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domingo, 30 de maio de 2021

"Cruella": um remake potencialmente sombrio, limitado pela fórmula da Disney (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para falar sobre o lançamento mais recente nos cinemas e no catálogo do Disney+ (por um preço adicional). Mesmo sofrendo com várias limitações que impedem a proposta de alcançar seu verdadeiro potencial, o filme em questão compensa suas falhas narrativas com um trabalho técnico irretocável, duas performances maravilhosas de suas protagonistas e uma trilha sonora que combina perfeitamente com a ambientação da obra. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Cruella”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to talk about one of the most recent releases on theaters and on the Disney+ catalog (for an additional fee). Even though it suffers from multiple limitations that prevent its proposal from reaching its true potential, the film I'm about to review makes up for its narrative flaws with a showstopping technical prowess, two wonderful performances from its lead actresses and a killer soundtrack that perfectly fits the film's setting. So, without further ado, let's talk about “Cruella”. Let's go!)



Londres, anos 1970. Ambientado no auge da revolução punk rock, o filme acompanha Estella (Emma Stone), uma órfã aspirante a estilista que vive com dois ladrões de rua, depois de perder sua mãe em um acidente trágico. Após descobrir que uma baronesa (Emma Thompson) está em posse de um colar da sua falecida mãe, Estella assume a persona de Cruella de Vil, disposta a tirar toda a atenção da baronesa, com o objetivo de recuperar o que é seu.

(London, the 1970s. Set during the peak of the punk rock revolution, the film follows Estella (Emma Stone), an orphan and an aspiring fashion designer who lives with two pickpockets, after losing her mother in a tragic accident. After finding out that a baroness (Emma Thompson) is in possession of a necklace from her late mother, Estella takes on the persona of Cruella de Vil, willing to steal all the attention from the baroness, with the objective of retrieving what's hers.)



Para falar a verdade, eu não tinha nenhum antecedente para justificar minhas expectativas para assistir “Cruella”. Não lembro de ter visto “101 Dálmatas” (animação ou live-action) na minha infância, e também nunca vi “O Diabo Veste Prada”, que foi uma clara inspiração por trás da trama central do filme em questão. Todas as minhas expectativas estavam fundamentadas no material promocional divulgado pela Disney, que prometia um filme bem ousado, fora daquela caixinha que incluía outros remakes de animações clássicas do estúdio, como “Malévola”, “A Bela e a Fera” e “Mogli: O Menino Lobo”. Adicionando ao “instinto assassino” que os trailers prometiam, havia outro fator forte que poderia colaborar para algo mais adulto na direção do Craig Gillespie, responsável por filmes ousados e originais como “A Garota Ideal” e “Eu, Tonya”. Ciente deste conhecimento, e atraído pela vibe inegável da revolução do punk rock e glam rock em Londres, estava com expectativas consideravelmente altas ao assistir o filme ontem com meus pais. Minhas expectativas foram atendidas? Não completamente, mas felizmente, há mais o que elogiar do que criticar. O roteiro de “Cruella” foi escrito por Dana Fox, experiente em filmes direcionados ao público feminino, o que poderia dar um toque empoderador à trama; e Tony McNamara, responsável pelo roteiro original do hilário “A Favorita”, dirigido por Yorgos Lanthimos. Uma das melhores coisas que a dupla de roteiristas consegue fazer é criar personagens que atraem o espectador à história a partir de seus primeiros momentos em tela. O filme começa com um prólogo abordando a infância da personagem-título, e juntando com a narração em voice-over da Emma Stone, os primeiros 5 minutos de “Cruella” me lembraram muito da sequência inicial de “Aves de Rapina”, onde a Arlequina quebrava a quarta parede, explicando sua história para o público, desde seu nascimento até o ponto onde a trama central se encontrava. Fox e McNamara conseguem fazer o espectador criar simpatia com a Cruella desde o prólogo, através de momentos que nos fazem sentir pena dela, ou até por meios cômicos. É bem difícil um roteirista conseguir fazer o espectador criar simpatia com alguém que tem o mal embutido em seu DNA, e nesse aspecto, o roteiro me lembrou bastante do trabalho de Todd Phillips e Scott Silver no polêmico “Coringa”. Nesta obra, nós sentimos um equilíbrio de simpatia e justiça pelo personagem-título, por causa de tudo que ele sofre ao longo da trama; e choque, pelos atos grotescos e desumanos que ele comete em tela. Isso não funciona de forma tão eficiente aqui, mas falaremos disso mais tarde. Outro ponto positivo sobre o roteiro é a ambientação. Tendo o estilo como um dos pontos centrais do enredo, Fox e McNamara acertaram em cheio ao ambientar “Cruella” durante o auge do movimento punk rock e glam rock em Londres. Conhecido pelo caráter espalhafatoso dos figurinos, o que era revolucionário para a época, o movimento caiu como uma luva na caracterização da protagonista como uma aspirante a estilista. Uma das melhores coisas sobre o filme, em geral, é a dinâmica explosiva entre a protagonista e a personagem da Emma Thompson, que bebe muito da fonte estabelecida por “O Diabo Veste Prada”. As duas têm personalidades praticamente opostas: enquanto Estella é aberta, amigável e grata; a baronesa é fria, sarcástica e narcisista, e a dupla de roteiristas faz um trabalho maravilhoso de ir mudando a personalidade da personagem-título gradualmente, a partir de suas interações com a personagem de Thompson. Isso faz com que a “transformação” da protagonista em Cruella seja bastante crível, no ponto de vista do espectador. Se estes pontos positivos tivessem sido levados ao seu potencial máximo, com o diretor Craig Gillespie tendo completa liberdade criativa, “Cruella” poderia ter sido um divisor de águas no cânone dos remakes live-action da Disney. Mas como a Disney é, bem...a Disney, todo esse potencial foi drasticamente suavizado e até “cartunizado” para encaixar o filme na fórmula de sucesso do estúdio. Como um estudo de personagem de uma vilã, “Cruella” deu a impressão de parecer replicar a estrutura narrativa de “Coringa”, mencionada anteriormente, no material promocional. Mas há dois aspectos aqui que impedem o filme de ser uma versão feminina do elogiado longa de 2019: 1) ao invés de fazer a protagonista adotar seu visual icônico gradualmente ao longo da trama, os roteiristas fazem a escolha bizarra de fazer com que ela já o tenha desde a infância, o que acaba tirando o caráter empoderador que a personagem poderia ter tido ao assumir sua persona vilanesca no clímax do filme; 2) não há praticamente nada chocante aqui que nos faça sentir desgosto pela transformação de Estella em uma vilã, colaborando para que ela seja mais uma anti-heroína do que propriamente uma antagonista em construção. Outra coisa que poderia ter sido melhorada no resultado final diz respeito à ambientação. Os movimentos punk rock e glam rock ocorridos em Londres eram majoritariamente adultos, compostos de crenças ideológicas, gêneros musicais e visuais andróginos que fugiam do senso comum e do que era estabelecido como norma na época, e o roteiro de “Cruella” falhou em abraçar por completo a vibe revolucionária do movimento. E por último, temos a inconsistência do tom como uma das principais falhas narrativas de Fox e McNamara. Há certos momentos onde se percebe que a trama está caminhando por uma trilha mais sombria, e está funcionando para o espectador. Mas aí, pelo fato de ser da Disney, os roteiristas tomam uma rota alternativa que transforma algo potencialmente inovador em algo clichê, infantil e previsível. Basicamente, o roteiro de “Cruella” é cheio de ideias promissoras que acabam não sendo levadas ao seu potencial máximo, o que resulta em um filme repleto de promessas não cumpridas.

