E aí, galerinha de
cinéfilos! Estou de volta, e venho aqui trazer para vocês a resenha
de um dos filmes que eu estava mais esperando para ver esse ano.
Dirigido por Danny Boyle, e roteirizado por Richard Curtis, é uma
simples, mas singela homenagem à melhor banda de todos os tempos.
Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Yesterday”. Vamos
lá!
(What's up, film buffs!
I'm back, and I come here to bring to you the review of one of the
movies I was most excited to see this year. Directed by Danny Boyle,
with a screenplay written by Richard Curtis, it's a simple, yet
sincere homage to the greatest band of all times. So, without further
ado, let's talk about “Yesterday”. Let's go!)
Jack (Himesh Patel) é
um aspirante a músico que vem enfrentando problemas com sua música,
junto com sua empresária e melhor amiga, Ellie (Lily James). Um dia,
Jack sofre um acidente, e acorda em uma realidade onde ele é a única
pessoa que se lembra dos Beatles. Com isso em mente, ele começa a
construir uma carreira musical baseada nas músicas de seus ídolos.
(Jack (Himesh Patel) is
an aspiring musician who has been facing problems with his music,
along with his manager and best friend, Ellie (Lily James). One day,
Jack gets involved in an accident, and wakes up in a reality where
he's the only one who remembers the Beatles. With that in mind, he
begins to build a musical career based on his idols's songs.)
Ok, aqui está o
problema com expectativa: como deu pra perceber, o enredo do filme é
bem simples, e o próprio filme reflete a simplicidade do enredo.
Realmente, é um filme que não tenta ser grandioso, ou entrar para a
lista de melhores musicais de todos os tempos. Algo que reforça isso
é o fato do roteiro ter sido escrito pelo Richard Curtis, que é um
especialista em fazer comédias românticas, um gênero onde um dos
principais ingredientes para ele funcionar é o clichê. A notícia
boa sobre o Richard Curtis é que ele pega esses clichês e dá um
toque a mais a eles, permitindo assim, que esses sejam mais
originais, como aconteceu em “Quatro Casamentos e um Funeral”,
“Simplesmente Amor” e “Questão de Tempo”, todos escritos por
Curtis. Com isso em mente, vamos ao roteiro de “Yesterday”. Desde
o anúncio do filme, eu gostei do enredo, dessa ideia onde só uma
pessoa lembra das músicas dos Beatles e tenta construir uma carreira
musical com elas, parcialmente pelo fato dos Beatles serem minha
banda favorita, e também pelo fato de ser escrito pelo Richard
Curtis. É um roteiro simples? Sim. Eu achei até um pouquinho curto,
se comparado às durações de “Simplesmente Amor” e “Questão
de Tempo”, que têm mais de 2 horas cada. Mas é divertido? Com
certeza. Os personagens são bem desenvolvidos o bastante para fazer
o espectador se importar com eles; há o uso de várias músicas dos
Beatles aqui, desde as mais conhecidas, como “Yesterday”, “Let
it Be” e “I Wanna Hold Your Hand”, até as mais obscuras, como
“Maxwell's Silver Hammer”; e a história se movimenta bem o
suficiente para o espectador conseguir acompanhar o passo. Pode-se
dizer que “Yesterday” é um filme destinado a dois tipos de
pessoas: os Beatlemaníacos ao extremo, que sabem a maioria das
músicas de cor; e aqueles que ainda não conhecem, ou conhecem
pouco, o trabalho do Quarteto de Liverpool, o que justifica o fato da
maioria das músicas colocadas aqui serem as mais famosas do grupo.
Assim como todos os filmes que o Richard Curtis escreveu, tem um
romance inserido aqui, mas ele é bem desenvolvido, possuindo um bom
pano de fundo para influenciar o espectador a torcer por esse casal.
Lembra quando eu falei que o roterista de “Yesterday” é
conhecido por pegar clichês e dar uma mexida neles? Pois é, nesse
filme, tem dois momentos que eu não esperava que acontecessem, e um
foi uma grata surpresa, e eu quase chorei no outro. Tem uma piadinha
recorrente envolvendo o Google, que não fica cansativa, na verdade,
é muito divertida, e o filme tem um tom bem otimista em toda a sua
duração, garantindo um sorriso do espectador ao final da sessão.
(Ok, here's the deal
with expectation: as you could notice, the plot is quite simple, and
the movie reflects the simplicity of its plot. Really, it's a film
that doesn't want to be one of the greatest musicals of all time.
Something that reinforces this is the fact that it's written by
Richard Curtis, who is an expert in making romantic comedies, a genre
known for its extensive use of clichés. The good thing about Richard
Curtis is that he takes these clichés, and he gives them a little
twist, making them more original, as it happened in “Four Weddings
and A Funeral”, “Love Actually” and “About Time”, all
written by Curtis. With that in mind, let's go to the script of
“Yesterday”. Ever since this movie was announced, I really liked
the plot, this idea where only one person remembers the Beatles'
songs and tries to build a musical career based on their songs,
partially because they are my favorite band, and also because it was
written by Richard Curtis. Is it a simple script? Yes. I personally
thought it was a bit short, if compared to “Love Actually” and
“About Time”, as those movies run longer than 2 hours. But is it
fun? Absolutely. The characters are well-developed enough to make the
viewers care about them; there are a lot of Beatles songs here, which
go from the most-known ones, like “Yesterday”, “Let it Be”
and “I Wanna Hold Your Hand”, to the most obscure ones, like
“Maxwell's Silver Hammer”; and the story moves itself well enough
for the viewer to keep up with the movie's pace. It can be said that
“Yesterday” is a film for two kinds of people: the hardcore
Beatlemaniacs, who know most of the songs by heart; and those who
still don't know, or know very little, the work by the Fab Four,
which justifies why most of the songs here are the well-known ones.
As it happened with every movie Richard Curtis has written, there is
a romance here, but it is well developed, possessing a good
background in order to influence the viewer to root for them to be
together. Remember when I said that the screenwriter for this film is
known for using clichés and giving them a little twist? Right, there
are two moments here which I wasn't expecting, one of them was a nice
surprise, and I almost cried in the other. There's a recurring joke
involving Google that doesn't run out of steam, it's actually quite
fun, and the movie has a feel-good tone during all of its running
time, making the viewer smile all the way through the very end.)
Além de ter um roteiro
divertido, o elenco também é muito divertido de se ver. Sendo o
primeiro filme do Himesh Patel, que até esse filme chegar, era
conhecido por novelas britânicas, ele faz um bom trabalho aqui. Ele
atua muito bem, canta muito bem, e conquista o espectador com seu
charme e senso de humor. Algo que complementa a atuação de Patel é
a sua química com a personagem da Lily James, conhecida pelo remake
live-action de “Cinderela” ou por ser a jovem Donna de “Mamma
Mia: Lá Vamos Nós de Novo”. Ela tem carisma de sobra, nunca vi
uma personagem ou atuação ruim dessa atriz, e a história de fundo
que os dois compartilham é bem cativante. Fora dos dois
protagonistas, temos a hilária Kate McKinnon, conhecida pelo
programa de esquetes Saturday Night Live, que aqui, tem um senso de
humor bem mais sarcástico como a agente de Jack. Ela chega até a
ser bem psicopata mesmo, só pelo olhar dela, mas mesmo assim, ela
não perde o senso de humor característico estabelecido no SNL, e
Joel Fry como um alívio cômico bem descontraído, e bem mais
genérico do que a Kate McKinnon. E temos também a participação do
Ed Sheeran. Não chega a ser infame como a participação do cantor
em Game of Thrones, ele é engraçado, uma das piadas que fez o filme
ser famoso veio do personagem dele, que é uma versão ficcional, e
até um pouco convencida, dele mesmo. E ele é um ótimo cantor e
compositor, emprestando algumas de suas músicas, e compondo músicas
originais para o filme.
(Besides having a fun
script, the cast is also really fun to watch. As the first film that
Himesh Patel was in (he was known for British soap operas until this
movie came into the picture), he does a pretty good job here. He's a
good actor, a good singer, and he conquers the viewer's heart with
his charm and sense of humor. One thing that complements Patel's
performance is his chemistry with Lily James, known for the
live-action remake of “Cinderella” and for portraying young Donna
in “Mamma Mia: Here We Go Again”. She has charisma to spare, I
have never seen a bad character or a bad performance by this actress,
and the backstory the two protagonists share is really captivating.
