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terça-feira, 7 de janeiro de 2020

"Jojo Rabbit": uma sátira anti-nazismo engraçada, comovente e relevante (Bilíngue)


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E aí, meus cinéfilos queridos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, e, nessa postagem, irei comentar sobre um dos filmes que mais dividiram os críticos em 2019. Dirigido pelo neozelandês Taika Waititi, o filme em questão é uma sátira ambientada na Segunda Guerra Mundial, que possui o senso de humor ácido do diretor, mas também carrega um núcleo emocional bem forte. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Jojo Rabbit”. Vamos lá!
(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, and, in this post, I'll be talking about one of the most polarizing films of 2019. Directed by New Zealander Taika Waititi, the film I'm about to review is a satire set in World War II, which contains the director's acid sense of humor, but it also carries a really strong emotional core. So, without further ado, let's talk about “Jojo Rabbit”. Let's go!)



O filme é ambientado na Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial, e segue Jojo Betzler (Roman Griffin Davis), um garoto de 10 anos fanático com as ideologias do nazismo, cujo amigo imaginário é uma versão pateta e conselheira de Hitler (Taika Waititi). Certo dia, ele descobre que sua mãe (Scarlett Johansson) está escondendo uma garota judia (Thomasin McKenzie) na casa deles, e por causa disso, Jojo se encontra em um conflito com sua própria moral.
(The film is set in Germany, during World War II, and follows Jojo Betzler (Roman Griffin Davis), a 10-year-old boy who is fascinated with the ideologies of the Nazis, and whose imaginary friend is a goofy, advice-giving version of Hitler (Taika Waititi). One day, he discovers that his mother (Scarlett Johansson) is hiding a Jewish girl (Thomasin McKenzie) in their home, and because of that, Jojo finds himself in conflict with his own morality.)