(To tell the truth, I didn't have any previous watches in order to justify my expectations to watch “Cruella”. I don't remember watching “101 Dalmatians” (either animated or live-action) in my childhood, and I also haven't watched “The Devil Wears Prada”, which was a clear inspiration for the central plot of the film reviewed in this text. All of my expectations were cemented in the promotional material released by Disney, which promised a really bold film, as if it was out of the same box that included previous live-action remakes of the studio's animated films, such as “Maleficent”, “Beauty and the Beast” and “The Jungle Book”. Adding up to the “killer factor” the trailers promised, there was another strong factor that could lead to a more mature story in Craig Gillespie's direction, who previously helmed daring, original films such as “Lars and the Real Girl” and “I, Tonya”. Aware of that knowledge, and attracted by its undeniable punk-glam rock revolution vibe in London, I had considerably high expectations when watching the film yesterday with my parents. Were my expectations met? Not completely, but fortunately, there's more to compliment than to criticize. The screenplay for “Cruella” was written by Dana Fox, who's written several films aimed at a female audience, which could add an empowering touch to the plot; and Tony McNamara, who wrote the hilarious original screenplay for “The Favourite”, directed by Yorgos Lanthimos. One of the best things that both writers manage to do is creating characters who attract the viewer's attention to the story from their first moments onscreen. The film starts off with a prologue exploring the title character's childhood, and adding in the voice-over narration by Emma Stone, the first 5 minutes of “Cruella” reminded me a lot of the opening sequence for “Birds of Prey”, where Harley Quinn broke the fourth wall, explaining her backstory to the audience, from her birth to the point where the main plot took place. Fox and McNamara manage to make the viewer create sympathy for Cruella from the prologue, through moments that make us feel sorry for her, or even through comical moments. It's quite hard for a screenwriter to manage to make the viewer create sympathy with someone that has evil embedded in their DNA, and in that aspect, the screenplay reminded me a lot of Todd Phillips and Scott Silver's work in the controversial “Joker”. In that film, we feel a balanced mix of sympathy and justice towards the title character, because of everything he goes through throughout the plot; and shock, because of all the grotesque and inhuman actions he makes onscreen. This doesn't work as efficiently here, but we'll discuss that later on. Another positive point about the screenplay is the setting. Having style as one of the story's main plot points, Fox and McNamara knocked it out of the park by setting “Cruella” during the peak of the punk-glam rock movement in London. Known by the flamboyant character of its costumes, which was revolutionary for that time, the movement fit like a glove in the main character's characterization as an aspiring fashion designer. One of the best things about the film, in general, is the explosive dynamics between the main character and Emma Thompson's character, which is heavily based on the one established in “The Devil Wears Prada”. The two of them have practically opposite personalities: while Estella is open, friendly and grateful; the baroness is cold, sarcastic and narcissist, and the writers do a wonderful job in gradually changing the title character's personality, from her interactions with Thompson's character. This makes the main character's “transformation” into Cruella seem very believable, from the viewer's point of view. If these positive points had been led towards their full potential, with director Craig Gillespie having total creative freedom over the project, “Cruella” could've been a turning point in Disney's canon of live-action remakes. But as Disney is, well... Disney, all that potential was drastically softened and even “cartoonized” in order to fit the film into the studio's successful formula. As a character study of a villain, “Cruella” gave the impression of replicating the narrative structure of “Joker”, previously mentioned, in its promotional material. But there are two aspects here that prevent the film from being a female-led twist on the acclaimed 2019 movie: 1) instead of making the main character adopt her iconic look in a gradual way throughout the plot, the screenwriters make the bizarre choice of making her own it since her childhood, which ends up taking away the empowering character that she could've had by assuming her villanous persona in the film's climax; 2) there's practically nothing shocking here that makes us feel some sort of aversion towards Estella's transformation into a villain, collaborating for her to be more of an antihero than a proper potential antagonist. Another thing that could've been improved on in the final result concerns the setting. The punk rock and glam rock movements in London were, in its majority, very adult and mature, being composed by ideological beliefs, musical genres and androgynous looks that escaped the common sense and what was established as a rule back then, and the screenplay for “Cruella” failed to fully embrace the movement's revolutionary vibe. And, finally, we have the tone's inconsistency as one of the main narrative flaws of Fox and McNamara's work here. There are certain moments when you notice that the plot is heading towards somewhere unexpected and dark, and it's working for the viewer. But then, because it is a Disney film, the screenwriters take an alternative route that transforms something potentially innovative into something clichéd, childish and predictable. Basically, the screenplay for “Cruella” is filled with promising ideas which don't end up reaching their full potential, resulting in a film full of unfulfilled promises.)



Felizmente, o elenco compensa pela grande maioria dos erros cometidos na parte narrativa. Começando com a personagem-título, interpretada de forma magistral pela Emma Stone. Como disse antes, não lembro de ter visto a versão live-action dos anos 1990 para comparar a versão de Stone com a performance memorável de Glenn Close como a antagonista de “101 Dálmatas”. Mas posso dizer que Stone consegue replicar o caráter marcante da presença de Close em sua performance aqui, resultando no seu melhor trabalho desde sua vitória no Oscar com “La La Land”. É muito interessante ver a atriz transitando entre as duas personas da protagonista: como Estella, ela é aberta a sugestões e meio tímida; já como Cruella, ela demonstra uma ferocidade implacável, tão impressionante que chega até a dar medo. É um dos melhores trabalhos de atuação que eu já vi em um remake live-action da Disney, se não for o melhor. Mas não falo que o show é só dela por uma razão, que tem o nome de Emma Thompson. Não tem como, em qualquer filme que essa mulher estiver, pode ser um roteiro horrível, que ela acaba arrumando um jeito de transformar o seu papel em uma verdadeira obra-prima. Ela consegue replicar de forma perfeita aqui o caráter arrogante, frio, sarcástico e honestamente rude da personagem da Meryl Streep em “O Diabo Veste Prada”. É simplesmente um deleite ver ela completamente destruindo a autoestima de uma pessoa, do quão convincente que a atuação dela é. Novamente reforço a eficácia da química contrastante entre as personalidades das personagens de Stone e Thompson, de modo que as melhores cenas do filme são aquelas em que elas estão juntas em tela. Como personagens mais coadjuvantes, temos a dupla composta por Paul Walter Hauser e Joel Fry, que servem como as âncoras emocionais da protagonista e como os principais alívios cômicos do filme, e Mark Strong, que tem um material bastante reduzido, mas é responsável por grande parte da exposição de elementos cruciais para o desenvolvimento da trama. Há algo bem interessante no elenco, onde temos duas performances que são opostos extremos na representação de personagens homossexuais em filmes da Disney: de um lado, temos o John McCrea, que, devido à sua experiência no teatro, faz um ótimo trabalho aqui, realmente adicionando algo ao enredo, fazendo os espectadores quererem ver mais de seu personagem; de outro lado, temos o Andrew Leung, que segue exatamente todo estereótipo possível de personagens homossexuais, fazendo um escândalo em literalmente toda cena em que ele aparece, nos fazendo pensar se o filme seria diferente se o personagem não estivesse no resultado final. E, como bônus, temos a Kirby Howell-Batiste e o Kayvan Novak, que não têm muito o que fazer aqui, mas guardam algumas surpresas que podem ser aproveitadas em uma possível sequência. Fiquem ligados na cena pós-créditos!

