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sábado, 31 de agosto de 2019

"Yesterday": a simples, mas singela homenagem de Danny Boyle e Richard Curtis aos Beatles (Bilíngue)


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E aí, galerinha de cinéfilos! Estou de volta, e venho aqui trazer para vocês a resenha de um dos filmes que eu estava mais esperando para ver esse ano. Dirigido por Danny Boyle, e roteirizado por Richard Curtis, é uma simples, mas singela homenagem à melhor banda de todos os tempos. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Yesterday”. Vamos lá!
(What's up, film buffs! I'm back, and I come here to bring to you the review of one of the movies I was most excited to see this year. Directed by Danny Boyle, with a screenplay written by Richard Curtis, it's a simple, yet sincere homage to the greatest band of all times. So, without further ado, let's talk about “Yesterday”. Let's go!)



Jack (Himesh Patel) é um aspirante a músico que vem enfrentando problemas com sua música, junto com sua empresária e melhor amiga, Ellie (Lily James). Um dia, Jack sofre um acidente, e acorda em uma realidade onde ele é a única pessoa que se lembra dos Beatles. Com isso em mente, ele começa a construir uma carreira musical baseada nas músicas de seus ídolos.
(Jack (Himesh Patel) is an aspiring musician who has been facing problems with his music, along with his manager and best friend, Ellie (Lily James). One day, Jack gets involved in an accident, and wakes up in a reality where he's the only one who remembers the Beatles. With that in mind, he begins to build a musical career based on his idols's songs.)



Ok, aqui está o problema com expectativa: como deu pra perceber, o enredo do filme é bem simples, e o próprio filme reflete a simplicidade do enredo. Realmente, é um filme que não tenta ser grandioso, ou entrar para a lista de melhores musicais de todos os tempos. Algo que reforça isso é o fato do roteiro ter sido escrito pelo Richard Curtis, que é um especialista em fazer comédias românticas, um gênero onde um dos principais ingredientes para ele funcionar é o clichê. A notícia boa sobre o Richard Curtis é que ele pega esses clichês e dá um toque a mais a eles, permitindo assim, que esses sejam mais originais, como aconteceu em “Quatro Casamentos e um Funeral”, “Simplesmente Amor” e “Questão de Tempo”, todos escritos por Curtis. Com isso em mente, vamos ao roteiro de “Yesterday”. Desde o anúncio do filme, eu gostei do enredo, dessa ideia onde só uma pessoa lembra das músicas dos Beatles e tenta construir uma carreira musical com elas, parcialmente pelo fato dos Beatles serem minha banda favorita, e também pelo fato de ser escrito pelo Richard Curtis. É um roteiro simples? Sim. Eu achei até um pouquinho curto, se comparado às durações de “Simplesmente Amor” e “Questão de Tempo”, que têm mais de 2 horas cada. Mas é divertido? Com certeza. Os personagens são bem desenvolvidos o bastante para fazer o espectador se importar com eles; há o uso de várias músicas dos Beatles aqui, desde as mais conhecidas, como “Yesterday”, “Let it Be” e “I Wanna Hold Your Hand”, até as mais obscuras, como “Maxwell's Silver Hammer”; e a história se movimenta bem o suficiente para o espectador conseguir acompanhar o passo. Pode-se dizer que “Yesterday” é um filme destinado a dois tipos de pessoas: os Beatlemaníacos ao extremo, que sabem a maioria das músicas de cor; e aqueles que ainda não conhecem, ou conhecem pouco, o trabalho do Quarteto de Liverpool, o que justifica o fato da maioria das músicas colocadas aqui serem as mais famosas do grupo. Assim como todos os filmes que o Richard Curtis escreveu, tem um romance inserido aqui, mas ele é bem desenvolvido, possuindo um bom pano de fundo para influenciar o espectador a torcer por esse casal. Lembra quando eu falei que o roterista de “Yesterday” é conhecido por pegar clichês e dar uma mexida neles? Pois é, nesse filme, tem dois momentos que eu não esperava que acontecessem, e um foi uma grata surpresa, e eu quase chorei no outro. Tem uma piadinha recorrente envolvendo o Google, que não fica cansativa, na verdade, é muito divertida, e o filme tem um tom bem otimista em toda a sua duração, garantindo um sorriso do espectador ao final da sessão.
(Ok, here's the deal with expectation: as you could notice, the plot is quite simple, and the movie reflects the simplicity of its plot. Really, it's a film that doesn't want to be one of the greatest musicals of all time. Something that reinforces this is the fact that it's written by Richard Curtis, who is an expert in making romantic comedies, a genre known for its extensive use of clichés. The good thing about Richard Curtis is that he takes these clichés, and he gives them a little twist, making them more original, as it happened in “Four Weddings and A Funeral”, “Love Actually” and “About Time”, all written by Curtis. With that in mind, let's go to the script of “Yesterday”. Ever since this movie was announced, I really liked the plot, this idea where only one person remembers the Beatles' songs and tries to build a musical career based on their songs, partially because they are my favorite band, and also because it was written by Richard Curtis. Is it a simple script? Yes. I personally thought it was a bit short, if compared to “Love Actually” and “About Time”, as those movies run longer than 2 hours. But is it fun? Absolutely. The characters are well-developed enough to make the viewers care about them; there are a lot of Beatles songs here, which go from the most-known ones, like “Yesterday”, “Let it Be” and “I Wanna Hold Your Hand”, to the most obscure ones, like “Maxwell's Silver Hammer”; and the story moves itself well enough for the viewer to keep up with the movie's pace. It can be said that “Yesterday” is a film for two kinds of people: the hardcore Beatlemaniacs, who know most of the songs by heart; and those who still don't know, or know very little, the work by the Fab Four, which justifies why most of the songs here are the well-known ones. As it happened with every movie Richard Curtis has written, there is a romance here, but it is well developed, possessing a good background in order to influence the viewer to root for them to be together. Remember when I said that the screenwriter for this film is known for using clichés and giving them a little twist? Right, there are two moments here which I wasn't expecting, one of them was a nice surprise, and I almost cried in the other. There's a recurring joke involving Google that doesn't run out of steam, it's actually quite fun, and the movie has a feel-good tone during all of its running time, making the viewer smile all the way through the very end.)



Além de ter um roteiro divertido, o elenco também é muito divertido de se ver. Sendo o primeiro filme do Himesh Patel, que até esse filme chegar, era conhecido por novelas britânicas, ele faz um bom trabalho aqui. Ele atua muito bem, canta muito bem, e conquista o espectador com seu charme e senso de humor. Algo que complementa a atuação de Patel é a sua química com a personagem da Lily James, conhecida pelo remake live-action de “Cinderela” ou por ser a jovem Donna de “Mamma Mia: Lá Vamos Nós de Novo”. Ela tem carisma de sobra, nunca vi uma personagem ou atuação ruim dessa atriz, e a história de fundo que os dois compartilham é bem cativante. Fora dos dois protagonistas, temos a hilária Kate McKinnon, conhecida pelo programa de esquetes Saturday Night Live, que aqui, tem um senso de humor bem mais sarcástico como a agente de Jack. Ela chega até a ser bem psicopata mesmo, só pelo olhar dela, mas mesmo assim, ela não perde o senso de humor característico estabelecido no SNL, e Joel Fry como um alívio cômico bem descontraído, e bem mais genérico do que a Kate McKinnon. E temos também a participação do Ed Sheeran. Não chega a ser infame como a participação do cantor em Game of Thrones, ele é engraçado, uma das piadas que fez o filme ser famoso veio do personagem dele, que é uma versão ficcional, e até um pouco convencida, dele mesmo. E ele é um ótimo cantor e compositor, emprestando algumas de suas músicas, e compondo músicas originais para o filme.
(Besides having a fun script, the cast is also really fun to watch. As the first film that Himesh Patel was in (he was known for British soap operas until this movie came into the picture), he does a pretty good job here. He's a good actor, a good singer, and he conquers the viewer's heart with his charm and sense of humor. One thing that complements Patel's performance is his chemistry with Lily James, known for the live-action remake of “Cinderella” and for portraying young Donna in “Mamma Mia: Here We Go Again”. She has charisma to spare, I have never seen a bad character or a bad performance by this actress, and the backstory the two protagonists share is really captivating. Outside the main two, we have the hilarious Kate McKinnon, who is known for the sketch program Saturday Night Live. She has a really sarcastic sense of humor here, as Jack's agent, to the point where she begins to look like a psychopath, just because of her stare, but still, she doesn't lose her characteristic sense of humor established on SNL. We also have Joel Fry, as a more buffoon type of comic relief, and way more generic than Kate McKinnon. And now, we go to Ed Sheeran's participation in “Yesterday”. It's not infamous, like his cameo on Game of Thrones, he's funny, one of the jokes that made the movie famous came from his character, who is a fictional, and a bit arrogant, version of himself. And he's a great singer and songwriter, lending some of his songs, and composing original songs for the film.)