Outside the main two, we have the hilarious Kate McKinnon, who is
known for the sketch program Saturday Night Live. She has a really
sarcastic sense of humor here, as Jack's agent, to the point where
she begins to look like a psychopath, just because of her stare, but
still, she doesn't lose her characteristic sense of humor established
on SNL. We also have Joel Fry, as a more buffoon type of comic
relief, and way more generic than Kate McKinnon. And now, we go to Ed
Sheeran's participation in “Yesterday”. It's not infamous, like
his cameo on Game of Thrones, he's funny, one of the jokes that made
the movie famous came from his character, who is a fictional, and a
bit arrogant, version of himself. And he's a great singer and
songwriter, lending some of his songs, and composing original songs
for the film.)
E por último, mas não
menos importante, temos os aspectos técnicos. Sob a direção de
Danny Boyle, conhecido por filmes como “Trainspotting” e
“Extermínio”, “Yesterday” é um filme bem energético. Há
algumas versões das músicas dos Beatles que são mais barulhentas,
mas não são ruins, pelo contrário, elas encaixam perfeitamente no
estilo de instrumental que permeia a música atualmente. A fotografia
é muito boa, a edição é bem eficiente. Os lugares que o Jack
visita para buscar inspiração, e para lembrar das músicas dos
Beatles são repletos de referências ao trabalho da banda. As cenas
musicais são feitas para o público cantar junto, sendo uma das
melhores coisas sobre o filme. E em uma cena em particular, há um
trabalho primoroso de maquiagem, que merece ser reconhecido. Mas sem
spoilers aqui. Como um filme musical, graças aos aspectos técnicos,
“Yesterday” tem energia e charme de sobra para fazer o público
levantar da cadeira, gritar e cantar junto.
(And at last, but not
least, we have the technical aspects. Being directed by Danny Boyle,
who is known for movies like “Trainspotting” and “28 Days
Later”, “Yesterday” is a really energetic film. There are some
versions of Beatles songs here which are a bit louder, but they
aren't bad, on the contrary, they fit perfectly on the style of
instrumentals that goes through music today. The cinematography is
really good, the editing is very efficient. The places that Jack
visits in order to search for inspiration and to remember the songs
by the Beatles are filled with references to the band's work. The
musical scenes are made for the audience to sing along, being one of
the best things about the film. And in one particular scene, there's
a wonderful use of make-up, which deserves to be recognized. But no
spoilers here. As a musical film, thanks to the technical aspects,
“Yesterday” has energy and charm to spare to make the audience
get up from their seats, scream and sing along.)
Resumindo, “Yesterday”
é uma simples, mas singela homenagem à melhor banda de todos os
tempos. Com o auxílio de um roteiro divertido, um elenco talentoso,
e uma baita trilha sonora, é um filme feito para agradar os fãs de
longa data, mas também para apresentar uma nova geração de
Beatlemaníacos ao trabalho desse Quarteto Fabuloso.
Nota: 8,5 de 10!
É isso, pessoal!
Espero que tenham gostado! Até a próxima,
João Pedro
(In a nutshell,
“Yesterday” is a simple, yet sincere homage to the greatest band
of all time. With the help of a fun script, a talented cast, and one
hell of a soundtrack, it's a movie made to please the long-term fans,
but also to introduce a new generation of Beatlemaniacs to the Fab
Four's work.
I give it a 8,5 out of
10!
That's it, guys! I hope
you liked it! See you next time,
E aí, galerinha de
cinéfilos! Depois daquele mega-ranking de todos os filmes de Quentin
Tarantino, vim aqui trazer para vocês a resenha de seu novo filme.
Contando com um tremendo elenco, uma icônica ambientação e um dos
crimes mais violentos cometidos pelo homem como pano de fundo, é uma
verdadeira carta de amor do diretor a essa conhecida época de
Hollywood. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Era uma
Vez em Hollywood”. Vamos lá!
(What's up, film buffs!
After that massive ranking of all the movies directed by Quentin
Tarantino, I come here to bring the review of his latest film. With a
tremendous cast, an iconic setting and one of the most violent crimes
committed by man as background, it is a true love letter from the
director to this very well known era of Hollywood. So, without
further ado, let's talk about “Once Upon a Time in Hollywood”.
Let's go!)
Los Angeles, 1969. Rick
Dalton (Leonardo DiCaprio) é um ator de televisão decadente que
tenta se adaptar às mudanças que Hollywood está sofrendo, por meio
de audições para papéis em filmes. Enquanto isso, Cliff Booth
(Brad Pitt), dublê de Rick, tenta acompanhar Dalton em sua jornada,
e ao mesmo tempo, se vê envolvido com a Família Manson, responsável
por assassinar a atriz Sharon Tate (Margot Robbie).
(Los Angeles, 1969.
Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) is a decadent television actor who
tries to adapt himself into a Hollywood filled with changes, through
film auditions. Meanwhile, Cliff Booth (Brad Pitt), Rick's stunt
double, tries to follow Dalton in his journey, and at the same time,
sees himself involved with the Manson Family, a group of people
responsible for murdering the actress Sharon Tate (Margot Robbie).)
Quem realmente conhece
o trabalho anterior do diretor sabe que ele nem sempre faz de seus
filmes um verdadeiro banho de sangue. Claro, Tarantino tem filmes que
recorrem frequentemente à violência para funcionarem, como “Kill
Bill” e “À Prova de Morte”, mas ele também foca bastante em
seus personagens e nos diálogos entre eles, como em “Cães de
Aluguel”, “Pulp Fiction” e “Os Oito Odiados”. E, se for
para encaixar esse filme em uma dessas duas alternativas, com certeza
seria a segunda. “Era uma Vez em Hollywood” é um filme
diferente, para aqueles acostumados à violência desenfreada de
alguns dos filmes anteriores do diretor. É um filme que se movimenta
graças ao desenvolvimento de seus personagens. Assim como “Jackie
Brown”, “À Prova de Morte” e “Kill Bill”, “Era uma Vez
em Hollywood” também é uma homenagem, dessa vez, ao final da era
de Ouro de Hollywood, com a ascensão de diretores como Sergio Leone
e Jacques Demy, e a popularização de personagens icônicos, como
James Bond. E, para fazer essa homenagem, o diretor faz uso de
figuras da vida real para contar uma história fictícia, algo muito
parecido com o que Tarantino fez em “Bastardos Inglórios”, onde
Hitler e Goebbels são usados para contar a história dos Bastardos e
de Shosanna Dreyfus. Da mesma maneira, aqui, figuras como Sharon
Tate, Roman Polanski, Charles Manson, George Spahn, Bruce Lee, James
Stacy, Wayne Maunder e Steve McQueen são usadas para, ao mesmo
tempo, movimentar a trama e ajudar a contar a história dos dois
protagonistas fictícios, Rick e Cliff. O roteiro de Tarantino é
muito bom, é bem original, bem diferente de quase tudo que ele já
fez. É algo bem metalinguístico, pois é um filme sobre fazer
cinema, e pra mim, todo bom diretor precisa fazer um filme sobre
cinema em algum ponto de suas carreiras. E aqui, Quentin Tarantino
acerta em cheio em principalmente quatro coisas: na homenagem, na
originalidade da história, nos diálogos e no desenvolvimento de
seus personagens. O filme é repleto de referências, tanto à década
de 1960 quanto aos próprios filmes do diretor, então é bom ficar
de olhos e ouvidos atentos para que elas não passem batido. É um
dos filmes mais longos do diretor, mas a atmosfera do filme é tão
serena, e os personagens são tão divertidos de se ver, que a gente
nem percebe o tempo passar. Tem momentos engraçados na medida certa,
com aquele senso de humor ácido característico dos trabalhos
anteriores de Tarantino, e um dos finais mais absurdos e desenfreados
que ele já fez, e eu digo isso como um elogio.
(The people who really
know the director's previous work know that he doesn't always make a
bloodbath out of his films. Sure, Tarantino has films that make
frequent use of violence in order to work, like “Kill Bill” and
“Death Proof”, but he also focuses a lot on his characters and on
the dialogue between them, as it happens in “Reservoir Dogs”,
“Pulp Fiction” and “The Hateful Eight”. And, if I have to fit
this movie into one of these two categories, it would absolutely fit
in the second one. “Once Upon a Time in Hollywood” is a very
different movie, to those who are used to the unrestrained violence
in some of the director's previous work. It's a movie that paces
itself through the development of its characters. Just like “Jackie
Brown”, “Death Proof” and “Kill Bill”, “Once Upon a Time
in Hollywood” is also a homage, this time, to the final moments of
the Hollywood Golden Age, with the rising of directors like Sergio
Leone and Jacques Demy, and the popularization of iconic characters,
such as James Bond. And, in order to make that homage, the director
uses real life figures to tell a fictional story, something really
similar to what happened in “Inglourious Basterds”, where Hitler
and Goebbels are used to tell the story of the Basterds and Shosanna
Dreyfus. In the same way, here, Tarantino uses figures like Sharon
Tate, Roman Polanski, Charles Manson, George Spahn, Bruce Lee, James
Stacy, Wayne Maunder and Steve McQueen to, at the same time, move the
plot forward and help tell the story of the two fictional
protagonists, Rick and Cliff. Tarantino's script is really good, it's
really original, very different from everything he has done so far.
