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segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

"Não Olhe Para Cima": uma sátira hilária, afiada, provocante e reflexiva (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou (FINALMENTE) de volta, para falar sobre um dos lançamentos mais recentes no catálogo original da Netflix! Contando com a presença de um elenco invejoso de tão estelar; um roteiro que tem paralelos diretos, sarcásticos e descarados com a realidade e aspectos técnicos que acentuam e auxiliam o senso de humor ácido da obra, o filme em questão é, até o momento, a melhor representação cinematográfica da realidade durante a pandemia de COVID-19, com o diretor Adam McKay consolidando seu lugar como um mestre da sátira. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Não Olhe Para Cima”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm (FINALLY) back, in order to talk about one of the most recent releases on Netflix's original catalog! Relying on a cast that's so talented, it's even dreamy; a screenplay that has direct, sarcastic and unfiltered parallels to reality and technical aspects that heighten and help the work's acid sense of humor, the film I'm about to review is, up until this point, the best cinematic representation of reality during the COVID-19 pandemic, with director Adam McKay cementing his place as a master of satire. So, without further ado, let's talk about “Don't Look Up”. Let's go!)



Após uma equipe na Universidade de Michigan descobrir a existência de um enorme cometa que irá colidir com a Terra em um período de 6 meses, resultando em um evento apocalíptico que irá exterminar toda a vida no planeta, o filme acompanha os astrônomos Dr. Randall Mindy (Leonardo DiCaprio) e a doutoranda Kate Dibiasky (Jennifer Lawrence), que embarcam em uma turnê para tentar alertar as autoridades e a sociedade do país sobre a iminente chegada do cometa, através de reuniões com a Presidente dos EUA (Meryl Streep) e seu filho Chefe de Gabinete (Jonah Hill) e de entrevistas em programas de TV. O problema é que ninguém parece dar muita bola.

(After a team at Michigan State University finds out the existence of an enormous comet that will collide with Earth in a period of 6 months, resulting in an apocalyptic event that will exterminate all life on the planet, the film follows astronomers Dr. Randall Mindy (Leonardo DiCaprio) and graduate student Kate Dibiasky (Jennifer Lawrence), who embark on a media tour to try and warn the country's authorities and society on the comet's imminent arrival, through meetings with the President of the United States (Meryl Streep) and her Chief of Staff son (Jonah Hill) and through interviews on gossip TV shows. The problem is nobody seems to give a damn.)



É, eu nem preciso dizer que eu estava bastante animado para assistir “Não Olhe para Cima”. A primeira razão seria a direção do Adam McKay, diretor de filmes de comédia mais conhecido por ter criado a franquia “O Âncora”, protagonizada por Will Ferrell, cujo primeiro filme rendeu sucesso suficiente para ganhar uma sequência, intitulada “Tudo por um Furo”, lançada em 2013. Fora da comédia mais comercial, McKay vem entregando filmes mais dramáticos nos últimos 5 anos, como “A Grande Aposta” (filme que lhe rendeu o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado) e “Vice”, biografia de humor negro sobre o ex-vice-presidente dos EUA Dick Cheney. Eu sou enorme fã de “O Âncora” e de “Vice”, embora não tenha apreciado “A Grande Aposta” da maneira que eu esperava apreciar.

A segunda (e mais importante) razão para eu estar animado para assistir ao novo filme de McKay seria o seu elenco. E que elenco, meus amigos! Só de vencedores do Oscar, temos Leonardo DiCaprio, Jennifer Lawrence, Cate Blanchett, Mark Rylance e Meryl “Rainha” Streep. Passando aos indicados ao Oscar, temos Jonah Hill e Timothée Chalamet. E, depois, temos nomes como Rob Morgan, Ron Perlman, Melanie Lynskey, Tyler Perry, Himesh Patel, Ariana Grande e o rapper Kid Cudi, que já são bem frescos na consciência do público em geral. A boa expectativa em relação à um elenco desses é que o espectador terá a chance de ver estrelas como as citadas contracenando juntas. O lado ruim é que nos faz imaginar se o orçamento inteiro fora gasto para escalar a nata de Hollywood, com a equipe e a direção deixando o roteiro em segundo plano.

