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sábado, 26 de outubro de 2019

"O Iluminado": uma obra relevante, revolucionária e aterrorizante, até mesmo nos dias de hoje (Bilíngue) [SPOILERS]


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E aí, galerinha de cinéfilos! Estou de volta, e venho aqui falar sobre um dos maiores clássicos do gênero terror. Sendo, especificamente, uma adaptação de Stephen King, o filme em questão ganhou notoriedade por desviar do seu material fonte, para o desgosto do autor do livro, com o objetivo de criar uma obra única, atemporal, e aterrorizante, até mesmo nos dias de hoje. Em preparação para o aguardado “Doutor Sono”, vamos falar sobre “O Iluminado”. Vamos lá!
(What's up, film buffs! I'm back, and I come here to talk about one of the biggest classics in the horror genre. Being, specifically, a Stephen King adaptation, this movie was notorious for deviating of its source material, for King's disgust, with the objective of creating a unique, timeless, and terrifying film, even for today's times. In preparation for the awaited sequel, “Doctor Sleep”, let's talk about “The Shining”. Let's go!)



Com o objetivo de curar seu bloqueio criativo, um escritor alcóolatra, Jack Torrance (Jack Nicholson), aceita o trabalho de zelador em um hotel nas montanhas do Colorado durante o inverno. Ele se muda para lá com a esposa, Wendy (Shelley Duvall), e o filho, Danny (Danny Lloyd), que é atormentado por visões do passado sombrio do hotel. Devido ao isolamento causado pelas constantes nevascas, Jack descobre os segredos trágicos do local onde mora, e começa a perder sua sanidade.
(In order to cure his writer's block, an alcoholic writer, Jack Torrance (Jack Nicholson), accepts a janitor job in a hotel located in the Colorado Rockies during the winter. He moves there with his wife, Wendy (Shelley Duvall), and his son, Danny (Danny Lloyd), who is tormented by visions of the hotel's dark past. Due to the isolation caused by the constant blizzards, Jack discovers the tragic secrets of the place where he lives, and starts to lose his sanity.)