Antes de começar a falar sobre o filme em si, vou dedicar algumas linhas para falar sobre minhas expectativas para ele. Eu sou MUITO fã do diretor, Taika Waititi, conhecido pelas comédias indie “O Que Nós Fazemos nas Sombras” e “A Incrível Aventura de Ricky Baker”, e por “Thor: Ragnarok”, para o público mais comercial. Ele faz filmes diferentes, surpreendentemente comoventes, e muito engraçados. Quando eu ouvi falar desse filme, eu falei pra mim mesmo “Pronto. Eu preciso ver 'Jojo Rabbit'”. Eu acho que a última vez que minhas expectativas estavam tão altas para um filme foi com “A Forma da Água”, dirigido por Guillermo del Toro. E eu fico MUITO feliz em dizer que minhas expectativas não só foram atendidas, mas também fui positivamente surpreendido pela capacidade que o filme teve de misturar dois gêneros que causam sentimentos opostos no espectador: a comédia e o drama. Sinceramente, não sei porque o filme vem causando tanta polêmica, então vamos esclarecer uma coisa: “Jojo Rabbit” não faz apologia ao nazismo, pelo contrário, ele aponta o quão ridículas e absurdas as ideologias nazistas eram, de uma maneira ousada que mistura o senso de humor satírico dos filmes do Mel Brooks com a sofisticação técnica dos filmes do Wes Anderson. Se o filme aborda um tema principal, esse tema seria o amadurecimento intelectual e ideológico do protagonista, e o roteiro faz um trabalho excelente retratando a lenta, mas constante evolução e mudança da mente de Jojo. O filme começa como uma comédia muito engraçada, é bem colorido, energético, cheio de piadinhas, e, em certo momento, há uma quebra de expectativa genial que “acorda” Jojo para a realidade em que ele está vivendo. Essas quebras de expectativa não só surpreendem nosso protagonista, mas também o público, pois realmente não esperávamos que tal coisa acontecesse. Outro aspecto que o roteiro trabalha de forma sublime é o desenvolvimento dos personagens, especialmente o dos personagens nazistas, que começam como alívio cômico, ou seja, personagens que são colocados pra fazer o espectador rir, mas que depois começam a mostrar sua verdadeira natureza, especialmente nas quebras de expectativa mencionadas anteriormente. Apesar de bem engraçado, como mencionei na introdução, o filme também carrega um núcleo emocional muito forte, porque, afinal de contas, é um filme de guerra. Não chega a deixar cicatrizes emocionais, e também não mostra os horrores da Guerra de forma extremamente explícita, como nos casos de “A Lista de Schindler” e “O Pianista”, mas é um filme bem comovente. E o mais interessante é que esse filme vai muito além do contexto da ambientação da trama, e fala sobre temas muito presentes nos dias de hoje, especialmente o preconceito, algo que fazia uma enorme presença na época em que o filme é ambientado e que, infelizmente, ainda acontece na atualidade. Pela mistura incrível entre dois gêneros opostos, e pela abordagem única de um tema tão delicado e pesado como a Segunda Guerra, o roteiro de “Jojo Rabbit” merece uma indicação ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado. É isso.
(Before I start talking about the film itself, I'll occupy some lines to comment on my expectations for it. I am a HUGE fan of the director, Taika Waititi, who is known for the indie comedies “What We Do In the Shadows” and “Hunt for the Wilderpeople”, and also for “Thor: Ragnarok”, which was well-received by the general public. He makes different, surprisingly moving and really funny films. When I heard that he was making this one, I said to myself “Okay. I need to see 'Jojo Rabbit'”. I think that the last time my expectations for a film were this high, it was because of Guillermo del Toro's “The Shape of Water”. And I am REALLY glad to say that not only my expectations were confirmed, I also became positively surprised by its capacity to mix two genres that should cause opposite reactions to the audience: comedy and drama. Honestly, I don't know why this film has been causing so much controversy, so, let's make something clear: “Jojo Rabbit” isn't an advocate for Nazis, on the contrary, it points on how absurd and ridiculous their ideologies were, in a bold way that blends Mel Brooks's satirical sense of humor with the technical sophistication of Wes Anderson films. If “Jojo Rabbit” had to deal with a main theme, that theme would be the intellectual and ideologic “coming-of-age” of its protagonist, and the script does an excellent job in portraying the slow, but constant evolution and change of Jojo's mind. The film starts as a really funny comedy, it's very colorful, energetic, filled with jokes here and there, and, in a specific moment, there's a breaking of expectations that “wakes” Jojo up to the reality he's living. These expectation breaches not only take the main character by surprise, but they also surprise the audience, because we really weren't waiting for that thing to happen. Another aspect that the script does really well is the development of its characters, especially the Nazi characters, who start off as comic relief, characters that are there to make you laugh, but then they start to show their true nature, especially in the previously mentioned expectation breaches. Even though it's quite funny, as mentioned in the introduction, the film also carries a very strong emotional core, because, after all, this is a war film. It's not emotionally scarring, and it doesn't show the horrors of the war in an extremely explicit way, like in “Schindler's List” or “The Pianist”, for example, but it's a really touching film. And the most interesting thing about it, is that it goes beyond the context of the plot's setting, and it also deals with themes that are present today, especially prejudice, which made a huge presence in the time the movie is set, and that, unfortunately, still happens to this day. Because of the incredible mix between opposite genres, and the unique approach to a delicate, heavy theme like World War II, the script of “Jojo Rabbit” deserves to be nominated for Best Adapted Screenplay at the Oscars. That's it.)



Além de ter um roteiro genial, é preciso reconhecer a dedicação do elenco à proposta do diretor. Fiquei surpreso quando vi que o Roman Griffin Davis tinha sido indicado ao Globo de Ouro de Melhor Ator – Comédia ou Musical pela atuação dele como Jojo, mas agora vejo que foi muito merecido. Duas coisas que eu sempre analiso em performances infantis são a capacidade de atuar com emoções diferentes, e a capacidade do ator de fazer o público acreditar que aquele personagem pode muito bem ter existido na vida real, e esse garoto acerta tudo em cheio. Eu não tenho vergonha em dizer que eu me apaixonei pela Thomasin McKenzie nesse filme. A personagem dela é forte, muito inteligente, e tem alguns dos melhores diálogos do roteiro. A química dela com Davis é tão evidente que é quase palpável, pois ela é a chave para o desenvolvimento ideológico do protagonista, como mencionei no parágrafo anterior. A personagem da Scarlett Johansson deve ser a pessoa mais otimista que eu já vi em um filme de guerra, e por isso, ela merece uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. Ela é engraçada, compreensiva, e tem uma boa dinâmica com os protagonistas mirins. Como alívios cômicos, temos Sam Rockwell, Rebel Wilson e Alfie Allen como oficiais nazistas, que vão mudando sua natureza de algo mais cômico para uma veia mais dramática ao longo da trama; Archie Yates, que é hilário como o melhor amigo de Jojo; e o diretor Taika Waititi como Hitler, cujo desenvolvimento é o melhor trabalho dramático de Waititi desde “Boy”, de 2010, o que pode até render uma indicação a Melhor Ator Coadjuvante para ele.
(Besides having a genius script, you have to recognize the cast's dedication to the director's proposal. I was surprised when I heard that Roman Griffin Davis was nominated for the Golden Globe for Best Actor – Musical or Comedy because of his performance as Jojo, but now I see that it was very much deserving. Two things I always look for in child performances are their capacity of conveying emotion and their capacity of making the viewer believe their character could have existed in real life, and this kid gets everything right. I'm not ashamed to say that I fell in love with Thomasin McKenzie because of this movie. Her character is strong, very clever, and has some of the script's best dialogue. Her chemistry with Davis is so evident you can reach out and touch it, as she is the key for the main character's ideological development, as mentioned in the previous paragraph. Scarlett Johansson's character might as well be the most optimistic person I've ever seen in a war film, and because of that, she deserves a nomination for Best Supporting Actress at the Oscars. She's funny, understanding, and has good dynamics with the child protagonists. As comic reliefs, we have Sam Rockwell, Rebel Wilson and Alfie Allen as Nazi officers, who change their nature from comical to dramatic throughout the plot; Archie Yates, who is hilarious as Jojo's best friend; and director Taika Waititi as Hitler, whose development is Waititi's finest dramatic work since 2010's “Boy”, which may even nominate him for Best Supporting Actor.)



