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E aí,
galerinha de cinéfilos! Estou de volta, e venho aqui falar sobre um
dos maiores clássicos do gênero terror. Sendo, especificamente, uma
adaptação de Stephen King, o filme em questão ganhou notoriedade
por desviar do seu material fonte, para o desgosto do autor do livro,
com o objetivo de criar uma obra única, atemporal, e aterrorizante,
até mesmo nos dias de hoje. Em preparação para o aguardado “Doutor
Sono”, vamos falar sobre “O Iluminado”. Vamos lá!
(What's
up, film buffs! I'm back, and I come here to talk about one of the
biggest classics in the horror genre. Being, specifically, a Stephen
King adaptation, this movie was notorious for deviating of its source
material, for King's disgust, with the objective of creating a
unique, timeless, and terrifying film, even for today's times. In
preparation for the awaited sequel, “Doctor Sleep”, let's talk
about “The Shining”. Let's go!)
Com o
objetivo de curar seu bloqueio criativo, um escritor alcóolatra,
Jack Torrance (Jack Nicholson), aceita o trabalho de zelador em um
hotel nas montanhas do Colorado durante o inverno. Ele se muda para
lá com a esposa, Wendy (Shelley Duvall), e o filho, Danny (Danny
Lloyd), que é atormentado por visões do passado sombrio do hotel.
Devido ao isolamento causado pelas constantes nevascas, Jack descobre
os segredos trágicos do local onde mora, e começa a perder sua
sanidade.
(In order
to cure his writer's block, an alcoholic writer, Jack Torrance (Jack
Nicholson), accepts a janitor job in a hotel located in the Colorado
Rockies during the winter. He moves there with his wife, Wendy
(Shelley Duvall), and his son, Danny (Danny Lloyd), who is tormented
by visions of the hotel's dark past. Due to the isolation caused by
the constant blizzards, Jack discovers the tragic secrets of the
place where he lives, and starts to lose his sanity.)
“O
Iluminado” é uma daquelas raras adaptações que desviam do seu
material fonte, com o objetivo de criar algo ainda mais rico.
Dirigido por alguém que dispensa apresentações, Stanley Kubrick
pega a essência básica do livro de Stephen King, e faz um filme de
Kubrick a partir dessa essência, em vez de fazer apenas uma mera
adaptação. E, para quem gosta de filmes do gênero, funciona
perfeitamente. Infelizmente, não pode se dizer o mesmo para Stephen
King, que até os dias de hoje, despreza o que Kubrick fez com seu
livro, chegando ao ponto de gravar uma minissérie com um enredo mais
fiel ao material fonte, mas que, tecnicamente, não possui as mesmas
qualidades. Pode-se dizer que “O Iluminado” é o filme mais
acessível de Stanley Kubrick, servindo como um ótimo ponto de
partida para a filmografia de alguém que é considerado um dos
melhores diretores de todos os tempos. Ok, vamos ao roteiro. Há duas
versões diferentes desse filme: a internacional, que beira as 2
horas de duração; e a americana, que possui 20 minutos a mais. A
versão que assisti foi a do Blu-ray, que é a internacional, então
só irei considerar os aspectos próprios dela. “O Iluminado” tem
um roteiro maravilhoso, com um passo meticulosamente calculado. Os
personagens são apresentados de forma apropriada, e a ambientação
do filme, no caso, o Hotel Overlook, é algo essencial para que a
história se movimente. O caráter isolado do hotel dá um teor
restrito e até claustrofóbico para o roteiro, o que faz dele algo
ainda mais aterrorizante. Atualmente, temos vários filmes de terror
que não fazem uso de jumpscares para causar arrepios na espinha da
plateia, como “A Bruxa”, “Midsommar” e “Hereditário”. O
clássico de Kubrick também não faz uso desse artifício, criando
uma atmosfera mais perturbadora do que, especificamente, assustadora.
E fico feliz em dizer que “O Iluminado” ainda tem gás mesmo nos
dias de hoje, ou seja, quase 40 anos depois de seu lançamento. É um
filme de terror? Sim, mas está longe de ser um terror convencional.