Mas, em uma daquelas vezes onde alguém fica extremamente grato por estar completamente equivocado, fico muito feliz em dizer que o roteiro não só é o verdadeiro destaque do filme, mas também ajuda o elenco estelar a extrair performances maravilhosas, devido aos paralelos claros e nada indiretos ao período que o mundo inteiro está enfrentando no momento. Esta combinação entre humor negro e ácido e um espelhamento da realidade acaba por fazer do novo filme de Adam McKay uma obra provocante, reflexiva, sagaz e até necessária.

Ok, com isso dito, vamos falar do roteiro. Escrito pelo próprio diretor, baseado em uma história elaborada com David Sirota, o roteiro de “Não Olhe Para Cima” retorna McKay às raízes de seu trabalho em comédias como “O Âncora”, munido de um senso de humor extremamente satírico que, certamente, não cairá aos agrados de todos. Mas, pelo menos para mim, funcionou perfeitamente com a vibe que o filme quis transmitir, resultando em momentos hilários onde a graça é especialmente evidente por estabelecer paralelos com o mundo real.

O tom de “Não Olhe Para Cima” foi uma das maiores surpresas para mim. O trailer me deu a impressão de que seria uma comédia normal, ou talvez um filme que misturaria comédia e drama, como os do Judd Apatow, mas eu amei como o diretor conseguiu inserir alguns momentos mais sérios, que servem de contraste quase perfeito com as várias piadinhas hilárias espalhadas pelo tempo de duração sucinto de 2 horas e 20 minutos do filme. Algo que me agradou bastante foi rever aqui alguns velhos hábitos de McKay utilizados em “O Âncora”, como o uso inventivo dos aspectos técnicos para acentuar o senso de humor do filme e a presença de piadas recorrentes, especialmente aquelas em relação à um personagem em particular.

Falando nos personagens, o diretor faz um ótimo trabalho em não desenvolvê-los como personagens em si, e sim como arquétipos de personalidades que se tornaram frequentes no mundo real, especialmente durante a pandemia de COVID-19, e é aqui onde o roteiro de McKay brilha: na tentativa pra lá de arriscada de transmitir críticas afiadíssimas, sarcásticas, descaradas e nada indiretas à vários aspectos da sociedade, especificamente durante esse período difícil em que estamos vivendo, sejam estes aspectos a cobertura de veículos midiáticos e a recepção do público em relação à estes conteúdos, o governo ou a divisão ideológica visível entre a população mundial.

Só no aspecto da mídia, há uma incontável série de cenas que tratam de temas que são essencialmente relevantes para os dias de hoje: fake news; a necessidade que a mídia tem de dourar a pílula, quando o assunto for difícil demais para digerir; o foco dos veículos midiáticos em abordar assuntos banais, que não farão a menor diferença no público, ao invés de focar no que importa; a ignorância da própria audiência ao digerir conteúdos midiáticos, minerando estes conteúdos para gerar memes e coisas do tipo; pessoas que ganham fama em detrimento daquelas que realmente a merecem; pessoas inteligentes que não possuem credibilidade por serem nativos de um território com menos autoridade. Há pelo menos duas cenas que o mundo todo precisa ver, sem exceções, pois elas expõem o que há de errado com a mídia durante a pandemia de COVID-19.

A política também é um tema proeminente no roteiro de McKay, e eu gostei bastante de como o diretor conseguiu fazer com que, ao mesmo tempo, as críticas fossem direcionadas à governos específicos (cof, cof, EUA e Brasil, cof, cof), e também assumirem um tom universal e imparcial, como se McKay estivesse apontando o dedo para todo lider político no planeta, não importa o partido. Da ignorância inicial do governo em relação à um iminente evento de extrema importância, à investida em tal evento para esconder algum podre recente ou passado, à meta de obter fama e votos a partir de um posicionamento político sobre esse evento, ao ajuntamento de um exército de pessoas que acreditam cegamente nas ideologias inexatas dessa figura, há também uma amálgama de críticas sociopolíticas em “Não Olhe Para Cima”, e tais críticas acabam por transformar o filme em uma obra provocante, reflexiva e, principalmente, atual.

