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segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

"Os Fabelmans": a carta de amor de Steven Spielberg à sua família e ao cinema (Bilíngue)

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E aí, meus queridos cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para falar sobre um dos lançamentos mais recentes, já em exibição exclusiva nos cinemas! Um dos principais concorrentes na atual temporada de premiações, o filme em questão é, ao mesmo tempo, uma carta de amor à família de seu diretor e uma homenagem brilhante à arte de se fazer cinema, resultando em algo extremamente pessoal; épico em sua escala técnica, mas íntimo na abordagem narrativa; e em um verdadeiro chamado para aqueles que desejam seguir os passos do seu protagonista. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Os Fabelmans”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to talk about one of the most recent film releases, which is now playing on theaters and on VOD! One of the main contenders in the current awards season, the film I'm about to review is, at the same time, a love letter to its director's family and a brilliant homage to the art of filmmaking, resulting in something that's extremely personal; epic in its technical scale, but intimate in its narrative approach; and in a true calling for those who wish to follow its protagonist's footsteps. So, without further ado, let's talk about “The Fabelmans”. Let's go!)



Ambientado ao longo de uma década, o filme acompanha Sammy Fabelman (interpretado por Gabriel LaBelle), o filho mais velho de uma família judia norte-americana que, desde criança, nutre um fascínio pela arte de fazer filmes. Com o apoio de seus pais (interpretados por Paul Dano e Michelle Williams), Sammy começa a contar suas próprias histórias atrás da câmera, inspirado nos filmes que assiste nas telonas. Porém, as constantes mudanças de sua família de cidade em cidade, um segredo controverso e dificuldades enfrentadas na escola colocam em risco a paixão de Sammy pelo cinema.

(Set throughout a decade, the film follows Sammy Fabelman (portrayed by Gabriel LaBelle), the eldest son in a Jewish-American family who, since his childhood, nurtures a fascination for the art of filmmaking. With the support of his parents (portrayed by Paul Dano and Michelle Williams), Sammy begins to tell his own stories behind the camera, inspired by the films he watches on the silver screen. However, his family's constant moving from town to town, a controversial secret and difficulties faced in school put Sammy's passion for cinema at risk.)



Acho que uma das minhas coisas favoritas sobre o cinema é quando os cineastas encontram uma maneira de contar suas próprias histórias na tela. Cameron Crowe em “Quase Famosos”, Charlotte Wells em “Aftersun”, Greta Gerwig em “Lady Bird”, Richard Linklater em “Apollo 10 e Meio”, todos são exemplos de como experiências vivenciadas pelos diretores inspiraram alguns de seus melhores (e mais honestos) filmes. Então, é claro que eu estava bastante animado para ver a cinebiografia do diretor mais icônico de todos os tempos, Steven Spielberg, responsável por verdadeiros clássicos como “Tubarão”, “E.T.: O Extraterrestre”, “Indiana Jones”, “O Resgate do Soldado Ryan” e entre muitos, muitos outros.

E, além de ser um filme extremamente pessoal para seu diretor, “Os Fabelmans” também funcionaria como uma carta de amor ao cinema, criando uma metalinguagem irresistível com o meio no qual aquela história está sendo veiculada. Outros exemplos dessas cartas de amor são “Ed Wood”, dirigido por Tim Burton; “Era uma Vez em Hollywood”, dirigido por Quentin Tarantino; “Cinema Paradiso”, dirigido por Giuseppe Tornatore; “Os Sonhadores”, dirigido por Bernardo Bertolucci; “Super 8”, de J.J. Abrams; e “A Invenção de Hugo Cabret”, dirigido por Martin Scorsese. Contando com um elenco incrível encabeçado por Paul Dano (“Batman”) e Michelle Williams (“Sete Dias com Marilyn”), e o retorno de vários colaboradores do diretor, em especial o diretor de fotografia Janusz Kaminski (responsável pela direção de fotografia de todos os filmes de Spielberg desde “A Lista de Schindler” e o compositor John Williams (responsável pelas trilhas sonoras instantaneamente identificáveis de “Tubarão”, “E.T.”, “Jurassic Park” e “Indiana Jones”), “Os Fabelmans” tinha tudo para ser um grande filme.

