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segunda-feira, 8 de novembro de 2021

"Eternos": o filme mais diferente da Marvel, no bom sentido (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para falar sobre a mais recente obra da Marvel Studios, que já está em exibição nos cinemas! Com a visão e direção da cineasta vencedora do Oscar Chloé Zhao por trás das câmeras, o filme em questão faz algumas mudanças significativas na fórmula típica da Marvel, contando uma história essencialmente humana que lida com temas atemporais e universais, a qual é povoada por um elenco diversificado de personagens novos fascinantes, uma mitologia um tanto quanto complexa e algumas das cenas de ação mais naturais e práticas do Universo Cinematográfico da Marvel, resultando na obra mais diferente (no bom sentido) do estúdio até o momento. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Eternos”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to talk about the most recent film released by Marvel Studios, which is now playing only on movie theaters! Counting on the vision and direction of Oscar-winning filmmaker Chloé Zhao from behind the camera, the film I'm about to review makes some significant changes to Marvel's typical formula, telling an essentially human story that deals with timeless and universal themes, which is populated by a diverse cast of new and fascinating characters, a mythology that's a little too complex at times and some of the most natural, practical action scenes in the Marvel Cinematic Universe, resulting in the studio's most different (in a good way) work so far. So, without further ado, let's talk about “Eternals”. Let's go!)



Ambientado após os eventos decisivos de “Vingadores: Ultimato”, uma tragédia inesperada força os Eternos, antigos seres alienígenas que vivem na Terra secretamente por milhares de anos, a saírem das sombras e se juntarem em uma luta contra a raça inimiga dos Deviantes, que se alimenta de vida inteligente. O filme explora o passado e o presente dos personagens-título, acompanhando Sersi (Gemma Chan), Ikaris (Richard Madden), Thena (Angelina Jolie), Kingo (Kumail Nanjiani), Ajak (Salma Hayek), Phastos (Brian Tyree Henry), Duende (Lia McHugh), Makkari (Lauren Ridloff), Gilgamesh (Don Lee) e Druig (Barry Keoghan) ao experimentarem a verdadeira essência de ser humano, a qual pode transformá-los tanto para o bem, quanto para o mal.

(Set after the decisive events of “Avengers: Endgame”, an unexpected tragedy forces the Eternals, ancient alien beings who have been living on Earth in secret for thousands of years, out of the shadows to work together in a fight against the enemy race of the Deviants, which feeds on intelligent life. The film explores the past and the present of the title characters, following Sersi (Gemma Chan), Ikaris (Richard Madden), Thena (Angelina Jolie), Kingo (Kumail Nanjiani), Ajak (Salma Hayek), Phastos (Brian Tyree Henry), Sprite (Lia McHugh), Makkari (Lauren Ridloff), Gilgamesh (Don Lee) and Druig (Barry Keoghan) as they experiment the true essence of being human, which could transform them for the better, or for the worse.)



Como grande parte dos espectadores da Marvel, eu não tinha a mínima ideia de quem eram os Eternos quando o filme foi inicialmente anunciado, em 2019, durante um painel na San Diego Comic-Con. Eu também não era familiarizado com a diretora do filme, a chinesa Chloé Zhao, já que ela ainda não tinha alcançado o nível de reconhecimento que o vencedor do Oscar de Melhor Filme deste ano, “Nomadland”, deu para sua carreira. A única coisa que me chamou a atenção, na época do anúncio inicial do filme, foi o elenco, que contava com nomes como Angelina Jolie, Kumail Nanjiani, Brian Tyree Henry, Richard Madden e Kit Harington, com os quais eu já era familiarizado.

O tempo passou, e veio 2020. As vitórias de “Nomadland” no Festival de Veneza e no Festival de Toronto, dois dos termômetros mais importantes para a temporada de premiações, colocaram a diretora Chloé Zhao no meu radar. Aí, um ano depois, no início de 2021, finalmente consegui assistir ao filme vencedor de 4 Oscars, e fiquei encantado pela crueza, naturalidade e humanidade utilizadas pela diretora ao retratar o dia a dia e as motivações da comunidade nômade estadunidense, explorando o que inspirou aquelas pessoas a seguirem aquele modo de vida em particular. Quando Zhao venceu tanto o Oscar de Melhor Direção quanto o prêmio principal de Melhor Filme pelo seu trabalho em “Nomadland”, pensei: “Pronto, agora eu PRECISO ver 'Eternos'”.

