Translate

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

"O Irlandês": o filme mais ambicioso da Netflix até agora (Bilíngue)


E não se esqueçam de curtir e seguir o blog nas redes sociais:
(And don't forget to like and follow the blog in social medias:)
Twitter: @nocinemacomjp2
Instagram: @nocinemacomjp


E aí, meus cinéfilos queridos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, e vim aqui falar de um filme que está sendo apontado como um dos principais indicados à várias categorias do Oscar ano que vem. É a primeira produção de um dos diretores mais renomados de todos os tempos para a Netflix, e traz um elenco inacreditavelmente talentoso para contar uma incrível história real. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “O Irlandês”. Vamos lá!
(What's up, my dear film buffs! How are you doing? I'm back, and I'm here to talk about a film that's being pointed as one of the main nominees to several categories in the Oscars next year. It's the first Netflix production from one of the most acclaimed directors of all time, and reunites an unbelievably talented cast to tell an incredible true story. So, without further ado, let's talk about “The Irishman”. Let's go!)



O filme é narrado por Frank “O Irlandês” Sheeran (Robert De Niro), um veterano da Segunda Guerra Mundial condecorado que se envolve com uma família de mafiosos, a família Bufalino, encabeçada por Russell (Joe Pesci). Agora velho, ele começa a refletir sobre os eventos definitivos de sua carreira no mundo do crime organizado, que tiveram um papel crucial no desaparecimento de seu amigo, o sindicalista Jimmy Hoffa (Al Pacino).
(The film is narrated by Frank “The Irishman” Sheeran (Robert De Niro), a decorated veteran from WWII who gets himself involved with a crime family, the Bufalinos, whose boss is Russell (Joe Pesci). Now, as an old man, he begins to reflect on the definitive events of his career in the crime world, which played an essential part in the disappearance of his friend, trade union leader Jimmy Hoffa (Al Pacino).)



Ok, antes de falar sobre o filme em si, vou dedicar algumas linhas falando sobre minhas expectativas para o filme. Antes de “O Irlandês” ser anunciado, eu não tinha assistido à nenhum dos filmes de máfia que o Martin Scorsese tinha feito. Há algum tempo atrás, finalmente tive a chance de assistir a “Os Bons Companheiros” e adorei. Pra acrescentar, tinha visto algumas críticas falando que esse filme estava na mesma veia do que “Os Bons Companheiros”, então coloquei minhas expectativas lá no alto. E além do mais, temos Martin Scorsese, Robert De Niro, Joe Pesci, Al Pacino e Harvey Keitel em um só filme. Só por causa dessa reunião de dar inveja, “O Irlandês” é um filme que vale a pena assistir. Pode-se dizer que esse filme representa dois extremos máximos na carreira de Scorsese: é o filme mais longo e o filme mais caro que ele já fez. Se brincar, é a produção mais ambiciosa que a Netflix fez até agora. E essa ambição realmente valeu a pena, porque o filme é muito bom, apesar que, na minha opinião, outros filmes do Scorsese são um pouquinho melhores. Ok, vamos ao roteiro. Bom, para aqueles que nunca viram um filme de máfia na vida, saibam que não é pancadaria, tiro e porrada o tempo inteiro. Filmes do gênero tendem a possuir muito diálogo, o que colabora para uma maior compreensão do que está acontecendo. E é exatamente isso que acontece aqui: o filme tem cenas de ação muito violentas e realistas, mas ele também é repleto de diálogos explicativos e, como é baseado em fatos reais, eles tornam o filme muito mais interessante. O roteiro transita entre 3 linhas temporais diferentes de forma bem orgânica, principalmente por conta da edição. O artifício da narração em voice-over colabora para que o espectador não fique perdido nas 3h30min de duração (agora, “O Irlandês” é oficialmente o filme mais longo que eu já vi na vida). O filme tem personagens muito bem construídos, eles têm muita personalidade e incentivam o espectador a pesquisar mais sobre eles quando os créditos começarem a ser exibidos. O roteiro consegue muito bem transitar entre dois estados de espírito: ao mesmo tempo que o filme é muito engraçado, ele também consegue ser muito triste, pois é um filme que, essencialmente, lida com os conceitos de pertencimento e culpa. E essa culpa é muito bem abordada, especialmente nos momentos finais do filme, que são de cortar o coração.
(Ok, before I start talking about the film itself, I'm going to dedicate some time to talk about my expectations for it. Before “The Irishman” was announced, I had never seen any of the mafia films that Martin Scorsese had directed before. Some months ago, I finally got the chance to see “Goodfellas” and I loved it. And to make it even better, I had read in some reviews that this movie followed the same vibe as “Goodfellas”, so my expectations were sky high. And besides, we have Martin Scorsese, Robert De Niro, Joe Pesci, Al Pacino and Harvey Keitel working together in one film. Just because of this reunion to die for, “The Irishman” is a film worth watching. It can be said that this movie represents two maximum extremes in Scorsese's career: it is both his longest-running and most expensive film he's ever made. This is probably the most ambitious production Netflix has ever been involved in, for that matter. And that ambition really paid off, because it is a great movie, although, in my opinion, some other Scorsese movies are a little bit better. Ok, let's talk about the script. Well, for those who haven't seen a mafia movie ever, know that it's not just endless violence, with punches, blood, and guns galore. Films in this genre tend to have a lot of dialogue, which collaborates for a higher comprehension to what's going on. And that's exactly what happens here: it does have violent and realistic action scenes, but it is also filled with explanatory dialogue, which, because of the fact that it is based on a true story, makes it a whole lot more interesting to watch. The script follows 3 different timelines, and the transition between them is made in a way that is very organic, thanks to the editing. The voice-over narration really helps the viewer in knowing what's going on, so that they don't get lost in the extensive running time of 3 hours and 30 minutes (which makes “The Irishman”, officially, the longest-running movie I've ever seen in my life). It also has really well-developed characters, filled with personality and they motivate the viewer in researching for their story after the credits start rolling. One thing that the script does wonderfully is transitioning between two moods: while it is really funny, it can also be very sad, as it essentially deals with themes of belonging and guilt. And that guilt is very well dealt with, especially in the film's final moments, which are truly heart-wrenching.)



