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sexta-feira, 22 de outubro de 2021

"Duna": uma obra-prima épica, acessível e essencialmente fiel ao material original (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para trazer a resenha de um dos lançamentos mais aguardados de 2021, o qual já está em exibição nos cinemas de todo o país! Dirigido por um dos cineastas mais proeminentes e aclamados da nossa geração, o filme em questão adapta um material-fonte essencialmente complexo de maneira extremamente didática, agradando os fãs da história original pela fidelidade da adaptação, e convidando fãs em potencial para adentrarem sua mitologia fascinante. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Duna”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to bring the review of one of the most anticipated releases of 2021, which is now playing in theaters and streaming for 30 days on HBO Max! Helmed by one of the most standout and acclaimed filmmakers of our generation, the film I'm about to review adapts an essentially complex source material in an extremely enlightening way, pleasing the fans of the original story for the adaptation's faithfulness, and inviting potential fans to enter its enthralling and fascinating mythology. So, without further ado, let's talk about “Dune”. Let's go!)



Ambientado no ano de 10191, o filme acompanha Paul Atreides (Timothée Chalamet), o jovem herdeiro da Casa Atreides, cujo governante, o Duque Leto I (Oscar Isaac), recebe a difícil tarefa de controlar o planeta de Arrakis, um deserto sem fim, povoado por tribos nativas e enormes vermes da areia, o qual é repleto de uma especiaria capaz de tornar a viagem interestelar possível. Por causa de uma amarga traição pelas mãos de um dos aliados dos Atreides, Paul e sua mãe, Lady Jessica (Rebecca Ferguson), são forçados a aprender a viver entre os nativos de Arrakis, inconscientes de que estariam cumprindo uma profecia antiga, que pregava uma guerra iminente entre as tribos de Arrakis e os temidos Sardaukar, liderados pelo Barão Vladimir Harkonnen (Stellan Skarsgard).

(Set in the year 10191, the film follows Paul Atreides (Timothée Chalamet), the young heir to House Atreides, whose ruler, Duke Leto I (Oscar Isaac), receives the hard task of controlling the planet Arrakis, an endless desert, populated by native tribes and enormous sandworms, which is filled with a spice capable of making interstellar travelling possible. Because of a bitter betrayal by the hands of one of the Atreides' allies, Paul and his mother, Lady Jessica (Rebecca Ferguson), are forced to learn how to live among the natives of Arrakis, unaware that they would be fulfilling an ancient prophecy, which laid out an imminent war between the tribes of Arrakis and the fearsome Sardaukar, led by Baron Vladimir Harkonnen (Stellan Skarsgard).)



Creio que basicamente toda pessoa que se intitula um cinéfilo estava animada para assistir “Duna” desde que o filme fora anunciado, e existem duas grandes razões para que estas expectativas estivessem bem fundamentadas. Primeiro, havia o livro original de Frank Herbert, que foi altamente influente no mercado da ficção-científica, colaborando para a existência de obras como “Star Wars”, de George Lucas, e “Nausicaä do Vale do Vento”, de Hayao Miyazaki. Depois, havia o fato da adaptação ser dirigida pelo Denis Villeneuve, cineasta canadense que vem nos entregando obra-prima atrás de obra-prima, com filmes como “Incêndios”, “A Chegada”, “Os Suspeitos” e “Blade Runner 2049” no seu currículo.

Quando soube que Villeneuve estaria comandando a nova adaptação de “Duna”, fui procurar saber quase tudo que estava ao meu alcance sobre a obra. Ao contrário de vários outros filmes baseados em livros, eu havia lido o livro antes de assistir ao filme. Assisti à um documentário fascinante sobre a tentativa falha de Alejandro Jodorowsky de adaptar a obra de Herbert em um épico grandioso, chamado “Duna de Jodorowsky”, e, mesmo com a visão dele destoando bastante do material fonte, senti uma profunda admiração pelo cineasta, por ter mantido vivo o seu sonho por tantos anos.

Confesso que senti um pouco de medo pela tradução do livro para as telas ser difícil demais para aqueles que não leram a obra original. Para quem não conhece “Duna”, é uma história que aborda literalmente todos os aspectos organizacionais da vida humana (política, economia, religião, comunidade, casamento, forças armadas, entre outros) em um cenário futurista, sendo essencialmente descritivo e dependente de sua mitologia fascinante e complexa para causar um efeito ainda maior no leitor. Existem poucas cenas de ação no início, mas o livro vai pegando o ritmo da segunda metade até a conclusão.

Ciente de ter lido o livro, e de que “Blade Runner 2049”, dirigido por Villeneuve, compartilhava deste passo mais lento e contemplativo, temia que aqueles que fariam da adaptação de “Duna” o seu primeiro contato com a obra não entenderiam metade do que Herbert queria dizer no livro. Sabe aquelas vezes em que você realmente fica feliz por estar completamente errado? Pois é, essa foi uma delas. Fico extremamente satisfeito em dizer que esta primeira parte (sim, vai ter continuação) da adaptação de “Duna” é grandiosa e épica em todos os sentidos, e consegue introduzir os novatos à mitologia fascinante de Herbert, ao mesmo tempo que entrega uma versão cinematográfica essencialmente fiel à obra original.

Ok, com isso dito, vamos falar do roteiro. Escrito por Villeneuve, Jon Spaihts e Eric Roth, o roteiro de “Duna” acerta em basicamente todos os aspectos narrativos, desde desenvolvimento de personagens à possíveis analogias e interpretações e, principalmente, fidelidade ao livro que o inspirou. Vamos partir do mais básico e ir caminhando ao mais específico. A trama adaptada pelos roteiristas captura o espectador desde seus momentos iniciais, o que reflete minha própria experiência com o livro de Herbert. Com 2 horas e 35 minutos de duração, Villeneuve trabalha em conjunto com a equipe técnica para criar uma adaptação que cativa o espectador, e ao mesmo tempo, vai direto ao ponto, dispensando as partes mais descritivas da obra original, e criando um passo perfeito que faz essa duração aparentemente robusta voar diante dos nossos olhos, de tão boa que ela é.

Grande parte do porquê dessa narrativa funcionar se dá por duas razões: a familiaridade que a mitologia fascinante dela tem em relação à outras obras, como por exemplo, “Star Wars”; e o desenvolvimento de seu protagonista, interpretado pelo Timothée Chalamet. Paul Atreides é um personagem extremamente interessante, porque ao mesmo tempo que ele encaixa perfeitamente no arquétipo de “jovem que faz parte de um plano maior, relacionado à uma profecia antiga que decidirá seu destino”, popularizado por séries de livros infantojuvenis como “Harry Potter”, “Percy Jackson” e “Fronteiras do Universo”, ele possui um diferencial em relação aos protagonistas destas séries, pelo fato de não ser completamente inconsciente do papel que ele terá de cumprir ao longo da trama, o que adiciona um caráter mais inteligente e humano à história de Herbert.

Uma das minhas partes favoritas de “Duna”, tanto do livro de Herbert quanto da adaptação de Villeneuve, é a sua atemporalidade. Digo isso na perspectiva de que, se todas as partes futuristas forem retiradas da trama, a história assume um caráter essencialmente realista e humano. Além de, como dito anteriormente, lidar com praticamente todo tipo de organização presente nos dias atuais, a trama de “Duna” consiste em algo que acontece muito na atualidade: o roubo e extração de recursos naturais preciosos de um país minoritário por países e grupos de maior autoridade, resultando na opressão dos povos nativos deste país e, em alguns casos, a aplicação de métodos extremistas de resistência por parte destes povos. Este conceito fica extremamente claro na narração inicial do filme, feita pela personagem da Zendaya, e faz um trabalho espetacular de atrair a atenção do espectador para o que vai acontecer em seguida.

Outro aspecto que me agradou bastante, especialmente por ter lido o livro antes, foi a direção de Denis Villeneuve, cuja paixão pelo material fonte é refletida nos resultados finais da adaptação. Como anteriormente dito, o roteiro introduz os conceitos complexos e fascinantes do livro de maneira extremamente didática, permitindo que o espectador novato compreenda a história mais facilmente. Como esperado, o diretor prioriza alguns personagens para desenvolver melhor, guardando outros para aprofundar na segunda parte. E mesmo com pouco tempo de tela, os personagens que têm menos aparições conseguem marcar presença, graças ao texto de Villeneuve, Spaihts e Roth.

A fidelidade ao livro é um dos maiores destaques do roteiro, que recria momentos icônicos da obra original com perfeição para um novo meio, retratando-os com um caráter grandioso que não se via no cinema desde a adaptação de Peter Jackson de “O Senhor dos Anéis”. A direção de Villeneuve é tão controlada que ele sabe exatamente quando acabar esta primeira parte e não se deixar levar pela segunda metade mais frenética da obra original. É um final tão perfeito que faz o filme funcionar por si só, ou seja, a adaptação desta primeira metade, ao mesmo tempo, possui um início, meio e fim muito bem definidos, e motiva o espectador a ler o livro que a inspirou para se preparar para a segunda parte. E eu, pelo menos, mal posso esperar!

Resumindo, o roteiro de “Duna” adapta fielmente seu material fonte complexo de uma maneira completamente didática, conseguindo agradar tanto os fãs fervorosos da obra original quanto os fãs em potencial que veem o seu primeiro contato com o livro de Frank Herbert na adaptação de Denis Villeneuve. É uma história rica em mitologia, povoada por personagens fascinantes, e que possui paralelos visíveis com situações enfrentadas no mundo real, o que acaba por dar ainda mais profundidade à obra, reforçando, assim, a sua atemporalidade.

(I believe that basically everyone who calls themselves a film buff was excited to see “Dune”, ever since it had been first announced, and there are two main reasons for those expectations to be well-fundamented. First, there was the original book by Frank Herbert, which was highly influential for the science-fiction genre, collaborating for the existence of works such as George Lucas's “Star Wars” and Hayao Miyazaki's “Nausicaä of the Valley of the Wind”. Then, there was the fact that the adaptation would be directed by Denis Villeneuve, a Canadian filmmaker who has been gifting us with subsequent masterpieces, with films like “Incendies”, “Arrival”, “Prisoners” and “Blade Runner 2049” in his resumé.

When I heard that Villeneuve was helming the new “Dune” adaptation, I searched upon almost everything I could find on the original work. Unlike many other films based on novels, I actually read the book prior to watching the film. I watched this fascinating documentary on Alejandro Jodorowsky's failed attempt at adapting Herbert's work into a grand epic, called “Jodorowsky's Dune”, and, even though with his vision strongly deviating from the source material, I felt a deep admiration for the filmmaker, who tried to keep his dream alive for such a long time.

I confess I was a little scared on whether the book's translation to the screen would be too hard to handle for those who didn't read the original work. For those who don't know “Dune”, it's a story that deals with literally every organizational aspect of human life (politics, economy, religion, community, marriage, armed forces, among others) in a futuristic scenario, being essentially descriptive and reliable on its fascinating and complex mythology in order to cause a greater effect on the reader's mind. There are only a few action scenes in the beginning, but the book begins catching up its pace from its second half till its conclusion.

Aware of having read the book, and that “Blade Runner 2049”, which was directed by Villeneuve, had that same slower, more contemplative pacing, I feared that those who would make their first contact with “Dune” through this adaptation wouldn't get half of what Herbert was trying to say in the novel. You know those times when you feel really happy to be completely wrong? Yeah, well, this was one of them. I'm extremely satisfied to say that this first part (yes, there will be a sequel) of this “Dune” adaptation is grand and epic in every way, and manages to introduce newbies to Herbert's fascinating mythology, while it delivers an essentially faithful cinematic version of the original work.

