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E aí, meus caros
cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, e venho aqui trazer
para vocês a resenha de mais uma adaptação de Stephen King.
Dirigido por um dos melhores diretores de terror da atualidade, o
filme em questão consegue servir como sequência tanto do livro “O
Iluminado”, de Stephen King, quanto da adaptação de 1980,
dirigida por Stanley Kubrick. Então, sem mais delongas, vamos falar
sobre “Doutor Sono”. Vamos lá!
(What's up, my dear
film buffs! How are you doing? I'm back, and I come to bring the
review of yet another Stephen King adaptation to you. Directed by one
of the finest horror directors in recent times, the film I'm about to
review serves as a sequel to both the novel “The Shining”, by
Stephen King, and the 1980 adaptation, directed by Stanley Kubrick.
So, without further ado, let's talk about “Doctor Sleep”. Let's
go!)
O filme é ambientado
décadas após os eventos de “O Iluminado”, acompanhando Danny
Torrance (Ewan McGregor), que agora atende como Dan, em sua vida
adulta. Ainda marcado pelos eventos de sua infância, Dan recorre ao
álcool para suprimir suas habilidades como iluminado. Um dia, ele se
comunica com uma garota, Abra Stone (Kyliegh Curran), que, por
possuir as mesmas habilidades de Dan, vira alvo de uma seita que se
alimenta de iluminados para prolongarem suas vidas, liderados por
Rose, a Cartola (Rebecca Ferguson).
(It is set decades
after the events of “The Shining”, following Danny Torrance (Ewan
McGregor), now being known as Dan, in his adult life. Still
traumatized by the events of his childhood, Dan resorts to alcohol in
order to suppress his Shining abilities. One day, he communicates
with a girl, Abra Stone (Kyliegh Curran), who, by possessing the same
abilities as Dan's, becomes the target of a cult who feeds on people
who Shine in order to live longer, a cult which is led by Rose the
Hat (Rebecca Ferguson).)
Aí vai um fato
interessante: essa é a quarta adaptação cinematográfica de
Stephen King em 2019, depois de “Cemitério Maldito”, “It:
Capítulo Dois”, e “Campo do Medo”, o que significa que,
juntando com “Doutor Sono”, tivemos mais adaptações de Stephen
King esse ano do que filmes da Marvel. Ok, vou começar com o
seguinte fato: “Doutor Sono” serve sim como sequência tanto do
livro “O Iluminado”, quanto do polêmico filme de Stanley
Kubrick. Eu, por exemplo, só tive o filme do Kubrick como base ao
assistir a sequência e entendi tudo. E, diferente do filme de
Kubrick, que pega a essência do livro de King e transforma em sua
própria história, aqui temos um filme que realmente parece algo do
próprio King, com aspectos fantásticos, complexos, e assustadores,
possuindo uma veia típica dos filmes de terror dos anos 80. E a
escolha do diretor certo para comandar o filme foi um ponto essencial
para que a obra andasse pra frente. E, felizmente, Mike Flanagan,
responsável pela minissérie fantástica “A Maldição da
Residência Hill”, acerta em cheio o diálogo entre a narrativa de
King e a estética de Kubrick. Ok, vamos ao roteiro. Roteirizado pelo
próprio Mike Flanagan, “Doutor Sono” possui um equilíbrio
perfeito entre cenas no presente e flashbacks. O filme não reconta a
obra de Kubrick, apenas selecionando (e recriando) pequenas cenas que
marcaram o filme, e que poderiam servir para alguma coisa no enredo
da sequência. E uma das melhores coisas sobre “Doutor Sono” é
que o diretor tem plena consciência de quem ele é, não tentando,
em momento algum, em “ser” Stanley Kubrick. Ele simplesmente pega
tudo o que o Kubrick construiu, e insere sua própria visão nisso. A
atmosfera desse filme é diferente de “O Iluminado”, sendo mais
similar às atmosferas das próprias obras de Flanagan, como “O
Espelho”, “Ouija: Origem do Mal” e o próprio “A Maldição
da Residência Hill”. Em sentidos de dar continuidade aos dois
materiais-fonte, “Doutor Sono” aprofunda em aspectos do livro de
King que foram explorados apenas pela superfície no filme de
Kubrick, como o alcoolismo de Jack, pai de Danny, por exemplo. Assim
como nos filmes anteriores de Flanagan, esse é um filme que se
importa com seus personagens. Há muito mais desenvolvimento de
personagens aqui do que sustos, e isso, em um roteiro de terror, é
um raro sopro de ar fresco. É bom avisar que esse filme é um pouco
mais complexo e violento do que “O Iluminado”, por possuir mais
uma veia de Stephen King mesmo, especialmente nos aspectos que
envolvem a seita d'O Verdadeiro Nó, que é antagonista do filme. Mas
aqueles que estão acostumados com a mente genial, e ao mesmo tempo,
maluca de King irão aproveitar cada segundo de “Doutor Sono”.