Para finalizar essa parte do roteiro, gostaria de dizer que, até o presente momento, nenhum filme retratou os comportamentos da sociedade mundial durante a pandemia de COVID-19 de forma tão afiada e coerente do que “Não Olhe Para Cima”. É um dos roteiros mais originais dos últimos tempos, sendo hilário, sério, provocante e realista ao mesmo tempo. Todo mundo, independente do posicionamento que têm sobre a pandemia e a vacinação, precisa assistir à nova sátira de Adam McKay. Se não pelos temas e pelo retrato satírico da realidade, pela vindoura temporada de premiações, onde o filme promete se destacar nas principais categorias de cada cerimônia.

(Yeah, I don't even have to say that I was very excited to watch “Don't Look Up”. The first reason why would be its direction by Adam McKay, a comedy film director best known for creating the “Anchorman” franchise, led by actor Will Ferrell, where its first movie made enough success to spawn a sequel, titled “Anchorman 2: The Legend Continues”, released in 2013. Out of the blockbuster comedy spectrum, McKay has been delivering more dramatic films in the last 5 years, such as “The Big Short” (a film that won him the Oscar for Best Adapted Screenplay) and “Vice”, a black comedy biopic about former Vice-President of the US Dick Cheney. I'm a huge fan of “Anchorman” and “Vice”, despite not appreciating “The Big Short” as I expected to.

The second (and most important) reason why I was excited to watch McKay's new film was its cast. And what a cast, ladies and gentlemen! When it comes to Oscar winners, we have the likes of Leonardo DiCaprio, Jennifer Lawrence, Cate Blanchett, Mark Rylance and Meryl “Queen” Streep. Moving on to Oscar nominees, we have Jonah Hill and Timothée Chalamet. And, then, we have names like Rob Morgan, Ron Perlman, Melanie Lynskey, Tyler Perry, Himesh Patel, Ariana Grande and rapper Kid Cudi, which are already pretty fresh in the general audience's collective consciousness. The good expectations about a cast like this one is that the viewer will finally get to see stars like these sharing the screen together. The bad side is that it makes us wonder if the entire budget was spent to cast Hollywood's cream of the crop, with the crew and direction leaving the screenplay behind.

But, in one of those times where someone feels extremely thankful for being completely mistaken, I'm really glad to say that, not only is the screenplay the film's greatest highlight, but it also helps its stellar cast to extract great performances, due to the clear and not-subtle-at-all parallels to the period that the whole world is going through right now. This combination between dark and acid humor and a mirroring of reality ends up turning McKay's new film into a provocative, thought-provoking, witty, and even necessary piece of filmmaking.

Okay, with that said, let's talk about the screenplay. Written by the director himself, based on a story co-written with David Sirota, the screenplay for “Don't Look Up” returns McKay to his work's roots in comedy films like “Anchorman”, armed with an extremely satirical sense of humor that'll, certainly, not please every person who takes the time to watch the film. But at least for me, it worked perfectly with the vibe the film wished to convey, resulting in some hilarious moments that are particularly funny because of their parallels with the real world.

The tone of “Don't Look Up” was one of its biggest surprises for me. The trailer gave me the impression that it was going to be some run-of-the-mill comedy, or something that blends comedy and drama, much like Judd Apatow's films, but I loved how the director managed to put in some pretty serious moments, which serve as the perfect contrast with the several jokes and puns scattered throughout the film's succint runtime of 2 hours and 20 minutes. One thing that pleased me a lot was to witness, in this film, some of McKay's old habits that were established in “Anchorman”, such as the inventive use of the technical aspects to enhance the film's sense of humor and the presence of recurring jokes and gags, especially in regards to one particular character.

