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E aí, meus caros
cinéfilos! Tudo bem com vocês? Então, estava planejando em voltar
ao blog somente com a resenha de “Doutor Sono”, pela minha
resenha anterior ter sido sobre “O Iluminado”, mas decidi voltar
mais cedo, porque eu preciso falar sobre esse filme que irei resenhar
agora. Vencedor da Palma de Ouro em Cannes, o filme em questão é
subversivo, realista, universal e necessário, e é a prova viva de
que não se deve julgar um filme pelo trailer. Então, sem mais
delongas, vamos falar sobre “Parasita”. Vamos lá!
(What's up, my fellow
film buffs! How are you guys doing? So, I was planning on returning
to the blog only with the review of “Doctor Sleep”, as my
previous review was about “The Shining”, but I decided to return
a little earlier, because I need to talk about the film I'm about to
review. Winner of the Palme d'Or in Cannes, this movie is subversive,
realistic, universal and necessary, and it is living proof that one
must not judge a film by its trailer. So, without further ado, let's
talk about “Parasite”. Let's go!)
O filme segue a família
Kim, uma família de baixa renda composta por quatro pessoas: Ki-taek
(Song Kang-ho), o pai; Chung-sook (Jang Hye-jin), a mãe; e os dois
filhos, Ki-woo (Choi Woo-shik) e Ki-jeong (Park So-dam). Sendo uma
família pobre, eles recorrem a vários bicos para ganharem dinheiro.
Certo dia, Ki-woo ganha uma chance para trabalhar como tutor da filha
de uma família muito rica, os Park. Aproveitando essa oportunidade,
os Kim começam a se infiltrar na casa da família Park, um por um.
(The movie follows the
Kim family, a lower-class family composed by 4 people: Ki-taek (Song
Kang-ho), the father; Chung-sook (Jang Hye-jin), the mother; and two
siblings, Ki-woo (Choi Woo-shik) and Ki-jeong (Park So-dam). As a
poor family, they search for several little jobs to earn some money.
One day, Ki-woo gets a chance to work as a tutor for the daughter of
a really rich family, the Parks. Making use of the opportunity in
front of them, the Kims begin to infiltrate themselves inside the
Parks' house, one by one.)
Sempre tive receio ao
assistir filmes que venceram a Palma de Ouro em Cannes, porque temia
que esses filmes seriam excessivamente artísticos, narrativamente
parados, e que não iriam possuir nenhuma fonte de entretenimento.
Dos vencedores da Palma que eu assisti (Pulp Fiction, Taxi Driver e A
Fita Branca), só um realmente me manteve engajado na história,
combinando um caráter artístico com um teor de entretenimento.
Outro aspecto que me deu receio foi o fato do trailer não mostrar
simplesmente nada de relevância ao enredo, o que, por um lado, é
bom, porque guarda todos os segredos e reviravoltas para o filme em
si, mas também não ajuda a capturar a atenção do espectador. Bom,
devo dizer que esse filme subverteu todas as minhas expectativas e
tirou todos os meus preconceitos a respeito da Palma de Ouro. Como
disse acima, é um filme que não deve ser julgado pelo trailer,
então, se você tiver a oportunidade de assistir “Parasita”, se
possível, nem veja o trailer, porque esse é um daqueles filmes onde
a experiência é mais completa e gratificante sem ter nenhum
conhecimento anterior sobre o filme. Eu já tinha visto dois
trabalhos do diretor de “Parasita”, o sul-coreano Bong Joon-ho,
(“Expresso do Amanhã” e “Okja”) e ele é muito bom. Uma
coisa que Joon-ho faz como ninguém é misturar gêneros. Por
exemplo, em “O Hospedeiro”, ele mistura terror com sátira
política; em “Expresso do Amanhã”, ele mistura drama, ficção
científica e ação. E essa mistura de gêneros colabora para uma
subversão de expectativas por parte do espectador. Durante a
primeira hora de “Parasita”, temos um clima mais de comédia de
humor negro, com piadas inteligentes sobre Wi-Fi e tecnologias aqui e
ali, e nós esperamos que o filme siga aquele tom pelo resto da
projeção. Mas o diretor muda o curso do enredo e insere um momento
específico na jornada dos protagonistas que transforma o filme num
suspense muito tenso. O roteiro consegue trabalhar muito bem essas
duas vertentes, e o momento dessa mudança de curso faz o espectador
gritar em voz alta: “MAS O QUE DIABOS ESTÁ ACONTECENDO?”. Outra
coisa que o roteiro faz bem é em apresentar seus personagens. Todos
os personagens têm dois lados aqui, ninguém é taxado como “herói”
ou “vilão”, algo muito parecido com o que aconteceu com
“Coringa”, que aborda temas semelhantes. A família Park
apresenta mais camadas do que só ser “aquela família riquinha”,
e o filme nos dá todas as motivações para acreditar que é
impossível categorizar as duas famílias em colunas opostas. Por
incrível que pareça, em nenhum momento eu me senti entediado
durante o filme, ele consegue ser extremamente cativante, devido à
relevância e à universalidade do tema. E o final é, ao mesmo
tempo, inesperado e perfeito. E isso é tudo que tenho a falar sobre
o roteiro, para não entrar em território de spoiler.