Estava particularmente curioso para ver se Zhao, como diretora de um filme extremamente restrito (em termos de público) como “Nomadland”, iria se sair bem trabalhando com blockbusters, como os da Marvel. O material promocional lançado pelo estúdio dava destaque para a naturalidade das ambientações (o que me lembrou muito do trabalho anterior de Zhao), mas não deixava as cenas de ação características da Marvel Studios de lado, o que me deixou bem satisfeito, pensando que haveria um equilíbrio muito bom entre estas duas vertentes. Após ter visto “Nomadland”, minhas expectativas para ver “Eternos” chegaram à um nível tão alto, que fiquei chocado quando descobri que o filme fora massacrado pela crítica internacional, resultando no filme do Universo Cinematográfico da Marvel com o menor percentual de críticas positivas no agregador de críticas Rotten Tomatoes.

No momento de escritura desta resenha, o filme tem uma pontuação de 47%, de um total de 293 críticas. Ou seja, de 293 críticas, somente 47% tiveram uma reação majoritariamente positiva. Alguns reclamaram por causa de Zhao ter se rendido à fórmula da Marvel, outros pelo número enorme de personagens novos, outros porque ficava meio confuso diferenciar o passado do presente. E, assim como em “Querido Evan Hansen”, fico muito feliz em dizer que tais reclamações, pelo menos para mim, não fizeram o menor sentido, porque, mesmo com suas imperfeições, “Eternos” é a segunda melhor obra da Marvel lançada em 2021 para mim, perdendo somente para “WandaVision”.

Ok, com isso dito, vamos falar do roteiro. Escrita por Zhao, Patrick Burleigh, e os primos Ryan e Kaz Firpo, a narrativa de “Eternos” retém a essência da fórmula já estabelecida da Marvel, ao mesmo tempo que leva esta fórmula para novas e promissoras direções. Vamos começar falando das semelhanças que “Eternos” tem em relação às obras anteriores do estúdio, para depois falarmos de seus diferenciais. Quando se pensa em Marvel, duas coisas normalmente vêm à mente das pessoas: cenas de ação com muitos efeitos visuais e um senso de humor bem leve, o que, às vezes pode servir de contraste perfeito com as partes mais sombrias da história. Felizmente, todos estes aspectos estão presentes aqui, permitindo que, mesmo tendo uma estrutura narrativa diferente, “Eternos” pareça um filme da Marvel.

As cenas de ação são de tirar o fôlego, contando com o uso de tanto efeitos práticos quanto efeitos em computação gráfica. Já um diferencial que “Eternos” tem em relação às obras anteriores da Marvel é que as cenas de ação são bem mais contínuas, descartando o uso de cortes rápidos para adicionar um caráter mais dinâmico, natural, urgente e realista às sequências, nos fazendo lembrar mais da ação presente em obras cultuadas como “O Regresso”, “Filhos da Esperança”, “1917” e “Blade Runner 2049” do que de filmes anteriores de super-heróis. Por exemplo, há uma cena de ação aqui envolvendo uma luta entre um Eterno e um Deviante que me lembrou bastante da cena do ataque do urso em “O Regresso”.

O senso de humor característico do estúdio também se faz presente aqui, e não só através de apenas um personagem, como é esperado. Há alguns diálogos bem engraçados vindo das pessoas que o espectador menos espera, e é bem legal fazer este contraste entre os personagens que já são alívio cômico por essência e aqueles que não querem ser engraçados, mas que naquele momento, acabam sendo. Há alguns momentos brilhantes de quebra de expectativa, onde o tom da cena muda rapidamente para efeitos cômicos. Por exemplo, há uma cena de ação que termina de modo bem violento. Aí, no segundo seguinte, há uma troca de diálogos extremamente descontraída, como se a sequência anterior não tivesse acontecido. Isso pode ser um defeito para alguns, mas para mim, foi um exemplo perfeito do alívio cômico de “Eternos”.