Speaking of characters, the director does a great job in not developing them as characters themselves, but as archetypes of personalities that became frequent in the real world, especially during the COVID-19 pandemic, and this is where McKay's screenplay has its chance to stand out: in its highly risky attempt of conveying razor-sharp, sarcastic, unfiltered and not at all subtle criticism to several aspects of society, whether those aspects are media coverage and the public's reception to those kinds of content, the government or the visible ideological division between the world population.

Only when it comes to media, there is a countless series of scenes that deal with themes that are essentially relevant to today's times: fake news; the need media has to make news a bit easier to swallow, when they can be hard to chew; the focus of media outlets in talking about meaningless subjects, which will not make any difference in the general public's lives, instead of talking about what really matters; the own audience's ignorance when digesting these media content, mining such contents to generate memes and such; people who gain fame and success on top of the people who really deserve it; smart people who don't have any credibility just because they're native of a territory with less authority. There are, at least, two scenes that the entire world needs to see, no exceptions, as they expose exactly what's wrong with media coverage of the COVID-19 pandemic.

Politics is also a proeminent theme in McKay's screenplay, and I really liked how the director managed to make that, at the same time, the criticism is directed towards specific governments (cough, cough, US and Brazil, cough, cough) and it also assumes an universal, impartial tone, as if McKay was pointing the finger to every political leader in the world, regardless of their political party. From the government's initial ignorance in regards to an extremely important imminent event, to their investment in such an event in order to hide past or present things they didn't want people to know, to the goal of obtaining fame and votes through a political position regarding that event, to the gathering of an entire army of people who blindly believe in this figure's inaccurate ideologies, there are also several real political views and thoughts in “Don't Look Up”, and such criticism ends up making the film more provocative, thought-provoking and, mainly, timely.

To cap off this part on the screenplay, I'd like to say that, until this present day, there hasn't been a film that portrayed the attitudes of world society during the COVID-19 pandemic in such a sharp and coherent way than “Don't Look Up”. It's one of the most original screenplays in recent memory, being simultaneously hilarious, serious, provocative and realistic. Everybody, regardless of their political position when it comes to the pandemic and vaccination, has to watch Adam McKay's new satire. If not for the themes and its satirical portrayal of reality, watch it for next year's award season, where the film promises to stand out in the main categories of each ceremony.)



Como dito anteriormente, a quantidade de talento presente no elenco de “Não Olhe Para Cima” é tão impressionante, que o conjunto de atores deve ser considerado como um recordista de “maior número de pessoas talentosas em uma cena”, juntamente com várias cenas dirigidas por Wes Anderson. McKay faz um trabalho estupendo de colocar cada ator em um arquétipo bem específico de comportamentos da sociedade atual, e a melhor maneira de medir a performance de cada um é justamente comparando cada um aos arquétipos correspondentes.

Vamos começar pelo trio principal de atores: Leonardo DiCaprio, Jennifer Lawrence e Rob Morgan. Eles seriam os heróis da história, e é incrível ver as diferenças na abordagem do iminente evento cataclísmico que cada personagem faz, e é mais incrível ainda ver como isso impacta na relação que eles têm com outros personagens. Faz um bom tempo que eu não via a Jennifer Lawrence atuar tão bem, e dá pra sentir a injustiça pela qual sua personagem está passando, através da performance dela. Entre os três personagens principais, ela é certamente a mais preocupada sobre a iminente chegada do cometa, e os descarregos que ela faz ao longo do filme são, ao mesmo tempo, hilários e devastadores.

Eu amei o quão ingênuo o personagem do DiCaprio começa sendo, expondo dados científicos para tentar adiar o pronunciamento das duras verdades. Mas aí, a partir da segunda metade do filme, há uma desconstrução brilhante dessa ingenuidade para uma honestidade crua e agressiva, a qual culmina em uma das melhores, se não a melhor cena de um filme de 2021 (tirando de super-heróis, porque houveram muitas cenas legais... [Risos]). Certamente vale uma indicação ao Oscar de Melhor Ator. O Rob Morgan fica, basicamente, no mesmo barco que a Jennifer Lawrence, com o seu personagem sendo injustiçado pelo governo e pela sociedade em relação ao descobrimento do cometa, algo que fica ainda mais agravante devido à cor de pele do personagem e do ator.

