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E aí, meus queridos cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para falar sobre um dos lançamentos mais recentes, já em exibição exclusiva nos cinemas! Uma obra que já nasceu para dividir crítica e público, o filme em questão encontra seu diretor e roteirista no ápice de sua ambição, resultando em um retrato ousado, sem filtros e propositalmente caótico da velha Hollywood e em uma verdadeira viagem alucinante pela história do cinema, abordando os altos e baixos enfrentados pelos profissionais da indústria, os quais ainda se fazem muito presentes nos dias de hoje. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Babilônia”. Vamos lá!
(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to talk about one of the most recent film releases, which is now playing exclusively in theaters! A work that was born to divide both critics and audience, the film I'm about to review finds its writer-director in the peak of his ambition, resulting in a bold, unfiltered and purposefully chaotic portrayal of Old Hollywood and in a truly hallucinating trip through the history of cinema, approaching the ups and downs faced by its professional workers, which are still very much present nowadays. So, without further ado, let's talk about “Babylon”. Let's go!)
Califórnia, 1926. Manny Torres (Diego Calva) é um imigrante mexicano que trabalha como faz-tudo para um grande produtor de cinema, sendo responsável por trazer suprimentos e entretenimento para as festas orgiásticas que ele oferece em sua residência. Durante uma destas festas, ele conhece Nellie LaRoy (Margot Robbie), uma aspirante a atriz com espírito livre e espontâneo, com quem cria uma conexão quase instantânea; e Jack Conrad (Brad Pitt), um ator veterano do cinema mudo, que o ajuda a entrar no mercado cinematográfico. A partir de então, Manny, Nellie e Jack enfrentam os altos e baixos da transição entre o cinema mudo e o cinema falado, forçando-os a se adaptarem para preservarem suas carreiras.
(California, 1926. Manny Torres (Diego Calva) is a Mexican immigrant who works as an everyman for a big movie producer, being responsible for transporting supplies and entertainment for the orgiastic parties he hosts in his residence. During one of these parties, he meets Nellie LaRoy (Margot Robbie), a free-spirited, spontaneous wannabe actress, with whom he creates an almost instant connection; and Jack Conrad (Brad Pitt), a veteran actor of silent films, who helps him enter the filmmaking industry. From that moment on, Manny, Nellie and Jack face the ups and downs that come with the transition between silent films and talkies, forcing them to adapt in order to preserve their careers.)
Desde que o primeiro trailer de “Babilônia” foi lançado, eu sabia que não seria um filme que iria agradar ao público em geral, como os outros filmes do diretor Damien Chazelle fizeram (“Whiplash”, “La La Land” e “O Primeiro Homem”). Acompanhado pela trilha sonora de jazz energética do sempre ótimo Justin Hurwitz, o trailer é composto de cenas com uso pesado de drogas, toneladas de linguagem chula, porções com sexo e nudez explícitos, e sequências montadas com o propósito de fazer com que assistir à prévia seja uma experiência essencialmente caótica e desorientadora. À primeira vista, parecia ser uma mistura entre o exagero de “O Lobo de Wall Street” (que, por coincidência, também estrela Margot Robbie), o glamour de “O Grande Gatsby”, e a ambição de “Whiplash” e “La La Land”.
O caráter divisivo do filme só foi reforçado com as primeiras exibições em Nova York e Los Angeles, consolidando “Babilônia” como o clássico filme “ame ou odeie”; ou seja, ou você gosta muito do filme, ou você odeia ele com todas as forças, sem nenhum meio-termo entre estes dois extremos. Outros exemplos desse tipo de filme incluem “Mãe!”, de Darren Aronofsky; “A Árvore da Vida”, de Terrence Malick; “Dogville”, de Lars von Trier; e “Spring Breakers”, de Harmony Korine. As primeiras reações à “Babilônia” destacavam o visual, as atuações e a trilha sonora de Justin Hurwitz, mas tinham pontos de vista opostos em relação ao roteiro, à direção de Chazelle e ao conteúdo explícito presente no filme. Sinceramente, eu não me deixei ser afetado pelo que foi exibido no trailer, porque de alguma maneira, levando toda a paixão e a dedicação de Chazelle em seus filmes anteriores em conta, eu sabia que teria algo a mais a dizer.