“O Iluminado” é uma daquelas raras adaptações que desviam do seu material fonte, com o objetivo de criar algo ainda mais rico. Dirigido por alguém que dispensa apresentações, Stanley Kubrick pega a essência básica do livro de Stephen King, e faz um filme de Kubrick a partir dessa essência, em vez de fazer apenas uma mera adaptação. E, para quem gosta de filmes do gênero, funciona perfeitamente. Infelizmente, não pode se dizer o mesmo para Stephen King, que até os dias de hoje, despreza o que Kubrick fez com seu livro, chegando ao ponto de gravar uma minissérie com um enredo mais fiel ao material fonte, mas que, tecnicamente, não possui as mesmas qualidades. Pode-se dizer que “O Iluminado” é o filme mais acessível de Stanley Kubrick, servindo como um ótimo ponto de partida para a filmografia de alguém que é considerado um dos melhores diretores de todos os tempos. Ok, vamos ao roteiro. Há duas versões diferentes desse filme: a internacional, que beira as 2 horas de duração; e a americana, que possui 20 minutos a mais. A versão que assisti foi a do Blu-ray, que é a internacional, então só irei considerar os aspectos próprios dela. “O Iluminado” tem um roteiro maravilhoso, com um passo meticulosamente calculado. Os personagens são apresentados de forma apropriada, e a ambientação do filme, no caso, o Hotel Overlook, é algo essencial para que a história se movimente. O caráter isolado do hotel dá um teor restrito e até claustrofóbico para o roteiro, o que faz dele algo ainda mais aterrorizante. Atualmente, temos vários filmes de terror que não fazem uso de jumpscares para causar arrepios na espinha da plateia, como “A Bruxa”, “Midsommar” e “Hereditário”. O clássico de Kubrick também não faz uso desse artifício, criando uma atmosfera mais perturbadora do que, especificamente, assustadora. E fico feliz em dizer que “O Iluminado” ainda tem gás mesmo nos dias de hoje, ou seja, quase 40 anos depois de seu lançamento. É um filme de terror? Sim, mas está longe de ser um terror convencional. Temos aqui um filme que é aberto a interpretações. Ao final do filme, nos fazemos várias perguntas, como: o Jack realmente via os fantasmas ou era tudo uma alucinação causada pela “febre da cabana”?; o que o Grady quis dizer quando falou que o Jack “sempre foi” o zelador do Hotel Overlook?; e por quê o Jack está em uma foto tirada há quase 60 anos antes dele se tornar o zelador do Hotel?. É um filme que foi, é, e ainda será discutido pelas gerações que virão, devido à sua atemporalidade.
Resumindo, o roteiro de “O Iluminado” desvia de seu material fonte, e entrega uma obra rica, claustrofóbica (no bom sentido) e aterrorizante, até mesmo para os dias de hoje.
(“The Shining” is one of those rare adaptations that deviate from its source material, in order to create something even richer. Directed by someone that needs no introduction, Stanley Kubrick takes the basic essence of Stephen King's book, and he makes a Kubrick movie out of that essence, rather than just a mere adaptation. And, for those who enjoy watching horror films, it works perfectly. Unfortunately, the same cannot be said about Stephen King, who despises what Kubrick did to his book to this day, to the point of filming a miniseries that has a more faithful plot, but doesn't reach the film's technical qualities. It can be said that “The Shining” is Stanley Kubrick's most acessible film, being a great starting point for the filmography of someone considered to be one of the best directors of all time. Okay, let's talk about the script. There are two different versions of this film: the international one, which has a 2-hour running time; and the American one, which is 20 minutes longer. The version I watched was the one in the Blu-ray, the international one, so that's the one I'll discuss here. “The Shining” has a wonderful script, with a meticulously calculated pace. The characters are presented in an appropriate way, and the setting of the film, in this case, the Overlook Hotel, is essential for the story to move forward. The isolated character of the hotel gives a restricted, and even claustrophobic tone to the script, which makes it even more terrifying. Recently, we've had a good number of horror films that didn't make use of jumpscares in order to give its audience the chills, like “The Witch”, “Midsommar” and “Hereditary”. Kubrick's classic also doesn't make use of this artifice, creating an atmosphere that's more disturbing than, necessarily, scary. And I'm glad to say that “The Shining” still scares even today, that is, almost 40 years since its release. Is it a horror film? Yes, but it's far from being your conventional horror. We have a movie that's open to different interpretations. When the credits start rolling, we ask ourselves several questions, like: did Jack actually see the ghosts or was it all just a hallucination caused by cabin fever?; what did Grady mean when he said Jack “has always been” the caretaker for the Overlook?; and why is Jack present in a photo taken 60 years prior to his job at the hotel?. It's a film that has, is, and will be discussed for generations to come, due to its timelessness.
In a nutshell, the script for “The Shining” deviates from its source material, delivering a rich, claustrophobic (in a good way) and terrifying piece of work, even for today's times.)



