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sexta-feira, 22 de outubro de 2021

"Duna": uma obra-prima épica, acessível e essencialmente fiel ao material original (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para trazer a resenha de um dos lançamentos mais aguardados de 2021, o qual já está em exibição nos cinemas de todo o país! Dirigido por um dos cineastas mais proeminentes e aclamados da nossa geração, o filme em questão adapta um material-fonte essencialmente complexo de maneira extremamente didática, agradando os fãs da história original pela fidelidade da adaptação, e convidando fãs em potencial para adentrarem sua mitologia fascinante. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Duna”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to bring the review of one of the most anticipated releases of 2021, which is now playing in theaters and streaming for 30 days on HBO Max! Helmed by one of the most standout and acclaimed filmmakers of our generation, the film I'm about to review adapts an essentially complex source material in an extremely enlightening way, pleasing the fans of the original story for the adaptation's faithfulness, and inviting potential fans to enter its enthralling and fascinating mythology. So, without further ado, let's talk about “Dune”. Let's go!)



Ambientado no ano de 10191, o filme acompanha Paul Atreides (Timothée Chalamet), o jovem herdeiro da Casa Atreides, cujo governante, o Duque Leto I (Oscar Isaac), recebe a difícil tarefa de controlar o planeta de Arrakis, um deserto sem fim, povoado por tribos nativas e enormes vermes da areia, o qual é repleto de uma especiaria capaz de tornar a viagem interestelar possível. Por causa de uma amarga traição pelas mãos de um dos aliados dos Atreides, Paul e sua mãe, Lady Jessica (Rebecca Ferguson), são forçados a aprender a viver entre os nativos de Arrakis, inconscientes de que estariam cumprindo uma profecia antiga, que pregava uma guerra iminente entre as tribos de Arrakis e os temidos Sardaukar, liderados pelo Barão Vladimir Harkonnen (Stellan Skarsgard).

(Set in the year 10191, the film follows Paul Atreides (Timothée Chalamet), the young heir to House Atreides, whose ruler, Duke Leto I (Oscar Isaac), receives the hard task of controlling the planet Arrakis, an endless desert, populated by native tribes and enormous sandworms, which is filled with a spice capable of making interstellar travelling possible. Because of a bitter betrayal by the hands of one of the Atreides' allies, Paul and his mother, Lady Jessica (Rebecca Ferguson), are forced to learn how to live among the natives of Arrakis, unaware that they would be fulfilling an ancient prophecy, which laid out an imminent war between the tribes of Arrakis and the fearsome Sardaukar, led by Baron Vladimir Harkonnen (Stellan Skarsgard).)



Creio que basicamente toda pessoa que se intitula um cinéfilo estava animada para assistir “Duna” desde que o filme fora anunciado, e existem duas grandes razões para que estas expectativas estivessem bem fundamentadas. Primeiro, havia o livro original de Frank Herbert, que foi altamente influente no mercado da ficção-científica, colaborando para a existência de obras como “Star Wars”, de George Lucas, e “Nausicaä do Vale do Vento”, de Hayao Miyazaki. Depois, havia o fato da adaptação ser dirigida pelo Denis Villeneuve, cineasta canadense que vem nos entregando obra-prima atrás de obra-prima, com filmes como “Incêndios”, “A Chegada”, “Os Suspeitos” e “Blade Runner 2049” no seu currículo.

Quando soube que Villeneuve estaria comandando a nova adaptação de “Duna”, fui procurar saber quase tudo que estava ao meu alcance sobre a obra. Ao contrário de vários outros filmes baseados em livros, eu havia lido o livro antes de assistir ao filme. Assisti à um documentário fascinante sobre a tentativa falha de Alejandro Jodorowsky de adaptar a obra de Herbert em um épico grandioso, chamado “Duna de Jodorowsky”, e, mesmo com a visão dele destoando bastante do material fonte, senti uma profunda admiração pelo cineasta, por ter mantido vivo o seu sonho por tantos anos.