(Fortunately, the cast makes up for the great majority of mistakes made in the narrative department. Starting off with the title character, masterfully played by Emma Stone. As I said before, I don't recall watching the 1990s live-action version in order to compare Stone's version with Glenn Close's memorable performance as the antagonist of “101 Dalmatians”. But I can say that Stone manages to replicate the remarkable character of Close's presence in her performance here, resulting in her best work since her Oscar-winning turn in “La La Land”. It's very interesting to see the actress transitioning between her character's two personas: as Estella, she is open to suggestions and kind of shy; as Cruella, she displays a relentless ferocity, which is so impressive, it ends up intimidating you. It's one of the best performances I've ever seen in a Disney live-action remake, if not the best. But I won't say this show belongs only to her for one reason, with the name of Emma Thompson. There's no way, in every film this woman is in, it could have a terrible script, and she would still find a way to transform her role into a true masterpiece. She manages to perfectly replicate here the arrogant, cold, sarcastic and honestly rude character of Meryl Streep's role in “The Devil Wears Prada”. It's simply delightful to see her completely destroying someone's self-esteem, due to how convincing her performance is. I'd like to, once again, reinforce the efficiency of the contrasting chemistry between Stone and Thompson's characters, in a way that the film's best scenes are the ones where they are together onscreen. As more supporting characters, we have the duo composed by Paul Walter Hauser and Joel Fry, who serve as the main character's emotional anchors and the film's main source of comic relief, and Mark Strong, who has a pretty reduced role, but is mainly responsible for the exposition of crucial elements for the story's development. There's something quite interesting in the cast, where we have two performances that are extreme opposites of the representation of homosexual characters in Disney films: on one hand, we have John McCrea, who due to his experience in the stage, does a wonderful job here, actually adding something to the plot, making viewers want to see more of his character; on the other hand, we have Andrew Leung, who follows exactly every possible stereotype there can be on homosexual characters, making a huge scandal in every scene he's in, making us wonder if the film would be any different if his character stayed out of the final result. And, as a bonus, we have Kirby Howell-Batiste and Kayvan Novak, who don't have much to do here, but they keep some surprises that can be developed in a potential sequel. Stay tuned for the post-credit scene!)



Quando se fala de aspectos técnicos, “Cruella” é praticamente irretocável, salvo algumas exceções. O primeiro destaque vai para a direção de fotografia do Nicolas Karakatsanis, que é essencialmente dinâmica. Como um filme envolto na estética do punk rock, a câmera está em movimento em 95% das cenas, mantendo um passo bem uniforme e acelerado para combinar com a vibe da ambientação. Há várias tomadas contínuas que viajam pelos ambientes em que os personagens se encontram, o que é bem legal. O trabalho de Karakatsanis funciona em conjunto com a montagem da Tatiana S. Riegel, que é cirúrgica, mantendo o passo estabelecido pela direção de fotografia. Os dois trabalhos transformam “Cruella” em um filme bem animado, fazendo a duração de 2 horas e 15 minutos passar de uma forma bem rápida. Se tem uma coisa que é absolutamente irretocável no filme, é o design de figurinos. Desenhados pela figurinista vencedora do Oscar por “Mad Max: Estrada da Fúria”, Jenny Beavan, cada vestido e figurino usado pela protagonista e pela personagem da Emma Thompson é de tirar o fôlego, misturando o teor estiloso de eventos de gala com o caráter progressivo e revolucionário dos movimentos de punk rock e glam rock. Academia, já pode dar o Oscar de Melhor Design de Figurino pra Jenny Beavan, por favor, obrigado. A trilha sonora original do Nicholas Britell combina perfeitamente com a vibe animada e acelerada estabelecida pelo trabalho conjunto entre direção de fotografia e montagem. Mas o verdadeiro presente fica com a trilha sonora compilada, composta de vários sucessos da época: Bee Gees, Blondie, The Doors, Supertramp, Nina Simone, Tina Turner, Electric Light Orchestra, Queen, The Clash. Só faltou uma ou duas músicas do David Bowie pra ficar perfeita. A única falha técnica, no meu ponto de vista, fica com os efeitos visuais. Como a história de Cruella de Vil tem os cachorros embutidos em seu DNA, há cachorros (sim, alguns deles são dálmatas) em várias das cenas do filme. O problema é que, nas cenas de ação e movimentos mais elaborados que envolvem os cachorros, dá pra ver claramente que são feitos de CGI. Me pergunto qual foi a dificuldade de usar cachorros reais nessas cenas, o que iria tornar tudo um pouco mais realista. Mas tirando esse pequeno erro, que não estraga o filme de maneira alguma, “Cruella” é provavelmente o remake live-action da Disney mais tecnicamente impecável até o momento.

(When we're talking about technical aspects, “Cruella” is practically flawless, save for a few exceptions. The first highlight goes to Nicolas Karakatsanis's cinematography, which is essentially dynamic. As a film wrapped into the punk rock aesthetics, the camera is moving in 95% of the scenes, mantaining a very uniform, fast pace to match the vibe of the setting. There are several continuous shots that travel through the environments in which the characters find themselves, which is really cool. Karakatsanis's camera manages to work along with Tatiana S. Riegel's editing, which is surgical, mantaining the pace established by the cinematography. The two positions transform “Cruella” in a very upbeat film, making its running time of 2 hours and 15 minutes pass by in a very quick manner. If there's one thing that's absolutely flawless in the film, it's the costume design. Designed by the Oscar-winning costume designer of “Mad Max: Fury Road”, Jenny Beavan, every dress and costume worn by the protagonist and Emma Thompson's character is absolutely breathtaking, mixing the stylish flair of gala events with the progressive, revolutionary character of the punk rock and glam rock movements. Academy, go on and already give the Oscar for Best Costume Design to Jenny Beavan, please, thank you very much. Nicholas Britell's original score perfectly matches the upbeat, accelerated vibe established by the cinematography and editing. But the real gift stays with the soundtrack, which is composed by hits from the time in which the film is set: Bee Gees, Blondie, The Doors, Supertramp, Nina Simone, Tina Turner, Electric Light Orchestra, Queen, The Clash. They only needed one or two David Bowie songs to make it perfect. The only technical flaw, in my point of view, stays with the visual effects. As Cruella de Vil's story has dogs embedded in its DNA, there are dogs (yes, some of them are dalmatians) in several of the film's scenes. The trouble is that, during the action scenes with more elaborate movements by the dogs, you can clearly see they're made of CGI. I wonder what was the difficulty of using real dogs for these scenes, which would've made the whole thing a bit more realistic. But apart from that tiny mistake, which doesn't tarnish the film at all, “Cruella” is probably the most technically flawless Disney live-action remake to date.)



Resumindo, “Cruella” é tecnicamente impecável, tem ideias promissoras que inovam na fórmula de sucesso da Disney e possui um elenco muito talentoso, contendo duas das melhores performances de suas atrizes principais. Mas limitações narrativas e um uso mal calculado de efeitos visuais impedem o remake de alcançar seu potencial máximo e ser um verdadeiro divisor de águas no cânone da Disney.

Nota: 8,5 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “Cruella” is technically flawless, has promising ideas that bring something new to Disney's successful formula and has an enormously talented cast, containing two of the best performances by its main actresses. But narrative limitations and a badly-calculated use of visual effects prevent the remake from reaching its true potential and being a real turning point for Disney's canon.

I give it an 8,5 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)


sábado, 22 de maio de 2021

"Army of the Dead - Invasão em Las Vegas": mais um filme divertido de Zack Snyder (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para falar sobre o mais recente lançamento no catálogo original da Netflix! Com personagens instantaneamente carismáticos e um ótimo uso de efeitos visuais, o filme em questão traz seu realizador de volta às raízes de seu primeiro filme, e acaba dando ganchos para várias possibilidades de construção de uma franquia. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Army of the Dead: Invasão em Las Vegas”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to talk about the most recent release in Netflix's original catalog! With instantly charismatic characters and a great use of visual effects, the film I'm about to analyze brings its writer/director back to the roots of his directorial debut, and ends up leaving several possibilities for the construction of a potential franchise around it. So, without further ado, let's talk about “Army of the Dead”. Let's go!)



Um acidente no estado de Nevada, nos EUA, resulta em uma invasão de zumbis na badalada cidade de Las Vegas, que vira uma cidade fantasma, prestes a ser destruída por uma bomba atômica. O filme gira em torno de Scott Ward (Dave Bautista), líder de uma gangue de ex-mercenários, que é recrutado por um bilionário japonês (Hiroyuki Sanada) para realizar o roubo mais arriscado da história: recolher US$200 milhões de um cofre em um cassino no centro da cidade, repleta de zumbis ágeis, rápidos e inteligentes. Para fazer isso, Scott forma uma equipe de assalto, composta por sua amiga e parceira Maria (Ana de la Reguera), sua filha distante Kate (Ella Purnell), a piloto de helicóptero Peters (Tig Notaro), o soldado Vanderohe (Omari Hardwick) e o arrombador de cofres Dieter (Matthias Schweighöfer).

