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E aí, meus queridos cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para falar sobre um dos lançamentos mais recentes, em exibição exclusiva nos cinemas! Mantendo-se fiel à base da mitologia que o antecedeu, e oferecendo uma série de novidades para a receita da fórmula, o filme em questão é uma reafirmação do talento inegável de seu realizador e da perseverança de uma das franquias mais icônicas do gênero do terror. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “A Morte do Demônio: A Ascensão”. Vamos lá!
(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to talk about one of the most recent film releases, which is now playing exclusively in theaters! Sticking to the basics of the mythology that preceded it, while offering a series of new ingredients to the formula's recipe, the film I'm about to review is a reaffirmation of its director's undeniable talent and the perseverence of one of the most iconic franchises in the horror genre. So, without further ado, let's talk about “Evil Dead Rise”. Let's go!)
O filme acompanha Beth (interpretada por Lily Sullivan), uma jovem que, devido a circunstâncias especiais, se reúne com sua irmã mais velha, Ellie (interpretada por Alyssa Sutherland), que vive com os três filhos em um apartamento apertado de um prédio decadente na cidade de Los Angeles. Explorando o subterrâneo do prédio, os filhos de Ellie encontram um livro sinistro e uma série de gravações em discos de vinil, e acabam libertando um mal antigo que possui a mãe deles. Beth, então, é forçada a proteger seus sobrinhos, custe o que custar.
(The film follows Beth (played by Lily Sullivan), a young woman who, due to special circumstances, reunites with her older sister, Ellie (played by Alyssa Sutherland), who lives with her three children in a small apartment of a decadent building in the city of Los Angeles. Exploring the building's underground, Ellie's children find a sinister book and a series of recordings on vinyl, and end up unleashing an ancient evil which possesses their mother. Beth, therefore, is forced to protect her nieces and nephew, at no matter the cost.)
A franquia “A Morte do Demônio” sempre ocupou um lugar especial no meu coração. Os primeiros três filmes, lançados em 1981, 1987 e 1992, com uma mistura cada vez mais bizarra entre comédia e terror e um uso fantástico de efeitos práticos, foram responsáveis pelo sucesso da carreira do então iniciante Sam Raimi, que, posteriormente, iria dirigir a famosa trilogia de filmes do “Homem-Aranha”, estrelada por Tobey Maguire. O remake do original, lançado em 2013 e dirigido por Fede Álvarez ('O Homem nas Trevas'), foi o recordista de filme mais grotesco que eu já vi na vida, na primeira vez que assisti. (O recorde foi superado por “Terrifier 2”, de 2022.) E a série que continua o enredo dos três primeiros filmes, “Ash vs. Evil Dead”, retomou aquilo que fez a obra de Raimi ser tão marcante. É uma franquia que não tem erro. Se você quiser saber mais sobre ela, pode ler uma reportagem que fiz nesse link: https://opopular.com.br/magazine/a-morte-do-demonio-a-ascens-o-estreia-nesta-quinta-feira-20-nos-cinemas-de-goiania-1.3020661
Mas minha afeição por essa saga sanguinolenta não era a única razão para minhas altas expectativas para assistir “A Morte do Demônio: A Ascensão”. O novo filme também contaria com a direção do irlandês Lee Cronin, que foi escolhido a dedo por Raimi e Bruce Campbell, intérprete de Ash nos filmes e na série, para comandar o quinto longa, após o sucesso de sua estreia na direção com o criativo “O Bosque Maldito” (The Hole in the Ground), de 2019. Essa pérola escondida de alguns anos atrás é uma parábola brilhante, mesmo que falha, sobre a maternidade, andando na mesma onda do elogiado “O Babadook”, dirigido por Jennifer Kent. E pelo enredo, pude ver que Cronin quis permanecer com essa temática no novo filme de “A Morte do Demônio”.