Confesso que senti um pouco de medo pela tradução do livro para as telas ser difícil demais para aqueles que não leram a obra original. Para quem não conhece “Duna”, é uma história que aborda literalmente todos os aspectos organizacionais da vida humana (política, economia, religião, comunidade, casamento, forças armadas, entre outros) em um cenário futurista, sendo essencialmente descritivo e dependente de sua mitologia fascinante e complexa para causar um efeito ainda maior no leitor. Existem poucas cenas de ação no início, mas o livro vai pegando o ritmo da segunda metade até a conclusão.

Ciente de ter lido o livro, e de que “Blade Runner 2049”, dirigido por Villeneuve, compartilhava deste passo mais lento e contemplativo, temia que aqueles que fariam da adaptação de “Duna” o seu primeiro contato com a obra não entenderiam metade do que Herbert queria dizer no livro. Sabe aquelas vezes em que você realmente fica feliz por estar completamente errado? Pois é, essa foi uma delas. Fico extremamente satisfeito em dizer que esta primeira parte (sim, vai ter continuação) da adaptação de “Duna” é grandiosa e épica em todos os sentidos, e consegue introduzir os novatos à mitologia fascinante de Herbert, ao mesmo tempo que entrega uma versão cinematográfica essencialmente fiel à obra original.

Ok, com isso dito, vamos falar do roteiro. Escrito por Villeneuve, Jon Spaihts e Eric Roth, o roteiro de “Duna” acerta em basicamente todos os aspectos narrativos, desde desenvolvimento de personagens à possíveis analogias e interpretações e, principalmente, fidelidade ao livro que o inspirou. Vamos partir do mais básico e ir caminhando ao mais específico. A trama adaptada pelos roteiristas captura o espectador desde seus momentos iniciais, o que reflete minha própria experiência com o livro de Herbert. Com 2 horas e 35 minutos de duração, Villeneuve trabalha em conjunto com a equipe técnica para criar uma adaptação que cativa o espectador, e ao mesmo tempo, vai direto ao ponto, dispensando as partes mais descritivas da obra original, e criando um passo perfeito que faz essa duração aparentemente robusta voar diante dos nossos olhos, de tão boa que ela é.

Grande parte do porquê dessa narrativa funcionar se dá por duas razões: a familiaridade que a mitologia fascinante dela tem em relação à outras obras, como por exemplo, “Star Wars”; e o desenvolvimento de seu protagonista, interpretado pelo Timothée Chalamet. Paul Atreides é um personagem extremamente interessante, porque ao mesmo tempo que ele encaixa perfeitamente no arquétipo de “jovem que faz parte de um plano maior, relacionado à uma profecia antiga que decidirá seu destino”, popularizado por séries de livros infantojuvenis como “Harry Potter”, “Percy Jackson” e “Fronteiras do Universo”, ele possui um diferencial em relação aos protagonistas destas séries, pelo fato de não ser completamente inconsciente do papel que ele terá de cumprir ao longo da trama, o que adiciona um caráter mais inteligente e humano à história de Herbert.

Uma das minhas partes favoritas de “Duna”, tanto do livro de Herbert quanto da adaptação de Villeneuve, é a sua atemporalidade. Digo isso na perspectiva de que, se todas as partes futuristas forem retiradas da trama, a história assume um caráter essencialmente realista e humano. Além de, como dito anteriormente, lidar com praticamente todo tipo de organização presente nos dias atuais, a trama de “Duna” consiste em algo que acontece muito na atualidade: o roubo e extração de recursos naturais preciosos de um país minoritário por países e grupos de maior autoridade, resultando na opressão dos povos nativos deste país e, em alguns casos, a aplicação de métodos extremistas de resistência por parte destes povos. Este conceito fica extremamente claro na narração inicial do filme, feita pela personagem da Zendaya, e faz um trabalho espetacular de atrair a atenção do espectador para o que vai acontecer em seguida.