Uma das tarefas mais difíceis dos roteiristas certamente foi introduzir um conjunto bem diversificado de nada menos que 10 personagens novos, os quais nunca deram as caras em nenhuma das obras anteriores do estúdio. Cada um tem suas particularidades, motivações e histórias de fundo, com os roteiristas fazendo uso de diversos flashbacks para introduzir os personagens que estarão em tela na cena seguinte. Claro que, com um tempo de duração de 2 horas e 37 minutos, alguns acabam sendo mais desenvolvidos do que outros, mas cada um ganha o desenvolvimento necessário para que o espectador tenha simpatia com a jornada que eles farão ao longo da trama. Há, inclusive, algumas reviravoltas bem legais que aprofundam o desenvolvimento de alguns destes personagens.

Já partindo para os diferenciais de “Eternos” em relação às demais obras da Marvel, pode-se dizer que o filme de Chloé Zhao é a primeira obra do estúdio cujo objetivo é provocar uma reflexão no espectador. Em sua essência, o filme é sobre as transformações que estes seres sofrem ao experimentarem os aspectos essenciais da vida humana: a vida, a morte, o amor, a guerra, as crenças, as decepções, entre outros; e como a experiência e perseverança deles em relação à estes aspectos podem transformá-los em pessoas boas, ou, caso tais aspectos forem distorcidos, em pessoas ruins. Eu gostei bastante das várias analogias que “Eternos” pode ter em relação à Bíblia e à religião cristã, com a abordagem de temas polêmicos como o livre-arbítrio me lembrando bastante de obras como a trilogia literária “Fronteiras do Universo”, escrita por Philip Pullman, e a primeira temporada de “Loki”, também da Marvel Studios.

Outro diferencial que a diretora impõe sobre a fórmula Marvel é o passo mais lento da narrativa. Como dito anteriormente, “Eternos” tem uma duração robusta de 2 horas e 37 minutos, sendo o segundo filme mais longo do estúdio até o momento. Felizmente, para os fãs de “Nomadland”, Zhao e os roteiristas não apressam um segundo na trama, levando o tempo necessário para desenvolver os personagens da maneira mais humana, natural e abrangente possível, e funciona. Para mim, este diferencial em particular foi uma das coisas que distanciou “Eternos” da mesmice do gênero e o aproximou em direção à um caráter mais cultuado, o que foi uma mudança muito bem-vinda.

Um último diferencial da trama, e a única falha da narrativa, no meu ponto de vista, é a mitologia. Eu adorei como os personagens-título se encaixam na criação de várias figuras mitológicas, em especial da mitologia grega, e como estou lendo “Percy Jackson” atualmente, estas referências foram uma surpresa muito positiva. Mas o problema é que “Eternos” tenta introduzir um material teórico equivalente à uma trilogia em um filme só, resultando em alguns momentos expositivos difíceis de compreender. O problema não é o fato de ter dez protagonistas, mas sim o fato de que nenhum destes personagens novos ter sido ao menos apresentado em uma obra anterior da Marvel.

Eu sei o que vocês devem estar pensando: “Ué, João Pedro, mas os Guardiões da Galáxia também não apareceram em uma obra anterior da Marvel antes do filme deles, e foi ótimo.” Mas, ao contrário dos Guardiões, os Eternos têm ligações intrínsecas com as origens do Universo Cinematográfico da Marvel (bem antes de sua primeira ambientação em “Capitão América: O Primeiro Vingador), com o filme introduzindo três novas raças de alienígenas simultaneamente, e conectando-as com eventos anteriores da narrativa geral do universo, como o Blip de “Vingadores: Ultimato”.

Se “Eternos” tivesse feito o que, por exemplo, “Shang-Chi” fez, ao apresentar o Mandarim e os Dez Anéis em “Homem de Ferro” e “Homem de Ferro 3”, para depois tratar estes mesmos personagens com mais profundidade em um filme próprio, é bem possível que as partes mais expositivas teriam menos conteúdo, o que facilitaria a compreensão do espectador. Mas isso não acontece aqui, resultando em algumas cenas confusas que misturam ação com exposição de uma maneira não tão orgânica, expondo conteúdo demais para um filme só.