E por último, mas não menos importante, temos os aspectos técnicos. Sob a direção de Danny Boyle, conhecido por filmes como “Trainspotting” e “Extermínio”, “Yesterday” é um filme bem energético. Há algumas versões das músicas dos Beatles que são mais barulhentas, mas não são ruins, pelo contrário, elas encaixam perfeitamente no estilo de instrumental que permeia a música atualmente. A fotografia é muito boa, a edição é bem eficiente. Os lugares que o Jack visita para buscar inspiração, e para lembrar das músicas dos Beatles são repletos de referências ao trabalho da banda. As cenas musicais são feitas para o público cantar junto, sendo uma das melhores coisas sobre o filme. E em uma cena em particular, há um trabalho primoroso de maquiagem, que merece ser reconhecido. Mas sem spoilers aqui. Como um filme musical, graças aos aspectos técnicos, “Yesterday” tem energia e charme de sobra para fazer o público levantar da cadeira, gritar e cantar junto.
(And at last, but not least, we have the technical aspects. Being directed by Danny Boyle, who is known for movies like “Trainspotting” and “28 Days Later”, “Yesterday” is a really energetic film. There are some versions of Beatles songs here which are a bit louder, but they aren't bad, on the contrary, they fit perfectly on the style of instrumentals that goes through music today. The cinematography is really good, the editing is very efficient. The places that Jack visits in order to search for inspiration and to remember the songs by the Beatles are filled with references to the band's work. The musical scenes are made for the audience to sing along, being one of the best things about the film. And in one particular scene, there's a wonderful use of make-up, which deserves to be recognized. But no spoilers here. As a musical film, thanks to the technical aspects, “Yesterday” has energy and charm to spare to make the audience get up from their seats, scream and sing along.)



Resumindo, “Yesterday” é uma simples, mas singela homenagem à melhor banda de todos os tempos. Com o auxílio de um roteiro divertido, um elenco talentoso, e uma baita trilha sonora, é um filme feito para agradar os fãs de longa data, mas também para apresentar uma nova geração de Beatlemaníacos ao trabalho desse Quarteto Fabuloso.

Nota: 8,5 de 10!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,
João Pedro

(In a nutshell, “Yesterday” is a simple, yet sincere homage to the greatest band of all time. With the help of a fun script, a talented cast, and one hell of a soundtrack, it's a movie made to please the long-term fans, but also to introduce a new generation of Beatlemaniacs to the Fab Four's work.

I give it a 8,5 out of 10!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,
João Pedro)




domingo, 18 de agosto de 2019

"Era uma Vez em Hollywood": a carta de amor de Quentin Tarantino à Los Angeles dos anos 1960 (Bilíngue)


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E aí, galerinha de cinéfilos! Depois daquele mega-ranking de todos os filmes de Quentin Tarantino, vim aqui trazer para vocês a resenha de seu novo filme. Contando com um tremendo elenco, uma icônica ambientação e um dos crimes mais violentos cometidos pelo homem como pano de fundo, é uma verdadeira carta de amor do diretor a essa conhecida época de Hollywood. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Era uma Vez em Hollywood”. Vamos lá!
(What's up, film buffs! After that massive ranking of all the movies directed by Quentin Tarantino, I come here to bring the review of his latest film. With a tremendous cast, an iconic setting and one of the most violent crimes committed by man as background, it is a true love letter from the director to this very well known era of Hollywood. So, without further ado, let's talk about “Once Upon a Time in Hollywood”. Let's go!)



Los Angeles, 1969. Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) é um ator de televisão decadente que tenta se adaptar às mudanças que Hollywood está sofrendo, por meio de audições para papéis em filmes. Enquanto isso, Cliff Booth (Brad Pitt), dublê de Rick, tenta acompanhar Dalton em sua jornada, e ao mesmo tempo, se vê envolvido com a Família Manson, responsável por assassinar a atriz Sharon Tate (Margot Robbie).
(Los Angeles, 1969. Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) is a decadent television actor who tries to adapt himself into a Hollywood filled with changes, through film auditions. Meanwhile, Cliff Booth (Brad Pitt), Rick's stunt double, tries to follow Dalton in his journey, and at the same time, sees himself involved with the Manson Family, a group of people responsible for murdering the actress Sharon Tate (Margot Robbie).)



Quem realmente conhece o trabalho anterior do diretor sabe que ele nem sempre faz de seus filmes um verdadeiro banho de sangue. Claro, Tarantino tem filmes que recorrem frequentemente à violência para funcionarem, como “Kill Bill” e “À Prova de Morte”, mas ele também foca bastante em seus personagens e nos diálogos entre eles, como em “Cães de Aluguel”, “Pulp Fiction” e “Os Oito Odiados”. E, se for para encaixar esse filme em uma dessas duas alternativas, com certeza seria a segunda. “Era uma Vez em Hollywood” é um filme diferente, para aqueles acostumados à violência desenfreada de alguns dos filmes anteriores do diretor. É um filme que se movimenta graças ao desenvolvimento de seus personagens. Assim como “Jackie Brown”, “À Prova de Morte” e “Kill Bill”, “Era uma Vez em Hollywood” também é uma homenagem, dessa vez, ao final da era de Ouro de Hollywood, com a ascensão de diretores como Sergio Leone e Jacques Demy, e a popularização de personagens icônicos, como James Bond. E, para fazer essa homenagem, o diretor faz uso de figuras da vida real para contar uma história fictícia, algo muito parecido com o que Tarantino fez em “Bastardos Inglórios”, onde Hitler e Goebbels são usados para contar a história dos Bastardos e de Shosanna Dreyfus. Da mesma maneira, aqui, figuras como Sharon Tate, Roman Polanski, Charles Manson, George Spahn, Bruce Lee, James Stacy, Wayne Maunder e Steve McQueen são usadas para, ao mesmo tempo, movimentar a trama e ajudar a contar a história dos dois protagonistas fictícios, Rick e Cliff. O roteiro de Tarantino é muito bom, é bem original, bem diferente de quase tudo que ele já fez. É algo bem metalinguístico, pois é um filme sobre fazer cinema, e pra mim, todo bom diretor precisa fazer um filme sobre cinema em algum ponto de suas carreiras. E aqui, Quentin Tarantino acerta em cheio em principalmente quatro coisas: na homenagem, na originalidade da história, nos diálogos e no desenvolvimento de seus personagens. O filme é repleto de referências, tanto à década de 1960 quanto aos próprios filmes do diretor, então é bom ficar de olhos e ouvidos atentos para que elas não passem batido. É um dos filmes mais longos do diretor, mas a atmosfera do filme é tão serena, e os personagens são tão divertidos de se ver, que a gente nem percebe o tempo passar. Tem momentos engraçados na medida certa, com aquele senso de humor ácido característico dos trabalhos anteriores de Tarantino, e um dos finais mais absurdos e desenfreados que ele já fez, e eu digo isso como um elogio.
(The people who really know the director's previous work know that he doesn't always make a bloodbath out of his films. Sure, Tarantino has films that make frequent use of violence in order to work, like “Kill Bill” and “Death Proof”, but he also focuses a lot on his characters and on the dialogue between them, as it happens in “Reservoir Dogs”, “Pulp Fiction” and “The Hateful Eight”. And, if I have to fit this movie into one of these two categories, it would absolutely fit in the second one. “Once Upon a Time in Hollywood” is a very different movie, to those who are used to the unrestrained violence in some of the director's previous work. It's a movie that paces itself through the development of its characters. Just like “Jackie Brown”, “Death Proof” and “Kill Bill”, “Once Upon a Time in Hollywood” is also a homage, this time, to the final moments of the Hollywood Golden Age, with the rising of directors like Sergio Leone and Jacques Demy, and the popularization of iconic characters, such as James Bond. And, in order to make that homage, the director uses real life figures to tell a fictional story, something really similar to what happened in “Inglourious Basterds”, where Hitler and Goebbels are used to tell the story of the Basterds and Shosanna Dreyfus. In the same way, here, Tarantino uses figures like Sharon Tate, Roman Polanski, Charles Manson, George Spahn, Bruce Lee, James Stacy, Wayne Maunder and Steve McQueen to, at the same time, move the plot forward and help tell the story of the two fictional protagonists, Rick and Cliff. Tarantino's script is really good, it's really original, very different from everything he has done so far. It's really meta, as it is a film about making films, and in my opinion, every good director needs to make a movie about cinema in any point in their careers. And, here, Quentin Tarantino nails it in mainly 4 aspects: in the homage, in the originality of the story, in the dialogues and in the character development. It is filled with references, both to the 1960s and Tarantino's own films, so keep your eyes and ears alert so that you can catch them. It's one of the director's longest movies, but its atmosphere is so serene, and its characters are so fun to watch, we end up not realizing the film was that long. It has funny moments, containing that characteristic acid sense of humor of Tarantino's previous work, and one of the most absurd, unrestrained endings he has ever done, and I mean that as a compliment.)