E, felizmente, meus instintos estavam corretos. O filme contém sequências impróprias? Sim, mas elas nunca, nem por um segundo, são o foco do roteiro de Chazelle. Pelo contrário: assim como “Os Fabelmans”, o foco de “Babilônia” é o retrato da indústria cinematográfica e do progresso dela ao longo das décadas. Porém, ao invés de ser um relato pessoal do diretor em relação à sétima arte, como foi o caso de Spielberg, o filme de Chazelle parece ser uma adaptação cinematográfica de um livro de história do cinema banido por ser polêmico demais. É uma obra que retrata, de uma maneira igualmente satírica e dramática, a transição do cinema mudo para o falado e todas as mudanças que ela trouxe, que poderiam significar o triunfo ou a decadência dos profissionais que trabalhavam na indústria na época. E, de uma maneira praticamente atemporal, Chazelle conscientiza o espectador de que todos os problemas presentes na cultura atual (cultura do cancelamento, o “politicamente correto”, escândalos que destruíram a carreira de artistas, o impacto do jornalismo sensacionalista, a toxicidade dos fãs de cinema) também eram muito presentes na época da ambientação do filme.
Então, sobre o roteiro de Chazelle, gostaria de destacar os seguintes aspectos: o caráter épico e grandioso da narrativa, e como ele se conecta tematicamente às obras anteriores do diretor; a abordagem caótica e propositalmente desorientadora da velha Hollywood; o retrato dos altos e baixos enfrentados pelos profissionais da indústria (alguns dos quais, infelizmente, perduram até os dias de hoje); a atemporalidade que o roteiro injeta nos aspectos mais problemáticos presentes na cultura, fazendo com que a trama retratada esteja o mais próximo possível da nossa realidade atual; e como tudo isso combinado resulta em um olhar honesto, apaixonado e singular sobre a indústria cinematográfica.
Primeiramente, queria dizer o quão revigorante é ver um filme essencialmente ambicioso como “Babilônia” nas telonas. Em desenvolvimento desde 2019, a nova obra de Damien Chazelle é composta de 3 horas e 10 minutos de ambição pura e não-adulterada. É como se Chazelle pegasse todo retrato cinematográfico de Hollywood e virasse todos ao avesso, resultando em uma verdadeira festa de arromba regada à drogas, sexo e reviravoltas chocantes. É uma proposta extremamente arriscada e ousada, que, nas mãos do diretor errado, resultaria em uma das maiores bagunças já filmadas. Mas, felizmente, Damien Chazelle (que, até o momento, é o cineasta mais jovem a ganhar o Oscar de Melhor Diretor, aos 32 anos, por “La La Land” em 2017) injeta este retrato com uma paixão e um fascínio tão inerentemente cativantes em relação ao cinema, que o espectador não encontra outra opção senão ir na onda do diretor.
Outro destaque contido nessa ambição é o fato da trama não ser “parada”, mesmo com um tempo de duração extenso. Há um equilíbrio muito bem calculado entre um senso de humor extremamente ácido e satírico, compondo cenas capazes de fazer o espectador gargalhar; e uma veia mais dramática que acrescenta uma dose necessária de tensão à trama, reminiscente às cenas de “Whiplash” envolvendo o rígido e incrível personagem interpretado por J.K. Simmons, no papel que lhe rendeu o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Há sempre algo acontecendo em todas as cenas de “Babilônia”, e por isso, o filme demanda a total atenção do espectador: em cada canto da tela, nos diálogos, nos jogos de câmera, nas nuances contidas nas performances dos atores. É uma rara experiência cinematográfica completa.