Outro aspecto que me agradou bastante, especialmente por ter lido o livro antes, foi a direção de Denis Villeneuve, cuja paixão pelo material fonte é refletida nos resultados finais da adaptação. Como anteriormente dito, o roteiro introduz os conceitos complexos e fascinantes do livro de maneira extremamente didática, permitindo que o espectador novato compreenda a história mais facilmente. Como esperado, o diretor prioriza alguns personagens para desenvolver melhor, guardando outros para aprofundar na segunda parte. E mesmo com pouco tempo de tela, os personagens que têm menos aparições conseguem marcar presença, graças ao texto de Villeneuve, Spaihts e Roth.

A fidelidade ao livro é um dos maiores destaques do roteiro, que recria momentos icônicos da obra original com perfeição para um novo meio, retratando-os com um caráter grandioso que não se via no cinema desde a adaptação de Peter Jackson de “O Senhor dos Anéis”. A direção de Villeneuve é tão controlada que ele sabe exatamente quando acabar esta primeira parte e não se deixar levar pela segunda metade mais frenética da obra original. É um final tão perfeito que faz o filme funcionar por si só, ou seja, a adaptação desta primeira metade, ao mesmo tempo, possui um início, meio e fim muito bem definidos, e motiva o espectador a ler o livro que a inspirou para se preparar para a segunda parte. E eu, pelo menos, mal posso esperar!

Resumindo, o roteiro de “Duna” adapta fielmente seu material fonte complexo de uma maneira completamente didática, conseguindo agradar tanto os fãs fervorosos da obra original quanto os fãs em potencial que veem o seu primeiro contato com o livro de Frank Herbert na adaptação de Denis Villeneuve. É uma história rica em mitologia, povoada por personagens fascinantes, e que possui paralelos visíveis com situações enfrentadas no mundo real, o que acaba por dar ainda mais profundidade à obra, reforçando, assim, a sua atemporalidade.

(I believe that basically everyone who calls themselves a film buff was excited to see “Dune”, ever since it had been first announced, and there are two main reasons for those expectations to be well-fundamented. First, there was the original book by Frank Herbert, which was highly influential for the science-fiction genre, collaborating for the existence of works such as George Lucas's “Star Wars” and Hayao Miyazaki's “Nausicaä of the Valley of the Wind”. Then, there was the fact that the adaptation would be directed by Denis Villeneuve, a Canadian filmmaker who has been gifting us with subsequent masterpieces, with films like “Incendies”, “Arrival”, “Prisoners” and “Blade Runner 2049” in his resumé.

When I heard that Villeneuve was helming the new “Dune” adaptation, I searched upon almost everything I could find on the original work. Unlike many other films based on novels, I actually read the book prior to watching the film. I watched this fascinating documentary on Alejandro Jodorowsky's failed attempt at adapting Herbert's work into a grand epic, called “Jodorowsky's Dune”, and, even though with his vision strongly deviating from the source material, I felt a deep admiration for the filmmaker, who tried to keep his dream alive for such a long time.

I confess I was a little scared on whether the book's translation to the screen would be too hard to handle for those who didn't read the original work. For those who don't know “Dune”, it's a story that deals with literally every organizational aspect of human life (politics, economy, religion, community, marriage, armed forces, among others) in a futuristic scenario, being essentially descriptive and reliable on its fascinating and complex mythology in order to cause a greater effect on the reader's mind. There are only a few action scenes in the beginning, but the book begins catching up its pace from its second half till its conclusion.

Aware of having read the book, and that “Blade Runner 2049”, which was directed by Villeneuve, had that same slower, more contemplative pacing, I feared that those who would make their first contact with “Dune” through this adaptation wouldn't get half of what Herbert was trying to say in the novel. You know those times when you feel really happy to be completely wrong? Yeah, well, this was one of them. I'm extremely satisfied to say that this first part (yes, there will be a sequel) of this “Dune” adaptation is grand and epic in every way, and manages to introduce newbies to Herbert's fascinating mythology, while it delivers an essentially faithful cinematic version of the original work.