It's really meta, as it is a film about making films, and in my
opinion, every good director needs to make a movie about cinema in
any point in their careers. And, here, Quentin Tarantino nails it in
mainly 4 aspects: in the homage, in the originality of the story, in
the dialogues and in the character development. It is filled with
references, both to the 1960s and Tarantino's own films, so keep your
eyes and ears alert so that you can catch them. It's one of the
director's longest movies, but its atmosphere is so serene, and its
characters are so fun to watch, we end up not realizing the film was
that long. It has funny moments, containing that characteristic acid
sense of humor of Tarantino's previous work, and one of the most
absurd, unrestrained endings he has ever done, and I mean that as a
compliment.)
Além de um roteiro
criativo e original, temos aqui um elenco que esbanja talento. O
Leonardo DiCaprio nunca fez uma performance ruim, e felizmente, aqui
não é uma exceção. Ele está hilário e até um pouco comovente
como um ator de televisão decadente que tenta se inserir no cinema.
A química dele com o personagem do Brad Pitt é perfeita em todos os
sentidos, nós realmente sentimos a amizade entre os dois através de
suas atuações. Falando em Brad Pitt, por duas cenas em particular,
ele merece, ao menos, ser indicado ao Oscar de Melhor Ator
Coadjuvante em 2020. O personagem dele é durão, não leva desaforo
pra casa, e é violento quando necessário. A relação que ele tem
com o cachorro dele é muito cativante. A Sharon Tate, através da
atuação da Margot Robbie, é tratada mais como um símbolo do que
como uma personagem ativa. Ela é bem unidimensional, para falar a
verdade, mas no bom sentido, sendo retratada como uma pessoa otimista
e muito simpática; gostei bastante da atuação dela. Agora, sobre a
situação do Bruce Lee, que vem causando muita polêmica desde o
lançamento do filme: “Era uma Vez em Hollywood” é promovido
como um “conto de fadas moderno ambientado na Hollywood dos anos
60” (é só olhar pro título do filme), o que significa que tudo o
que aconteceu na tela não é verdade, ou seja, a atuação do Mike
Moh é uma versão fictícia do Bruce Lee, e ele está hilário, mas
queria ter visto mais dele. Temos participações memoráveis,
algumas mais prolongadas do que outras, de atores como Kurt Russell,
Timothy Olyphant, Al Pacino, Dakota Fanning, Luke Perry, Damian
Lewis, Margaret Qualley, Austin Butler, Maya Hawke e Bruce Dern, e
todos eles trabalham muito bem, mesmo com alguns tendo mais tempo de
tela e, como consequência, de desenvolvimento do que outros.
(Besides having a
really creative and original script, the film also makes use of an
extremely talented cast. Leonardo DiCaprio has never done a bad
performance, and fortunately, he does not make an exception here. He
is hilarious, and even moving, sometimes, as a decadent TV actor who
tries to enter the film business. His chemistry with Brad Pitt's
character is perfect in every way, we really feel the friendship
between these two characters through their performances. Speaking of
Brad Pitt, because of two particular scenes, he deserves to be at
least nominated for Best Supporting Actor in the Oscars next year.
His character is tough, he doesn't take shit from anybody, and he's
violent when necessary. The relationship he has with his dog is
really captivating. Sharon Tate, through Margot Robbie's performance,
is treated more like a symbol than as an active character in the
story. She's actually pretty one-dimensional, but in a good way,
being represented as an optimistic, really nice person; I really
liked her performance. Now, about the Bruce Lee situation, which has
been collecting a lot of controversy since the release of the film:
“Once Upon a Time in Hollywood” is promoted as “a modern fairy
tale set in 1960s Hollywood” (just look at the title of the film),
which means that everything that happened on-screen didn't actually
happen, meaning that Mike Moh's performance is a fictional version of
Bruce Lee, and he is hilarious here, but I wish I could've seen more
of him. We have memorable performances, some longer than others, from
actors like Kurt Russell, Timothy Olyphant, Al Pacino, Dakota
Fanning, Luke Perry, Damian Lewis, Margaret Qualley, Austin Butler,
Maya Hawke and Bruce Dern, and they all do a pretty great job, even
with some of them having longer screen time, and, consequently,
longer development time than others.)
E por último, mas não
menos importante, temos os aspectos técnicos. Como um filme feito
para recriar uma época bem específica, a equipe de “Era uma Vez
em Hollywood” fez um trabalho sensacional aqui. O diretor de
fotografia Robert Richardson, que fez um trabalho primoroso em “Os
Oito Odiados”, faz um excelente trabalho aqui, guiando a câmera
com uma certa fluidez quase imperceptível. A equipe de direção de
arte faz um trabalho fabuloso nos cenários e nos figurinos
característicos da década de 1960, em especial na caracterização
da Sharon Tate, que possui figurinos idênticos aos da vida real. Há
um trabalho bem eficiente de edição aqui, em especial em uma cena
onde o personagem do Leonardo DiCaprio é inserido em uma cena do
filme “Fugindo do Inferno”, de 1963, que é muito bem feita. E,
assim como todo filme do Tarantino, de “Cães de Aluguel” à “Os
Oito Odiados”, “Era uma Vez em Hollywood” tem uma trilha sonora
sensacional, recheada de clássicos da época. P.S.: Não saiam da
sala no início dos créditos, porque há uma cena no meio dos
créditos, que é bem engraçada.
(And at last, but not
least, we have the technical aspects. As a movie made to recreate a
very specific point in time, the crew of “Once Upon a Time in
Hollywood” did a wonderful job here. Director of photography Robert
Richardson, who did a marvelous job in “The Hateful Eight”,
repeats the same dosage here, guiding the camera with an almost
imperceptible fluidity. The art direction team does a fabulous job in
recreating sets and costumes from the 1960, especially in the
characterization of Sharon Tate, who has costumes really similar to
what she actually wore. There's a pretty efficient editing job here,
especially in a scene where Leonardo DiCaprio's character is inserted
in a scene from “The Great Escape”, a film released in 1963,
which is really well done. And, just like every Tarantino film, from
“Reservoir Dogs” to “The Hateful Eight”, “Once Upon a Time
in Hollywood” has a sensational soundtrack, filled with classics
from the 1960s. P.S.: Do not leave the room when the credits start
rolling, because there's a really funny scene in the middle of the
credits.)
Resumindo, “Era uma
Vez em Hollywood” é uma verdadeira carta de amor de Quentin
Tarantino à uma conhecida época de Hollywood. É original,
engraçado, bem dirigido, bem atuado, e muito bem feito. Esperem
grandes coisas desse filme no Oscar 2020.
Nota: 9,0 de 10!
É isso, pessoal!
Espero que vocês tenham gostado! Até a próxima,
João Pedro
(In a nutshell, “Once
Upon a Time in Hollywood” is a true love letter from Quentin
Tarantino to a very well known time in Hollywood. It's original,
funny, well directed, well acted, and really well done. Expect great
things about this film next year at the Oscars.
I give it a 9,0 out of
10!
That's it, guys! I hope
you liked it! See you next time,
E aí, galerinha de
cinéfilos! Estou de volta, mais cedo do que o esperado, para falar
da filmografia de um dos diretores mais conhecidos da atualidade,
cujo novo filme, “Era uma Vez em Hollywood”, estará estreando em
breve nos cinemas brasileiros. Sim, estou falando do inigualável
Quentin Tarantino. Um dos exemplos mais proeminentes do cinema
moderno, Tarantino realmente revolucionou o cinema como nós
conhecemos, dando origem à obras que conseguem equilibrar
perfeitamente os aspectos de arte e entretenimento. Então, sem mais
delongas, vamos falar da filmografia desse diretor único. Vamos lá!
(What's up, film buffs!
I'm back, sooner than expected, to talk about the filmography of one
of the most known directors in recent times, whose new film, “Once
Upon A Time in Hollywood”, will be coming soon to Brazilian
theaters. Yes, I'm talking about the one and only Quentin Tarantino.
One of the most relevant examples of modern cinema, Tarantino
revolutioned movies as we know them, giving birth to films that
perfectly balance art and entertainment values. So, without further
ado, let's talk about the movies by this one-of-a-kind director.
Let's go!)