Mas felizmente, esta superexposição da mitologia é a única falha da narrativa original, reflexiva e melancólica elaborada por Zhao, Burleigh e os Firpo, e eu mal posso esperar para ver estes personagens novamente em obras futuras do estúdio, especialmente quando as duas cenas pós-créditos presentes em “Eternos” dão dicas extremamente promissoras para o próximo passo que os personagens-título darão no Universo Cinematográfico da Marvel!

(Just like a great part of Marvel's regular spectators, I didn't have a single idea of who the Eternals were when the film was initially announced, in 2019, during a panel at San Diego Comic-Con. I also wasn't familiar with the film's director, Chinese filmmaker Chloé Zhao, as she hadn't yet reached the level of recognition that this year's Best Picture Oscar winner, “Nomadland”, gave to her career. The only thing that caught my eye, at the time of the announcement, was the cast, which had names like Angelina Jolie, Kumail Nanjiani, Brian Tyree Henry, Richard Madden and Kit Harington, all of which I was already familiar with.

Time passed by, and then came 2020. “Nomadland”'s victories in winning the main awards at both the Venice Film Festival and the Toronto International Film Festival, two of the most important thermometers for award seasons, put director Chloé Zhao on my radar. Then, one year later, in early 2021, I finally managed to watch the 4-Oscar-winning film, and I was enchanted with the rawness, naturalness and humanity that the director used when portraying the daily lives and motivations of the US nomad community, exploring what inspired those people into following that particular lifestyle. When Zhao won both the Oscar for Best Director and the main award for Best Picture for her work in “Nomadland”, I thought: “Okay, now I NEED to see 'Eternals'”.

I was particularly curious to see if Zhao, as a director of something as restricted (when it comes to an audience) as “Nomadland”, would do a good job when working with blockbusters, like the ones Marvel does. The promotional material released by the studio highlighted the settings' naturalness (which reminded me a lot of Zhao's previous work), but didn't cast Marvel Studios' characteristic action scenes aside, which left me quite satisfied, thinking that there would be a good balance between these two sides. After watching “Nomadland”, my expectations to watch “Eternals” became so high, that I was shocked when I found out that the film had been massacred by international critics, resulting in the MCU film with the lowest percentage of positive reviews on aggregator Rotten Tomatoes.

At the moment I'm writing this review, the film sits on a score of 47%, out of a total of 293 reviews. Which means that, out of 293 reviews, only 47% of them had a mostly positive reaction to it. Some of them complained about director Chloé Zhao surrendering to the basic Marvel formula, others about the huge number of brand-new characters, others about how confusing it was to differ the present day scenes from the flashback sequences. And, just like in the “Dear Evan Hansen” adaptation, I'm very glad to say that those complaints, at least for me, didn't make any sense, because, even though it's not perfect, “Eternals” is the second best work Marvel has released in 2021 for me, losing only to “WandaVision”.

Okay, with that said, let's talk about the screenplay. Written by Zhao, Patrick Burleigh and cousins Ryan and Kaz Firpo, the narrative of “Eternals” retains the essence of the already-established Marvel formula, at the same time it takes this formula to new and promising directions. Let's talk about what's similar in “Eternals” to what we've seen before by the studio, so that then we can talk about what makes it different from their previous work. When people think about Marvel, two things usually come to mind: action scenes filled with special effects and a very light sense of humor, which could serve as a perfect contrast to the story's darker parts. Fortunately, all these aspects mark their presence here, allowing that, even though it has a different narrative structure, “Eternals” gets to look like a Marvel movie.

The action scenes are breathtaking, relying on the use of both practical and computer-generated visual effects. One difference that “Eternals” has in comparison with Marvel's previous work is that its action scenes are way more continuous, discarding the use of quick cuts to add a more dynamic, natural, urgent and realistic feel to these sequences, reminding us a lot more of the action present in celebrated films such as “The Revenant”, “Children of Men”, “1917” and “Blade Runner 2049” than previous superhero films. For example, there's a fight sequence here between an Eternal and a Deviant that really resembles the bear attack scene from “The Revenant”.