Além de um roteiro criativo e original, temos aqui um elenco que esbanja talento. O Leonardo DiCaprio nunca fez uma performance ruim, e felizmente, aqui não é uma exceção. Ele está hilário e até um pouco comovente como um ator de televisão decadente que tenta se inserir no cinema. A química dele com o personagem do Brad Pitt é perfeita em todos os sentidos, nós realmente sentimos a amizade entre os dois através de suas atuações. Falando em Brad Pitt, por duas cenas em particular, ele merece, ao menos, ser indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante em 2020. O personagem dele é durão, não leva desaforo pra casa, e é violento quando necessário. A relação que ele tem com o cachorro dele é muito cativante. A Sharon Tate, através da atuação da Margot Robbie, é tratada mais como um símbolo do que como uma personagem ativa. Ela é bem unidimensional, para falar a verdade, mas no bom sentido, sendo retratada como uma pessoa otimista e muito simpática; gostei bastante da atuação dela. Agora, sobre a situação do Bruce Lee, que vem causando muita polêmica desde o lançamento do filme: “Era uma Vez em Hollywood” é promovido como um “conto de fadas moderno ambientado na Hollywood dos anos 60” (é só olhar pro título do filme), o que significa que tudo o que aconteceu na tela não é verdade, ou seja, a atuação do Mike Moh é uma versão fictícia do Bruce Lee, e ele está hilário, mas queria ter visto mais dele. Temos participações memoráveis, algumas mais prolongadas do que outras, de atores como Kurt Russell, Timothy Olyphant, Al Pacino, Dakota Fanning, Luke Perry, Damian Lewis, Margaret Qualley, Austin Butler, Maya Hawke e Bruce Dern, e todos eles trabalham muito bem, mesmo com alguns tendo mais tempo de tela e, como consequência, de desenvolvimento do que outros.
(Besides having a really creative and original script, the film also makes use of an extremely talented cast. Leonardo DiCaprio has never done a bad performance, and fortunately, he does not make an exception here. He is hilarious, and even moving, sometimes, as a decadent TV actor who tries to enter the film business. His chemistry with Brad Pitt's character is perfect in every way, we really feel the friendship between these two characters through their performances. Speaking of Brad Pitt, because of two particular scenes, he deserves to be at least nominated for Best Supporting Actor in the Oscars next year. His character is tough, he doesn't take shit from anybody, and he's violent when necessary. The relationship he has with his dog is really captivating. Sharon Tate, through Margot Robbie's performance, is treated more like a symbol than as an active character in the story. She's actually pretty one-dimensional, but in a good way, being represented as an optimistic, really nice person; I really liked her performance. Now, about the Bruce Lee situation, which has been collecting a lot of controversy since the release of the film: “Once Upon a Time in Hollywood” is promoted as “a modern fairy tale set in 1960s Hollywood” (just look at the title of the film), which means that everything that happened on-screen didn't actually happen, meaning that Mike Moh's performance is a fictional version of Bruce Lee, and he is hilarious here, but I wish I could've seen more of him. We have memorable performances, some longer than others, from actors like Kurt Russell, Timothy Olyphant, Al Pacino, Dakota Fanning, Luke Perry, Damian Lewis, Margaret Qualley, Austin Butler, Maya Hawke and Bruce Dern, and they all do a pretty great job, even with some of them having longer screen time, and, consequently, longer development time than others.)



E por último, mas não menos importante, temos os aspectos técnicos. Como um filme feito para recriar uma época bem específica, a equipe de “Era uma Vez em Hollywood” fez um trabalho sensacional aqui. O diretor de fotografia Robert Richardson, que fez um trabalho primoroso em “Os Oito Odiados”, faz um excelente trabalho aqui, guiando a câmera com uma certa fluidez quase imperceptível. A equipe de direção de arte faz um trabalho fabuloso nos cenários e nos figurinos característicos da década de 1960, em especial na caracterização da Sharon Tate, que possui figurinos idênticos aos da vida real. Há um trabalho bem eficiente de edição aqui, em especial em uma cena onde o personagem do Leonardo DiCaprio é inserido em uma cena do filme “Fugindo do Inferno”, de 1963, que é muito bem feita. E, assim como todo filme do Tarantino, de “Cães de Aluguel” à “Os Oito Odiados”, “Era uma Vez em Hollywood” tem uma trilha sonora sensacional, recheada de clássicos da época. P.S.: Não saiam da sala no início dos créditos, porque há uma cena no meio dos créditos, que é bem engraçada.
(And at last, but not least, we have the technical aspects. As a movie made to recreate a very specific point in time, the crew of “Once Upon a Time in Hollywood” did a wonderful job here. Director of photography Robert Richardson, who did a marvelous job in “The Hateful Eight”, repeats the same dosage here, guiding the camera with an almost imperceptible fluidity. The art direction team does a fabulous job in recreating sets and costumes from the 1960, especially in the characterization of Sharon Tate, who has costumes really similar to what she actually wore. There's a pretty efficient editing job here, especially in a scene where Leonardo DiCaprio's character is inserted in a scene from “The Great Escape”, a film released in 1963, which is really well done. And, just like every Tarantino film, from “Reservoir Dogs” to “The Hateful Eight”, “Once Upon a Time in Hollywood” has a sensational soundtrack, filled with classics from the 1960s. P.S.: Do not leave the room when the credits start rolling, because there's a really funny scene in the middle of the credits.)



Resumindo, “Era uma Vez em Hollywood” é uma verdadeira carta de amor de Quentin Tarantino à uma conhecida época de Hollywood. É original, engraçado, bem dirigido, bem atuado, e muito bem feito. Esperem grandes coisas desse filme no Oscar 2020.

Nota: 9,0 de 10!

É isso, pessoal! Espero que vocês tenham gostado! Até a próxima,
João Pedro

(In a nutshell, “Once Upon a Time in Hollywood” is a true love letter from Quentin Tarantino to a very well known time in Hollywood. It's original, funny, well directed, well acted, and really well done. Expect great things about this film next year at the Oscars.

I give it a 9,0 out of 10!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,
João Pedro)



segunda-feira, 12 de agosto de 2019

O Universo de Quentin Tarantino: revisando a carreira de um dos melhores diretores do cinema moderno (Bilíngue) [ATUALIZADO]


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E aí, galerinha de cinéfilos! Estou de volta, mais cedo do que o esperado, para falar da filmografia de um dos diretores mais conhecidos da atualidade, cujo novo filme, “Era uma Vez em Hollywood”, estará estreando em breve nos cinemas brasileiros. Sim, estou falando do inigualável Quentin Tarantino. Um dos exemplos mais proeminentes do cinema moderno, Tarantino realmente revolucionou o cinema como nós conhecemos, dando origem à obras que conseguem equilibrar perfeitamente os aspectos de arte e entretenimento. Então, sem mais delongas, vamos falar da filmografia desse diretor único. Vamos lá!
(What's up, film buffs! I'm back, sooner than expected, to talk about the filmography of one of the most known directors in recent times, whose new film, “Once Upon A Time in Hollywood”, will be coming soon to Brazilian theaters. Yes, I'm talking about the one and only Quentin Tarantino. One of the most relevant examples of modern cinema, Tarantino revolutioned movies as we know them, giving birth to films that perfectly balance art and entertainment values. So, without further ado, let's talk about the movies by this one-of-a-kind director. Let's go!)



