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segunda-feira, 6 de maio de 2019

"Cobra Kai": o melhor uso de nostalgia dos anos 80 desde "Stranger Things" (Bilíngue)


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E aí, galerinha de cinéfilos! Estou de volta, com a resenha de uma das melhores séries dos últimos anos. Não é da Netflix, é de um serviço de streaming bem menos conhecido (YouTube Red), mas me sinto seguro ao dizer que essa série é, provavelmente, o melhor uso de nostalgia dos anos 80 desde o fênomeno “Stranger Things”. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Cobra Kai”. Vamos lá!
(What's up, film buffs! I'm back, with the review of one of the best TV shows in recent years. It's not a Netflix show, it's from a less known streaming service (YouTube Red), but I feel safe to say that this show is, probably, the best use of 80s nostalgia since the “Stranger Things” phenomenon. So, without further ado, let's talk about “Cobra Kai”. Let's go!)



A série se ambienta 34 anos depois dos eventos de “Karatê Kid: A Hora da Verdade”, e foca no ponto de vista de Johnny Lawrence (William Zabka), que, depois de perder o campeonato para Daniel LaRusso (Ralph Macchio) em 1984, virou um bêbado fracassado. Numa certa noite, ele vê valentões implicando com Miguel (Xolo Maridueña), seu vizinho, e decide reabrir o dojo do qual ele era aluno no primeiro filme, para ensinar a Miguel e à uma nova geração de lutadores o caminho do punho.
(The series is set 34 years after the events of “The Karate Kid”, and focuses on the point of view of Johnny Lawrence (William Zabka), who, after losing the championship to Daniel LaRusso (Ralph Macchio) in 1984, has turned out to be a drunk loser. One night, he sees a bunch of bullies harassing Miguel (Xolo Maridueña), his neighbor, and decides to re-open the dojo that led him to the championship in the first movie, in order to teach the way of the fist to Miguel and a new generation of fighters.)



