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sexta-feira, 19 de novembro de 2021

"Saga", de Brian K. Vaughan e Fiona Staples - Vols. 1-9: a melhor HQ da atualidade (Bilíngue)

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Todas as boas histórias para crianças são as mesmas: jovem criatura quebra regras, tem uma incrível aventura, aí retorna para casa com o conhecimento que as regras mencionadas estão lá por uma razão. É claro, a verdadeira mensagem para o leitor atento é: quebre as regras frequentemente quando puder, porque quem diabos não quer ter uma aventura?” - D. Oswald Heist

(“All good children's stories are the same: young creature breaks rules, has incredible adventure, then returns home with the knowledge that aforementioned rules are there for a reason. Of course, the actual message to the careful reader is: break the rules as often as you can, because who the hell doesn't want to have an adventure?” - D. Oswald Heist)


E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para falar sobre uma das melhores leituras que fiz neste ano! Quebrando todas as regras do meio, e abordando temas relevantes, sensíveis e surpreendentemente humanos, mesmo em meio à um cenário fantasioso, a obra em questão conta uma história original, ousada, viciante e cativante, povoada por personagens fascinantes e reviravoltas chocantes que deixarão o leitor ansioso e faminto para o que está por vir. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre os volumes 1 a 9 de “Saga”, série de histórias em quadrinhos escrita por Brian K. Vaughan e ilustrada por Fiona Staples. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to talk about one of the best reads I've had the pleasure of doing this year! Breaking all the rules in the medium, and dealing with relevant, sensitive and surprisingly human themes, even if amidst a fantasy scenario, the work I'm about to review tells an original, bold, addictive and captivating story, which is populated by utterly fascinating characters and shocking twists that will leave the viewer anxious and hungry for what comes next. So, without further ado, let's talk about volumes 1-9 of “Saga”, a comic book series written by Brian K. Vaughan and illustrated by Fiona Staples. Let's go!)



A série de quadrinhos acompanha a jornada de Alana e Marko, dois soldados de mundos diferentes que se encontram em constante guerra um com o outro. Ela, uma oficial pertencente à um planeta altamente tecnológico, e ele, um prisioneiro de guerra nativo da lua repleta de magia que orbita ao redor do planeta inimigo, se apaixonam e têm uma filha juntos, a pequena Hazel, que narra cada capítulo já quando adulta. Por Marko e Alana terem se apaixonado e tido uma filha juntos, os três se tornam fugitivos da lei, viajando de planeta à planeta e conseguindo novos e improváveis aliados, tudo isso enquanto são constantemente perseguidos por um príncipe robô, um caçador de recompensas e figuras distantes de seus passados.

(The comic book series follows the journey of Alana and Marko, two soldiers from different worlds that are in constant war with each other. They, Alana as an officer belonging to a highly technological planet, and Marko as a prisoner of war who's a native to the magic-filled moon that orbits around its enemy planet, end up falling in love and having a daughter together, little Hazel, who narrates every chapter as an unseen adult. Because Marko and Alana fell in love and had a child together, the three of them become fugitives of the law, travelling from planet to planet and making new and unlikely allies, all while being constantly chased by a robot prince, a bounty hunter and distant figures from their pasts.)



Ok, aí vai um fato: assim como aconteceu com “Sandman”, série de quadrinhos escrita por Neil Gaiman que acabou sendo a melhor obra de ficção que eu já li em minha vida (inclusive, até fiz uma resenha aqui no blog, vocês podem lê-la aqui:), recebi a recomendação para ler “Saga” de uma das minhas melhores amigas. E literalmente nenhuma das recomendações desta amiga falha em me surpreender. Então, Angela, se você estiver lendo isso, MUITO OBRIGADO. Não conhecia nada da série, mesmo com o co-criador Brian K. Vaughan (responsável por “Y: O Último Homem” e “Fugitivos”) não sendo um completo estranho, mas lembro muito de ver algumas postagens equiparando “Saga” à uma mistura entre “Star Wars” e “Game of Thrones”.