Então, sim, eu estava com altíssimas expectativas para assistir “A Ascensão”. E eu fico muito feliz em dizer que minhas expectativas foram atendidas com louvor, sendo uma verdadeira carta de amor à criação de Sam Raimi. Atribuo o sucesso da abordagem de Cronin principalmente a três fatores: a fidelidade e o respeito que ele mostra em relação ao filme original de 1981, a ousadia e a liberdade criativa do diretor em introduzir novidades inventivas naquilo que já foi construído, e um aspecto narrativo essencial que, na minha opinião, não havia em nenhum dos outros filmes da franquia: peso emocional, que acaba abrindo espaço para possíveis interpretações e significados subentendidos, fazendo a visão de Cronin ser mais do que um banquete de sangue e vísceras.
Em primeiro lugar, é possível ver, a partir da primeira sequência do longa, que recria a já icônica trajetória do mal contido no Livro dos Mortos através de uma tomada contínua, o quanto o diretor ama o que Raimi construiu. Tanto porque o esqueleto da história, ou seja, os principais pontos narrativos, são basicamente os mesmos presentes em “Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio”, de 1981. Ao contrário do que muitos iriam considerar, não acho isso um sinal de falta de criatividade, e sim uma posição de respeito e reverência àquilo que já era existente na mitologia desse universo fictício. Há diversas referências aos filmes da franquia aqui que deixarão os fãs devidamente satisfeitos, além de breves homenagens a outros clássicos do gênero, como “O Iluminado”.
Porém, Cronin toma algumas liberdades que são mais do que bem-vindas aqui, até porque, se elas não tivessem sido tomadas, seria simplesmente outro remake do original. A mudança de ambientação de uma cabana no meio do bosque para um prédio residencial que está caindo aos pedaços faz toda a diferença, aumentando o nível de claustrofobia dos cenários e reduzindo a quantidade de possibilidades de saída, deixando nenhuma outra opção para os personagens além de enfrentarem os vilões por conta própria. O diretor também usa a fama sanguinolenta da franquia a seu favor, mas de um modo surpreendentemente realista. Claro, há algumas partes que são propositalmente exageradas; contudo, a maior parte do terror presente aqui não é tão diferente dos filmes de possessão demoníaca, como “O Exorcista” e “Invocação do Mal”, e é por isso que os sustos conseguem ser tão eficientes em “A Morte do Demônio: A Ascensão”.
Cronin também não teve medo de mudar algumas coisas na mitologia da franquia, e a melhor coisa que essas mudanças fazem é abrir possibilidades para futuros filmes e (assim espero) cross-overs entre os personagens deste filme com os das outras versões, como Ash, da trilogia original, e Mia, do remake de 2013. Os pequenos detalhes que o diretor adiciona à fórmula original elaborada por Sam Raimi injetam um nível cada vez mais crescente de tensão e desamparo ao passo da narrativa, e o roteiro, escrito pelo próprio Cronin, acerta por não exagerar na duração, com um tempo de projeção sucinto de 1 hora e 37 minutos que, felizmente, não deixa nenhuma ponta solta.
Mas, mesmo com todas essas mudanças à fórmula, o roteiro de “A Morte do Demônio: A Ascensão” inclui algo significativo que não existia nos outros filmes da franquia e que acaba elevando a força narrativa do novo filme a maiores alturas: peso emocional. A série de filmes de Sam Raimi é um verdadeiro divisor de águas no tocante ao estilo de filmes de terror, mas nunca foi aprofundada na substância. Pelo contrário, os enredos das sequências do original de 1981 levaram o protagonista Ash a cenários cada vez mais bizarros e sem sentido, e, por incrível que pareça, funcionaram. O remake de 2013 tentou explorar o vício em drogas da protagonista Mia, porém, a abordagem foi superficial e acabou sendo ofuscada pelas cenas grotescas. Aqui, o foco nos personagens é infinitamente maior, levando o espectador a se identificar e formar laços emocionais com eles, e nos fazendo torcer com todas as forças para que eles não tenham um desfecho tão horroroso.