A Meryl Streep e o Jonah Hill são os representantes do governo, e quem teve a ideia de colocar esses dois como mãe e filho merece um prêmio. Considerando o calibre de Streep e Hill, que já foram reconhecidos pela Academia várias vezes com indicações e (no caso de Streep) vitórias, é quase inacreditável ver atores tão consolidados e consagrados interpretando personagens tão ignorantes, mas Streep e Hill dão um verdadeiro show aqui, roubando a cena em literalmente toda vez em que aparecem. As comparações dos personagens de Streep e Hill à figuras políticas tanto dos EUA quanto do mundo afora são descaradamente evidentes, e não irão agradar todo mundo, mas me divertiram bastante. Eu dou um destaque em especial pro Jonah Hill, pois ele faz um ótimo trabalho em ser absolutamente irritante, e eu acho que ele deveria ser indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, pelas várias pérolas que seu personagem solta ao longo do filme.

Eu gostei bastante da indiferença e do egocentrismo que marcam as performances da Cate Blanchett, do Tyler Perry e do Mark Rylance. É incrível ver como os atores manipulam os eventos noticiados por seus personagens à favor deles, e é incrivelmente triste ver que o que atores estão fazendo em um filme é exatamente o que está acontecendo na vida real, e por isso, vai mais um ponto no placar do roteiro de McKay. As performances dos três atores conseguem expor precisamente o que há de errado na apresentação de programas de notícia e no empreendedorismo tecnológico nos dias de hoje. Creio que essa foi a melhor performance do Mark Rylance desde seu papel vencedor do Oscar por “Ponte de Espiões”.

O personagem do Ron Perlman representa a velha guarda da sociedade, um brutamontes que ainda se vincula aos valores da sua época de glória, e as cenas onde ele aparece são sempre engraçadas. O Timothée Chalamet interpreta um adolescente rebelde que é contra o sistema, e fiquei meio na dúvida em relação à religião do personagem, porque às vezes parece sério, mas em outras, parece que é alívio cômico. E para terminar com chave de ouro, temos Ariana Grande e Scott Mescudi (ou Kid Cudi), cuja coragem é preciso admirar, já que seus personagens abertamente criticam as personas que celebridades do calibre deles assumem. As interações entre os dois são hilárias e tem uma música original cantada pelos seus personagens que merece uma performance no Oscar ano que vem.

(As previously stated, the amount of talent present in the cast of “Don't Look Up” is so impressive, that the ensemble of actors should hold the record of “largest number of talented people in one single scene”, alongside several scenes directed by Wes Anderson. McKay does a stupendous job in putting every actor in a very specific archetype of current society's behaviours, and the best way to evaluate each actor's performance is, in fact, comparing them to the matching archetype.

Let's start with the main trio of actors: Leonardo DiCaprio, Jennifer Lawrence and Rob Morgan. They would be the heroes of the story, and it's amazing to see how different their approaches to the imminent cataclysmic event are, and it's even more amazing to see how those differences impact their relationships with other characters. It's been quite a while since I last saw Jennifer Lawrence play a role this good, and you can feel the injustice her character is going through, through her performance. Between the three main characters, she is surely the one who is most worried about the comet's arrival, and her meltdowns throughout the film are, at the same time, hilarious and devastating.

I loved how naive DiCaprio's character starts off as, exposing scientific data in order to postpone the pronouncing of the cold, hard truth. But then, starting from the film's second half, there is a brilliant deconstruction of this naiveté into a raw, agressive honesty, which culminates in one of the best, if not the best movie scene of 2021 (apart from superhero stuff, because there were a lot of cool ones in those... LOL). It's deservingly worth an Oscar nomination for Best Actor. Rob Morgan stays, basically, on the same boat as Jennifer Lawrence, with his character being the target of injustice by the government and society for his involvement in the comet's discovery, something that becomes even more aggravating considering the actor and character's skin color.