A primeira coisa que vem à cabeça das pessoas quando se pensa nos filmes de Tarantino provavelmente é o nível de violência que ele aplica em suas cenas de ação, que possuem muito, muito sangue, e isso é verdade, o Tarantino é mais conhecido pela grande maioria por conta da violência explícita. Mas os filmes desse diretor vão muito além da violência. Eles subvertem modelos tradicionais de roteiro, criando tramas não-lineares; possuem diálogos muito inteligentes, e discussões sobre coisas realmente banais; tem o apoio de elencos maravilhosos, que ficam cada vez mais ambiciosos a cada filme que Quentin faz; e são filmes com excepcionais aspectos técnicos, em especial fotografia, edição e trilha sonora.
Irei, nessa postagem, fazer um ranking dos filmes que o Tarantino dirigiu e escreveu (excluindo os filmes em que ele é apenas roteirista, como “Amor à Queima Roupa”, “Um Drink no Inferno” e “Assassinos por Natureza”), dando a MINHA OPINIÃO sobre eles, o que, certamente, pode discordar da sua opinião, caro leitor. Então, vamos começar!
(The first thing that comes to people's minds when thinking about Tarantino's films is probably the level of violence that he puts in his action scenes, which have massive quantities of blood, and that's true, Tarantino is generally known because of the explicit violence. But his movies go way beyond violence. They subvert traditional ways to write a script, creating non-linear plots; they have really clever dialogues, and discussions on really meaningless things; they have the support of wonderful casts, which get more and more ambitious at each film he makes; and they are technically exceptional, especially when it comes to cinematography, editing and soundtrack.
I will, in this post, make a ranking of the movies Tarantino directed and wrote (excluding the movies that he just wrote, like “True Romance”, “From Dusk till Dawn” and “Natural Born Killers”), giving MY OWN OPINION about them, which, certainly, might disagree from your opinion, dear reader. So, let's begin!)



9 – À PROVA DE MORTE (2007) (DEATH PROOF (2007))

Ok, para falar desse filme, é melhor pegarmos um contexto histórico primeiro. “À Prova de Morte” é uma metade de uma sessão dupla chamada “Grindhouse”, onde Tarantino e Robert Rodriguez (que, por sua vez, dirigiu “Planeta Terror”) criaram filmes para homenagear os “filmes B”, que partem do termo exploitation, que é tipo um cinema “apelativo”, que se recorre aos exageros para entreter seu público, sendo alguns desses exageros violência, sexo e profanidades. E é exatamente isso que Tarantino faz nesse filme. Ele recorre à violência extrema e diálogos excessivamente prolongados para entreter seu público. Pode-se até dizer que o Tarantino fez esse filme dessa maneira propositalmente, para justamente encaixar no gênero exploitation. Com esse contexto dado, vamos ao filme. Ele é bem desequilibrado, em termos de roteiro: a primeira metade é muita conversa e pouca porradaria, e a segunda metade é pouca conversa e muita porradaria; um equilíbrio entre esses dois extremos nunca é alcançado. O filme tem um bom elenco, com Kurt Russell no papel principal, como o dono do carro “à prova de morte”, e Rosario Dawson, Mary Elizabeth Winstead, Zoë Bell, Rose McGowan e muitas outras atrizes como as “vítimas” do protagonista. O filme tem cenas de ação sensacionais e exageradas, com uma delas sendo uma das sequências mais violentas que o diretor já criou, mas mesmo com o exagero, elas nos divertem e nos mantém na beira do assento. Contando que “À Prova de Morte” é um filme feito pra ser tosco, até que ele não é ruim, mas ainda assim, é o filme mais fraquinho de Quentin Tarantino.
(Ok, in order to talk about this film, it's better if we get some context first. “Death Proof” is one half of a double feature called “Grindhouse”, where Tarantino and Robert Rodriguez (who directed “Planet Terror” for this project) created films as a homage to “B movies”, which come from the term exploitation, which is a type of cinema that uses over-the-top resources, like violence, sex and profanity, in order to entertain the audience. And that's exactly what Tarantino does in this film. He makes use of extreme violence and excessively long dialogues for him to entertain his audience. One can even say that Tarantino made this film in this way on purpose, so that it can fit in the exploitation genre. With that context given, let's talk about the film itself. It is pretty unbalanced, in terms of screenplay: the first half has a lot of talking and less violence, and the second half has less talking and a lot of violence; the film never achieves a balance between these two extremes. It has a fine cast, with Kurt Russell in the main role, as the owner of the “death proof” car, and Rosario Dawson, Mary Elizabeth Winstead, Zoë Bell, Rose McGowan and many other actresses as the main character's “victims”. It has amazing, over-the-top action scenes, with one of them standing out as one of the most violent sequences Tarantino ever created, but even with the exaggerations, they entertain us and keep us on the edge of our seats. With the fact that “Death Proof” is a movie made to be cheesy in mind, it's not that bad after all, but still, it's the weakest movie by Quentin Tarantino.)






8 – JACKIE BROWN (1997)

Antes de “À Prova de Morte” ser lançado, esse era considerado o filme mais fraco de Tarantino. Eu até entendo o porquê: o diretor já tinha lançado “Cães de Aluguel” e “Pulp Fiction”, que foram extremamente bem recebidos pela crítica, arrancando elogios e vários prêmios. Esse é o único filme do Tarantino que não é original, sendo baseado no romance “Rum Punch”, de Elmore Leonard. E assim como “À Prova de Morte”, “Jackie Brown” também é uma homenagem, dessa vez ao gênero blaxploitation, que se popularizou nos anos 1970, que ganhou fama por apresentar pessoas negras como os heróis dos filmes, em uma época que, nos EUA, era bastante preconceituosa. A escalação de Pam Grier (símbolo feminino do blaxploitation nos EUA) foi uma jogada de mestre, pois além de ter uma atriz que já trabalhou no gênero anteriormente, seu papel no filme também revitalizou sua carreira, e ela é sensacional no papel principal. O roteiro é bem escrito, a fotografia é muito bem feita, a edição é muito boa, a trilha sonora é cheia de clássicos dos anos 1970, e o elenco é um dos mais talentosos que Tarantino já reuniu: além de Grier, temos Robert Forster, Samuel L. Jackson, Michael Keaton, Robert De Niro e Bridget Fonda. O único problema, na minha opinião, é o passo do filme: com quase 2 horas e 40 minutos de duração, ele demora um pouco para engatar, mas graças às atuações do elenco e a engenhosidade do roteiro, “Jackie Brown” consegue ser um dos filmes mais diferentes de Quentin Tarantino, e eu falo isso como um elogio.
(Before “Death Proof” was released, this was considered Tarantino's weakest film. I can understand why: Quentin had already released “Reservoir Dogs” and “Pulp Fiction” and both were critically acclaimed, winning good reviews and several awards. And this is the only Tarantino film which isn't an original one, being based off Elmore Leonard's novel “Rum Punch”. Just like “Death Proof”, “Jackie Brown” is also an homage, inspiring itself from the blaxploitation genre, which was pretty famous in the 1970s, for introducing black people as the heroes of the story, at a time that was filled with prejudice in the US. The casting of Pam Grier (the female symbol of blaxploitation) was a masterful move, because besides the fact that she already worked in the genre before, her role in this film revitalized her career, and she is amazing in the main role. The script is well-written, the cinematography is really good, the editing is great, the soundtrack is filled with classics from the 1970s, and the cast is one of the most talented ones Tarantino ever assembled: besides Grier, we have Robert Forster, Samuel L. Jackson, Michael Keaton, Robert De Niro and Bridget Fonda. The only problem here, in my opinion, is the pacing: with almost 2 hours and 40 minutes of running time, it takes a while to finally blast off, but thanks to the performances from the cast and the ingenuity of the script, “Jackie Brown” manages to be one of Tarantino's most different films, and I mean that as a compliment.)