(An accident in the state of Nevada, in the US, results in a zombie invasion in the crowded city of Las Vegas, which becomes an abandoned ghost town, about to be destroyed by an atomic bomb. The film revolves around Scott Ward (Dave Bautista), leader of a gang of former mercenaries, who is recruited by a Japanese billionaire (Hiroyuki Sanada) to be a part of the most dangerous heist in history: withdraw US$200 million from a vault in a casino in the town's center, which is full of agile, fast and clever zombies. In order to do that, Scott assembles an assault team, composed by his friend and partner Maria (Ana de la Reguera), his estranged daughter Kate (Ella Purnell), helicopter pilot Peters (Tig Notaro), soldier Vanderohe (Omari Hardwick) and safecracker Dieter (Matthias Schweighöfer).)



Haviam várias razões para eu estar bastante animado para assistir “Army of the Dead: Invasão em Las Vegas”. A primeira seria a direção do Zack Snyder, responsável por algumas das adaptações de quadrinhos mais divertidas dos últimos tempos, como “Watchmen”, “300” e “Liga da Justiça de Zack Snyder”. A segunda seria o fato de que “Army of the Dead” é o primeiro filme completamente original do diretor desde o subestimado “Sucker Punch”, lançado 10 anos atrás. A terceira seria o retorno de Snyder ao cinema de zumbis depois de sua estreia na direção com o remake de “Madrugada dos Mortos”, cujo roteiro foi escrito por um então desconhecido James Gunn (diretor de “Guardiões da Galáxia”). Minhas expectativas estavam altas, mesmo para um filme que tinha como sua principal arma o fator entretenimento, imposto pela proposta de ser um “Onze Homens e Um Segredo” ambientado em um apocalipse zumbi. E fico muito feliz em dizer que não me decepcionei com “Army of the Dead”. Com isso dito, vamos falar do roteiro. Escrito por Snyder, Shay Hatten e Joby Harold (ambos responsáveis por produzirem e escreverem o terceiro filme de “John Wick”), o roteiro de “Army of the Dead: Invasão em Las Vegas” faz um ótimo uso de seu robusto tempo de duração de 2 horas e 30 minutos. Os primeiros 15 minutos conseguem explicar de forma bem clara como tudo isso começou, sendo seguida de uma das melhores sequências de créditos dos últimos tempos. Eu simplesmente amo quando uma sequência de créditos conta uma história engarrafada, e Zack Snyder conseguiu repetir o grande feito realizado em “Watchmen” ao nos apresentar à grande maioria dos personagens que iremos acompanhar ao longo da trama. Daí, seguimos o protagonista, interpretado pelo Dave Bautista, enquanto ele reúne a equipe que irá realizar o roubo. Vale a pena avisar que a primeira metade do filme é essencialmente dedicada à introdução e ao desenvolvimento do elenco diverso de personagens, para permitir que o espectador crie laços com cada um deles e fique torcendo para que eles não sofram um destino terrível no decorrer da missão. Pode parecer um pouco enrolado para aqueles que esperam ação desenfreada, mas funciona perfeitamente, devido à personalidade que os roteiristas injetam em cada personagem e ao carisma inegável do elenco, que é muito talentoso. Algo bastante interessante que Snyder faz é dar uma “personalidade” aos próprios zumbis, que são divididos em duas classes: os trôpegos, que são os zumbis clássicos: lentos, mas famintos por carne humana; e os alfas, que são mais ágeis, inteligentes e “humanos”. Isso me lembrou bastante da sequência inicial de “Zumbilândia 2”, que introduz tipos diferentes de mortos-vivos, mas isso não funcionou de forma tão eficiente aqui. Vamos falar disso mais pra frente. Dentro da trama principal, existem várias subtramas associadas a diversos personagens, as quais são bem desenvolvidas, graças ao passo do roteiro e ao tempo de duração. Como um filme de Zack Snyder, as cenas de ação de “Army of the Dead” são primorosas. Há uma mistura muito bem feita entre efeitos práticos e CGI, com o uso característico do diretor de cenas em câmera lenta e muito, MUITO, MUITO sangue, como era de se esperar de um filme do gênero. Em várias partes, o uso da ação é feito com o objetivo de servir como alívio cômico, e funciona. O final é ótimo, e ainda por cima, deixa um baita gancho para uma possível continuação, a qual é bem possível de acontecer, já que a Netflix confirmou um filme e uma série de animação que servirão como prólogo para “Army of the Dead”. Mas nem tudo é um mar de rosas no filme mais recente de Zack Snyder. Há muitas inconsistências no roteiro, variando de associações quase bizarras com o gênero da ficção-científica até aspectos da ambientação que não fazem o menor sentido, tomando como base toda a mitologia que foi construída ao redor do mito dos zumbis. E o pior é que nenhuma dessas inconsistências é abordada no roteiro. Outra coisa que, pelo menos pra mim, não funcionou foi a escolha de dar uma “alma” para os zumbis alfa. Claro, obras como o ótimo “Meu Namorado é um Zumbi” provam que isso pode dar certo, mas essa opção não foi muito eficiente aqui. Foi uma tentativa estranha de fazer com que o espectador entenda o ponto de vista e as “motivações” de criaturas cujo único objetivo é devorar toda pessoa que aparecer na sua frente, dando uma espécie de consciência emocional para eles, o que não fez muito sentido para mim, levando em conta o quão bem Snyder trabalhou os zumbis em “Madrugada dos Mortos”. Tirando isso, “Army of the Dead: Invasão em Las Vegas” é um filme extremamente divertido, com personagens bem desenvolvidos e cenas de ação primorosas, que irá agradar tanto aos fãs do diretor quanto aos fãs de filmes de zumbis.

(There were several reasons for me to be excited to watch “Army of the Dead”. The first one would be its director, Zack Snyder, who's responsible for some of the most fun comic book adaptations in recent times, such as “Watchmen”, “300” and “Zack Snyder's Justice League”. The second one would be the fact that “Army of the Dead” is the first entirely original film the director has made since the underrated “Sucker Punch”, which was released 10 years ago. The third one would be Snyder's return to the zombie genre after his directorial debut with the remake of “Dawn of the Dead”, which had its screenplay written by a then unknown James Gunn (director of “Guardians of the Galaxy”). My expectations were pretty high, even for a film that had the entertainment factor as its main weapon, which was imposed by the proposal of being an “Ocean's 11” of sorts, set in a zombie apocalypse. And I'm really glad to say that I wasn't disappointed with “Army of the Dead”. With that out of our way, let's talk about the script. Written by Snyder, Shay Hatten and Joby Harold (both responsible for co-writing and producing the third “John Wick” film), the screenplay for “Army of the Dead” makes a great use of its robust runtime of nearly 2 hours and 30 minutes. The first 15 minutes manage to explain very clearly how all of that came to happen, followed by one of the best credit sequences in recent memory. I simply love it when a credit sequence tells a bottled story, and Zack Snyder managed to repeat the great feat made in “Watchmen” by introducing us to a great majority of the characters we'll be following throughout the plot. From there, we follow the protagonist, portrayed by Dave Bautista, as he gathers the team that will put the heist to action. It's worth warning that the film's first half is essentially dedicated to introducing and developing its characters, in order to allow the viewer to create bonds with them and keep rooting for them to not suffer a terrible fate throughout the mission. It might seem a bit too overlong for those expecting non-stop action, but it perfectly works, due to the personality that the screenwriters give to each of these characters, and to the undeniable charisma of the cast, which is extremely talented. Something pretty interesting that Snyder does is that he gives a “personality” to the zombies themselves, dividing them into two classes: the Shamblers, which are the classic zombies: slow, but hungry for human flesh; and the Alphas, which are more agile, clever and “human”. This reminded me a lot of the opening sequence for “Zombieland: Double Tap”, which introduces several ranks of the undead, but that didn't work as efficiently here. We'll discuss that later on. Inside the main plot, there are several subplots attributed to various characters, which are very well developed, thanks to the script's pacing and extended runtime. As a Zack Snyder film, the action scenes in “Army of the Dead” are showstopping. There's a very well-made mix between practical effects and CGI, with the director's characteristic use of scenes in slow-motion and lots, LOTS, LOTS of blood and gore, as it was expected from a film in this genre. In several bits, the use of action is done with the objective of serving as comic relief, and it works. The ending is great and, above all, leaves one hell of a cliffhanger for a potential follow-up, which is very likely to happen, as Netflix already confirmed a film and a TV show that'll both serve as a prologue to “Army of the Dead”. But not everything is absolute perfection in Zack Snyder's latest. There are many inconsistencies in the screenplay, which vary from almost bizarre associations with the science fiction genre to setting aspects that don't make any sense, considering all the mythology that has been built around the zombie myth. And the worst thing is that none of these inconsistencies is dealt with in the screenplay. Another thing that, at least for me, didn't work was the choice of giving a “soul” to the Alpha zombies. Sure, films like the great “Warm Bodies” are proof that this could work, but that option wasn't as efficient here. It was a weird attempt of making the viewer understand the point of view and “motivations” of creatures whose sole objective is to devour every single person that comes their way, giving them some sort of emotional consciousness, which didn't make much sense to me, taking into account how well Snyder worked the zombies in “Dawn of the Dead”. Apart from that, “Army of the Dead” is an extremely fun flick, with well-developed characters and showstopping action scenes, that'll please the director's fans and zombie film aficionados.)



