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segunda-feira, 27 de maio de 2019

"Gravity Falls": muito mais do que "só um desenho" (Bilíngue)


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E aí, galerinha de cinéfilos! Aqui quem fala é o João Pedro, e estou aqui para falar de uma série maravilhosa. Ela é curta, possuindo apenas duas temporadas, é uma animação, mas subverte completamente as expectativas do espectador, que não esquecerá dela tão cedo. Então, sem mais delongas, vamos falar do mundo extraordinariamente estranho de “Gravity Falls”. Vamos lá!
(What's up, film buffs! It's João Pedro, and I'm here to talk about a wonderful TV series. It is short, only being 2 seasons long, it's an animated show, but it completely subverts the expectations of the viewer, who will not forget about it too soon. So, without further ado, let's talk about the extraordinarily weird world of “Gravity Falls”. Let's go!)



A série toma o curso de um período de férias de verão e acompanha Dipper (voz de Jason Ritter) e Mabel Pines (voz de Kristen Schaal), irmãos gêmeos que são forçados a passar suas férias de verão numa armadilha de turistas comandada pelo seu tio-avô Stan (voz de Alex Hirsch), numa cidadezinha pacata no interior do Oregon chamada Gravity Falls. Certo dia, Dipper encontra um diário no meio da floresta, e munido dele, ele começa a entender as estranhezas que percorrem aquela cidade.
(The series takes course over a summer vacation period and follows Dipper (voiced by Jason Ritter) and Mabel Pines (voiced by Kristen Schaal), twins who are forced to spend their summer vacation in a tourist trap owned by their great-uncle Stan (voiced by Alex Hirsch), in a quiet little town inside Oregon, named Gravity Falls. One day, Dipper finds a journal in the middle of the woods, and, with it in his hands, he begins to understand the weirdnesses that run through that town.)



Ok, pra começar, já falo que Alex Hirsch, criador da série, é um gênio, por fazer de “Gravity Falls” uma série atraente tanto para o público infantil quanto para o público adulto. (Meu pai e meu irmão acompanharam toda a série comigo, e eles também acharam ela maravilhosa.) A primeira concepção que vem às nossas cabeças é que será “apenas um desenho”, com personagens bobinhos, tramas previsíveis e piadinhas infantis. Mas não, vai muito além disso. Vamos começar pela primeira temporada. Com 20 episódios, ela estabelece os personagens, decide de qual lado cada personagem está e dá personalidade a eles. Nenhum episódio é completamente desperdiçado, ou reduzido à um “filler” (episódio feito para “encher linguiça”), já que todos contribuem para a trama principal. A segunda (e última) temporada é uma das melhores coisas que eu já vi na história da televisão. Com os sub-mistérios da primeira temporada resolvidos, novos antagonistas e mistérios primitivos emergem à superfície, para culminar em um dos melhores episódios finais da televisão moderna. Cada um dos 40 episódios de “Gravity Falls” é uma tremenda obra-prima, subvertendo os estereótipos infantis do Disney Channel e Disney XD, e entregando algo universal, que todos podem aproveitar, independente de idade ou gênero. E é bem divertido, porque os episódios percorrem vários gêneros: tem alguns que possuem uma veia de fantasia, outros de ficção-científica, e outros tem até elementos de terror, e todos esses episódios funcionam. Os personagens são uma maravilha à parte: Dipper é um dos melhores protagonistas de série que eu já vi, ele possui uma determinação e personalidade cativantes; Mabel dá a primeira impressão que será uma personagem irritante, mas acaba sendo uma das mais importantes peças que fazem a série funcionar; Stan começa como um personagem que não tem nada a esconder, e nós nos surpreendemos completamente com seu desenvolvimento ao longo da série, e por aí vai. Cada um dos personagens tem camadas, e é muito interessante quando passamos a explorar além da superfície das personalidades deles. Outra coisa que faz essa série cair como uma luva no público adulto é o sentimento de nostalgia que ela traz, seja pelo enredo, ou seja pelas várias referências que ela põe ao longo dos episódios. Há várias referências à “Arquivo X”, “Twin Peaks”, “Free Willy”, “A Morte do Demônio”, “Jurassic Park”, “Tron”, “Street Fighter”, e várias outras propriedades da cultura pop, e pra mim, não foi fácil sentir essa nostalgia, por não ter vivido nessa época dos anos 80-90, mas como já tinha conhecido essas franquias, entender essas referências foi um tremendo deleite. Pra não dar spoilers, só digo que “Gravity Falls” é maravilhosa. Ela subverte todo e qualquer estereótipo de séries infantis da Disney, e entrega algo que qualquer pessoa pode aproveitar.
(Okay, for starters, I'm just gonna say that Alex Hirsch, creator of the show, is a genius, for making “Gravity Falls” attractive for both kids and adults. (My dad and my brother watched it with me, and they both think it's wonderful.) The first conception that comes to our minds is that it will be “just a cartoon”, with silly characters, predictable plots and childish jokes. But no, it goes way beyond that. Let's start with season one. With 20 episodes, it establishes the characters, decides which side they are in, and gives them personality. None of these episodes are wasted or reduced to a “filler” (an episode that “fills things up” before returning to the main plot), as they all contribute to the main plotline. The second (and final) season is probably one of the best things I've seen on TV. With all the minor mysteries from season 1 solved, new antagonists and ancient mysteries rise to the surface, in order to culminate in one of the greatest final episodes in modern television. Each one of the 40 episodes in “Gravity Falls” is a flat-out masterpiece, subverting every childish stereotype that Disney Channel or Disney XD may have, and delivering something universal, that anyone can enjoy, no matter what age or gender. And it is really fun, because the episodes run through different genres: some episodes rely on fantasy, others, on science-fiction, and others have some elements of horror, believe it, and all of those episodes work. The characters are an individual wonder: Dipper is one of the best protagonists in a TV show, his determination and personality are captivating; Mabel makes us think that she will be very annoying, and then ends up being one of the most important characters for the show to work; Stan starts off as a character who has nothing to hide, and we are completely surprised by his character development throughout the show, and it goes further. Each one of these characters have layers, and it is really interesting when we explore what's beyond the surfaces of their personalities. Another thing that makes this show enjoyable for adults is the feeling of nostalgia it brings, because of the main plot, or because of the several references it drops in each episode. There are references to “The X-Files”, “Twin Peaks”, “Free Willy”, “Evil Dead”, “Jurassic Park”, “Tron”, “Street Fighter”, and to many other properties in pop culture, and to me, it wasn't easy to feel this nostalgia, as I didn't live in the 80s or 90s, but understanding these references was a true delight. So, in order to not give any spoilers, I'm just gonna say that “Gravity Falls” is wonderful. It subverts every childish stereotype that Disney shows may have, and delivers something anyone can enjoy.)