Além de ter um roteiro muito ambicioso, o elenco é de dar inveja a qualquer outro cineasta. A começar pela trindade composta por Robert De Niro, Joe Pesci e Al Pacino: ao meu ver, o Robert De Niro pode dificultar (e muito) a corrida de Joaquin Phoenix ao Oscar de Melhor Ator, porque ele está MUITO bom. A crise de identidade que o personagem dele tem ao longo da trama é um dos pontos principais do filme, e o ator consegue lidar com essa crise de modo estupendo. O Joe Pesci e o Al Pacino são tão relevantes para a trama do que o De Niro, mas acho que no Oscar, eles serão indicados a Melhor Ator Coadjuvante, porque as performances deles estão inacreditavelmente boas. O Joe Pesci não chega a ser tão sádico quanto o seu personagem em “Os Bons Companheiros”, mas ele dá outra performance digna de prêmios e extremamente convincente. Mas quem rouba o holofote é o Al Pacino. Esse é um que tenho certeza que não vai sair do Oscar de mãos vazias, pois ele interpreta um homem bem misterioso e muito sarcástico, o que faz do Jimmy Hoffa de Al Pacino o meu personagem favorito do filme. Em papéis coadjuvantes, mas que valem a pena mencionar, temos Bobby Canavale, Ray Romano, Anna Paquin, Stephen Graham, Harvey Keitel, Jesse Plemons e Jack Huston, e todos trabalham muito bem com o material que é dado a cada um.
(Besides having a very ambitious script, the cast of “The Irishman” can cause envy to every other filmmaker. Starting with the trinity composed by Robert De Niro, Joe Pesci and Al Pacino: in my opinion, Robert De Niro can make Joaquin Phoenix's race for the Oscar for Best Actor (a lot) harder, because he's REALLY good. The identity crisis his character suffers with throughout the plot is one of the movie's main points, and he manages to deal with this crisis in a stupendous way. Joe Pesci and Al Pacino are just as relevant to the plot as De Niro is, but I think that, in the Oscars, they will be nominated for Best Supporting Actor, because their performances are unbelievably good. Joe Pesci's character here is not as sadistic as his character in “Goodfellas”, yet he delivers another award-worthy, extremely convincing performance. But the showstopper here is Al Pacino. I'm sure this one won't leave the Oscars empty-handed, as he plays a very mysterious and really sarcastic man, which makes Al Pacino's Jimmy Hoffa my favorite character in the film. In supporting, yet worth mentioning roles, we have Bobby Canavale, Ray Romano, Anna Paquin, Stephen Graham, Harvey Keitel, Jesse Plemons and Jack Huston, and all of them work really well with the material that's given to each one of them.)



