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segunda-feira, 25 de julho de 2022

"Turma da Mônica - A Série": a melhor adaptação live-action do trabalho de Mauricio de Sousa (Bilíngue)

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E aí, meus queridos cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para falar sobre um dos lançamentos mais recentes no catálogo original do Globoplay! Reunindo o elenco e a equipe que fizeram dos dois filmes anteriormente lançados um sucesso, a série em questão tem o auxílio de uma trama 100% original, múltiplas perspectivas e temáticas universais para compor a sua narrativa, resultando na adaptação mais nostálgica, divertida, emocionante e amadurecida de seus icônicos personagens. Então, sem mais delongas, vamos falar de “Turma da Mônica – A Série”! Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to talk about one of the most recent releases on Globoplay's original catalog! Bringing back the cast and crew that made the two previously released movies a hit, the TV series I'm about to review relies on the help of a plot that's 100% original, multiple perspectives and universal themes in order to compose its narrative, resulting in the most nostalgic, fun, emotional and mature adaptation of its iconic characters. So, without further ado, let's talk about “Turma da Mônica – A Série” (Monica's Gang – The TV Series). Let's go!)



Ambientado após “Turma da Mônica: Lições”, a série gira em torno da dinâmica entre Mônica (Giulia Benite), Cebolinha (Kevin Vechiatto), Cascão (Gabriel Moreira), Magali (Laura Rauseo), Milena (Emilly Nayara) e companhia, a qual é drasticamente afetada pela chegada de Carminha Frufru (Luiza Gattai) ao Bairro do Limoeiro. Certo dia, Carminha dá uma festa de boas-vindas em sua mansão, e toda a Turma é convidada. Durante a festa, um balde de lama é derrubado na cabeça de Carminha, e Denise (Becca Guerra) lidera uma investigação para descobrir quem foi o culpado por sabotar a festa.

(Set after “Turma da Mônica: Lições” (Monica's Gang: Lessons), the TV show revolves around the dynamic between Monica (Giulia Benite), Jimmy Five (Kevin Vechiatto), Smudge (Gabriel Moreira), Maggy (Laura Rauseo), Milena (Emilly Nayara) and co., which is drastically affected by the arrival of Cindy Frou-frou (Luiza Gattai) in Lemon Tree Street. One day, Cindy throws a welcoming party in her mansion, and the whole Gang is invited. During the party, a bucket of mud is dropped on Cindy's head, and Denise (Becca Guerra) leads an investigation to figure out who's to blame for sabotaging the party.)



Não é novidade que eu sou muito fã da Turma da Mônica. Tendo crescido lendo os gibis e assistindo aos desenhos (como “CineGibi” e “Uma Aventura no Tempo”), fiquei muito feliz ao ter visto estes personagens serem traduzidos tão bem para o live-action pelas mãos de Daniel Rezende, através dos filmes “Laços” e “Lições” (ambos possuem resenhas individuais aqui no blog!). Claro que tive minhas reservas em relação aos filmes, mas os resultados, felizmente, foram bem mais positivos do que negativos, sendo tanto adaptações fiéis de suas respectivas graphic novels quanto representações narrativas e visuais perfeitas de todos os valores e características que fizeram com que estes gibis fossem tão marcantes na minha infância.

E, por isso, é claro que eu estava MUITO animado para assistir à série original do Globoplay. Não só pelo retorno do elenco e da equipe que ajudaram a fazer dos dois filmes um sucesso, mas também (e especialmente) pelo crescimento dos atores, o que poderia permitir uma narrativa mais amadurecida por parte do roteiro, que tanto em “Laços” quanto “Lições”, se concentrou em agradar em primeiro lugar o público infantil, sem se preocupar tanto com os espectadores mais velhos que estariam acompanhando este público-alvo. Outra vantagem que aumentou as minhas expectativas para a série foi o nível de sigilo em relação ao enredo, com a obra começando a ser promovida pelo serviço de streaming semanas antes da sua estreia no dia 21 de julho, uma jogada que eu achei muito bem calculada.

Eu já esperava que a série fosse boa, no mesmo nível de “Laços” e “Lições”, mas eu não esperava que ela fosse TÃO boa, como realmente foi. Contando com uma narrativa muito bem elaborada de investigação, com vários pontos de vista que permitem uma visão mais abrangente de todo o cenário e a abordagem de temas universais e, especialmente, condizentes com as faixas etárias dos personagens, essa adaptação do trabalho icônico de Mauricio de Sousa não é só uma das melhores produções audiovisuais infantis nacionais dos últimos tempos, mas também é a versão mais amadurecida e atraente a um público mais velho da Turma de Daniel Rezende.

Ok, então, vamos falar do roteiro. Liderando uma equipe muito competente de roteiristas, o primeiro acerto de Mariana Zatz (que co-escreveu o roteiro de “Turma da Mônica: Lições” com Thiago Dottori) reside na investida em uma narrativa independente e original, ao contrário dos dois filmes anteriores, que foram baseados nas HQs de mesmo nome de Vitor e Lu Cafaggi. A principal vantagem dessa escolha é que os roteiristas acabam não se sentindo presos demais ao material fonte, flexibilizando, assim, as maneiras de trabalhar com esse universo fictício, resultando em algo genuinamente novo, o que me agradou bastante.

Outro acerto foi o uso da estrutura de “whodunnit”, ou seja, uma narrativa de investigação onde o principal objetivo é descobrir quem foi o responsável por cometer um crime ao longo da trama, de modo similar a filmes como “Entre Facas e Segredos” e “Assassinato no Expresso do Oriente”. Essa estrutura não só permite que a narrativa se aprofunde com cada circunstância retratada, mas também solta a criatividade dos roteiristas para elaborarem reviravoltas inventivas que surpreendam o espectador e o ajudem na “montagem” da narrativa, como que nas peças de um quebra-cabeça.

Uma vantagem que vem junto com a estrutura narrativa escolhida, e aqui eu aponto outro acerto no trabalho de Zatz e equipe, é a possibilidade de ter múltiplas perspectivas sobre um mesmo evento, permitindo, assim, que certos personagens recebam a mesma quantidade de desenvolvimento. Os níveis diferentes de desenvolvimento dos personagens foram um dos pontos fracos de “Laços” e “Lições”, na minha opinião, mas aqui, graças à estrutura seriada da obra, essa fraqueza é transformada em uma das maiores forças de “Turma da Mônica – A Série”. Com 8 episódios de meia hora cada, cada capítulo é dedicado ao ponto de vista particular de um dos suspeitos principais, e isso permite um maior aprofundamento no arco narrativo de personagens que não seriam tão bem aproveitados caso a trama fosse condensada em um longa-metragem, o que é excelente.

Um dos melhores aspectos do roteiro de “Turma da Mônica – A Série” é a adequação dos temas abordados na trama à faixa etária dos personagens. Em “Laços”, eles se encontravam em uma faixa etária mais infantil, abordando temas como amizade; em “Lições”, eles estão em um período de transição entre a infância e a pré-adolescência, lidando com temas como crescimento e dificuldades escolares; já na série, eles se encontram na transição entre a pré-adolescência e a adolescência, levando a narrativa a lidar com temas recorrentes nessa faixa etária, como ansiedade, bullying, o amor, a autodescoberta, e, principalmente, a insegurança, revelada pela pressão colocada nessas crianças pelos pais, pelas críticas dos amigos, e pelo sentimento de não-pertencimento que eles podem ter em seus corações.

A abordagem desses temas permite que estes personagens sejam retratados como pessoas 100% humanas. Não como caricaturas de quadrinhos com características exacerbadas, mas como seres humanos reais e genuínos. E, em parte, é essa abordagem que permite que a trama tenha um alcance universal, em relação ao seu público. Não importa se você for uma criança de 8 anos, um jovem adulto de 22 (como este que vos fala), um adulto beirando os 50 ou um idoso de 80 anos, Zatz e sua equipe utilizam estes temas para fazer com que cada um dos espectadores se veja refletido nestes personagens, com suas forças, fraquezas e imperfeições, e isso é muito bom. Há uma cena no último episódio que chegou bem perto, BEM perto de me fazer chorar, e por isso, eu aplaudo de pé a equipe de roteiristas de “Turma da Mônica – A Série”.

E, por fim, o último destaque que gostaria de fazer em relação ao roteiro é o fator divertido e nostálgico da trama. As situações nas quais os personagens se encontram são bem legais, o passo dos episódios é muito bem calculado ao ponto de ser viciante, há várias referências ao trabalho de Mauricio de Sousa espalhadas ao longo dos episódios, são apresentados personagens novos e famosos por suas aparições nos gibis (inclusive, teve um personagem em particular que me pegou de surpresa, devido ao desenvolvimento dele na trama geral da temporada). Através desse fator, Zatz e os roteiristas aproveitam para deixarem visíveis sua paixão e apreço por esses personagens, e isso faz com que a série seja um verdadeiro deleite para os fãs. Globoplay, vê mais umas cinco temporadas aí, que tá pouco! (Risos)

(It's not news that I'm a huge fan of Monica's Gang. As I grew up reading the comics and watching the animated adaptations (such as “CineGibi” and “Uma Aventura no Tempo” [CineComics and An Adventure Through Time]), I was really glad when I saw these characters being translated to live-action so beautifully through the hands of Daniel Rezende, with the films “Laços” and “Lições” (Bonds and Lessons) (both of them have individual reviews on the blog!). Sure, I had my setbacks regarding each film, but, fortunately, they had way more positive outcomes than negative ones, simultaneously being faithful adaptations of their respective graphic novels and perfect narrative and visual representations of the values and characteristics that earned the comics such a special place in my childhood.