O elenco de vozes dessa série é uma das razões de seu sucesso. Jason Ritter, filho do falecido ator John Ritter, cai como uma luva no papel de Dipper, que é inspirado no criador da série, Alex Hirsch. Ele dá personalidade ao personagem, ele é carismático, engraçado, inocente, e muito corajoso. Eu não consigo encontrar ninguém melhor do que a Kristen Schaal para interpretar a Mabel. A voz dela já é o suficiente para estabelecer a personalidade da irmã gêmea de Dipper, inspirada em Ariel, irmã gêmea de Alex Hirsch. Além dos dois principais, vários atores famosos, tanto pelo cinema quanto pela TV, fazem participações aqui, entre eles Linda Cardellini (Freaks and Geeks), J.K. Simmons (Whiplash), T.J. Miller (Deadpool), Justin Roiland (Rick and Morty), Neil deGrasse Tyson, Kyle MacLachlan (Twin Peaks), Nick Offerman (Parks and Recreation), Will Forte (The Last Man on Earth), Chelsea Peretti (Brooklyn Nine-Nine), Nathan Fillion (Castle), e Louis CK (Louie), e todos esses atores trabalham muito bem, independente da importância de seus personagens para a trama principal. Mas quem rouba a cena no elenco, somente para reforçar sua genialidade, é o criador da série, Alex Hirsch, que interpreta mais de 10 personagens significativos aqui, com 4 desses personagens sendo cruciais para o desfecho de “Gravity Falls”, e, assim como o trabalho de Seth MacFarlane, que dubla Peter, Brian e Stewie em “Uma Família da Pesada”, a flexibilidade de Hirsch ao fazer as vozes de seus personagens aqui é impressionante.
(The voice cast of this show is one of the reasons of its success. Jason Ritter, son of late actor John Ritter, fits like a glove in the role of Dipper, who is inspired on the show's creator, Alex Hirsch. He gives personality to the character, he is charismatic, funny, naive, and really brave. I couldn't find anyone better to play Mabel than Kristen Schaal. Her voice is already enough to establish the personality of Dipper's twin sister, who is inspired on Ariel, Alex Hirsch's twin sister. Besides the main two, several famous actors, from movies or TV, make some appearances here, like Linda Cardellini (Freaks and Geeks), J.K. Simmons (Whiplash), T.J. Miller (Deadpool), Justin Roiland (Rick and Morty), Neil deGrasse Tyson, Kyle MacLachlan (Twin Peaks), Nick Offerman (Parks and Recreation), Will Forte (The Last Man on Earth), Chelsea Peretti (Brooklyn Nine-Nine), Nathan Fillion (Castle), and Louis CK (Louie), and all of those actors work really well, no matter the importance of their characters to the main plotline. But the scene stealer in the cast, only to reinforce his genius, is series creator Alex Hirsch, who portrays more than 10 significant characters here, with 4 of those characters being crucial to the ending of “Gravity Falls”, and, just like Seth MacFarlane, who voices Peter, Brian and Stewie in “Family Guy”, Hirsch's flexibility in voicing his characters here is impressive.)