Esse peso emocional no roteiro acaba abrindo portas para que possíveis interpretações da trama venham a ser válidas. A primeira, e mais óbvia, seria que “A Morte do Demônio: A Ascensão” é uma parábola sobre a maternidade; e, nisso, o filme se conecta brilhantemente com a estreia de Lee Cronin na direção, “O Bosque Maldito”. E a melhor coisa é que a principal personagem pela qual o tema da maternidade é explorado no enredo não é a Ellie, mãe de três filhos interpretada por Alyssa Sutherland, e sim Beth, jovem independente vivida pela Lily Sullivan. A irmã caçula, ao ver Ellie possuída, se vê responsável pelos seus sobrinhos, despertando um instinto materno que acaba sendo primordial para o desenvolvimento da personagem. A temática é trabalhada de uma maneira tão orgânica e bem distribuída entre as várias cenas sangrentas do filme, que o espectador pára para pensar: “Por quê cargas d'água demorou tanto tempo para essa franquia fazer um enredo tão envolvente quanto esse?”.
Uma outra interpretação que, na minha opinião, consegue ser mais instigante e, ao mesmo tempo, angustiante, seria a possibilidade de enxergar as situações de terror retratadas em “A Morte do Demônio: A Ascensão” como reflexos do nosso dia-a-dia durante os lockdowns da pandemia de COVID-19. Se eu explicar isso mais a fundo, é bem possível que eu solte algum spoiler, então, para que isso não aconteça, vou deixar só no básico: há um mal invísivel que tem a capacidade de possuir (ou melhor, contaminar) todos os residentes do prédio um por um, de modo que os protagonistas não podem sair de casa. Pode parecer meio viajado, a princípio, mas confiem em mim, levando em conta o roteiro extremamente bem amarrado de Lee Cronin, acaba fazendo todo sentido.
Porém, preciso admitir que o novo filme da franquia “A Morte do Demônio” não é 100% perfeito, porque ele só acerta em uma das duas vertentes extremas que fizeram o trabalho original de Sam Raimi ser tão icônico. Cronin acerta em cheio no terror, entregando cenas verdadeiramente sinistras capazes de fazer o espectador desviar o olhar de tão explícitas. É um filme sangrento, nojento e extremamente gráfico que realmente faz jus ao nome da franquia. Contudo, é possível notar uma falta do senso de humor onipresente nas duas sequências do longa de 1981. Exceto por uma sequência em particular que consegue ser nojenta e, ao mesmo tempo, hilária, não há o caráter cômico e sarcástico que fez o terror de Raimi perseverar até a atualidade, como pode ser visto no excelente “Arrasta-Me Para o Inferno”, de 2009. Eu não me incomodei muito com a falta do humor, devido ao tom mais sério de “A Ascensão”, mas um filme de terror precisa de uma certa leveza para que o público se divirta além de se assustar, então, realmente teria sido bem-vindo.
(The “Evil Dead” franchise always occupied a special place in my heart. The first three films, released in 1981, 1987 and 1992, with its increasingly bizarre mix between horror and comedy and fantastic use of practical effects, were responsible for the success of then-beginning filmmaker Sam Raimi, who would, later, direct the famous original trilogy of “Spider-Man” films, starring Tobey Maguire. The original film's remake, released in 2013 and directed by Fede Álvarez ('Don't Breathe'), set a personal record for the goriest film I had ever seen in my life, the first time I watched it. (It has now been surpassed by 2022's “Terrifier 2”.) And the TV show that continues the plot of the first three films, “Ash vs. Evil Dead”, retained the aspects that made Raimi's work enormously enjoyable. You just can't miss with this franchise.