E fico extremamente feliz em dizer o novo filme de Steven Spielberg não só é uma belíssima homenagem às origens e à família (em especial aos pais, ambos falecidos) do diretor, como também funciona como um verdadeiro chamado para qualquer espectador que deseja seguir os mesmos passos e se tornar um grande cineasta, graças à abordagem íntima, honesta e extremamente prática que Spielberg injeta na arte de se fazer cinema em algumas das melhores e mais cativantes cenas de “Os Fabelmans”. Os principais aspectos que eu gostaria de destacar no roteiro, escrito pelo próprio diretor e por Tony Kushner (“Amor, Sublime Amor”), são justamente o caráter pessoal da trama, a jornada de amadurecimento do protagonista, a capacidade de fazer o espectador entender não só a perspectiva do personagem principal, mas também a de sua família; e, por fim, a abordagem da arte de se fazer cinema, a qual é plenamente capaz de despertar no espectador um desejo de querer contar suas próprias histórias atrás da câmera.

Começando pelo caráter pessoal do roteiro, fica perfeitamente claro, desde a primeira cena, o quanto a família de Spielberg teve um papel essencial na sua crescente paixão e fascínio pelo cinema. A primeira cena de “Os Fabelmans” retrata o ponto de partida de qualquer cineasta ou amante da sétima arte: a sua primeira ida ao cinema, acompanhado pelos pais. Eu estaria mentindo se dissesse que não me identifiquei de cara com o nosso pequeno protagonista nessa cena: os pais advertindo-o de que tudo ficaria escuro e que teria um som alto, mas assegurando-o que eles estariam ali, do lado dele. Me lembro de quando fui pela primeira vez ao cinema, e meus avós tiveram que comprar uma lanterninha para que eu não ficasse no escuro. Era assustador à primeira vista, mas ao mesmo tempo, incrivelmente eletrizante, e “Os Fabelmans” consegue capturar esse fascínio universal de uma primeira sessão de cinema extraordinariamente bem.

Outro aspecto abordado no roteiro que acrescenta muito à pessoalidade que o diretor injeta no filme é a religião dos protagonistas, e a maneira com que Spielberg aborda o judaísmo é tão realista que torna toda a experiência de “Os Fabelmans” mais autêntica, e de certo modo, universal, mesmo para os espectadores que não são judeus. Não só o roteiro aborda os feriados específicos do judaísmo, como o Hannukah ou Chanucá, e inclui falas em hebraico, como também lida com o antissemitismo presente nos EUA nas décadas posteriores à Segunda Guerra Mundial, veiculando temas como preconceito, xenofobia e bullying através de seus protagonistas.

Mas, além de uma carta de amor à família de Spielberg e seu amor pelo cinema, “Os Fabelmans” é, acima de tudo, uma história de amadurecimento. O filme, em suas bem calculadas 2 horas e 30 minutos de duração, consegue perpassar mais de uma década na vida de seus protagonistas, e em especial, na de Sammy, personagem inspirado no diretor. É fascinante vê-lo crescer, de uma criança à um universitário, passando por diversos dilemas no processo; assim como é muito interessante o modo que o fazer cinematográfico e a vocação dele também amadurecem ao longo de sua juventude. Aqui, a maioria das pessoas pode dizer que o roteiro se rende à uma fórmula amplamente usada, e, honestamente, teriam razão. Porém, a direção e o controle que Spielberg tem sobre essa fórmula fazem a abordagem ser bem original, e isso faz toda a diferença.

Em terceiro lugar, é incrível a maneira com que Spielberg e Kushner evitam fazer com que a história tenha um único ponto de vista; no caso, o de Sammy. Os roteiristas se esforçam para fazer com que cada membro da família Fabelman tenha uma perspectiva e um jeito de agir diferentes; mas, ao mesmo tempo, 100% compreensíveis para o espectador, de modo que não há pessoas certas ou erradas, somente verdadeiros seres humanos, com suas falhas e tudo. Particularmente, há um contraste visível entre o pragmatismo do pai e o livre espírito da mãe como uma das principais fontes de conflito do roteiro, e os pontos de vista de ambos são perfeitamente desenvolvidos e transmitidos para o espectador. Mas o mais interessante é como o diretor, sendo simplesmente Steven Spielberg, faz uma jogada de mestre ao fazer com que Sammy reflita o melhor dos dois mundos ao filmar seus filmes.