Uma das melhores coisas sobre “Gravity Falls” é o mistério. Há vários deles ao longo da série: “Quem é o Autor dos diários?”, “Qual é a origem de Bill Cipher?”, “Qual o significado dos suéteres da Mabel?”, e por aí vai. Todos esses mistérios principais são resolvidos até o final da série, graças aos excelentes roteiros e às explicações de Hirsch no especial “Between the Pines”, onde ele discute curiosidades e teorias sobre a série. Mas há mistérios que a equipe do programa deixa para o espectador resolver. Por exemplo, em cada episódio, no final dos créditos, há uma cifra, um código, com letras embaralhadas. Isso tem a capacidade de despertar o interesse do espectador em decifrar aquele código. Outro exemplo disso é como, no final de cada episódio da segunda temporada, há uma parte de uma imagem composta por 21 partes de um todo. Esse tipo de coisa, sabem? Além desses mistérios, tem também os easter eggs, aqueles segredos bem escondidos que as pessoas só prestam atenção neles ao ver pela segunda vez. Existem participações secretas de Alex Hirsch em alguns dos episódios, aparições-relâmpago de personagens importantes antes de sua introdução oficial, há várias alusões ao número 618 (6/18 – 18 de Junho, aniversário de Hirsch), e por aí vai. Essa é a magia de assistir a “Gravity Falls” mais de uma vez, você descobre coisas novas e vai enriquecendo seu conhecimento sobre a mitologia da série, o que somente te faz achá-la mais brilhante ainda.
(One of the best things about “Gravity Falls” is the mystery. There are several of them throughout the show: “Who is the Author of the Journals?”, “What's the origin of Bill Cipher?”, “What's the meaning of Mabel's sweaters?”, and so it goes. All of these main mysteries are solved by the end of the series, thanks to excellent scripts and Hirsch's explanations in the special “Between the Pines”, where he discusses curiosities and theories about it. But there are mysteries that the show's team leaves for the viewer to solve. For example, in each episode, by the end of the credits, there's a cipher, a code, with shuffled letters. That has the capacity of raising the interest of the viewer on deciphering that code. Another example of this is like, in the end of each episode in season 2, there's a part of an image composed by 21 parts of a whole. This kind of thing, you know? Besides these mysteries, there are also easter eggs, those well-hidden secrets that people only pay attention to when watching it for the second time. There are secret Alex Hirsch cameos in some of the episodes, quick appearances of important characters before their official introduction, there are several allusions to the number 618 (6/18 – June 18, Hirsch's birthday), and it goes further. That is the magic of watching “Gravity Falls” more than one time, you get to find out new things and you grow on your knowledge of the show's mythology, which will only make you think it's even more brilliant than it already is.)





Então, para resumir essa verdadeira carta de amor que fiz a uma das minhas séries favoritas de todos os tempos, irei modificar a narração de Dipper nos momentos finais da série, o que encaixa perfeitamente com o que quero dizer:

“Se você uma vez já pesquisou sobre animações, você pode ter descoberto algo sobre um programa chamado Gravity Falls. Não é uma série de renome como Os Simpsons, e a maioria das pessoas pode não ter ouvido falar dela. Alguns pensam que só por ser da Disney, é “só um desenho”. Mas, se de alguma maneira, eu despertei seu interesse nessa série através dessa resenha, o que você está esperando? Dê uma chance, assista. Está lá, bem escondida no seu catálogo da Netflix, esperando.”

Nota: (Infinito) de 10!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,
João Pedro

(So, in order to resume this true love letter I made to one of my favorite shows of all time, I'll change some words in Dipper's narration in the final moments of the show, which fits perfectly with what I want to say:

“If you ever made some research on animations, you may have stumbled upon a show called Gravity Falls. It's not a renowned show like The Simpsons, and most people may not even have heard of it. Some think that only because it's Disney, it's “just a cartoon”. But, if in some way, I awakened your interest in this show through this review, what are you waiting for? Give it a shot, watch it. It's there, hidden on some streaming service catalogs and DVD stores, waiting.”