And, because of that, of course I was VERY excited to watch their original Globoplay show. Not only because of the return of the cast and crew that helped make the two films a hit, but also (and mainly) because of the actors' growth, which could allow a more mature approach from the screenplay, which in both “Laços” and “Lições”, focused in primarily pleasing the children in the audience, not worrying too much over the older viewers that would be accompanying the target audience. Another advantage that enhanced my expectations for the show was its level of secrecy regarding the plot, with the show being promoted by the streaming service weeks before its premiere on July 21st, a feat I thought was really well-played.

I already expected the series to be good, in the same level as “Laços” and “Lições”, but I didn't expect it to be THIS good, as it actually is. Relying on a well elaborated investigation narrative, with multiple points of view that allow a wider vision of the entire scenario and the approach of universal themes that are, especially, befitting with the characters' ages, this adaptation of Mauricio de Sousa's work is not only one of the best Brazilian children-oriented audiovisual projects in recent times, but is also the most matured version of Daniel Rezende's Gang, which allows it to reach an older audience.

Okay, then, let's talk about the screenplay. Leading a very competent team of screenwriters, the first great thing about Mariana Zatz's work here (she also co-wrote the screenplay for “Turma da Mônica: Lições” with Thiago Dottori) resides on the approach at an independent and original narrative, unlike the two previous movies, which were based on the graphic novels of the same name by Vitor and Lu Cafaggi. The main advantage of that choice is that the screenwriters don't end up trapped to the source material, making their ways to deal with this fictional universe all the more flexible, resulting in something that's genuinely new, which pleased me a lot.

Another thing it gets right is its use of the whodunnit narrative structure, meaning, it's an investigation plot where the main objective is figuring out who was responsible for committing a crime throughout the plot, in a similar way to movies like “Knives Out” and “Murder on the Orient Express”. That structure not only allows the plot to thicken with every circumstance that's portrayed onscreen, but also lets the writers' criativity hang loose to come up with inventive plot twists that surprise the viewer and help them in putting the narrative together, like pieces of a jigsaw puzzle.

An advantage that comes with this chosen narrative structure, and here I point out another great thing about Zatz and co.'s work, is the possibility of having multiple perspectives on one single event, allowing certain characters to have the same amount of development. The different levels of character development were one of the weak points in both “Laços” and “Lições”, in my opinion, but here, thanks to the plot's serialized structure, that weakness is turned into one of the biggest strengths of “Turma da Mônica – A Série”. With 8 episodes that run half an hour each, each chapter is dedicated to the particular point of view of one of its prime suspects, and that allows a greater depth in the narrative arcs of characters that wouldn't be as well-developed if the narrative was to be condensed into a feature-length movie, which is excellent.

One of the best aspects of the screenplay of “Turma da Mônica – A Série” is the adequation of its approached themes to the characters' age rate. In “Laços”, they found themselves as more like children, dealing with themes like friendship; in “Lições”, they found themselves transitioning from children to pre-teens, dealing with themes like growth and school difficulties; in the show, they find themselves transitioning from pre-teens to teenagers, leading the narrative to deal with recurring themes to that period, such as anxiety, bullying, love, self-discovery, and, mainly, insecurity, revealed by the pressure put on those children by their parents, their friends' criticism, and by the feeling of not belonging anywhere that they might feel in their hearts.

The approach of those themes allows these characters to be portrayed as people that are 100% human. Not as comic book caricatures with exacerbated characteristics, but as real, genuine human beings. And, partly, it's that approach that allows the plot to have a universal reach, when it comes to its audience. It doesn't matter if you're an 8-year-old kid, a 22-year-old young adult (such as myself), an adult going on 50 or an elder that's in their mid-80s, Zatz and her team use these themes to make every viewer see themselves reflected on these characters, with their strengths, weaknesses and imperfections, and that is really good. There's a scene in the last episode that came very close, VERY close to making me cry, and for that, I give the screenwriting team of “Turma da Mônica – A Série” a standing ovation.

And, finally, the last highlight I'd like to make about the screenplay is the plot's fun and nostalgic factor. The situations in which the characters find themselves in are really fun, the episodes' pacing is well calculated to the point of being highly addictive, there are several references to Mauricio de Sousa's work sprinkled throughout the episodes, new and famous characters are introduced, due to their iconic comic book appearances (by the way, there's one particular character that caught me by surprise, due to his development in the season's general plot). Through that factor, Zatz and her team take the opportunity to make their passion and appreciation for these characters visible, and that makes the show be a true delight to fans. Globoplay, send us 5 more seasons already, because it's not enough! (LOL))



O desempenho do elenco infantil, assim como nos filmes, é um dos destaques de “Turma da Mônica – A Série”, e aqui, nós temos as melhores performances do quarteto de “Laços”, composto por Giulia Benite, Kevin Vechiatto, Gabriel Moreira e Laura Rauseo. É incrível como Benite faz com que as vulnerabilidades da Mônica sejam cada vez mais visíveis, fazendo com que ela seja cada vez mais humana. Dos quatro personagens, o Cebolinha do Kevin Vechiatto é o que parece mais seguro de si, mas de vez em quando ele dá umas derrapadas de nervosismo, e o ator consegue lidar muito bem com essas mudanças. Eu amei o desenvolvimento do Gabriel Moreira como Cascão, em especial como o ator lida com as críticas que seu personagem recebe ao longo da trama. E a Magali da Laura Rauseo continua sendo, para mim, uma das personagens mais humanizadas do elenco, devido ao papel da ansiedade em seu desenvolvimento, e a atriz consegue tirar isso de letra.

Depois de um papel menor em “Lições”, temos o retorno da Emilly Nayara como Milena, que tem um desempenho bem mais expandido aqui, em parte devido à uma química incrível com a mãe, que é crucial para o desenvolvimento da personagem. Temos também a volta de grande parte do elenco coadjuvante de “Laços” e “Lições”, incluindo Cauã Martins como Titi, Pedro Souza como Jeremias, Laís Villela como Marina, Rodrigo Kenji como Nimbus, Lucas Infante como Humberto e Vinícius Higo como Do Contra, e todos estão excelentes aqui. Devo admitir que senti falta de personagens como o Franjinha e o Xaveco, que apareceram brevemente nos filmes, mas o desempenho dos personagens coadjuvantes acabou compensando pela falta deles.

É incrível como os destaques no elenco dessas adaptações da Turma da Mônica sempre ficam com as caras novas. Assim como o elenco coadjuvante rouba a cena em “Lições”; aqui, Luiza Gattai e Becca Guerra dominam a tela como Carminha Frufru e Denise. Gattai consegue interpretar muito bem o arquétipo de “garota rica e mimada que rouba toda a atenção”, mas, ao longo da trama, a performance da atriz consegue fazer com que o espectador lentamente sinta simpatia pelo arco narrativo que ela percorre. Guerra, por outro lado, foca mais no aspecto cômico da fofoqueira Denise, fazendo o espectador rir com basicamente tudo que sai da boca dela. Eu assistiria à uma série solo dela tranquilamente, pela presença de tela incrível que ela tem.

Eu senti muita falta de um elenco adulto mais forte em “Turma da Mônica – A Série”. Enquanto em “Laços” e “Lições”, tivemos performances competentes de Mônica Iozzi, Fafá Rennó, Rodrigo Santoro e Isabelle Drummond, aqui o núcleo adulto gira em torno de somente três atores: Mariana Ximenes, que é fria e calculista como a mãe perfeccionista de Carminha Frufru; Álvaro Assad, que é hilário como o mordomo da mansão Frufru; e Fernando Caruso, cujo personagem tem uma química cativante com Cascão e conexões geniais à um dos melhores personagens dos quadrinhos de Maurício de Sousa.

Por fim, gostaria de fazer desse parágrafo um pedido àqueles responsáveis por estas adaptações: por favor, não substituam esse elenco tão cedo. Justamente agora, que eles amadureceram junto com os personagens, a Mauricio de Sousa Produções decide finalizar a trilogia de Daniel Rezende com a série e já partir para um elenco na faixa dos 20 anos para filmes da Turma da Mônica Jovem. Por isso eu pergunto: já que os atores estão amadurecendo, qual é o problema de mantê-los para as adaptações da Turma Jovem? Entendo a justificativa de prevenir que os atores fiquem presos a um personagem só, como os da Marvel, por exemplo, mas dá para ter um personagem pelo qual um ator é mais famoso e ainda ter personagens igualmente memoráveis em outras obras. Um exemplo: Scarlett Johansson. A maioria a conhece por ter interpretado a Viúva Negra, mas a atriz recebeu muita atenção por papéis dramáticos em filmes como “Encontros e Desencontros”, “Ela”, “Jojo Rabbit” e “História de um Casamento”. Além do mais, já pensaram o quão épico iria ser se tivéssemos uma adaptação de alto orçamento do arco “As 4 Dimensões Mágicas” de Turma da Mônica Jovem com esse elenco retornando? Vou deixar essa ideia pairando no ar. (Me contrata, Daniel Rezende!!)

(The performances of the child cast, just like in the movies, is one of the highlights of “Turma da Mônica – A Série”, and here, we have the best performances of the quartet from “Laços”, composed by Giulia Benite, Kevin Vechiatto, Gabriel Moreira and Laura Rauseo. It's amazing how Benite manages to make Monica's vulnerabilities all the more visible, making her look more and more human. Out of the four characters, Kevin Vechiatto's Jimmy Five is the one that's the most sure about himself, but sometimes he slips away because he's nervous, and the actor manages to deal with these changes really well. I loved Gabriel Moreira's development as Smudge, especially in how the actor deals with the criticism aimed at his character throughout the plot. And Laura Rauseo's Maggy continues to be one of the most relatable characters in the cast, due to anxiety's role in her development, and the actress manages to knock it out of the park.