E, nessa ambição, o filme se conecta de forma intrínseca às obras anteriores do diretor. “Whiplash”, “La La Land” e “O Primeiro Homem” contam histórias sobre sonhos e ambições. Em “Whiplash”, prevalece o sonho de Andrew ser um baterista de jazz em uma banda acadêmica prestigiada; em “La La Land”, prevalecem os sonhos de Mia e Sebastian de entrar no mercado cinematográfico e inaugurar um clube de jazz, respectivamente; e em “O Primeiro Homem”, prevalece o sonho de Neil Armstrong (e dos EUA, em geral) de ser o primeiro homem a pisar na Lua. E “Babilônia” não é uma exceção no cânone de Chazelle; veiculando os temas de ambição e sonhos através de vários dos seus personagens, especialmente os interpretados por Diego Calva e Margot Robbie, cuja química em tela lembra versões exageradas dos personagens de Emma Stone e Ryan Gosling em “La La Land”. (Curiosidade: Emma Stone estava cotada para interpretar a personagem de Robbie, mas, por questões de cronograma, deixou o papel, levando à escalação da atriz australiana indicada ao Oscar por “Eu, Tonya”.)
Outro destaque é o retrato do quão caótico e desorientador o mercado cinematográfico pode parecer para alguém que está prestes a entrar nele. Isso fica bem claro na prolongada cena de abertura, que conta com um jogo de câmera brilhante do diretor de fotografia Linus Sandgren, acompanhando o personagem de Calva por uma festa onde várias coisas estão acontecendo ao mesmo tempo. Para não ficar desnecessariamente explícito, Chazelle e Sandgren fazem a escolha certeira de apenas mostrar vislumbres dessas partes mais impróprias, de forma bem similar à “O Lobo de Wall Street”. Outro exemplo desse caráter caótico proposital é a primeira visita dos personagens de Calva e Robbie à um set de filmagens, onde vários longas-metragens estão sendo rodados simultaneamente. É sufocante, aterrorizante, mas ao mesmo tempo, inebriante e contagiante. Teoricamente, “Babilônia” seria uma bagunça, mas graças à direção de Chazelle, é uma bagunça que tem sentido e que prende o espectador.
Um dos maiores focos do roteiro de Chazelle é a abordagem dos altos e baixos enfrentados pelos profissionais da indústria cinematográfica, e, de uma maneira surpreendente, vários dos problemas que os personagens de “Babilônia” enfrentam ainda se fazem presentes nos dias de hoje. Creio que um dos principais objetivos do novo filme de Chazelle é mostrar o quanto a indústria cinematográfica e as mudanças nela podem corromper os artistas que nela se inserem, levando-os a desenvolverem vícios, e forçando-os a terem certos padrões de comportamento e se adaptarem para não perderem suas carreiras. Ou seja, Chazelle aborda os artistas cinematográficos como pessoas essencialmente descartáveis, de modo que, se eles dessem um passo na direção errada, estariam no olho da rua. É algo verdadeiramente desesperançoso de se ver, em especial para pessoas que querem seguir uma carreira no cinema, mas também é uma maneira que Chazelle encontra de clamar por mudanças necessárias na estrutura da indústria, e isso é muito bom.
Outro fator narrativo que me surpreendeu foi como os aspectos considerados mais problemáticos na cultura atual eram bem presentes na época retratada no filme. A abordagem de conceitos como a cultura do cancelamento e o “politicamente correto”; o impacto que o jornalismo sensacionalista pode ter na carreira de um artista; a capacidade destrutiva de escândalos descobertos pela imprensa e a toxicidade e opressão sofrida por esses profissionais por parte de fãs religiosamente devotos faz com que “Babilônia” seja um filme extremamente relevante em seu retrato da indústria cinematográfica na contemporaneidade. É algo brutalmente honesto, realista e necessariamente sem limites, para que a mensagem aproveite o máximo de seu impacto.
Porém, acima de tudo, “Babilônia”, assim como “Os Fabelmans”, é um olhar essencialmente apaixonado em relação à sétima arte e a todo o progresso que ela teve ao longo das décadas, mesmo que esse progresso possa ter significado o declínio para alguns profissionais da indústria, como o filme bem retrata. Chazelle imprime essa paixão em cada cena de seu filme, e consolida seu projeto mais ambicioso e sua homenagem aos velhos tempos de Hollywood com um baita de um floreio na sequência final, que pode muito bem ser uma das cartas de amor mais brilhantes e emocionantes que o cinema recebeu em toda a sua história. Se o espectador for um amante fervoroso da sétima arte, será impossível não se deixar levar pela ambição e pela dedicação de Damien Chazelle em “Babilônia”, e só por isso, o filme merece ser um dos principais concorrentes ao Oscar 2023, mesmo com as reações sendo extremamente divididas.