Em quarto e último lugar, temos a abordagem brilhante de Spielberg e Kushner sobre o fazer cinematográfico, injetando uma metalinguagem irresistível em “Os Fabelmans” e despertando uma vontade no espectador de fazer o que o Sammy está fazendo. É incrível ver a maneira que o protagonista montava os seus filmes manualmente, em uma época em que não haviam computadores, programas ou efeitos especiais em computação gráfica para facilitar o trabalho, de modo que o resultado final ficava 100% crível e realista. Mas, especialmente, é de cair o queixo ver a quantidade mínima de recursos dos quais Sammy se dispunha para fazer seus filmes, e ainda assim, testemunhá-lo extraindo o máximo daquelas filmagens, de um jeito extremamente prático e inventivo. Isso, para aqueles que desejam seguir uma carreira na indústria cinematográfica, serve como uma mensagem do próprio cineasta para essas pessoas.

Esta abordagem mais prática sobre fazer cinema foi uma escolha certeira do diretor e do roteiro, pois nos dias de hoje, é extraordinariamente mais fácil fazer um filme ou um curta-metragem por conta própria do que era na época em que “Os Fabelmans” é ambientado. Não é preciso ter uma câmera profissional com lentes da mais alta qualidade, sendo que smartphones vêm sendo equipados com câmeras cada vez mais potentes com o passar do tempo. (Inclusive, há vários filmes aclamados de diretores renomados que foram inteiramente rodados nas câmeras de iPhones, como “Tangerine”, de Sean Baker, e “Distúrbio”, de Steven Soderbergh.) Não é preciso ter um aparelho para cortar a película de filme e editá-la manualmente, pois há programas de computador bem intuitivos feitos especialmente para isso.

Ou seja, os instrumentos estão ao nosso alcance. Tudo que precisamos é de uma ideia para utilizarmos o máximo desses instrumentos e tirarmos algo bom, algo memorável disso. Por isso, digo que o novo filme de Spielberg, além de ser uma homenagem à sua família e à sétima arte, é também um verdadeiro chamado para que novas vozes surjam a partir da experiência de ver “Os Fabelmans” nas telonas, sendo uma maneira do diretor dizer ao espectador: “Eu fiz tudo isso aqui, passei por todos esses perrengues, e olha onde eu cheguei. VOCÊ pode chegar aqui também. É só tomar a iniciativa.” E eu, particularmente, mal posso esperar para ver o impacto que o filme terá em jovens amantes de cinema.

(I think that one of my favorite things about cinema is when filmmakers find a way to tell their own stories onscreen. Cameron Crowe in “Almost Famous”, Charlotte Wells in “Aftersun”, Greta Gerwig in “Lady Bird”, Richard Linklater in “Apollo 10 1/2”, all of those are examples of how the filmmakers' life experiences managed to inspire some of their best (and most honest) films. So, of course I was excited to watch the biopic of the most iconic filmmaker of all time, Steven Spielberg, who was responsible for several classics like “Jaws”, “E.T.: The Extra-Terrestrial”, “Indiana Jones”, “Saving Private Ryan”, as well as many, many others.

And, besides it being an extremely personal film for its director, “The Fabelmans” would also work as a love letter to cinema, creating an irresistible meta feel with the medium in which the story is being told. Other examples of these love letters include Tim Burton's “Ed Wood”; Quentin Tarantino's “Once Upon a Time in Hollywood”; Giuseppe Tornatore's “Cinema Paradiso”; Bernardo Bertolucci's “The Dreamers”; J.J. Abrams's “Super 8”; and Martin Scorsese's “Hugo”. With an incredible cast led by Paul Dano (“The Batman”) and Michelle Williams (“My Week with Marilyn”) in front of the camera, and the return of several of the director's frequent collaborators, particularly cinematographer Janusz Kaminski (who shot every single one of Spielberg's films from “Schindler's List” onward) and composer John Williams (who's responsible for the instantly recognizable scores from “Jaws”, “E.T.”, “Jurassic Park” and “Indiana Jones”), “The Fabelmans” had everything to be a great film.