Os aspectos técnicos aqui são impecáveis, o que pode ser uma consequência do altíssimo orçamento. A direção de fotografia é bem fluida, a câmera se movimenta de maneira bem natural, o que é ótimo. A direção de arte recria muito bem todas as épocas que o filme retrata, dos figurinos aos cenários. Mas se alguns dos aspectos técnicos aqui fossem 100% irretocáveis, esses seriam a edição, os efeitos especiais e a maquiagem. A edição porque, como dito anteriormente, o filme transita entre 3 linhas temporais diferentes, e de um modo que não perde a atenção do espectador. Os efeitos especiais porque há um raro caso de rejuvenescimento digital que realmente é convincente e quase invisível aqui, exceto em um flashback da Segunda Guerra Mundial, onde o rosto do Robert De Niro pareceu algo que saiu de um videogame bem atualizado. E a maquiagem porque é um dos principais modos pelo qual o espectador percebe a passagem de tempo, o que é muito criativo. Na minha opinião, esse filme corre na frente na disputa para alguns dos prêmios técnicos ano que vem, em especial Melhor Montagem, Maquiagem e Penteado e Efeitos Visuais.
(The technical aspects here are flawless, which may be a consequence of its really high budget. The cinematography is really fluid, the camera moves in a very natural way, which is great. The art direction manages to recreate, in a very believable way, all the times the movie is set in, from the costumes to the sets. But if some of the technical aspects here were 100% perfect, those would be the editing, the visual effects and the make-up. The editing because, as I said before, the film transitions between 3 different timelines, and in a way that doesn't lose the viewer's attention. The visual effects because, here, we have a rare case of really convincing, almost invisible digital de-aging, except in a WWII flashback, where Robert De Niro's face looked like something out of a really recent videogame. And the make-up because it's one of the main ways in which the viewer can notice the passage of time, which is really creative. In my opinion, this film is a frontrunner in the race for some of the technical categories in the Oscars, especially Best Film Editing, Makeup and Hairstyling and Visual Effects.)



Resumindo, “O Irlandês” é um excelente filme. Com uma história real impressionante como base, e fazendo uso de um elenco muito talentoso e aspectos técnicos incríveis, Martin Scorsese retorna ao gênero de máfia com grande estilo e ambição, o que pode ajudar o filme a se tornar um destaque nas premiações do ano que vem!

Nota: 9,0 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que vocês tenham gostado! Até a próxima,
João Pedro

(In a nutshell, “The Irishman” is an excellent film. With an astounding true story as its basis, and making use of a very talented cast and incredible technical aspects, Martin Scorsese returns to the mafia genre with great style and ambition, which may really help the film in becoming a highlight in next year's award season!

I give it a 9,0 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,
João Pedro)




domingo, 10 de novembro de 2019

"Doutor Sono": a melhor adaptação de Stephen King do ano (Bilíngue)


E não se esqueçam de curtir e seguir o blog nas redes sociais:
(And don't forget to like and follow the blog in social medias:)
Twitter: @nocinemacomjp2
Instagram: @nocinemacomjp


E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, e venho aqui trazer para vocês a resenha de mais uma adaptação de Stephen King. Dirigido por um dos melhores diretores de terror da atualidade, o filme em questão consegue servir como sequência tanto do livro “O Iluminado”, de Stephen King, quanto da adaptação de 1980, dirigida por Stanley Kubrick. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Doutor Sono”. Vamos lá!
(What's up, my dear film buffs! How are you doing? I'm back, and I come to bring the review of yet another Stephen King adaptation to you. Directed by one of the finest horror directors in recent times, the film I'm about to review serves as a sequel to both the novel “The Shining”, by Stephen King, and the 1980 adaptation, directed by Stanley Kubrick. So, without further ado, let's talk about “Doctor Sleep”. Let's go!)



O filme é ambientado décadas após os eventos de “O Iluminado”, acompanhando Danny Torrance (Ewan McGregor), que agora atende como Dan, em sua vida adulta. Ainda marcado pelos eventos de sua infância, Dan recorre ao álcool para suprimir suas habilidades como iluminado. Um dia, ele se comunica com uma garota, Abra Stone (Kyliegh Curran), que, por possuir as mesmas habilidades de Dan, vira alvo de uma seita que se alimenta de iluminados para prolongarem suas vidas, liderados por Rose, a Cartola (Rebecca Ferguson).
(It is set decades after the events of “The Shining”, following Danny Torrance (Ewan McGregor), now being known as Dan, in his adult life. Still traumatized by the events of his childhood, Dan resorts to alcohol in order to suppress his Shining abilities. One day, he communicates with a girl, Abra Stone (Kyliegh Curran), who, by possessing the same abilities as Dan's, becomes the target of a cult who feeds on people who Shine in order to live longer, a cult which is led by Rose the Hat (Rebecca Ferguson).)