(Ever since the first trailer for “Babylon” was released, I knew it wouldn't be an all-out crowdpleaser, as director Damien Chazelle's previous films were (“Whiplash”, “La La Land” and “First Man”). Accompanied by the energetic jazz score composed by the always great Justin Hurwitz, the trailer is composed of scenes containing heavy use of drugs, tons of coarse language, portions with explicit sex and nudity, and sequences edited with the purpose of turning the preview into an essentially chaotic and disorienting experience. At first glance, the film seemed to be a mix between the exaggeration of “The Wolf of Wall Street” (which, coincidentally, also stars Margot Robbie), the glamour in “The Great Gatsby”, and the ambition of “Whiplash” and “La La Land”.
The film's divisive approach was only reinforced with its first screenings in New York and Los Angeles, consolidating “Babylon” as a classic “love it or hate it” movie; meaning, either you like the film a lot, or hate it with everything you've got, without any sort of middle ground between these two extremes. Other examples of this type of film include Darren Aronofsky's “Mother!”, Terrence Malick's “The Tree of Life”, Lars von Trier's “Dogville”, and Harmony Korine's “Spring Breakers”. The first reactions to “Babylon” praised the visuals, performances and Hurwitz's score, but were divided on the screenplay, Chazelle's direction and the film's graphic content. Honestly, I have to say I wasn't affected by what the trailer showed, because somehow, taking all the passion and dedication Chazelle had in his previous films into account, I knew it would have something more to say.
And, fortunately, my instincts were correct. Does the film have inappropriate sequences? Yes, but they never, not even for a second, are the focus of Chazelle's screenplay. On the contrary: just like “The Fabelmans”, “Babylon” focuses on its portrayal of the film industry and its progress throughout the decades. However, instead of being an extremely personal story on the director's love for cinema, as it was with Spielberg, Chazelle's film looks like a film adaptation of a film history book that was banned for being too controversial. It's a work that portrays, in an equally satirical and dramatic way, the transition between silent films and talkies and all the changes it brought with it, which could represent the triumph or the doom of the professionals that worked in the industry at the time. And, in a practically timeless manner, Chazelle makes the viewer aware that every problem that tarnishes our current culture (cancel culture, PC culture, career-destroying scandals, the impact of sensationalist journalism, the toxicity of movie fans) was also very much present during the time in which the film is set.
So, on Chazelle's screenplay, I'd like to highlight the following aspects: the narrative's epic and grand tone, and how it thematically connects with the director's previous works; its chaotic and purposefully disorienting approach of Old Hollywood; its portrayal of the ups and downs faced by the industry's professionals (some of which, unfortunately, are still present nowadays); the timelessness the screenplay injects into culture's most problematic aspects, which bring the film's plot closer and closer to our actual reality; and how all of that combined results in a singular, honest and passionate look on the filmmaking industry.
First of all, I'd like to say how invigorating it is to watch an essentially ambitious film like “Babylon” on a big screen. In development since 2019, the new work from Damien Chazelle is composed by 3 hours and 10 minutes of pure, sheer ambition. It feels like Chazelle took every cinematic portrayal of Hollywood and turned them all upside down, resulting in one hell of a drug-fueled, sex-laced, twist-filled going-away party. It is an extremely risky and bold proposition, which, in the wrong director's hands, would result in one of the greatest cinematic messes of all time. But, fortunately, Damien Chazelle (who, to date, stands as the youngest filmmaker to win the Oscar for Best Director, at age 32, for “La La Land” in 2017) injects this portrayal with such an inherent passion and fascination towards filmmaking, that the viewer ends up having no choice, but to go along with the director's flow.
Another highlight contained within that ambition is the fact the plot isn't dragged, even with that extended runtime. There's a very well calculated balance between a satirical and acid sense of humor, being capable of making the viewer laugh out loud; and a more dramatic vein that adds necessary tension to the plot, reminiscent to the scenes in “Whiplash” which involved J.K. Simmons's strict and incredible character, in a role that won him an Oscar for Best Supporting Actor. There's always something happening in every scene of “Babylon”, and for that, the film demands the viewer's full attention: in every corner of the screen, in the dialogue, in the camera movements, in the nuances in the actors' performances. It's a rare cinematic experience that feels complete.