(I was always fearful
of watching Palme d'Or winning films, because I feared they would be
excessively artistic, narratively slow, and that they wouldn't have
any entertainment factor in them. Out of all the Palme winners I'd
seen (Pulp Fiction, Taxi Driver and The White Ribbon), only one of
them managed to keep me invested in the story, combining an artistic
vein with an entertainment factor. Another aspect that made me
fearful was the fact that the trailer didn't show anything relevant
to the plot, which, on one side, is good, because they can keep all
the secrets and twists to the movie itself, but that also doesn't
help in capturing the viewer's attention. Well, I must say that this
film has subverted all of my expectations and excluded every kind of
prejudice I had against the Palme d'Or. As I said above, it is a film
that mustn't be judged by its trailer, so, if you ever have the
opportunity to watch “Parasite”, don't even watch the trailer, if
possible, as this is one of those films where the viewing experience
is much more complete and gratifying without any prior knowledge. I
had already seen two films from the director of “Parasite”,
South-Korean Bong Joon-ho (“Snowpiercer” and “Okja”), and he
is really good. One thing that Joon-ho does better than anybody is
mixing genres. For example, in “The Host”, he mixes horror with
political satire, in “Snowpiercer”, he mixes drama, sci-fi and
action. And that mix of genres collaborates to a subversion of
expectations from the viewer. During the first hour of “Parasite”,
we have a dark comedy-ish mood, with jokes about Wi-Fi and technology
here and there, and we expect that that tone is followed all the way
through the very end. But then the director changes the course of the
story and inserts a very specific moment in the protagonists's
journey, which turns the movie into a really tense thriller. The
script works out these two veins really well, and in the moment that
mood changes, the viewer feels the need to shout out: “WHAT THE
HELL IS GOING ON?”. Another thing that the script excels at is
presenting its characters. Every character has two sides here, no one
is categorized as the “good guys” or as the “bad guys”, which
is really similar to what happened in “Joker”, a movie that
follows similar themes. The Park family presents more layers than
just settle on being “that little rich family”, and the film
gives us all the motivations to believe that it's impossible to
categorize these two families in opposite categories. As incredible
as it may seem, I did not feel bored at any moment in the movie, it
manages to be extremely engaging, due to the relevance and the
universality of the theme in it. And the ending is, at the same time,
unexpected and perfect. And that's all I'm going to say about the
script, so that I don't enter into spoiler territory.)
O elenco desse filme é
extremamente convincente. O Song Kang-ho, que interpreta o pai dos
Kim, é o que trabalha melhor com o que lhe é dado. Ele é
engraçado, sarcástico, e é dono de algumas das melhores cenas do
filme, em especial um monólogo que seu personagem faz na segunda
metade, que é simplesmente brilhante. A Jang Hye-jin, o Choi
Woo-shik, e a Park So-dam também são muito bons, colaborando para
reforçar a química entre a família Kim, que é um dos fios
condutores do filme, e tudo isso graças ao talento que o elenco tem.