I give it an (Infinity) out of 10!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,
João Pedro)




sexta-feira, 24 de maio de 2019

"Brightburn - Filho das Trevas": uma subversão simples, violenta e muito divertida do gênero de super-heróis (Bilíngue)


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E aí, galerinha de cinéfilos! Estou aqui para falar de um filme muito interessante. Ele não é de um diretor conhecido, possui apenas 6 milhões de dólares de orçamento (o que é pouco se comparado aos 350 milhões de “Vingadores: Ultimato”), e como não teve nenhum filme do Deadpool esse ano, é o filme que mais subverteu o gênero de super-heróis em 2019 até agora. Então, sem mais delongas, vamos falar de “Brightburn – Filho das Trevas”. Vamos lá!
(What's up, film buffs! I'm here to talk about a very interesting movie. It's not from a well-known director, it has only 6 million dollars worth of budget (which is little compared to “Avengers: Endgame”'s 350 million), and as there were no Deadpool movies this year, it is also the movie that most subverted the superhero genre in 2019 so far. So, without further ado, let's talk about “Brightburn”. Let's go!)



O filme conta a história de um casal (David Denman e Elizabeth Banks) que, na esperança de ter um filho, tem o seu pedido atendido quando uma nave alienígena contendo uma criança pousa numa floresta perto de sua casa no Kansas. Mas, 10 anos depois, quando o menino, Brandon (Jackson A. Dunn), começa a descobrir seus poderes, ao invés de querer se tornar um herói para a humanidade, ele passa a aterrorizar a pequena cidade onde ele vive.
(The film tells the story of a couple (David Denman and Elizabeth Banks) who, hoping to have a child, has their wish granted when an alien ship containing a child crash-lands in a forest near their house in Kansas. But, 10 years later, when the boy, Brandon (Jackson A. Dunn), starts to discover his powers, instead of wanting to become a hero for mankind, he starts terrorizing the small town where he lives in.)



O que instantaneamente pegou minha atenção ao ver o primeiro trailer desse filme não foi as inúmeras semelhanças com a história de origem do Superman, mas sim o envolvimento de James Gunn com o projeto. Para aqueles que ainda não sabem, “Guardiões da Galáxia”, dirigido por Gunn, é o meu filme favorito do Universo Cinematográfico da Marvel até agora. E ele é muito bom com filmes violentos e sangrentos que subvertem gêneros, tendo dirigido “Seres Rastejantes” e “Super”, e escrito o remake de “Madrugada dos Mortos”. Mesmo com James não sendo o roteirista de “Brightburn”, dá pra notar a veia dos filmes pré-Marvel dele no roteiro de seus parentes, Mark e Brian Gunn. Apesar de ser um pouco curto, com 90 minutos de duração, Mark e Brian, conhecidos por filmes convencionais e rasos como “As Apimentadas: Mandando Ver” e “Viagem 2: A Ilha Misteriosa”, conseguem subverter alguns itens que aparecem em todo filme do Superman, e com isso, brincar até com o terror também. Poucos filmes conseguem pegar esses dois gêneros (super-herói e terror) e misturá-los tão bem, como “Hellboy” e “Blade II”, ambos dirigidos por Guillermo del Toro. O roteiro é bem simples, e essa simplicidade não machuca o filme, de maneira alguma, mas também não o levanta. Se os roteiristas tivessem esticado um pouquinho a duração, talvez com uma história de fundo sobre o Brandon ou com uma brecha para uma possível continuação, ele poderia ser um pouco melhor. Mas “Brightburn”, mesmo com um roteiro bem superficial, consegue entreter, porque além de ser bem divertido, a censura alta também permitiu cenas bem grotescas e violentas. Garanto que pelo menos duas delas me causaram uma agonia... (Risos) Resumindo, o roteiro de “Brightburn” não arrisca, em termos de reviravoltas ou jumpscares, mas consegue entreter com o que é dado à plateia.
(What instantaneously caught my eye when I first watched the trailer for this movie was not the load of references to Superman's origin story, but the involvement of James Gunn with the project. For those who still don't know, “Guardians of the Galaxy”, directed by Gunn, is my favorite movie in the Marvel Cinematic Universe so far. And he is really good at making violent, bloody, genre-subverting films, being the director of “Slither” and “Super”, and the screenwriter of the “Dawn of the Dead” remake. Even with James not being the screenwriter for “Brightburn”, his spark in the pre-Marvel movies he made can be felt in the script written by his relatives, Mark and Brian Gunn. Even though it's a little short, with only 90 minutes of running time, Mark and Brian, known for writing really superficial, shallow films like “Bring it On: Again” and “Journey 2: The Mysterious Island”, manage to subvert some items present in all of Superman's films, and, with that, even play a little bit with horror elements. Very few films manage to mix those two genres (superhero and horror) and make it work, like “Hellboy” and “Blade II”, both directed by Guillermo del Toro. The script is quite simple, and its simplicity doesn't hurt it, not at all, but it also doesn't lift it to new and greater heights. If the screenwriters stretched the running time just a little bit longer, maybe with a backstory for Brandon or with a gap for a possible sequel, it might have turned out better. But “Brightburn”, even with a superficial script, can entertain, because, besides being really fun, its high rating also allowed really violent, gory scenes to come to the screen. I guarantee that at least two of those scenes made me flinch... (LOL) In a nutshell, the script for “Brightburn” doesn't take any risks, in terms of plot twists or jumpscares, but it manages to entertain with what is given to the audience.)