But my attachment towards this bloody saga wasn't the only reason why my expectations were high to watch “Evil Dead Rise”. The new film would also rely on the direction of Irish filmmaker Lee Cronin, handpicked by Raimi and Bruce Campbell, who plays Ash in the films and TV show, to helm the fifth feature in the series, after the success of his directorial debut, 2019's “The Hole in the Ground”. This hidden gem from a few years ago manages to be a brilliant, albeit flawed, parable on motherhood, riding the same wave as Jennifer Kent's acclaimed “The Babadook”. And, judging by the plot, I could see Cronin chose to stay with that theme in the new “Evil Dead” movie.
So, yes, I had pretty high expectations to watch “Rise”. And I'm glad to say the film successfully met my expectations, being a true love letter to Sam Raimi's creation. I can attribute the success of Cronin's approach to three main factors: the faithfulness and respect he displays towards the original 1981 film, the director's boldness and creative freedom in introducing inventive new ingredients on what was already built within, and an essential narrative aspect that, in my opinion, was lacking in every other film in the franchise: emotional weight, which ends up opening space for possible interpretations and hidden meanings, making Cronin's vision something more than just a feast of blood and guts.
Firstly, it's possible to see, from the film's very first sequence, which recreates the iconic trajectory of the evil contained within the Book of the Dead through a tracking shot, how much the director loves what Raimi built. That's also true because the bones of the story, meaning the narrative beats, are basically the same as 1981's “The Evil Dead”. Despite what many might consider as a lack of creativity, I manage to see it as a position of reverence and respect towards what was already existent in this fictional universe's mythology. There are several references to the original films here that will leave fans wholly satisfied, as well as winks towards other classics in the genre, such as Stanley Kubrick's “The Shining”.
However, Cronin takes some liberties that are more than welcome here, to the point that, if there weren't any, it would've been just another remake of the original. The change of setting from a cabin in the woods to an LA building that's falling apart makes all the difference, enhancing the sets' feel of claustrophobia and diminishing the quantity of exit possibilities, leaving the characters with no other choice but to fight the villains on their own. The director also uses the franchise's bloody reputation in his favor, but in a surprisingly realistic way. Sure, there are some bits that are purposefully over-the-top; but, the majority of the horror that exists in this film isn't that different from demonic possession movies such as “The Exorcist” and “The Conjuring”, and that's why the scares can be so effective in “Evil Dead Rise”.
Cronin also wasn't scared to mix things up a bit with the franchise's mythology, and the best thing about these changes is the fact that they open possibilities for future films and (hopefully) crossovers between the characters in this film and the ones from other iterations, such as original trilogy protagonist, Ash, and the 2013 remake's protagonist, Mia. The small, subtle details that the director adds to Raimi's established formula inject a sense of increasing tension and helplessness to the narrative's pacing, and the script, written by Cronin himself, hits the jackpot by not overstaying its welcome, with a succint runtime of 1 hour and 37 minutes that, fortunately, doesn't leave any loose ends.
But, even with all these changes to the formula, the script of “Evil Dead Rise” includes something significant that didn't exist in the franchise's previous films and that ends up elevating the new film's narrative strength to greater heights: emotional weight. Sam Raimi's series of films is a real turning point when it comes to the style of horror films, but it was never in-depth on substance. On the contrary, the sequels to the 1981 original led protagonist Ash towards increasingly bizarre and nonsensical scenarios, and, as hard as it seems, they actually worked. The 2013 remake tried to shine a light on protagonist Mia's addiction towards drugs; however, the approach came out as superficial and was overshadowed by the film's grisly scenes. Here, the focus on the characters is infinitely larger, leading the viewer to relate and forge emotional bonds with them, and making us root a lot for them not to have such a horrid outcome.