Uma das maiores forças de “Army of the Dead: Invasão em Las Vegas” é a bem-vinda diversidade de seu elenco, que é extremamente talentoso e carismático. O trio principal de personagens, interpretados por Dave Bautista, Ella Purnell e Ana de la Reguera, tem muita química. Bautista consegue misturar muito bem a força bruta de seu personagem com o espírito protetor, paternal e sensível em relação à sua filha, interpretada por Purnell, que representa aqui um papel bem similar ao do Ciborgue em “Liga da Justiça de Zack Snyder”, no quesito de ser a “alma” do filme. Reguera equilibra muito bem o caráter empoderador de uma mercenária com a sensibilidade de um possível interesse amoroso para o protagonista, transformando sua personagem em uma das melhores do longa-metragem. Como alívios cômicos, temos ótimas performances de Tig Notaro e Matthias Schweighöfer. Notaro, como comediante, tem um timing cômico impecável, roubando quase todas as cenas onde sua personagem aparece. Já Schweighöfer chama a atenção do espectador desde seu primeiro segundo em tela, sendo o rouba-cenas definitivo de “Army of the Dead”. A performance dele aqui me lembrou muito do trabalho do Anthony Carrigan como NoHo Hank, um dos melhores personagens de “Barry”, subestimada série da HBO. O personagem dele é engraçado, iniciante quando o assunto é matar zumbis, mas o mais importante é que vemos ele evoluir ao longo da trama, colaborando para que ele seja mais do que somente um alívio cômico. Mal posso esperar para ver “Army of Thieves”, filme derivado dirigido e estrelado por Schweighöfer, que servirá como prólogo para “Army of the Dead”. Como os badasses fortões obrigatórios, temos boas performances de Omari Hardwick, Nora Arnezeder, Raúl Castillo e Samantha Win, cujos personagens possuem um desenvolvimento reduzido, em comparação com os citados acima, mas são grandes destaques nas várias cenas de ação do filme. E, como os traidores em potencial (porque, convenhamos, eles sempre existem), temos o Hiroyuki Sanada, o Theo Rossi e o Garrett Dillahunt, que conseguem fazer o espectador odiá-los com todas as forças, o que é ótimo.

(One of the greatest strengths of “Army of the Dead” is the welcoming diversity of its cast, which is extremely talented and charismatic. The main trio of characters, portrayed by Dave Bautista, Ella Purnell and Ana de la Reguera, has chemistry to spare. Bautista manages to effectively blend his character's brute force with the protective, paternal and sensible spirit he assumes towards his daughter, portrayed by Purnell, who represents here a role similar to that of Cyborg in “Zack Snyder's Justice League”, when it comes to being the “soul” of the film. Reguera manages to balance really well the empowering character of a female mercenary with the sensibility of a potential love interest for the main character, which transforms her into one of the film's best characters. As comic reliefs, we have great performances by Tig Notaro and Matthias Schweighöfer. Notaro, as a comedian, has flawless comic timing, stealing nearly every scene her character appears onscreen. Schweighöfer, on the other hand, captures the viewer's attention from his first second onscreen, being the definitive scene-stealer of “Army of the Dead”. His performance here reminded me a lot of Anthony Carrigan's work as NoHo Hank, one of the best characters in “Barry”, a criminally underrated HBO show. His character is funny, a beginner when it comes to killing zombies, but most importantly, we see him evolve throughout the plot, collaborating for him to be more than just your regular comic relief. I can't wait to watch “Army of Thieves”, a spin-off film directed and starring Schweighöfer, which will serve as a prologue to “Army of the Dead”. As the obligatory strong badasses, we have good performances by Omari Hardwick, Nora Arnezeder, Raúl Castillo and Samantha Win, whose characters have a reduced development, if compared to those mentioned above, but are great highlights in the film's several action scenes. And, as the potential traitors (because, let's face it, they always exist), we have Hiroyuki Sanada, Theo Rossi and Garrett Dillahunt, who succeed in making the viewer hate them entirely, which is great.)



Como em todo filme de Zack Snyder, os aspectos técnicos de “Army of the Dead: Invasão em Las Vegas” são bem grandiosos, o que faz o espectador duvidar do orçamento baixíssimo de US$70 milhões, se comparado aos grandes blockbusters da Marvel. A direção de fotografia, feita pelo próprio diretor, é bem precisa, seguindo exatamente todos os princípios esperados de um filme de Snyder. Cenas de ação em câmera lenta, panorâmicas que mostram a grandiosidade dos cenários, sequências altamente violentas que mostram mortes explícitas em close-up, tudo está presente aqui, reforçando o controle do diretor sobre sua própria obra. A montagem da Dody Dorn, responsável pela edição dos primeiros filmes de Christopher Nolan, é cirúrgica, especialmente durante as sequências de ação, cortando e prolongando as cenas onde for necessário. A trilha sonora instrumental do Tom Holkenborg, responsável por uma das melhores trilhas de filmes de ação dos últimos tempos com seu trabalho em “Mad Max: Estrada da Fúria”, é frenética, atmosférica e especialmente presente nas cenas de ação. Além das faixas de Holkenborg, a trilha conta com ótimas canções de Elvis Presley, Creedence Clearwater Revival e The Cranberries, que ajudam a construir a vibe misturada de Las Vegas com zumbis. Mas o mais impressionante nos aspectos técnicos do filme fica com os efeitos visuais. Fazendo uso de uma mistura entre efeitos práticos e CGI (o qual é utilizado de forma bem moderada, de modo que não fica artificial), as equipes de efeitos, maquiagem e penteado fizeram um trabalho primoroso em transformar os zumbis do filme em criaturas extremamente realistas. Claro, não tão realistas como os de “Madrugada dos Mortos”, mas mesmo assim, muito próximos. E o realismo dos antagonistas nem é o mais impressionante, quando se diz respeito aos efeitos visuais de “Army of the Dead”. As cenas com a personagem da Tig Notaro, que substituiu o ator Chris D'Elia, demitido por acusações de assédio, foram concebidas inteiramente na pós-produção, sendo feitas durante a pandemia, com nada mais do que a atriz e uma tela de chroma key. Isso permitiu que a substituição de D'Elia por Notaro fosse quase imperceptível no projeto final. E essa escolha extremamente arriscada funcionou perfeitamente, tanto que se eu não tivesse descoberto que essa façanha tinha acontecido, nunca teria percebido o quão eficiente ela foi no corte final.