The studio's characteristic sense of humor is also present here, and not only through one character, as you usually expect it to be. There are some pretty funny dialogues coming from the people you least expect to say them, and it's pretty cool to make that contrast between those characters who are comic reliefs by nature and those who don't want to be funny, but at that moment, they end up being so. There are some brilliant moments that break the viewer's expectations, where the scene's tone quickly changes for comic effect. For example, there's an action scene that ends in a very violent way. Then, in the following second, there's an extremely uncompromised dialogue exchange, as if the previous sequence never happened. This could come out as a flaw for some, but for me, it was a perfect example of comic relief in “Eternals”.

One of the screenwriters' most difficult tasks was certainly to introduce a very diversified cast of nothing less than 10 brand-new characters, with none of them making an appearance in any of the studio's previous work. Each one has their particularities, motivations and backstories, with the screenwriters using several flashback sequences in order to introduce the character that'll be onscreen for the following scene. Of course that, with a runtime of 2 hours and 37 minutes, some of them end up being more developed than others, but each one gets their necessary development to make the viewer feel sympathy for their journey throughout the plot. There are, in fact, some really nice plot twists that deepen the development of some of these characters.

Moving on to the things that make “Eternals” different from other Marvel works, it can be said that Chloé Zhao's film is the studio's first work where the objective is to make the viewer reflect and think. In its essence, the film is about the transformations these beings suffer when making contact with the essential aspects of human life: life, death, love, war, beliefs, heartbreaks, among others; and how their experience and endurance regarding these aspects can lead them into becoming good people, or, if those aspects were to be distorted and twisted, into bad people. I really like the various analogies “Eternals” may have in regards to the Bible and the Christian religion, with its approach of controversial themes such as free will reminding me a lot of other works, such as Philip Pullman's “His Dark Materials” book trilogy, and the first season of “Loki”, also from Marvel Studios.

Another difference that the director imposes over the Marvel formula is the narrative's slower pace. As previously stated, it has a robust runtime of 2 hours and 37 minutes, being the second longest film by the studio as of now. Fortunately, for the “Nomadland” fans, Zhao and the screenwriters don't rush one single second in the plot, taking as much time as they need to develop the characters in the most human, natural and open way possible, and it works. To me, this particular difference was one of the things that set “Eternals” apart from the same old structure in the genre and led it towards a more cult feel to the film, which was a very welcome change, in my humble opinion.

One last difference in the plot, and the narrative's only flaw, in my point of view, is the mythology. I loved how the title characters seem to fit in the creation of several mythological figures, especially those from the Greek mythology, and as I'm reading “Percy Jackson” right now, those references were a really fun surprise. But the problem is that “Eternals” tries to introduce a base theory material that's equivalent to a whole trilogy in one single movie, resulting in some exposition moments that are difficult to follow through. The problem is not the fact that it has ten protagonists, but the fact that none of these characters at least appeared in one of Marvel's previous works.

I know what you must be thinking: “But, João Pedro, the Guardians of the Galaxy also never made an appearance in a work by Marvel until their own ensemble film, and it was great.” But, unlike the Guardians, the Eternals are essentially connected with the origins of the Marvel Cinematic Universe (way before its first setting in “Captain America: The First Avenger”), with the film introducing three new alien races simultaneously, and connecting them to previous events in the universe's general narrative, such as the Blip from “Avengers: Endgame”.

If “Eternals” had done what, for example, “Shang-Chi” did, by introducing the Mandarin and the Ten Rings in “Iron Man” and “Iron Man 3”, so that later, those same characters get to be dealt with in a deeper way on their own film, it's quite possible that its more exposition-like sequences would be less filled with content, which would make the viewer's comprehension of it a little easier. But that doesn't happen here, resulting in a few scenes that mix action and exposition in a way that's not as organic as it seems, exposing too much content for one single film.

But fortunately, this overexposition of its mythology is the only flaw in the original, thought-provoking and melancholic narrative elaborated by Zhao, Burleigh and the Firpos, and I can't wait to see these characters again in future works by the studio, especially when the two post-credit scenes in “Eternals” give extremely promising hints on the next step that the title characters will take in the Marvel Cinematic Universe!)