A primeira coisa que
vem à cabeça das pessoas quando se pensa nos filmes de Tarantino
provavelmente é o nível de violência que ele aplica em suas cenas
de ação, que possuem muito, muito sangue, e isso é verdade, o
Tarantino é mais conhecido pela grande maioria por conta da
violência explícita. Mas os filmes desse diretor vão muito além
da violência. Eles subvertem modelos tradicionais de roteiro,
criando tramas não-lineares; possuem diálogos muito inteligentes, e
discussões sobre coisas realmente banais; tem o apoio de elencos
maravilhosos, que ficam cada vez mais ambiciosos a cada filme que
Quentin faz; e são filmes com excepcionais aspectos técnicos, em
especial fotografia, edição e trilha sonora.
Irei, nessa postagem,
fazer um ranking dos filmes que o Tarantino dirigiu e escreveu
(excluindo os filmes em que ele é apenas roteirista, como “Amor à
Queima Roupa”, “Um Drink no Inferno” e “Assassinos por
Natureza”), dando a MINHA OPINIÃO sobre eles, o que, certamente,
pode discordar da sua opinião, caro leitor. Então, vamos começar!
(The first thing that
comes to people's minds when thinking about Tarantino's films is
probably the level of violence that he puts in his action scenes,
which have massive quantities of blood, and that's true, Tarantino is
generally known because of the explicit violence. But his movies go
way beyond violence. They subvert traditional ways to write a script,
creating non-linear plots; they have really clever dialogues, and
discussions on really meaningless things; they have the support of
wonderful casts, which get more and more ambitious at each film he
makes; and they are technically exceptional, especially when it comes
to cinematography, editing and soundtrack.
I will, in this post,
make a ranking of the movies Tarantino directed and wrote (excluding
the movies that he just wrote, like “True Romance”, “From Dusk
till Dawn” and “Natural Born Killers”), giving MY OWN OPINION
about them, which, certainly, might disagree from your opinion, dear
reader. So, let's begin!)
9 – À PROVA DE
MORTE (2007) (DEATH PROOF (2007))
Ok,
para falar desse filme, é melhor pegarmos um contexto histórico
primeiro. “À Prova de Morte” é uma metade de uma sessão dupla
chamada “Grindhouse”, onde Tarantino e Robert Rodriguez (que, por
sua vez, dirigiu “Planeta Terror”) criaram filmes para homenagear
os “filmes B”, que partem do termo exploitation,
que é tipo um cinema “apelativo”, que se recorre aos exageros
para entreter seu público, sendo alguns desses exageros violência,
sexo e profanidades. E é exatamente isso que Tarantino faz nesse
filme. Ele recorre à violência extrema e diálogos excessivamente
prolongados para entreter seu público. Pode-se até dizer que o
Tarantino fez esse filme dessa maneira propositalmente, para
justamente encaixar no gênero exploitation.
Com esse contexto dado, vamos ao filme. Ele é bem desequilibrado, em
termos de roteiro: a primeira metade é muita conversa e pouca
porradaria, e a segunda metade é pouca conversa e muita porradaria;
um equilíbrio entre esses dois extremos nunca é alcançado. O filme
tem um bom elenco, com Kurt Russell no papel principal, como o dono
do carro “à prova de morte”, e Rosario Dawson, Mary Elizabeth
Winstead, Zoë Bell, Rose McGowan e muitas outras atrizes como as
“vítimas” do protagonista. O filme tem cenas de ação
sensacionais e exageradas, com uma delas sendo uma das sequências
mais violentas que o diretor já criou, mas mesmo com o exagero, elas
nos divertem e nos mantém na beira do assento. Contando que “À
Prova de Morte” é um filme feito pra ser tosco, até que ele não
é ruim, mas ainda assim, é o filme mais fraquinho de Quentin
Tarantino.
(Ok,
in order to talk about this film, it's better if we get some context
first. “Death Proof” is one half of a double feature called
“Grindhouse”, where Tarantino and Robert Rodriguez (who directed
“Planet Terror” for this project) created films as a homage to “B
movies”, which come from the term exploitation,
which is a type of cinema that uses over-the-top resources, like
violence, sex and profanity, in order to entertain the audience. And
that's exactly what Tarantino does in this film. He makes use of
extreme violence and excessively long dialogues for him to entertain
his audience. One can even say that Tarantino made this film in this
way on purpose, so that it can fit in the exploitation
genre. With that context given, let's talk about the film itself. It
is pretty unbalanced, in terms of screenplay: the first half has a
lot of talking and less violence, and the second half has less
talking and a lot of violence; the film never achieves a balance
between these two extremes. It has a fine cast, with Kurt Russell in
the main role, as the owner of the “death proof” car, and Rosario
Dawson, Mary Elizabeth Winstead, Zoë Bell, Rose McGowan and many
other actresses as the main character's “victims”. It has
amazing, over-the-top action scenes, with one of them standing out as
one of the most violent sequences Tarantino ever created, but even
with the exaggerations, they entertain us and keep us on the edge of
our seats. With the fact that “Death Proof” is a movie made to be
cheesy in mind, it's not that bad after all, but still, it's the
weakest movie by Quentin Tarantino.)
8 – JACKIE BROWN (1997)
Antes
de “À Prova de Morte” ser lançado, esse era considerado o filme
mais fraco de Tarantino. Eu até entendo o porquê: o diretor já
tinha lançado “Cães de Aluguel” e “Pulp Fiction”, que foram
extremamente bem recebidos pela crítica, arrancando elogios e vários
prêmios. Esse é o único filme do Tarantino que não é original,
sendo baseado no romance “Rum Punch”, de Elmore Leonard. E assim
como “À Prova de Morte”, “Jackie Brown” também é uma
homenagem, dessa vez ao gênero blaxploitation,
que se popularizou nos anos 1970, que ganhou fama por apresentar
pessoas negras como os heróis dos filmes, em uma época que, nos
EUA, era bastante preconceituosa. A escalação de Pam Grier (símbolo
feminino do blaxploitation
nos EUA) foi uma jogada de mestre, pois além de ter uma atriz que já
trabalhou no gênero anteriormente, seu papel no filme também
revitalizou sua carreira, e ela é sensacional no papel principal. O
roteiro é bem escrito, a fotografia é muito bem feita, a edição é
muito boa, a trilha sonora é cheia de clássicos dos anos 1970, e o
elenco é um dos mais talentosos que Tarantino já reuniu: além de
Grier, temos Robert Forster, Samuel L. Jackson, Michael Keaton,
Robert De Niro e Bridget Fonda. O único problema, na minha opinião,
é o passo do filme: com quase 2 horas e 40 minutos de duração, ele
demora um pouco para engatar, mas graças às atuações do elenco e
a engenhosidade do roteiro, “Jackie Brown” consegue ser um dos
filmes mais diferentes de Quentin Tarantino, e eu falo isso como um
elogio.
(Before
“Death Proof” was released, this was considered Tarantino's
weakest film. I can understand why: Quentin had already released
“Reservoir Dogs” and “Pulp Fiction” and both were critically
acclaimed, winning good reviews and several awards. And this is the
only Tarantino film which isn't an original one, being based off
Elmore Leonard's novel “Rum Punch”. Just like “Death Proof”,
“Jackie Brown” is also an homage, inspiring itself from the
blaxploitation genre,
which was pretty famous in the 1970s, for introducing black people as
the heroes of the story, at a time that was filled with prejudice in
the US. The casting of Pam Grier (the female symbol of
blaxploitation) was a
masterful move, because besides the fact that she already worked in
the genre before, her role in this film revitalized her career, and
she is amazing in the main role. The script is well-written, the
cinematography is really good, the editing is great, the soundtrack
is filled with classics from the 1970s, and the cast is one of the
most talented ones Tarantino ever assembled: besides Grier, we have
Robert Forster, Samuel L. Jackson, Michael Keaton, Robert De Niro and
Bridget Fonda. The only problem here, in my opinion, is the pacing:
with almost 2 hours and 40 minutes of running time, it takes a while
to finally blast off, but thanks to the performances from the cast
and the ingenuity of the script, “Jackie Brown” manages to be one
of Tarantino's most different films, and I mean that as a
compliment.)
7 – KILL BILL (2003 e 2004)
Ok,
vamos à primeira polêmica da postagem. Não, “Kill Bill” não é
um filme ruim, de maneira alguma. É um dos filmes mais tecnicamente
perfeitos do diretor, com cenas de ação extraordinárias, um
roteiro bem amarradinho e uma protagonista pra lá de icônica. Se
brincar, Beatrix Kiddo é a protagonista mais icônica que Tarantino
criou. Ele só não é melhor do que o top 6 desse post, na minha
opinião. Desde seu primeiro roteiro, “Amor à Queima-Roupa”,
sabemos que Tarantino é louco por filmes de samurai e artes
marciais, e em um ponto de vista ocidental, ele dá um verdadeiro
show aqui. É um dos filmes com mais ação e menos diálogos da
carreira do diretor, mas só porque tem menos diálogos, não
significa que não seja um filme do Tarantino. É bem violento,
diga-se de passagem. Tudo que pode se imaginar de violência acontece
aqui, de decapitação à picadas de cobra e extração de olhos com
as próprias mãos. E por incrível que pareça, não é chocante, é
muito, MUITO divertido. O elenco se entrega totalmente à premissa,
com Uma Thurman arrasando no papel principal, e nomes como Lucy Liu,
Daryl Hannah, Michael Madsen, Vivica A. Fox e David Carradine como
ótimos vilões. “Kill Bill” pode ser considerado um dos filmes
mais versáteis do diretor até agora: ele possui cenas em preto e
branco, uma sequência em anime, e tramas não-lineares, subvertendo
as tradições, como Tarantino fez em seus dois primeiros filmes.