Outro aspecto do roteiro que é bom mencionar é o ritmo. Assim como
o filme de Kubrick, “Doutor Sono” se movimenta lentamente, não
apressando em nada, justificando sua bem-aproveitada duração de 2
horas e meia.
(There goes an
interesting fact: this is the fourth Stephen King movie adaptation in
2019, following “Pet Sematary”, “It: Chapter Two”, and “In
the Tall Grass”, which means that, along with “Doctor Sleep”,
we've had more Stephen King adaptations this year than Marvel movies.
Ok, let's start with a fact: yes, “Doctor Sleep” is a sequel to
both “The Shining” novel and Stanley Kubrick's controversial
adaptation. I, for example, only watched Kubrick's movie ahead of the
sequel, and I understood everything. And, unlike Kubrick, who took
the essence of King's story and transformed it into his own, here we
have a movie that feels a lot more like something from King himself,
with fantastical, complex and terrifying aspects, possessing an '80s
horror sense to it. Also, the choice of the right director to put
this work on the right track was an essential point for the film to
move forward. And, fortunately, Mike Flanagan, who created the
incredible miniseries “The Haunting of Hill House”, nails the
dialogue between King's narrative style and Kubrick's aesthetics. Ok,
let's talk about the script. Written for the screen by Mike Flanagan
himself, “Doctor Sleep” has a perfect balance between present
scenes and flashbacks. It doesn't entirely re-tell Kubrick's work,
reducing itself into selecting (and recreating) scenes that made that
movie iconic, and that could work something out in the sequel. And
one of the best things about it is that the director knows exactly
who he is, not trying in any moment, to “be” Stanley Kubrick. He
simply takes everything that Kubrick built, and inserts his own
vision into it. The atmosphere in this movie is a little different
from “The Shining”, being a lot more similar to Flanagan's own
work, like “Oculus”, “Ouija: Origin of Evil”, and hell, even
“The Haunting of Hill House”. In the sense of giving continuity
to both the source materials, “Doctor Sleep” dives deeper into
aspects in King's novel which were only explored in the surface in
Kubrick's film, like the alcoholism of Jack, Danny's father, for
example. Just like in Flanagan's previous work, this is a movie that
cares about its characters. There's a lot more character development
in this than just scares, and that aspect, in a horror script, is a
rare breath of fresh air, in my opinion. I think it's fair to warn
that this is a more complex and violent movie than “The Shining”,
because it has more of a Stephen King feel than a Kubrick one,
especially when it comes to the True Knot cult, which is the main
antagonist of the film. But those who are used to King's genius, and
at the same time, crazy mind will enjoy every single second of
“Doctor Sleep”. Another aspect about the script that it's worth
mentioning is the pacing. Just like Kubrick's “The Shining”, this
movie moves more slowly, not rushing into anything, justifying its
well-done running time of 2 hours and 30 minutes.)