Antes de falar do desempenho de cada um dos protagonistas de “Eternos”, é preciso ressaltar a diversidade e a representatividade presente neste elenco. Composto pelas mais variadas etnias, nacionalidades e grupos sociais, como negros, orientais, surdos, latinos e paquistaneses, o elenco de “Eternos” é provavelmente o mais diverso da Marvel até agora, e é um passo promissor à frente para a representação de minorias sociais em um gênero tão onipresente nos dias de hoje como o de super-heróis.

Começando com o trio mais desenvolvido de personagens, interpretados pela Gemma Chan, Richard Madden e Kumail Nanjiani. Eu gostei bastante de como os roteiristas escolheram a personagem de Chan para ser a âncora emocional principal do filme, ao invés de escolherem um nome mais conhecido, como Salma Hayek ou Angelina Jolie. A personagem de Chan é repleta de sensibilidade e carinho em relação aos seres humanos, e o carisma da atriz consegue capturar a atenção do espectador desde seus primeiros momentos em tela. Já no caso de Madden, o ator faz um trabalho muito bom em contrastar o carisma de Chan com uma frieza palpável que dá ao seu personagem um caráter ameaçador, especialmente pelos seus poderes serem parecidos com os do Superman.

A química dele com Chan é excelente, e é bem interessante notar as diferenças no comportamento de seu personagem: nas cenas de luta, como um dos Eternos mais poderosos, ele assume uma “persona” feroz, vigorosa e impiedosa; já nas cenas que ele contracena com outros personagens, o ator faz um ótimo trabalho em equilibrar o caráter frio de seu personagem com uma sensibilidade incrível. O Kumail Nanjiani é um excelente alívio cômico, com seu personagem sendo um dos melhores do filme. Juntamente com Hiresh Patel, Nanjiani consegue trazer uma leveza necessária à um filme bem sobrecarregado, em termos de conteúdo.

A Angelina Jolie interpreta a personagem mais badass do filme, de longe. Ela protagoniza a grande maioria das cenas de ação presentes ao longo da trama, e o desenvolvimento emocional de sua personagem é um dos mais profundos do roteiro, se não for o mais profundo. Mal posso esperar para ver mais da personagem dela. Eu gostei bastante da presença da Salma Hayek, especialmente pela calma e serenidade na voz dela ao protagonizar grande parte das cenas expositivas do longa-metragem. O caráter sereno e quase angelical de sua personagem ajuda bastante o espectador a compreender as partes complexas mais facilmente.

Eu amei como a performance da Lia McHugh me fez imaginar o quão velha sua personagem realmente é, mesmo com aparência de criança. A atriz injeta sua personagem com uma amargura, maturidade, melancolia e sagacidade perceptíveis, nos surpreendendo constantemente com seu desenvolvimento ao longo da trama. Eu gostei bastante da performance do Brian Tyree Henry, especialmente ao ver como o ator lida com a confiança de seu personagem na humanidade. Há uma cena em particular na metade do filme que é de cortar o coração de tão impactante, que até nos faz entender o porquê dele ser um pouco distante ao reencontrar os Eternos depois de tanto tempo.

Os personagens interpretados pelo Barry Keoghan, Lauren Ridloff e Don Lee possuem menos desenvolvimento, mas cada um consegue deixar sua marca: amei como Keoghan consegue ser o mais anarquista do grupo, frequentemente desafiando as decisões tomadas pelos líderes; Ridloff protagoniza algumas das sequências de ação mais criativas do longa (queria ter visto mais de sua personagem, mas isto provavelmente vai acontecer nas sequências, já que foi confirmado que os Eternos irão retornar); e Lee subverte nossas expectativas ao equilibrar uma veia mais cômica e descontraída com uma sensibilidade impressionante, ao contracenar com Jolie. E, de bandeja, temos uma participação incrível do Kit Harington, cujo terreno é preparado aqui para um futuro extremamente promissor no Universo Cinematográfico da Marvel.