And, in that ambition, the film intricately connects with the director's previous work. “Whiplash”, “La La Land” and “First Man” all tell stories about dreams and ambitions. In “Whiplash”, Andrew dreams of being a jazz drummer in a prestiged college band; in “La La Land”, Mia and Sebastian dream of entering show business and having a jazz club, respectively; and in “First Man”, Neil Armstrong (and the US, in general) dreams of being the first man to step on the Moon. And “Babylon” is no exception in Chazelle's canon; conveying its themes of dreams and ambitions through several characters, particularly those played by Diego Calva and Margot Robbie, whose chemistry onscreen is reminiscent of exaggerated versions of Emma Stone and Ryan Gosling's characters in “La La Land”. (Fun fact: Emma Stone was tapped to play Robbie's character, but, due to scheduling conflicts, she left the role, leading to the casting of the Australian actress who was Oscar-nominated for “I, Tonya”.)
Another highlight is the portrayal of how chaotic and purposefully disorienting the film industry may seem to those who are about to enter it. This becomes crystal clear in the film's prolonged opening sequence, which relies on brilliant camerawork by cinematographer Linus Sandgren, following Calva's character through a party where lots of things are happening at the same time. To not make it unnecessarily explicit, Chazelle and Sandgren make the right choice in showing bare glimpses of these more inappropriate parts, which makes it very similar to “The Wolf of Wall Street”. Another example of this purposeful chaotic tone is the first set visit by Calva and Robbie's characters, where several films are being simultaneously shot. It's suffocating, terrifying, but at the same time, intoxicating and contagious. In theory, “Babylon” would be a mess, but thanks to Chazelle's direction, it's a mess that makes sense and keeps the viewer hooked on its premise.
One of the biggest focus points of Chazelle's screenplay is the approach of the highs and lows film professionals face, and, surprisingly, many of the problems that the characters of “Babylon” face are still present, to this day. I believe that one of the main goals of Chazelle's new film is to show how the film industry and the changes in it are capable of corrupting the artists in it, leading them into developing addictions, and forcing them to have certain behavior patterns and to adapt in order to keep their careers. Meaning, Chazelle portrays these cinematic artists as essentially disposable and expendable people, in a way that, if they took a step in the wrong direction, they would be instantly fired. It's something that's truly hopeless to see, especially to people who wish to follow a career in cinema, but it is also a way Chazelle finds of showing that the industry's structure needs to go through necessary changes, and that's really good.
Another narrative factor that surprised me was how the aspects that are considered problematic to today's culture were quite present in the film's time setting. The approach of concepts like cancel culture and PC culture; the impact that sensational journalism can have on an artist's career; the destructive capacity of press-discovered scandals and the toxicity and opression suffered by these professionals by the hands of religiously devout fans makes “Babylon” be an extremely relevant film in its portrayal of the contemporary film industry. It's something that's brutally honest, realistic and necessarily boundless, so that the message can make the absolute most of its impact.
However, above everything, “Babylon”, just like “The Fabelmans”, is an essentially passionate look towards the film industry and all the progress it had throughout the decades, even though that progress may have meant a downward spiral for some industry professionals, as the film portrays very well. Chazelle makes that passion visible in every scene in his film, and cements his most ambitious project and his homage to the old times of Hollywood with one hell of a flourish in its final sequence, which might as well be one of the most brilliant and emotional love letters that cinema has received throughout its entire history. If the viewer is an all-out movie lover, it will be impossible to not get swept away by Damien Chazelle's ambition and dedication in “Babylon”, and just for that, the film deserves to be one of the main contenders at this year's Oscars, even if the reactions are extremely divisive.)