O Lee Sun-kyun e a Cho Yeo-jong conseguem trabalhar as várias
camadas dos Park muito bem. E por último, mas não menos importante,
temos a Lee Jung-eun, em um papel crucial para a trama, onde ela
transita entre estados de espírito completamente opostos de uma
forma excepcional. Novamente, para não entrar em spoilers e
especificidades, é tudo o que eu tenho a dizer sobre o elenco.
(The cast in this film
is extremely convincing. Song Kang-ho, who plays the Kim's father, is
the one who works the best with what he's given. He's funny,
sarcastic, and owns some of the best scenes in the film, especially a
monologue that his character gives in the second half of it, which is
simply brilliant. Jang Hye-jin, Choi Woo-shik, and Park So-dam are
also really good, collaborating to reinforce the chemistry between
the Kim family, which is one of the film's guiding forces, and all
that thanks to the talent of the cast. Lee Sun-kyun and Cho Yeo-jong
manage to work with the several layers the Parks have beautifully.
And at last, but not least, we have Lee Jung-eun, in a vital role to
the plot, where she oscillates between completely opposite moods in
an exceptional way. Again, in order to not enter into spoilers and
specific territory, that's all I have to say about the cast.)
Agora, vamos aos
aspectos técnicos, onde temos várias coisas incrivelmente bem
feitas. A fotografia é bem movimentada, a câmera nunca fica
estática em um ângulo só. Há algumas tomadas onde a câmera
acompanha os personagens em um percurso que são simplesmente
sensacionais. A montagem é muito bem feita, justificando a duração
prolongada do filme, que é muito bem aproveitada. Algo que se
destaca nos aspectos técnicos de “Parasita”, e que certamente,
refletirá nos prêmios do ano que vem, é a direção de arte. O
contraste entre o modo de vida das duas famílias é feito quase que
inteiramente pela direção de arte, e é simplesmente perfeito.
Quando estamos na casa dos Kim, vemos algo mais primitivo, sujo,
podre, com tons mais acinzentados e mofados; já quando estamos na
casa dos Park (que foi construída do zero especialmente para o
filme), vemos algo mais moderno, limpo, cristalino, puro, com tons
mais claros, e eu achei isso incrível.
(Now, let's get to the
technical aspects, where we have several things that have been done
beautifully. The cinematography moves really well, the camera never
stands still in one single angle. There are some tracking shots that
follow the characters as they walk which are simply sensational. The
editing is really well done, justifying the film's long running time,
which is never wasted, in any moment. Something that stands out in
the technical aspects of “Parasite”, which will certainly reflect
on next year's awards, is the art direction. The contrast between the
way of life of the two families is established almost entirely
through the art direction, and it is simply perfect. When we are at
the Kim's house, we see something more primitive, dirty, rotten, with
moldy, gray-ish tones; while at the Park's house (which was built
from scratch specifically for the film), everything's more modern,
clean, pristine, pure, with clearer tones, and I thought that was
amazing.)
Agora, fora um pouco da
análise do filme em si, venho discutir algo que é bem raro de
acontecer, mas que possui uma enorme chance de se realizar no Oscar
do ano que vem. Desde a vitória em Cannes, o filme está sendo
criticamente aclamado, e categorizado como um dos principais
indicados ao Oscar do ano que vem, o que é bem similar ao que
aconteceu com “Roma”, de Alfonso Cuarón, que levou 3 Oscars, e
foi indicado à categoria de Melhor Filme. Então, a pergunta é:
“Parasita” será o novo “Roma”, no quesito de ser um filme
estrangeiro com potencial de ser indicado nas principais categorias?