Temos aqui um filme que é aberto a interpretações. Ao final do
filme, nos fazemos várias perguntas, como: o Jack realmente via os
fantasmas ou era tudo uma alucinação causada pela “febre da
cabana”?; o que o Grady quis dizer quando falou que o Jack “sempre
foi” o zelador do Hotel Overlook?; e por quê o Jack está em uma
foto tirada há quase 60 anos antes dele se tornar o zelador do
Hotel?. É um filme que foi, é, e ainda será discutido pelas
gerações que virão, devido à sua atemporalidade.
Resumindo,
o roteiro de “O Iluminado” desvia de seu material fonte, e
entrega uma obra rica, claustrofóbica (no bom sentido) e
aterrorizante, até mesmo para os dias de hoje.
(“The
Shining” is one of those rare adaptations that deviate from its
source material, in order to create something even richer. Directed
by someone that needs no introduction, Stanley Kubrick takes the
basic essence of Stephen King's book, and he makes a Kubrick movie
out of that essence, rather than just a mere adaptation. And, for
those who enjoy watching horror films, it works perfectly.
Unfortunately, the same cannot be said about Stephen King, who
despises what Kubrick did to his book to this day, to the point of
filming a miniseries that has a more faithful plot, but doesn't reach
the film's technical qualities. It can be said that “The Shining”
is Stanley Kubrick's most acessible film, being a great starting
point for the filmography of someone considered to be one of the best
directors of all time. Okay, let's talk about the script. There are
two different versions of this film: the international one, which has
a 2-hour running time; and the American one, which is 20 minutes
longer. The version I watched was the one in the Blu-ray, the
international one, so that's the one I'll discuss here. “The
Shining” has a wonderful script, with a meticulously calculated
pace. The characters are presented in an appropriate way, and the
setting of the film, in this case, the Overlook Hotel, is essential
for the story to move forward. The isolated character of the hotel
gives a restricted, and even claustrophobic tone to the script, which
makes it even more terrifying. Recently, we've had a good number of
horror films that didn't make use of jumpscares in order to give its
audience the chills, like “The Witch”, “Midsommar” and
“Hereditary”. Kubrick's classic also doesn't make use of this
artifice, creating an atmosphere that's more disturbing than,
necessarily, scary. And I'm glad to say that “The Shining” still
scares even today, that is, almost 40 years since its release. Is it
a horror film? Yes, but it's far from being your conventional horror.
We have a movie that's open to different interpretations. When the
credits start rolling, we ask ourselves several questions, like: did
Jack actually see the ghosts or was it all just a hallucination
caused by cabin fever?; what did Grady mean when he said Jack “has
always been” the caretaker for the Overlook?; and why is Jack
present in a photo taken 60 years prior to his job at the hotel?.
It's a film that has, is, and will be discussed for generations to
come, due to its timelessness.
In a
nutshell, the script for “The Shining” deviates from its source
material, delivering a rich, claustrophobic (in a good way) and
terrifying piece of work, even for today's times.)
Além de
um roteiro muito bem escrito, temos aqui um elenco muito bem
escalado. O fato de que Jack Nicholson não foi indicado ao Oscar de
Melhor Ator por esse filme ainda me assusta. O desenvolvimento dele
aqui é inacreditável. As expressões faciais dele causam um
desconforto enorme no espectador, especialmente quando se torna claro
que ele está perdendo a sanidade. Falando nisso, há um modo bem
interessante de perceber o declínio da sanidade do personagem.
(P.S.: Prestem bastante atenção no cabelo do Jack ao longo do
filme.) Ao enlouquecer, Jack possui uma habilidade fascinante em
oscilar entre estados de humor, e isso é refletido pela atuação
forte, assustadora, compromissada e icônica de Nicholson. Algo
polêmico aqui é a performance de Shelley Duvall como Wendy. Foi
reportado que a atriz ficou traumatizada durante as gravações do
filme, onde Kubrick repetiu uma mesma cena 127 vezes, o que quase
levou Duvall à loucura. Mas, para falar a verdade, através da
atuação dela, temos o que seria a nossa reação aos eventos
retratados no filme. Como o Jack vai ficando louco, e o Danny possui
habilidades sobrenaturais, temos, em Wendy, a única personagem
humana e sã da história, e isso é refletido de forma perfeita em
sua atuação, que alguns podem taxar como exagerada, mas que tem um
tom realista e até natural inserido nela. E, completando o trio
principal, temos Danny Lloyd como Danny. Ele é um ótimo ator mirim,
e as reações dele às visões que o personagem tem sobre o hotel
são críveis e legítimas. Ele faz um ótimo trabalho de manipulação
de voz, transitando entre o tom doce e inocente de Danny e o tom
grotesco e inquietante de Tony, amigo imaginário do personagem, com
perfeição. Além dos 3 principais, temos performances
significativas de Scatman Crothers, que serve para dar um pouco de
exposição para a história e as habilidades de Danny; Philip Stone,
que manipula o personagem de Nicholson; e Joe Turkel, que interpreta
um barman que é curiosamente próximo de Jack.