Se um espectador comum não for ver “Babilônia” pelo que foi exposto no trailer, ele certamente verá pela quantidade extraordinária de talento presente no elenco, encabeçado por ninguém menos que Brad Pitt (“Clube da Luta”) e Margot Robbie (“O Lobo de Wall Street”). O filme é recheado de aparições de atores famosos, e cada um tem sua chance de brilhar, mas vamos por partes, começando pela dupla principal, composta por Diego Calva e Robbie. Esse é o primeiro papel Hollywoodiano de destaque de Calva, e ele já mostra um entusiasmo e dedicação admiráveis como o faz-tudo Manny. De acordo com Chazelle, ele é o guia do espectador por toda a trama do filme, com Calva recebendo a tarefa difícil de tornar os acontecimentos compreensíveis para o espectador, e ele cumpre essa missão com primor através da atuação. Porém, é Margot Robbie, em seu melhor papel até o momento, que consegue transmitir melhor todo o espírito caótico e dramático de “Babilônia”. É fascinante a maneira que a atriz, à primeira vista, mostra uma atitude “livre, leve e solta” impassível (similar à sua interpretação da Arlequina nos filmes da DC), mas com o passar do tempo, vai revelando as inseguranças de sua personagem de modo incrivelmente genuíno. Estou torcendo para que o trabalho dela seja reconhecido como um dos indicados ao Oscar de Melhor Atriz.
Em um papel mais coadjuvante, Brad Pitt dá um verdadeiro show, oferecendo a maior quantidade de insights e ideias sobre o fazer cinematográfico e a experiência de ver um filme através de seu personagem, que é a maior fonte de alívio cômico do roteiro de Chazelle. Em vários momentos, ele me lembrou das cenas onde Cliff Booth, papel de Pitt em “Era uma Vez em Hollywood” que lhe rendeu o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, estava dopado nas sequências finais do filme, resultando em pérolas incrivelmente engraçadas. Porém, há uma veia mais dramática visível no trabalho do ator em “Babilônia”, e Pitt tem um desempenho igualmente admirável durante estas cenas. O Tobey Maguire interpreta, de longe, o personagem mais aterrorizante do filme. Não há uma cena onde ele esteja em tela em que o espectador não se sinta tenso e desconfortável, com a performance de Maguire sendo a chave para que essas cenas funcionem, e acabam funcionando perfeitamente. A Li Jun Li exibe uma sensualidade exótica combinada com uma austeridade dura como pedra com sua personagem, me lembrando muito da personagem da Lucy Liu em “Kill Bill”. A Jean Smart interpreta uma jornalista inserida no mercado cinematográfico, e os pontos de vista que sua personagem oferece sobre o cinema são dolorosamente verdadeiros, e a atriz é sensacional. O Jovan Adepo domina toda cena em que ele aparece, com uma cena em particular sendo muito, mas muito difícil de ver sem se sentir desconfortável, e dá pra ver, somente através dos olhos do ator, o quanto o personagem dele se sente incomodado com a situação retratada.
Outros atores presentes no filme através de papéis curtos ou pontas incluem Lukas Haas, Max Minghella, P.J. Byrne, Olivia Hamilton, Rory Scovel, Katherine Waterston, Samara Weaving, Olivia Wilde, Jeff Garlin, Flea, Spike Jonze e Chloe Fineman, e todos eles têm seus momentos de brilhar, com algumas destas cenas sendo as melhores do filme.
(If the ordinary viewer goes to watch “Babylon” not taking the trailer into consideration, they will certainly watch it for the extraordinary amount of talent contained within the cast, led by none other than Brad Pitt (“Fight Club”) and Margot Robbie (“The Wolf of Wall Street”). The film is filled with appearances by famous performers, and each of them have their chance to shine, but let's do this by parts, starting off with the main duo, composed by Diego Calva and Robbie. This is Calva's first Hollywood main role, and he already displays admirable enthusiasm and dedication towards the craft as everyman Manny. According to Chazelle, he is the viewer's guide through all of the film's plot, with Calva bearing the difficult task of making the events feel understandable for the viewer, and he fulfills this mission brilliantly through acting. However, it's Margot Robbie, in a career-best role, who best conveys the chaotic and dramatic spirit of “Babylon”. It's fascinating the way the actress, at first, shows a relentless carefree attitude (similar to her portrayal of Harley Quinn in DC movies), but as time flows by, she reveals her character's insecurities in an incredibly genuine manner. I'm really hoping her work is recognized as one of the nominees to the Oscar for Best Actress.