Meryl Streep and Jonah Hill are the film's representatives of the government, and the person who had the idea of casting these two as mother and son deserves an award for it. Considering Streep and Hill's caliber, as both of them were recognized by the Academy with nominations and (in Streep's case) wins, it's almost unbelievable to see such consolidated and celebrated actors playing such ignorant characters, but Streep and Hill put on one hell of a show here, stealing the scene in literally everytime they appear onscreen. The comparisons between Streep and Hill's characters and political figures both from the US and abroad are crystal-clear evident, and they will not be to everyone's pleasure, but they were a lot of fun for me. I give a special highlight to Jonah Hill, as he does a great job in being absolutely annoying, and I think he should be nominated for the Oscar for Best Supporting Actor, for the numerous hilarious moments he's in throughout the film.

I really enjoyed the indifference and the self-centered vibe that was imprinted in Cate Blanchett's, Tyler Perry's and Mark Rylance's performances. It's incredible to see how the actors manipulate the events reported by their characters to their own benefit, and it's incredibly sad to see that what actors are portraying in a film is exactly what's going on in real life, and because of that, that's one more positive point for McKay's screenplay. The three actors' performances manage to precisely expose what's wrong with today's TV show hosting and technological entrepreneurship. I believe that this was Mark Rylance's best performance since his Oscar-winning role in “Bridge of Spies”.

Ron Perlman's character represents the older part of society, an old brute who's still attached to the values of his glory days, and he's funny in every single scene. Timothée Chalamet plays a rebellious teenager on a fight with the system, and I was on the fence when it came to the character's religion, because sometimes it feels like it's serious, but others sound like it's a source of comic relief. And, to cap this part off with a bang, we have Ariana Grande and Scott Mescudi (or Kid Cudi), and you have to admire their courage, as their characters are an open criticism to the personas that celebrities on their level take as their own. The interactions between the two of them are hilarious, and there's an original song sung by their characters that deserves a performance at the Oscars next year.)



Como em “O Âncora”, McKay faz um uso inventivo dos aspectos técnicos a favor da narrativa de “Não Olhe Para Cima”, e tudo aqui funciona por ser essencialmente realista. Não há nenhum filtro na direção de fotografia excelente do Linus Sandgren que retire a temporalidade da história dos dias de hoje. Há até algumas cenas onde há o uso da infame “shaky-cam” (câmera que balança), o que injeta uma crueza necessária para fincar os pés do roteiro de McKay no chão, o que foi muito bem-vindo, na minha opinião. Mas, é claro, para dar origem ao cometa e às tecnologias avançadas presentes no filme, há um uso generoso de CGI, mas isso não polui, ou tira a qualidade do filme de nenhuma forma.

O trabalho de Sandgren na fotografia e a montagem do Hank Corwin trabalham em conjunto para retratar a ansiedade que passa pela cabeça dos protagonistas, a necessidade que eles têm de contar essa notícia para o maior número de pessoas possível. A câmera acompanha as mudanças no comportamento de algum personagem ou corta para focar ainda mais nesse personagem, e funciona. É absolutamente angustiante estar na pele destes dois protagonistas, e Sandgren e Corwin conseguem capturar isso com perfeição. A montagem de Corwin também é essencial para o funcionamento de algumas cenas de alívio cômico, e a proeza técnica dessas cenas, combinadas com a escrita de McKay, resultam em momentos verdadeiramente hilários.

E, por fim, temos a trilha sonora original, composta por Nicholas Britell, compositor dos filmes de Barry Jenkins, como “Moonlight” e “Se A Rua Beale Falasse”. Eu não sei uma maneira melhor de falar isso, então lá vai: a trilha sonora de Britell combina perfeitamente com a vibe “científica” do filme. Há algumas faixas que fazem uso de sintetizadores, que acentuam o teor de ficção-científica da narrativa, mas, por outro lado, há algumas faixas sensacionais no estilo de jazz, que me lembraram muito do trabalho do Justin Hurwitz em “La La Land”. A canção original “Just Look Up”, cantada e composta por Ariana Grande e Kid Cudi, é maravilhosamente satírica, sendo esperançosa e deprimente ao mesmo tempo. Mal posso esperar pela inevitável performance dessa canção no Oscar ano que vem, mesmo que, com Billie Eilish, Beyoncé e Lin-Manuel Miranda na corrida, tenha menos chances de levar a estatueta de Melhor Canção Original.