Em termos de elenco, os únicos realmente conhecidos aqui são Elizabeth Banks e David Denman, que interpretam Tori e Kyle Breyer, pais do protagonista. Eles trabalham muito bem, apesar que até um certo ponto do filme, eles são dois opostos: um acredita em algo, e o outro acredita em algo completamente diferente, e tanto Elizabeth quanto David desenvolvem bem essa dualidade moral que eles enfrentam. Jackson A. Dunn, que interpreta Brandon, consegue subverter alguns dos estereótipos de criança maligna. Ele é sério, não mostra nenhum tipo de emoção ao fazer os atos maléficos dele, e isso é compreensível, porque o Brandon não é daqui, então entendemos porque ele age assim. E é especialmente por causa dessa apatia com os atos malignos do seu personagem que a atuação de Dunn se eleva acima das demais. O elenco coadjuvante não prejudica o filme, ele é operante, com destaque para Matt Jones como o tio de Brandon, que é protagonista da cena mais grotesca do filme, além de ser um bom alívio cômico, mesmo em cenas que não eram para ser engraçadas.
(In terms of cast, the only ones who are really known here are Elizabeth Banks and David Denman, who portray Tori and Kyle Breyer, the main character's parents. They work really well, although that until a certain point in the movie, they are two opposites: one believes in something, the other believes in something completely different, and both Elizabeth and David develop that moral duality in a great way. Jackson A. Dunn, who portrays Brandon, manages to subvert some of the evil child stereotypes. He is serious, doesn't show any kind of emotion when doing his dark deeds, and that's comprehensible, because Brandon's not from here, so we understand why he would act that way. And it's especially because of this apathy with his character's evil work that Dunn's performance stands out above the rest. The supporting cast doesn't weaken the film, it is operative, with a special highlight to Matt Jones as Brandon's uncle, who is the main character in the goriest scene in the movie, and he also works as a good comic relief, even in scenes that aren't meant to be funny.)



Os aspectos técnicos são a parte mais impressionante do filme. Como mencionado na introdução, “Brightburn” teve apenas 6 milhões de dólares de orçamento, e a cada momento em que há um uso de efeitos especiais, tanto práticos quanto CGI, eu jurava que tinha custado bem mais. As cenas sangrentas e violentas funcionam, elas não são gratuitas de nenhuma maneira. Elas são bem feitas, bem gravadas e conseguem incomodar o espectador, seja pela proximidade da câmera ou pelos efeitos sonoros usados durante a cena. A direção de fotografia é muito boa, tem uma atmosfera sombria capturada que reforça o terror do enredo. A direção de arte é muito bem feita, tanto nos figurinos e adereços quanto nos cenários, que acentuam a similaridade com as cenas na casa dos Kent em filmes do Superman. O trabalho com som também é muito bom, porém, ele deixa os jumpscares, que já são esperados em filmes de terror, um pouquinho previsíveis. Mas mesmo assim, eles não deixam de assustar. Mesmo com um roteiro simples, mas impulsionado por atuações competentes do elenco, o verdadeiro destaque do filme fica com os aspectos técnicos, que mostram que pode se fazer muita coisa sem precisar de um orçamento estratosférico, como os filmes da Marvel e da DC.
(The technical aspects are the most impressive part of the film. As mentioned in the intro, “Brightburn” had only US$ 6 million dollars for a budget, and at each moment there's a use of special effects, both practical and CGI, I could've sworn it had cost more. The bloody, violent scenes work, they are not gratuitous at all. They are well made, well filmed and manage to disturb the viewer, because of the proximity of the camera or the sound effects used during the scene. The cinematography is really good, it captured a dark atmosphere that reinforces the horror in the plot. The art direction is very well done, especially in the costumes, props and scenarios, that emphasize the similarities with the scenes in the Kent's home in Superman movies. The sound work is also really good, although, it makes the jumpscares, which are already expected in horror films, a tiny bit predictable. But even though, they still pack a bunch of scares. Even with a simple script, but bolstered by competent performances of its cast, the true highlight of the film stays with the technical aspects, that show that a lot of stuff can be made without a gigantic budget, like the Marvel and DC movies.)