Bom, ao meu ver, sim, e tem toda a capacidade de fazer o que o filme
de Cuarón não fez e realmente ganhar o Oscar de Melhor Filme. O
filme possui essa força pelo fato dos temas abordados por ele
possuírem um teor universal, ao invés de serem contidos na
realidade da Coréia do Sul. Minhas previsões para esse filme no
Oscar 2020 seguem assim: para as categorias principais, as com maior
chance do filme ser indicado são em Melhor Filme, Diretor e Roteiro
Original, pela força narrativa que “Parasita” tem e pelo impulso
que a distribuidora americana do filme está investindo; nas
categorias de atuação, é algo mais difícil, porque é muito raro
ver indicados que não são norte-americanos nessas categorias, salvo
algumas exceções, mas se acontecer, não ficarei surpreso em ver o
Song Kang-ho sendo indicado a Melhor Ator e talvez a Lee Jung-eun
sendo indicada a Melhor Atriz Coadjuvante; nas categorias técnicas,
apostaria que o filme conseguiria ser indicado à Melhor Fotografia,
Direção de Arte e Melhor Trilha Sonora Original, que são alguns
dos aspectos mais comentados do filme; e é claro, temos o Oscar de
Melhor Filme Estrangeiro, onde “Parasita” é o favorito. Então,
se minhas previsões estivessem corretas, teríamos 9 indicações
para o filme, o que não é tão longe das 10 indicações que “Roma”
recebeu no Oscar desse ano. Na minha opinião, o filme tem potencial
para ser indicado à essas categorias, mas vamos ver o que a Academia
tem a dizer a respeito de “Parasita” quando as indicações
saírem.
(Now, a little bit
outside of the review itself, I'm going to discuss something that's
really rare, but has an enormous chance of happening in next year's
Oscars. Ever since the film's victory in Cannes, it has been
gathering great acclaim from critics, and people have been labeling
it as an Oscar frontrunner, which is quite similar to what happened
to Alfonso Cuarón's “Roma”, that ended up winning 3 Oscars,
besides being nominated for the main category of Best Picture. So,
the question is: Is “Parasite” the new Roma, in the aspect of
being a foreign language film with potential of being nominated in
the main categories? Well, in my point of view, yes, and it has all
the capacity of doing what Cuarón's film didn't do and actually win
Best Picture. It has this type of strength because it makes its
themes universal, rather than containing them into the reality of
South Korea. My predictions for this movie at next year's Oscars
stand like this: in the main categories, it has a bigger chance on
being nominated for Best Picture, Director and Original Screenplay,
because of its narrative strength and the investments that its
American distributor is boosting on it; in the acting categories,
it's a bit harder, because it's so rare to see non-American people
nominated for these categories, but if it happens, I won't be
surprised in seeing Song Kang-ho nominated for Best Actor, and maybe
Lee Jung-eun nominated for Best Supporting Actress; in the technical
categories, I believe it could achieve nominations for Best
Cinematography, Art Direction and Best Original Score, which are some
of the most talked-about aspects of the film; and of course, we have
the Oscar for Best International Feature Film, in which “Parasite”
is the frontrunner to win the award. So, if my predictions turned out
to be correct, we would have 9 nominations for the film, which is not
that far from “Roma”'s 10 nominations at this year's Oscars. In
my opinion, it really has potential to be nominated in these
categories, but let's see what the Academy has in store for
“Parasite” when the nominations are revealed.)
Resumindo, “Parasita”
é um tremendo filme. Ele possui uma narrativa cativante que subverte
as expectativas do espectador, misturando gêneros muito bem; o filme
faz uso de um elenco talentoso que é crucial para a movimentação
da trama; os aspectos técnicos são dignos de prêmios. E por
último, mas não menos importante, ele aborda temas importantes,
necessários, relevantes, e acima de tudo, universais.
Nota: 10 de 10!
É isso, pessoal!
Espero que tenham gostado! Até a próxima,
João Pedro
(In a nutshell,
“Parasite” is one hell of a film. It has an engaging narrative
that subverts the viewer's expectations, mixing genres really well;
it makes use of a talented cast, which is vital for the film to move
forward; its technical aspects are award-worthy. And at last, but not
least, it deals with important, necessary, relevant, and, above all,
universal themes.
I give it a 10 out of
10!
That's it, guys! I hope
you liked it! See you next time,
João Pedro)
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