Okay, with that said, let's talk about the screenplay. Written by Villeneuve, Jon Spaihts and Eric Roth, the screenplay for “Dune” gets basically every narrative aspect right, from character development to possible analogies and interpretations and, mainly, faithfulness to the book that inspired it. Let's go from the basics and move later to the more specific aspects. The plot adapted by the screenwriters lures the viewer in from its starting moments, which reflects my own experience reading Herbert's book. Clocking in at 2 hours and 35 minutes, Villeneuve works in tandem with the technical crew to create an adaptation that captivates the viewer, and at the same time, goes straight to the point, dismissing the more descriptive parts of the original work, and creating perfect pacing that makes this apparently robust runtime fly before our very eyes, because of how great it is.

A great part of why this narrative works is due to two reasons: the familiarity its fascinating mythology has regarding other works, like for example, “Star Wars”; and the development of its protagonist, played by Timothée Chalamet. Paul Atreides is an extremely interesting character, because while he perfectly fits the “young person who's part of a bigger plan, regarding an ancient prophecy which will decide his fate” archetype, which was made popular by YA book series such as “Harry Potter”, “Percy Jackson” and “His Dark Materials”, he possesses a crucial difference in comparison to the protagonists of those series, as he isn't completely unaware of the role he'll have to fulfill throughout the plot, which adds a more clever and human character to Herbert's story.

One of my favorite parts of “Dune”, both in Herbert's book and Villeneuve's adaptation, is its timelessness. I say that under the perspective which, if we took out every futuristic aspect from the plot, the story takes on an essentially realistic and human approach. Besides of, as previously stated, dealing with practically every type of human organizations in the present time, the plot of “Dune” consists on something that has happened a lot in today's time: the theft and extraction of precious natural resources from minority countries by countries and groups with bigger authority, resulting in the oppression of that country's native groups, and, in some cases, the applying of extremist methods of resistance by those native peoples. That concept becomes extremely clear in the very first scene, which contains a voice-over by Zendaya's character, doing an extraordinary job of luring the viewer's attention to what will happen next.

Another aspect that pleased me a lot, especially having read the book prior to the movie, was its direction by Denis Villeneuve, whose passion for the source material clearly shows itself in the adaptation's final results. As previously stated, the screenplay introduces the book's complex and fascinating concepts in an extremely intuitive way, allowing newbie viewers to understand the story more easily. As expected, the director prioritizes certain characters over others, saving those others for the second part. And even with little screen time, these characters who make less appearances mark their presence, thanks to Villeneuve, Spaihts and Roth's text.

The faithfulness to the book is one of the screenplay's main highlights, perfectly recreating iconic moments from the original work for a new medium, portraying them with this epic, grand character we haven't seen on a movie since Peter Jackson's adaptation of “Lord of the Rings”. Villeneuve's directing is so controlled that he knows exactly when to end this first part and to not let himself be taken by the more fast-paced second half in the original work. It's such a perfect ending that it makes the film work as a stand-alone piece, meaning that, this adaptation's first part, simultaneously, has a very well defined beginning, middle and end, and it motivates the viewer into reading the book to prepare for the second part. And I can't hardly wait for it to arrive!

To sum it up, the screenplay for “Dune” faithfully adapts its complex source material in an extremely intuitive way, managing to please the original work's fervent fans and those potential fans who are going to have their first contact with Frank Herbert's book through Denis Villeneuve's adaptation. It's a story that's rich in mythology, populated by fascinating characters, and that has visible parallels with situations faced in the real world, which ends up giving even more depth to the work, reinforcing, as well, its timelessness.)



O elenco de “Duna” é composto por puro talento, e todas as performances aqui são só uma prova disso. A começar pelo Timothée Chalamet, que encontra seu melhor papel aqui desde sua performance indicada ao Oscar por “Me Chame pelo Seu Nome”. Como vemos todo o filme sob o ponto de vista dele, é bem fácil tomar simpatia pelo seu personagem, e grande parte do porquê disso acontecer se dá pelo carisma do ator. Ao mesmo tempo que Chalamet consegue expressar um senso de autoridade por causa do pano de fundo do seu personagem, há uma sensibilidade palpável na performance dele, permitindo que Paul Atreides tenha várias camadas. Há uma incerteza fascinante no decorrer do desenvolvimento do seu personagem, e Chalamet lida com estes dilemas de maneira magistral. Há uma cena em particular (que será bem familiar para os fãs do livro) que expõe as capacidades de atuação do ator com perfeição, servindo como um reforço do fato dele ser um dos melhores, se não o melhor ator dessa nova geração.

Outro destaque fica com a Rebecca Ferguson, que simplesmente não erra ao escolher seus papéis. Eu adoro a maneira que a atriz manipula as emoções de sua personagem. Há uma cena em particular onde a Lady Jessica caminha por um corredor às lágrimas e, perto de chegar ao seu destino, arruma uma maneira de assumir uma expressão austera e contida em seu rosto. Eu gostei bastante da química entre Chalamet e Ferguson, e especialmente de como seus personagens só se abrem sobre seus verdadeiros sentimentos um com o outro. Isto permite que a dinâmica entre mãe e filho entre eles seja mais realista e humana, mesmo com os dois personagens sendo treinados para esconderem suas verdadeiras emoções.

Tirando Chalamet e Ferguson, todos os outros atores não têm a mesma quantidade de material para aprofundarem seus personagens, mas cada um faz um ótimo trabalho. Eu gostei bastante da presença da Zendaya, que provavelmente terá um papel maior na segunda parte. Ela aparece em grande parte somente nas visões do protagonista, o que aplica uma aura de premonição para sua personagem. O Oscar Isaac consegue expressar, ao mesmo tempo, autoridade e solidariedade com suas expressões faciais. A Sharon Duncan-Brewster fica responsável em maior parte pela exposição de conceitos ainda não explorados pelos protagonistas, permitindo que a personagem seja uma espécie de guia para tanto os personagens quanto o espectador, e ela faz um ótimo trabalho com o que lhe é dada.

O Josh Brolin, o Jason Momoa e o Dave Bautista são a força bruta do filme, protagonizando a grande maioria das cenas de ação, as quais os atores conseguem executar com maestria, graças à experiência dos três com filmes de super-heróis. Um último destaque que gostaria de fazer fica com o Stellan Skarsgard como o Barão Harkonnen. Adorei como o ator conseguiu transformar um personagem essencialmente cartunesco no livro em uma pessoa genuinamente ameaçadora, de modo que o espectador não gostaria de estar em uma sala sozinho com ele. Mesmo com poucas cenas, Skarsgard consegue emitir uma aura aterrorizante que permeia em todas as suas aparições, com o Barão sendo o personagem que mais quero ver na segunda parte. Além dos mencionados, há ótimas aparições aqui de Chang Chen, Charlotte Rampling, Stephen McKinley Henderson, David Dastmalchian e Javier Bardem, mas como não há tanto material para eles trabalharem (pelo menos, nessa primeira parte), ficam como menção especial.

(The cast of “Dune” is composed by pure talent and every performance here is only a reinforcement of that fact. Starting with Timothée Chalamet, who finds his best role since his Oscar-nominated performance in “Call Me By Your Name”. As we see the whole movie through his perspective, it's quite easy to feel sympathy for his character, and a great part of why that happens is due to the actor's undeniable charisma. At the same time Chalamet manages to express a sense of authority because of his character's background, there's a visible sensibility in his performance, allowing Paul Atreides to have several layers. There's a fascinating uncertainty throughout his character's development, and Chalamet deals with these dilemmas masterfully. There's a particular scene (which will be familiar to fans of the book) that showcases the actor's abilities perfectly, serving as a reinforcement of the fact that he is one of the best, if not the best actor of this new generation.

Another highlight stays with Rebecca Ferguson, who simply doesn't make a mistake when choosing a role. I loved the way the actress manipulates her character's emotions. There's a particular scene where Lady Jessica is walking through a hall in tears and, when she's near her destiny, she finds a way of assuming an austere and contained expression on her face. I really enjoyed the chemistry between Chalamet and Ferguson, and especially how their characters only open up about their true feelings to each other. This allows for the mother-son dynamic between them to be more realistic and human, even though both characters were trained to contain their true emotions.

Apart from Chalamet and Ferguson, every other actor doesn't have the same amount of material to deepen their characters, but each one does a great job. I really liked Zendaya's presence, as she'll probably play a bigger role in the second part. She appears mostly throughout the protagonist's visions, which applies an ominous aura into her character. Oscar Isaac manages to express, simultaneously, authority and solidarity with his facial expressions. Sharon Duncan-Brewster is responsible mostly for exposition to aspects that are unknown to the main characters, allowing her character to be some sort of guide to both the characters and the viewer, and she does a great job with what's given to her.

Josh Brolin, Jason Momoa and Dave Bautista are the film's brute force, playing central roles in most of its action scenes, which the actors manage to execute really well, thanks to the three's experience in superhero films. One last highlight I'd like to make stays with Stellan Skarsgard as Baron Harkonnen. I loved how the actor managed to transform an essentially cartoonish character in the book into a genuinely threatening person, in a way that the viewer would not like to be alone in a room with him. Even with few scenes, Skarsgard manages to exhale a terrifying aura that lingers throughout all his appearances, with the Baron being the character I'm looking forward the most to seeing in the second part. Besides those mentioned, there are great appearances here by Chang Chen, Charlotte Rampling, Stephen McKinley Henderson, David Dastmalchian and Javier Bardem, but as there's not enough material for them to work on (at least, in this first part), I'll leave them as a special mention.)



Desde que o primeiro trailer da adaptação fora lançado, eu fiquei com um pensamento na minha cabeça: “Duna” pode varrer todas as categorias técnicas no Oscar ano que vem. E, agora, tendo visto o filme, posso dizer que esse pensamento pode muito bem se tornar realidade. Eu amei a direção de fotografia do Greig Fraser, especialmente quando se fala dos contrastes entre os vários cenários do filme. Em Caladan, planeta natal dos Atreides, há um tom mais azulado e enevoado, pela alta presença de água; em Giedi Prime, planeta natal dos Harkonnen, há tomadas mais escuras e acinzentadas; e em Arrakis, há uma presença vibrante de luz solar, que fica ainda mais brilhante quando refletida na areia do deserto. Mal posso esperar para ver o que Fraser vai fazer no vindouro filme do Batman, com Robert Pattinson. A montagem do Joe Walker é extremamente precisa, especialmente quando se diz respeito às cenas de sonho do protagonista. Tais cenas são sincronizadas de maneira perfeita com o que realmente está acontecendo fora do sonho.

A direção de arte consegue trazer Arrakis à vida de uma maneira extremamente fiel ao material fonte. Os figurinos, os cenários, a maquiagem e o penteado correspondem praticamente à 100% das descrições deles no livro. Uma coisa que me surpreendeu bastante é o fato do filme ter sido filmado em desertos e vilas de verdade na Jordânia e nos Emirados Árabes Unidos, dispensando o uso de CGI para criar os cenários do filme, o que sempre é algo maravilhoso. Todo blockbuster deveria aprender com “Duna” como fazer efeitos visuais bons com computação gráfica. Tudo aqui que foi feito com o auxílio de CGI ficou o mais realista possível, a ponto de ser até palpável na vida real, ao contrário, por exemplo, da artificialidade no ato final de “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis”. E ainda mais, os efeitos visuais de “Duna” não são a estrela do filme e nem devem ser, e o trabalho feito aqui é só mais um reforço disso.