In a more supporting role, Brad Pitt knocks it out of the park, offering the greatest amount of insights and ideas on filmmaking and the experience of watching a film through his character, who is the biggest source of comic relief in Chazelle's screenplay. In several moments, he reminded me of the scenes where Cliff Booth, Pitt's role in “Once Upon a Time in Hollywood” that won him an Oscar for Best Supporting Actor, was drugged in the film's final sequences, resulting in incredibly funny gems. However, there's a visible more dramatic vein to Pitt's work in “Babylon”, and his development is equally admirable during these scenes. Tobey Maguire plays the film's most terrifying character, by far. There isn't a single scene where he appears that the viewer doesn't feel tense and uncomfortable, with Maguire's performance being the key for those scenes to work, and they end up doing so perfectly. Li Jun Li displays an exotic sensuality with a tough-as-a-rock austere attitude with her character, reminding me a lot of Lucy Liu's character in “Kill Bill”. Jean Smart plays a journalist who's inserted in the filmmaking business, and the points of view her character offers on cinema are painfully true, and the actress does a stellar job. Jovan Adepo owns every scene he's in, with a particular scene being very, very tough to watch without feeling uncomfortable, and you can see, just from the actor's eyes, how his character is bothered by the situation portrayed in it.
Other performers present in the film through short roles or cameos include Lukas Haas, Max Minghella, P.J. Byrne, Olivia Hamilton, Rory Scovel, Katherine Waterston, Samara Weaving, Olivia Wilde, Jeff Garlin, Flea, Spike Jonze and Chloe Fineman, and they all have their moment to shine, with some of these scenes being the film's best ones.)
Nos aspectos técnicos, “Babilônia” consegue refletir a ambição e a ousadia propostas pelo roteiro de Damien Chazelle. Além dos planos-sequência dinâmicos já mencionados do diretor de fotografia Linus Sandgren, é particularmente impressionante a maneira que o visual do filme vai se adaptando e evoluindo com o passar do tempo de duração, assim como o visual do próprio cinema sofreu uma evolução ao longo da História. De um tom mais sépia, a tela vai adquirindo aquele granulado e aqueles “risquinhos” que tornam tudo mais vintage, e a partir de um certo momento, o visual acaba tendo um teor mais psicodélico e tri-dimensional, o que pode refletir o caráter mais imaginativo e apoiado nos efeitos visuais em certos filmes contemporâneos. É um trabalho brilhante de fotografia que, combinado com a montagem igualmente dinâmica do Tom Cross, faz a experiência de ver “Babilônia” ser algo extremamente imersivo para o espectador. Ambos merecidamente devem receber o devido reconhecimento com, pelo menos, uma indicação ao Oscar.
A direção de arte é uma obra-prima à parte, sendo o principal concorrente ao Oscar desse ano na categoria. Eu achei simplesmente admirável a maneira com que a direção de arte e o design dos figurinos fazem parecer que estamos vendo um filme ambientado na década de 1920 e, ao mesmo tempo, também nos dão a impressão de que “Babilônia” é ambientado nos dias atuais, reforçando a atemporalidade presente no roteiro de Chazelle através do visual. As cenas ambientadas nos sets de filmagem são algumas em que a direção de arte tem seus momentos de brilhar, e surpreendendo um total de zero pessoas, acabam entre as melhores sequências do filme. O som é outro aspecto que vale muito a pena ser mencionado, já que o filme trata da transição entre o cinema mudo e o cinema falado. Uma cena em particular destaca a opressão e a ameaça que o som representou para os artistas que trabalhavam no cinema mudo, e é uma cena tão tensa e sufocante que chega a ser levemente assustadora.