Além de ter um roteiro
muito bom, o elenco desse filme esbanja talento, em especial o trio
principal composto por Ewan McGregor, Kyleigh Curran e Rebecca
Ferguson. McGregor consegue transmitir bem o trauma estabelecido pelo
Danny Lloyd no filme de Kubrick, enquanto também traz sua própria
versão do personagem. Eu fiquei felizmente surpreso com a atuação
da estreante Kyleigh Curran. Como ela interpreta uma das personagens
mais cruciais do filme, muito material foi escrito para ela, e ela
trabalha com esse material de forma esplêndida. Mal posso esperar
pelos outros trabalhos dessa atriz. Mas quem rouba o holofote, sem
sombra de dúvidas, é a Rebecca Ferguson. Ela é uma atriz tão
incrível, que a presença dela em um elenco já involuntariamente
classifica um filme como bom na minha cabeça. Ela é tudo o que a
personagem dela deveria ser: misteriosa, ameaçadora, imperdoável,
e, acima de tudo, aterrorizante. Outro ator que vale a pena ser
mencionado é o Carl Lumbly, que interpreta o cozinheiro do Overlook,
Dick Hallorann, interpretado no filme de Kubrick por Scatman
Crothers. E ele tem muito mais cenas aqui, se for comparado com o
número de cenas dele em “O Iluminado”, sendo um personagem
importantíssimo para o desenvolvimento de Dan no filme. Outros
atores notáveis incluem Cliff Curtis, Zahn McClarnon e Emily Alyn
Lind, que trabalham bem com o que lhes é dado. Um easter egg
involuntário dos filmes anteriores de Flanagan é a presença de
membros dos elencos anteriores das obras do diretor, como Bruce
Greenwood, Carel Struycken (que participaram de “Jogo Perigoso”),
Jacob Tremblay (que protagonizou “O Sono da Morte”), e Henry
Thomas (que participou de grande parte dos projetos de Flanagan, em
especial “A Maldição da Residência Hill”).
(Besides having an
amazing script, “Doctor Sleep” also has a very talented cast,
headlined by Ewan McGregor, Kyleigh Curran and Rebecca Ferguson.
McGregor manages to transmit the trauma established by Danny Lloyd in
Kubrick's film really well, while also creating his own version of
the character. I was happily surprised by newcomer Kyliegh Curran's
performance. As one of the most important characters in the plot, a
lot of material was written for her, and she works with that material
in a splendid way. I can't wait for what she does next. But who
steals the spotlight here is, surely, Rebecca Ferguson. She is such
an amazing actress, to the point that her presence in a film's cast
involuntarily classifies the film as good in my head. She is
everything her character is supposed to be: mysterious, threatening,
ruthless, and, above all, terrifying. Another actor that's worth
mentioning is Carl Lumbly, who portrays the Overlook's cook, Dick
Hallorann, who was portrayed by Scatman Crothers in Kubrick's film.
And he has a lot more scenes here, if compared to “The Shining”,
being a really important character for the development of Dan in the
movie. Other notable actors are Cliff Curtis, Zahn McClarnon and
Emily Alyn Lind, who work really well with their material. An
involuntary easter egg to Flanagan's previous works is the presence
of cast members from the director's previous movies, like Bruce
Greenwood, Carel Struycken (who were in “Gerald's Game”), Jacob
Tremblay (who starred in “Before I Wake”) and Henry Thomas (who
was in most of Flanagan's projects, most notably “The Haunting of
Hill House”).)