Resumindo, “Brightburn – Filho das Trevas” é bem divertido. Ele não arrisca ou aprofunda em termos de roteiro, mas compensa com atuações competentes de seu elenco e cenas bastante violentas. Uma continuação cairia bem, nesse caso, na minha opinião.

Nota: 8,5 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,
João Pedro

(In a nutshell, “Brightburn” is really fun. It doesn't take risks or deepen its mythology in its script, but it compensates with competent performances by its cast and really violent scenes. A sequel would be good, in this case, in my opinion.

I give it a 8,5 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,
João Pedro)




segunda-feira, 6 de maio de 2019

"Cobra Kai": o melhor uso de nostalgia dos anos 80 desde "Stranger Things" (Bilíngue)


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E aí, galerinha de cinéfilos! Estou de volta, com a resenha de uma das melhores séries dos últimos anos. Não é da Netflix, é de um serviço de streaming bem menos conhecido (YouTube Red), mas me sinto seguro ao dizer que essa série é, provavelmente, o melhor uso de nostalgia dos anos 80 desde o fênomeno “Stranger Things”. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Cobra Kai”. Vamos lá!
(What's up, film buffs! I'm back, with the review of one of the best TV shows in recent years. It's not a Netflix show, it's from a less known streaming service (YouTube Red), but I feel safe to say that this show is, probably, the best use of 80s nostalgia since the “Stranger Things” phenomenon. So, without further ado, let's talk about “Cobra Kai”. Let's go!)



A série se ambienta 34 anos depois dos eventos de “Karatê Kid: A Hora da Verdade”, e foca no ponto de vista de Johnny Lawrence (William Zabka), que, depois de perder o campeonato para Daniel LaRusso (Ralph Macchio) em 1984, virou um bêbado fracassado. Numa certa noite, ele vê valentões implicando com Miguel (Xolo Maridueña), seu vizinho, e decide reabrir o dojo do qual ele era aluno no primeiro filme, para ensinar a Miguel e à uma nova geração de lutadores o caminho do punho.
(The series is set 34 years after the events of “The Karate Kid”, and focuses on the point of view of Johnny Lawrence (William Zabka), who, after losing the championship to Daniel LaRusso (Ralph Macchio) in 1984, has turned out to be a drunk loser. One night, he sees a bunch of bullies harassing Miguel (Xolo Maridueña), his neighbor, and decides to re-open the dojo that led him to the championship in the first movie, in order to teach the way of the fist to Miguel and a new generation of fighters.)