E, para fechar com chave de ouro, temos a trilha sonora original composta pelo Hans Zimmer, conhecido por ter composto as trilhas de “Interestelar”, “O Rei Leão” e a trilogia “O Cavaleiro das Trevas”, e o trabalho dele aqui pode muito bem ser o seu melhor desde “O Rei Leão”. A trilha de Zimmer para “Duna” me lembrou bastante de dois trabalhos do compositor Ludwig Göransson: enquanto nas cenas envolvendo os Atreides e os Harkonnen, há um uso reverberante de sintetizadores, o que me lembrou bastante a trilha de Göransson para “Tenet”, de Christopher Nolan; nas cenas envolvendo Arrakis e seus nativos, os Fremen, a trilha é dominada por cantos tribais e tambores, o que me lembrou da trilha vencedora do Oscar que Göransson compôs para “Pantera Negra”. E talvez o mais mágico seja como Zimmer consegue incorporar estes dois estilos com perfeição na mesma faixa, o que só os mestres conseguem fazer. Realmente espero que ele ganhe outro Oscar.

(Ever since the adaptation's first trailer was released, one thought lingered in my mind: “Dune” can be able to sweep every single technical category at next year's Oscars. And now, having watched the film, I can say that thought might as well come true. I loved Greig Fraser's cinematography, especially when it comes to the contrasts between the film's various settings. In Caladan, the Atreides' home planet, there's a more blue-ish misty tone, due to the high presence of water; in Giedi Prime, home planet to the Harkonnens, there are darker and grayer takes and shots; and in Arrakis, there's a vibrant presence of sunlight, which gets even brighter when reflected on the desert sand. I can't wait to see what Fraser will do in the upcoming Batman film, with Robert Pattinson. Joe Walker's editing is extremely precise, especially when it's about the protagonist's dream sequences. Those scenes are synced perfectly with what's happening outside the dream.

The production design manages to bring Arrakis to life in an extremely faithful way to the source material. The costumes, the sets, the makeup and hairstyling practically correspond to their descriptions in the book, with 100% of accuracy. One thing that surprised me a lot is the fact that the film was filmed in actual villages and deserts in Jordan and United Arab Emirates, dismissing the use of CGI to create the film's sets, which is always something wonderful. Every blockbuster should learn from “Dune” on how to make good computer-generated visual effects. Everything here that was made with the help of CGI turned out to be as realistic as possible, in a way you can almost feel like that could be real, unlike, for example, the artificiality in the final act of “Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings”. And even more, the visual effects in “Dune” aren't neither the star of the film, nor should they be, and the work done here is just further proof of that.

And, to cap it off with a bang, we have the original score composed by Hans Zimmer, who is known for having composed the scores for “Interstellar”, “The Lion King” and the Dark Knight Trilogy, and his work here might as well be his best since “The Lion King”. Zimmer's score for “Dune” reminded me a lot of two works by composer Ludwig Göransson: while in the scenes with the Atreides and the Harkonnens, there's a reverberating use of synthesizers, which reminded me a lot of Göransson's score for Christopher Nolan's “Tenet”; in the scenes involving Arrakis and its natives, the Fremen, the score is dominated by tribal chanting and percussion, which reminded me of the Oscar-winning score that Göransson had composed for “Black Panther”. And probably the most magical thing about it is how Zimmer manages to incorporate both styles perfectly on the same track, something only masters are able to do. I really hope he gets another Oscar.)



Resumindo, “Duna” consegue atender às grandes expectativas do público com perfeição, graças à direção controlada de Denis Villeneuve, às performances de um elenco super talentoso, e aos aspectos técnicos, que recriam visuais icônicos do material fonte com muita fidelidade, resultando no melhor blockbuster épico desde a trilogia “O Senhor dos Anéis”. O roteiro da adaptação consegue, ao mesmo tempo, introduzir os conceitos complexos do livro de Frank Herbert de uma maneira didática para os iniciantes, e entregar uma versão cinematográfica essencialmente fidedigna à obra original, para o delírio dos fãs mais fervorosos da mitologia criada pelo autor. Façam a si mesmos um enorme favor e vejam o filme na maior tela possível, porque esse merece.

Nota: 10 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que vocês tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “Dune” manages to perfectly match the audience's expectations, thanks to Denis Villeneuve's controlled directing, to the performances of a super talented cast, and to the technical aspects, which faithfully recreate iconic visuals from the source material, resulting in the best epic blockbuster since the “Lord of the Rings” trilogy. The adaptation's screenplay manages to, simultaneously, introduce the complex concepts in Frank Herbert's book in a really intuitive way for the beginners, and deliver an essentially faithful cinematic version of the original work, to the joy of the most fervent fans of the mythology created by the author. Do yourselves a huge favor and watch the film in the biggest screen you can find, because this one deserves it.

I give it a 10 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)


segunda-feira, 18 de outubro de 2021

"Querido Evan Hansen": um musical tocante, universal e necessário para os dias de hoje (Bilíngue)

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Queridos cinéfilos, hoje vai ser um dia incrível e eu vou lhes dizer o porquê: vim trazer uma nova resenha para vocês, desta vez de um filme que chegará muito em breve aos cinemas de todo o país! Misturando um roteiro universal, relevante e emocionante; atuações extremamente dedicadas de um elenco super talentoso e canções originais que complementam a mensagem que a história deseja passar, o filme em questão não é só o melhor musical do ano até agora, mas também é um dos melhores filmes de 2021, sendo um dos retratos mais honestos e impactantes sobre saúde mental que eu já vi em um filme. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Querido Evan Hansen”. Vamos lá!

(Dear film buffs, today is going to be an amazing day and here's why: I'm here to bring a new review for you guys, this time of a film that's currently in theaters and arriving on Digital HD soon! Blending together an universal, relevant and emotional screenplay; extremely commited performances from a super talented cast and original songs that complement the message that the story wishes to convey, the film I'm about to review is not only the best movie musical of the year so far, but it is also one of the best films of 2021, being one of the most honest and impactful portrayals of mental health I've ever seen in a film. So, without further ado, let's talk about “Dear Evan Hansen”. Let's go!)



Baseado no musical da Broadway vencedor de 6 Tonys, o filme conta a história de Evan Hansen (Ben Platt), um adolescente de 17 anos que sofre de ansiedade social, e que, por causa disso, possui dificuldades em se conectar com outras pessoas. Para fazer com que seu último ano no Ensino Médio seja um pouco melhor, Evan começa a escrever cartas encorajadoras para si mesmo como um exercício terapêutico. Certo dia, uma dessas cartas vai parar nas mãos de Connor Murphy (Colton Ryan), um jovem problemático e temperamental que, dias depois, tira a própria vida. Os pais do falecido (Amy Adams e Danny Pino) encontram uma carta endereçada à Evan em meio aos pertences do filho, fazendo-os acreditar que os dois eram melhores amigos. Sendo incapaz de explicar a situação, Evan acaba refém de uma grande mentira que o aproxima da garota de seus sonhos: Zoe Murphy (Kaitlyn Dever), irmã de Connor. Mas quando a verdade ameaça vir à tona, Evan terá que enfrentar seu maior inimigo: ele mesmo.

(Based on the Tony-winning Broadway musical, the film tells the story of Evan Hansen (Ben Platt), a 17-year-old teen who suffers from social anxiety, and who, because of that, has difficulties in connecting with other people. In order to make his senior year in high school a little better, Evan starts writing encouraging letters to himself as a therapeutic exercise. One day, one of these letters lands in the hands of Connor Murphy (Colton Ryan), a troubled, hot-headed young man who takes his own life a few days later. The deceased's parents (Amy Adams and Danny Pino) find a letter addressed to Evan among their son's belongings, making them believe that the two of them were best friends. Being unable to explain the situation, Evan ends up a hostage of a big lie that brings him closer to the girl of his dreams: Zoe Murphy (Kaitlyn Dever), Connor's sister. But when the truth threatens to come to the surface, Evan will have to face his greatest enemy: himself.)



Ok, pra começo de conversa, “Querido Evan Hansen” era um dos filmes mais esperados do ano para mim, e haviam várias razões para justificar expectativas tão altas. Bom, em primeiro lugar, eu gosto muito do musical de palco que o inspirou. A história é muito boa, os personagens são bem honestos e humanos e as canções originais da mesma dupla responsável pelas trilhas de “La La Land” e “O Rei do Show” são simplesmente lindas. Em segundo lugar, eu me identifico com o protagonista, Evan Hansen, de várias maneiras. Assim como ele, admito que tenho dificuldades em me conectar com outras pessoas, às vezes. Não da maneira que é retratada no filme, mas o importante é que eu consigo frequentemente me ver nas situações enfrentadas por ele.

Em terceiro lugar, quem me conhece sabe que eu amo obras que lidam com saúde mental, especialmente quando se trata de jovens e adolescentes, permitindo que a distância emocional entre personagem e espectador seja um pouco menor, para mim. E em quarto e último lugar, o filme não só seria dirigido por Stephen Chbosky (diretor responsável por “As Vantagens de Ser Invisível”, um dos retratos mais crus e honestos sobre saúde mental em adolescentes que eu já vi), como também contaria com o retorno de Ben Platt, ator premiado por interpretar Evan na Broadway, no papel principal.

Então, sim, minhas expectativas estavam consideravelmente altas para assistir à adaptação de “Querido Evan Hansen” para as telonas. O que me pegou de surpresa foi o fato do filme ter sido absolutamente massacrado pela crítica internacional, desde sua estreia mundial como filme de abertura do Festival de Toronto deste ano. Críticos falaram que a adaptação “não era autêntica”, que ela tratava seus temas de uma maneira “rasa e superficial”, e que no geral, era algo “doloroso de se ver”, por “literalmente tudo imaginável dar errado”.

Bom, na minha opinião, como um crítico que também faz parte do povão, tenho duas teorias em respeito dessa reação negativa inicial: 1) os críticos não gostaram do musical que o inspirou (porque é meio inevitável: se você não gosta do material fonte, as chances de você não gostar da adaptação são bem grandes), ou 2) eles provavelmente nunca se sentiram na pele do protagonista, e sentiram que o retrato da saúde mental dele tenha sido exagerado e até ofensivo. E, nesses tempos de hoje, é só dar um passo em falso para que a cultura do cancelamento ataque novamente. Eu, pelo contrário, fico muito feliz em dizer que os críticos erraram feio ao julgar “Querido Evan Hansen” em suas críticas. Por fazer parte do público-alvo e por já ser muito fã do material fonte, eu amei como a história foi trazida para uma nova geração de espectadores.

Ok, com tudo isso dito, vamos falar do roteiro. Escrito por Steven Levenson (que também escreveu o roteiro do musical da Broadway), o roteiro de “Querido Evan Hansen” acerta em vários aspectos. Irei dividir essa seção em três partes: uma sobre a narrativa em geral, uma sobre a mensagem e uma última parte sobre as diferenças (boas e ruins) em relação ao material fonte. Começando com a narrativa, eu adorei como Levenson conseguiu fazer com que a adaptação fosse o mais realista e honesto possível, em relação ao mundo em que vivemos.

Ao contrário de vários musicais da Broadway adaptados para o cinema, como “Em um Bairro de Nova York” e “Mamma Mia!”, que contam com a presença de números musicais extremamente bem coreografados, a grande maioria das partes musicais de “Querido Evan Hansen” possui uma distinta falta de coreografia, o que pode ser um ponto negativo para alguns. Para mim, porém, essa escolha criativa acaba por adicionar um caráter mais cru, autêntico e humano à adaptação, como se Levenson quisesse dizer algo do tipo: “Por quê diabos eles estariam dançando, se a vida deles é tão difícil assim?”. Essa escolha me lembrou bastante da abordagem musical no fantástico “Apenas uma Vez”, escrito e dirigido por John Carney, que fez escolhas extremamente similares para inserir as músicas no contexto da narrativa.