Lembro que, quando era criança, vi todos os filmes do Karatê Kid, e eu realmente gostava. Mas vendo agora, tudo parece extremamente clichê, então eu não estava colocando muita fé nessa série, mesmo com ela tendo escalado os protagonistas do filme original. Quando eu assisti o primeiro episódio, qualquer preconceito que eu tinha contra essa série rapidamente se foi. Aí eu vi o segundo, gostei ainda mais, até que terminei a primeira temporada, de apenas 10 episódios, com meia hora de duração cada. E aí, eu pensei: “Nossa, eu não acredito que eu ia perder isso.”. Vamos começar pelo roteiro. A sinopse postada acima é só a superfície de “Cobra Kai”, porque a série não acompanha somente o ponto de vista de Lawrence, mas o de LaRusso também. Isso é algo que a série faz muito bem, ela consegue transitar entre os dois lados da moeda, dando atenção igual a cada um deles, para que possamos entender seus pontos de vista. Outra coisa que “Cobra Kai” faz de maneira excelente é não estabelecer qual é o lado certo para o espectador torcer, tudo é uma zona neutra. Quando você se vê torcendo pelo Johnny, 5 minutos depois, você já está torcendo pelo Daniel, e vice-versa. Os roteiros comandados pelos showrunners da série (Josh Heald, Jon Hurwitz e Hayden Schlossberg) conseguem subverter qualquer coisa dos filmes que, hoje em dia, são considerados clichês, pegando essas coisas específicas e dando uma nova roupagem a elas, para dar aquela sensação de nostalgia aos que cresceram vendo os filmes do Karatê Kid, e para convencer os iniciantes a acompanharem a franquia. Os roteiristas acertaram em cheio ao criar os personagens da série. Claro, alguns deles já existiam antes de “Cobra Kai”, como Daniel e Johnny, mas eles ganham muitas camadas a mais, em especial Johnny, que, no primeiro filme, de 1984, era essencialmente unidimensional. Já os personagens novos, em sua maioria, adolescentes, são modernizados e subvertidos, se comparados aos adolescentes do filme de 1984. E não se enganem: isso não é uma coisa ruim. Pra falar a verdade, é hilário ver Lawrence, um verdadeiro dinossauro, lidar com as questões sociais e tecnologias do mundo jovem de hoje. E é claro, não se pode continuar um clássico dos anos 80 sem as REFERÊNCIAS. E pra quem é um verdadeiro Capitão América, “Cobra Kai” é um prato cheio de referências aos filmes originais. Locações recicladas, cenas utilizadas, atores coadjuvantes retornam mais velhos, figurinos reutilizados. Ou seja, quando se fala de referências, “Cobra Kai” tem, praticamente, de tudo. E cada final de temporada deixa um suspense miserável, aumentando drasticamente as expectativas do espectador para o que virá a seguir. Resumindo, os roteiros de “Cobra Kai” dão uma nova roupagem aos clichês do original, aprofundam o desenvolvimento de seus protagonistas, e investem bastante no fator nostalgia, mas ao mesmo tempo, andam com seus próprios pés.
(I remember that, as a child, I had watched every Karate Kid movie, and I really liked them. But now, everything seemed extremely clichéd, so I wasn't very excited about the show, even if it brought back the main characters from the original movie. When I watched the first episode, every type of prejudice I had against this show quickly faded. Then I watched the second one, which I liked even more than the first, then I finished the entire first season, which contains 10 episodes with 30 minutes each. And then, I thought: “Wow, I don't believe I was going to miss this”. Let's start with the scripts. The synopsis above is just the surface of “Cobra Kai”, as it doesn't only follow Lawrence's point of view, but LaRusso's as well. That's something that this series wonderfully does, it transits between both sides, giving them equal attention, in order for us to understand their points of view. Another thing that “Cobra Kai” succeeds in doing is not establishing the right side for the viewers to cheer for, it's all a big neutral zone. When you see yourself rooting for Johnny, 5 minutes later, you'll be rooting for Daniel, and vice-versa. The scripts written by the series's showrunners (Josh Heald, Jon Hurwitz and Hayden Schlossberg) manage to subvert everything from the movies that, nowadays, can be considered a cliché, taking these things and giving them a new identity, in order to give that feeling of nostalgia to those who grew up watching Karate Kid movies, and to convince beginners to follow the franchise. The screenwriters hit the jackpot when creating the characters of the show. Sure, some of them already existed before “Cobra Kai”, like Daniel and Johnny, but they get a whole lot of layers, especially Johnny, who, in the 1984 movie, was essentially one-dimensional. And the new characters, who are mostly teenagers, are more modern and subverted, if compared to the ones in the film. And don't be mistaken: that's not a bad thing. It's actually hilarious to see Lawrence, a real dinosaur, dealing with the social issues and technologies of today's youth world. And, of course, you can't continue an 80s classic without the REFERENCES. And to those who are real-life Captain Americas, “Cobra Kai” is a full plate of references to the original films. Recycled locations, scenes used, the return of supporting characters that are now older, reutilizing costumes. Meaning, when talking about references, “Cobra Kai”, probably has it all. And, also, every season finale leaves one hell of a cliffhanger, leaving audiences eager to see what's to come. In a nutshell, the scripts of “Cobra Kai” give a new identity to the movies's clichés, deepen the character development of its protagonists, and heavily invest on the nostalgia factor, with the series also walking on its own feet.)