Sendo um dos filmes mais violentos, e por consequência, mais
divertidos, de Quentin Tarantino, “Kill Bill” é um bom ponto de
partida para quem quer se adentrar pela mente genial desse diretor. É
bem feito, bem escrito, bem atuado, bem dirigido, e a primeira parte
tem um dos melhores cliffhangers (suspense para o que vem a seguir)
do cinema moderno.
(Ok,
let's talk about the first controversial spot in this post. No, “Kill
Bill” is not a bad movie, in any way. It's one of his most
technically perfect movies, with extraordinary action scenes, a
script that tightens up its plot and a hell of an iconic main
character. I honestly think that Beatrix Kiddo is the most iconic
protagonist Tarantino ever created. It is just not better than this
post's top 6, in my opinion. Since his first script, “True
Romance”, we know that Tarantino is a huge fan of samurai and
martial arts movies, and in a Western point of view, he freaking
rocks here. It's one of his movies with the highest amount of action
and a lesser amount of dialogue, but just because it doesn't have
that much dialogue, it doesn't make it less of a Tarantino film. It's
pretty violent, by the way. Everything violent you can possibly
imagine happens here, from decapitation to snake bites and extraction
of eyes with bare hands. And, amazingly so, it's not shocking, it's
really, REALLY fun to watch. The cast gives all of themselves to the
plot, with Uma Thurman being the absolute BOSS in the main role, and
names like Lucy Liu, Daryl Hannah, Michael Madsen, Vivica A. Fox and
David Carradine as great villains. “Kill Bill” may be considered
one of the most versatile movies Tarantino has made so far: it has
black-and-white scenes, an anime sequence, and non-linear plots,
subverting traditionality, as the director did in his first two
films. As one of the most violent, and consequently, most fun movies
by Tarantino, “Kill Bill” is a great starting point for those who
wish to know more about this director's genius mind. It's well
filmed, well written, well acted, well directed, and the first part
has one of the absolute best cliffhangers in modern cinema.)
6 – DJANGO LIVRE (2012) (DJANGO UNCHAINED (2012))
“Django”
foi o primeiro filme do Tarantino que vi, então já podem imaginar o
impacto que ele causou em mim, que, na época, não era acostumado a
esse tipo de filme. Mas eu lembro de ficar fascinado com a história,
com os personagens e com a forma que o diretor escolheu para contar
essa história. Se brincar, Django também foi um dos primeiros
faroestes que eu vi. Agora, vocês me perguntam: por quê você
coloca Django acima de “Kill Bill”? Bom, primeiramente, eu gosto
mais de faroestes do que de filmes de artes marciais. Em segundo
lugar, “Django Livre” é, indiscutivelmente, um trabalho bem mais
sofisticado, em todos os sentidos. A fotografia e a direção de arte
revitalizam o gênero de faroeste spaghetti, dando origem a um filme
surpreendentemente revisionista. O roteiro é muito bem escrito,
rendendo o segundo Oscar de Melhor Roteiro Original pro Tarantino com
justiça (embora eu ainda preferiria se “Moonrise Kingdom”
tivesse ganho). É uma história tão bem contada, que a gente nem
percebe a duração extraordinariamente longa de 2 horas e 45
minutos, um dos filmes mais longos do diretor. E o que falar desse
elenco maravilhoso? Django é, certamente, um dos melhores papéis da
carreira do Jamie Foxx; o estupendo Christoph Waltz, depois de ter
roubado a cena como o Coronel Hans Landa, em “Bastardos Inglórios”,
faz o mesmo aqui como o Dr. King Schultz, ganhando seu segundo Oscar
de Melhor Ator Coadjuvante merecidamente; o Samuel L. Jackson faz um
dos seus melhores personagens aqui, tanto no geral, quanto no
universo de Tarantino; e nem preciso falar da cena COMPLETAMENTE
IMPROVISADA envolvendo o personagem do Leonardo DiCaprio, né? O
filme tem um senso de humor bem sarcástico, bem ácido mesmo, e
cenas de ação e bangue-bangue que deixariam Sergio Leone orgulhoso.
Um dos meus filmes (e faroestes) prediletos, e outro ótimo ponto de
partida para aqueles que querem saber mais do diretor.
(“Django”
was the first Tarantino movie I ever saw, so you guys can imagine the
impact it caused in me, who, at the time, wasn't used to this type of
film. But I remember being fascinated with the story, with the
characters, and with the way that the director chose to tell that
story. I honestly think that Django was also one of the first Western
movies I've ever seen. Now, you ask me: why do you put Django over
“Kill Bill”? Well, first, I like Westerns more than I like
martial arts movies. And second, “Django Unchained” is,
undoubtedly, a way more sophisticated work, in every single way. The
cinematography and art direction revitalize the spaghetti western
genre, resulting in a surprisingly revisionist film. The script is
really well written, earning Tarantino his second Best Original
Screenplay Oscar with justice (although I would still have preferred
if “Moonrise Kingdom” had taken it). It's a story that is so well
told, we can't even realize the extraordinarily long running time of
2 hours and 45 minutes, one of the director's longest films. And
what's to say of the marvelous cast? Django is, certainly, one of the
best roles in Jamie Foxx's career; the stupendous Christoph Waltz,
after stealing the scene as Colonel Hans Landa in “Inglourious
Basterds”, does the absolute same here as Dr. King Schultz, winning
his second Best Supporting Actor Oscar deservedly; Samuel L. Jackson
plays one of his finest characters here, generally, and inside
Tarantino's universe; and I don't even have to say anything about the
FULLY IMPROVISED scene involving Leonardo DiCaprio's character,
right? The film has a sarcastic, acid sense of humor, and action
scenes that would make Sergio Leone proud. One of my favorite movies
(and Westerns), and another great starting point for those who wish
to know a bit more about this director.)
5 – CÃES DE ALUGUEL (1992) (RESERVOIR DOGS (1992))
Antes
de “Cães de Aluguel” ter sido lançado, Quentin Tarantino apenas
tinha escrito alguns roteiros, embora nenhum deles tinha sido
filmado ainda. Como era o seu primeiro filme, Tarantino começou
pequeno, com um orçamento de apenas 1,5 milhão de dólares, o que é
bem pouco comparado aos 90 milhões de seu filme mais recente, “Era
uma Vez em Hollywood”. Com “Cães de Aluguel”, Tarantino
começou parcerias que iriam durar por quase toda a sua carreira,
incluindo Lawrence Bender como produtor, Sally Menke como editora, e
vários atores que participaram de projetos futuros, como Michael
Madsen, Harvey Keitel e Tim Roth. E é um filme que impressiona pela
sua simplicidade. Sendo o filme mais curto do diretor até agora,
beirando 1 hora e 40 minutos, o filme se passa quase que inteiramente
em um depósito, com o auxílio de flashbacks para nos ajudar a saber
mais sobre os protagonistas. A cena inicial, onde os protagonistas
discutem o significado de “Like a Virgin”, da Madonna, é
antológica e hilária. Os personagens são muito bem desenvolvidos,
e todos os atores atuam muito bem, em especial Tim Roth, Harvey
Keitel, Steve Buscemi e Michael Madsen. A trama se desenvolve de
maneira orgânica, aproveitando cada segundo de seu tempo de duração,
para resultar em uma série de reviravoltas em seus momentos finais.
Um
dos melhores filmes dos anos 1990, um dos melhores filmes
independentes do cinema moderno, e um baita começo para a carreira
de Quentin Tarantino, cuja fama só iria aumentar 2 anos depois, com
“Pulp Fiction”.