E é exatamente isso pela superfície, mas como um todo, acaba sendo muito, mas muito mais do que essa simples comparação. É algo tão mais abrangente, épico e envolvente, que mesmo se eu escrevesse “'Saga' é incrível” umas mil vezes aqui nesta resenha, não chegaria nem perto de descrever o quão maravilhosa essa série de quadrinhos é. Diga-se de passagem que, mesmo com a citação na introdução sendo de um personagem da obra em questão, “Saga” é uma série feita estritamente para o público ADULTO. Vou trabalhar isso mais a frente na resenha, mas só digo por agora que a série não é comparada à “Game of Thrones” por acidente ou coincidência.

Ok, então, com isso dito, vamos falar um pouco sobre o enredo de “Saga”, primeiro sobre as coisas que ele têm em comum com outras obras em quadrinhos e depois passando por alguns diferenciais específicos da série em relação à estas outras obras. Primeiro, é essencial destacar a amálgama de gêneros presente nos primeiros nove volumes da obra de Vaughan e Staples. A história mistura aspectos de ficção-científica, romance, coming-of-age (ou amadurecimento), comédia, ação, aventura, drama e até faroeste em alguns momentos, e de alguma forma, essa “gororoba” de gêneros estabelecida pelos autores acaba dando certo, devido à maneira que eles manipulam cada um destes elementos e os transformam em algo único, de modo que qualquer comparação feita com a obra não chegará perto do que ela realmente é.

Depois, há a construção de mundo e os personagens de “Saga”, aspectos onde a narração feita pela Hazel adulta assume um protagonismo, e acaba sendo expositiva da melhor maneira possível. A cada capítulo, novas ambientações, circunstâncias e personagens são introduzidos, de modo que o escopo narrativo da obra só vai aumentando. Eu amei o desenvolvimento de cada um destes personagens perfeitamente imperfeitos nos primeiros nove volumes, os quais são compostos por 54 capítulos no total. Por mais alienígenas que pareçam ser visualmente, a narrativa de Vaughan e Staples faz com que cada personagem se torne cada vez mais humano ao longo dos capítulos já publicados, e eu simplesmente adoro quando uma obra de ficção faz com que suas ambientações e personagens pareçam com nós mesmos e o mundo em que vivemos, especialmente quando ela parece estar tão distante da atualidade.

E a última semelhança que gostaria de fazer entre “Saga” e outras histórias em quadrinhos é a qualidade viciante da prosa do autor. Cada página é repleta de diálogos, narrações e ações visuais que mergulham o leitor no universo fascinante e abrangente criado por Vaughan e Staples. Assim como aconteceu em “Sandman”, “Saga” me capturou na primeira página e só foi me soltar quando terminei a última. É simplesmente impossível não se apaixonar por cada um dos personagens presentes ao longo dos primeiros nove volumes, de tão cativantes, carismáticos e humanos que eles são. Vou trabalhar mais sobre a prosa de Vaughan mais à frente, mas por enquanto, as semelhanças são essas.

Passando para os diferenciais, Vaughan e Staples injetam o universo de “Saga” com uma irrefutável e impactante humanidade, um atributo que acaba abrindo portas para que os autores trabalhem temas surpreendente próximos à atualidade, mesmo que a ambientação pareça estar à milênios de distância. Só pela sinopse que coloquei no início da resenha, é possível ver que alguns dos temas abordados são o racismo, o preconceito, a miscigenação, o contraste entre o progresso e a tradição, a guerra e a xenofobia, mas também se fazem presentes aqui temas universais, como o trauma, a redenção e o perdão. Há uma variedade de outras temáticas trabalhadas nos 54 primeiros capítulos de “Saga”, mas não irei aprofundar em todas, para não entrar em território de spoiler.

E falando em spoiler, temos aqui um outro diferencial da obra em questão: as suas reviravoltas, cada uma mais chocante que a outra, com o trabalho de Vaughan e Staples realmente merecendo ser comparado à “Game of Thrones”. Não se enganem: só porque “Saga” é uma história em quadrinhos, não quer dizer que os personagens não irão morrer. O material promocional de “O Esquadrão Suicida” já avisava: “Não se apeguem demais”, e o mesmo pode ser aplicado aqui, porém a tarefa de não se apegar emocionalmente aos personagens de “Saga” é particularmente difícil, pela quantidade de desenvolvimento que eles têm ao longo da trama. Aí, quando os autores dão uma de George R.R. Martin e resolvem matar um deles, é tipo reassistir a já icônica cena do Casamento Vermelho de “GoT”, tudo de novo.