7 – KILL BILL (2003 e 2004)

Ok, vamos à primeira polêmica da postagem. Não, “Kill Bill” não é um filme ruim, de maneira alguma. É um dos filmes mais tecnicamente perfeitos do diretor, com cenas de ação extraordinárias, um roteiro bem amarradinho e uma protagonista pra lá de icônica. Se brincar, Beatrix Kiddo é a protagonista mais icônica que Tarantino criou. Ele só não é melhor do que o top 6 desse post, na minha opinião. Desde seu primeiro roteiro, “Amor à Queima-Roupa”, sabemos que Tarantino é louco por filmes de samurai e artes marciais, e em um ponto de vista ocidental, ele dá um verdadeiro show aqui. É um dos filmes com mais ação e menos diálogos da carreira do diretor, mas só porque tem menos diálogos, não significa que não seja um filme do Tarantino. É bem violento, diga-se de passagem. Tudo que pode se imaginar de violência acontece aqui, de decapitação à picadas de cobra e extração de olhos com as próprias mãos. E por incrível que pareça, não é chocante, é muito, MUITO divertido. O elenco se entrega totalmente à premissa, com Uma Thurman arrasando no papel principal, e nomes como Lucy Liu, Daryl Hannah, Michael Madsen, Vivica A. Fox e David Carradine como ótimos vilões. “Kill Bill” pode ser considerado um dos filmes mais versáteis do diretor até agora: ele possui cenas em preto e branco, uma sequência em anime, e tramas não-lineares, subvertendo as tradições, como Tarantino fez em seus dois primeiros filmes. Sendo um dos filmes mais violentos, e por consequência, mais divertidos, de Quentin Tarantino, “Kill Bill” é um bom ponto de partida para quem quer se adentrar pela mente genial desse diretor. É bem feito, bem escrito, bem atuado, bem dirigido, e a primeira parte tem um dos melhores cliffhangers (suspense para o que vem a seguir) do cinema moderno.
(Ok, let's talk about the first controversial spot in this post. No, “Kill Bill” is not a bad movie, in any way. It's one of his most technically perfect movies, with extraordinary action scenes, a script that tightens up its plot and a hell of an iconic main character. I honestly think that Beatrix Kiddo is the most iconic protagonist Tarantino ever created. It is just not better than this post's top 6, in my opinion. Since his first script, “True Romance”, we know that Tarantino is a huge fan of samurai and martial arts movies, and in a Western point of view, he freaking rocks here. It's one of his movies with the highest amount of action and a lesser amount of dialogue, but just because it doesn't have that much dialogue, it doesn't make it less of a Tarantino film. It's pretty violent, by the way. Everything violent you can possibly imagine happens here, from decapitation to snake bites and extraction of eyes with bare hands. And, amazingly so, it's not shocking, it's really, REALLY fun to watch. The cast gives all of themselves to the plot, with Uma Thurman being the absolute BOSS in the main role, and names like Lucy Liu, Daryl Hannah, Michael Madsen, Vivica A. Fox and David Carradine as great villains. “Kill Bill” may be considered one of the most versatile movies Tarantino has made so far: it has black-and-white scenes, an anime sequence, and non-linear plots, subverting traditionality, as the director did in his first two films. As one of the most violent, and consequently, most fun movies by Tarantino, “Kill Bill” is a great starting point for those who wish to know more about this director's genius mind. It's well filmed, well written, well acted, well directed, and the first part has one of the absolute best cliffhangers in modern cinema.)






6 – DJANGO LIVRE (2012) (DJANGO UNCHAINED (2012))

Django” foi o primeiro filme do Tarantino que vi, então já podem imaginar o impacto que ele causou em mim, que, na época, não era acostumado a esse tipo de filme. Mas eu lembro de ficar fascinado com a história, com os personagens e com a forma que o diretor escolheu para contar essa história. Se brincar, Django também foi um dos primeiros faroestes que eu vi. Agora, vocês me perguntam: por quê você coloca Django acima de “Kill Bill”? Bom, primeiramente, eu gosto mais de faroestes do que de filmes de artes marciais. Em segundo lugar, “Django Livre” é, indiscutivelmente, um trabalho bem mais sofisticado, em todos os sentidos. A fotografia e a direção de arte revitalizam o gênero de faroeste spaghetti, dando origem a um filme surpreendentemente revisionista. O roteiro é muito bem escrito, rendendo o segundo Oscar de Melhor Roteiro Original pro Tarantino com justiça (embora eu ainda preferiria se “Moonrise Kingdom” tivesse ganho). É uma história tão bem contada, que a gente nem percebe a duração extraordinariamente longa de 2 horas e 45 minutos, um dos filmes mais longos do diretor. E o que falar desse elenco maravilhoso? Django é, certamente, um dos melhores papéis da carreira do Jamie Foxx; o estupendo Christoph Waltz, depois de ter roubado a cena como o Coronel Hans Landa, em “Bastardos Inglórios”, faz o mesmo aqui como o Dr. King Schultz, ganhando seu segundo Oscar de Melhor Ator Coadjuvante merecidamente; o Samuel L. Jackson faz um dos seus melhores personagens aqui, tanto no geral, quanto no universo de Tarantino; e nem preciso falar da cena COMPLETAMENTE IMPROVISADA envolvendo o personagem do Leonardo DiCaprio, né? O filme tem um senso de humor bem sarcástico, bem ácido mesmo, e cenas de ação e bangue-bangue que deixariam Sergio Leone orgulhoso. Um dos meus filmes (e faroestes) prediletos, e outro ótimo ponto de partida para aqueles que querem saber mais do diretor.
(“Django” was the first Tarantino movie I ever saw, so you guys can imagine the impact it caused in me, who, at the time, wasn't used to this type of film. But I remember being fascinated with the story, with the characters, and with the way that the director chose to tell that story. I honestly think that Django was also one of the first Western movies I've ever seen. Now, you ask me: why do you put Django over “Kill Bill”? Well, first, I like Westerns more than I like martial arts movies. And second, “Django Unchained” is, undoubtedly, a way more sophisticated work, in every single way. The cinematography and art direction revitalize the spaghetti western genre, resulting in a surprisingly revisionist film. The script is really well written, earning Tarantino his second Best Original Screenplay Oscar with justice (although I would still have preferred if “Moonrise Kingdom” had taken it). It's a story that is so well told, we can't even realize the extraordinarily long running time of 2 hours and 45 minutes, one of the director's longest films. And what's to say of the marvelous cast? Django is, certainly, one of the best roles in Jamie Foxx's career; the stupendous Christoph Waltz, after stealing the scene as Colonel Hans Landa in “Inglourious Basterds”, does the absolute same here as Dr. King Schultz, winning his second Best Supporting Actor Oscar deservedly; Samuel L. Jackson plays one of his finest characters here, generally, and inside Tarantino's universe; and I don't even have to say anything about the FULLY IMPROVISED scene involving Leonardo DiCaprio's character, right? The film has a sarcastic, acid sense of humor, and action scenes that would make Sergio Leone proud. One of my favorite movies (and Westerns), and another great starting point for those who wish to know a bit more about this director.)






5 – CÃES DE ALUGUEL (1992) (RESERVOIR DOGS (1992))

Antes de “Cães de Aluguel” ter sido lançado, Quentin Tarantino apenas tinha escrito alguns roteiros, embora nenhum deles tinha sido filmado ainda. Como era o seu primeiro filme, Tarantino começou pequeno, com um orçamento de apenas 1,5 milhão de dólares, o que é bem pouco comparado aos 90 milhões de seu filme mais recente, “Era uma Vez em Hollywood”. Com “Cães de Aluguel”, Tarantino começou parcerias que iriam durar por quase toda a sua carreira, incluindo Lawrence Bender como produtor, Sally Menke como editora, e vários atores que participaram de projetos futuros, como Michael Madsen, Harvey Keitel e Tim Roth. E é um filme que impressiona pela sua simplicidade. Sendo o filme mais curto do diretor até agora, beirando 1 hora e 40 minutos, o filme se passa quase que inteiramente em um depósito, com o auxílio de flashbacks para nos ajudar a saber mais sobre os protagonistas. A cena inicial, onde os protagonistas discutem o significado de “Like a Virgin”, da Madonna, é antológica e hilária. Os personagens são muito bem desenvolvidos, e todos os atores atuam muito bem, em especial Tim Roth, Harvey Keitel, Steve Buscemi e Michael Madsen. A trama se desenvolve de maneira orgânica, aproveitando cada segundo de seu tempo de duração, para resultar em uma série de reviravoltas em seus momentos finais.
Um dos melhores filmes dos anos 1990, um dos melhores filmes independentes do cinema moderno, e um baita começo para a carreira de Quentin Tarantino, cuja fama só iria aumentar 2 anos depois, com “Pulp Fiction”.
(Before “Reservoir Dogs” was released, Quentin Tarantino had only written a few scripts, although none of them was filmed yet. As this was his first film, Tarantino started on a small scale, with a budget of US$1,5 million, which is very little compared to the US$90 million from his most recent film, “Once Upon a Time in Hollywood”. With “Reservoir Dogs”, Tarantino started partnerships that would last throughout most of his career, including Lawrence Bender as producer, Sally Menke as editor, and several actors who would work in his future projects, like Michael Madsen, Harvey Keitel and Tim Roth. And this is a movie that astounds because of its simplicity. As the shortest Tarantino movie so far, barely 100 minutes long, it is set almost entirely in a warehouse, with the help of flashbacks to aid us in knowing more about the characters. The initial sequence, where the protagonists discuss the meaning of Madonna's “Like a Virgin”, is iconic and hilarious. The characters are really well-developed, and all the actors do a great job, especially Tim Roth, Harvey Keitel, Steve Buscemi and Michael Madsen. The plot is paced in an organic way, making every second of its running time count, resulting in a series of plot twists in its final moments.
One of the best movies of the 1990s, one of the best independent movies in modern cinema, and one hell of a start for Quentin Tarantino's career, whose fame would only get higher 2 years later, with “Pulp Fiction”.)