(Before
“Reservoir Dogs” was released, Quentin Tarantino had only written
a few scripts, although none of them was filmed yet. As this was his
first film, Tarantino started on a small scale, with a budget of
US$1,5 million, which is very little compared to the US$90 million
from his most recent film, “Once Upon a Time in Hollywood”. With
“Reservoir Dogs”, Tarantino started partnerships that would last
throughout most of his career, including Lawrence Bender as producer,
Sally Menke as editor, and several actors who would work in his
future projects, like Michael Madsen, Harvey Keitel and Tim Roth. And
this is a movie that astounds because of its simplicity. As the
shortest Tarantino movie so far, barely 100 minutes long, it is set
almost entirely in a warehouse, with the help of flashbacks to aid us
in knowing more about the characters. The initial sequence, where the
protagonists discuss the meaning of Madonna's “Like a Virgin”, is
iconic and hilarious. The characters are really well-developed, and
all the actors do a great job, especially Tim Roth, Harvey Keitel,
Steve Buscemi and Michael Madsen. The plot is paced in an organic
way, making every second of its running time count, resulting in a
series of plot twists in its final moments.
One
of the best movies of the 1990s, one of the best independent movies
in modern cinema, and one hell of a start for Quentin Tarantino's
career, whose fame would only get higher 2 years later, with “Pulp
Fiction”.)
3
– PULP FICTION: TEMPO DE VIOLÊNCIA (1994) (PULP FICTION (1994))
Chegando
perto do final, temos o filme que lançou o Tarantino no ouvido do
público geral. Com “Cães de Aluguel” sendo estreado no Festival
de Sundance, perfeito para diretores iniciantes, o diretor apostou
alto em “Pulp Fiction”, estreando o filme no prestigiado Festival
de Cannes, e surpreendendo ninguém, ganhando a Palma de Ouro, prêmio
principal do Festival, no processo. Acho que é adequado dizer que
“Pulp Fiction” é um filme revolucionário: ele possui uma
estrutura não-convencional de contar histórias, ou seja, a história
acontece em uma ordem não-cronológica, e funciona perfeitamente;
possui algumas das cenas mais icônicas no cinema moderno; e serviu
para revitalizar e lançar atores esquecidos, ou até então,
desconhecidos, como John Travolta, Uma Thurman e Samuel L. Jackson. E
realmente, é um tremendo filme. Colocando mais 50 minutos na
duração, se comparado à “Cães de Aluguel”, Tarantino
aproveita cada precioso segundo para fazer de “Pulp Fiction”,
acima de tudo, um filme divertido. E ele acerta em tudo, desde a
engenhosidade das histórias, ao elenco mega-talentoso (John
Travolta, Uma Thurman, Samuel L. Jackson, Ving Rhames, Bruce Willis,
Christopher Walken, Tim Roth, Amanda Plummer, Harvey Keitel, Eric
Stoltz, e até o próprio Tarantino), à maneira que ele usa para
conectar essas histórias.
“Pulp
Fiction” é tão icônico que, quando você pensa no filme, você
instantaneamente visualiza uma dessas 4 cenas na sua cabeça:
O twist no Jack Rabbit Slim's;
Ezequiel 25:17
“Aw, man! I shot Marvin in the
face.”
“They call it a Royale with
Cheese.”
É
simplesmente incrível a capacidade que esse filme tem de ficar
gravado na cabeça dos espectadores. Você, que já viu Pulp Fiction,
tente lembrar do filme, sem pensar em uma das 4 cenas acima. E você,
que ainda não viu Pulp Fiction, por favor, veja. Garanto que você
não irá se arrepender.
(As
we get closer to the end, we arrive at the movie that had everyone
talking about Tarantino. As “Reservoir Dogs” premiered at the
Sundance Film Festival, perfect for first-time directors, Quentin put
a high bet in “Pulp Fiction” and premiered it in the prestigious
Cannes Film Festival, and, surprising no one, winning the Palme d'Or
(the main award in the Festival) in the process. I think it's safe to
say that “Pulp Fiction” is revolutionary: it has an
unconventional structure in storytelling, meaning that the story
doesn't take place in a chronological order, and it works perfectly;
it has some of the most iconic scenes in modern cinema; and it
revitalized and boosted the careers of actors, who, at the time, were
forgotten or unknown, like John Travolta, Uma Thurman and Samuel L.
Jackson. And truly, it's a tremendous film. With an extra 50 minutes
in its running time, if compared to “Reservoir Dogs”, Tarantino
makes every second count in order to make “Pulp Fiction” a fun
film, above everything. And it hits every single target, from the
ingenuity of the stories, to the ultra-talented cast (John Travolta,
Uma Thurman, Samuel L. Jackson, Ving Rhames, Bruce Willis,
Christopher Walken, Tim Roth, Amanda Plummer, Harvey Keitel, Eric
Stoltz, and even Tarantino himself) and the way the director uses to
connect these stories.
“Pulp
Fiction” is so iconic that, when you think about it, you instantly
visualize at least one of these 4 scenes in your head:
The twist at Jack Rabbit Slim's;
Ezekiel 25:17
“Aw, man! I shot Marvin in the
face.”
“They call it a Royale with
Cheese.”
The
capacity this film has of sticking to its viewer's mind is simply
fantastic. You, who has already seen Pulp Fiction, try to remember
the film, without thinking of one of the 4 scenes above. Go ahead, I
dare you. And you, who didn't watch Pulp Fiction yet, please watch
it. You'll not regret it, I promise you.)
2
– OS OITO ODIADOS (2015) (THE HATEFUL EIGHT (2015))
Eu
sei o que vocês estão pensando: O
QUÊ? COMO VOCÊ SE ATREVE A COLOCAR “OS OITO ODIADOS” NA FRENTE
DE PULP FICTION? Calma,
eu posso explicar. Não é que eu ache todo filme do Tarantino que
está atrás deste superestimado, mas é que “Os Oito Odiados” é
bem subestimado, perto desses outros filmes. Claro, é um filme
diferente: lançado depois da obra-prima sanguinolenta que é “Django
Livre”, os espectadores esperando um espetáculo violento com
sangue e tripas voando pra todo lado se decepcionaram (e muito)
quando viram 8 pessoas discutindo em uma cabana nevada por quase 3
horas de duração. Mas confiem em mim: é um filme que melhora a
cada vez que ele é assistido. É o mais próximo que teremos de uma
peça escrita e dirigida por Tarantino. É um roteiro longo, lento,
mas muito tenso e muito inteligente. Se vocês pararem pra pensar,
“Os Oito Odiados” é uma versão de faroeste de “O Enigma de
Outro Mundo”, de John Carpenter, onde várias pessoas são
confinadas em um aposento e não há ninguém em quem eles podem
confiar. Como o roteiro é ambientado, em sua maioria, em um só
lugar, dá bastante espaço para os atores brilharem. Temos aqui um
elenco maravilhoso que trabalha muito bem com o que lhes é dado. Os
personagens de Kurt Russell, Samuel L. Jackson, Jennifer Jason Leigh,
Bruce Dern, Michael Madsen, Tim Roth, Demián Bichir e Walton Goggins
são surpreendentemente bem escritos, com nenhum deles sendo
unidimensional. As cenas de confronto, tanto físico quanto
psicológico, entre os personagens são incrivelmente bem feitas e
bem escritas, em especial uma cena envolvendo o Maj. Warren (Samuel
L. Jackson) e o Gen. Smithers (Bruce Dern), que é tensa ao mesmo
tempo que ela é hilária. A trilha sonora do lendário Ennio
Morricone, responsável pela trilha sonora antológica de “Três
Homens em Conflito”, é hipnotizante, e finalmente rendeu um Oscar
para o compositor.
Um
filme tenso, violento, e muito, muito subestimado, “Os Oito
Odiados” vai ficar grudado na sua cabeça bem depois de você
terminar de assistir ao filme. (Eu mencionei que o Kurt Russell
quebrou um violão autêntico de 1870 em uma cena?)
(I
know what you're thinking: WHAT?
HOW DARE YOU PUT “THE HATEFUL EIGHT” ABOVE “PULP FICTION”?
Calm down, I can explain.
It's not that I think that every other Tarantino movie below this one
is overrated, but it's that “The Hateful Eight” is very
underrated, next to these other films. Sure, it's a different movie:
released after the bloody masterpiece that was “Django Unchained”,
the viewers expecting a bloodbath of a spectacle with blood and guts
flying everywhere got (really) disappointed when they saw 8 people
discuss in a snowy cabin for almost 3 hours. But trust me: it gets
better every time you take time to watch it. It's the closest we'll
ever be to a play written and directed by Tarantino. It's a long,
slow-moving script, but it's also tense and really clever. If you
think about it, “The Hateful Eight” is a Western version of John
Carpenter's “The Thing”, as both films have several people
confined to a room, and no one can be trusted. As the script is set,
mostly, in just one place, there's plenty of room for the actors to
shine. We have a wonderful cast here that works stupendously with
what it's given to them. The characters portrayed by Kurt Russell,
Samuel L. Jackson, Jennifer Jason Leigh, Bruce Dern, Michael Madsen,
Tim Roth, Demián Bichir and Walton Goggins are surprisingly
well-written, with all of them having several layers. The
confrontation scenes, both physical and psychological, between the
characters are incredibly well done and well written, especially one
scene involving Maj. Warren (Samuel L. Jackson) and Gen. Smithers
(Bruce Dern), which is tense as it is hilarious. The score by the
legendary Ennio Morricone, responsible for the iconic soundtrack of
“The Good, the Bad and the Ugly”, is hypnotizing, and finally won
him an Oscar.