Nos aspectos técnicos, vemos uma mudança radical no visual, se comparado à outros filmes de guerra. Temos aqui uma paleta de cores mais vibrante, colorida, o que, por completa coincidência, retrata a Alemanha como ela realmente era na época, de acordo com o diretor. Assim como aconteceu com “Coringa”, a direção de arte e a fotografia ajudam bastante a estabelecer a mudança de tom na trama. Na direção de fotografia, os movimentos e a centralização da câmera chegam a ser muito parecidos com o trabalho do Robert Yeoman nos filmes do Wes Anderson, assim como no figurino dos personagens, que é bem extravagante. A trilha sonora original do Michael Giacchino é jovial, composta por marchas e tons fantasiosos, para combinar com a inocência do protagonista ao início da trama. A trilha sonora é bem interessante, pois é composta por músicas como “I Want To Hold Your Hand”, dos Beatles, e “Heroes”, de David Bowie, só que cantadas em alemão, o que eu achei bem inventivo. Inclusive, tem uma montagem nos créditos iniciais que, na minha opinião, é genial, porque a analogia que ela faz é muito verdadeira. Acredito que, nos aspectos técnicos, “Jojo Rabbit” tenha muitas chances em algumas categorias no Oscar, como Melhor Fotografia, Montagem, Direção de Arte, Trilha Sonora Original e Figurino.
(In the technical aspects, we see a radical change in the visuals, if compared to other war films. We have a more vibrant, colorful palette here, which, coincidentally, portrays Germany as it actually was in that time, according to the director. Just as it happened with “Joker”, the production design and the cinematography really help establishing the change of tone in the plot. In the cinematography department, the camera's movements and centralization are very much alike Robert Yeoman's work in Wes Anderson films, as it also happens in the costume design, which is really stylish. Michael Giacchino's original score is youthful, being composed by marches and fantasy tones, to match the protagonist's innocence in the beginning of the plot. The soundtrack is quite interesting, because it's composed by songs like The Beatles' “I Want To Hold Your Hand” and David Bowie's “Heroes”, but sung in German, and I thought that was really inventive. By the way, there is a montage in the film's initial credits that, in my opinion, is brilliant, because the analogy it makes is really truthful. I believe that, in the technical aspects, “Jojo Rabbit” has a lot of chances in some categories at the Oscars, mainly Best Cinematography, Editing, Production Design, Original Score, and Costume Design.)



Resumindo, “Jojo Rabbit” é uma sátira anti-nazismo ousada que é ao mesmo tempo engraçada, comovente e relevante. O roteiro consegue trabalhar dois gêneros opostos de uma maneira excelente, o elenco entrega atuações dignas de prêmios, e os aspectos técnicos dão uma identidade única para o filme, se distanciando de outros filmes de guerra. Estarei torcendo bastante por esse filme no Oscar, pois ele merece e precisa ser visto!

Nota: 10 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,
João Pedro

(In a nutshell, “Jojo Rabbit” is a bold anti-Nazi satire that's funny, moving, and relevant, all at once. The script manages to work with two opposite genres in an excellent way, the cast delivers award-worthy performances, and the technical aspects give this film an unique identity, which makes it stand further from other war films. I'll be cheering for this film during the Oscars, because not only it needs to be seen, it deserves to be seen!

I give it a 10 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,
João Pedro)



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