Eu acho simplesmente incrível como Vaughan e Staples conseguem terminar cada capítulo com um cliffhanger (aquele suspense maldito que só será resolvido no próximo capítulo de algo), e na grande maioria das vezes, estes cliffhangers me deixaram boquiaberto, especialmente aqueles que terminam os volumes, ou seja, a cada 6 capítulos. É bem incomum os volumes de “Saga” terminarem de uma maneira que não seja chocante, deixando uma narração da Hazel ou uma informação visual que aumente as expectativas do leitor para os próximos passos da trama. Eu mal posso esperar pelo retorno de “Saga” em janeiro, para que os autores voltem a me deixar boquiaberto com os desenrolares e reviravoltas deste fascinante universo que eles criaram.

E, por último, mas não menos importante, temos aqui outro fator que aproxima “Saga” de “Game of Thrones”: as inúmeras, extensas e explícitas cenas de violência grotesca, uso de drogas, sexo e nudez. Lembram quando eu disse na introdução que a série quebra todas as regras do meio de histórias em quadrinhos? Pois é, essa escolha criativa é uma das razões do porquê disso acontecer. O co-criador Brian K. Vaughan já recebeu várias propostas de adaptação do material para outras mídias, mas ele negou todas elas, restringindo “Saga” ao seu meio original, explicando que “[ele] quis fazer algo que era caro demais para ir para a televisão e obsceno e adulto demais para ser um blockbuster”, e isso é claramente exposto no primeiro capítulo da obra.

Em seus melhores momentos, o conteúdo explícito de “Saga”, como a violência, o sexo e o uso de drogas, é usado com o propósito de introduzir e aprofundar certos personagens, e isso funciona. Mas o problema (e isso, pra mim, é a única falha dessa incrível obra de ficção) é que, muitas vezes, o uso destes conteúdos não é justificado, fazendo com que algumas cenas, situações e até ambientações sejam essencialmente gratuitas, só com o intuito de “aparecer”, “causar”, “lacrar”, e por aí vai. Como dito anteriormente, “Saga” é uma série estritamente direcionada para o público adulto, mas mesmo com o seu público-alvo restrito, Vaughan e Staples às vezes desperdiçam algumas oportunidades que eles têm de desenvolver certas subtramas interessantes, e acabam inserindo momentos desnecessários e, muitas vezes, desconexos da trama principal, só com o intuito de colocá-las lá mesmo, com nenhum objetivo narrativo visível.

(Okay, here's a fun fact: as it happened with “The Sandman”, a comic book series written by Neil Gaiman that ended up being the greatest work of fiction I've ever read in my life (by the way, I even wrote a review for it on the blog, you can read it here:), I was recommended to read “Saga” by one of my best friends. And literally none of this friend's book recommendations ever fails to surprise me. So, Angela, if you're reading this, THANK YOU VERY MUCH. I didn't know anything about this series, even though if its co-creator Brian K. Vaughan (responsible for “Y: The Last Man” and “Runaways”) wasn't a complete stranger to me, but I'm fairly reminded of reading some posts on the Internet, which compared “Saga” to a mix between “Star Wars” and “Game of Thrones”.

And that's exactly what it is on the surface, but as a whole, it ends up being so, so much more than that simple comparison. It's something that's so much more comprehensive, epic and envolving, that even if I wrote “'Saga' is amazing” a thousand times in this review, it still wouldn't come even close to describe how wonderful this comic book series is. By the way, I have to state that, even though the quote in the intro belongs to a character from this work, “Saga” is a series strictly made for an ADULT audience. I'll work on that more ahead on the review, but, for now, I'll just say that it doesn't get compared to “Game of Thrones” by accident or coincidence.

Okay, so, with that said, let's talk about the general plot of “Saga”, firstly on the things that it has in common with other comic book works and then going through some specific different things about it that makes the series stand out among other comic books. First off, it's essential to reinforce the amalgamous amount of genres present in the first nine volumes of Vaughan and Staples' work. The story blends aspects from science fiction, romance, coming-of-age, comedy, action, adventure, drama and even Western in a few parts, and somehow, this smorgasbord of genres established by the authors ends up actually working, due to the way they manipulate each one of these elements and transform them into something unique, in a way that any comparison made with it won't even come close to what it really is.