Eu amei como Levenson conseguiu adaptar estes personagens já conhecidos para uma nova plateia, e especialmente o jeito que ele explora as máscaras emocionais que cada um deles usa para esconder o que eles estão sentindo naquele momento específico, com o objetivo de não afastar aqueles ao seu redor. Levenson aborda esse tema de uma maneira tão sensacional, que acaba ficando estampado nas performances do elenco, das quais falaremos mais à frente. Algo que eu achei bem interessante é que nenhum dos personagens adolescentes possui um estereótipo clássico do gênero coming-of-age (filmes sobre amadurecimento), e essa escolha me remeteu imediatamente à “As Vantagens de Ser Invisível”, que é do mesmo diretor, onde todos os adolescentes alcançam um patamar de igualdade. Sem panelas, sem grupinhos, só adolescentes imperfeitos com seus problemas particulares.

O roteirista consegue fazer com que nós venhamos a sentir pena e simpatia para com o protagonista logo no início, por causa da maneira que ele aborda o personagem na página. Os tiques, a maneira extremamente rápida da sua fala, a hiperventilação, a fisicalidade introvertida dele. Se você não conseguir sentir simpatia pelo Evan em seus primeiros minutos em tela, ao vê-lo interagir com outras pessoas, Levenson falhou em cumprir uma de suas missões mais importantes como roteirista, tanto do material fonte quanto da adaptação.

Falando do protagonista, Levenson consegue trabalhar muito bem todos os temas que marcaram presença no material original, e ele os atualiza para as telonas de uma maneira muito acessível e, principalmente, universal. A abordagem super delicada de temas muito presentes nos dias de hoje como o luto, a perda, a solidão, a dificuldade em se conectar com outras pessoas, o suicídio e a conscientização da saúde mental (temas que, inclusive, se agravaram devido às condições impostas pela pandemia de COVID-19) permite que “Querido Evan Hansen” tenha algo a dizer para toda pessoa que se sentiu sozinha durante esse período difícil.

Através das canções encorajadoras, Levenson e os compositores Benj Pasek e Justin Paul conseguem oferecer uma fonte de consolo, otimismo e esperança para tempos melhores. E isso, em uma época onde muitas pessoas perderam entes queridos, é algo simplesmente inestimável e necessário para os dias de hoje. Para mim, toda escola deveria organizar sessões para que os alunos do Ensino Médio assistam a este filme, porque, querendo ou não, são eles que Chbosky, Levenson e o elenco desejam alcançar. Os críticos podem ter opinado de que os temas do filme foram tratados de maneira superficial e rasa, mas não há dúvidas de que a mensagem terá muito mais chances de ser compreendida por um público mais jovem, assim como ela me cativou e emocionou de tal maneira, que quase chorei em algumas cenas.

O processo de adaptação do material fonte teve seus altos e baixos. Por um lado, Levenson conseguiu humanizar ainda mais certas situações e personagens, adicionando novas subtramas, fazendo mudanças necessárias no enredo e aprofundando personagens que não foram muito bem trabalhados no palco. Um exemplo claro disso é a personagem Alana, interpretada por Amandla Stenberg. No musical original, ela é uma das piores personagens da trama, na minha opinião. Ela é irritante, e parece se envolver com a trama principal para perseguir seus próprios interesses, de modo bem similar à Rachel Berry, de “Glee”. Já no filme, Stenberg transforma uma personagem aparentemente robótica em um ser humano pleno, imperfeito, o que permite que o espectador crie uma conexão emocional consideravelmente maior com a personagem, especialmente com o auxílio de uma canção original fantástica.

Porém, enquanto alguns personagens são mais aprofundados na adaptação, outros perdem o desenvolvimento que os marcou no material fonte. Isto fica bem claro no retrato da mãe de Evan, interpretada pela Julianne Moore. No musical de palco, a mãe de Evan assume um papel principal no desenvolvimento do protagonista. Com três canções, Heidi consegue confrontar, consolar e encorajar o filho a fazer a coisa certa e cumprir com suas responsabilidades. Por conta da redução do material para a adaptação, essa relação entre os dois não fica tão bem desenvolvida, e Levenson acaba deixando que outros personagens ajudem no desenvolvimento de Evan, deixando Heidi com somente um momento crucial para o arco narrativo do protagonista. Mesmo que essa escolha não seja condizente com o material fonte, ela funciona e, para falar a verdade, é o suficiente para que a história siga seu rumo e transmita sua mensagem para o espectador.

Resumindo, o roteiro da adaptação de “Querido Evan Hansen” faz algumas mudanças significativas em relação ao material fonte (algumas das quais poderiam ser aplicadas ao musical de palco), para a alegria de alguns e a tristeza de outros, mas o roteirista Steven Levenson consegue adaptar seu próprio texto para um novo meio de uma maneira acessível e universal para uma nova geração de espectadores. O texto de Levenson cativa e encanta pelo desenvolvimento humano e honesto de seus personagens, e pelo caráter atual e necessário dos temas abordados no material original, resultando no melhor musical de 2021 até agora. Não vão na onda dos críticos, só assistam e aproveitem.

(Okay, for starters, “Dear Evan Hansen” was one of the most anticipated films of the year for me, and there were several reasons to justify such high expectations. Well, firstly, I'm a huge fan of the stage musical that inspired it. The story is really good, the characters are really honest and human and the original songs by the same duo that gave us the soundtracks to “La La Land” and “The Greatest Showman” are nothing but beautiful. Secondly, I can relate with the main character, Evan Hansen, in many ways. Just like him, I admit I have difficulties in connecting with other people, sometimes. Not like the way it is portrayed in the film, but the important thing is that I can frequently see myself reflected in the situations that he faces.

Thirdly, those who know me know how much I love films and TV shows that deal with mental health, especially when it comes to young people and teenagers, allowing the emotional distance between character and viewer to be a bit smaller, for me. And, in fourth and last place, not only was the film going to be directed by Stephen Chbosky (the filmmaker who gave us “The Perks of Being a Wallflower, one of the most raw and honest portrayals of teen mental health I've ever seen), it was also counting on the return of Ben Platt, an actor who received several awards for playing Evan on Broadway, in the main role.

So, yes, my expectations were considerably high to watch the film adaptation of “Dear Evan Hansen”. What caught me by surprise was the fact that it was absolutely slaughtered by international critics, ever since its world premiere as the opening film in this year's Toronto International Film Festival. Critics had stated that the adaptation was “inauthentic”, that it approached its themes in a “shallow” way, and that, in general, it was something “painful to watch”, as literally “everything imaginable has gone wrong”.

Well, in my opinion, as a critic who's also part of a larger audience, I have two theories regarding this initial negative reaction: 1) or the critics didn't even like the musical that inspired it (which is kind of inevitable: if you don't like the source material, the chances of you not enjoying the adaptation are really big), or 2) they probably never felt themselves under the protagonist's skin, and felt that the portrayal of his mental health was a bit too much and even borderline offensive. And, in these days, it only takes one step for the cancel culture to strike back. I, on the other hand, am really glad to say that critics got it wrong when judging “Dear Evan Hansen” on their reviews. By being a part of its target audience and a fan of the source material, I loved how the story was adapted for a new generation of viewers.

Okay, with all that said, let's talk about the screenplay. Written by Steven Levenson (who also wrote the book for the Broadway musical), the screenplay for “Dear Evan Hansen” gets many things right. I'll divide this section into three parts: one on the narrative in general, another on the message it attempts to convey and a last one on the differences (both good and bad) in comparison to the source material. Starting off with the narrative, I loved how Levenson managed to make this adaptation as realistic and as honest as possible, in regards with the world we live in.

Unlike many Broadway musicals that had film adaptations in the past, such as “In the Heights” and “Mamma Mia!”, which relied on extremely well-choreographed musical sequences, the great majority of musical bits in “Dear Evan Hansen” has a distinct lack of choreography, which many could interpret as a negative thing. To me, however, this creative choice ends up adding a more raw, authentic and human flair to the adaptation, as if Levenson wanted to say something like: “Why the hell would they be dancing, if their life is that tough?”. That choice reminded me a lot of the musical approach in the fantastic “Once”, directed by John Carney, who made extremely similar choices to insert the songs in the narrative's context.

I loved how Levenson managed to adapt these already-known characters to a whole new audience, and especially how he explored the emotional masks that each one uses in order to hide what they're truly feeling at that specific moment, with the objective of not pushing away those around them. Levenson approaches that theme in such a sensational way, it ends up imprinted in the cast's performances, which will be talked about later on. Something I found to be quite interesting is that none of the teenage characters here is part of a classic coming-of-age stereotype, which led me back immediately to “The Perks of Being a Wallflower”, from the same director as this one, where every teenager reaches a place of equality. No cliques, no separate groups, just imperfect teenagers with their own particular problems.

The screenwriter manages to make us feel sympathetic and sorry for the main character right from the start, just from the way he approaches the character on the page. His tics, the extremely fast speech he applies to his dialogue, his hyperventilating, his introverted physicality. If you don't feel sympathy for Evan from the minute he appears onscreen, by seeing him interact with other people, Levenson has failed in one of his most important missions as a screenwriter for both the source material and the adaptation.

Speaking of the protagonist, Levenson manages to work really well with all the themes that left a mark on the original material, and he updates them for the big screen in an accessible and, mainly, universal way. The intricately delicate way with which Levenson deals with ever-so-present themes in our days, such as grief, loss, loneliness, the difficulty of connecting with other people, suicide and mental health awareness (themes that, as a matter of fact, became even more relevant due to the conditions imposed by the COVID-19 pandemic) allows “Dear Evan Hansen” to have something to say to every person who ever felt alone during these difficult times.

Through the encouraging songs, Levenson and composers Benj Pasek and Justin Paul manage to offer a source of comfort, optimism and hope for better days. And that, in a time where many people have lost their loved ones, is something simply priceless and necessary for today's times. To me, every school should organize private screenings for high school students to watch this film, because, whether you like it or not, they're the ones who Chbosky, Levenson and the cast want to reach. Critics might have argued that the film's themes were dealt with in a shallow and superficial way, but there's no doubt that its message will have a much larger chance of being understood by a younger audience, just like it captivated and devastated me in such a way, that I almost cried in a few scenes.

The process of adapting the source material had its ups and downs. On one way, Levenson managed to make some characters and situations even more human, adding brand-new subplots, making necessary changes to the story and digging deeper into characters that didn't get a better development onstage. A clear example of that is the character Alana, played by Amandla Stenberg. In the original musical, she is one of the worst characters in the plot, in my opinion. She's annoying, and seems to get herself involved in the main plot to chase after her own interests, quite similarly to Rachel Berry, from “Glee”. Yet in the movie, Stenberg transforms an apparently robotic character into a plain, imperfect human being, which allows the viewer to create a much stronger emotional connection with the character, especially when relying on the aid of a brand-new original song.

However, while some characters are dealt with in a deeper way in the adaptation, others lose the development that left a mark on them in the source material. This becomes quite clear when it comes to the portrayal of Evan's mom, played by Julianne Moore. In the stage musical, Evan's mom plays a main role in the protagonist's development. With three songs, Heidi manages to confront, comfort and encourage her son to do the right thing and fulfill his responsabilities in life. Because of the material's reduction for the adaptation, this relationship between the two of them doesn't come out as developed, and Levenson ends up letting other characters help out with Evan's development, leaving Heidi with only one crucial moment for the protagonist's narrative arc. Even if this choice doesn't match the source material, it works and, honestly, it's enough for the story to move forward and transmit its message to the viewer.