Lembro que, quando era criança, vi todos os filmes do Karatê Kid, e eu realmente gostava. Mas vendo agora, tudo parece extremamente clichê, então eu não estava colocando muita fé nessa série, mesmo com ela tendo escalado os protagonistas do filme original. Quando eu assisti o primeiro episódio, qualquer preconceito que eu tinha contra essa série rapidamente se foi. Aí eu vi o segundo, gostei ainda mais, até que terminei a primeira temporada, de apenas 10 episódios, com meia hora de duração cada. E aí, eu pensei: “Nossa, eu não acredito que eu ia perder isso.”. Vamos começar pelo roteiro. A sinopse postada acima é só a superfície de “Cobra Kai”, porque a série não acompanha somente o ponto de vista de Lawrence, mas o de LaRusso também. Isso é algo que a série faz muito bem, ela consegue transitar entre os dois lados da moeda, dando atenção igual a cada um deles, para que possamos entender seus pontos de vista. Outra coisa que “Cobra Kai” faz de maneira excelente é não estabelecer qual é o lado certo para o espectador torcer, tudo é uma zona neutra. Quando você se vê torcendo pelo Johnny, 5 minutos depois, você já está torcendo pelo Daniel, e vice-versa. Os roteiros comandados pelos showrunners da série (Josh Heald, Jon Hurwitz e Hayden Schlossberg) conseguem subverter qualquer coisa dos filmes que, hoje em dia, são considerados clichês, pegando essas coisas específicas e dando uma nova roupagem a elas, para dar aquela sensação de nostalgia aos que cresceram vendo os filmes do Karatê Kid, e para convencer os iniciantes a acompanharem a franquia. Os roteiristas acertaram em cheio ao criar os personagens da série. Claro, alguns deles já existiam antes de “Cobra Kai”, como Daniel e Johnny, mas eles ganham muitas camadas a mais, em especial Johnny, que, no primeiro filme, de 1984, era essencialmente unidimensional. Já os personagens novos, em sua maioria, adolescentes, são modernizados e subvertidos, se comparados aos adolescentes do filme de 1984. E não se enganem: isso não é uma coisa ruim. Pra falar a verdade, é hilário ver Lawrence, um verdadeiro dinossauro, lidar com as questões sociais e tecnologias do mundo jovem de hoje. E é claro, não se pode continuar um clássico dos anos 80 sem as REFERÊNCIAS. E pra quem é um verdadeiro Capitão América, “Cobra Kai” é um prato cheio de referências aos filmes originais. Locações recicladas, cenas utilizadas, atores coadjuvantes retornam mais velhos, figurinos reutilizados. Ou seja, quando se fala de referências, “Cobra Kai” tem, praticamente, de tudo. E cada final de temporada deixa um suspense miserável, aumentando drasticamente as expectativas do espectador para o que virá a seguir. Resumindo, os roteiros de “Cobra Kai” dão uma nova roupagem aos clichês do original, aprofundam o desenvolvimento de seus protagonistas, e investem bastante no fator nostalgia, mas ao mesmo tempo, andam com seus próprios pés.
(I remember that, as a child, I had watched every Karate Kid movie, and I really liked them. But now, everything seemed extremely clichéd, so I wasn't very excited about the show, even if it brought back the main characters from the original movie. When I watched the first episode, every type of prejudice I had against this show quickly faded. Then I watched the second one, which I liked even more than the first, then I finished the entire first season, which contains 10 episodes with 30 minutes each. And then, I thought: “Wow, I don't believe I was going to miss this”. Let's start with the scripts. The synopsis above is just the surface of “Cobra Kai”, as it doesn't only follow Lawrence's point of view, but LaRusso's as well. That's something that this series wonderfully does, it transits between both sides, giving them equal attention, in order for us to understand their points of view. Another thing that “Cobra Kai” succeeds in doing is not establishing the right side for the viewers to cheer for, it's all a big neutral zone. When you see yourself rooting for Johnny, 5 minutes later, you'll be rooting for Daniel, and vice-versa. The scripts written by the series's showrunners (Josh Heald, Jon Hurwitz and Hayden Schlossberg) manage to subvert everything from the movies that, nowadays, can be considered a cliché, taking these things and giving them a new identity, in order to give that feeling of nostalgia to those who grew up watching Karate Kid movies, and to convince beginners to follow the franchise. The screenwriters hit the jackpot when creating the characters of the show. Sure, some of them already existed before “Cobra Kai”, like Daniel and Johnny, but they get a whole lot of layers, especially Johnny, who, in the 1984 movie, was essentially one-dimensional. And the new characters, who are mostly teenagers, are more modern and subverted, if compared to the ones in the film. And don't be mistaken: that's not a bad thing. It's actually hilarious to see Lawrence, a real dinosaur, dealing with the social issues and technologies of today's youth world. And, of course, you can't continue an 80s classic without the REFERENCES. And to those who are real-life Captain Americas, “Cobra Kai” is a full plate of references to the original films. Recycled locations, scenes used, the return of supporting characters that are now older, reutilizing costumes. Meaning, when talking about references, “Cobra Kai”, probably has it all. And, also, every season finale leaves one hell of a cliffhanger, leaving audiences eager to see what's to come. In a nutshell, the scripts of “Cobra Kai” give a new identity to the movies's clichés, deepen the character development of its protagonists, and heavily invest on the nostalgia factor, with the series also walking on its own feet.)