Then, there's the world-building and characters of “Saga”, aspects in which the narration by adult Hazel assume a fairly main role, and ends up being a tool of exposition in the best way possible. In each chapter, new settings, circumstances and characters are introduced, in a way that the work's narrative scope is constantly expanding. I loved the development of each one of these perfectly imperfect characters throughout the first nine volumes, which are composed by a total of 54 chapters. As alien as they may seem visually, Vaughan and Staples' narrative makes each character become more and more human throughout its already-published chapters, and I just love it when a work of fiction makes its settings and characters feel like ourselves and the world we live in, especially when it seems so far away from reality.

And the last similarity I'd like to point out between “Saga” and other comic books is the addictive quality of the author's prose. Each page is filled with dialogue, narrations and visual actions that immerse the reader into the fascinating and comprehensive universe created by Vaughan and Staples. Just like it happened in “Sandman”, “Saga” captured me on the first page, and only let me go when I was through with the last one. It's simply impossible not to fall in love with each one of the characters present throughout the first nine volumes, due to their charisma, emotional depth and humanity. I'll work more on Vaughan's prose later on, but for now, these are the similarities it has in comparison to other comics.

Onto the differences, Vaughan and Staples inject the universe of “Saga” with an irrefutable and impactful humanity, an attribute that ends up opening doors for the authors to work with themes that are surprisingly close to today's times, even though its setting seems like a million miles away. Just from the synopsis I've written in the beginning of this review, it's possible to see that some of the themes dealt with here are racism, prejudice, miscigenation, the contrast between progress and tradition, war and xenophobia, but there are also some universal themes here, such as trauma, redemption and forgiveness. There's a variety of other themes worked and dealt with in the 54 chapters of “Saga”, but I won't delve deep into them, so that I don't risk going into spoiler territory.

And speaking of spoilers, we have here yet another difference of the work reviewed here: its plot twists, which get more shocking as the plot moves forward, with Vaughan and Staples' work really earning that comparison to “Game of Thrones”. Don't be fooled: only because “Saga” is a comic book, it doesn't mean its characters can't die. The “The Suicide Squad” promotional material already warned us: “Don't get too attached”, and the same can be applied here, but the task of not getting emotionally attached to the characters of “Saga” is particularly tough, because of the amount of development they get throughout the plot. Then, when the authors decide to pull off a George R.R. Martin and kill one of them off, it's like rewatching the already iconic Red Wedding scene from “GoT”, all over again.

I think it's absolutely amazing how Vaughan and Staples manage to finish off every chapter with a cliffhanger, and in most of the times, those cliffhangers leave my jaw dropped to the floor, especially the ones that finish off the volumes, meaning every 6 chapters. It's quite unusual for a volume of “Saga” to end in a way that's not shocking, leaving behind a narration by Hazel or some visual information that lifts the reader's expectations all the way to the top to see the story's next steps forward. I simply can't wait for the return of “Saga” in January, so that the authors can leave my jaw dropped to the floor again with the developments and plot twists in this fascinating universe they've created.

And at last, but not least, we have another factor that brings “Saga” closer to “Game of Thrones”: its numerous, extended and explicit sequences of grotesque violence, drug use, sex and nudity. Remember when I said in the intro that the series breaks every rule in the comic book medium? Yeah, this creative choice is one of the reasons why that happens. Co-creator Brian K. Vaughan has already received several propositions to adapt the source material to other media, but he declined all of them, restraining “Saga” to its original medium, explaining that “[he] wanted to do something that was way too expensive to be TV and too dirty and grown-up to be a four-quadrant blockbuster”, and that's clearly exposed in the first chapter of the series.

In its best moments, the explicit content of “Saga”, such as violence, sex and drug use, is used with the purpose of introducing or deepening the characters' development, and that works. But the problem (and that, for me, is the only flaw in this amazing work of fiction) is that, in most of the times, the use of such content is not entirely justified, making some scenes, situations and even settings seem essentially gratuitous, only with the objective of “baring it all”, “showing off”, “making a scene”, and so it goes. As previously stated, “Saga” is a series that's strictly directed towards an adult audience, but even with its restricted target audience, Vaughan and Staples often waste some opportunities they get of working on interesting subplots, and end up inserting unnecessary scenes that are, at many times, disconnected from the main plot, just for the sake of placing them there, without any visible narrative objective.)