To sum it up, the screenplay for the film adaptation of “Dear Evan Hansen” makes some significant changes to the source material (some of which could be applied to the stage musical), to bring joy to some and sadness to others, but screenwriter Steven Levenson manages to adapt his own text to a new medium in a way that's accessible and universal to a whole new generation of viewers. Levenson's text charms and captivates because of its characters' human and honest development, and the current character of the themes approached in the original material, resulting in the best musical of 2021 so far. Don't go for the critics, just watch it and enjoy.)



O elenco da adaptação de “Querido Evan Hansen” foi algo que causou bastante controvérsia entre jornalistas de cinema e até fãs do musical, especialmente em relação à escalação de Ben Platt como Evan. Em 2017, Platt venceu o Tony de Melhor Ator em um Musical por sua performance na Broadway como o protagonista, e quando fora anunciado que o ator iria reprisar seu papel nas telonas, houveram duas principais razões para fundamentar as reações negativas. A primeira seria a idade de Platt. Enquanto os outros atores que interpretam adolescentes são mais velhos do que os seus papéis, mas ainda conseguem passar por jovens de 17 anos, a diferença na fisicalidade destes atores em relação à Platt, com 27 anos, é bem visível. Não foi algo que me incomodou, mas certamente foi um ponto negativo para muita gente.

Houve também muita polêmica pelo fato do pai de Platt, Marc, ser produtor da adaptação, levando as pessoas a acreditarem que a escalação do ator fosse um caso de nepotismo, onde um parente (no caso, o filho) ganharia o papel principal, em detrimento de outras pessoas que fizeram audição para o papel. Mas fico muito feliz em dizer que, novamente, as críticas negativas são jogadas no lixo ao vermos, por conta própria, Platt reprisando o papel que mais marcou sua carreira. Para mim, não importou realmente que o ator fosse velho demais pro papel ou que o pai dele tenha sido um produtor do filme, porque Ben Platt É Evan Hansen. Podem ter outros atores que talvez fizeram um papel melhor com o personagem no palco? Claro. Mas não há dúvidas que o ator que vem à cabeça das pessoas e fãs mais frequentemente ao pensar em Evan seja, de fato, Ben Platt. Afinal de contas, é a voz dele presente na trilha sonora oficial do musical de palco.

E, na minha opinião, foi um absoluto deleite ver Platt encarnando Evan Hansen mais uma vez. Como dito anteriormente, a fisicalidade dele é muito bem trabalhada. Os tiques nervosos; a maneira rápida com que o ator conduz seus diálogos; o jeito meio corcunda, com as mãos nos bolsos ou nas alças da mochila, presente no andar do personagem; a respiração sempre ofegante e hiperventilada. Platt investe em uma performance essencialmente física e expressiva para retratar a ansiedade de seu personagem. A voz dele, mesmo depois de 5 anos, continua impecável. Parece até que o personagem se torna uma pessoa completamente diferente durante os números musicais. Ao invés de esconder suas emoções, o ator as despeja aos montes ao cantar. É algo, ao mesmo tempo, devastador e lindo, e Platt sabe exatamente como manipular sua voz para provocar emoções no espectador, o que é maravilhoso. Se as críticas não fossem tão negativas, confiaria plenamente em uma indicação ao Oscar de Melhor Ator para ele.

Quem me conhece sabe o quanto eu sou apaixonado pela Kaitlyn Dever. As performances dela em “Short Term 12”, “Fora de Série” e “Inacreditável” são absolutamente arrebatadoras, e o papel da Zoe cai como uma luva na atriz. Gostei bastante de como ela começa a trama principal como uma pessoa bastante amargurada, e com o passar do tempo, ela vai se abrindo gradualmente à novas emoções. Eu gostei bastante das similaridades entre as performances de Platt como Evan e do Colton Ryan como Connor. Assim como Evan, Connor tem dificuldades em se conectar com outras pessoas, e, mesmo que seu personagem tenha pouco tempo de tela, Ryan consegue expôr as vulnerabilidades de Connor de uma maneira bem sensível e delicada, o que eu achei bem legal. Há uma canção original cantada por Ryan que faz um ótimo trabalho em trazer mais profundidade para o personagem, algo que não aconteceu no musical de palco.

O Nik Dodani interpreta um ótimo alívio cômico, mas confesso que senti falta do caráter mais extrovertido que seu personagem possui no material original. A Amandla Stenberg consegue redimir com perfeição uma das piores personagens do musical de palco, injetando Alana com uma quantidade enorme de personalidade, sensibilidade e vulnerabilidade, o que a transforma em alguém com quem o espectador possa se identificar. Falarei da trilha sonora mais pra frente, mas há uma canção co-composta por Stenberg que me destruiu emocionalmente, pelo retrato que a canção faz de viver com ansiedade e depressão, mas escondê-las das outras pessoas.

Enquanto os personagens adolescentes ganham mais visibilidade, porque afinal, a história é sobre eles, os adultos, que tinham um papel principal no desenvolvimento dos protagonistas, foram reduzidos à poucas aparições. A Amy Adams está maravilhosa aqui, em especial ao sempre tentar esconder as verdadeiras emoções passando pela cabeça de sua personagem, mascarando-as com um sorriso falso, mas, ao mesmo tempo, reconfortante e acolhedor. Eu queria muito ter ouvido mais da voz dela, que é simplesmente linda. O Danny Pino interpreta um dos personagens mais prejudicados pelo trabalho de adaptação. No musical original, o pai de Connor encontra um último recurso para lembrar do filho falecido em Evan, despejando no protagonista tudo aquilo que ele gostaria de ter compartilhado com o filho. É algo bem triste de se ver, e diz muito sobre como as pessoas lidam com o luto, mas infelizmente, isso não ocorre no filme. O personagem de Pino é reduzido à padrasto de Connor e, enquanto isso consiga trazer um conflito em relação ao conceito de família, não chega perto do desenvolvimento dele no musical de palco.

Agora, eu fiquei bem triste pelo desenvolvimento da mãe de Evan, interpretada pela Julianne Moore, ter sido reduzido pela adaptação. Entendo que, para fazer uma adaptação, é preciso moldar o material original às demandas e necessidades do novo meio, mas excluir quase completamente o desenvolvimento de uma das personagens cruciais do material original é outra história. É bem interessante ver o contraste entre a família de Evan e a família de Connor, em termos financeiros, e o momento em que Heidi decide soltar a voz para confortar o filho é simplesmente de cortar o coração, mas isso, no mesmo caso de Pino, não substitui o desenvolvimento que os personagens tiveram no musical de palco.

(The cast of the “Dear Evan Hansen” was something that caused a lot of controversy between movie journalists and even fans of the musical, especially when it comes to Ben Platt's casting as Evan. In 2017, Platt won the Tony Award for Best Leading Actor in a Musical for his Broadway portrayal of the protagonist, and when it was announced that he was set to reprise his role in the big screen, there were two main reasons to argue its negative reaction. The first one would be Platt's age. While the other actors who play teenagers are still older than their characters, but manage to pass through as such, the difference between these actors' physicality and Platt's, who was 27 when filming the adaptation, is quite visible. It didn't bother me, but it certainly was a no-no to many people.

Then, there was a lot of controversy regarding the fact that Platt's father, Marc, is a producer in the adaptation, leading people to believe that the actor's casting was a case of nepotism, where a relative (in this case, the son) would get the main role, in spite of all the other people that auditioned for it. But I'm really glad to say that, once again, all negative reactions are thrown in the trash when you witness, for yourself, Platt reprising his most memorable role. To me, it didn't really matter about his age or his father being a producer, because Ben Platt IS Evan Hansen. Can there be other actors that maybe did a better job with the character onstage? Sure. But there's no doubt that the actor that most frequently comes on people's heads when thinking about Evan is, indeed, Ben Platt. After all, it's his voice we hear on the stage musical's official soundtrack.

In my opinion, it was an absolute delight to see Platt embodying Evan Hansen once again. As previously said, he works really well with his physicality. His nervous tics; the fast way the actor works through his dialogue; the hunched way, with hands in pockets or backpack straps, in the character's walk; his always panting and hyperventilated breathing. Platt commits to an essentially physical performance in order to portray his character's anxiety. His voice, even after 5 years, remains flawless. It seems like his character becomes an entirely different person in the musical numbers. Instead of hiding his emotions, Platt pours them over by the pound when singing. It's something simultaneously devastating and beautiful, and Platt knows how to manipulate his voice to provoke certain emotions in the viewer, which is amazing. If reviews weren't so negative, I'd fully chip in for an Oscar nomination for Best Actor.

Who knows me knows how much in love I am with Kaitlyn Dever. Her performances in “Short Term 12”, “Booksmart” and “Unbelievable” are absolutely amazing, and the role of Zoe fits the actress like a glove. I really liked how she starts off the main plot as someone completely bittered, and as time goes by, she slowly opens herself to new emotions. I really enjoyed the similarities between Platt's performance as Evan and Colton Ryan's as Connor. Just like Evan, Connor has difficulties in connecting with other people and, even though his character has little screen time, Ryan manages to expose Connor's vulnerabilities in a very sensitive and delicate way, which I loved. There's an original song sung by Ryan that does a great job in adding depth to the character, which didn't happen in the stage musical.

Nik Dodani plays a really good comic relief, but I confess that I missed the more extroverted attitude his character has in the original material. Amandla Stenberg manages to perfectly redeems one of the stage musical's worst characters, injecting Alana with an enormous amount of personality, sensitivity and vulnerability, which transforms her into someone the viewer can relate to. I'll talk about the soundtrack later on, but there's a song co-written by Stenberg that emotionally wrecked me, because of its portrayal of how it's like to live with anxiety and depression, but hiding them from other people.

While the teenage characters gain more visibility, because after all, the story's about them, the grown-ups, that played a main role in the protagonists' development, are reduced to only a few appearances. Amy Adams is wonderful here, especially when it comes to hiding the true emotions going through her character's head, masking them with a fake, yet, comforting and welcoming smile. I wish I could've heard more of her singing voice, which is simply beautiful. Danny Pino plays one of the characters that suffered the most damage in the adaptation, in terms of development. In the original musical, Connor's dad finds a last resource in remembering his late son in Evan, pouring over him everything he wished he had shared with his son. It's something really sad, and it says a lot on how some people deal with grief, but unfortunately, that doesn't happen in the film. Pino's character is reduced to Connor's stepfather and, while that manages to bring out some conflict on the meaning of family, it doesn't come even close to his development in the musical.

Now, I was really sad that the development of Evan's mom, played by Julianne Moore, was reduced for the adaptation. I get it that, to make an adaptation, you have to shape the material into the new medium's needs and demands, but excluding almost completely the development of one of the plot's key characters is a whole 'nother story. It's quite interesting to see the differences between Evan and Connor's families, financially, and the moment when Heidi decides to open up and comfort her son is simply heart-wrenching, but that, like Pino's case, can't serve as a replacement for the characters' development in the original stage musical.)



Os aspectos técnicos, como praticamente tudo nesse filme, foi alvo de reações negativas pela crítica internacional. Eu, pelo contrário, acho que a direção de fotografia do Brandon Trost e a montagem da Anne McCabe fizeram um trabalho brilhante em retratar a ansiedade social severa da qual o protagonista sofre. Há um uso bem legal de profundidade, especialmente quando o cenário está rodeado de personagens e figurantes andando pra lá e pra cá. Consegue traduzir muito bem como é estar sozinho em um lugar repleto de pessoas. Já a montagem faz uso de cortes bem rápidos, o que pode ser meio ruim para algumas pessoas, mas é um retrato perfeito do nervosismo e ansiedade que passam pela cabeça do protagonista.