E, como a cereja desse bolo extravagante e caótico, temos a sensacional trilha sonora original composta pelo Justin Hurwitz, que venceu o Oscar por seu trabalho excepcional em “La La Land”. Novamente, o jazz é o gênero predominante no trabalho do compositor; porém, enquanto em “La La Land” é algo mais organizado e bem orquestrado, tendo uma certa classe, em “Babilônia” é o completo oposto. Parece algo improvisado, misturando vários estilos musicais e algumas partes com vocais para criar uma verdadeira obra-prima sonora que reflete o livre-espírito e o caos presentes ao longo da trama. As composições viciantes de Hurwitz casam perfeitamente em particular com as cenas das festas, que acabam por despertar uma vontade no espectador de dançar loucamente junto com os personagens, assim como aconteceu (pelo menos, no meu caso) com “La La Land”. Academia, já pode ir polindo o segundo Oscar do Justin Hurwitz, porque O HOMEM TÁ CHEGANDO! (Risos)
(In its technical aspects, “Babylon” manages to reflect the ambition and boldness proposed in Damien Chazelle's screenplay. Besides the aforementioned dynamic long shots by cinematographer Linus Sandgren, it's particularly impressive the way the film's visuals change and evolve throughout its runtime, just like cinema itself, in its History, visually went through changes. From a more sepia tone, the screen gets that grainy look with little marks on the screen, which makes everything more vintage; and from a certain moment, the visuals end up having a psychedelic, almost three-dimensional vein, which might reflect the more imaginative, visual-effects demanding look of contemporary films. It's a brilliant work in cinematography that, combined with Tom Cross's equally dynamic editing, makes the experience of watching “Babylon” all the more immersive to the viewer. They both deservingly should get their due recognition with at least an Oscar nomination.
The production design is a particular masterpiece, being the main Oscar contender in that category. I thought it was simply admirable the way the production design and the costume design make it seem like we're watching a film set in the 1920s, yet at the same time, give us the impression that “Babylon” is set during present day, reinforcing the timelessness of Chazelle's screenplay through its visuals. The scenes set in the movie sets are some in which production design has its chance to shine, and to the surprise of absolutely no one, they end up being among the film's best sequences. Sound is another aspect that's worth mentioning, as the film is about the transition between silent films and talkies. One scene in particular can highlight the overwhelm and the threat sound represented to the professionals working on silent films, and it's a scene so tense and suffocating, it comes out as slightly scary.
And, as the cherry on top of this extravagant and chaotic cake, we have the sensational original score by Justin Hurwitz, who won the Oscar for his exceptional work in “La La Land”. Once again, jazz is the predominant genre in the composer's work; however, while in “La La Land” it sounds organized and more well-orchestrated, having some sort of class to it, in “Babylon” it's the complete opposite. It sounds like something that was made on the spot, blending together several music genres and some vocal parts in order to create a true sonic masterpiece that reflects the free spirit and the chaos present throughout the plot. Hurwitz's addictive compositions are a perfect match in particular with the party scenes, making the viewer want to dance crazily alongside the characters, just like it happened (at least, for me) with “La La Land”. Academy, go ahead and polish Justin Hurwitz's second Oscar, because THE MAN IS COMING! (LOL))
Resumindo, “Babilônia” é uma viagem alucinante, caótica e propositalmente desorientadora pela história do cinema. Contando com um tempo de duração extenso de mais de 3 horas, o novo filme de Damien Chazelle tinha tudo para ser uma verdadeira bagunça, mas o roteiro tematicamente relevante, as performances de seu elenco estelar, os aspectos técnicos impecáveis e a direção extremamente apaixonada de Chazelle fazem com que a experiência de ver “Babilônia” seja algo essencialmente imersivo, resultando em um retrato sem filtros da velha Hollywood e em uma carta de amor surpreendente ao progresso do cinema ao longo dos anos, e à permanência de sua capacidade de encanto e fascínio para todo tipo de espectador. Vejam na maior tela possível.
Nota: 10 de 10!!
É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,
João Pedro
(In a nutshell, “Babylon” is a hallucinating, chaotic and purposefully disorienting journey throughout the history of cinema. Relying on an extended runtime of over 3 hours, Damien Chazelle's new film had everything to be a royal mess, but its thematically relevant script, the performances by its stellar cast, its flawless technical aspects and Chazelle's extremely passionate direction make the experience of watching “Babylon” something that's essentially immersive, resulting in an unfiltered portrait of Old Hollywood and in a surprising love letter to the progress of cinema throughout the years, and to its remaining capacity of enchanting and fascinating every sort of viewer. Watch this in the biggest screen near you.
I give it a 10 out of 10!!
That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,
João Pedro)