Além de um roteiro muito bem escrito, temos aqui um elenco muito bem escalado. O fato de que Jack Nicholson não foi indicado ao Oscar de Melhor Ator por esse filme ainda me assusta. O desenvolvimento dele aqui é inacreditável. As expressões faciais dele causam um desconforto enorme no espectador, especialmente quando se torna claro que ele está perdendo a sanidade. Falando nisso, há um modo bem interessante de perceber o declínio da sanidade do personagem. (P.S.: Prestem bastante atenção no cabelo do Jack ao longo do filme.) Ao enlouquecer, Jack possui uma habilidade fascinante em oscilar entre estados de humor, e isso é refletido pela atuação forte, assustadora, compromissada e icônica de Nicholson. Algo polêmico aqui é a performance de Shelley Duvall como Wendy. Foi reportado que a atriz ficou traumatizada durante as gravações do filme, onde Kubrick repetiu uma mesma cena 127 vezes, o que quase levou Duvall à loucura. Mas, para falar a verdade, através da atuação dela, temos o que seria a nossa reação aos eventos retratados no filme. Como o Jack vai ficando louco, e o Danny possui habilidades sobrenaturais, temos, em Wendy, a única personagem humana e sã da história, e isso é refletido de forma perfeita em sua atuação, que alguns podem taxar como exagerada, mas que tem um tom realista e até natural inserido nela. E, completando o trio principal, temos Danny Lloyd como Danny. Ele é um ótimo ator mirim, e as reações dele às visões que o personagem tem sobre o hotel são críveis e legítimas. Ele faz um ótimo trabalho de manipulação de voz, transitando entre o tom doce e inocente de Danny e o tom grotesco e inquietante de Tony, amigo imaginário do personagem, com perfeição. Além dos 3 principais, temos performances significativas de Scatman Crothers, que serve para dar um pouco de exposição para a história e as habilidades de Danny; Philip Stone, que manipula o personagem de Nicholson; e Joe Turkel, que interpreta um barman que é curiosamente próximo de Jack.
(Besides having a well-written script, we have here a cast that perfectly fits their characters. The fact that Jack Nicholson did not get nominated for the Oscar for Best Actor because of this still scares me. His development here is unbelievable. His facial expressions cause an enormous discomfort in the viewer, especially when it becomes clear that he's losing his sanity. Speaking of that, there's a very interesting way in perceiving his descent into insanity. (P.S.: Pay attention to the character's hair throughout the film.) By going mad, Jack possesses the fascinating ability of oscillating through different moods, and that's reflected through Nicholson's strong, terrifying, committed and iconic performance. One thing that causes a certain controversy here is Shelley Duvall's performance as Wendy. It has been reported that the actress was traumatized during the film's production, where Kubrick repeated the same scene 127 times, which nearly drove Duvall mad. But, truth be told, through her performance, we have what would be our reaction to the events of the film. As Jack gradually goes insane, and as Danny has special abilities, we have, in Wendy, the only human, sane character in the story, and that is perfectly reflected in her performance, which some may label as exaggerated, but that has a realistic and even natural tone inserted in it. And, to round up the main trio, we have Danny Lloyd as Danny. He is a great child actor, and his reactions to the visions his character has about the hotel are believable and legitimate. He does a great job in manipulating his voice, transitioning between the sweet and innocent tone in Danny's voice and the grotesque, unsettling tone in the voice of Tony, the character's imaginary friend, with perfection. Besides the main three, we have significant performances by Scatman Crothers, who gives a little exposition to the story and Danny's abilities; Philip Stone, who manipulates Nicholson's character; and Joe Turkel, as a bartender who is curiously close to Jack.)



Se tem uma coisa que não possui defeitos em “O Iluminado”, são os aspectos técnicos. Se brincar, esse filme é o mais tecnicamente perfeito que eu já vi. São justamente alguns de seus aspectos técnicos que tornam o filme tão influente para o gênero nos dias de hoje. Por exemplo, o filme é conhecido por ser um dos pioneiros do Steadicam, um método de filmagem que permite sequências contínuas mais fluidas, sem serem picotadas pela edição. A equipe de fotografia faz um ótimo uso desse método, especialmente na cena inicial, com aquele take aéreo da estrada; e na cena do Danny andando em seu triciclo no hotel, onde a câmera acompanha o personagem com uma enorme precisão. A equipe de fotografia também faz um ótimo trabalho em fazer enquadramentos quase que perfeitamente simétricos. Tão simétricos, que se você dividir a imagem ao meio, dá exatamente a mesma “quantidade” de imagem em cada lado. Algo que contribui para a atmosfera inquietante do filme é a montagem. Por exemplo, na cena do pesadelo de Danny, onde ele imagina uma cascata de sangue saindo do elevador do hotel, são inseridas várias cenas menores que causam um grande desconforto e até curiosidade no espectador, tudo isso graças à edição. O aspecto também colabora para a falta de jumpscares no filme, o que é algo bom, não se enganem quanto a isso. Algo que também marca seu território em “O Iluminado” é a trilha sonora, composta por Wendy Carlos e Rachel Elkind, que é tão inquietante quanto os eventos que vemos na tela. A direção de arte é um dos aspectos mais belos do filme. Os cenários são hipnotizantes, eles nos dão um senso de acomodação, mas ao mesmo tempo, eles nos enervam, e essa mistura de sentimentos feita através da direção de arte é simplesmente brilhante.
(If there's one thing that is 100% flawless in “The Shining”, it's the technical aspects. Actually, this may be the most technically perfect film I've ever seen. It's exactly some of its technical aspects that make this movie so influential for the genre. For example, it is known for being one of the pioneers for Steadicam, a filming method that allows more fluid tracking shots, without being roughly cut in the editing room. The cinematography team makes a great use of this method, especially in the initial scene, with that aerial take of the road; and in the scene where Danny rides his tricycle across the hotel, where the camera follows the character with an enormous precision. The cinematography team also does a great job in creating almost perfectly symmetrical frames. So symmetrical that, if you divide the image into two halves, you'll have the same “quantity” of picture in each half. One thing that contributes to the unsettling atmosphere of the film is the editing. For example, during Danny's nightmare scene, where he witnesses a cascade of blood coming out of the Overlook's elevator, several shorter scenes are inserted in it. That gives some curiosity and discomfort in the viewer, all thanks to the editing. It also collaborates to the lack of jumpscares in the film, which is a good thing, don't be mistaken about that. Another thing that also marks its territory is the score, composed by Wendy Carlos and Rachel Elkind, which is just as unsettling as the events we see on the screen. The art direction is one of the most beautiful aspects in the film. The scenarios are hypnotizing, they give us a sense of coziness, but they are also unnerving, and that mix of feelings caused through the art direction is simply brilliant.)