Estes dois aspectos técnicos também trabalham juntos de maneira muito bem calculada ao criar diferentes pontos de vista sobre uma mesma cena. Por exemplo, há uma sequência no início que é vista pela perspectiva do Evan e, depois, esta mesma cena é revisitada sob a perspectiva de outro personagem. E o mais interessante é que enquanto a primeira vez destaca as diferenças entre os personagens, a segunda vez ressalta as semelhanças entre eles. Achei isso bem legal. Os números musicais são muito bem trabalhados, e são bem realistas. Como a grande maioria das canções poderia servir como diálogo, não há um uso extenso de coreografia nessas sequências. Mas há uma em particular, minha favorita, que usa a coreografia de uma maneira brilhante.

E por fim, temos o que faz de um musical um musical: a trilha sonora, composta pela dupla de compositores Benj Pasek e Justin Paul, responsáveis pelas trilhas sonoras já icônicas de “La La Land” e “O Rei do Show”. Já era familiarizado com a grande maioria das canções do musical original, que são absolutamente lindas e ajudam bastante a transmitir a mensagem geral do filme, sobre solidão, luto e perda. Mas o que realmente me chamou a atenção foram as duas canções originais compostas especificamente para a adaptação, as quais trazem aprofundamento para personagens que tiveram um desenvolvimento abaixo do esperado no material fonte, e ajudam a reforçar a mensagem do filme. Há uma específica, “The Anonymous Ones”, cantada pela personagem de Amandla Stenberg, que pode ter grandes chances no Oscar de Melhor Canção Original.

(The technical aspects, much like everything else in this film, was a target of negative reactions by international critics. I, on the other hand, think that Brandon Trost's cinematography and Anne McCabe's editing did a brilliant job in portraying the severe social anxiety that the protagonist is suffering from. There's a really nice use of depth, especially when the set is crowded with characters and extras walking here and there. It manages to translate really well how it's like to feel alone in a place that's full of people. The editing makes use of rapid and fast cuts, which might be a bit bad for some, but it's a perfect portrayal of the nervousness and anxiety that go through the protagonist's head.

These two technical aspects also work together in a really well-calculated way in order to create different points of view over the same scene. For example, there's a sequence early on that's seen under Evan's perspective, then, later on, that same scene is revisited through the perspective of another character. And the most interesting thing is that the first time highlights the differences between both characters, yet the second one gives focus to the similarities between them. I thought that was really nice. The musical numbers are really well-done, and very realistic. As many of the songs could be expressed through dialogue, there isn't a great use of choreography in these sequences. But there is one in particular, my favorite one, that uses the choreography in a brilliant way.

And finally, we have what makes a musical a musical: the soundtrack, composed by writing duo Benj Pasek and Justin Paul, who were responsible for gifting us with the already iconic songs from both “La La Land” and “The Greatest Showman”. I was already famíliar with most of the songs from the original musical, which are simply beautiful and help transmitting the film's general message, on loneliness, grief and loss. But what really caught my attention were the two original songs written specifically for the adaptation, both of which bring depth to characters who had a below-average development onstage, and help reinforce the film's message. There's a particular one, “The Anonymous Ones”, sung by Amandla Stenberg's character, that I think has big chances in the Oscar race for Best Original Song.)



Queridos cinéfilos, hoje vai ser um dia incrível e aí vai o porquê: a adaptação de “Querido Evan Hansen” para as telonas é um triunfo. Munido de um roteiro tocante, relevante e atualizado; performances altamente dedicadas de um elenco mega talentoso; e aspectos técnicos que ajudam a reforçar uma mensagem absolutamente necessária nos dias de hoje, sobre solidão, luto, perda e a dificuldade de se conectar com outras pessoas, Stephen Chbosky e companhia conseguem entregar o melhor musical de 2021 até agora, e um dos melhores filmes do ano!

Nota: 9,5 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Sinceramente,

João Pedro

(Dear film buffs, today is going to be an amazing day and here's why: the film adaptation of “Dear Evan Hansen” is a big-screen triumph. Armed with a touching, relevant and updated screenplay, highly committed performances by a cast that's overflowing with talent, and technical aspects that help reinforcing an absolutely necessary message for today, on loneliness, grief, loss, and difficulty in connecting with other people, Stephen Chbosky and his cast and crew manage to deliver the best movie musical of 2021 so far, and one of the best movies of the year!

I give it a 9,5 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! Sincerely,

João Pedro)

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

"Missa da Meia-Noite": a melhor obra lançada pela Netflix em 2021 até agora (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para falar sobre um dos lançamentos mais recentes no catálogo original da Netflix! Comandada por um dos melhores, se não o melhor diretor de terror da atualidade, a minissérie em questão encontra seu autor em sua melhor forma, contando uma história pessoal e cativante, povoada por personagens multifacetados e envolta em uma atmosfera que está sempre em crescimento; e, ao mesmo tempo, meditando sobre temas delicados como a religião e a morte de maneira surpreendentemente reflexiva. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre a minissérie “Missa da Meia-Noite”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to talk about one of the most recent releases on Netflix's original programming catalog! Spearheaded by one of the best, if not the best horror filmmaker of our time, the limited series I'm about to review finds its author in his finest form, telling a personal, captivating story, populated by layered characters and wrapped around an atmosphere that's in constant growth; and, at the same time, meditating on delicate themes such as religion and death in a surprisingly thought-provoking way. So, without further ado, let's talk about the limited series “Midnight Mass”. Let's go!)



A minissérie acompanha Riley Flynn (Zach Gilford), um homem que, quatro anos após atropelar e matar uma jovem enquanto dirigia bêbado, é solto da prisão e retorna para sua terra natal, uma ilha minúscula povoada por menos de 150 pessoas, a qual começa a testemunhar um renascimento religioso e alguns eventos sobrenaturais com a chegada de um novo e misterioso padre (Hamish Linklater) na comunidade.

(The limited series follows Riley Flynn (Zach Gilford), a man who, four years after killing a young woman during a hit and run while drunk driving, is released from prison and returns to his homeland, a tiny island populated by less than 150 people, which begins to experience a religious rebirth, as well as some supernatural events, with the arrival of a new and mysterious priest (Hamish Linklater) in the community.)



Ok, para começar, minhas expectativas para assistir “Missa da Meia-Noite” estavam bem altas, mais altas até do que para muitos filmes que ainda serão lançados este ano. A razão do porquê das minhas expectativas estarem assim era bem simples: era uma minissérie criada, escrita e inteiramente dirigida pelo Mike Flanagan, diretor norte-americano responsável por nos trazer algumas das melhores obras de terror dos últimos tempos, como os filmes “Hush: A Morte Ouve”, “Jogo Perigoso” e “Doutor Sono”, e as minisséries “A Maldição da Residência Hill” e “A Maldição da Mansão Bly”, que foram exclusivamente lançadas no catálogo original da Netflix.

“Ok, mas por quê o fato de 'Missa da Meia-Noite' ser criado por Mike Flanagan importa?”, vocês podem perguntar. Bom, isso importa porque, pelo menos na minha opinião, um dos principais diferenciais de Flanagan em relação a outros diretores de terror é que ele sempre consegue fazer uma relação uniformemente orgânica entre os aspectos sobrenaturais do terror, como fantasmas, espíritos e demônios, e os aspectos mais humanos e realistas do gênero, como o medo, a perda e, principalmente, o trauma. E quase sempre, os aspectos sobrenaturais podem ser interpretados como metáforas para estes temas mais humanos.

Outro diferencial de Flanagan é que, seja um filme ou série, ele sempre desenvolve os seus personagens de maneira detalhada e abrangente, mas ao mesmo tempo, íntima e contida. Algo a ser observado é que todos os protagonistas dos filmes do diretor possuem um arco narrativo com início, meio e fim muito bem definidos, descartando a possibilidade de futuras sequências, o que explicaria o fato de que nenhuma das suas obras possui uma continuação. Um último diferencial que gostaria de destacar é a distinta falta de sustos baratos nas obras do diretor. Ao invés de investir nos típicos jumpscares característicos do gênero, Flanagan mergulha o espectador em uma atmosfera enervante e perturbadora, que surte um efeito até maior em nós, como testemunhas da construção desta atmosfera.

E, se estas razões não bastassem, Mike Flanagan fez o que era aparentemente impossível: fazer Stephen King odiar menos uma de suas adaptações mais aclamadas e, ao mesmo tempo, infames. Através de sua adaptação de “Doutor Sono”, o diretor fez com que o filme fosse, ao mesmo tempo, fiel ao livro de mesmo nome e condizente com a continuidade de “O Iluminado”, de Stanley Kubrick, adaptação de 1980 que foi massacrada por King, com o autor comparando o filme à um “Cadillac sem motor”.

Mas, graças à habilidade de Flanagan com o gênero (a qual recebeu o selo de aprovação do Mestre do Terror), King deu a sua bênção para que o diretor utilizasse elementos do filme de Kubrick para sua adaptação de “Doutor Sono”. E desde o lançamento do filme em 2019, King diz que Flanagan “redimiu” a adaptação de Kubrick, no ponto de vista dele. Então, resumindo, sim: minhas expectativas estavam consideravelmente altas para assistir “Missa da Meia-Noite”. E fico muito feliz em dizer que, como eu esperava, Mike Flanagan nos entregou mais uma obra-prima de terror contemporâneo.

Ok, com isso dito, vamos falar do roteiro. Escrito pelo próprio diretor, e contando com colaborações de outros roteiristas, o enredo de “Missa da Meia-Noite” já chama a nossa atenção pelo caráter pessoal que ele tem para seu criador. Sóbrio por três anos, Flanagan transitou entre várias crenças devido à um passado de alcoolismo, e teve um interesse contínuo desde então em explorar a fé em suas obras, em especial a fé em suas formas mais extremas. “Eu sou fascinado pela forma com que nossas crenças moldam o jeito que tratamos uns aos outros”, disse Flanagan em entrevista ao New York Times, mas vamos chegar nos temas em que a série aborda daqui a pouco.

Antes, gostaria de falar um pouco sobre os aspectos gerais da narrativa, e o primeiro que gostaria de destacar é o passo. Com a série sendo composta por 7 episódios de 60 minutos cada, o passo mais lento de “Missa da Meia-Noite” é uma das principais ferramentas utilizadas pelo diretor para construir tanto uma ambientação quanto personagens que ganhem a atenção e a simpatia do espectador. A ausência de um passo mais acelerado colabora para uma narrativa mais envolvente, nos mergulhando em uma experiência que, ao mesmo tempo, nos incentiva a ver o que acontece a seguir e nos motiva a assistir com paciência, para não acabar cedo demais.

Posso dizer com tranquilidade que foi exatamente isso o que aconteceu comigo, enquanto assistia a minissérie com meu pai. Todo episódio me deixava boquiaberto quando os créditos começavam a aparecer, e eu ficava tipo: “Meu Deus, o que vai acontecer agora?”, aumentando as minhas expectativas para o próximo capítulo, que assistiria no dia seguinte. Mas ao mesmo tempo, uma parte dentro de mim ficava um pouco triste, porque eu estava cada vez mais perto da conclusão da história e ainda não estava pronto para me despedir destes personagens. Felizmente, o episódio final é extremamente satisfatório e finaliza a narrativa sem deixar nenhuma ponta solta, resultando, mais uma vez, em uma história surpreendentemente contida.

Outro destaque de “Missa da Meia-Noite” fica com os personagens, que são muito bem desenvolvidos e me lembraram bastante de alguns que foram criados por Stephen King. Falando no Mestre, em sua autobiografia “Sobre a Escrita”, King diz que um dos pontos mais importantes para se escrever bem é “falar sobre o que você sabe”. Assim como King fez vários de seus protagonistas serem escritores, Flanagan aplica aspectos do seu próprio passado em praticamente todos os personagens de “Missa da Meia-Noite”, como um ex-alcoólatra e ex-coroinha por 12 anos que passou parte da sua infância em uma ilha minúscula ao sul de Manhattan. Felizmente, todos os personagens centrais têm bastante tempo para desenvolverem seus arcos narrativos. Flanagan, às vezes, separa um episódio ou outro para sair da trama principal e focar em um ou dois personagens em particular, e o diretor consegue muito bem inserir estes estudos de personagem dentro da trama principal.