After a smaller role in “Lessons”, we have the return of Emilly Nayara's Milena, who has a much more expanded development here, partly due to an amazing chemistry with her mother, who is crucial for the character's narrative arc. We also have the return of most of the supporting cast of “Laços” and “Lições”, including Cauã Martins as Bucky, Pedro Souza as Jeremiah, Laís Villela as Marina, Rodrigo Kenji as Nimbus, Lucas Infante as Hummer and Vinícius Higo as Nick Nope, and they're all excellent here. I must admit I missed characters such as Franklin and Sunny, who made very brief appearances in the movies, but the supporting characters' development ended up making up for their absence.

It's incredible how the cast highlights in these Monica's Gang adaptations always tend to be the new faces. Just like the supporting cast stole the scene in “Lições”; here, Luiza Gattai and Becca Guerra dominate the screen as Cindy Frou-frou and Denise. Gattai manages to wonderfully portray the archetype of “spoiled, rich girl who steals all the attention”, but, throughout the plot, the actress's performance manages to make the viewer slowly feel sympathy towards her narrative arc. Guerra, on the other hand, focuses more on the comical aspect of gossip-loving Denise, making the viewer laugh from basically everything that comes out of her mouth. I would easily watch a solo series of her, due to the amazing screen presence she has.

I really missed a stronger adult cast in “Turma da Mônica – A Série”. While in “Laços” and “Lições”, we had competent performances by Mônica Iozzi, Fafá Rennó, Rodrigo Santoro and Isabelle Drummond, here the adult core revolves around only three actors: Mariana Ximenes, who is cold and calculating as Cindy Frou-frou's perfectionist mother; Álvaro Assad, who is hilarious as the butler at the Frou-frou mansion; and Fernando Caruso, whose character has a captivating chemistry with Smudge and genius connections to one of Mauricio de Sousa's best characters in the comics.

Lastly, I'd like to make this paragraph a request to those responsible for these adaptations: please, don't replace this cast this soon. Precisely now, that they managed to grow up with their characters, Mauricio de Sousa Productions decides to put an end to Daniel Rezende's trilogy with the show and already invest in a cast of 20-somethings for the Monica Teen films. To that I ask: as the actors are growing up, why don't you keep them for the Monica Teen adaptations? I get the justification of preventing the actors to be stuck to one character, like Marvel ones, for example, but an actor can have a character they're best known for and still have equally memorable characters in other works. Here's an example: Scarlett Johansson. Most know her for playing Black Widow, but she managed to get lots of attention for her dramatic roles in films like “Lost in Translation”, “Her”, “Jojo Rabbit” and “Marriage Story”. Besides, have you ever thought about how epic would it be if there was a big-budget adaptation of the “4 Magical Dimensions” arc of Monica Teen with this returning cast? I'll leave that hanging in the air. (Hire me, Daniel Rezende!!))



Tecnicamente, “Turma da Mônica – A Série” continua os incríveis feitos de “Laços” e “Lições” e investe em uma estética recheada de cores vibrantes para acentuar o tom nostálgico da ambientação e da narrativa. A direção de fotografia do Azul Serra continua sendo incrível e dinâmica, a montagem do Marcelo Junqueira é bem ágil, em especial ao fazer a transição entre a atualidade e os flashbacks com os pontos de vista de cada personagem. A direção do Daniel Rezende continua sendo extremamente cuidadosa, e ele e sua equipe, assim como Zatz e os roteiristas, se asseguram em mostrar sua paixão e apreço pelo trabalho de Mauricio de Sousa em cada quadro que eles dirigem.

A direção de arte é bem vibrante, com cores que se destacam bastante no cenário. Eu gostei bastante da exploração do quarto de cada um dos quatro personagens principais, que tem como cor predominante a cor das vestimentas deles. A caracterização de cada um dos personagens, função de departamentos como figurino, maquiagem e penteado, ficou muito fiel ao visual deles nos quadrinhos, sem ficar cartunesco demais. E, por fim, a trilha sonora do Fabio Góes consegue misturar os temas estabelecidos nos filmes anteriores com uma estética mais pop, me lembrando muito de músicas recentes que homenageiam o pop de sintetizadores dos anos 1980, como as do álbum “After Hours”, do The Weeknd.

(Technically, “Turma da Mônica – A Série” continues the incredible feats of “Laços” and “Lições” and invests in an aesthetic filled with vibrant colors to enhance the setting and the narrative's nostalgic tone. Azul Serra's cinematography remains amazing and dynamic, Marcelo Junqueira's editing is quite agile, especially when making the transition between present day and the flashbacks with each character's point of view. Daniel Rezende's direction continues to be extremely careful, and he and his team, much like Zatz and the screenwriters, ensure to display their passion and appreciation for Mauricio de Sousa's work in every frame they direct.

The production design is quite vibrant, with colors that pop out a lot in the scenario. I really liked the exploration of each of the four main characters' bedrooms, which have their dressing colors as their predominant color. The characterization of each one of the characters, due to the work in costume design, makeup and hairstyling, came out as really faithful to their visuals in the comics, without it getting to cartoonish. And, finally, Fabio Góes's score manages to mix the themes established in the previous movies with a more pop-ish aesthetic, reminding me a lot of recent songs that pay homage to 1980s synth-pop, such as those in The Weeknd's album “After Hours.”)



Resumindo, “Turma da Mônica – A Série” é a melhor adaptação live-action do trabalho de Mauricio de Sousa até agora, e a melhor produção original do Globoplay. Contando com um roteiro bem elaborado que lida com temas universais, as melhores performances de seu fantástico elenco infantil e aspectos técnicos que realçam os tons nostálgicos da ambientação e da narrativa, a série consegue amadurecer os personagens apresentados em “Laços” com enorme sucesso, graças à uma direção cuidadosa de Daniel Rezende.

Nota: 10 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que vocês tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “Turma da Mônica – A Série” is the best live-action adaptation of Mauricio de Sousa's work so far, as well as the best Globoplay original production. Relying on an elaborate screenplay that deals with universal themes, the best performances by its fantastic young cast and technical aspects that highlight the nostalgic tones in the setting and narrative, the series successfully manages to be the coming-of-age of the characters introduced in “Laços”, thanks to a careful direction by Daniel Rezende.

I give it a 10 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)




sábado, 23 de julho de 2022

"O Telefone Preto": o retorno triunfal de Scott Derrickson ao terror (Bilíngue)

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E aí, meus queridos cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para falar sobre um dos meus lançamentos mais aguardados do ano, o qual já está em exibição nos cinemas! Sendo a volta triunfal de seu diretor ao gênero que o trouxe aos holofotes, o filme em questão faz uma mistura perfeita entre o realismo e o sobrenatural, contando com o auxílio de cenas de violência chocantes e uma performance assustadoramente carismática de seu antagonista para trabalhar o amadurecimento gradual de seu protagonista de uma forma extremamente eficiente. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “O Telefone Preto”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to talk about one of my most anticipated film releases of the year, which is available in theaters and/or VOD! As its director's triumphant return to the genre that brought him to the spotlight, the film I'm about to review makes a perfect mix between realism and the supernatural, relying on the aid of shocking violent scenes and a creepily charismatic performance from its antagonist to deal with its protagonist's gradual coming-of-age in an extremely effective way. So, without further ado, let's talk about “The Black Phone”. Let's go!)



Denver, Colorado, 1978. Finney Blake (Mason Thames) é um garoto tímido, frequentemente abusado pelos valentões da escola e pelo pai alcoólatra (Jeremy Davies). Certo dia, Finney é sequestrado por um serial killer (Ethan Hawke) e mantido como refém em um porão apodrecido de uma casa. Lá, ele encontra um telefone preto, pelo qual os espíritos das vítimas anteriores do sequestrador conversam com Finney, ajudando-o a elaborar um plano de fuga. Enquanto isso, a irmã mais nova de Finney, Gwen (Madeleine McGraw), começa a ter sonhos enigmáticos que podem ajudá-la a localizar o irmão desaparecido.

(Denver, Colorado, 1978. Finney Blake (Mason Thames) is a shy boy, who's frequently abused by school bullies and his alcoholic father (Jeremy Davies). One day, Finney is kidnapped by a serial killer (Ethan Hawke) and held hostage in a house's rotting-away basement. There, he finds a black phone, through which the spirits of the kidnapper's previous victims talk to Finney, helping him come up with an escape plan. Meanwhile, Finney's younger sister, Gwen (Madeleine McGraw), starts having enigmatic dreams that may help her locate her missing brother.)



Ok, nem preciso dizer que eu estava MUITO animado para ver “O Telefone Preto”, de modo que eu tenho toda uma história para justificar essas expectativas altas. Primeiro, temos o material fonte que serviu de inspiração para o filme, um conto homônimo escrito por Joe Hill, filho do Mestre do Terror, Stephen King. Hill é conhecido especialmente por co-criar a série em quadrinhos “Locke & Key” com Gabriel Rodriguez, dando origem à ótima adaptação da Netflix, que terá sua terceira e última temporada lançada esse ano. A coletânea de contos em que “O Telefone Preto” se encontra, “Fantasmas do Séc. XX” (agora, publicada novamente pelo nome “O telefone preto e outras histórias”), foi o trabalho de estreia de Hill na literatura, e foi bastante aclamado pela crítica.