(Besides
having a well-written script, we have here a cast that perfectly fits
their characters. The fact that Jack Nicholson did not get nominated
for the Oscar for Best Actor because of this still scares me. His
development here is unbelievable. His facial expressions cause an
enormous discomfort in the viewer, especially when it becomes clear
that he's losing his sanity. Speaking of that, there's a very
interesting way in perceiving his descent into insanity. (P.S.: Pay
attention to the character's hair throughout the film.) By going mad,
Jack possesses the fascinating ability of oscillating through
different moods, and that's reflected through Nicholson's strong,
terrifying, committed and iconic performance. One thing that causes a
certain controversy here is Shelley Duvall's performance as Wendy. It
has been reported that the actress was traumatized during the film's
production, where Kubrick repeated the same scene 127 times, which
nearly drove Duvall mad. But, truth be told, through her performance,
we have what would be our reaction to the events of the film. As Jack
gradually goes insane, and as Danny has special abilities, we have,
in Wendy, the only human, sane character in the story, and that is
perfectly reflected in her performance, which some may label as
exaggerated, but that has a realistic and even natural tone inserted
in it. And, to round up the main trio, we have Danny Lloyd as Danny.
He is a great child actor, and his reactions to the visions his
character has about the hotel are believable and legitimate. He does
a great job in manipulating his voice, transitioning between the
sweet and innocent tone in Danny's voice and the grotesque,
unsettling tone in the voice of Tony, the character's imaginary
friend, with perfection. Besides the main three, we have significant
performances by Scatman Crothers, who gives a little exposition to
the story and Danny's abilities; Philip Stone, who manipulates
Nicholson's character; and Joe Turkel, as a bartender who is
curiously close to Jack.)
Se tem
uma coisa que não possui defeitos em “O Iluminado”, são os
aspectos técnicos. Se brincar, esse filme é o mais tecnicamente
perfeito que eu já vi. São justamente alguns de seus aspectos
técnicos que tornam o filme tão influente para o gênero nos dias
de hoje. Por exemplo, o filme é conhecido por ser um dos pioneiros
do Steadicam, um método de filmagem que permite sequências
contínuas mais fluidas, sem serem picotadas pela edição. A equipe
de fotografia faz um ótimo uso desse método, especialmente na cena
inicial, com aquele take aéreo da estrada; e na cena do Danny
andando em seu triciclo no hotel, onde a câmera acompanha o
personagem com uma enorme precisão. A equipe de fotografia também
faz um ótimo trabalho em fazer enquadramentos quase que
perfeitamente simétricos. Tão simétricos, que se você dividir a
imagem ao meio, dá exatamente a mesma “quantidade” de imagem em
cada lado. Algo que contribui para a atmosfera inquietante do filme é
a montagem. Por exemplo, na cena do pesadelo de Danny, onde ele
imagina uma cascata de sangue saindo do elevador do hotel, são
inseridas várias cenas menores que causam um grande desconforto e
até curiosidade no espectador, tudo isso graças à edição. O
aspecto também colabora para a falta de jumpscares no filme, o que é
algo bom, não se enganem quanto a isso. Algo que também marca seu
território em “O Iluminado” é a trilha sonora, composta por
Wendy Carlos e Rachel Elkind, que é tão inquietante quanto os
eventos que vemos na tela. A direção de arte é um dos aspectos
mais belos do filme. Os cenários são hipnotizantes, eles nos dão
um senso de acomodação, mas ao mesmo tempo, eles nos enervam, e
essa mistura de sentimentos feita através da direção de arte é
simplesmente brilhante.