Outro ponto positivo seria a atmosfera, que pode ser comparada à uma chaleira com água em um fogão aceso. Nos dois primeiros episódios, a água começa a esquentar de forma lenta, mas gradual; nos episódios três a cinco, a temperatura vai aumentando e a fumaça começa a subir; e nos episódios seis e sete, a chaleira já está assobiando de tão quente. É basicamente deste jeito que Flanagan desenvolve a atmosfera de “Missa da Meia-Noite”. O terror começa se manifestando de maneira gradual, e estas manifestações se tornam cada vez mais frequentes ao longo da trama, ao ponto de virar algo realmente aterrorizante e surpreendente na reta final.

E é bem interessante como o diretor consegue desenvolver dois tipos diferentes de terror de forma simultânea aqui: além do trauma (tema frequentemente explorado nas obras de Flanagan), perda, luto e outros terrores mais “humanos”; há também algumas partes que nos remetem à verdadeiros clássicos tradicionais do gênero, e colaboram para que várias reviravoltas peguem o espectador de surpresa. Mas, para não entrar em território de spoiler, não vou entrar em detalhes sobre isso.

Agora, vamos ao que realmente me surpreendeu neste trabalho de Flanagan: a abordagem que a minissérie faz em respeito à fé, crenças e religião. Religião e terror inerentemente andam de mãos dadas, com as crenças possuindo um papel importante em obras como “O Exorcista”, “A Profecia” e “O Bebê de Rosemary”, para dar alguns exemplos. Mas, diferentemente destas obras, a religião assume um protagonismo impressionante em “Missa da Meia-Noite”, e este dilema sobre crenças é explorado de várias maneiras na série: através do contraste entre a grande maioria católica da população da ilha e o xerife da comunidade, que é um muçulmano praticante; através da dinâmica entre o protagonista, Riley, que encontra desafios e dúvidas em relação à sua fé após matar uma pessoa em um acidente, e o padre novato, que acaba de chegar na ilha; através da manipulação sofrida por um dos personagens principais em relação às suas crenças, o que me lembrou bastante da abordagem feita no filme “O Diabo de Cada Dia”, também da Netflix.

O enredo de “Missa da Meia-Noite” é povoado por uma variedade de fiéis que se encontram em diferentes estágios de crença: temos a devota; o que tem a crença diferente dos demais; o que perde a crença devido à algum evento traumatizante; a que tem suas crenças, mas tem um pouco de vergonha de assumi-las publicamente; o que tem suas crenças impostas pela família, mas se vê atraído por religiões diferentes. E talvez o mais mágico sobre esta abordagem de um tema tão sensível como a religião é como Flanagan consegue lidar com estes temas de forma impessoal, de modo que ele não apoia uma crença e demoniza a outra na trama.

Ele faz com que todas as crenças abordadas atinjam um patamar de igualdade, de modo que ele não expressa de forma explícita se elas estão certas ou erradas. Tal abordagem faz com que “Missa da Meia-Noite” tenha algo a dizer sobre as crenças de praticamente todo espectador disposto a viajar para a Ilha Crockett por 7 dias (ou em um dia só, dependendo do itinerário... [Risos]). Eu, particularmente, achei esta abordagem brilhante, e ganha até um quê a mais de autenticidade por ser algo pessoal para o criador da história.

Resumindo, o enredo de “Missa da Meia-Noite” se desenvolve como um bom livro de Stephen King, sendo repleto de personagens fascinantes e reviravoltas chocantes que aumentam as expectativas do espectador para o que virá a seguir. Mas, ao mesmo tempo, a minissérie possui um início, meio e fim extremamente bem definidos, o que pode deixar um gosto agridoce na boca do espectador ao se aproximar da conclusão.

Mais uma vez, Mike Flanagan trabalha muito bem os aspectos humanos e sobrenaturais do terror, adicionando uma meditação pessoal fascinante (e surpreendentemente reflexiva) sobre a religião, a morte e a fé em suas diferentes formas. Com essa fórmula nas mãos, o diretor acaba nos entregando mais uma obra-prima contemporânea do gênero. É definitivamente a melhor coisa que a Netflix lançou este ano até agora, junto com o especial de comédia “Bo Burnham: Inside”. Simplesmente imperdível.

(Okay, for starters, my expectations to watch “Midnight Mass” were pretty high, even higher than to watch many films that will still be released this year. The reason why my expectations were reaching that level was quite simple: it was a limited series that was created, written and entirely directed by Mike Flanagan, an American filmmaker who was responsible for bringing us some of the best horror films and TV shows of the last 5 years, such as the films “Hush”, “Gerald's Game” and “Doctor Sleep”, and the limited shows “The Haunting of Hill House” and “The Haunting of Bly Manor”, which were exclusively released on Netflix's original catalog.

“Okay, but why does the fact that Mike Flanagan created 'Midnight Mass' matters?”, you may ask. Well, that matters because, at least under my point of view, one of the main things that make Flanagan different from other horror filmmakers is that he always finds a way of creating an uniformly organic relationship between the supernatural aspects of horror, such as ghosts, spirits and demons, and the more realistic and human aspects in the genre, such as fear, loss, and mainly, trauma. And almost always, the supernatural aspects can be interpreted as metaphors for these more human themes.

Another thing that makes Flanagan different from anyone else is that, whether it's a film or a show, he always develops his characters in a detailed and expansive, yet intimate and contained way. Something worth pointing out is that every protagonist in the director's work has a narrative arc with a very well-defined structure of beginning, middle and ending, discarding the possibility of future installments, which might explain the fact that none of his work has a continuation of some sort. One last difference that I'd like to point out about him is the distinct lack of cheap scares in his films and TV shows. Instead of relying on the genre's characteristic jumpscares, Flanagan plunges the viewer deep into an unnerving and disturbing atmosphere, which is even more impactful for us, as witnesses of that atmosphere's construction.

And if those reasons weren't enough, Mike Flanagan did what was apparently impossible: making Stephen King hate one of his most acclaimed yet infamous adaptations a little less. Through his adaptation of “Doctor Sleep”, the filmmaker found a way of making the film, at the same time, faithful to the novel of the same name and communicative with the continuity established in Stanley Kubrick's “The Shining”, a 1980 adaptation that was massacred by King, with the author comparing it to a “Cadillac with no engine”.

But, thanks to Flanagan's abilities with the genre (which received the Master of Horror's seal of approval), King gave the director his blessing to use aspects of Kubrick's film for his adaptation of “Doctor Sleep”. And ever since the release of the film in 2019, King says that Flanagan “redeemed” Kubrick's adaptation, on his point of view. So, to sum it up, yes: my expectations were considerably high to watch “Midnight Mass”. And I'm really glad to say that, as I expected, Mike Flanagan has delivered yet another masterpiece in contemporary horror.

Okay, with that said, let's talk about the screenplay. Written by the director himself, and relying on collaborations with other screenwriters, the plot for “Midnight Mass” already catches our attention for the personal character it has for its creator. A man who has been sober for the last 3 years, Flanagan has traveled through several beliefs due to a past of alcoholism, and ever since had a continuous interest in exploring faith in his work, especially faith in its most extreme forms. “I'm fascinated by how our beliefs shape how we treat each other”, said Flanagan to the New York Times, but we'll get to the themes it approaches in a minute.

Before that, I'd like to discuss more about the general aspects of the narrative, and the first one I'd like to highlight is the pacing. With the show being composed by 7 episodes running 60 minutes each, the slower pace of “Midnight Mass” is one of the main tools used by the director to build both a setting and characters that catch the viewer's attention and sympathy right from the start. The absence of a faster pace collaborates for a more involving and engaging narrative, plunging us into an experience that, simultaneously, makes us want to see what happens next and motivates us to watch with patience, so that it doesn't end that soon.

I can safely say that that was exactly what happened to me, while I watched the limited series with my father. Every episode left my jaw dropped to the floor when the credits started to roll, and I was like: “Oh, my God! What's going to happen now?”, increasing my expectations for the next chapter, which I would watch on the next day. But at the same time, a part of me got a little sad, because I knew I was getting closer to the story's conclusion and I didn't want to say goodbye to these characters just yet. Fortunately, the final episode is extremely satisfying and caps off the narrative by tying all loose ends, resulting, again, in a surprisingly contained story.

Another highlight of “Midnight Mass” stays with the characters, who are exquisitely well-developed and reminded me a lot of some written by Stephen King, in some parts. Speaking of the Master, in his memoir “On Writing”, King says that one of the most important points for someone to write well is to “talk about what you know”. Just like King made writers out of several of his protagonists, Flanagan applies aspects of his own past into practically every character in “Midnight Mass”, as someone who's been a former alcoholic and former altar boy for 12 years and who lived part of his childhood in a tiny, isolated island south of Manhattan. Fortunately, every central character has plenty of time to develop their narrative arcs. Flanagan, at times, sets apart one or two episodes to deviate from the main plot and focus on one or more particular characters, and the director manages to insert these character studies into the main plotline really well.

Another positive point would be the atmosphere, which could be compared to a boiling kettle on a stove. In the first two episodes, the water starts to get hot slowly, yet gradually; in episodes three through five, the temperature rises more and more and smoke starts to come out; and in episodes six and seven, the kettle starts whistling because of the heat inside of it. It's basically that way that Flanagan builds the atmosphere of “Midnight Mass”. The horror starts manifesting itself slowly and gradually, and these manifestations become more and more frequent throughout the plot, to the point it becomes something surprisingly terrifying by its conclusion.

And it's pretty interesting how the director manages to develop two different types of horror simultaneously here: besides trauma (a theme frequently explored in Mike Flanagan's work), loss, grief, and other more “human” horrors; there are also some parts that remind us of true traditional genre classics, and collaborate for several plot twists to catch the viewer by surprise. But, in order to avoid spoilers throughout this review, I won't delve into this any further.

Now, let's head to what really surprised me in this particular Flanagan piece: the miniseries's approach on faith, beliefs and religion. Religion and horror inherently walk hand-in-hand, with beliefs playing an important role in works such as “The Exorcist”, “The Omen” and “Rosemary's Baby”, to name a few examples. But, unlike these works, religion takes on an impressive protagonist role in “Midnight Mass”, and this dilemma over beliefs is explored in various ways throughout the series: through the contrast between the great Catholic majority of the island's population and the community's sheriff, a practicing Muslim; through the dynamics between protagonist Riley, who finds himself doubtful on his faith after killing someone in an accident, and the newly-arrived priest, who arrives suddenly on the island; through the manipulation suffered by one of the main characters regarding their beliefs, which reminded me a lot of the film “The Devil All the Time”, also on Netflix.

The plot of “Midnight Mass” is populated by a variety of believers who find themselves on different stages of faith: there's the devout one; the one that has a different belief than everyone else; the one who loses their belief due to a traumatizing event; the one that has their beliefs, but is a little embarrassed to publicly state them; the one who has their beliefs imposed by their family, but finds themselves attracted towards another religion. And probably, the most magical thing about this approach on such a sensitive theme as religion is how Flanagan manages to deal with these themes in an unbiased way, in a way that he doesn't support one faith and condemns the other in the plot.