Depois, temos a principal razão das minhas expectativas altas em relação ao filme, que é a direção do Scott Derrickson. Fãs da Marvel o conhecem como o diretor do primeiro “Doutor Estranho”, mas fãs do gênero terror o reverenciam como o diretor do aterrorizante “A Entidade”, cientificamente comprovado como um dos filmes mais assustadores de todos os tempos, juntamente com filmes como “Host”, de 2020; “Sobrenatural”, de 2010; e “Invocação do Mal”, de 2013. Derrickson, em “A Entidade”, cria uma atmosfera gradualmente sufocante de horror no enredo, incomodando e perturbando o espectador mais do que propriamente assustando-o, fazendo com que o filme seja diferenciado dos inúmeros filmes de terror que lidam com as mesmas temáticas sobrenaturais.

E, em terceiro lugar, temos a escolha certeira de Derrickson de sair da direção de “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura” e retornar à um gênero no qual ele tem um maior controle criativo. Devo admitir que, inicialmente, eu estava receoso pelo diretor não retornar para a sequência da Marvel, mas o filme acabou dando meio certo pelas mãos de Sam Raimi, que conseguiu trazer suas próprias influências de terror de um jeito eficiente e irresistivelmente nostálgico, mesmo que um pouco infantilizado e suavizado pela fórmula Marvel. E também, eu ainda não havia assistido “A Entidade” antes de ouvir falar de “O Telefone Preto”, me fazendo pensar o filme como um retorno às raízes, depois de um breve desvio na via dos blockbusters.

Então, sim, eu estava MUITO animado para ver “O Telefone Preto”, chegando ao nível de colocar o filme entre os meus 10 lançamentos mais aguardados de 2022 (você pode ver essa lista, infelizmente desatualizada devido a recentes adiamentos, aqui: https://nocinemacomjoaopedro.blogspot.com/2022/02/10-filmes-que-nao-sao-de-super-herois.html). As minhas expectativas só foram aumentando devido às reações extremamente positivas da estreia do filme no festival Fantastic Fest, em 2021, e devido aos trailers, que promoviam uma mistura entre o sobrenatural de “A Entidade” e a abordagem do terror e do simbolismo em “It: A Coisa”. Acabou que foi EXATAMENTE isso que eu recebi, e eu fico extremamente feliz e satisfeito pela escolha criativa de Derrickson de investir nesse filme ao invés de “Multiverso da Loucura”.

Ok, então, vamos falar do roteiro. Escrito pelo diretor em parceria com C. Robert Cargill (conhecido por co-roteirizar a grande maioria dos filmes de Derrickson), o primeiro acerto do roteiro de “O Telefone Preto” é a atmosfera. De modo similar à “A Entidade”, o novo filme de Scott Derrickson vai se construindo de uma maneira lenta e progressiva, inicialmente dando somente pistas visuais de algo que conecta os vários desaparecimentos que dão cada vez mais peso à trama. Isso acaba atiçando a curiosidade e a tensão dentro do espectador, que vai lentamente montando as peças do quebra-cabeça junto com a edição do Frédéric Thoraval, para depois formar uma imagem bem nítida (e aterrorizante).

O segundo acerto é o foco narrativo do roteiro, colocado no desenvolvimento e amadurecimento de Finney Blake, interpretado pelo Mason Thames. Os roteiristas dedicam bastante tempo para introduzirem o personagem, estabelecerem suas características e personalidade, explorar sua relação com aqueles a seu redor, para somente depois trazer o personagem de Ethan Hawke e fazer a trama realmente engrenar. Estes primeiros 20, 30 minutos não me pareceram desgastantes em nenhum segundo; pelo contrário, eles apresentaram o teor mais realista do enredo, caracterizado por uma violência gráfica e pelo abuso que o protagonista sofre, e isso ajuda (e muito) o espectador a se importar com a jornada de amadurecimento e tomada de decisões que ele percorrerá ao longo da duração bem calculada de 1 hora e 50 minutos.

O terceiro acerto é o uso do sobrenatural de uma maneira mais simbólica do que explícita, e isso é expresso tanto através dos fantasmas com os quais Finney se comunica quanto através do arco narrativo da irmã do protagonista. Há uma subtrama explicada perfeitamente pelo personagem do Jeremy Davies que justifica de uma forma eficiente a conexão de Finney e sua irmã com os vários aspectos fora do normal no enredo. E essa justificativa permite que o espectador enxergue esses recursos não só de uma maneira literal (dentro de uma narrativa predominantemente sobrenatural), mas também de uma maneira simbólica (dentro de uma narrativa mais realista), o que eu achei surpreendente.

O quarto acerto é justamente o realismo na trama, que não serve de contraponto para o sobrenatural. Pelo contrário, assim como em filmes como “Deixe-Me Entrar” e “It: A Coisa”, o sobrenatural é utilizado como uma espécie de complemento ao terror real predominante na história. E nisso, “O Telefone Preto” segue à risca o que eu considero ser a máxima do trabalho de Stephen King: a de que uma história pode até ter aspectos sobrenaturais assustadores, mas eles nunca serão mais assustadores do que a realidade. Isso é perfeitamente retratado nas cenas de bullying, que me surpreenderam pelo nível de violência usado; e especialmente pelo personagem do Ethan Hawke, que acaba sendo visto como mais do que um mero serial killer, e sim como a personificação de todo o medo e todos os obstáculos que o protagonista precisa superar para sobreviver. Este aspecto, para mim, foi o que teve de mais genial no roteiro de “O Telefone Preto”.

O quinto e último acerto que gostaria de destacar é o uso bem calculado do terror, ao ponto de não ultrapassar o foco principal da narrativa, que é o amadurecimento de Finney. Derrickson e Cargill criam uma atmosfera que não é propriamente assustadora, com vários jumpscares, e sim mais perturbadora e enervante, pela conexão que esses aspectos sobrenaturais têm com o teor mais realista da trama. Há um uso genial de maquiagem e efeitos visuais aqui (que serão abordados posteriormente) para trabalhar o terror de uma maneira extremamente eficiente, satisfazendo, assim, os fãs do gênero que forem assistir ao filme, esperando uma história de fantasmas.

Ou seja, o roteiro de “O Telefone Preto” utiliza os seus aspectos mais sobrenaturais como complemento à uma história bem realista, tendo como principal foco narrativo o amadurecimento gradual de seu protagonista. A atmosfera enervante que Derrickson e Cargill conseguem criar anda de mãos dadas com o desenvolvimento do personagem principal, fazendo com que “O Telefone Preto” seja uma história de amadurecimento com alguns toques de terror sobrenatural. E acreditem em mim, o filme funciona bem melhor desse jeito do que funcionaria se fosse o contrário.

(Okay, I don't even have to say that I was REALLY excited to watch “The Black Phone”, so excited that I got a whole story to justify these high expectations. Firstly, we have the source material the film was based upon, a short story of the same name written by Joe Hill, son of the Master of Horror, Stephen King. Hill is best known for co-creating the comic book series “Locke & Key” with Gabriel Rodriguez, inspiring its great Netflix adaptation, which will have its third and final season released later this year. The short story collection in which “The Black Phone” is in, “20th Century Ghosts”, was Hill's debut work in book-length literature, and was critically acclaimed.

Secondly, we have the main reason for my high expectations towards the film, which is Scott Derrickson's direction. Marvel fans know him for directing the first “Doctor Strange” movie, but horror genre fans revere him for directing the terrifying “Sinister”, which is scientifically considered one of the scariest movies of all time, alongside films like 2020's “Host”; 2010's “Insidious”; and 2013's “The Conjuring”. Derrickson, in “Sinister” creates a gradually suffocating atmosphere of horror in the plot, unnerving and disturbing the viewer more than literally scaring them, making the film stand out among the numerous horror films that deal with similar supernatural themes.

And, thirdly, we have Derrickson's sure choice of dropping out of the director's chair of “Doctor Strange in the Multiverse of Madness” and returning to a genre over which he has larger creative control. I must admit that, initially, I was fearsome for the Marvel sequel because of Derrickson stepping out, but the film ended up being average fun by the hands of Sam Raimi, who managed to bring his own horror influences in an effective and irresistibly nostalgic way, even though the Marvel formula made them look a bit childish and watered down. And also, I still hadn't watched “Sinister” before hearing of “The Black Phone”, which made me consider the movie as a return to roots of sorts, after a short detour through Blockbuster Lane.

So, yeah, I was REALLY excited to watch “The Black Phone”, to the point of placing it among my 10 most anticipated releases of the year (you can check out that list, unfortunately outdated by recent delays, here: https://nocinemacomjoaopedro.blogspot.com/2022/02/10-filmes-que-nao-sao-de-super-herois.html). My expectations just got bigger and bigger due to the extremely positive first reactions to its premiere at 2021's Fantastic Fest, and due to the trailers, which promoted a mix between the supernatural of “Sinister” and the approach of horror and symbolism in “It”. It turns out that was EXACTLY what I got from it, and I am extremely glad and satisfied by Derrickson's creative choice of investing in this film rather than “Multiverse of Madness”.

Okay, then, let's talk about the screenplay. Written by the director himself alongside C. Robert Cargill (who co-wrote the great majority of Derrickson's films), the first thing the screenplay for “The Black Phone” gets right is its atmosphere. In a similar way to “Sinister”, Scott Derrickson's new film builds itself in a slow and progressive way, initially giving out only visual clues of something that connects the several disappearances that give the plot a larger amount of weight. This ends up enticing the curiosity and tension inside the viewer, who slowly puts the puzzle pieces together alongside Frédéric Thoraval's editing, to finally form a clear (and terrifying) image throughout the film.