(If
there's one thing that is 100% flawless in “The Shining”, it's
the technical aspects. Actually, this may be the most technically
perfect film I've ever seen. It's exactly some of its technical
aspects that make this movie so influential for the genre. For
example, it is known for being one of the pioneers for Steadicam, a
filming method that allows more fluid tracking shots, without being
roughly cut in the editing room. The cinematography team makes a
great use of this method, especially in the initial scene, with that
aerial take of the road; and in the scene where Danny rides his
tricycle across the hotel, where the camera follows the character
with an enormous precision. The cinematography team also does a great
job in creating almost perfectly symmetrical frames. So symmetrical
that, if you divide the image into two halves, you'll have the same
“quantity” of picture in each half. One thing that contributes to
the unsettling atmosphere of the film is the editing. For example,
during Danny's nightmare scene, where he witnesses a cascade of blood
coming out of the Overlook's elevator, several shorter scenes are
inserted in it. That gives some curiosity and discomfort in the
viewer, all thanks to the editing. It also collaborates to the lack
of jumpscares in the film, which is a good thing, don't be mistaken
about that. Another thing that also marks its territory is the score,
composed by Wendy Carlos and Rachel Elkind, which is just as
unsettling as the events we see on the screen. The art direction is
one of the most beautiful aspects in the film. The scenarios are
hypnotizing, they give us a sense of coziness, but they are also
unnerving, and that mix of feelings caused through the art direction
is simply brilliant.)
Algo que
gostaria de ressaltar sobre o filme é como ele ainda tem relevância
hoje em dia. Devido às várias referências colocadas em filmes,
séries e até desenhos, personagens como Jack, Danny, as gêmeas
Grady, e cenas como a do elevador, a da icônica frase “Here's
Johnny!”, e a própria cena onde Danny encontra as gêmeas no
corredor são extremamente conhecidas por cinéfilos de todas as
idades. Confesso que nunca me surgiu uma vontade de realmente ver o
filme até ele ser referenciado na melhor cena de “Jogador Número
1”, de Steven Spielberg, onde os personagens exploram o Hotel
Overlook em busca de um objetivo em comum, a qual vocês podem ver
abaixo. É simplesmente fascinante como um filme que foi inicialmente
massacrado pela mídia e crítica se tornou algo extremamente
relevante e influente para o cinema nos dias de hoje. “O Iluminado”
é um filme icônico, e com razão. Ele faz uso de uma boa história,
possui incríveis atuações de seu elenco, e é elevado à enormes
alturas através de seus aspectos técnicos, que foram
revolucionários para a época. É um filme que ainda fascina, e irá
fascinar todos aqueles que assistirem ao filme no futuro, sem
dúvidas.
(One
thing I'd like to make clear about the film is how it is still
relevant today. Due to the several references put in movies, TV shows
and even cartoons, characters like Jack, Danny, the Grady sisters,
and scenes like the elevator one, the one with the iconic phrase
“Here's Johnny!”, and the scene where Danny encounters the Grady
sisters in the hall are extremely well-known by film buffs of all
ages. I confess that I never wanted to actually see the film until it
got referenced in the best scene in Steven Spielberg's “Ready
Player One”, where the characters explore the Overlook Hotel
searching for a common objective, a scene you can check out below.
It's simply fascinating how a movie that was initially massacred by
the media and the critics became something extremely relevant and
influential for cinema today. “The Shining” is an iconic film,
and rightfully so. It makes use of a good story, has amazing
performances by its cast, and is elevated to enormous heights through
its technical aspects, which were revolutionary at the time. It's a
movie that's still able to fascinate, and it will, without a doubt,
fascinate every single person who watches it in the future.)
Resumindo,
“O Iluminado” é uma obra-prima. É mais uma prova que Stanley
Kubrick é um dos melhores diretores de todos os tempos. Claro, pode
não ser uma adaptação fiel ao livro de Stephen King, mas é uma
obra rica, relevante, revolucionária e aterrorizante, até mesmo
para os dias de hoje. Que venha “Doutor Sono”!!
Nota: 10
de 10!!
Então, é
isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,
João
Pedro
(In a
nutshell, “The Shining” is a masterpiece. It's one more proof
that Stanley Kubrick is one of the greatest directors of all time.
Sure, it may not be a faithful adaptation to Stephen King's book, but
it is a rich, relevant, revolutionary, and terrifying piece of work,
even for today. Can't wait for “Doctor Sleep”!!
I give it
a 10 out of 10!!
So,
that's it, guys! I hope you liked it! See you next time,
João
Pedro)
Excelente análise, muito abrangente e detalhada. O Iluminado merecia algo assim!
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