É bem difícil falar dos personagens de “Saga”, pois o desenvolvimento deles é tão aprofundado ao longo dos primeiros nove volumes, que é quase impossível dissertar sobre o arco narrativo de cada um sem entrar em território de spoiler, já que muitos destes personagens são introduzidos de surpresa, mas vou tentar fazer o meu melhor. O Marko e a Alana são os melhores protagonistas de uma série de quadrinhos contínua que eu já vi. Eu adoro os contrastes entre os dois, em termos de personalidade. Enquanto o Marko pode ser mais filosófico, pacífico e contido, a Alana é sarcástica, imprudente e extrovertida, mas isso não significa que os personagens estão presos à estas características, e isso é o mais mágico sobre o desenvolvimento de todos os personagens de “Saga”.

Assim como em “Life is Strange 2”, os personagens coadjuvantes criados por Vaughan e Staples são fantásticos e adicionam muita profundidade e escopo à trama de “Saga”. Falando dos personagens mencionados na sinopse: o príncipe robô é um dos meus personagens favoritos da série, sendo ao mesmo tempo temível, implacável e sarcástico, dono de um senso de humor ácido; o caçador de recompensas é, de longe, o personagem mais humano de “Saga”, tanto visualmente quanto emocionalmente, e é uma das principais ferramentas utilizadas pelos autores para trabalhar o tema recorrente do trauma, e as cicatrizes que um evento traumático pode deixar em uma pessoa.

E por último, mas certamente, não menos importante, temos os vilões, que se apresentam mais através de uma maneira simbólica e temática do que em carne e osso. Eu acho isso brilhante porque, diferente das pessoas, que podem mudar de comportamento constantemente, os temas que Vaughan e Staples abordam em “Saga”, como o preconceito e a guerra, nunca mudam, e ainda por cima, estes temas são todos criados e estabelecidos pelos seres humanos, o que dá ao cenário geral da série uma dose extra de humanidade, mesmo sendo ambientada em uma realidade que parece estar extremamente distante da nossa.

(It's quite hard to talk about the characters of “Saga”, as their development is so deepened throughout its first nine volumes, that it's almost impossible to discuss about each of their narrative arcs without entering spoiler territory, as many of these characters are introduced by surprise, but I'll try and do my best. Marko and Alana are the best protagonists in a continuous comic book series I've ever seen. I love the contrasts between both of them, when it comes to their personalities. While Marko can be more philosophical, peaceful and contained, Alana is sarcastic, reckless and extroverted, but that doesn't mean the characters are stuck with these qualities, and that's the most magical thing on the development of every character in “Saga”.

Just like in “Life is Strange 2”, the supporting characters created by Vaughan and Staples are fantastic and add extremely large amounts of depth and scope to the plot of “Saga”. Speaking of the characters mentioned in the synopsis: the robot prince is one of my favorite characters in the series, being simultaneously fearsome, relentless and sarcastic, owning a very acid sense of humor; the bounty hunter is, by far, the most human character in “Saga”, both visually and emotionally, and he's one of the main tools used by the authors to work and deal with the recurring theme of trauma, and the scars that a traumatic event can leave on a person.

And at last, but certainly, not least, we have the villains, which are presented a lot more in a symbolic and thematic way than they do in flesh and bone. I personally think that's brilliant because, unlike people, who can constantly change their behaviour and way of living, the themes that Vaughn and Staples work with in “Saga”, such as prejudice and war, never change, and as a matter of fact, those themes were all created and established by human beings, which gives the series's general scenario an extra dose of humanity, even if it's set in a reality that seems like it's a million miles away from our own.)



Eu fico constantemente impressionado com o trabalho que ilustradores de histórias de quadrinhos precisam fazer para que cada quadro planejado no roteiro ganhe vida, visualmente. Alguns, como os de “Sandman”, conseguem ser bastante inventivos na maneira de montar as páginas, às vezes expandindo a ação para duas páginas ao invés de uma, ou mudando a direção dos quadros ao longo da página. Em “Sandman”, foi preciso de uma equipe de várias pessoas para dar vida à visão narrativa de Neil Gaiman. Em “Saga”, eu fico ainda mais impressionado, por toda a composição visual da narrativa, dos personagens e das ambientações ficar inteiramente sobre os ombros de uma pessoa: a ilustradora e co-criadora da série, Fiona Staples.