Okay, with that said, let's talk about the screenplay. Written by Villeneuve, Jon Spaihts and Eric Roth, the screenplay for “Dune” gets basically every narrative aspect right, from character development to possible analogies and interpretations and, mainly, faithfulness to the book that inspired it. Let's go from the basics and move later to the more specific aspects. The plot adapted by the screenwriters lures the viewer in from its starting moments, which reflects my own experience reading Herbert's book. Clocking in at 2 hours and 35 minutes, Villeneuve works in tandem with the technical crew to create an adaptation that captivates the viewer, and at the same time, goes straight to the point, dismissing the more descriptive parts of the original work, and creating perfect pacing that makes this apparently robust runtime fly before our very eyes, because of how great it is.

A great part of why this narrative works is due to two reasons: the familiarity its fascinating mythology has regarding other works, like for example, “Star Wars”; and the development of its protagonist, played by Timothée Chalamet. Paul Atreides is an extremely interesting character, because while he perfectly fits the “young person who's part of a bigger plan, regarding an ancient prophecy which will decide his fate” archetype, which was made popular by YA book series such as “Harry Potter”, “Percy Jackson” and “His Dark Materials”, he possesses a crucial difference in comparison to the protagonists of those series, as he isn't completely unaware of the role he'll have to fulfill throughout the plot, which adds a more clever and human character to Herbert's story.

One of my favorite parts of “Dune”, both in Herbert's book and Villeneuve's adaptation, is its timelessness. I say that under the perspective which, if we took out every futuristic aspect from the plot, the story takes on an essentially realistic and human approach. Besides of, as previously stated, dealing with practically every type of human organizations in the present time, the plot of “Dune” consists on something that has happened a lot in today's time: the theft and extraction of precious natural resources from minority countries by countries and groups with bigger authority, resulting in the oppression of that country's native groups, and, in some cases, the applying of extremist methods of resistance by those native peoples. That concept becomes extremely clear in the very first scene, which contains a voice-over by Zendaya's character, doing an extraordinary job of luring the viewer's attention to what will happen next.

Another aspect that pleased me a lot, especially having read the book prior to the movie, was its direction by Denis Villeneuve, whose passion for the source material clearly shows itself in the adaptation's final results. As previously stated, the screenplay introduces the book's complex and fascinating concepts in an extremely intuitive way, allowing newbie viewers to understand the story more easily. As expected, the director prioritizes certain characters over others, saving those others for the second part. And even with little screen time, these characters who make less appearances mark their presence, thanks to Villeneuve, Spaihts and Roth's text.

The faithfulness to the book is one of the screenplay's main highlights, perfectly recreating iconic moments from the original work for a new medium, portraying them with this epic, grand character we haven't seen on a movie since Peter Jackson's adaptation of “Lord of the Rings”. Villeneuve's directing is so controlled that he knows exactly when to end this first part and to not let himself be taken by the more fast-paced second half in the original work. It's such a perfect ending that it makes the film work as a stand-alone piece, meaning that, this adaptation's first part, simultaneously, has a very well defined beginning, middle and end, and it motivates the viewer into reading the book to prepare for the second part. And I can't hardly wait for it to arrive!

To sum it up, the screenplay for “Dune” faithfully adapts its complex source material in an extremely intuitive way, managing to please the original work's fervent fans and those potential fans who are going to have their first contact with Frank Herbert's book through Denis Villeneuve's adaptation. It's a story that's rich in mythology, populated by fascinating characters, and that has visible parallels with situations faced in the real world, which ends up giving even more depth to the work, reinforcing, as well, its timelessness.)



O elenco de “Duna” é composto por puro talento, e todas as performances aqui são só uma prova disso. A começar pelo Timothée Chalamet, que encontra seu melhor papel aqui desde sua performance indicada ao Oscar por “Me Chame pelo Seu Nome”. Como vemos todo o filme sob o ponto de vista dele, é bem fácil tomar simpatia pelo seu personagem, e grande parte do porquê disso acontecer se dá pelo carisma do ator. Ao mesmo tempo que Chalamet consegue expressar um senso de autoridade por causa do pano de fundo do seu personagem, há uma sensibilidade palpável na performance dele, permitindo que Paul Atreides tenha várias camadas. Há uma incerteza fascinante no decorrer do desenvolvimento do seu personagem, e Chalamet lida com estes dilemas de maneira magistral. Há uma cena em particular (que será bem familiar para os fãs do livro) que expõe as capacidades de atuação do ator com perfeição, servindo como um reforço do fato dele ser um dos melhores, se não o melhor ator dessa nova geração.