(As it happens in every Zack Snyder film, the technical aspects for “Army of the Dead” have a great sense of grandeur, which makes the viewer highly doubt its ridiculously low budget of US$70 million, if compared to Marvel's grand blockbusters. The cinematography, helmed by the director himself, is really precise, following exactly every principle we've come to expect from a Snyder film. Action scenes in slow motion, wide shots that show the greatness of the environments explored, highly violent sequences that display explicit deaths in close-up, everything is present here, reinforcing the director's control over his own work. The editing by Dody Dorn, who was responsible for putting together Christopher Nolan's early films, is extremely surgical, especially during the action sequences, cutting and extending the scenes when necessary. The original score by Tom Holkenborg, who gave us one of the best action movie scores with his work in “Mad Max: Fury Road”, is frenetic, atmospheric and especially present in the action scenes. Besides Holkenborg's original tracks, the soundtrack relies on great songs by Elvis Presley, Creedence Clearwater Revival and The Cranberries, which help reinforcing the mixed vibe of Las Vegas meets zombies. But the most impressive thing about the film's technical aspects stays with the visual effects. Making use of a mixture between practical effects and CGI (which is used moderately, so that it doesn't get artificial), the effects, make-up and hairstyling teams do a marvelous job in transforming these zombies into extremely realistic creatures. Sure, not as realistic as those in “Dawn of the Dead”, but still, pretty close. And the antagonists' realism isn't even the most impressive thing, when it comes to the visual effects in “Army of the Dead”. The scenes with Tig Notaro's character, who replaced actor Chris D'Elia, fired over sexual harassment accusations, were conceived entirely during post-production, being made during the pandemic, with nothing more than the actress herself and a chroma key screen. That allowed D'Elia's replacement with Notaro to be almost imperceptible in the final project. And that extremely risky choice ended up working perfectly, as if I hadn't discovered that earlier, I would've never realized how efficient it was in the final cut.)



Resumindo, “Army of the Dead: Invasão em Las Vegas”, mesmo não sendo perfeito, é mais um longa-metragem extremamente divertido de Zack Snyder. Armado com personagens muito bem desenvolvidos, um elenco diverso e talentoso que esbanja carisma e cenas de ação primorosas que fazem um ótimo uso de efeitos visuais, o filme entrega naquilo que prometeu, e oferece uma promissora franquia em potencial para a Netflix.

Nota: 9,0 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “Army of the Dead”, although not a perfect flick, is yet another extremely entertaining, fun film by Zack Snyder. Armed with very well developed characters, a diverse, talented cast that overflows with charisma and showstopping action scenes that make a great use of visual effects, the film delivers in what it promised, and offers a very promising potential franchise for Netflix.

I give it a 9,0 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)

sábado, 1 de maio de 2021

"A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas": uma aventura cativante e inventiva para toda a família (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para falar sobre a nova animação disponível no catálogo original da Netflix! Mesmo sofrendo de uma pequena falta de originalidade no ponto de vista narrativo, o filme em questão compensa suas falhas com personagens instantaneamente carismáticos, um senso de humor perfeitamente afiado, mensagens necessárias sobre família e a nossa dependência em relação à tecnologia, e um estilo visual vibrante, colorido e inventivo. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to talk about the new animated film that's available on Netflix's original catalog! Although it suffers from a small lack of originality in a narrative perspective, the film I'm about to analyze makes up for its flaws with instantly charismatic characters, a perfectly-timed sense of humor, necessary messages on family and our dependence regarding technology, and a vibrant, colorful and inventive visual style. So, without further ado, let's talk about “The Mitchells vs. The Machines”. Let's go!)



O filme acompanha Katie Mitchell (voz original de Abbi Jacobson), uma jovem aspirante a cineasta que frequentemente se encontra em conflitos com seu pai, Rick (voz original de Danny McBride). Faltando um dia para Katie viajar para a faculdade, Rick acidentalmente quebra o seu laptop. Em uma tentativa desesperada de reunir a família, ele cancela o vôo da filha e organiza uma viagem de carro pelos EUA para levar Katie para a faculdade, acompanhados pela mãe, Linda (voz original de Maya Rudolph), o irmão caçula, Aaron (voz original de Mike Rianda) e o cachorro, Monchi. Mas uma revolta de robôs liderada pela assistente virtual Pal (voz original de Olivia Colman) força Rick e Katie a superarem suas diferenças e a trabalharem em família, para salvar o mundo.

(The film follows Katie Mitchell (voiced by Abbi Jacobson), a young aspiring filmmaker who frequently finds herself in conflict with her father, Rick (voiced by Danny McBride). One day before Katie leaves for college, Rick accidentally breaks her laptop. In a desperate attempt to bring the family together, he cancels his daughter's flight and organizes a road trip through the United States to take Katie to college, accompanied by her mother, Linda (voiced by Maya Rudolph), her younger brother, Aaron (voiced by Mike Rianda) and their dog, Monchi. But a robot uprising led by virtual assistant Pal (voiced by Olivia Colman) forces Rick and Katie into overcoming their differences and working together as a family, in order to save the world.)



Esse filme tinha muito potencial para ser um sucesso, na época em que foi anunciado, sob o título original de “Super Conectados”. Como o primeiro filme da Sony Pictures Animation após a vitória merecida de “Homem-Aranha no Aranhaverso” no Oscar, “A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas” reunia o estúdio com os visionários produtores de “Aranhaverso”, Phil Lord e Christopher Miller, que também foram responsáveis por animações como “Tá Chovendo Hambúrguer” e “Uma Aventura LEGO”. Teoricamente, teria tudo para ser mais um sucesso no catálogo da Sony Pictures Animation. Mas aí, o COVID-19 apareceu, adiando o filme por tempo indeterminado. Muito tempo se passou sem nenhuma novidade, até o anúncio de que a Netflix, que depois iria fazer um contrato especial com a Sony, tinha comprado os direitos de distribuição do filme em questão. Uma campanha de marketing foi organizada, revelando muito mais sobre o enredo e o estilo visual do filme, o que aumentou consideravelmente as minhas expectativas em particular. E acho que nem é preciso dizer que eu adorei “A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas”. Com isso dito, vamos falar sobre o roteiro. Escrito pelos co-diretores do filme, Mike Rianda e Jeff Rowe, que trabalharam extensivamente em uma das minhas séries favoritas, “Gravity Falls: Um Verão de Mistérios”, o enredo de “A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas” é inspirado nas experiências de Rianda com a sua própria família. Só por isso, o filme já ganha um ponto na minha perspectiva, por ser um projeto essencialmente pessoal para os realizadores. Se eu fosse comparar o filme com alguma obra anterior, em termos narrativos, “A Família Mitchell” seria uma mistura do estilo de road movie de “Férias Frustradas”, com a abordagem high-tech de “Tá Chovendo Hambúrguer” e a capacidade emocional de “Gravity Falls”. Para falar a verdade, várias cenas desse filme parecem ser inspiradas em cenas dessas obras. Há três sequências em particular que me chamaram muito a atenção por serem extremamente similares às de “Tá Chovendo Hambúrguer”, dirigida pelos produtores Phil Lord e Chris Miller. Até a própria dinâmica entre pai e filha em “A Família Mitchell” é muito parecida com a do Flint com o pai dele no filme de 2009. Mas, no meu ponto de vista, essa suposta reciclagem de cenas usadas em filmes anteriores não importa no final das contas, porque creio que o principal objetivo de Rianda e Rowe não era criar uma história completamente original, mas sim uma em que o público possa se identificar com as situações familiares retratadas. Pensando nessa perspectiva, os roteiristas acertaram em cheio. Há várias sequências que retratam situações hilárias que basicamente toda família passou ou vai passar, ao viajarem de carro. Os roteiristas também fizeram um trabalho impecável no estabelecimento dos arquétipos de cada um dos membros da família: o pai é “da velha guarda” e não muito apegado às tendências tecnológicas; a mãe dá o suporte emocional que a família precisa para se unir, instruindo os membros emocionalmente para que eles superem suas diferenças e se entendam; a filha mais velha é super conectada e antenada nas tendências tecnológicas desconhecidas pelo pai, e o irmão caçula é mais próximo da irmã e um pouquinho excêntrico. Essa dinâmica funciona de forma perfeita, sendo o núcleo principal do enredo. Um recurso narrativo usado de forma recorrente pelos roteiristas é a desconstrução dos diálogos dos personagens. Vou dar um exemplo: há uma cena onde o pai da Katie diz que conseguiu se inscrever em um canal no YouTube com facilidade; aí, quase que instantaneamente, o filme corta para uma cena similar à de um filme de terror, onde o pai claramente mostra dificuldades em manusear um computador. Quase todas essas cenas de desconstrução de diálogo são feitas para alívio cômico e, felizmente, todas elas funcionam. Mas, além dessa superfície hilária, composta de vários momentos que irão fazer o espectador cair na gargalhada, há um aspecto emocional intrínseco à história, que serve como uma espécie de abordagem para vários temas surpreendentemente relevantes para os dias de hoje. Bom, primeiramente, há o tema predominante da família. Tanto no aspecto dos 4 membros trabalharem em equipe quanto na dinâmica contrastante entre o pai e a filha, o tema é presente durante todo o tempo de projeção de 1 hora e 50 minutos. Há três momentos particularmente cativantes que expressam a mensagem do poder e da importância da família de forma extremamente eficiente. Como os pais desistem dos seus sonhos para servirem à sua família recém-formada, como é difícil para os filhos se afastarem dos pais e vice-versa. É algo surpreendentemente emocionante, que eu realmente não esperava de uma animação que envolvia uma revolta de robôs. Além do tema familiar, há também uma crítica ao apego da humanidade à tecnologia, apontando alguns males resultantes desta dependência, como a obsolescência programada (que serve de motivação para a principal antagonista do filme), assim como alguns benefícios que ela nos traz. Há duas cenas que representam de forma perfeita estes dois opostos, equilibrando um senso de humor exagerado com um realismo impressionante. Resumindo, o roteiro de “A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas” é um dos raros casos onde os roteiristas dispensam a originalidade da narrativa para investir em temas surpreendentemente relevantes para os dias de hoje, e acabam acertando em cheio. Realmente gostaria de ver esses personagens novamente, tamanho o carisma deles, talvez até em um crossover com “Tá Chovendo Hambúrguer”. Por favor, faça isso acontecer, Sony Pictures Animation!