A tense, violent,
and really, really underrated film, “The Hateful Eight” will
stick to your head long after you finish watching it. (Did I mention
that Kurt Russell broke an authentic 1870s guitar during a scene?))
Acho
que nem “Era uma Vez em Hollywood” pode tirar esse filme do topo
(Risos). Sendo o primeiro filme que Tarantino usa figuras históricas
como personagens junto com os protagonistas (fictícios), “Bastardos
Inglórios” impressiona desde a tensa cena inicial, onde temos um
vislumbre do que o maravilhoso Christoph Waltz é capaz de fazer.
(Curiosidade: a cena inicial desse filme é considerada, pelo próprio
Tarantino, a melhor cena que ele já escreveu, e com razão.) Eu acho
que nem tenho as palavras para descrever o quão genial é esse
filme. Os personagens, tanto fictícios quanto reais, são muito bem
escritos. (Por incrível que pareça, o Hitler é muito engraçado
nesse filme.) A história, dividida em capítulos, é muito bem
contada, e aproveita bem sua longa duração. É um dos melhores
filmes ambientados na Segunda Guerra Mundial já feitos, e um dos
mais divertidos também. Tarantino conseguiu juntar um elenco
potente, encabeçado por um ótimo Brad Pitt, que aqui faz o líder
dos Bastardos. Mas por incrível que pareça, o filme não é
concentrado nele, e sim no triângulo entre Shosanna Dreyfus (Melanie
Laurent), Fredrick Zoller (Daniel Brühl) e o Cel. Hans Landa
(Christoph Waltz). A química de Laurent com os dois é eletrizante,
em cada cena que eles estão em tela juntos. Temos alguns nomes muito
conhecidos aqui também, entre eles Eli Roth, que está muito
engraçado como um dos Bastardos mais violentos; Diane Kruger, que
faz uma agente disfarçada como atriz; e Michael Fassbender e August
Diehl, que compartilham uma das cenas mais tensas do filme. Mas quem
brilha mesmo é o Christoph Waltz como o sádico Cel. Hans Landa. Ele
captura a atenção do espectador em toda cena que ele está
presente, é impressionante. Se brincar, ele é o melhor vilão desde
o Coringa em “Batman: O Cavaleiro das Trevas”. É um vilão que
atrai os espectadores bem mais do que o mocinho, e por isso, ele
ganhou o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante com justiça.
Violento,
divertido, e impressionante, “Bastardos Inglórios” consegue
achar o equilíbrio perfeito entre arte e entretenimento, graças à
um roteiro envolvente, à uma brilhante reescrita da História e às
performances de seu talentoso elenco.
(I
think that “Once Upon a Time in Hollywood” isn't going to take
this film's spot. (LOL) As the first film where Tarantino uses
historical figures as characters along with his (fictional)
protagonists, “Inglourious Basterds” amazes from the tense
initial scene, where we get a glimpse of what the wonderful Christoph
Waltz is capable of. (Fun fact: the initial scene of this movie is
considered, by Tarantino himself, to be the greatest scene he has
ever written, rightfully so.) I don't think I have the words to
describe how genius this movie is. The characters (both fictional and
historical) are really well-written. (Hitler is actually really funny
in this film.) The story, divided in chapters, is really well told,
and it enjoys every second in its long running time. It's one of the
best World War II movies ever made, and one of the most fun ones too.
Tarantino managed to assemble a powerful cast, led by a great Brad
Pitt, who plays the leader of the Basterds here. But, amazingly, the
film isn't focused on him, but on the triangle between Shosanna
Dreyfus (Melanie Laurent), Fredrick Zoller (Daniel Brühl), and
Colonel Hans Landa (Christoph Waltz). Laurent's chemistry with both
of them is electrifying, in each scene they are together. We also
have some well-known names here, including Eli Roth, who is really
funny here as one of the most violent Basterds; Diane Kruger, who
plays an agent disguised as an actress; and Michael Fassbender and
August Diehl, who share one of the most tense scenes in the movie.
But who's standing in the spotlight here is Christoph Waltz as the
sadistic Colonel Hans Landa. He captures the viewer's attention every
time he appears onscreen, it's impressive. I really think that he's
the best movie villain since the Joker from “The Dark Knight”.
He's a villain that's more likeable than the good guy, and because of
that, he rightfully took home the Oscar for Best Supporting Actor.
Violent,
fun, and impressive, “Inglourious Basterds” manages to find the
perfect balance between art and entertainment, thanks to an involving
script, a brilliant rewriting of History and the performances of its
talented cast.)
É
isso, pessoal! Espero que vocês tenham gostado! Até a próxima,
João
Pedro
(And
that's it, guys! I hope you liked it! See you next time,
E aí, galerinha de
cinéfilos! Com as férias, infelizmente, chegando ao fim, venho aqui
falar de um filme de terror deveras interessante. Baseado em uma
série de contos de terror para crianças, e produzido por ninguém
menos que Guillermo del Toro, o filme em questão é um ponto de
partida perfeito (e sinistro) para os pré-adolescentes que desejam
se adentrar pelo gênero. Então, vamos falar sobre “Histórias
Assustadoras para Contar no Escuro”. Vamos lá!
(What's up, film buffs!
With my vacation, unfortunately, coming to an end, I come here to
talk about a rather interesting horror film. Based on a series of
children's horror tales, and produced by the one and only Guillermo
del Toro, this film is a perfect (and creepy) starting point for
tweens and pre-teens wishing to know more about this genre. So, let's
talk about “Scary Stories to Tell in the Dark”. Let's go!)
A história se ambienta
em 1968, na cidadezinha de Mill Valley. Stella (Zoe Colletti) é uma
adolescente que sofre pela falta de sua mãe, que, por motivos
desconhecidos, deixa ela e seu pai (Dean Norris). No Dia das Bruxas,
ela e seus amigos visitam uma casa abandonada que, um dia, pertenceu
a uma família com um passado sombrio, e encontram um livro cheio de
histórias assustadoras que se escrevem por conta própria,
aterrorizando o grupo de adolescentes.
(The story is set in
1968, in the small town of Mill Valley. Stella (Zoe Colletti) is a
teenager who suffers from the disappearance of her mother, who, for
unknown reasons, leaves her and her father (Dean Norris) alone. On
Halloween night, she and her friends visit an abandoned house that,
one day, belonged to a family with a dark past, and find a book
filled with time-transcending scary stories, which ends up terrifying
the group of teenagers.)
Antes desse filme ser
anunciado, nunca tinha ouvido falar da série de livros que o
inspirou. Escrita por Alvin Schwartz nas décadas de 1980 e 1990, ela
causou bastante polêmica por apresentar cenas consideradas violentas
demais para o seu público-alvo, e as ilustrações, tão
assustadoras quanto os próprios contos, não suavizam o conteúdo de
maneira alguma. Essas histórias aterrorizaram os estadunidenses que
viveram na época (o livro só chegou aqui no Brasil em 2011). E
agora, alguns anos depois, chega a adaptação cinematográfica de
alguns desses contos. Agora, raciocinem comigo: se o filme é baseado
numa antologia de contos não conectados, faria mais sentido se o
próprio filme fosse uma antologia, certo? Mas não, os 6 roteiristas
(isso mesmo, 6) escolhem criar uma história original que junte e
conecte os contos em questão. Os momentos onde os contos são
realmente adaptados são assustadores, eles têm potência de susto,
mas a história que temos que aguentar para que esses momentos
finalmente cheguem é muito pouco desenvolvida, para um filme de
quase 2 horas de duração. É, em partes, uma história boa, porque
ela tem uma ambientação, que é o final da década de 60, onde o
Nixon estava concorrendo à presidência, e a Guerra do Vietnã
estava ocorrendo. Esse contexto histórico ajuda a aguentarmos a
história até as partes assustadoras chegarem, mas os personagens
não são desenvolvidos o suficiente para nós realmente nos
importarmos com eles, o contrário do que acontece, por exemplo, com
“It: A Coisa”, onde 2 horas e 15 minutos são utilizados com
maestria para que esses personagens sejam bem desenvolvidos antes do
tempo de duração acabar, e ainda abrindo espaço para a sequência.