Outro destaque fica com a Rebecca Ferguson, que simplesmente não erra ao escolher seus papéis. Eu adoro a maneira que a atriz manipula as emoções de sua personagem. Há uma cena em particular onde a Lady Jessica caminha por um corredor às lágrimas e, perto de chegar ao seu destino, arruma uma maneira de assumir uma expressão austera e contida em seu rosto. Eu gostei bastante da química entre Chalamet e Ferguson, e especialmente de como seus personagens só se abrem sobre seus verdadeiros sentimentos um com o outro. Isto permite que a dinâmica entre mãe e filho entre eles seja mais realista e humana, mesmo com os dois personagens sendo treinados para esconderem suas verdadeiras emoções.

Tirando Chalamet e Ferguson, todos os outros atores não têm a mesma quantidade de material para aprofundarem seus personagens, mas cada um faz um ótimo trabalho. Eu gostei bastante da presença da Zendaya, que provavelmente terá um papel maior na segunda parte. Ela aparece em grande parte somente nas visões do protagonista, o que aplica uma aura de premonição para sua personagem. O Oscar Isaac consegue expressar, ao mesmo tempo, autoridade e solidariedade com suas expressões faciais. A Sharon Duncan-Brewster fica responsável em maior parte pela exposição de conceitos ainda não explorados pelos protagonistas, permitindo que a personagem seja uma espécie de guia para tanto os personagens quanto o espectador, e ela faz um ótimo trabalho com o que lhe é dada.

O Josh Brolin, o Jason Momoa e o Dave Bautista são a força bruta do filme, protagonizando a grande maioria das cenas de ação, as quais os atores conseguem executar com maestria, graças à experiência dos três com filmes de super-heróis. Um último destaque que gostaria de fazer fica com o Stellan Skarsgard como o Barão Harkonnen. Adorei como o ator conseguiu transformar um personagem essencialmente cartunesco no livro em uma pessoa genuinamente ameaçadora, de modo que o espectador não gostaria de estar em uma sala sozinho com ele. Mesmo com poucas cenas, Skarsgard consegue emitir uma aura aterrorizante que permeia em todas as suas aparições, com o Barão sendo o personagem que mais quero ver na segunda parte. Além dos mencionados, há ótimas aparições aqui de Chang Chen, Charlotte Rampling, Stephen McKinley Henderson, David Dastmalchian e Javier Bardem, mas como não há tanto material para eles trabalharem (pelo menos, nessa primeira parte), ficam como menção especial.

(The cast of “Dune” is composed by pure talent and every performance here is only a reinforcement of that fact. Starting with Timothée Chalamet, who finds his best role since his Oscar-nominated performance in “Call Me By Your Name”. As we see the whole movie through his perspective, it's quite easy to feel sympathy for his character, and a great part of why that happens is due to the actor's undeniable charisma. At the same time Chalamet manages to express a sense of authority because of his character's background, there's a visible sensibility in his performance, allowing Paul Atreides to have several layers. There's a fascinating uncertainty throughout his character's development, and Chalamet deals with these dilemmas masterfully. There's a particular scene (which will be familiar to fans of the book) that showcases the actor's abilities perfectly, serving as a reinforcement of the fact that he is one of the best, if not the best actor of this new generation.

Another highlight stays with Rebecca Ferguson, who simply doesn't make a mistake when choosing a role. I loved the way the actress manipulates her character's emotions. There's a particular scene where Lady Jessica is walking through a hall in tears and, when she's near her destiny, she finds a way of assuming an austere and contained expression on her face. I really enjoyed the chemistry between Chalamet and Ferguson, and especially how their characters only open up about their true feelings to each other. This allows for the mother-son dynamic between them to be more realistic and human, even though both characters were trained to contain their true emotions.