(Before I talk about each one of the protagonists' performances in “Eternals”, I have to reinforce the diversity and representativeness present in this cast. Composed by a wide variety of ethnicities, nationalities and social groups, such as Black, Asian, deaf, Latino and Pakistani people, the cast for “Eternals” is probably the most diverse one in a Marvel film so far, and it is a promising step forward for representation of social minorities in a genre that's as omnipresent in today's times as the superhero genre is.

Starting off with the most developed trio of characters, portrayed by Gemma Chan, Richard Madden and Kumail Nanjiani. I really enjoyed how the screenwriters chose Chan's character to be the film's main emotional anchor, rather than picking a more well-known name, such as Angelina Jolie or Salma Hayek. Chan's character is filled with sensibility and care for all human beings, and the actress's charisma manages to capture the viewer's attention from her first moment onscreen. When it comes to Madden, the actor manages to contrast Chan's charisma really well with a perceptible coldness that gives his character a more threatening feel, especially because his powers are extremely similar to those of Superman.

His chemistry with Chan is excellent, and it's quite interesting to note the differences in his character's behavior: during the fight sequences, as one of the most powerful Eternals, he displays a “persona” that's fierce, vigorous and merciless; yet in the scenes where he shares the screen with other characters, the actor does a great job in balancing the cold feel in his character with an incredible sensibility. Kumail Nanjiani is an excellent comic relief, with his character being one of the film's best. Along with Hiresh Patel, Nanjiani brings a necessary lightness to a film that's heavy and overcrowded, when it comes to content.

Angelina Jolie plays the most bad-ass character in the film, by far. She plays a main role in the great majority of the action scenes present throughout the plot, and the emotional development of her character is one of the deepest, if not the deepest one in the screenplay. I simply can't wait to see more of her character. I really enjoyed Salma Hayek's presence here, especially because of her calm and serene voice when playing a main part in a great amount of the film's exposition scenes. Her character's serene and almost angel-like aura makes the viewer's comprehension of its complex bits a little easier.

I loved how Lia McHugh's performance made me wonder how old her character actually is, even though she looks like a child. The actress injects her character with perceptible bitterness, maturity, melancholy and wit, constantly surprising us with her development throughout the plot. I really enjoyed Brian Tyree Henry's performance, especially when seeing how the actor deals with his character's trust in humanity. There's a particular scene halfway through the film that's heart-wrenching because it's so impactful, that the viewer even understands why he's so distant at first, when he reunites with the Eternals after a long time apart.

The characters portrayed by Barry Keoghan, Lauren Ridloff and Don Lee have less development, but each one marks their presence here: I loved how Keoghan managed to be the most anarchist one in the group, constantly challenging his leaders' decisions; Ridloff plays a main role in some of the film's most creative action sequences (I wish I could've seen more of her character, but that'll likely happen in the sequels, as it's confirmed that the Eternals will return); and Lee subverts our expectations when balancing a more comical, uncompromising vein with an amazing sensibility, when sharing the screen with Jolie. And, as a bonus, we have an amazing appearance from Kit Harington, whose ground is prepared here for an extremely promising future in the Marvel Cinematic Universe.)



Visualmente e esteticamente, os aspectos técnicos de “Eternos” ajudam o filme a ser, ao mesmo tempo, a obra mais natural e a mais ambiciosa da Marvel até o momento. A direção de fotografia do Ben Davis é extremamente realista e contemplativa, nos fazendo lembrar muito mais dos trabalhos anteriores da diretora Chloé Zhao, como “Nomadland” (curiosidade: um dos operadores de câmera de “Eternos” é Joshua James Richards, diretor de fotografia dos filmes de Zhao), do que filmes anteriores do gênero e do estúdio. A iluminação é bem natural na grande maioria das ambientações, colaborando para um maior realismo visual. Creio fortemente que o trabalho de Davis aqui pode ter reconhecimento na vindoura temporada de premiações.