Não se enganem, o filme não é ruim, de modo algum. Ele só poderia
ter sido melhor. Sem brincadeira, se seguisse o modelo de antologia,
ele poderia ser o novo “Creepshow” ou o novo “Contos do Dia das
Bruxas”, porque tem bastante potencial e um material-base com uma
legião de fãs afora. E o legal desse filme em particular é que ele
é adequado até para públicos mais jovens. Não chega a ser tão
assustador como um “Invocação do Mal”, mas também não é
completamente desprovido de verdadeiro terror. O melhor jeito de
descrever esse filme é: “Goosebumps” para adolescentes que não
sabem onde começar no gênero de terror. Eu não me lembro de ter
visto um pingo de sangue nas cenas de terror desse filme, pra falar a
verdade, de tão leve que ele é. Mas o tipo de terror que os
roteiristas queriam evocar não precisava de sangue jorrando pra
funcionar, e graças à direção precisa do André Ovredal, essas
cenas funcionam. Com sorte, teremos uma sequência para esse filme no
futuro, e os personagens poderão ser mais desenvolvidos, pois há
muito espaço para melhoras.
(Before this movie was
announced, I never heard about the series of books that inspired it.
Written by Alvin Schwartz in the 1980s and 1990s, it was quite
controversial because some of its scenes were considered too
disturbing for its target audience, and the illustrations, which are
just as scary as the tales themselves, did not help at all. These
stories terrified those who lived at the time of its release. And
now, a few years later, comes the movie adaptation of some of these
tales. Now, level with me: if the film is based on an anthology of
disconnected short stories, it would make more sense if the movie
itself was an anthology, right? But no, the six screenwriters (that's
right, 6) choose to create an original story that connects the
adapted stories. The moments where the stories are loosely adapted
are truly scary, but the story we've got to put up with until such
moments finally arrive lacks in development, for a film with almost 2
hours of running time. It's, partially, a good story, because it has
a setting, which is the late 1960s, where Nixon was running for
President and the Vietnam War was happening. This historical context
helps us tolerate the story until the scary moments come, but the
characters aren't well developed enough for us to really care about
them, which is the opposite of what happens with “It”, for
example, where 2 hours and 15 minutes are masterfully used to develop
its characters before the film ends, with an open space for Chapter
Two. Don't be mistaken. The film isn't bad, at all. It just could've
been better. Honestly, if it followed the anthology format, it
could've been the new “Creepshow” or the new “Trick 'r' Treat”,
because it has tons of potential and a source material with lots of
fans. And what's cool about this film in particular is that it's
adequate for younger viewers. It's not as scary as a Conjuring film,
but it doesn't lack in real horror. The best way to describe this
film is: “Goosebumps” for pre-teens who don't know where to start
off with the genre. I don't remember seeing one drop of blood in the
scary scenes, actually, just to prove how light it is. But the kind
of horror that the screenwriters wish to evoke doesn't need fountains
of blood in order to work, and thanks to André Ovredal's precise
direction, those scenes work. Luckily, we'll have a sequel to this
movie in the near future, and the characters may be better developed,
because there's plenty of space for improvement.)
É difícil falar dos
personagens, porque como disse acima, o roteiro não os desenvolve
muito bem, mas o elenco trabalha bem com o que é dado a eles. A Zoe
Colletti é uma boa protagonista, ela é interessante, movimenta a
trama do filme, o desenvolvimento dela é o mais aprofundado, se
comparado com o restante dos personagens; e ela é uma das razões
para que esse filme tenha e precise de uma continuação. O Michael
Garza faz um personagem misterioso, cujo desenvolvimento é mais
avançado, se comparado com os coadjuvantes, mas ainda assim, é um
pouco frustrante. Nem toda piada que o personagem do Austin Zajur faz
cola, mas isso não é culpa do ator, e sim do roteiro. Temos dois
talentos desperdiçados aqui: Gabriel Rush, que participou de
“Moonrise Kingdom” e “O Grande Hotel Budapeste”, que aqui, só
serve para estar em perigo; e Austin Abrams, que roubou a cena em
“Cidades de Papel”, que aqui, é reduzido a um bully
completamente unidimensional. Temos alguns veteranos também, entre
eles, Dean Norris, o Hank de “Breaking Bad”, que também é uma
das razões para que haja uma continuação, pois eu quero saber mais
sobre o personagem dele. Fazendo as criaturas assustadoras, temos o
sempre ótimo Javier Botet (o Leproso de “It: A Coisa” e a
personagem-título de “Mama”), Troy James e Mark Steger, e os
três são merecidamente sinistros, graças às performances e ao
trabalho de maquiagem e efeitos especiais, mas falaremos disso mais
tarde.
(It's hard to talk
about the characters, because as said above, the script doesn't
develop them well enough, but the cast manages to work it out with
what it's given to them. Zoe Colletti is a good protagonist, she's
interesting, she moves the film forward, her development is the most
well-done one, if compared to the rest of the characters; and she is
one of the reasons why this film needs a sequel. Michael Garza plays
a mysterious character, whose development is more advanced than the
rest, but still, it's a bit frustrating. Not every joke that Austin
Zajur's character does sticks, but that's not the actor's fault, it's
the script. We have two wasted talents here: Gabriel Rush, who was in
“Moonrise Kingdom” and “The Grand Budapest Hotel”, but he's
just here to be in danger; and Austin Abrams, who stole the scene in
“Paper Towns”, but here, he's reduced to a one-dimensional bully.
We also have some veteran actors here, with Dean Norris, Hank from
“Breaking Bad”, among them, who is also one of the reasons why
this film needs to have a sequel, because I really want to know more
about his character. As the scary creatures, we have the always great
Javier Botet (the Leper from “It” and the title character from
“Mama”), Troy James and Mark Steger, and the three are truly
creepy, thanks to the actors's performances and to the make-up and
special effects team, but we'll talk about that later on.)
Agora, vamos à melhor
parte do filme: os aspectos técnicos. O visual do filme é muito bem
feito, recriando de forma fiel a década em que o filme é
ambientado. Os cenários e a fotografia noturna são típicas dos
trabalhos anteriores do del Toro, em especial “O Labirinto do
Fauno”. Há algumas cenas que lembram muito “A Maldição da
Residência Hill”, pela atmosfera e pelo jogo de câmera. O visual
das criaturas ficou extremamente fiel às controversas ilustrações
de Stephen Gammell dos anos 80 e 90, e o mais impressionante é que
foi usado muito pouco CGI (computação gráfica) para que esses
personagens sejam feitos. A equipe de maquiagem e efeitos especiais
(composta por pessoas que já trabalharam com o Guillermo del Toro em
“Hellboy” e o vencedor do Oscar “A Forma da Água”) fez um
sublime trabalho, transformando essas criaturas em combustível de
pesadelos para uma nova geração de amantes do gênero. O design das
criaturas me deixou muito interessado e muito animado para ver mais
adaptações dessa série de livros. Não há nada de novo na trilha
sonora, mas é operante, assim como o trabalho de som, que segue toda
regra possível em filmes de terror.
(Now, let's talk about
the best part of the film: the technical aspects. The visuals are
really well done, faithfully recreating the decade it is set in. The
sets and the nocturnal cinematography are typical of previous del
Toro works, especially “Pan's Labyrinth”. There are some scenes
here that reminded me of “The Haunting of Hill House”, because of
its atmosphere and camera work. The visuals of the creatures are
extremely faithful to Stephen Gammell's controversial illustrations
from the 80s and 90s, and the most impressive thing is that very
little CGI was used in order to create those creatures. The make-up
and special effects team (composed by people that already worked with
Guillermo del Toro in “Hellboy” and the Oscar-winning “The
Shape of Water) did a sublime job, transforming these creatures into
nightmare fuel for a whole new generation of genre lovers. The design
of the creatures left me really interested and really excited to see
more adaptations of this series of books. There's nothing new about
the score, but it's operative, and so is the sound design, that
follows every possible rule in the horror movie book.)
Resumindo, “Histórias
Assustadoras para Contar no Escuro” é um filme mais leve, se
comparado aos filmes de “Invocação do Mal”, por exemplo, mas
ainda assim, graças à um elenco competente, um ótimo material-base
e um fantástico trabalho técnico, serve como um bom entretenimento
de terror, e como um bom ponto de partida para os mais jovens que
desejam se adentrar no gênero!
Nota: 8,5 de 10!
É isso, pessoal!
Espero que tenham gostado! Até a próxima,
João Pedro
(In a nutshell, “Scary
Stories to Tell in the Dark” is a lighter movie, if compared to the
Conjuring movies, for example, but still, thanks to a competent cast,
a great source material and a fantastic technical work, it serves as
fine horror entertainment, and as a good starting point for the
younger ones who wish to dive into the genre!
I give it a 8,5 out of
10!
That's it, guys! I hope
you liked it! See you next time,