Apart from Chalamet and Ferguson, every other actor doesn't have the same amount of material to deepen their characters, but each one does a great job. I really liked Zendaya's presence, as she'll probably play a bigger role in the second part. She appears mostly throughout the protagonist's visions, which applies an ominous aura into her character. Oscar Isaac manages to express, simultaneously, authority and solidarity with his facial expressions. Sharon Duncan-Brewster is responsible mostly for exposition to aspects that are unknown to the main characters, allowing her character to be some sort of guide to both the characters and the viewer, and she does a great job with what's given to her.

Josh Brolin, Jason Momoa and Dave Bautista are the film's brute force, playing central roles in most of its action scenes, which the actors manage to execute really well, thanks to the three's experience in superhero films. One last highlight I'd like to make stays with Stellan Skarsgard as Baron Harkonnen. I loved how the actor managed to transform an essentially cartoonish character in the book into a genuinely threatening person, in a way that the viewer would not like to be alone in a room with him. Even with few scenes, Skarsgard manages to exhale a terrifying aura that lingers throughout all his appearances, with the Baron being the character I'm looking forward the most to seeing in the second part. Besides those mentioned, there are great appearances here by Chang Chen, Charlotte Rampling, Stephen McKinley Henderson, David Dastmalchian and Javier Bardem, but as there's not enough material for them to work on (at least, in this first part), I'll leave them as a special mention.)



Desde que o primeiro trailer da adaptação fora lançado, eu fiquei com um pensamento na minha cabeça: “Duna” pode varrer todas as categorias técnicas no Oscar ano que vem. E, agora, tendo visto o filme, posso dizer que esse pensamento pode muito bem se tornar realidade. Eu amei a direção de fotografia do Greig Fraser, especialmente quando se fala dos contrastes entre os vários cenários do filme. Em Caladan, planeta natal dos Atreides, há um tom mais azulado e enevoado, pela alta presença de água; em Giedi Prime, planeta natal dos Harkonnen, há tomadas mais escuras e acinzentadas; e em Arrakis, há uma presença vibrante de luz solar, que fica ainda mais brilhante quando refletida na areia do deserto. Mal posso esperar para ver o que Fraser vai fazer no vindouro filme do Batman, com Robert Pattinson. A montagem do Joe Walker é extremamente precisa, especialmente quando se diz respeito às cenas de sonho do protagonista. Tais cenas são sincronizadas de maneira perfeita com o que realmente está acontecendo fora do sonho.

A direção de arte consegue trazer Arrakis à vida de uma maneira extremamente fiel ao material fonte. Os figurinos, os cenários, a maquiagem e o penteado correspondem praticamente à 100% das descrições deles no livro. Uma coisa que me surpreendeu bastante é o fato do filme ter sido filmado em desertos e vilas de verdade na Jordânia e nos Emirados Árabes Unidos, dispensando o uso de CGI para criar os cenários do filme, o que sempre é algo maravilhoso. Todo blockbuster deveria aprender com “Duna” como fazer efeitos visuais bons com computação gráfica. Tudo aqui que foi feito com o auxílio de CGI ficou o mais realista possível, a ponto de ser até palpável na vida real, ao contrário, por exemplo, da artificialidade no ato final de “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis”. E ainda mais, os efeitos visuais de “Duna” não são a estrela do filme e nem devem ser, e o trabalho feito aqui é só mais um reforço disso.

E, para fechar com chave de ouro, temos a trilha sonora original composta pelo Hans Zimmer, conhecido por ter composto as trilhas de “Interestelar”, “O Rei Leão” e a trilogia “O Cavaleiro das Trevas”, e o trabalho dele aqui pode muito bem ser o seu melhor desde “O Rei Leão”. A trilha de Zimmer para “Duna” me lembrou bastante de dois trabalhos do compositor Ludwig Göransson: enquanto nas cenas envolvendo os Atreides e os Harkonnen, há um uso reverberante de sintetizadores, o que me lembrou bastante a trilha de Göransson para “Tenet”, de Christopher Nolan; nas cenas envolvendo Arrakis e seus nativos, os Fremen, a trilha é dominada por cantos tribais e tambores, o que me lembrou da trilha vencedora do Oscar que Göransson compôs para “Pantera Negra”. E talvez o mais mágico seja como Zimmer consegue incorporar estes dois estilos com perfeição na mesma faixa, o que só os mestres conseguem fazer. Realmente espero que ele ganhe outro Oscar.