(Just like in “Anchorman”, McKay makes an inventive use of the technical aspects to the benefit of the narrative of “Don't Look Up”, and everything here works for being essentially realistic. There isn't any filter in Linus Sandgren's excellent cinematography that withdraws the film's temporality from today's times. There are even some scenes where there's the use of the infamous “shaky cam”, which injects a necessary rawness to keep the feet of McKay's screenplay on the ground, which was really welcome, in my opinion. But, of course, in order to create the comet and the advanced technologies present throughout the film, there's a hefty use of CGI, but that doesn't pollute, or take out any of the film's quality in any way.

Sandgren's work in the cinematography and Hank Corwin's editing work in tandem in order to convey the anxiety that's going through the protagonists' heads, the need they have of telling this news to as many people as they can. The camera follows the behavior shifts of some character or cuts to focus even more on that character, and it works. It's absolutely infuriating to be under these characters' skin, and Sandgren and Corwin manage to capture that with perfection. Corwin's editing is also essential for some of the comic relief scenes to work, and the technical prowess displayed on those scenes, combined with McKay's writing, results in truly hilarious moments.

And at last, but not least, we have the original score, composed by Nicholas Britell, composer for most films directed by Barry Jenkins, such as “Moonlight” and “If Beale Street Could Talk”. I can't think of a better way to say this, so here it goes: Britell's original score fits perfectly with the film's “scientific” vibe. There are some scenes that make use of synthesizers, which heighten the narrative's science fiction tone; but, on the other hand, there are some sensational tracks on the style of jazz, which particularly reminded me of Justin Hurwitz's work in “La La Land”. The original song “Just Look Up”, sung and composed by Ariana Grande and Kid Cudi, is wonderfully satirical, being hopeful and depressing at the same time. I can't wait for this song's inevitable performance at the Oscars, even though that, with Billie Eilish, Beyoncé and Lin-Manuel Miranda in the race, it has minor chances of winning the award for Best Original Song.)



Resumindo, “Não Olhe Para Cima” é mais uma prova de que Adam McKay é um mestre da sátira. Munido de um roteiro hilário, atual, afiado, provocativo e realista; atuações incríveis de um elenco absurdamente talentoso e aspectos técnicos que são utilizados de forma inventiva para auxiliar a narrativa, o filme consegue ser o retrato cinematográfico mais coerente, descarado e fiel aos comportamentos da sociedade mundial durante a pandemia de COVID-19. Por tudo isso e mais um pouco, a nova empreitada de McKay é, para mim, um dos melhores filmes de 2021 e merece todo o reconhecimento que certamente receberá nas vindouras premiações. P.S.: Fiquem até depois dos créditos, pois há duas cenas hilárias que valem a pena esperar!!

Nota: 10 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “Don't Look Up” is further proof that Adam McKay is a master of satire. Armed with a hilarious, timely, sharp, provocative and realistic screenplay; amazing performances by an absurdly talented cast and technical aspects that are used in an inventive way to help the narrative, the film manages to be the most coherent, unfiltered and faithful cinematic portrayal of society's behaviours during the COVID-19 pandemic. Because of all that and even more, McKay's new endeavour is, to me, one of the best films of 2021 and worthy of every recognition it'll certainly get in the upcoming award shows. P.S.: Stay through until after the credits, because there are two hilarious scenes that are worth waiting for!!

I give it a 10 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)


2 comentários:

  1. Parabéns JP, vc fez a resenha s/ dar spoilers! 😃👏👏👏👏

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  2. Com certeza,um dos 5 melhores filmes de 2021. Excelente resenha?!

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