4 - ERA UMA VEZ EM HOLLYWOOD (2019) (ONCE UPON A TIME IN HOLLYWOOD (2019))

https://nocinemacomjoaopedro.blogspot.com/2019/08/era-uma-vez-em-hollywood-carta-de-amor.html



3 – PULP FICTION: TEMPO DE VIOLÊNCIA (1994) (PULP FICTION (1994))

Chegando perto do final, temos o filme que lançou o Tarantino no ouvido do público geral. Com “Cães de Aluguel” sendo estreado no Festival de Sundance, perfeito para diretores iniciantes, o diretor apostou alto em “Pulp Fiction”, estreando o filme no prestigiado Festival de Cannes, e surpreendendo ninguém, ganhando a Palma de Ouro, prêmio principal do Festival, no processo. Acho que é adequado dizer que “Pulp Fiction” é um filme revolucionário: ele possui uma estrutura não-convencional de contar histórias, ou seja, a história acontece em uma ordem não-cronológica, e funciona perfeitamente; possui algumas das cenas mais icônicas no cinema moderno; e serviu para revitalizar e lançar atores esquecidos, ou até então, desconhecidos, como John Travolta, Uma Thurman e Samuel L. Jackson. E realmente, é um tremendo filme. Colocando mais 50 minutos na duração, se comparado à “Cães de Aluguel”, Tarantino aproveita cada precioso segundo para fazer de “Pulp Fiction”, acima de tudo, um filme divertido. E ele acerta em tudo, desde a engenhosidade das histórias, ao elenco mega-talentoso (John Travolta, Uma Thurman, Samuel L. Jackson, Ving Rhames, Bruce Willis, Christopher Walken, Tim Roth, Amanda Plummer, Harvey Keitel, Eric Stoltz, e até o próprio Tarantino), à maneira que ele usa para conectar essas histórias.
Pulp Fiction” é tão icônico que, quando você pensa no filme, você instantaneamente visualiza uma dessas 4 cenas na sua cabeça:
  1. O twist no Jack Rabbit Slim's;
  2. Ezequiel 25:17
  3. Aw, man! I shot Marvin in the face.”
  4. They call it a Royale with Cheese.”
É simplesmente incrível a capacidade que esse filme tem de ficar gravado na cabeça dos espectadores. Você, que já viu Pulp Fiction, tente lembrar do filme, sem pensar em uma das 4 cenas acima. E você, que ainda não viu Pulp Fiction, por favor, veja. Garanto que você não irá se arrepender.
(As we get closer to the end, we arrive at the movie that had everyone talking about Tarantino. As “Reservoir Dogs” premiered at the Sundance Film Festival, perfect for first-time directors, Quentin put a high bet in “Pulp Fiction” and premiered it in the prestigious Cannes Film Festival, and, surprising no one, winning the Palme d'Or (the main award in the Festival) in the process. I think it's safe to say that “Pulp Fiction” is revolutionary: it has an unconventional structure in storytelling, meaning that the story doesn't take place in a chronological order, and it works perfectly; it has some of the most iconic scenes in modern cinema; and it revitalized and boosted the careers of actors, who, at the time, were forgotten or unknown, like John Travolta, Uma Thurman and Samuel L. Jackson. And truly, it's a tremendous film. With an extra 50 minutes in its running time, if compared to “Reservoir Dogs”, Tarantino makes every second count in order to make “Pulp Fiction” a fun film, above everything. And it hits every single target, from the ingenuity of the stories, to the ultra-talented cast (John Travolta, Uma Thurman, Samuel L. Jackson, Ving Rhames, Bruce Willis, Christopher Walken, Tim Roth, Amanda Plummer, Harvey Keitel, Eric Stoltz, and even Tarantino himself) and the way the director uses to connect these stories.
Pulp Fiction” is so iconic that, when you think about it, you instantly visualize at least one of these 4 scenes in your head:
  1. The twist at Jack Rabbit Slim's;
  2. Ezekiel 25:17
  3. Aw, man! I shot Marvin in the face.”
  4. They call it a Royale with Cheese.”
The capacity this film has of sticking to its viewer's mind is simply fantastic. You, who has already seen Pulp Fiction, try to remember the film, without thinking of one of the 4 scenes above. Go ahead, I dare you. And you, who didn't watch Pulp Fiction yet, please watch it. You'll not regret it, I promise you.)






2 – OS OITO ODIADOS (2015) (THE HATEFUL EIGHT (2015))

Eu sei o que vocês estão pensando: O QUÊ? COMO VOCÊ SE ATREVE A COLOCAR “OS OITO ODIADOS” NA FRENTE DE PULP FICTION? Calma, eu posso explicar. Não é que eu ache todo filme do Tarantino que está atrás deste superestimado, mas é que “Os Oito Odiados” é bem subestimado, perto desses outros filmes. Claro, é um filme diferente: lançado depois da obra-prima sanguinolenta que é “Django Livre”, os espectadores esperando um espetáculo violento com sangue e tripas voando pra todo lado se decepcionaram (e muito) quando viram 8 pessoas discutindo em uma cabana nevada por quase 3 horas de duração. Mas confiem em mim: é um filme que melhora a cada vez que ele é assistido. É o mais próximo que teremos de uma peça escrita e dirigida por Tarantino. É um roteiro longo, lento, mas muito tenso e muito inteligente. Se vocês pararem pra pensar, “Os Oito Odiados” é uma versão de faroeste de “O Enigma de Outro Mundo”, de John Carpenter, onde várias pessoas são confinadas em um aposento e não há ninguém em quem eles podem confiar. Como o roteiro é ambientado, em sua maioria, em um só lugar, dá bastante espaço para os atores brilharem. Temos aqui um elenco maravilhoso que trabalha muito bem com o que lhes é dado. Os personagens de Kurt Russell, Samuel L. Jackson, Jennifer Jason Leigh, Bruce Dern, Michael Madsen, Tim Roth, Demián Bichir e Walton Goggins são surpreendentemente bem escritos, com nenhum deles sendo unidimensional. As cenas de confronto, tanto físico quanto psicológico, entre os personagens são incrivelmente bem feitas e bem escritas, em especial uma cena envolvendo o Maj. Warren (Samuel L. Jackson) e o Gen. Smithers (Bruce Dern), que é tensa ao mesmo tempo que ela é hilária. A trilha sonora do lendário Ennio Morricone, responsável pela trilha sonora antológica de “Três Homens em Conflito”, é hipnotizante, e finalmente rendeu um Oscar para o compositor.
Um filme tenso, violento, e muito, muito subestimado, “Os Oito Odiados” vai ficar grudado na sua cabeça bem depois de você terminar de assistir ao filme. (Eu mencionei que o Kurt Russell quebrou um violão autêntico de 1870 em uma cena?)
(I know what you're thinking: WHAT? HOW DARE YOU PUT “THE HATEFUL EIGHT” ABOVE “PULP FICTION”? Calm down, I can explain. It's not that I think that every other Tarantino movie below this one is overrated, but it's that “The Hateful Eight” is very underrated, next to these other films. Sure, it's a different movie: released after the bloody masterpiece that was “Django Unchained”, the viewers expecting a bloodbath of a spectacle with blood and guts flying everywhere got (really) disappointed when they saw 8 people discuss in a snowy cabin for almost 3 hours. But trust me: it gets better every time you take time to watch it. It's the closest we'll ever be to a play written and directed by Tarantino. It's a long, slow-moving script, but it's also tense and really clever. If you think about it, “The Hateful Eight” is a Western version of John Carpenter's “The Thing”, as both films have several people confined to a room, and no one can be trusted. As the script is set, mostly, in just one place, there's plenty of room for the actors to shine. We have a wonderful cast here that works stupendously with what it's given to them. The characters portrayed by Kurt Russell, Samuel L. Jackson, Jennifer Jason Leigh, Bruce Dern, Michael Madsen, Tim Roth, Demián Bichir and Walton Goggins are surprisingly well-written, with all of them having several layers. The confrontation scenes, both physical and psychological, between the characters are incredibly well done and well written, especially one scene involving Maj. Warren (Samuel L. Jackson) and Gen. Smithers (Bruce Dern), which is tense as it is hilarious. The score by the legendary Ennio Morricone, responsible for the iconic soundtrack of “The Good, the Bad and the Ugly”, is hypnotizing, and finally won him an Oscar.
A tense, violent, and really, really underrated film, “The Hateful Eight” will stick to your head long after you finish watching it. (Did I mention that Kurt Russell broke an authentic 1870s guitar during a scene?))