(This film had a lot of potential to be a hit, in the time it was announced, under the title of “Connected”. As Sony Pictures Animation's first feature since their much deserved win at the Oscars for “Spider-Man: Into the Spider-Verse”, “The Mitchells vs. The Machines” reunited the studio with the visionary producers of “Spider-Verse”, Phil Lord and Christopher Miller, who were also responsible for successful animated films, such as “Cloudy with a Chance of Meatballs” and “The LEGO Movie”. Theoretically, it would have everything in its hands to be yet another hit in Sony Pictures Animation's catalog. But then, COVID-19 showed up, delaying the film indefinitely. A long time had passed without any news on it, until Netflix, who would later sign a streaming contract with Sony, had announced that it had bought the film's distribution rights. A marketing campaign was organized, unveiling a lot more info on its plot and visual style, which considerably enhanced my particular expectations for it. And I think I don't even have to say that I absolutely loved “The Mitchells vs. The Machines”. With that said, let's talk about the screenplay. Written by the film's co-directors, Mike Rianda and Jeff Rowe, who extensively worked on one of my favorite shows of all time, “Gravity Falls”, the plot of “The Mitchells vs. The Machines” is inspired on Rianda's experiences with his own family. From that fact alone, the film already gets a positive point in my perspective, for being something essentially personal to the people who made it. If I were to compare it with any other previous film or TV show, “The Mitchells” would be a mix between the road movie style of “National Lampoon's Vacation”, with the high-tech approach of “Cloudy with a Chance of Meatballs” and the emotional capacity of “Gravity Falls”. To tell the truth, several scenes from this movie seem to be inspired by scenes from these works. There are three particular sequences that caught my attention for being extremely similar to those in “Cloudy with a Chance of Meatballs”, directed by producers Phil Lord and Chris Miller. Even the father-daughter dynamics in “The Mitchells” is really alike that of Flint and his father in the 2009 film. But, in my point of view, this recycling of scenes used in previous films doesn't matter after all, as I believe that Rianda and Rowe's main objective with this film isn't creating a completely original story, but to create one where the audience can be able to see themselves in the family situations that are portrayed here. Thinking through that perspective, the screenwriters knocked it out of the park. There are several sequences that portray hilarious situations that every family has gone through or will go through, when on a road trip. The screenwriters also did a flawless job in establishing each of the family members' archetypes: the father is “old school” and not too attached to the technological trends; the mother gives the emotional support that the family needs to unite themselves, emotionally instructing each of the members into overcoming their differences and understanding each other; the older daughter is super connected and into all the technological trends that are unknown to her father, and the younger brother is really close to his sister and a little eccentric. This dynamic works perfectly, as the story's main conductive force. A narrative resource that has been used by the screenwriters in a recurring manner is the de-construction of the characters' dialogue. Let me give you an example: there's a scene where Katie's father states that he managed to subscribe to a YouTube channel with ease; then, almost immediately, the film cuts to a horror-like scene, where the father clearly shows difficulties in doing so. Almost every one of these dialogue de-construction scenes is made for comic relief, and fortunately, all of them land perfectly. But, beyond this hilarious surface, there's an emotional aspect that's essential to the story, which serves as a method of approach for themes that are surprisingly relevant for today. Well, first, there's the predominant theme of family. Both in the perspective of the 4 members working together and in the contrasting father-daughter dynamic, that theme is present throughout the entire runtime of 1 hour and 50 minutes. There are three particularly captivating moments that express the message on the power and importance of family in an extremely efficient way. How parents give up on their dreams to serve their recently-formed family, how hard it is for children to be apart from their parents and vice-versa. It's something surprisingly emotional, which I totally didn't expect from an animated film involving a robot uprising. Besides the family theme, there's also a commentary on humanity's attachment to technology, pointing out some negative outcomes that this dependence can bring, such as programmed obsolescence (which is the antagonist's main motivation), as well as some of its benefits on our lives. There are two scenes that perfectly represent these two opposites, balancing an exaggerated sense of humor with an impressive realism. To sum it up, the screenplay for “The Mitchells vs. The Machines” is one of the rare cases where screenwriters put the narrative's originality aside in order to invest on surprisingly relevant themes for today's times, and end up hitting the jackpot. I'd really like to see these characters again, due to their enormous charisma, maybe even in a crossover with “Cloudy with a Chance of Meatballs”. Please, make this happen, Sony Pictures Animation!)