And I'm extremely glad to say that Steven Spielberg's new film is not only a beautiful homage to the director's origins and family (especially, his late parents), as it also works as a true calling to any viewer who wishes to follow the same footsteps and become a great filmmaker, thanks to the intimate, honest and extremely practical approach Spielberg injects in the art of filmmaking in some of the best and most captivating sequences in “The Fabelmans”. The main aspects I'd like to highlight in the script penned by the director himself and Tony Kushner (“West Side Story”) are, in fact, the personal feel of the plot; the protagonist's coming-of-age journey; the capacity of making the viewer understand not only its main character's point of view, but his family's as well; and, lastly, its approach on the art of filmmaking, which is plainly capable of sparking a desire in the viewer of telling their own stories behind the camera.

Starting off with the screenplay's personal story, it's crystal clear, from its very first scene, how Spielberg's family played an essential role in his growing fascination and passion for cinema. The first scene of “The Fabelmans” portrays the starting point for any filmmaker or movie lover: their first theater screening, accompanied by their parents. I'd be lying if I said I didn't see myself on our young protagonist right on the spot in that scene: his parents warning him that the room would go dark and that will be loud sounds, but ensuring him that they would be right there, by his side. I remember when I first went to the movies, and my grandparents had to buy a little flashlight for me, so that the room isn't fully dark. It was scary at first, but also incredibly exhilarating, and “The Fabelmans” manages to capture this universal fascination of a first theater screening extraordinarily well.

Another aspect dealt with in the script that adds to the personal touch the director injects into his film is the protagonists' religion, and the way Spielberg approaches Judaism is so realistic, that it makes the experience of watching “The Fabelmans” all the more authentic; and in a certain way, it also makes it universal, even for those who aren't Jewish. Not only does the screenplay deals with specific Jewish holidays, such as Hannukah, and has dialogue in Hebrew, it also approaches the anti-semitism that was present in the decades after WWII in the US, portraying themes like prejudice, xenophobia and bullying through its protagonists.

But, besides being a love letter to his family and movies in general, “The Fabelmans” is, above all, a coming-of-age story. The film, in its well-calculated runtime of 2 hours and 30 minutes, manages to go through over a decade in the life of its protagonists, and especially in Sammy's, a character inspired by the director himself. It's fascinating to watch him grow up, from a little kid to a college student, going through several dilemmas in the process; as it is also very interesting to see the way his filmmaking and his calling mature as well throughout his youth. Here, most people can say that the screenplay surrenders to a widely used formula, and quite frankly, they'd have a point. However, the control and the direction Spielberg has towards that formula turn the approach into something original, and that makes all the difference.

Thirdly, it's particularly incredible the way that Spielberg and Kushner avoid making the story stay under a single point of view; in this case, Sammy's. The screenwriters make an effort to make every member of the Fabelman family have perspectives and manners that are completely different, yet 100% understandable in the viewer's eyes; in a way that there aren't those who are right or wrong, just fully-fledged human beings, with their flaws and all that. Particularly, there's a visible contrast between the father's pragmatism and the mother's free-spirited nature as one of the screenplay's main sources of conflict, and both of their points of view are perfectly developed and conveyed to the viewer. Yet the most interesting thing is how the director, being none other than Steven Spielberg, makes a masterful move by making Sammy reflect the best of both worlds when shooting his films.

And, lastly, in fourth place, we have Spielberg and Kushner's brilliant approach on filmmaking, injecting an irresistible meta feel in “The Fabelmans” and making the viewer want to make what Sammy does. It's incredible to see the way the protagonist put together his films manually, in a time where there were no computers, programs or computer-generated visual effects to make that job easier, and the final result came out as 100% believable and realistic. But, especially, it's jaw-dropping to see how Sammy had very few resources at hand to make his movies, and still, witness him making the most of that footage, in an extremely practical and inventive way. That, to those who wish to follow a career in the movie industry, serves as a message from the filmmaker himself to those people.

