabe onde concentrar, onde desviar, onde cortar e onde prolongar. A montagem é bem eficiente, a trilha sonora é um complemento enervante para a psicologia do personagem. O figurino é maravilhoso, porque consegue resgatar aquela imagem clássica que temos do Coringa, mas ele dá uma mudança aqui e outra lá, para entregar um visual único e diferenciado para o vilão. A maquiagem foi muito bem feita, fugindo do tom animalesco e primitivo da maquiagem do Heath Ledger e do tom cartunesco da maquiagem do Jack Nicholson. É algo bem desenhado, bem original, e surpreendentemente similar ao visual de John Wayne Gacy, um serial killer estadunidense que se vestia de palhaço para atrair suas vítimas, o que dá um diferencial mais realista e até aterrorizante ao personagem.
(The portrait of reality in “Joker” is something unique in comic book cinema, and the technical aspects reflect that. The art direction does a great job in recreating Gotham in the 1980s. Because of the colors and the scenes filmed in the streets, it really looks like it was filmed back then. The cinematography is really good. The camera knows where to focus on, where to back off, where to cut, and where to extend. The editing is really efficient, the score is an unnerving complement to the character's psychology. The costume design is amazing, because it manages to bring back that classic Joker look, but also they give it some twists, in order to deliver a unique and different look for the villain. The make-up was really well done, escaping both the animalistic, primitive tone of Heath Ledger's make-up, and the cartoony tone of Jack Nicholson's make-up. It's something well designed, very original, and surprisingly similar to the look of John Wayne Gacy, an American serial killer who dressed up as a clown to lure his victims, which gives a more realistic and terrifying differential to the character.)



Resumindo, “Coringa” é uma tremenda obra-prima. É um filme frio, sombrio, relevante e necessário nos dias de hoje. Impulsionado por uma performance inesquecível de Joaquin Phoenix, o filme nos dá, ao mesmo tempo, uma história de origem mais realista para o vilão e uma mensagem importante, que pode não ser compreendida por todos. E caso eu não tenha deixado claro pelos elogios, também é o melhor filme do ano até agora.

Nota: 10 de 10!

Então, é isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,
João Pedro

(In a nutshell, “Joker” is one hell of a masterpiece. It's a cold, dark, relevant, and necessary film, for today's reality. Propelled by an unforgettable performance by Joaquin Phoenix, the film gives us two things at the same time: a more realistic origin story for the villain, and an important message, which may not be understood by all of its viewers. And just in case I didn't make myself clear through all the compliments, it's also the best film of the year so far.

I give it a 10 out of 10!

So, that's it, guys! I hope you liked it! See you next time,
João Pedro)



2 comentários:

  1. Excelente resenha! Captou perfeitamente a essência do filme!!

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  2. João, ficou excelente a sua resenha.
    Há muito tempo um filme não me incomodava desse jeito. Como vc bem disse, não é pra qualquer um.
    O que eu achei mais interessante nessa narrativa é a demonstração de que somos, também, um produto do meio, mesmo não acreditando no determinismo tenho que admitir que o meio nos influencia.

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