(Ever since the adaptation's first trailer was released, one thought lingered in my mind: “Dune” can be able to sweep every single technical category at next year's Oscars. And now, having watched the film, I can say that thought might as well come true. I loved Greig Fraser's cinematography, especially when it comes to the contrasts between the film's various settings. In Caladan, the Atreides' home planet, there's a more blue-ish misty tone, due to the high presence of water; in Giedi Prime, home planet to the Harkonnens, there are darker and grayer takes and shots; and in Arrakis, there's a vibrant presence of sunlight, which gets even brighter when reflected on the desert sand. I can't wait to see what Fraser will do in the upcoming Batman film, with Robert Pattinson. Joe Walker's editing is extremely precise, especially when it's about the protagonist's dream sequences. Those scenes are synced perfectly with what's happening outside the dream.

The production design manages to bring Arrakis to life in an extremely faithful way to the source material. The costumes, the sets, the makeup and hairstyling practically correspond to their descriptions in the book, with 100% of accuracy. One thing that surprised me a lot is the fact that the film was filmed in actual villages and deserts in Jordan and United Arab Emirates, dismissing the use of CGI to create the film's sets, which is always something wonderful. Every blockbuster should learn from “Dune” on how to make good computer-generated visual effects. Everything here that was made with the help of CGI turned out to be as realistic as possible, in a way you can almost feel like that could be real, unlike, for example, the artificiality in the final act of “Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings”. And even more, the visual effects in “Dune” aren't neither the star of the film, nor should they be, and the work done here is just further proof of that.

And, to cap it off with a bang, we have the original score composed by Hans Zimmer, who is known for having composed the scores for “Interstellar”, “The Lion King” and the Dark Knight Trilogy, and his work here might as well be his best since “The Lion King”. Zimmer's score for “Dune” reminded me a lot of two works by composer Ludwig Göransson: while in the scenes with the Atreides and the Harkonnens, there's a reverberating use of synthesizers, which reminded me a lot of Göransson's score for Christopher Nolan's “Tenet”; in the scenes involving Arrakis and its natives, the Fremen, the score is dominated by tribal chanting and percussion, which reminded me of the Oscar-winning score that Göransson had composed for “Black Panther”. And probably the most magical thing about it is how Zimmer manages to incorporate both styles perfectly on the same track, something only masters are able to do. I really hope he gets another Oscar.)



Resumindo, “Duna” consegue atender às grandes expectativas do público com perfeição, graças à direção controlada de Denis Villeneuve, às performances de um elenco super talentoso, e aos aspectos técnicos, que recriam visuais icônicos do material fonte com muita fidelidade, resultando no melhor blockbuster épico desde a trilogia “O Senhor dos Anéis”. O roteiro da adaptação consegue, ao mesmo tempo, introduzir os conceitos complexos do livro de Frank Herbert de uma maneira didática para os iniciantes, e entregar uma versão cinematográfica essencialmente fidedigna à obra original, para o delírio dos fãs mais fervorosos da mitologia criada pelo autor. Façam a si mesmos um enorme favor e vejam o filme na maior tela possível, porque esse merece.

Nota: 10 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que vocês tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “Dune” manages to perfectly match the audience's expectations, thanks to Denis Villeneuve's controlled directing, to the performances of a super talented cast, and to the technical aspects, which faithfully recreate iconic visuals from the source material, resulting in the best epic blockbuster since the “Lord of the Rings” trilogy. The adaptation's screenplay manages to, simultaneously, introduce the complex concepts in Frank Herbert's book in a really intuitive way for the beginners, and deliver an essentially faithful cinematic version of the original work, to the joy of the most fervent fans of the mythology created by the author. Do yourselves a huge favor and watch the film in the biggest screen you can find, because this one deserves it.

I give it a 10 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)


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