E em primeiríssimo lugar:
(And in the first place:)


1 – BASTARDOS INGLÓRIOS (2009) (INGLOURIOUS BASTERDS (2009))

Acho que nem “Era uma Vez em Hollywood” pode tirar esse filme do topo (Risos). Sendo o primeiro filme que Tarantino usa figuras históricas como personagens junto com os protagonistas (fictícios), “Bastardos Inglórios” impressiona desde a tensa cena inicial, onde temos um vislumbre do que o maravilhoso Christoph Waltz é capaz de fazer. (Curiosidade: a cena inicial desse filme é considerada, pelo próprio Tarantino, a melhor cena que ele já escreveu, e com razão.) Eu acho que nem tenho as palavras para descrever o quão genial é esse filme. Os personagens, tanto fictícios quanto reais, são muito bem escritos. (Por incrível que pareça, o Hitler é muito engraçado nesse filme.) A história, dividida em capítulos, é muito bem contada, e aproveita bem sua longa duração. É um dos melhores filmes ambientados na Segunda Guerra Mundial já feitos, e um dos mais divertidos também. Tarantino conseguiu juntar um elenco potente, encabeçado por um ótimo Brad Pitt, que aqui faz o líder dos Bastardos. Mas por incrível que pareça, o filme não é concentrado nele, e sim no triângulo entre Shosanna Dreyfus (Melanie Laurent), Fredrick Zoller (Daniel Brühl) e o Cel. Hans Landa (Christoph Waltz). A química de Laurent com os dois é eletrizante, em cada cena que eles estão em tela juntos. Temos alguns nomes muito conhecidos aqui também, entre eles Eli Roth, que está muito engraçado como um dos Bastardos mais violentos; Diane Kruger, que faz uma agente disfarçada como atriz; e Michael Fassbender e August Diehl, que compartilham uma das cenas mais tensas do filme. Mas quem brilha mesmo é o Christoph Waltz como o sádico Cel. Hans Landa. Ele captura a atenção do espectador em toda cena que ele está presente, é impressionante. Se brincar, ele é o melhor vilão desde o Coringa em “Batman: O Cavaleiro das Trevas”. É um vilão que atrai os espectadores bem mais do que o mocinho, e por isso, ele ganhou o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante com justiça.
Violento, divertido, e impressionante, “Bastardos Inglórios” consegue achar o equilíbrio perfeito entre arte e entretenimento, graças à um roteiro envolvente, à uma brilhante reescrita da História e às performances de seu talentoso elenco.
(I think that “Once Upon a Time in Hollywood” isn't going to take this film's spot. (LOL) As the first film where Tarantino uses historical figures as characters along with his (fictional) protagonists, “Inglourious Basterds” amazes from the tense initial scene, where we get a glimpse of what the wonderful Christoph Waltz is capable of. (Fun fact: the initial scene of this movie is considered, by Tarantino himself, to be the greatest scene he has ever written, rightfully so.) I don't think I have the words to describe how genius this movie is. The characters (both fictional and historical) are really well-written. (Hitler is actually really funny in this film.) The story, divided in chapters, is really well told, and it enjoys every second in its long running time. It's one of the best World War II movies ever made, and one of the most fun ones too. Tarantino managed to assemble a powerful cast, led by a great Brad Pitt, who plays the leader of the Basterds here. But, amazingly, the film isn't focused on him, but on the triangle between Shosanna Dreyfus (Melanie Laurent), Fredrick Zoller (Daniel Brühl), and Colonel Hans Landa (Christoph Waltz). Laurent's chemistry with both of them is electrifying, in each scene they are together. We also have some well-known names here, including Eli Roth, who is really funny here as one of the most violent Basterds; Diane Kruger, who plays an agent disguised as an actress; and Michael Fassbender and August Diehl, who share one of the most tense scenes in the movie. But who's standing in the spotlight here is Christoph Waltz as the sadistic Colonel Hans Landa. He captures the viewer's attention every time he appears onscreen, it's impressive. I really think that he's the best movie villain since the Joker from “The Dark Knight”. He's a villain that's more likeable than the good guy, and because of that, he rightfully took home the Oscar for Best Supporting Actor.
Violent, fun, and impressive, “Inglourious Basterds” manages to find the perfect balance between art and entertainment, thanks to an involving script, a brilliant rewriting of History and the performances of its talented cast.)






É isso, pessoal! Espero que vocês tenham gostado! Até a próxima,
João Pedro
(And that's it, guys! I hope you liked it! See you next time,
João Pedro)




quinta-feira, 8 de agosto de 2019

"Histórias Assustadoras para Contar no Escuro": um ótimo ponto de partida para jovens aficionados com o terror (Bilíngue)


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E aí, galerinha de cinéfilos! Com as férias, infelizmente, chegando ao fim, venho aqui falar de um filme de terror deveras interessante. Baseado em uma série de contos de terror para crianças, e produzido por ninguém menos que Guillermo del Toro, o filme em questão é um ponto de partida perfeito (e sinistro) para os pré-adolescentes que desejam se adentrar pelo gênero. Então, vamos falar sobre “Histórias Assustadoras para Contar no Escuro”. Vamos lá!
(What's up, film buffs! With my vacation, unfortunately, coming to an end, I come here to talk about a rather interesting horror film. Based on a series of children's horror tales, and produced by the one and only Guillermo del Toro, this film is a perfect (and creepy) starting point for tweens and pre-teens wishing to know more about this genre. So, let's talk about “Scary Stories to Tell in the Dark”. Let's go!)



A história se ambienta em 1968, na cidadezinha de Mill Valley. Stella (Zoe Colletti) é uma adolescente que sofre pela falta de sua mãe, que, por motivos desconhecidos, deixa ela e seu pai (Dean Norris). No Dia das Bruxas, ela e seus amigos visitam uma casa abandonada que, um dia, pertenceu a uma família com um passado sombrio, e encontram um livro cheio de histórias assustadoras que se escrevem por conta própria, aterrorizando o grupo de adolescentes.
(The story is set in 1968, in the small town of Mill Valley. Stella (Zoe Colletti) is a teenager who suffers from the disappearance of her mother, who, for unknown reasons, leaves her and her father (Dean Norris) alone. On Halloween night, she and her friends visit an abandoned house that, one day, belonged to a family with a dark past, and find a book filled with time-transcending scary stories, which ends up terrifying the group of teenagers.)