That emotional weight on the screenplay ends up opening doors for possible interpretations of the plot to come out as valid. The first and most obvious one is that “Evil Dead Rise” is a parable on motherhood, and in that, the film connects brilliantly with Lee Cronin's directorial debut, “The Hole in the Ground”. And the best thing about it is that the main character through which the theme of motherhood is explored in the plot is not Ellie, a mother of three children played by Alyssa Sutherland, but Beth, an independent young woman portrayed by Lily Sullivan. The youngest sister, when seeing Ellie possessed, sees herself as responsible for her sister's children, awakening a maternal instinct that ends up being incredibly important to the character's development. The theme is worked out in such an organic way, sprinkled inbetween the film's many gory scenes, that the viewer stops and thinks: “Why the heck did it take this long to make a plot this engaging?”
Another interpretation that, in my opinion, manages to be more intriguing and, at the same time, anguishing, would be the possibility of seeing the horror events of “Evil Dead Rise” as reflections of our day-to-day life during lockdowns in the COVID-19 pandemic. If I explained this any further, it's likely that I'll give away spoilers, so in order to avoid that, I'll stick to the basics: there's an invisible evil that has the capacity of possessing (or even better, infecting) every single resident in the building one by one, in a way the protagonists are unable to leave their homes. It might feel a little trippy, at first, but trust me, taking into account how Lee Cronin ties things extremely well with the screenplay, it ends up making perfect sense.
However, I must admit that this “Evil Dead” film is not 100% perfect, as it only got right one of the two extremes that made Sam Raimi's original work iconic. Cronin hits the jackpot on horror, delivering truly sinister scenes that are able to make the viewer look away because of their explicit feel. It's a bloody, disgusting and extremely graphic film that really lives up to the franchise's name and reputation. However, it's possible to note a lack of the sense of humor that was omnipresent in the two sequels to the 1981 film. Except for a particular sequence that manages to be equally repulsive and hilarious, the comic and sarcastic vibe that made Raimi's horror live on to this day, as seen in 2009's excellent “Drag Me To Hell”, is not that present here. I wasn't that bothered with the lack of humor, due to the more serious tone of “Rise”, but a horror film needs some levity in order to be entertaining rather than just scary, so, it would've really come in handy.)
No quesito elenco, assim como em todos os outros filmes anteriores da franquia, há um número consideravelmente pequeno de membros. No caso de “A Ascensão”, o elenco limitado funciona a favor do foco do roteiro no desenvolvimento dos personagens. Para que o roteiro funcione, seria preciso que o elenco acertasse em três frentes: nas irmãs Beth e Ellie e no trio de crianças, filhos da irmã mais velha. E felizmente, Lily Sullivan, Alyssa Sutherland, Morgan Davies, Gabrielle Echols e a estreante Nell Fisher fazem um ótimo trabalho com seus papéis. A começar por Sullivan, cuja performance é repleta de pequenas nuances que fazem o mistério envolvendo o estado de espírito de sua personagem valer a pena para o espectador. Há uma incerteza singular permeando a personagem dela, e o jeito que a atriz consegue contra-atacar esse sentimento com um instinto visceral de sobrevivência é, nas palavras de Ash Williams, “do balacobaco”.
Mas só não vou dizer que é a melhor atuação do filme, pelo fato da Alyssa Sutherland completamente dominar toda cena em que ela está presente. É possível ver, através da linguagem corporal da atriz, o quanto sua personagem está essencialmente insatisfeita com a sua vida. Há um sentimento predominante de derrota em Ellie, o que faz um contraste perfeito com a necessidade de Beth de aconselhamento da irmã mais velha. As sequências em que vemos a personagem de Sutherland possuída são obras-primas à parte, com a atriz assumindo uma personalidade persuasiva, maligna, mas, principalmente, convincente. É certamente a melhor atuação de uma pessoa possuída na franquia “A Morte do Demônio”.