Os personagens são, provavelmente, a maior força de “A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas”, especialmente a família titular, que é muito bem desenvolvida, tanto individualmente quanto em conjunto. Todos os cinco membros têm, pelo menos, um momento para brilharem, e eles constroem suas identidades ao longo do bem calculado tempo de duração. Eu amei a personalidade da Katie desde o primeiro momento que ela apareceu em tela. A imaginação dela, o amor dela pelo cinema, o caráter inventivo que ela mostra ao longo do enredo. Creio que se eu fosse mais apegado ao cinema do que ao jornalismo, em questões acadêmicas, eu me identificaria muito com a Katie. Ela encontra um contraste perfeito na figura do pai, que, à primeira vista, nos é apresentado como um obstáculo que a protagonista precisa superar para perseguir seus sonhos. Mas lentamente, e de forma bem orgânica, passamos a ver o Rick sob outra perspectiva, permitindo que o espectador crie simpatia pelos dois lados da moeda. A mãe e o irmão mais novo começam o filme como suportes emocionais para o Rick e a Katie, respectivamente, influenciando os dois a superarem suas diferenças e se entenderem. Mas, de pouco a pouco, os dois vão criando suas próprias identidades. O Aaron, o caçula da família, é uma das principais fontes de alívio cômico, devido à sua excentricidade, obsessão por dinossauros e dificuldade de falar com garotas, mas ele também compartilha alguns momentos emocionalmente potentes com a Katie. A Linda, a mãe, é a menos desenvolvida dos membros da família, mas ela protagoniza um dos melhores momentos do filme, perto da conclusão. O cachorro é, de longe, um dos melhores personagens do longa, roubando literalmente toda cena em que ele aparece. Eu gostei bastante da assistente virtual interpretada pela Olivia Colman, não só pelo fato dela ser uma antagonista com uma motivação compreensível, mas também por apontar reflexões interessantes sobre a nossa relação com a tecnologia. Há também dois personagens robôs que rendem boas risadas; e uma família “perfeita”, interpretada pelo casal John Legend e Chrissy Teigen, que vira uma obsessão para a Linda, o que resulta em momentos engraçados (pelo contraste gritante entre as personalidades das duas famílias) e, ao mesmo tempo, reflexivos sobre como nós podemos tentar fazer nossa família parecer igual ou até melhor do que uma família “em perfeita sincronia”.

(The characters are, probably, the biggest strength of “The Mitchells vs. The Machines”, especially the title family, which is really well-developed, both individually and united. All five members have, at least, one moment to shine, and they manage to build their identities throughout the well-calculated runtime. I loved Katie's personality from her first moment onscreen. Her imagination, her love for movies, the inventive character she shows throughout the plot. I believe that if I were more attached to cinema than journalism, academically speaking, I'd relate a lot to Katie. She finds a perfect contrast in the figure of her father, who, at first, is presented to us as an obstacle the protagonist needs to overcome in order to follow her dreams. But slowly, and in a very organic way, we end up seeing Rick under a whole new perspective, allowing the viewer to create symapthy with both sides of the coin. The mother and the younger brother start off the film as emotional supports to Rick and Katie, respectively, influencing the two of them into overcoming their differences and understanding each other. But, little by little, they create separate identities of their own. Aaron, the youngest in the family, is one of the film's main sources of comic relief, due to his eccentricity, obsession with dinosaurs and difficulty in talking to girls, but he also shares some emotionally potent moments with Katie. Linda, the mother, is the least developed of the family members, but she's a central figure in one of the film's best moments, near its conclusion. The dog is, by far, one of the feature's best characters, literally stealing every scene he's in. I really liked the virtual assistant voiced by Olivia Colman, not only because she's an antagonist with an understandable motivation, but also because she points out interesting reflections on our relationship with technology. There are also two robot characters that give us some good laughs; and a “perfect” family, portrayed by real-life couple John Legend and Chrissy Teigen, who becomes an obsession for Linda, resulting in very funny moments (because of the extreme contrast between the two families' personalities), and at the same time, moments that make us think about how we can try to make our family look the same or even better than a family in “perfect synchrony”.)



Eu gostei bastante do aspecto visual de “A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas”, principalmente pelo fato da Sony Pictures Animation não tentar replicar o mesmo método revolucionário de “Homem-Aranha no Aranhaverso”, mas sim investir em um visual único e diferenciado, em relação ao seu antecessor. A animação 3D utilizada aqui mistura a rigidez expressiva dos gráficos presentes nos jogos da Telltale, como “The Walking Dead”, ou talvez obras como “Snoopy e Charlie Brown: Peanuts, o Filme”, com a elasticidade frenética que a própria Sony alcançou em filmes como “Hotel Transilvânia”, e essa mistura, no geral, funciona de forma bem eficiente. É um filme que irá agradar muito os pequenos, por ser bem vibrante e por possuir uma paleta de cores bastante chamativa. Um aspecto técnico que me chamou muito a atenção foi o fato dos artistas usarem certos recursos visuais para permitir que o espectador veja a história através dos olhos da Katie. Alguns desenhos que acompanham os movimentos corporais da personagem, efeitos de montagem que se misturam ao que está acontecendo em tela, como se o filme que estamos vendo fosse algo feito pela própria Katie, o que eu creio que tenha sido a intenção dos realizadores. Assim como “Homem-Aranha no Aranhaverso”, “A Família Mitchell” é um filme que equilibra muito bem a beleza visual da animação com o frenesi da narrativa, nos inspirando a pausar certos momentos, só pra pegar todos os detalhes que os artistas colocaram naquele quadro em particular. Há alguns detalhes bem legais para cinéfilos, como pequenos rabiscos na mão da Katie, meias que possuem um padrão facilmente identificável de um certo filme de terror, e pôsteres de filmes conhecidos na parede de certos ambientes. É uma obra de animação muito bem montada, especialmente nas partes que misturam os personagens com os efeitos utilizados nos filmes caseiros da Katie, e nas cenas de ação, que são bem frenéticas e muito bem elaboradas. E, assim como em quase todo filme que tem Phil Lord e Chris Miller na produção, temos a trilha sonora original do Mark Mothersbaugh, cujas composições inspiradas no gênero eletrônico ajudam a evocar a vibe de ficção-científica que um filme envolvendo uma revolta de robôs requer. Ou seja, tecnicamente, “A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas” é impecável.

(I really liked the visual aspect of “The Mitchells vs. The Machines”, especially because of the fact that Sony Pictures decided not to try and replicate the same revolutionary method as “Spider-Man: Into the Spider-Verse”, but to invest in an unique, distinctive visual, if compared to its predecessor. The 3D animation used here mixes the expressive rigidness of the graphics in Telltale games, such as “The Walking Dead”, or maybe works like “The Peanuts Movie”, with the fast-paced elasticity that Sony itself was able to reach in films like “Hotel Transylvania”, and that mix, generally, works in a very efficient way. It's a film that'll be very much enjoyed by the little ones, for being a visually vibrant animated work and for possessing a very appealing color palette. A technical aspect that caught my attention was the fact that the artists used certain visual resources to allow the viewer to see the story through Katie's eyes. Some drawings and doodles that follow the character's body movements, montage effects that mingle with whatever's happening onscreen, as if the film we're watching was something that Katie herself had mande, which I believe it was the filmmakers' intention. Just like “Spider-Man: Into the Spider-Verse”, “The Mitchells” is a film that deftly balances the animation's visual beauty with the narrative's fast pacing, inspiring us to pause certain moments, just so we can be able to catch every single detail that the artists put in that particular frame. There are some pretty cool details for film buffs, such as small scribbling in Katie's hand, socks that have an easily identifiable pattern from a certain horror film, and posters for acclaimed films hanging in the wall of certain environments. It's a work of animation that's very well put together, especially in the parts that mix the characters with the effects used in Katie's home movies, and in the action scenes, which are really fast-paced and very elaborate. And, as it happens with basically every film that has Phil Lord and Chris Miller as producers, we have Mark Mothersbaugh's original score, whose compositions inspired by the electronic genre help evoke the sci-fi vibe that a movie involving a robot uprising requires. Meaning that, technically, “The Mitchells vs. The Machines” is a flawless work of animation.)



Resumindo, “A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas” é mais um sucesso da Sony Pictures Animation. Munido de uma história envolvente, um senso de humor afiado, mensagens surpreendentemente relevantes para a atualidade, personagens instantaneamente carismáticos e aspectos técnicos impecáveis, o filme de estreia de Mike Rianda e Jeff Rowe é extremamente divertido, e merece ser visto com toda a família!

Nota: 9,5 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “The Mitchells vs. The Machines” is another success from Sony Pictures Animation. Armed with an involving story, a sharp sense of humor, surprisingly relevant messages for today's times, instantly charismatic characters and flawless technical aspects, the directorial debut of Mike Rianda and Jeff Rowe is extremely fun, and deserves to be seen with the whole family!

I give it a 9,5 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)