Antes desse filme ser anunciado, nunca tinha ouvido falar da série de livros que o inspirou. Escrita por Alvin Schwartz nas décadas de 1980 e 1990, ela causou bastante polêmica por apresentar cenas consideradas violentas demais para o seu público-alvo, e as ilustrações, tão assustadoras quanto os próprios contos, não suavizam o conteúdo de maneira alguma. Essas histórias aterrorizaram os estadunidenses que viveram na época (o livro só chegou aqui no Brasil em 2011). E agora, alguns anos depois, chega a adaptação cinematográfica de alguns desses contos. Agora, raciocinem comigo: se o filme é baseado numa antologia de contos não conectados, faria mais sentido se o próprio filme fosse uma antologia, certo? Mas não, os 6 roteiristas (isso mesmo, 6) escolhem criar uma história original que junte e conecte os contos em questão. Os momentos onde os contos são realmente adaptados são assustadores, eles têm potência de susto, mas a história que temos que aguentar para que esses momentos finalmente cheguem é muito pouco desenvolvida, para um filme de quase 2 horas de duração. É, em partes, uma história boa, porque ela tem uma ambientação, que é o final da década de 60, onde o Nixon estava concorrendo à presidência, e a Guerra do Vietnã estava ocorrendo. Esse contexto histórico ajuda a aguentarmos a história até as partes assustadoras chegarem, mas os personagens não são desenvolvidos o suficiente para nós realmente nos importarmos com eles, o contrário do que acontece, por exemplo, com “It: A Coisa”, onde 2 horas e 15 minutos são utilizados com maestria para que esses personagens sejam bem desenvolvidos antes do tempo de duração acabar, e ainda abrindo espaço para a sequência. Não se enganem, o filme não é ruim, de modo algum. Ele só poderia ter sido melhor. Sem brincadeira, se seguisse o modelo de antologia, ele poderia ser o novo “Creepshow” ou o novo “Contos do Dia das Bruxas”, porque tem bastante potencial e um material-base com uma legião de fãs afora. E o legal desse filme em particular é que ele é adequado até para públicos mais jovens. Não chega a ser tão assustador como um “Invocação do Mal”, mas também não é completamente desprovido de verdadeiro terror. O melhor jeito de descrever esse filme é: “Goosebumps” para adolescentes que não sabem onde começar no gênero de terror. Eu não me lembro de ter visto um pingo de sangue nas cenas de terror desse filme, pra falar a verdade, de tão leve que ele é. Mas o tipo de terror que os roteiristas queriam evocar não precisava de sangue jorrando pra funcionar, e graças à direção precisa do André Ovredal, essas cenas funcionam. Com sorte, teremos uma sequência para esse filme no futuro, e os personagens poderão ser mais desenvolvidos, pois há muito espaço para melhoras.
(Before this movie was announced, I never heard about the series of books that inspired it. Written by Alvin Schwartz in the 1980s and 1990s, it was quite controversial because some of its scenes were considered too disturbing for its target audience, and the illustrations, which are just as scary as the tales themselves, did not help at all. These stories terrified those who lived at the time of its release. And now, a few years later, comes the movie adaptation of some of these tales. Now, level with me: if the film is based on an anthology of disconnected short stories, it would make more sense if the movie itself was an anthology, right? But no, the six screenwriters (that's right, 6) choose to create an original story that connects the adapted stories. The moments where the stories are loosely adapted are truly scary, but the story we've got to put up with until such moments finally arrive lacks in development, for a film with almost 2 hours of running time. It's, partially, a good story, because it has a setting, which is the late 1960s, where Nixon was running for President and the Vietnam War was happening. This historical context helps us tolerate the story until the scary moments come, but the characters aren't well developed enough for us to really care about them, which is the opposite of what happens with “It”, for example, where 2 hours and 15 minutes are masterfully used to develop its characters before the film ends, with an open space for Chapter Two. Don't be mistaken. The film isn't bad, at all. It just could've been better. Honestly, if it followed the anthology format, it could've been the new “Creepshow” or the new “Trick 'r' Treat”, because it has tons of potential and a source material with lots of fans. And what's cool about this film in particular is that it's adequate for younger viewers. It's not as scary as a Conjuring film, but it doesn't lack in real horror. The best way to describe this film is: “Goosebumps” for pre-teens who don't know where to start off with the genre. I don't remember seeing one drop of blood in the scary scenes, actually, just to prove how light it is. But the kind of horror that the screenwriters wish to evoke doesn't need fountains of blood in order to work, and thanks to André Ovredal's precise direction, those scenes work. Luckily, we'll have a sequel to this movie in the near future, and the characters may be better developed, because there's plenty of space for improvement.)



É difícil falar dos personagens, porque como disse acima, o roteiro não os desenvolve muito bem, mas o elenco trabalha bem com o que é dado a eles. A Zoe Colletti é uma boa protagonista, ela é interessante, movimenta a trama do filme, o desenvolvimento dela é o mais aprofundado, se comparado com o restante dos personagens; e ela é uma das razões para que esse filme tenha e precise de uma continuação. O Michael Garza faz um personagem misterioso, cujo desenvolvimento é mais avançado, se comparado com os coadjuvantes, mas ainda assim, é um pouco frustrante. Nem toda piada que o personagem do Austin Zajur faz cola, mas isso não é culpa do ator, e sim do roteiro. Temos dois talentos desperdiçados aqui: Gabriel Rush, que participou de “Moonrise Kingdom” e “O Grande Hotel Budapeste”, que aqui, só serve para estar em perigo; e Austin Abrams, que roubou a cena em “Cidades de Papel”, que aqui, é reduzido a um bully completamente unidimensional. Temos alguns veteranos também, entre eles, Dean Norris, o Hank de “Breaking Bad”, que também é uma das razões para que haja uma continuação, pois eu quero saber mais sobre o personagem dele. Fazendo as criaturas assustadoras, temos o sempre ótimo Javier Botet (o Leproso de “It: A Coisa” e a personagem-título de “Mama”), Troy James e Mark Steger, e os três são merecidamente sinistros, graças às performances e ao trabalho de maquiagem e efeitos especiais, mas falaremos disso mais tarde.
(It's hard to talk about the characters, because as said above, the script doesn't develop them well enough, but the cast manages to work it out with what it's given to them. Zoe Colletti is a good protagonist, she's interesting, she moves the film forward, her development is the most well-done one, if compared to the rest of the characters; and she is one of the reasons why this film needs a sequel. Michael Garza plays a mysterious character, whose development is more advanced than the rest, but still, it's a bit frustrating. Not every joke that Austin Zajur's character does sticks, but that's not the actor's fault, it's the script. We have two wasted talents here: Gabriel Rush, who was in “Moonrise Kingdom” and “The Grand Budapest Hotel”, but he's just here to be in danger; and Austin Abrams, who stole the scene in “Paper Towns”, but here, he's reduced to a one-dimensional bully. We also have some veteran actors here, with Dean Norris, Hank from “Breaking Bad”, among them, who is also one of the reasons why this film needs to have a sequel, because I really want to know more about his character. As the scary creatures, we have the always great Javier Botet (the Leper from “It” and the title character from “Mama”), Troy James and Mark Steger, and the three are truly creepy, thanks to the actors's performances and to the make-up and special effects team, but we'll talk about that later on.)



Agora, vamos à melhor parte do filme: os aspectos técnicos. O visual do filme é muito bem feito, recriando de forma fiel a década em que o filme é ambientado. Os cenários e a fotografia noturna são típicas dos trabalhos anteriores do del Toro, em especial “O Labirinto do Fauno”. Há algumas cenas que lembram muito “A Maldição da Residência Hill”, pela atmosfera e pelo jogo de câmera. O visual das criaturas ficou extremamente fiel às controversas ilustrações de Stephen Gammell dos anos 80 e 90, e o mais impressionante é que foi usado muito pouco CGI (computação gráfica) para que esses personagens sejam feitos. A equipe de maquiagem e efeitos especiais (composta por pessoas que já trabalharam com o Guillermo del Toro em “Hellboy” e o vencedor do Oscar “A Forma da Água”) fez um sublime trabalho, transformando essas criaturas em combustível de pesadelos para uma nova geração de amantes do gênero. O design das criaturas me deixou muito interessado e muito animado para ver mais adaptações dessa série de livros. Não há nada de novo na trilha sonora, mas é operante, assim como o trabalho de som, que segue toda regra possível em filmes de terror.
(Now, let's talk about the best part of the film: the technical aspects. The visuals are really well done, faithfully recreating the decade it is set in. The sets and the nocturnal cinematography are typical of previous del Toro works, especially “Pan's Labyrinth”. There are some scenes here that reminded me of “The Haunting of Hill House”, because of its atmosphere and camera work. The visuals of the creatures are extremely faithful to Stephen Gammell's controversial illustrations from the 80s and 90s, and the most impressive thing is that very little CGI was used in order to create those creatures. The make-up and special effects team (composed by people that already worked with Guillermo del Toro in “Hellboy” and the Oscar-winning “The Shape of Water) did a sublime job, transforming these creatures into nightmare fuel for a whole new generation of genre lovers. The design of the creatures left me really interested and really excited to see more adaptations of this series of books. There's nothing new about the score, but it's operative, and so is the sound design, that follows every possible rule in the horror movie book.)



Resumindo, “Histórias Assustadoras para Contar no Escuro” é um filme mais leve, se comparado aos filmes de “Invocação do Mal”, por exemplo, mas ainda assim, graças à um elenco competente, um ótimo material-base e um fantástico trabalho técnico, serve como um bom entretenimento de terror, e como um bom ponto de partida para os mais jovens que desejam se adentrar no gênero!

Nota: 8,5 de 10!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,
João Pedro

(In a nutshell, “Scary Stories to Tell in the Dark” is a lighter movie, if compared to the Conjuring movies, for example, but still, thanks to a competent cast, a great source material and a fantastic technical work, it serves as fine horror entertainment, and as a good starting point for the younger ones who wish to dive into the genre!

I give it a 8,5 out of 10!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,
João Pedro)