O elenco, assim como o roteiro, é simplesmente primoroso. William Zabka e Ralph Macchio retornam como os rivais Johnny Lawrence e Daniel LaRusso, e os dois trabalham muito bem. Graças ao roteiro, Zabka consegue expandir seu personagem, dando a ele mais personalidade, e mostrando que há muito mais por dentro do que por fora. Já Macchio tem um desenvolvimento interessante: nós começamos odiando Daniel LaRusso, já que estamos olhando pelos olhos do Johnny, mas quando ele expõe seu ponto de vista sobre as coisas, nós o entendemos e não o vemos como o vilão da série. Temos um elenco adolescente impressionante aqui: Xolo Maridueña é incrível como Miguel, o vizinho de Johnny, e o jeito que seu personagem transita entre o “bem” e o “mal” é muito interessante de se ver; Mary Mouser arrasa como Samantha LaRusso, que, na primeira temporada, é menos desenvolvida, mas é muito bem aproveitada na segunda; Tanner Buchanan começa como um típico delinquente, em sua atuação como Robby Keene, mas, ao longo da primeira temporada, nós sabemos o por quê ele age assim, e passamos até a torcer por ele; Jacob Bertrand muda radicalmente seu personagem de forma extremamente rápida, além de ser bem engraçado; Nichole Brown tem uma das personagens menos aproveitadas, mas mais interessantes de se ver, como Aisha Robinson, e Peyton List, conhecida como a Holly Hills de “Diário de um Banana”, é a definição de bad-ass em sua performance como Tory. Mas temos nomes no elenco adulto que também valem a pena serem ressaltados: Courtney Henggeler, como Amanda, esposa de Daniel; Vanessa Rubio, como Carmen, mãe de Miguel; e Paul Walter Hauser, como Raymond, aluno do Cobra Kai. Muitas pessoas do elenco do filme original retornam, mas não irei mencioná-las para não perder a surpresa.
(The cast, just like the script, is wonderful. William Zabka and Ralph Macchio return as rivals Johnny Lawrence and Daniel LaRusso, and they both work really well. Thanks to the script, Zabka manages to expand his character, giving him more personality, and showing that there's a lot more on the inside than on the outside. Macchio, on the other hand, has an interesting development: we start off hating Daniel LaRusso, as we are seeing everything through Johnny's eyes, but when he shows his point of view on things, we understand him and don't see him as the bad guy. We have an impressive teenage cast here: Xolo Maridueña is amazing as Miguel, Johnny's neighbor, and the way his character transits between “good” and “evil” is really interesting to see; Mary Mouser kicks some ass as Samantha LaRusso, who, in the first season, isn't really developed, but gets way more development in season 2; Tanner Buchanan starts off as a typical troublemaker, in his performance as Robby Keene, but, throughout the first season, we learn why he acts like that, and we even cheer for him; Jacob Bertrand changes his character drastically in an extremely fast way, besides being really funny; Nichole Brown has one of the least developed, but most interesting characters to see, as Aisha Robinson, and Peyton List, known as Holly Hills from “Diary of a Wimpy Kid”, is the definition of bad-ass in her performance as Tory. But we also have some names in the adult cast who are worth highlighting: Courtney Henggeler, as Amanda, Daniel's wife; Vanessa Rubio, as Carmen, Miguel's mom; and Paul Walter Hauser, as Raymond, a Cobra Kai student. Lots of people from the original movie's cast return, but I won't mention them, so it doesn't ruin the surprise.)



As séries estão cada vez mais se assimilando a filmes, pela evolução drástica na qualidade dos equipamentos, e não é diferente aqui. A direção de fotografia é muito boa, o trabalho com som é muito bem feito, mas um dos verdadeiros destaques dos aspectos técnicos de “Cobra Kai” é a direção de arte, que consegue recriar e dar uma nova roupagem aos cenários e figurinos usados no filme original, novamente colaborando para aquele sentimento de nostalgia que a série deseja evocar nos mais velhos. O trabalho de remasterização das cenas do filme original também é primoroso. Claro, dá pra notar a diferença na qualidade da imagem, mas nós estamos nos divertindo tanto, que a gente nem se importa, e a transição entre as cenas do filme e as cenas da série é simplesmente perfeita. Em uma série sobre karatê, é preciso ter lutas. E “Cobra Kai”, graças a uma equipe maravilhosa de dublês e também aos responsáveis pela coreografia de luta, tem embates bem memoráveis em certos episódios, onde a câmera flui de maneira orgânica e não apressada, mostrando tudo o que acontece durante as lutas.
(TV shows are getting closer and closer to movies, due to the drastic evolution in the quality of the equipment, and it's not different here. The cinematography is really good, the sound work is very well done, but one of the true highlights in the technical aspects of “Cobra Kai” is the art direction, that manages to recreate and give a new identity to the sets and costumes used in the original movie, again collaborating to that feeling of nostalgia the series wishes to evoke on those who are older. The remastering work on the scenes of the original movie is also wonderful. Sure, you can know the difference in the quality of the image, but we're having so much fun watching, that we don't give a damn, and the transition between the movie scenes and the show's scenes is simply perfect. In a show about karate, you gotta have fights. And “Cobra Kai”, thanks to a marvelous stunt team and also to those responsible for the fight coreographies, has pretty memorable brawls in certain episodes, where the camera flows in an organic, not rushed way, showing everything that happens during the fights.)



Resumindo, “Cobra Kai” é um tremendo sucesso em todos os sentidos. Os roteiros encontram equilíbrio entre nostalgia e originalidade, o elenco é maravilhosamente bem aproveitado, e há uma ambição estupenda em seus aspectos técnicos. Mal posso esperar pela terceira temporada!

Nota: 10 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,
João Pedro

(In a nutshell, “Cobra Kai” is a tremendous success in every single way. The scripts find balance between nostalgia and originality, the cast is wonderfully well spent, and there's a stupendous ambition in its technical aspects. I can't wait for season 3!

I give it a 10 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,
João Pedro)