Aí vai um fato interessante: essa é a quarta adaptação cinematográfica de Stephen King em 2019, depois de “Cemitério Maldito”, “It: Capítulo Dois”, e “Campo do Medo”, o que significa que, juntando com “Doutor Sono”, tivemos mais adaptações de Stephen King esse ano do que filmes da Marvel. Ok, vou começar com o seguinte fato: “Doutor Sono” serve sim como sequência tanto do livro “O Iluminado”, quanto do polêmico filme de Stanley Kubrick. Eu, por exemplo, só tive o filme do Kubrick como base ao assistir a sequência e entendi tudo. E, diferente do filme de Kubrick, que pega a essência do livro de King e transforma em sua própria história, aqui temos um filme que realmente parece algo do próprio King, com aspectos fantásticos, complexos, e assustadores, possuindo uma veia típica dos filmes de terror dos anos 80. E a escolha do diretor certo para comandar o filme foi um ponto essencial para que a obra andasse pra frente. E, felizmente, Mike Flanagan, responsável pela minissérie fantástica “A Maldição da Residência Hill”, acerta em cheio o diálogo entre a narrativa de King e a estética de Kubrick. Ok, vamos ao roteiro. Roteirizado pelo próprio Mike Flanagan, “Doutor Sono” possui um equilíbrio perfeito entre cenas no presente e flashbacks. O filme não reconta a obra de Kubrick, apenas selecionando (e recriando) pequenas cenas que marcaram o filme, e que poderiam servir para alguma coisa no enredo da sequência. E uma das melhores coisas sobre “Doutor Sono” é que o diretor tem plena consciência de quem ele é, não tentando, em momento algum, em “ser” Stanley Kubrick. Ele simplesmente pega tudo o que o Kubrick construiu, e insere sua própria visão nisso. A atmosfera desse filme é diferente de “O Iluminado”, sendo mais similar às atmosferas das próprias obras de Flanagan, como “O Espelho”, “Ouija: Origem do Mal” e o próprio “A Maldição da Residência Hill”. Em sentidos de dar continuidade aos dois materiais-fonte, “Doutor Sono” aprofunda em aspectos do livro de King que foram explorados apenas pela superfície no filme de Kubrick, como o alcoolismo de Jack, pai de Danny, por exemplo. Assim como nos filmes anteriores de Flanagan, esse é um filme que se importa com seus personagens. Há muito mais desenvolvimento de personagens aqui do que sustos, e isso, em um roteiro de terror, é um raro sopro de ar fresco. É bom avisar que esse filme é um pouco mais complexo e violento do que “O Iluminado”, por possuir mais uma veia de Stephen King mesmo, especialmente nos aspectos que envolvem a seita d'O Verdadeiro Nó, que é antagonista do filme. Mas aqueles que estão acostumados com a mente genial, e ao mesmo tempo, maluca de King irão aproveitar cada segundo de “Doutor Sono”. Outro aspecto do roteiro que é bom mencionar é o ritmo. Assim como o filme de Kubrick, “Doutor Sono” se movimenta lentamente, não apressando em nada, justificando sua bem-aproveitada duração de 2 horas e meia.
(There goes an interesting fact: this is the fourth Stephen King movie adaptation in 2019, following “Pet Sematary”, “It: Chapter Two”, and “In the Tall Grass”, which means that, along with “Doctor Sleep”, we've had more Stephen King adaptations this year than Marvel movies. Ok, let's start with a fact: yes, “Doctor Sleep” is a sequel to both “The Shining” novel and Stanley Kubrick's controversial adaptation. I, for example, only watched Kubrick's movie ahead of the sequel, and I understood everything. And, unlike Kubrick, who took the essence of King's story and transformed it into his own, here we have a movie that feels a lot more like something from King himself, with fantastical, complex and terrifying aspects, possessing an '80s horror sense to it. Also, the choice of the right director to put this work on the right track was an essential point for the film to move forward. And, fortunately, Mike Flanagan, who created the incredible miniseries “The Haunting of Hill House”, nails the dialogue between King's narrative style and Kubrick's aesthetics. Ok, let's talk about the script. Written for the screen by Mike Flanagan himself, “Doctor Sleep” has a perfect balance between present scenes and flashbacks. It doesn't entirely re-tell Kubrick's work, reducing itself into selecting (and recreating) scenes that made that movie iconic, and that could work something out in the sequel. And one of the best things about it is that the director knows exactly who he is, not trying in any moment, to “be” Stanley Kubrick. He simply takes everything that Kubrick built, and inserts his own vision into it. The atmosphere in this movie is a little different from “The Shining”, being a lot more similar to Flanagan's own work, like “Oculus”, “Ouija: Origin of Evil”, and hell, even “The Haunting of Hill House”. In the sense of giving continuity to both the source materials, “Doctor Sleep” dives deeper into aspects in King's novel which were only explored in the surface in Kubrick's film, like the alcoholism of Jack, Danny's father, for example. Just like in Flanagan's previous work, this is a movie that cares about its characters. There's a lot more character development in this than just scares, and that aspect, in a horror script, is a rare breath of fresh air, in my opinion. I think it's fair to warn that this is a more complex and violent movie than “The Shining”, because it has more of a Stephen King feel than a Kubrick one, especially when it comes to the True Knot cult, which is the main antagonist of the film. But those who are used to King's genius, and at the same time, crazy mind will enjoy every single second of “Doctor Sleep”. Another aspect about the script that it's worth mentioning is the pacing. Just like Kubrick's “The Shining”, this movie moves more slowly, not rushing into anything, justifying its well-done running time of 2 hours and 30 minutes.)