The second thing it gets right is the screenplay's narrative focus, which was placed upon the development and coming-of-age of Finney Blake, portrayed by Mason Thames. The screenwriters dedicate plenty of time to introduce the character, establish his characteristics and personality, explore his relationship to those around him, to only then bring out Ethan Hawke's character and make the plot really pick up its pace. These first 20 to 30 minutes didn't feel exhausting to me at any second; on the contrary, they introduced the plot's more realistic tone, characterized by a use of graphic violence and by the abuse the protagonist suffers from, and that helps the viewer (a lot) to care for the coming-of-age and decision-making journey he'll go through in the film's well calculated runtime of 1 hour and 50 minutes.

The third thing it gets right is its use of the supernatural in a more symbolic than explicit way, and that's expressed both through the ghosts that Finney communicates with, and through the narrative arc of the protagonist's sister. There's a subplot that's explained perfectly by Jeremy Davies's character that efficiently justifies Finney and his sister's connection to the plot's several out-of-the-ordinary aspects. And that justification allows the viewer to see these devices not only in a literal way (in a predominantly supernatural narrative), but also in a symbolic way (in a more realistic story), and that genuinely surprised me.

The fourth thing it gets right is precisely the plot's realism, which doesn't serve as a counterpoint to the supernatural. On the contrary, just like in films such as “Let Me In” and “It”, the supernatural is used as some sort of complement to the real horror that's predominant in the story. And on that, “The Black Phone” follows closely what I consider to be the founding stone of Stephen King's work: that a story can indeed have frightening supernatural aspects, but they will never be scarier than what's real. That's perfectly portrayed in the bullying scenes, which surprised me for its use of violence; and especially through Ethan Hawke's character, who ends up being seen as more than just a serial killer, and more like an embodiment of all the fear and all the obstacles that the protagonist will have to overcome in order to survive. That aspect, for me, was the most genius thing about the screenplay for “The Black Phone”.

The fifth and last thing it gets right that I'd like to highlight is its use of horror, to the point it doesn't overcome the narrative's primary focus, which is Finney's coming-of-age. Derrickson and Cargill manage to create an atmosphere that's not properly scary, with several jumpscares here and there, but more unsettling and unnerving, because of the connection these supernatural aspects have to the plot's more realistic tone. There's a genius use of make-up and special effects here (which will be approached more deeply later on) to work with horror in an extremely effective way, thus satisfying genre fans that will watch it, expecting to see a ghost story.

Meaning, the screenplay for “The Black Phone” uses its more supernatural aspects as a complement to a pretty realistic story, having its protagonist's coming-of-age as its main narrative focus. The unnerving atmosphere that Derrickson and Cargill manage to create walks hand-in-hand with the main character's development, making “The Black Phone” a coming-of-age story with some sprinkles of horror inbetween. And trust me, it works way better this way than it would work if it was the other way around.)



No quesito elenco, temos aqui duas performances extremamente promissoras nos desempenhos de Mason Thames, que interpreta Finney, e Madeleine McGraw (irmã mais velha da excelente atriz mirim Violet McGraw, de “A Maldição da Residência Hill” e “Doutor Sono”), que interpreta Gwen, a irmã do protagonista. Eu vi muito do Owen/Oskar de “Deixe-Me Entrar” na performance de Thames, de modo que o personagem começa sendo visto como alguém indefeso e que, lentamente, vai tomando coragem para se defender contra os abusos que sofreu ao longo da trama. Gostei bastante da atuação dele, mas McGraw roubou meu coração de tal maneira, que me fez acreditar que “O Telefone Preto” teria sido ainda melhor se sua personagem fosse a protagonista do filme. Ela rouba literalmente toda cena em que ela aparece, e tem uma sequência em particular que me fez pensar: “Caramba, essa menina consegue atuar!”. A personagem dela me lembrou (e muito) da Abra Stone, interpretada brilhantemente pela Kyliegh Curran em “Doutor Sono”, de modo que ela carrega o peso emocional da trama ainda mais que o protagonista, enquanto tem uma ligação intrínseca com o sobrenatural. Os dois atores foram uma baita descoberta, e eu mal posso esperar pelos próximos trabalhos de ambos.

E, no meio de tudo, temos a face de toda a campanha de marketing do filme, que é a performance arrebatadora do Ethan Hawke como o antagonista. Eu me impressionei com a maneira que o ator mistura um carisma doentio com o caráter calculista e frio de um verdadeiro psicopata, usando várias máscaras em tela (literalmente e figurativamente). É como se o personagem dele fosse uma mistura entre a Rose da Cartola de “Doutor Sono” e o Pennywise de “It: A Coisa”. É incrível como o ator consegue fazer com que o espectador não sinta nada pelo personagem dele além de medo. “Medo, medo, delicioso e lindo”, como diria o Palhaço Dançarino de Derry. É uma das performances mais eficientes de antagonistas em um filme de suspense/terror que eu já vi, sem sombra de dúvida.

Outras performances competentes incluem a de Jeremy Davies como o pai abusivo dos dois protagonistas, com o ator habilmente mudando entre abordagens agressivas e vulneráveis de seu personagem; as de E. Roger Mitchell e Troy Rudeseal como os detetives responsáveis pela investigação dos desaparecimentos da trama; e as de Miguel Cazarez Mora, Tristan Pravong, Jacob Moran, Brady Hepner e Banks Repeta como as vítimas anteriores do serial killer, com cada personagem ajudando muito no desenvolvimento de Thames ao longo da trama.

(When it comes to the cast, we have here two extremely promising performers in the acting performances of Mason Thames, who plays Finney, and Madeleine McGraw (who is the older sister of the excellent child actress Violet McGraw, from “The Haunting of Hill House” and “Doctor Sleep”), who plays Gwen, the protagonist's sister. I saw a lot of Owen/Oskar from “Let Me In” in Thames's performance, in a way where his character starts off being seen as someone who's helpless, and that slowly, builds up the courage to defend himself from the abuses he suffered throughout the plot. I really liked his performance, but McGraw stole my heart in such a way, that made me think that “The Black Phone” could've been even better if her character was the film's protagonist. She literally steals every scene she's in, and there's a particular sequence that made me think: “Damn, this kid can act!”. Her character reminded me (a lot) of Abra Stone, brilliantly portrayed by Kyliegh Curran in “Doctor Sleep”, in a way she carries the plot's emotional weight even more than the protagonist, while having an intricate connection with the supernatural. Both actors were one hell of a discovery, and I can't wait for their next work.

And, in the middle of it all, we have the face of the film's entire marketing campaign, which is Ethan Hawke's astounding performance as the antagonist. I was really impressed with the way that the actor managed to mix a sick charisma with the calculating, cold character of a true psychopath, using several masks onscreen (both literally and figuratively). It's like if his character was a mix between Rose the Hat from “Doctor Sleep” and Pennywise from “It”. It's incredible how he managed to make the viewer feel nothing towards his character but fear. “Tasty, tasty, beautiful fear”, as Derry's Dancing Clown would say. It's one of the most effective antagonist performances in a horror/thriller film I've ever seen, without the shadow of a doubt.

Other competent performances include those of Jeremy Davies as the two protagonists' abusive father, with the actor skillfully switching between aggressive and vulnerable approaches for his character; of E. Roger Mitchell and Troy Rudeseal as the detectives responsible for investigating the plot's disappearances; and of Miguel Cazarez Mora, Tristan Pravong, Jacob Moran, Brady Hepner and Banks Repeta as the serial killer's previous victims, with each character giving plenty of help to Thames's development throughout the plot.)



No quesito técnico, a equipe de “O Telefone Preto” consegue replicar a estética sépia e nostálgica de obras mais recentes ambientadas nos anos 80, como “It: A Coisa”. A direção de fotografia do Brett Jutkiewicz é propositalmente desprovida de cores vibrantes, dando a impressão para o espectador de estar assistindo à uma foto antiga em movimento, o que funciona, considerando que a ambientação do filme é no final dos anos 1970. Jutkiewicz consegue, com louvor, retratar tecnicamente a atmosfera tensa e enervante que Derrickson e Cargill querem construir no roteiro, o que é muito bom. Outro destaque fica com as cenas de sonho presentes na trama, onde a câmera assume um visual mais granulado e antiquado, como se o sonho fosse uma filmagem de uma câmera Super 8, o que eu achei genial. A montagem do Frédéric Thoraval não se rende aos cortes rápidos para causar arrepios e sustos no espectador, trabalhando de forma fluida com as tomadas contínuas de Jutkiewicz para fazer isso.

A direção de arte é um espetáculo à parte, especialmente nas cenas ambientadas no porão em que o protagonista é mantido refém. É um lugar sujo, insalubre e inerentemente assustador, como se qualquer coisa pudesse sair das paredes e partir pra cima do protagonista. É o último lugar que uma pessoa gostaria de estar, e por isso, o trabalho de direção de arte foi maravilhoso. As máscaras que o personagem do Ethan Hawke usa ao longo do filme são bem assustadoras, o que acaba servindo de contraste perfeito com o tom de voz do ator enquanto ele as está usando. Eu amei os detalhes do design de som nas cenas do telefone, onde a voz dos fantasmas sai meio granulada enquanto os atores estão em tela, dando a impressão de que, realmente, tem alguém do outro lado da linha. E, como dito anteriormente, temos o uso genial e prático de maquiagem e efeitos visuais, usados para acentuar o caráter sobrenatural da trama, me lembrando muito dos trabalhos do James Wan em filmes como “Invocação do Mal” e “Sobrenatural”.

E, por último, mas certamente, não menos importante, temos a trilha sonora original do Mark Korven, conhecido por seus trabalhos nos filmes de terror “A Bruxa” e “O Farol”. As faixas de Korven fazem um uso inventivo de sintetizadores e barulhos estáticos para acentuar a tensão e o caráter perturbador da trama, usando até sons de telefone para compor algumas dessas faixas, o que eu achei bem interessante.