Como dito anteriormente, as cenas de ação são muito mais contínuas, e Davis e os montadores Craig Wood e Dylan Tichenor trabalham em conjunto para replicar a urgência, a naturalidade e o teor dinâmico das sequências de ação elaboradas por diretores de fotografia como Emmanuel Lubezki e Roger Deakins em obras como “Birdman”, “O Regresso”, “Filhos da Esperança”, “1917” e “Blade Runner 2049”, respectivamente. Gostei bastante da mistura entre efeitos práticos e CGI presente nestas sequências, colaborando para que elas sejam mais naturais e realistas, mesmo com os atores não interagindo com criaturas alienígenas na vida real. (Risos)

E por fim, mas não menos importante, temos a trilha sonora instrumental, composta pelo Ramin Djawadi, conhecido por seu trabalho no primeiro filme do Universo Cinematográfico da Marvel, “Homem de Ferro” e na série “Game of Thrones”. As faixas compostas por Djawadi são companheiras perfeitas tanto para as sequências de ação quanto para as cenas mais focadas nos personagens. Nas cenas de ação, o compositor consegue replicar perfeitamente o teor épico, grandioso e excitante de seu trabalho em “Game of Thrones”; já nas cenas mais contemplativas, as melodias mais lentas com o auxílio de algumas vozes ajudam a complementar a melancolia e a humanidade presentes na trama.

(Visually and aesthetically, the technical aspects of “Eternals” help the film in being, simultaneously, Marvel's most natural and ambitious work yet. Ben Davis's cinematography is extremely realistic and contemplative, reminding us a whole lot more of director Chloé Zhao's previous work, such as “Nomadland” (fun fact: one of the camera operators in “Eternals” is Joshua James Richards, the director of photography of Zhao's films), than previous films in the studio and genre. The lighting is really natural-like in the great majority of settings, collaborating for a larger visual realism. I strongly believe that Davis's work here could have some recognition in the upcoming award season.

As previously stated, the action scenes are way more continuous-looking, and Davis and editors Craig Wood and Dylan Tichenor work together in order to replicate the urgent, natural, and dynamic tone in the action sequences elaborated by celebrated cinematographers such as Emmanuel Lubezki and Roger Deakins in works like “Birdman”, “The Revenant”, “Children of Men”, “1917” and “Blade Runner 2049”, respectively. I really enjoyed the mix between practical effects and CGI present in these sequences, collaborating for them to have a more natural and realistic feel, even if the actors aren't interacting with alien creatures in real life. (LOL)

And at last, but definitely not least, we have the original score, composed by Ramin Djawadi, known for his work in the first film in the Marvel Cinematic Universe, “Iron Man” and in the TV show “Game of Thrones”. The tracks composed by Djawadi are perfect companions to both the action sequences and the scenes that are more character-focused. In the action scenes, the composer manages to perfectly replicate the epic, grand and exciting tone of his work in “Game of Thrones”; in the more contemplative scenes, the slower melodies with the aid of a few voices help in complementing the melancholy and humanity present in the plot.)



Resumindo, “Eternos” é o filme mais diferente da Marvel Studios, no bom sentido. Sob a direção fantástica de Chloé Zhao, o vigésimo-sexto filme deste universo cinematográfico não é 100% perfeito, mas retém a essência da fórmula característica do estúdio e leva esta mesma fórmula para direções novas, promissoras e surpreendentemente reflexivas. Os personagens introduzidos na trama são fascinantes, humanos e complexos, sendo interpretados por um elenco extremamente talentoso, do qual eu quero ver mais no futuro. E, tecnicamente, o filme consegue equilibrar muito bem o escopo grandioso de uma obra da Marvel e a visão íntima e realista da diretora Chloé Zhao, resultando em um dos melhores filmes de super-heróis do ano.

Nota: 9,5 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “Eternals” is Marvel Studios's most different film yet, in a good way. Under Chloé Zhao's fantastic direction, the twenty-sixth film in this cinematic universe isn't 100% perfect, but it manages to retain the studio's characteristic formula and it leads that very same formula towards new, promising and surprisingly thought-provoking directions. The characters introduced in the plot are fascinating, human and complex, being portrayed by an extremely talented cast, of which I wish to see more in the future. And, technically, the film manages to balance really well the grand scope of something by Marvel with director Chloé Zhao's intimate and realistic vision, resulting in one of the year's best superhero films.

I give it a 9,5 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)


Um comentário:

  1. Êita! Esse filme deve ser muito bom msm! Ótima resenha JP! Parabéns 👏👏👏👏👏👏😀

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