Além de ter um roteiro muito bom, o elenco desse filme esbanja talento, em especial o trio principal composto por Ewan McGregor, Kyleigh Curran e Rebecca Ferguson. McGregor consegue transmitir bem o trauma estabelecido pelo Danny Lloyd no filme de Kubrick, enquanto também traz sua própria versão do personagem. Eu fiquei felizmente surpreso com a atuação da estreante Kyleigh Curran. Como ela interpreta uma das personagens mais cruciais do filme, muito material foi escrito para ela, e ela trabalha com esse material de forma esplêndida. Mal posso esperar pelos outros trabalhos dessa atriz. Mas quem rouba o holofote, sem sombra de dúvidas, é a Rebecca Ferguson. Ela é uma atriz tão incrível, que a presença dela em um elenco já involuntariamente classifica um filme como bom na minha cabeça. Ela é tudo o que a personagem dela deveria ser: misteriosa, ameaçadora, imperdoável, e, acima de tudo, aterrorizante. Outro ator que vale a pena ser mencionado é o Carl Lumbly, que interpreta o cozinheiro do Overlook, Dick Hallorann, interpretado no filme de Kubrick por Scatman Crothers. E ele tem muito mais cenas aqui, se for comparado com o número de cenas dele em “O Iluminado”, sendo um personagem importantíssimo para o desenvolvimento de Dan no filme. Outros atores notáveis incluem Cliff Curtis, Zahn McClarnon e Emily Alyn Lind, que trabalham bem com o que lhes é dado. Um easter egg involuntário dos filmes anteriores de Flanagan é a presença de membros dos elencos anteriores das obras do diretor, como Bruce Greenwood, Carel Struycken (que participaram de “Jogo Perigoso”), Jacob Tremblay (que protagonizou “O Sono da Morte”), e Henry Thomas (que participou de grande parte dos projetos de Flanagan, em especial “A Maldição da Residência Hill”).
(Besides having an amazing script, “Doctor Sleep” also has a very talented cast, headlined by Ewan McGregor, Kyleigh Curran and Rebecca Ferguson. McGregor manages to transmit the trauma established by Danny Lloyd in Kubrick's film really well, while also creating his own version of the character. I was happily surprised by newcomer Kyliegh Curran's performance. As one of the most important characters in the plot, a lot of material was written for her, and she works with that material in a splendid way. I can't wait for what she does next. But who steals the spotlight here is, surely, Rebecca Ferguson. She is such an amazing actress, to the point that her presence in a film's cast involuntarily classifies the film as good in my head. She is everything her character is supposed to be: mysterious, threatening, ruthless, and, above all, terrifying. Another actor that's worth mentioning is Carl Lumbly, who portrays the Overlook's cook, Dick Hallorann, who was portrayed by Scatman Crothers in Kubrick's film. And he has a lot more scenes here, if compared to “The Shining”, being a really important character for the development of Dan in the movie. Other notable actors are Cliff Curtis, Zahn McClarnon and Emily Alyn Lind, who work really well with their material. An involuntary easter egg to Flanagan's previous works is the presence of cast members from the director's previous movies, like Bruce Greenwood, Carel Struycken (who were in “Gerald's Game”), Jacob Tremblay (who starred in “Before I Wake”) and Henry Thomas (who was in most of Flanagan's projects, most notably “The Haunting of Hill House”).)