This practical approach on filmmaking was a brilliant move from the director and the screenplay, as nowadays, it's extraordinarily easier to make a feature-length or short film by yourself than it was at the time “The Fabelmans” is set in. You don't need to have a professional camera with high-quality lenses, as smartphones have been equipped with cameras that have become more and more potent as time went by. (By the way, there are many acclaimed films by renowned directors that were entirely shot on iPhone cameras, such as Sean Baker's “Tangerine” and Steven Soderbergh's “Unsane”.) You don't need to have a device to manually cut and splice film, as there are really intuitive computer programs designed to do just that.

To put it short, the instruments are within our reach. All we need is an idea to make the most out of these instruments and get something good, something memorable out of it. Because of that, I say that Spielberg's new film, besides being a homage to his family and film, is also a true calling for new voices to rise from the experience of watching “The Fabelmans” on the big screen, serving as a message from the director to the viewer: “I made all of this, went through all this trouble, and look at where I am now. YOU can also get here. You just need to make a move.” And I, particularly, cannot wait to see the impact this film will have on young movie lovers.)



O elenco foi outro grande acerto de “Os Fabelmans”. A começar pelo Gabriel LaBelle, que, em seu primeiro papel de destaque, dá um verdadeiro show como o Sammy adolescente. As cenas onde ele particularmente brilha são aquelas ambientadas nos sets de filmagem de seus filmes estudantis. Há uma sequência em particular que demonstra perfeitamente o porquê de Spielberg ser um diretor de cinema, e essa justificativa é transmitida de forma dedicada e, de certo modo, descontraída através da performance de LaBelle. Como o pai de Sammy, temos outra performance fantástica do Paul Dano, que já tinha começado 2022 com tudo, interpretando o Charada em “Batman”. É bem interessante a maneira que o ator consegue equilibrar a atitude autoritária e soberbamente inteligente de “homem da casa” com a doçura e o apoio que ele demonstra em relação à sua família. É uma abordagem bem diferente de um pai de família no cinema, porque normalmente os pais vão contra os sonhos e ambições dos filhos, então foi uma escolha criativa muito acertada e original.

Mas, se “Os Fabelmans” tem uma âncora emocional definida, essa âncora se encontra na personagem da Michelle Williams, que entrega aqui o seu melhor trabalho como atriz desde sua interpretação estupenda (e indicada ao Oscar) de Marilyn Monroe em “Sete Dias com Marilyn”. Fazendo o papel da mãe de Sammy, Williams equilibra, de maneira magistral, um espírito irresistivelmente lúdico com uma melancolia que gradualmente vai se tornando visível para o espectador, resultando em um desempenho simplesmente arrebatador. A personagem dela serve como a chave para que o protagonista amadureça, e a química entre Williams e LaBelle é muito cativante. Eu não sei se a Universal vai seguir com os planos originais e submeter a performance da atriz para uma vaga no Oscar de Melhor Atriz (que está incrivelmente acirrada), ou se eles irão mudar para a categoria de Atriz Coadjuvante, para ter uma garantia a mais, mas mesmo assim, é a melhor atuação do filme e merece atenção das premiações.

Eu gosto quando comediantes tentam fazer papéis mais dramáticos, como por exemplo, o Jim Carrey em “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças” ou o Adam Sandler em “Embriagado de Amor”, e por isso, eu achei o desempenho do Seth Rogen admirável aqui. Só pelo fato dele interpretar alguém fora do estereótipo de seus personagens mais frequentes, já é um tremendo ganho, e eu espero que ele invista em mais papéis assim. Porém, há duas performances coadjuvantes que roubam completamente o filme com apenas uma cena à disposição de cada ator; no caso, o Judd Hirsch e o David Lynch (sim, o criador de “Twin Peaks”). O Judd Hirsch consegue destrinchar toda a trajetória que Sammy percorrerá em sua vida em um único monólogo; e o David Lynch interpreta uma figura da vida real (a qual permanecerá em sigilo por aqui) que serve como um tipo de mentor para o protagonista na conclusão da trama. Na minha opinião, ambos merecem indicações ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, e fortemente creio que pelo menos Hirsch estará entre os cinco indicados.