(When it comes to technical aspects, the crew from “The Black Phone” manages to replicate the sepia, nostalgic aesthetic of more recent work that's set in the 80s, such as “It”. Brett Jutkiewicz's cinematography is purposefully devoid of vibrant colors, giving the viewer the impression of watching an antique photo in motion, which works, due to the film's setting being in the late 1970s. Jutkiewicz manages to, masterfully, technically portray the tense and unnerving atmosphere that Derrickson and Cargill want to build in the script, which is really good. Another highlight stays with the dream sequences in the plot, where the camera assumes a more grainy, antique-like look, as if the dream was a recording of a Super 8 camera, which I thought was a genius move. Frédéric Thoraval's editing doesn't surrender to quick cuts in order to give the viewer the creeps and the goosebumps, working fluidly with Jutkiewicz's tracking shots to do so.

The production design is a particular spectacle, especially in the scenes set in the basement in which the protagonist is held hostage. It's a dirty, insalubrious, and inherently scary place, as if anything could jump out of the walls and attack the protagonist, head-on. It's the last place a person would like to be, and because of that, the production design work was wonderful. The masks that Ethan Hawke's character uses throughout the film are quite scary, which ends up serving as the perfect contrast to the actor's tone of voice as he's wearing them. I loved the sound design details in the phone scenes, where the ghosts' voice comes out as sort of grainy while the actors are onscreen, giving the impression that, there's someone, actually, on the other end of the line. And, as previously said, we have the genius and practical use of make-up and visual effects, used to enhance the plot's supernatural vibe, reminding me a lot of James Wan's work in films like “The Conjuring” and “Insidious”.

And at last, but definitely, not least, we have the original score by Mark Korven, known by his work in the horror movies “The Witch” and “The Lighthouse”. Korven's tracks make an inventive use of synthesizers and static noises to enhance the tension and the plot's disturbing character, using even telephone sounds to compose some of those tracks, which I found to be quite interesting.)



Resumindo, “O Telefone Preto” é um dos melhores filmes do ano até agora, para mim. Contando com o retorno triunfal de Scott Derrickson ao terror, um roteiro que mistura perfeitamente terrores reais e sobrenaturais, performances extremamente competentes de seu elenco, e aspectos técnicos que acentuam o caráter tenso e perturbador da trama de uma maneira completamente eficiente, o filme consegue ser uma história de amadurecimento aterrorizante, fazendo desse “Telefone Preto” uma chamada impossível de recusar.

Nota: 10 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que vocês tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “The Black Phone” is one of the best films of the year, so far, in my opinion. Relying on Scott Derrickson's triumphant return to horror, a screenplay that perfectly mixes real and supernatural horrors, extremely competent performances by its cast, and technical aspects that enhance the tense and disturbing vibe of the plot in a completely effective way, the film manages to be a terrifying coming-of-age story, making this “Black Phone” a call that's impossible to decline.

I give it a 10 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)


sábado, 16 de julho de 2022

"Elvis": uma homenagem grandiosa ao Rei do Rock e ao poder transformador da música (Bilíngue)

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"Um pastor uma vez me disse: 'Quando as coisas forem muito perigosas para dizer, cante.'" - Austin Butler como Elvis Presley

("A reverend once told me: 'When things are too dangerous to say, sing.'" - Austin Butler as Elvis Presley)


E aí, meus queridos cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para falar sobre um dos lançamentos mais recentes, já em exibição nos cinemas! Contando com uma direção extremamente autoral, um uso irretocável dos estilosos aspectos técnicos, e performances que já estabelecem padrões estupidamente altos a serem superados na vindoura temporada de premiações, o filme em questão não só se dispõe a contar a emocionante história de seu personagem-título, mas também explora as origens do movimento cultural que o lançou ao estrelato de uma maneira fiel, respeitosa e transformadora. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Elvis”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to talk about one of the most recent film releases, which is already being shown in theaters! Relying on an extremely authoral direction, an impeccable use of its stylish technical aspects, and performances that already set stupidly high standards to be beat in the upcoming award season, the film I'm about to review not only resumes itself in telling its title character's thrilling story, but also explores the origins of the cultural movement that launched him into stardom in a way that's faithful, respectful and transformative. So, without further ado, let's talk about “Elvis”. Let's go!)



O filme conta a história de Elvis Aaron Presley (Austin Butler) através das décadas, em especial aprofundando em seu relacionamento conturbado com seu empresário controlador, Coronel Tom Parker (Tom Hanks). A história mergulha na dinâmica entre o cantor e o empresário por mais de 20 anos de parceria, usando a paisagem dos EUA em constante mudança e a perda da inocência de Elvis ao longo dos anos como cantor, e enfim, explorando a ascensão de Presley de um motorista de caminhão a um dos maiores artistas musicais de todos os tempos.

(The film tells the story of Elvis Aaron Presley (Austin Butler) throughout the decades, particularly focusing in his troubled relationship with his controlling manager, Colonel Tom Parker (Tom Hanks). The story dives into the dynamic between the singer and the manager for over 20 years in their partnership, using the landscape of an America that's constantly changing and Elvis's loss of innocence over the years as a singer, and, at last, exploring Presley's ascension from a truck driver to one of the greatest musical artists of all time.)



Eu estava bastante animado para ver “Elvis”. Na época de anúncio, uma das razões que mais atiçavam minha curiosidade para ver o filme foi o envolvimento de Tom Hanks, meu ator favorito, em um dos papéis principais. Outra razão que aumentou minhas expectativas foi a escalação do relativamente novato Austin Butler, que roubou a cena como um dos membros da Família Manson em “Era uma Vez em Hollywood”, no papel do Rei do Rock. Mas o que realmente me convenceu a ver o filme era a promessa de uma perspectiva diferente na história de Elvis Presley. Ao invés de assistirmos a trama pelos olhos do próprio personagem-título, como ocorreu em filmes como “Bohemian Rhapsody” e “Rocketman”, o roteiro de “Elvis” é inteiramente narrado pelo ponto de vista do “vilão”, o empresário de Presley, Coronel Tom Parker, interpretado por Hanks.

Mas devo admitir que tinha minhas ressalvas, e elas eram baseadas inteiramente na direção do Baz Luhrmann. O único filme que havia assistido do diretor antes de ver a obra em questão era o “espetacular espetacular” “Moulin Rouge!: Amor em Vermelho”, considerado um dos 100 melhores filmes do século XXI, de acordo com a BBC. Mas aí eu tentei assistir a adaptação de Luhrmann do clássico “O Grande Gatsby”, com Tobey Maguire e Leonardo DiCaprio, e acho que não consegui chegar à marca dos 30 minutos. Não sei se foi por causa da tentativa do diretor de juntar uma estética vintage com uma vibe mais contemporânea, ou pelo estilo visual demasiadamente espalhafatoso, ou por essas duas razões combinadas, que curiosamente caíram como uma luva em “Moulin Rouge!”. Só sei que minha experiência com “O Grande Gatsby” me fez considerar a possibilidade de “Elvis” ser um caso de “style over substance”, ou seja, o diretor prioriza o estilo visual do longa em detrimento da história. Ah, como é bom estar completamente enganado em relação à algo!

O novo filme de Baz Luhrmann não só é uma das biografias musicais mais expansivas dos últimos tempos, explorando praticamente toda a carreira de seu objeto de estudo, mas também é uma obra que, acima de tudo, analisa o momento sociopolítico particular em que o mundo se encontrava na ambientação da trama e o lugar do protagonista nesse cenário. Essa escolha criativa faz com que “Elvis” seja uma verdadeira aula de história sobre as origens e principais influências do rock 'n' roll, e principalmente, uma lição moral sobre o papel da música como instrumento de mudança.

Ok, então, vamos falar do roteiro. Escrito por Luhrmann, Sam Bromell, Craig Pearce e Jeremy Doner, o roteiro de “Elvis” faz um uso muito bem calculado de uma fórmula amplamente presente em biografias musicais para atrair um público mais abrangente, que é a fórmula “rags to riches” (“dos trapos às riquezas”, em tradução livre). Ou seja, o filme explora as origens humildes de seu protagonista, sua ascensão ao estrelato, e todos os altos e baixos que vem junto com ela. Isso não só permite que a história seja mais ressoante aos olhos do espectador, mas também o leva a se acomodar antes do estilo característico de Luhrmann dominar a tela e nos surpreender completamente, o que é muito bom.

Outro acerto do roteiro de “Elvis” é justamente a escolha da perspectiva do filme. O nosso guia pela história do Rei do Rock não é o “mocinho”, ou o personagem-título em si; mas sim o “vilão”, o empresário de Presley, um vigarista enganador da mais alta patente. E o que há de mais brilhante nessa escolha é a capacidade do roteiro de fazer com que o espectador completamente entenda os dois lados da moeda: enquanto há cenas que destacam a humildade de Presley em relação à sua família, e em especial, à comunidade negra dos EUA; há algumas sequências que focam na esperteza inigualável de Parker, que permitiu que o cantor alcançasse o patamar em que ele se encontra agora. A dupla perspectiva de “Elvis” faz com que o filme se destaque em meio a outras biografias musicais, pela tarefa quase hercúlea de não se render a um ponto de vista unidimensional, o que é ótimo.

Pode-se dizer que as melhores sequências do filme de Luhrmann não são aquelas referentes ao protagonista em si, mas sim aquelas que focam no cenário sociopolítico dos EUA na época, nas influências do cantor (as quais ele encontra na comunidade negra do Club Handy, em Memphis) e nos bastidores da indústria musical como um todo. A abordagem de temas como racismo e preconceito, a influência da cultura negra na cultura mundial e o controle criativo que as gravadoras e empresários têm em relação à propriedade intelectual de um artista permite que o filme tenha um apelo universal e atemporal, comunicando de forma perfeita com os tempos atuais, já que esses temas perduram até os dias de hoje.