O elenco, assim como o roteiro, é simplesmente primoroso. William Zabka e Ralph Macchio retornam como os rivais Johnny Lawrence e Daniel LaRusso, e os dois trabalham muito bem. Graças ao roteiro, Zabka consegue expandir seu personagem, dando a ele mais personalidade, e mostrando que há muito mais por dentro do que por fora. Já Macchio tem um desenvolvimento interessante: nós começamos odiando Daniel LaRusso, já que estamos olhando pelos olhos do Johnny, mas quando ele expõe seu ponto de vista sobre as coisas, nós o entendemos e não o vemos como o vilão da série. Temos um elenco adolescente impressionante aqui: Xolo Maridueña é incrível como Miguel, o vizinho de Johnny, e o jeito que seu personagem transita entre o “bem” e o “mal” é muito interessante de se ver; Mary Mouser arrasa como Samantha LaRusso, que, na primeira temporada, é menos desenvolvida, mas é muito bem aproveitada na segunda; Tanner Buchanan começa como um típico delinquente, em sua atuação como Robby Keene, mas, ao longo da primeira temporada, nós sabemos o por quê ele age assim, e passamos até a torcer por ele; Jacob Bertrand muda radicalmente seu personagem de forma extremamente rápida, além de ser bem engraçado; Nichole Brown tem uma das personagens menos aproveitadas, mas mais interessantes de se ver, como Aisha Robinson, e Peyton List, conhecida como a Holly Hills de “Diário de um Banana”, é a definição de bad-ass em sua performance como Tory. Mas temos nomes no elenco adulto que também valem a pena serem ressaltados: Courtney Henggeler, como Amanda, esposa de Daniel; Vanessa Rubio, como Carmen, mãe de Miguel; e Paul Walter Hauser, como Raymond, aluno do Cobra Kai. Muitas pessoas do elenco do filme original retornam, mas não irei mencioná-las para não perder a surpresa.
(The cast, just like the script, is wonderful. William Zabka and Ralph Macchio return as rivals Johnny Lawrence and Daniel LaRusso, and they both work really well. Thanks to the script, Zabka manages to expand his character, giving him more personality, and showing that there's a lot more on the inside than on the outside. Macchio, on the other hand, has an interesting development: we start off hating Daniel LaRusso, as we are seeing everything through Johnny's eyes, but when he shows his point of view on things, we understand him and don't see him as the bad guy. We have an impressive teenage cast here: Xolo Maridueña is amazing as Miguel, Johnny's neighbor, and the way his character transits between “good” and “evil” is really interesting to see; Mary Mouser kicks some ass as Samantha LaRusso, who, in the first season, isn't really developed, but gets way more development in season 2; Tanner Buchanan starts off as a typical troublemaker, in his performance as Robby Keene, but, throughout the first season, we learn why he acts like that, and we even cheer for him; Jacob Bertrand changes his character drastically in an extremely fast way, besides being really funny; Nichole Brown has one of the least developed, but most interesting characters to see, as Aisha Robinson, and Peyton List, known as Holly Hills from “Diary of a Wimpy Kid”, is the definition of bad-ass in her performance as Tory. But we also have some names in the adult cast who are worth highlighting: Courtney Henggeler, as Amanda, Daniel's wife; Vanessa Rubio, as Carmen, Miguel's mom; and Paul Walter Hauser, as Raymond, a Cobra Kai student. Lots of people from the original movie's cast return, but I won't mention them, so it doesn't ruin the surprise.)



As séries estão cada vez mais se assimilando a filmes, pela evolução drástica na qualidade dos equipamentos, e não é diferente aqui. A direção de fotografia é muito boa, o trabalho com som é muito bem feito, mas um dos verdadeiros destaques dos aspectos técnicos de “Cobra Kai” é a direção de arte, que consegue recriar e dar uma nova roupagem aos cenários e figurinos usados no filme original, novamente colaborando para aquele sentimento de nostalgia que a série deseja evocar nos mais velhos. O trabalho de remasterização das cenas do filme original também é primoroso. Claro, dá pra notar a diferença na qualidade da imagem, mas nós estamos nos divertindo tanto, que a gente nem se importa, e a transição entre as cenas do filme e as cenas da série é simplesmente perfeita. Em uma série sobre karatê, é preciso ter lutas. E “Cobra Kai”, graças a uma equipe maravilhosa de dublês e também aos responsáveis pela coreografia de luta, tem embates bem memoráveis em certos episódios, onde a câmera flui de maneira orgânica e não apressada, mostrando tudo o que acontece durante as lutas.
(TV shows are getting closer and closer to movies, due to the drastic evolution in the quality of the equipment, and it's not different here. The cinematography is really good, the sound work is very well done, but one of the true highlights in the technical aspects of “Cobra Kai” is the art direction, that manages to recreate and give a new identity to the sets and costumes used in the original movie, again collaborating to that feeling of nostalgia the series wishes to evoke on those who are older. The remastering work on the scenes of the original movie is also wonderful. Sure, you can know the difference in the quality of the image, but we're having so much fun watching, that we don't give a damn, and the transition between the movie scenes and the show's scenes is simply perfect. In a show about karate, you gotta have fights. And “Cobra Kai”, thanks to a marvelous stunt team and also to those responsible for the fight coreographies, has pretty memorable brawls in certain episodes, where the camera flows in an organic, not rushed way, showing everything that happens during the fights.)



Resumindo, “Cobra Kai” é um tremendo sucesso em todos os sentidos. Os roteiros encontram equilíbrio entre nostalgia e originalidade, o elenco é maravilhosamente bem aproveitado, e há uma ambição estupenda em seus aspectos técnicos. Mal posso esperar pela terceira temporada!

Nota: 10 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,
João Pedro

(In a nutshell, “Cobra Kai” is a tremendous success in every single way. The scripts find balance between nostalgia and originality, the cast is wonderfully well spent, and there's a stupendous ambition in its technical aspects. I can't wait for season 3!

I give it a 10 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,
João Pedro)




Um comentário:

  1. Li textos antigos seus, de 2012, e comparando com os de agora é nítida sua evolução. Parabéns, e continue fazendo seu ótimo trabalho.

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