(The cast was yet another great win for “The Fabelmans”. Starting off with Gabriel LaBelle, who, in his first breakout role, knocks it out of the park as teenage Sammy. The scenes where he particularly shines are those set in the filming stages of his student films. There's a particular sequence that perfectly demonstrates why Spielberg chose to be a film director, and that reason is conveyed in a dedicated and, somewhat, funny way through LaBelle's performance. As Sammy's father, we have yet another fantastic performance by Paul Dano, who had already started off 2022 with a bang, playing the Riddler in “The Batman”. It's quite interesting the way the actor manages to balance the authoritarian and superbly clever “man of the house” attitude with the sweetness and support he shows towards his family. It's quite a different approach of a family man in a film, as fathers usually go against their children's dreams and ambitions, so it was a creative and fresh choice done right.

But, if “The Fabelmans” has a defined emotional anchor, it finds itself in the character portrayed by Michelle Williams, who delivers her best work as an actress here, since her stupendous (and Oscar-nominated) turn as Marilyn Monroe in “My Week with Marilyn”. Playing the role of Sammy's mother, Williams masterfully balances an irresistibly playful spirit with a melancholy that gradually shows itself to the viewer, resulting in a simply ravishing piece of acting. Her character serves as the key for the main character's constant growing, and the chemistry between Williams and LaBelle is quite captivating. I don't know if Universal is going to follow their original plans and submit her performance for a shot at the Oscar for Best Actress (which is highly competitive) or switch to the Supporting Actress category for a better chance at winning, but one way or the other, it's the film's greatest performance and it deserves award attention.

I like when comedians branch out toward more dramatic roles, like for example, Jim Carrey in “Eternal Sunshine of the Spotless Mind” and Adam Sandler in “Punch-Drunk Love”, and because of that, I thought that Seth Rogen's work here was quite admirable. Just for the fact he played someone that's outside the stereotype of his frequent characters, it's already a win, and I hope he searches for more roles like this one. However, there are two supporting performances that completely steal the whole movie with only one scene for each actor to perform; in this case, the actors are Judd Hirsch and David Lynch (yes, the creator of “Twin Peaks”). Judd Hirsch manages to play out the entire trajectory that Sammy will follow through in his life with only a single monologue; and David Lynch plays a real-life figure (whose identity will be kept private here) who serves as a mentor to the protagonist in the plot's conclusion. In my opinion, both of them deserve nominations for Best Supporting Actor at the Oscars, and I strongly believe that at least Hirsch will be among the five nominees.)



Nos aspectos técnicos, “Os Fabelmans” marca uma grande reunião entre o diretor e a grande maioria dos seus colaboradores mais frequentes. A direção de fotografia do Janusz Kaminski e a montagem do Michael Kahn e da Sarah Broshar trabalham em conjunto para que o visual do filme tenha uma veia mais vintage, como se estivéssemos assistindo à uma fotografia antiga em movimento, proposta que casa perfeitamente com o fato do filme ser baseado nas memórias de Spielberg. Inclusive, há alguns momentos onde as filmagens são em 8 e 16 milímetros, com o visual granulado adicionando ainda mais charme ao trabalho maravilhoso de Kaminski na câmera, que certamente será reconhecido no Oscar com, pelo menos, uma indicação. De fato, tudo no visual do filme, incluindo a direção de arte, os cenários, os figurinos, a maquiagem, é tudo muito bonito e vistoso. Dá para ver o cuidado que o diretor teve ao recriar suas casas de infância e adolescência, assim como a aparência dos pais, que ficaram muito parecidos com os pais de Spielberg na vida real.