Ou seja, acima de tudo, “Elvis” é mais do que uma biografia musical, é uma verdadeira aula de história que ensina ao espectador as origens do rock 'n' roll e exalta o poder da música como instrumento de mudança. O rock, como movimento, quebrou barreiras e expressou emoções que as pessoas estavam realmente sentindo na época, mas não eram abertamente discutidas. E Presley, com seu requebrado irresistível e estilo musical transgressivo, inspirado na música afro-americana, serviu como uma espécie de veículo para que a voz das comunidades segregadas fosse amplamente divulgada ao público. Há uma cena em particular que retrata perfeitamente esse objetivo, amalgamando toda a rebeldia, transgressão e espírito de mudança presente no rock e resultando em uma sequência de tirar o fôlego, tanto pela proeza técnica exibida, quanto pelo que ela representou para o protagonista.

Porém, é preciso lembrar que “Elvis” é um filme de Baz Luhrmann, tanto para o bem quanto para o mal. O estilo visual injetado no longa-metragem é altamente sensorial, dinâmico e acelerado, fazendo com que a duração robusta de 2 horas e 40 minutos passe voando pelos olhos do espectador. O uso extraordinário da direção de fotografia e da montagem (que serão abordadas mais a fundo posteriormente) evita que o filme perca seu ritmo, o que funciona tanto de forma técnica quanto narrativa, já que a trama começa com Parker em seu leito de morte, um período onde as pessoas alegam que a vida “passa como um flash” pelos olhos do falecido antes de morrer.

Mas, em contrapartida, o passo acelerado infelizmente também faz com que o roteiro trate certos momentos de uma maneira mais superficial, inserindo-os em uma montagem ao invés de esticar um pouco mais a duração e deixar a narrativa respirar um pouco, aprofundando nesses aspectos. Há rumores de que existe uma versão estendida de 4 horas de duração, a qual eu realmente espero que veja a luz do dia em breve, porque eu tenho quase certeza que as ressalvas que tive em relação ao corte de cinema se tornarão vantagens nessa versão.

Resumindo, mesmo que o passo acelerado trate alguns momentos cruciais de maneira superficial, o roteiro de “Elvis” faz uso de uma direção autoral altamente estilosa e fórmulas clássicas do gênero biográfico musical para fazer com que o filme funcione em três vertentes: 1) como uma biografia de seu personagem-título; 2) como uma aula de história sobre as origens e influências do rock 'n' roll; e 3) como um manifesto e lição de moral sobre o papel e o poder da música como um instrumento de mudança.

(I was really excited to watch “Elvis”. By the time it was announced, one of the reasons that made me the most curious to watch the film was the involvement of Tom Hanks, my all-time favorite actor, in one of the main roles. Another reason that enhanced my expectations was the casting of the relatively new actor Austin Butler, who stole the scene as one of the Manson family members in “Once Upon a Time in Hollywood”, in the role of the King of Rock and Roll. But what really convinced me to watch it was the promise of a new perspective in the Elvis Presley story. Instead of watching the plot through the eyes of the title-character himself, as in films like “Bohemian Rhapsody” and “Rocketman”, the screenplay of “Elvis” is entirely narrated from the point of view of the “villain”, Presley's manager, Colonel Tom Parker, portrayed by Hanks.

But I must admit I had reasons to doubt it would be any good, and they were based entirely on Baz Luhrmann's direction. The only film I had watched from him before the work analyzed here was the “spectacular spectacular” “Moulin Rouge!”, which was considered one of the greatest films of the 21st century, according to the BBC. But then I tried to watch Luhrmann's adaptation of the classic “The Great Gatsby”, with Tobey Maguire and Leonardo DiCaprio, and I think I couldn't make it past the 30-minute mark. I don't know if it was the director's attempt to mix a vintage aesthetic with a contemporary vibe, or its way too flashy visual style, or those two reasons combined, which curiously fit like a glove in “Moulin Rouge!”. I just know that my experience with “The Great Gatsby” made me consider the possibility of “Elvis” being an example of style over substance, meaning, the director would focus more on the visual style than the story. Well, turns out I'm glad to be completely wrong, after all!

Baz Luhrmann's new film not only is one of the most expansive musical biopics in recent times, as it practically explores its title-character's entire career, but it is also a film that, above everything, analyzes the particular sociopolitical moment the world finds itself in the plot's setting and the protagonist's place and role in this scenario. That creative choice allows “Elvis” to be a true history lesson on the origins and main influences of rock 'n' roll, and mainly, a moral lesson on the role of music as an instrument of change.

Okay, then, let's talk about the screenplay. Written by Luhrmann, Sam Bromell, Craig Pearce and Jeremy Doner, the script for “Elvis” makes a very well calculated use of a formula that's widely present in musical biopics in order to attract a bigger audience, which is the “rags to riches” formula. Meaning, the film explores its protagonist's humble origins, his rise to stardom, and all the ups and downs that come with it. That not only allows the story to resonate more in the viewer's eyes, but also leads them to settle down before Luhrmann's characteristic style takes over and surprises us completely, which is really good.

Another thing that the screenplay for “Elvis” got right was precisely the film's choice of perspective. Our guide through the story of the King of Rock and Roll isn't the “good guy”, or the title character himself; it's actually the “bad guy”, Presley's manager, a scheming, cheating con man of the highest order. And the most brilliant thing about that choice is the screenplay's capacity of making the viewer fully understand both sides of the coin: while there are scenes that highlight Presley's humbleness towards his family, and especially, towards the American Black community, there are some sequences that focus on Parker's one-of-a-kind cleverness, which allowed the singer to reach the spot where he finds himself in now. The double perspective in “Elvis” makes the film stand out among other musical biopics, for its almost Herculean task of not surrendering to a one-dimensional point of view, which is great.

It can be said that the best sequences in Luhrmann's film aren't those referencing the protagonist himself, but those that focus on the sociopolitical scenario of America at the time, on the singer's influences (which he finds in the Black community of Club Handy, in Memphis) and on the behind-the-scenes secrets of the musical industry as a whole. The approach of themes like racism and prejudice, the influence of Black culture in world culture and the creative control that record companies and managers have over the intellectual property of artists allow the film to have a universal and timeless appeal, perfectly communicating with today's times, as these themes live on to this day.

Meaning, above everything, “Elvis” is more than a musical biopic, it's a true history lesson that teaches the origins and influences of rock 'n' roll to the viewer and praises the power of music as an instrument of change. Rock, as a movement, broke several barriers and expressed many emotions that people were actually feeling at that time, but weren't openly dealt with or discussed. And Presley, with his irresistible groove and transgressive musical style, inspired by African-American music, served as some sort of vehicle for the voices of these segregated communities to be widely broadcast to the public. There's a particular scene that perfectly portrays that objective, putting together all the rebelliousness, transgression and spirit of change in rock and resulting in a breathtaking sequence, both for the technical prowess displayed and for what it represented to the protagonist.

However, it must be taken into consideration that “Elvis” is very much a Baz Luhrmann film, for better and for worse. The visual style that's injected into the story is highly sensorial, dynamic and kinetic, making its robust runtime of 2 hours and 40 minutes practically fly through the viewer's eyes. The extraordinary use of the cinematography and editing (which will be approached on a deeper level afterwards) prevents the film from losing its rhythm, which works both technically and narratively, as the film starts with Parker in his deathbed, a period when people say that life “flashes by” the deceased's eyes before passing away.

But, on the other hand, its lightning-fast pacing unfortunately also makes the screenplay's treatment of certain moments a little too shallow, by putting them into montages instead of stretching out the runtime a little bit more and letting the narrative breathe some air, by deepening onto those aspects. There are rumors that there's a 4-hour-long extended version of this film, and I really hope it sees the light of day soon, because I'm almost sure that the setbacks I found in the theatrical cut will surely turn into advantages in this version.

To sum it up, even though its kinetic pacing treats some rather crucial moments a little too on the surface, the screenplay of “Elvis” makes use of a highly stylish directorial style and classic musical biopic formulas in order to make the film work in three different ways: 1) as a biography of its title character; 2) as a history class on the origins and influences of rock 'n' roll; and 3) as a manifesto and moral lesson on the role and the power of music as an instrument of change.)



Uma das principais fontes de elogios dos críticos em relação ao filme é a performance de Austin Butler como Elvis Presley, e com razão. Posso dizer com toda a tranquilidade do mundo que Butler é o principal candidato ao Oscar 2023 de Melhor Ator, pela tamanha dedicação que o ator teve para o papel. Do sotaque sulista à capacidade vocal e os movimentos do cantor no palco, Butler se entrega de corpo e alma para replicar, aos mínimos detalhes, todos os trejeitos icônicos do Rei do Rock. É incrível ver o ator se soltar nas sequências musicais, vê-lo dançando como se ninguém estivesse olhando, e de uma forma tão natural, mas tão natural, que parece que o espírito de Presley estava possuindo Butler na época das filmagens. É uma performance realmente transformadora, e ouso dizer que é uma das melhores, se não for a melhor atuação em uma biografia musical. O sucesso de “Elvis” certamente colocará o ator sob os holofotes, algo que só irá aumentar com a sua escalação como o vilão da sequência de “Duna”, prevista para o ano que vem.