No lado das crianças, não há muito desenvolvimento, mas Morgan Davies, Gabrielle Echols e Nell Fisher têm um ótimo desempenho. Confesso que gostaria ter visto mais de Davies e Echols, que interpretam os mais velhos, para entender mais do passado deles. Porém, a performance de Fisher como a caçula rouba a cena dos dois com frequência, e com razão. Há uma temática recorrente ao longo da trama em relação à perda da inocência, e isso é particularmente perceptível no trabalho estreante da atriz de 12 anos. Tenho um pressentimento que ela pode seguir os mesmos passos de atrizes jovens como Lulu Wilson e Mckenna Grace e se tornar uma verdadeira scream queen no futuro. Assim espero.
(When it comes to the cast, just like in every other film in the franchise, there's a considerably small amount of members. In the case of “Rise”, the limited cast works in favor of the screenplay's focus on character development. In order for the script to work, the cast would have to get three things right: sisters Beth and Ellie, and the trio of children, born of the older sister. And fortunately, Lily Sullivan, Alyssa Sutherland, Morgan Davies, Gabrielle Nichols and debut actress Nell Fisher do a great job with their roles. Starting off with Sullivan, whose performance is filled with little nuances that make the mystery revolving her character's state of mind all the more worthy to the viewer. There's a singular uncertainty going through her character, and the way the actress manages to counterbalance that feeling with a visceral instinct of survival is, in Ash Williams's words, groovy.
But I just won't say it's the best acting in the film, as Alyssa Sutherland fully dominates every scene she's in. You can see, through the actress's body language, how much her character is essentially unsatisfied with her life. There's a predominant feeling of defeat in Ellie, which makes a perfect contrast with Beth's need of counseling from her older sister. The sequences in which we see Sutherland's character possessed are particular masterpieces, with the actress taking on a persuasive, malignant but, mainly, convincing personality. It's certainly the best performance by a possessed person in the “Evil Dead” franchise.
On the kids' side, there isn't plenty of development, but Morgan Davies, Gabrielle Echols and Nell Fisher do a great job. I confess I wanted to see more of Davies and Echols, who play the eldest, in order to dig deeper into their characters. However, Fisher's performance as the youngest frequently steals the scene from them, and rightfully so. There's a recurring theme throughout the plot on the loss of innocence, and that's particularly visible through the debut work from the 12-year-old actress. I have a feeling that she can follow the same footsteps as young actresses like Lulu Wilson and Mckenna Grace and become a full-fledged scream queen in the future. I hope she does.)
Os aspectos técnicos de “A Morte do Demônio: A Ascensão” conseguem cumprir duas tarefas essenciais ao mesmo tempo: homenagear o visual e a estética do original, e imprimir sua própria identidade, a qual é majoritariamente realista. A direção de fotografia do Dave Garbett e a montagem do Bryan Shaw, em conjunto, dão origem a cenas visualmente sinistras, muitas das quais não precisam de CGI para funcionarem. As recriações da trajetória do mal contido no Livro dos Mortos, originalmente filmada por Tim Philo no filme de 1981, são muito bem executadas. O trabalho dos dois é particularmente bom nas cenas de violência explícita, porque a câmera faz questão de focar naquilo que está sendo mostrado com o maior número possível de detalhes, pontuados pela montagem.
A direção de arte faz um trabalho memorável no design da ambientação, fazendo o prédio parecer que está prestes a cair aos pedaços, como se fosse um Hotel Overlook ao avesso. A equipe de maquiagem faz um trabalho estupendo nos mortos-vivos: a pele acinzentada, os olhos cor de névoa, os cortes e machucados nos rostos. Tudo é feito de uma maneira essencialmente prática, remetendo aos primórdios da franquia, com seus orçamentos baixos. Eu gostei do que a equipe dos adereços fez com o Livro dos Mortos. Confesso que senti falta das costuras e do rosto visível na capa do livro, mas o design dele é bem interessante, e me lembrou bastante do Livro Monstruoso dos Monstros de “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”, o que dá a ele um ponto a mais. E para quem não gosta de cenas com sangue, lamento lhe informar que “A Morte do Demônio” não será a sua praia. O filme tem mais de 6.500 litros de sangue cenográfico espalhados pelo tempo de duração, e quando alguma cena violenta acontece, normalmente litros saem da pessoa, e toda hora o queixo do espectador tende a cair, de tão absurdas que tais cenas são.