É bem interessante como que, através dos aspectos técnicos dos filmes gravados pelo protagonista, podemos ver a dedicação da equipe técnica de “Os Fabelmans”, em especial nos efeitos visuais. Há uma cena em particular onde Sammy assiste um filme recém-gravado e acha falso demais, e aí um acontecimento, completamente repentino, faz com que ele tenha uma ideia genial para tornar a gravação mais autêntica. Outra sequência que também mostra essa dedicação é a que compõe os quadros finais do filme, que ficará marcada como uma das melhores (e mais metalinguísticas) conclusões na carreira de Spielberg. E, por fim, temos a belíssima trilha sonora original do icônico John Williams, composta quase que inteiramente no piano, escolha criativa que combina com o fato da mãe de Sammy ser uma pianista extremamente habilidosa. Como em qualquer filme de Steven Spielberg, a trilha de Williams marca uma tremenda presença, combinando composições originais que evocam a saudade da infância e a melancolia de crescer com peças clássicas reproduzidas e conduzidas pelo grande compositor. É um trabalho que certamente será indicado à Melhor Trilha Sonora Original no Oscar (como não ser?); porém, há uma possível ameaça nos trabalhos igualmente aclamados de Justin Hurwitz em “Babilônia” e Alexandre Desplat em “Pinóquio por Guillermo del Toro”.

(In its technical aspects, “The Fabelmans” marks a huge reunion between the director and some of his most frequent collaborators. Janusz Kaminski's cinematography and Michael Kahn and Sarah Broshar's editing work in tandem to make the visuals of the film evoke a more vintage feel, as if we're watching a moving antique photograph, a proposition that perfectly matches the fact the film is based on Spielberg's memories. By the way, there are some moments where the filming is in 8 and 16mm, with its grainy look adding even more charm to Kaminski's wonderful work behind the camera, which will certainly be acknowledged at the Oscars with, at least, a nomination. Indeed, everything about how the film looks, including production design, set decoration, costume design, makeup, it's all really beautiful and eye-catching. You can see the care the director had in recreating his childhood and teenage homes, as well as his parents' appearances, who look extremely similar to Spielberg's parents in real life.

It's quite interesting how, through the technical aspects of the films recorded by the protagonist, we can see the dedication of the crew in “The Fabelmans”, especially when it comes to visual effects. There's a particular sequence where Sammy watches a recently-shot film and finds the result to be too fake, but one event, almost suddenly, makes him have a genius idea to make the footage seem more authentic. Another sequence that displays this dedication is the one that composes the film's final frames, which will stay marked as one of the best (and most meta) conclusions in Spielberg's career. And, at last, we have the gorgeous original score by the iconic John Williams, composed almost entirely on the piano, a creative choice that goes with the fact Sammy's mother is an expertly skilled pianist. As in every Steven Spielberg film, Williams's score marks one hell of a tremendous presence, mixing original compositions that evoke the longing for childhood and the melancholy of growing up with classic pieces reproduced and conducted by the great composer. It's a work that'll certainly be nominated for Best Original Score at the Oscars (how could it not?); however, there's a likely threat in the equally acclaimed works of Justin Hurwitz in “Babylon” and Alexandre Desplat in “Guillermo del Toro's Pinocchio”.)



Resumindo, “Os Fabelmans” é mais do que uma simples cinebiografia de Steven Spielberg; é uma verdadeira carta de amor à influência de sua família e suas origens em seu trabalho e uma belíssima homenagem à arte de se fazer cinema, abordada de uma maneira extremamente convidativa e prática, fazendo do filme um verdadeiro chamado para que novas vozes surjam no cinema a partir dos espectadores. Além do roteiro pessoal e metalinguístico, o longa-metragem é trazido à vida por um elenco brilhantemente escalado e uma proeza técnica incrivelmente memorável, resultando na melhor obra feita pelo diretor nos últimos tempos. Um indicado certeiro ao Oscar de Melhor Filme e um dos que têm a maior probabilidade de vencer o prêmio. Simplesmente mágico.

Nota: 10 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que vocês tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “The Fabelmans” is more than just a simple Steven Spielberg biopic; it's a true love letter to the influence of his family and origins on his work and a beautiful homage to the art of filmmaking, approached in an extremely inviting and practical way, making the film be a true calling for new voices to emerge in the movie business from its viewers. Besides its personal and meta screenplay, the feature is brought to life by a brilliantly well cast ensemble and an incredibly memorable technical prowess, resulting in the director's greatest work in recent times. A sure nominee for the Oscar for Best Picture and one that has the best odds of winning the prize in its favor. An utterly magical film.

I give it a 10 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)


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