Algo que gostaria de ressaltar sobre o filme é como ele ainda tem relevância hoje em dia. Devido às várias referências colocadas em filmes, séries e até desenhos, personagens como Jack, Danny, as gêmeas Grady, e cenas como a do elevador, a da icônica frase “Here's Johnny!”, e a própria cena onde Danny encontra as gêmeas no corredor são extremamente conhecidas por cinéfilos de todas as idades. Confesso que nunca me surgiu uma vontade de realmente ver o filme até ele ser referenciado na melhor cena de “Jogador Número 1”, de Steven Spielberg, onde os personagens exploram o Hotel Overlook em busca de um objetivo em comum, a qual vocês podem ver abaixo. É simplesmente fascinante como um filme que foi inicialmente massacrado pela mídia e crítica se tornou algo extremamente relevante e influente para o cinema nos dias de hoje. “O Iluminado” é um filme icônico, e com razão. Ele faz uso de uma boa história, possui incríveis atuações de seu elenco, e é elevado à enormes alturas através de seus aspectos técnicos, que foram revolucionários para a época. É um filme que ainda fascina, e irá fascinar todos aqueles que assistirem ao filme no futuro, sem dúvidas.
(One thing I'd like to make clear about the film is how it is still relevant today. Due to the several references put in movies, TV shows and even cartoons, characters like Jack, Danny, the Grady sisters, and scenes like the elevator one, the one with the iconic phrase “Here's Johnny!”, and the scene where Danny encounters the Grady sisters in the hall are extremely well-known by film buffs of all ages. I confess that I never wanted to actually see the film until it got referenced in the best scene in Steven Spielberg's “Ready Player One”, where the characters explore the Overlook Hotel searching for a common objective, a scene you can check out below. It's simply fascinating how a movie that was initially massacred by the media and the critics became something extremely relevant and influential for cinema today. “The Shining” is an iconic film, and rightfully so. It makes use of a good story, has amazing performances by its cast, and is elevated to enormous heights through its technical aspects, which were revolutionary at the time. It's a movie that's still able to fascinate, and it will, without a doubt, fascinate every single person who watches it in the future.)



Resumindo, “O Iluminado” é uma obra-prima. É mais uma prova que Stanley Kubrick é um dos melhores diretores de todos os tempos. Claro, pode não ser uma adaptação fiel ao livro de Stephen King, mas é uma obra rica, relevante, revolucionária e aterrorizante, até mesmo para os dias de hoje. Que venha “Doutor Sono”!!

Nota: 10 de 10!!

Então, é isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,
João Pedro

(In a nutshell, “The Shining” is a masterpiece. It's one more proof that Stanley Kubrick is one of the greatest directors of all time. Sure, it may not be a faithful adaptation to Stephen King's book, but it is a rich, relevant, revolutionary, and terrifying piece of work, even for today. Can't wait for “Doctor Sleep”!!

I give it a 10 out of 10!!

So, that's it, guys! I hope you liked it! See you next time,
João Pedro)



Um comentário:

  1. Excelente análise, muito abrangente e detalhada. O Iluminado merecia algo assim!

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