Por outro lado, como o principal candidato ao Oscar 2023 de Melhor Ator Coadjuvante, temos o sempre maravilhoso Tom Hanks, que está quase irreconhecível aqui como o Coronel Tom Parker. Ao contrário de suas performances em “Quero Ser Grande” e “Forrest Gump”, onde há uma certa ingenuidade e inocência nos seus personagens, Hanks assume uma persona raramente vilanesca em sua carreira com seu papel em “Elvis”, sendo tão ou ainda mais convincente que Butler no papel principal. Através das narrações de seu personagem ao longo da trama, descobrimos cada vez mais suas motivações e razões para fazer o que ele faz, e são raras as vezes em que nós não entendemos o lado dele na situação. Com o auxílio do roteiro, Hanks injeta uma quantidade necessária de humanidade e empatia em um personagem que, nas mãos de qualquer outro ator, provavelmente seria caricato e unidimensional.

Eu gostei bastante de como o roteiro trabalhou a Priscilla Presley, interpretada brilhantemente pela Olivia DeJonge. A performance da atriz me lembrou bastante do papel da Sharon Tate, interpretada por Margot Robbie, em “Era Uma Vez em Hollywood”, filme que, curiosamente, também conta com Butler no elenco. Há uma certa pureza e “santidade” em como o roteiro aborda a personagem, o que acaba servindo de contraste perfeito para a persona de roqueiro do protagonista, e DeJonge faz um ótimo trabalho em cena com Butler, onde é possível ver que Priscilla se importa genuinamente com o marido, mesmo com suas personalidades sendo praticamente opostas. Outras performances que valem a pena destacar incluem as de Helen Thomson e Richard Roxburgh como os pais (e alicerces) de Presley; Kelvin Harrison Jr. e Alton Mason como os ícones B.B. King e Little Richard, que roubam as poucas cenas em que estão em tela; e Dacre Montgomery, como uma das pessoas responsáveis pelo retorno triunfal de Elvis no final dos anos 1960.

(One of the main sources of praise by critics in regards to the film is Austin Butler's performance as Elvis Presley, and rightfully so. I can say with all the tranquility in the world that Butler is the main contender for the 2023 Oscar for Best Actor, because of the actor's tremendous dedication towards the role. From his Southern accent to the singer's vocal capacity and movements on stage, Butler gives his heart and soul to replicate, to the tiniest details, all of the King of Rock and Roll's iconic mannerisms. It's amazing to see the actor letting himself loose on the musical sequences, dancing like no one's watching, and in a way that's so natural, REALLY natural, that it seems like Presley's spirit had possessed him during filming. It's a truly transformative performance, and I dare to say that it's one of the best, if not the best acting in any musical biopic ever. The success of “Elvis” will certainly put the actor under the spotlights, something that'll only grow with his casting as the villain in the “Dune” sequel, set for next year.

On the other hand, as the main contender for the 2023 Oscar for Best Supporting Actor, we have the always wonderful Tom Hanks, who is almost unrecognizable here as Colonel Tom Parker. Unlike his performances in “Big” and “Forrest Gump”, where there's a certain naiveté and innocence to his characters, Hanks assumes a rarely villainous persona in his career with his role in “Elvis”, being just as or even more convincing than Butler in the main role. Through voice-over narrations his character makes throughout the plot, we figure out more and more about his motivations and reasons why he does what he does, and we very rarely fail to clearly see his side on the situation. With help from the screenplay, Hanks injects a necessary dosage of humanity and empathy to a character that, in the hands of any other actor, would come out as boring and one-dimensional.

I really enjoyed how the script managed to work with Priscilla Presley, brilliantly portrayed by Olivia DeJonge. The actress's performance really reminded me of Sharon Tate's role, portrayed by Margot Robbie, in “Once Upon a Time in Hollywood”, a film that, curiously, also has Butler in the cast. There's a certain purity and “saint”-like feel on how the script treats the character, which ends up serving as the perfect antithesis to the protagonist's rockstar persona, and DeJonge does a great job onscreen with Butler, where we're able to see that Priscilla genuinely cares for her husband, even with their personalities being completely opposite. Other performances that are worth mentioning include those of Helen Thomson and Richard Roxburgh as Presley's parents (and foundation stones); Kelvin Harrison Jr. and Alton Mason as icons B.B. King and Little Richard, who steal the few scenes they're onscreen; and Dacre Montgomery, as one of the people responsible for Elvis's triumphant comeback in the late 1960s.)



Quando Baz Luhrmann faz um filme, uma coisa é certa: o diretor irá extrair o máximo dos aspectos técnicos ao seu dispor, e “Elvis” não é uma exceção. Os toques da direção de Luhrmann estão 100% visíveis na estética visual e sonora do filme, da direção de fotografia e montagem à mixagem de som e a trilha sonora. A direção de fotografia da Mandy Walker e a montagem do Matt Villa e do Jonathan Redmond, como dito anteriormente, fazem um trabalho extraordinário no estabelecimento do ritmo acelerado da trama, diminuindo a velocidade em alguns momentos-chave para apreciarmos o trabalho dedicado e extremamente fiel dos departamentos de direção de arte, como a construção dos cenários, o design dos figurinos, e, principalmente, o penteado e a maquiagem, que realmente transforma os atores nas figuras da vida real que elas interpretam.

As sequências musicais são um espetáculo a parte, sendo as melhores, mais dinâmicas e mais frenéticas sequências de show que eu já vi em uma biografia musical. É incrível como a câmera de Walker foca nos movimentos e danças de Presley, e a montagem de Villa e Redmond instintivamente já corta para a reação e o delírio do público, mas não demora para voltar o foco em Elvis. Essa transição acelerada entre o público e a atração e o uso bem-calculado de câmera lenta ajudam a criar uma sensação inigualável de movimento nessas cenas, e isso, na minha opinião, é algo necessário para que tais sequências não pareçam mecânicas aos olhos do público.

E, como em toda biografia musical, temos a trilha sonora, que consegue replicar o caráter grandioso e icônico das gravações originais e, ao mesmo tempo, adicionar um toque contemporâneo a elas, algo que esteve presente nos filmes anteriores do diretor, como “Moulin Rouge!” e “O Grande Gatsby”. Além das canções de Presley cantadas por Butler, temos covers e canções originais feitas por artistas contemporâneos, como Doja Cat, Eminem, CeeLo Green, Swae Lee, Diplo, Kacey Musgraves, Tame Impala e Stevie Nicks, que conseguem homenagear a influência de Presley na indústria musical de uma maneira respeitosa, mas ao mesmo tempo, autêntica, de acordo com o estilo de cada artista, o que é muito bom. E com um toque final, temos a trilha sonora instrumental do Elliott Wheeler, que transforma as canções do Rei em belíssimas faixas instrumentais, executadas com o auxílio de vários instrumentos, fazendo tudo ser mais épico.

(When Baz Luhrmann makes a film, one thing's for sure: the director will make the most of the technical aspects at hand, and “Elvis” is no exception. The flourishes of Luhrmann's directorial style are 100% visible in the film's visual and sonic aesthetic, from the cinematography and editing to the sound mixing and the soundtrack. Mandy Walker's cinematography and Matt Villa and Jonathan Redmond's editing, as previously said, do an extraordinary job in establishing the plot's lightning-fast pacing, slowing down in a few key moments for us to appreciate the dedicated and extremely faithful work by the art direction departments, such as set building, costume design, and, mainly, hairstyling and make-up, which really transforms the actors into the real-life figures they play.

The musical sequences are a particular spectacle, being the best, most dynamic and most kinetic concert sequences I've ever seen in a musical biopic. It's amazing how Walker's camera focuses on Presley's movements and dancing, and Villa and Redmond's editing instinctively cuts to the audience's reaction and screaming, but doesn't take long to turn the focus back on Elvis. This fast-paced transition between the audience and the attraction and the well-calculated use of slow motion help creating a one-of-a-kind feeling of motion in these scenes, and that, in my opinion, is something that's necessary for these sequences not to feel mechanical in the eyes of the audience.

And, as in every musical biopic, there's the soundtrack, which manages to replicate the grand, iconic character of the original recordings and, at the same time, add a contemporary touch to them, something that was present in the director's previous films, such as “Moulin Rouge!” and “The Great Gatsby”. Besides Presley's songs, sung by Butler, we've got covers and original songs made by contemporary artists, such as Doja Cat, Eminem, CeeLo Green, Swae Lee, Diplo, Kacey Musgraves, Tame Impala and Stevie Nicks, who manage to pay homage to Presley's influence in the music industry in a respectful, yet authentic way, according to each artist's particular style, which is really good. And, as the cherry on top, we've got Elliott Wheeler's original score, which transforms the King's songs into gorgeous instrumental tracks, executed with several instruments, making it all sound way more epic.)



Resumindo, “Elvis”, assim como o seu personagem-título, é fenomenal. Contando com um estilo de direção autoral e frenético, um roteiro acelerado com uma perspectiva diferenciada, performances arrebatadoras de seu elenco e aspectos técnicos que injetam uma quantidade enorme de movimento nas incríveis sequências musicais, o novo filme de Baz Luhrmann funciona perfeitamente como uma biografia (mesmo sendo superficial às vezes), mas encontra seu ponto mais alto como um manifesto sobre o poder da música como instrumento de mudança.

Nota: 9,5 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que vocês tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “Elvis”, like its title-character, is phenomenal. Relying on an authentic and kinetic directorial style, a fast-paced screenplay with a different perspective, knockout performances by its cast and technical aspects that inject an enormous amount of motion into its incredible musical sequences, Baz Luhrmann's new film works perfectly as a biopic (even if it's a bit shallow at times), but it finds its highest point as a manifesto on the power of music as an instrument of change.

I give it a 9,5 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)