Assim como o filme de
Kubrick, “Doutor Sono” encontra seu aliado mais forte nos
aspectos técnicos. A direção de fotografia de Michael Fimognari
consegue resgatar tanto a atmosfera que Kubrick estabeleceu em “O
Iluminado”, replicando as técnicas de Steadicam com perfeição,
quanto a atmosfera familiar dos trabalhos de Flanagan. A trilha
sonora dos Newton Brothers, que trabalharam na maioria dos projetos
do diretor, faz um ótimo trabalho de inserir a trilha sonora icônica
de Wendy Carlos na visão de Flanagan. É enervante, incômoda e
assustadora. Assim como nas obras de época de Flanagan, o principal
destaque aqui é a direção de arte. Os flashbacks de “O
Iluminado” são filmados em tons mais claros, sendo um pouquinho
mais pro sépia, para fazer o contraste com um tom mais azulado e
sombrio das cenas ambientadas no presente. O hotel Overlook é
recriado com perfeição, apesar do filme não girar em torno do
estabelecimento. Certas tomadas e cenas em “Doutor Sono” são
calculadas para parecerem idênticas à enquadramentos do filme de
Kubrick, o que eu achei genial. Mas um dos aspectos mais brilhantes
do filme é a edição, que é feita pelo próprio Flanagan. Vendo “O
Espelho” e “A Maldição da Residência Hill”, vemos que
Flanagan sabe exatamente onde cortar e onde prolongar. A melhor coisa
sobre a edição de “Doutor Sono” é que ela é muito enganosa,
fazendo o espectador se perguntar o tempo inteiro se o que ele está
vendo é real ou não, se está na cabeça de um personagem ou não,
e isso é uma das principais razões pelas quais eu considero o Mike
Flanagan um gênio.
(Just like in Kubrick's
film, “Doctor Sleep” finds its greatest ally in the technical
aspects. Michael Fimognari's cinematography manages to rescue both
the atmosphere that Kubrick established in “The Shining”,
replicating the Steadicam techniques perfectly, and the familiar
atmosphere of Flanagan's work. The score by the Newton Brothers, who
worked on most of the director's projects, does a great job in
inserting Wendy Carlos's iconic score into Flanagan's vision. It's
unnerving, it bothers you, and it is terrifying. Just like in
Flanagan's period work, what stands out here is the art direction.
The “Shining” flashbacks are filmed in lighter, more sepia-ish
tones, in order to make a contrast with the blue, darker tones of the
scenes set in the present. The Overlook Hotel is recreated with
perfection, even though the film doesn't spin around it, it's not the
main event. Some takes and scenes in “Doctor Sleep” are
calculated to seem identical to frames from Kubrick's film, which I
thought it was genius. But one of the most brilliant aspects in the
film is the editing, done by Flanagan himself. By watching “Oculus”
and “The Haunting of Hill House”, we see that Flanagan knows
exactly where to cut and where to continue filming. The best thing
about the editing in this movie is that it could be very deceiving,
leading the viewer to ask himself constantly if what he's seeing is
real or not, if it's in someone's head or not, and that is one of the
many reasons why I consider Mike Flanagan to be a genius.)
Resumindo, “Doutor
Sono”, sob o comando de um dos melhores diretores de terror da
atualidade, consegue conciliar as visões diferentes que Stephen King
e Stanley Kubrick tinham para “O Iluminado”, juntando o melhor
dos dois mundos para criar uma obra que agradará tanto aos fãs de
King quanto os de Kubrick. Fazendo uso de um ótimo roteiro, um
elenco talentoso e aspectos técnicos extraordinariamente similares
aos do filme de Kubrick, Mike Flanagan faz de “Doutor Sono” a
melhor adaptação de Stephen King de 2019.
Nota: 10 de 10!
Então, é isso,
pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,
João Pedro
(In a nutshell, “Doctor
Sleep”, conducted by one of the best horror directors in recent
times, manages to reconcile Stephen King and Stanley Kubrick's
different visions for “The Shining”, gathering the best of both
worlds to create something that will please both King fans and
Kubrick fans. Making use of a great script, a talented cast and
technical aspects that are extraordinarily similar to the ones in
Kubrick's film, Mike Flanagan makes “Doctor Sleep” the best
Stephen King adaptation of the year.
I give it a 10 out of
10!
So, that's it, guys! I
hope you liked it! See you next time,
João Pedro)
👏👏👏👏👏 show 👍😀
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