He makes every belief approached in the show reach the same level of equality, in a way he doesn't explicitely express whether they're right or wrong. Such an approach makes “Midnight Mass” some sort of universally communicative show that has something to say about the beliefs of practically every viewer who's willing to travel to Crockett Island for 7 days (or just one, depending on their itinerary... [LOL]). I, particularly, found that approach to be brilliant, and it even gains some extra points of authenticity for being something personal to the story's creator.

To sum it up, the plot for “Midnight Mass” develops itself like a good Stephen King book, being filled with fascinating characters and shocking plot twists that enhance the viewer's expectations for what comes next. But, at the same time, the miniseries has an extremely well-defined structure of beginning, middle and ending, which might leave a bittersweet taste on the viewer's mouth when getting closer to its conclusion.

Once again, Mike Flanagan works really well with the human and supernatural aspects of horror, adding a fascinating, personal (and surprisingly thought-provoking) meditation on religion, death and faith in all its forms. With that formula on his hands, the director ends up delivering yet another contemporary masterpiece in the genre. It's definitely the best thing Netflix has released this year so far, alongside the musical comedy special “Bo Burnham: Inside”. You just can't miss it.)



Assim como nas duas minisséries anteriores do diretor para a Netflix, o elenco de “Missa da Meia-Noite” eleva as ambições do roteiro à novas alturas. Começando pela dupla de protagonistas, interpretados por Zach Gilford e Kate Siegel, que estão excelentes aqui. Os personagens dos dois atores são a principal ferramenta usada por Flanagan para transmitir o trauma e a tragédia características de seu trabalho, e Gilford e Siegel trabalham de forma excepcional com os dilemas que o roteiro impõe sobre seus personagens. Inclusive, as cenas mais reflexivas da minissérie inteira são aquelas onde os personagens deles estão juntos em tela, então prestem uma atenção extra à estas sequências.

Eu gostei muito da performance do Rahul Kohli. Ele havia interpretado um dos melhores personagens de “A Maldição da Mansão Bly”, mas aqui Kohli assume uma vibe completamente diferente. Ao invés da faceta mais acolhedora, bondosa e caridosa do Owen de “Mansão Bly”, o ator interpreta um homem amargurado que constantemente enfrenta preconceitos de parte da população da ilha por causa de sua religião. E, assim como em “Mansão Bly”, Kohli consegue fazer com que venhamos a nos importar com seu personagem logo no início. Outro destaque fica com a dupla de mãe e filha interpretada por Annabeth Gish e Alex Essoe. É bem interessante ver as personagens delas começando a trama como coadjuvantes e depois, lentamente, vê-las assumindo um protagonismo maior. Outras performances que merecem uma menção especial são a da Annarah Cymone (tem uma cena no episódio 3 que exibe as capacidades emocionais da atriz de maneira estrondosa); do Henry Thomas e da Kristin Lehman (que possuem uma química inegável em tela, mesmo quando eles não concordam em toda coisa).

Agora, vamos aos dois prováveis indicados ao Emmy ano que vem (se eles não forem ao menos indicados, não há justiça nesse mundo): Hamish Linklater, que interpreta o padre novato, e Samantha Sloyan, que interpreta a fiel mais devota da ilha. O personagem de Linklater é o que tem o desenvolvimento mais eficiente ao longo da trama. O arco narrativo dele é um dos mais bem trabalhados no roteiro. Eu adorei como, no início, nós não sabemos praticamente nada dele; aí ao longo dos episódios, nós vamos aprendendo cada vez mais sobre a história de fundo dele, e esses desdobramentos nos pegam MUITO de surpresa. Linklater, para mim, está empatado com Andrew Scott (de “Fleabag”) como “melhor atuação de alguém interpretando um padre”. As cenas onde seu personagem está fazendo sermões (e acreditem, são várias) são fervorosas e cheias de energia e paixão, que só reforçam o compromisso que o ator teve em relação ao seu papel.

E, por último, mas certamente não menos importante, temos a Samantha Sloyan, cuja personagem redefine o conceito de fanática religiosa na ficção. De forma mais intensa do que Margaret White em “Carrie, a Estranha” ou a Sra. Carmody em “O Nevoeiro”, a fé da personagem de Sloyan não é completamente cega, de modo que o espectador venha a compreender o ponto de vista dela em alguns momentos, por mais mal aplicado que possa ser em algumas situações. Há várias cenas envolvendo a personagem dela onde ela aplica certas passagens da Bíblia à algumas situações, e algumas fazem tanto sentido inseridas nestas situações, que você chega a pensar: “Cara, eu não gostaria de entrar em um embate sobre a Bíblia com uma pessoa dessas”. As performances de Linklater e Sloyan foram as únicas onde eu não pude ver os atores (tanto que eu não os conhecia até ver a série), e sim somente os personagens, o que, pra mim, é a melhor parte de uma atuação.

(Just like the director's previous two limited shows made for Netflix, the cast of “Midnight Mass” elevates the script's ambitions to greater heights. Starting off with the duo of protagonists, played by Zach Gilford and Kate Siegel, who are excellent here. The two actors' characters are the main tool Flanagan uses to transmit the characteristic themes of trauma and tragedy in his work, and Gilford and Siegel wonderfully work through the dilemmas that the screenplay imposes over their characters. As a matter of fact, the most thought-provoking scenes in the entire miniseries are those where the two of them are together onscreen, so pay extra attention to these particular sequences.

I really, really liked Rahul Kohli's performance. He had played one of the best characters in “The Haunting of Bly Manor”, but here Kohli takes on a whole different vibe. Instead of the more welcoming, kind-hearted and caring personality of Owen from “Bly Manor”, the actor plays a bittered man who faces constant prejudice from part of the island's population because of his religion. And, just like in “Bly Manor”, Kohli manages to make us care about his character right from the start. Another highlight stays with the mother-daughter duo portrayed by Annabeth Gish and Alex Essoe. It's pretty interesting to see them start out as supporting players, and then slowly, see them taking over a bigger role. Other performances that deserve a special mention are those of Annarah Cymone (there's a scene in episode 3 that displays the actress's emotional abilities wonderfully well); Henry Thomas and Kristin Lehman (who have undeniable chemistry onscreen, even when they don't see eye-to-eye).

Now, let's head to the likely Emmy nominees next year (if they don't get at least nominated, there's no justice in the world): Hamish Linklater, who portrays the newly-arrived priest, and Samantha Sloyan, who portrays the most devout believer in the island. Linklater's character is the one with the most effective development throughout the plot. His narrative arc is one of the best worked ones in the screenplay. I loved how, at first, we don't know anything about him; then throughout the episodes, we end up learning more and more about his backstory, and these unfoldings take us A LOT by surprise. Linklater, for me, is tied with Andrew Scott (from “Fleabag”) as the “best performance by someone playing a priest”. The scenes where his character is preaching sermons (and believe me, there are several) are filled with fervor, energy and passion, which only reinforce Linklater's commitment to the role.

And, at last, but certainly not least, we have Samantha Sloyan, whose character redefines the concept of religious fanatic in fiction. In a more intense way than Margaret White in “Carrie” or Mrs. Carmody in “The Mist”, Sloyan's character's faith isn't completely blind, in a way that the viewer understands her point of view in some moments, as badly applied as it might be in some situations. There are several scenes involving her character where she applies certain passages of the Bible to some situations, and a few of them make so much sense when inserted into those particular situations, that you think: “Man, I would not want to enter an argument over the Bible with someone like that.”. Linklater and Sloyan's performances were the only ones where I wasn't able to see the actors (probably because it was my first contact with both of them), but I could only see the characters, which, for me, is the best thing about a good performance.)



E, por último, mas não menos importante, temos os aspectos técnicos, os quais, assim como em toda obra de Mike Flanagan, ajudam fortemente a construir a atmosfera e tensão necessárias para a trama surtir um efeito na mente do espectador. A direção de fotografia e a montagem trabalham em conjunto para dar vida à ambientação. Há várias sequências que destacam a beleza natural da Ilha Crockett, que servem como o contraste perfeito para as cenas mais assustadoras. A direção de arte faz uso de uma paleta de cores bem acinzentada, para acentuar o caráter isolado da ambientação, o que é bem legal.

A minissérie faz um trabalho sensacional no departamento de maquiagem e penteado. Não vou entrar em detalhes para não dar nenhum spoiler, mas é absolutamente revigorante ver uma obra de terror usando o mínimo de efeitos gerados por computador possível para dar um upgrade no suspense. E este uso não só acentua a tensão, mas também ganha mais fidelidade no realismo ao retratar certas situações, o que, pra mim, é tudo que algo do gênero precisa fazer para realmente causar um impacto no espectador.

E, por fim, temos a trilha sonora original, composta pelos irmãos Newton, colaboradores frequentes do diretor Mike Flanagan. O diferencial (e a melhor coisa) desta trilha sonora é que ela é composta inteiramente por arranjos de hinos cristãos tradicionais, muitos dos quais possuem traduções para o Português. E eu, como cristão, fiquei impressionado várias vezes quando reconhecia um cântico que já havia cantado na igreja, e fiquei boquiaberto com a beleza das versões compostas pelos irmãos. Posso dizer, com tranquilidade, que é o melhor trabalho dos compositores em uma obra de Mike Flanagan, especialmente pela autenticidade que ela tem em relação à história de fundo do diretor. Simplesmente brilhante.

(And at last, but not least, we have the technical aspects, which, as in every Mike Flanagan work, are there to help build the necessary atmosphere and tension for the story to have some sort of effect on the viewer's mind. The cinematography and editing work hand-in-hand to breathe life into the show's setting. There are several sequences that highlight Crockett Island's natural beauty, which serve as the perfect contrast for the scariest scenes. The production design makes use of a gray-ish color palette, to heighten the isolated character of the setting, which is really cool.

The limited series does a sensational job in the makeup and hairstyling department. I won't delve into details to avoid giving away any spoilers, but it's absolutely invigorating to see a work of horror using as little computer-generated effects as possible to give the suspense an upgrade. And that use not only heightens the tension, as it also gives it more faithfulness in the realism when portraying certain situations, which, to me, is everything that something in the genre has to do to really cause an impact on the viewer.

And, at last, we have the original score, composed by the Newton brothers, who are frequent collaborators of director Mike Flanagan. The different (and best) thing about this original score is that it is entirely composed by arrangements of traditional Christian hymns and songs, many of which have translations to multiple languages. And I, as a Christian, was impressed several times when I recognized a song I'd already sung at church, and I was spellbound by the utter beauty in these versions composed by the Newton brothers. I can safely say that this is the composers' best work in something by Mike Flanagan, especially for its authenticity in regards to the director's background. Just brilliant.)



Resumindo, “Missa da Meia-Noite” é a melhor coisa lançada pela Netflix em 2021 até agora, juntamente com o especial de comédia “Bo Burnham: Inside”. Contando com uma história cativante, viciante, assustadora e surpreendentemente reflexiva; atuações muito dedicadas de um elenco que transborda talento; e aspectos técnicos que acentuam a atmosfera, a tensão e a beleza da ambientação, este é o melhor trabalho de Mike Flanagan até o presente momento, especialmente pelo caráter autêntico e pessoal que a história tem para seu criador. Façam a si mesmos um favor, e não percam essa minissérie.

Nota: 10 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “Midnight Mass” is the best thing Netflix has released in 2021 so far, alongside Bo Burnham's comedy special “Inside”. Relying on a captivating, addictive, terrifying and surprisingly thought-provoking story; very dedicated performances by a cast that's overflowing with talent; and technical aspects that heighten the setting's atmosphere, tension and beauty, this is Mike Flanagan's finest work to date, especially because of the story's authentic and personal tone towards its creator. Do yourselves a favor and don't miss on this miniseries.

I give it a 10 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)