Assim como o filme de Kubrick, “Doutor Sono” encontra seu aliado mais forte nos aspectos técnicos. A direção de fotografia de Michael Fimognari consegue resgatar tanto a atmosfera que Kubrick estabeleceu em “O Iluminado”, replicando as técnicas de Steadicam com perfeição, quanto a atmosfera familiar dos trabalhos de Flanagan. A trilha sonora dos Newton Brothers, que trabalharam na maioria dos projetos do diretor, faz um ótimo trabalho de inserir a trilha sonora icônica de Wendy Carlos na visão de Flanagan. É enervante, incômoda e assustadora. Assim como nas obras de época de Flanagan, o principal destaque aqui é a direção de arte. Os flashbacks de “O Iluminado” são filmados em tons mais claros, sendo um pouquinho mais pro sépia, para fazer o contraste com um tom mais azulado e sombrio das cenas ambientadas no presente. O hotel Overlook é recriado com perfeição, apesar do filme não girar em torno do estabelecimento. Certas tomadas e cenas em “Doutor Sono” são calculadas para parecerem idênticas à enquadramentos do filme de Kubrick, o que eu achei genial. Mas um dos aspectos mais brilhantes do filme é a edição, que é feita pelo próprio Flanagan. Vendo “O Espelho” e “A Maldição da Residência Hill”, vemos que Flanagan sabe exatamente onde cortar e onde prolongar. A melhor coisa sobre a edição de “Doutor Sono” é que ela é muito enganosa, fazendo o espectador se perguntar o tempo inteiro se o que ele está vendo é real ou não, se está na cabeça de um personagem ou não, e isso é uma das principais razões pelas quais eu considero o Mike Flanagan um gênio.
(Just like in Kubrick's film, “Doctor Sleep” finds its greatest ally in the technical aspects. Michael Fimognari's cinematography manages to rescue both the atmosphere that Kubrick established in “The Shining”, replicating the Steadicam techniques perfectly, and the familiar atmosphere of Flanagan's work. The score by the Newton Brothers, who worked on most of the director's projects, does a great job in inserting Wendy Carlos's iconic score into Flanagan's vision. It's unnerving, it bothers you, and it is terrifying. Just like in Flanagan's period work, what stands out here is the art direction. The “Shining” flashbacks are filmed in lighter, more sepia-ish tones, in order to make a contrast with the blue, darker tones of the scenes set in the present. The Overlook Hotel is recreated with perfection, even though the film doesn't spin around it, it's not the main event. Some takes and scenes in “Doctor Sleep” are calculated to seem identical to frames from Kubrick's film, which I thought it was genius. But one of the most brilliant aspects in the film is the editing, done by Flanagan himself. By watching “Oculus” and “The Haunting of Hill House”, we see that Flanagan knows exactly where to cut and where to continue filming. The best thing about the editing in this movie is that it could be very deceiving, leading the viewer to ask himself constantly if what he's seeing is real or not, if it's in someone's head or not, and that is one of the many reasons why I consider Mike Flanagan to be a genius.)



Resumindo, “Doutor Sono”, sob o comando de um dos melhores diretores de terror da atualidade, consegue conciliar as visões diferentes que Stephen King e Stanley Kubrick tinham para “O Iluminado”, juntando o melhor dos dois mundos para criar uma obra que agradará tanto aos fãs de King quanto os de Kubrick. Fazendo uso de um ótimo roteiro, um elenco talentoso e aspectos técnicos extraordinariamente similares aos do filme de Kubrick, Mike Flanagan faz de “Doutor Sono” a melhor adaptação de Stephen King de 2019.

Nota: 10 de 10!

Então, é isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,
João Pedro

(In a nutshell, “Doctor Sleep”, conducted by one of the best horror directors in recent times, manages to reconcile Stephen King and Stanley Kubrick's different visions for “The Shining”, gathering the best of both worlds to create something that will please both King fans and Kubrick fans. Making use of a great script, a talented cast and technical aspects that are extraordinarily similar to the ones in Kubrick's film, Mike Flanagan makes “Doctor Sleep” the best Stephen King adaptation of the year.

I give it a 10 out of 10!

So, that's it, guys! I hope you liked it! See you next time,
João Pedro)