O design de som é simplesmente sensacional. Não há uma presença constante de trilha sonora aqui, somente no caso incidental, ou seja, quando o filme está prestes a te dar um susto, e nesse caso, o trabalho do Stephen McKeon é bastante eficiente. Mas queria dar um destaque especial para os silêncios de “A Morte do Demônio: A Ascensão”, que conseguem acentuar a tensão crescente da trama de uma maneira tão eficaz quanto a melhor das trilhas sonoras.
(The technical aspects of “Evil Dead Rise” manage to fulfill two essential tasks simultaneously: pay homage to the original's visuals and aesthetic, and imprinting its own identity, which is realistic in its majority. Dave Garbett's cinematography and Bryan Shaw editing, in tandem, originate truly sinister scenes, many of which don't need CGI to work. Their recreations of the trajectory of the evil contained within the Book of the Dead, originally shot by Tim Philo in the 1981 film, are very well executed. The pair's work is particularly good during the scenes of explicit violence, as the camera never backs away from what's being shown, and the editing makes it their task to point out every single grisly detail.
The production design does a memorable job in the design of the setting, making the apartment building look like it might fall apart at any second, as if it was a reverse Overlook Hotel. The makeup team does a stupendous work on the Deadites: their grey-ish skin, mist-colored eyes, and bruises and cuts in their faces. All is done in an essentially practical way, throwing back to the beginnings of the franchise, with its incredibly low budgets. I liked what the props team did with the Book of the Dead. I confess I missed the stitches and the visible face in the book's cover, but its design is quite interesting, and reminded me a lot of the Monster Book of Monsters from “Harry Potter and the Prisoner of Azkaban”, which gives it an extra point in my book. And to those who feel uneasy with scenes containing blood, I'm sorry to inform “Evil Dead” won't be your thing. The film has over 1,700 gallons of fake blood spread out throughout the runtime, and when some violent scene happens, normally loads of blood come out, and every time the viewer's jaw tends to drop, due to the scenes' absurdity.
The sound design is simply sensational. There's not a constant presence of soundtrack here, only on the incidental case, meaning, when the film's about to scare you, and in that case, Stephen McKeon's work is pretty effective. But I'd like to highlight the silences and quiet moments in “Evil Dead Rise”, which manage to heighten the plot's growing tension as efficiently as the best film scores can.)
Resumindo, “A Morte do Demônio: A Ascensão” é um retorno triunfalmente sangrento da franquia de Sam Raimi, trazido à vida pela direção precisa de Lee Cronin. Se mantendo fiel ao espírito grotesco e prático da saga e abrindo uma nova gama interessante de possibilidades, este novo longa funciona de forma muito eficaz, graças a um roteiro com um núcleo emocional vivo, performances competentes de seu elenco talentoso, e aspectos técnicos que homenageiam o que veio antes e imprimem sua própria identidade estética e visual no cânone de “A Morte do Demônio”. Um verdadeiro deleite para os fãs da franquia de Raimi e do terror gráfico.
Nota: 9,5 de 10!!
É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,
João Pedro
(In a nutshell, “Evil Dead Rise” is a triumphantly bloody return of Sam Raimi's franchise, brought to life by Lee Cronin's precise direction. Keeping it faithful to the saga's gory and practical spirit and opening a new interesting array of possibilities, this new film works in a wholly effective way, thanks to a screenplay with a beating emotional heart, competent performances by its talented cast, and technical aspects that pay homage to what came before and imprint their own visual and aesthetic identity into the “Evil Dead” canon. A true delight to fans of Raimi's franchise and graphic horror.
I give it a 9,5 out of 10!!
That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,
João Pedro)
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