Brian K. Vaughan, co-autor de “Saga”, pode até ter falado que ele criou a série com o objetivo de restringi-la aos quadrinhos e evitar que ela seja adaptada para outras mídias, como o cinema e a TV. Mas, ao ver as composições visuais de Staples feitas ao longo dos 54 capítulos publicados, é quase impossível não ter o seguinte pensamento voando pela sua cabeça: “Nossa, isso daria um baita filmão”, de modo que todas as cenas criadas pela ilustradora são essencialmente cinematográficas. As cenas de ação possuem uma sensação inegável de fluidez e movimento, como se os quadros parados estivessem, por si mesmos, em movimento, de tão rápida, dinâmica e precisa que a arte de Staples consegue ser.

Os personagens são outro destaque do trabalho de Staples em “Saga”, especialmente pela diversidade e pela criatividade que a ilustradora consegue injetar neles. Só para vocês terem uma ideia do quão diverso o elenco de personagens de “Saga” é: dos doze personagens principais da série, somente um se identifica como branco. Nas palavras de Staples, em entrevista ao Hero Complex: “A representatividade e a diversidade em HQs é algo importante para mim, e eu também acho que isso faz com que o universo que você esteja criando seja mais realista e autêntico. […] A grande maioria das pessoas na Terra não são brancas. Por quê esta galáxia seria?”. Outro detalhe em relação ao design dos personagens é a presença de vários pulos temporais entre os volumes, e Staples faz um ótimo trabalho em explorar as mudanças físicas sofridas pelos personagens, com algumas destas mudanças sendo quase inacreditáveis de tão drásticas.

E, por último, temos as ambientações, cada uma mais fascinante e complexa que a anterior. O mais interessante fica com o contraste entre as duas ambientações principais: Landfall, planeta de Alana; e Wreath, lua de Marko. Enquanto Landfall parece mais uma metrópole, com seus arranha-céus e avanços tecnológicos, Wreath parece ser uma floresta em formato de lua, com Staples dando destaque à natureza presente na ambientação, o que é bem legal. Além desses dois cenários principais, há uma pluralidade surpreendente de ambientações ao longo dos nove volumes de “Saga”, e o mais incrível de se perceber é como cada ambientação parece ter sido tirada da realidade e ter ganho uma roupagem fantasiosa, devido à natureza da obra. É algo realmente impressionante.

(I get constantly impressed with the amount of work that comic book illustrators have to go through in order to make every frame planned on the script come alive, visually. Some of them, like the ones in “The Sandman”, manage to be really inventive when assembling their pages, sometimes expanding one action to two pages instead of just one, or changing the direction of the frames as the page goes on. In “Sandman”, it took an entire crew to bring Neil Gaiman's ambitious narrative vision to life. In “Saga”, I get even more impressed, because the entire visual composition of the story, characters and settings relies solely over the shoulders of one single artist: the series's illustrator and co-creator, Fiona Staples.

Brian K. Vaughan, co-author of “Saga”, may even have stated that he created the series with the objective of restraining it to the comic book medium and preventing it from being adapted to other media, such as movies or TV. But, when we see Staples's visual compositions throughout its published 54 chapters, it's almost impossible not to have the following thought floating through our heads: “Damn, that would make one hell of a movie”, in a way that every scene created by the illustrator is essentially cinematic. The action scenes have an undeniable feeling of fluidity and motion, as if the still frames are, by themselves, in motion, all thanks to the quick, dynamic and precise tone that Staples injects in her art.

The characters are another highlight of Staples's work in “Saga”, especially for the diversity and creativity the illustrator displays and injects into them. Just so you can get an idea of how diverse the cast of characters of “Saga” is: out of the twelve main characters in the series, only one of them identifies as white. In Staples's words, when interviewed by Hero Complex: “Representation and diversity in comics is something that's important to me, and I also think it just makes a more realistic universe when you're constructing a brand-new world and you want it to feel authentic. Most of the people on Earth are not white. Why would this galaxy be?”. Another detail when it comes to designing the characters is the presence of several time jumps inbetween volumes, and Staples does a terrific job in exploring the physical changes suffered by the characters, with some of these changes being so drastic they're nearly unbelievable.

And, at last, we have the settings, each one more fascinating and complex than the last. The most interesting thing about them relies on the contrast between its two main settings: Landfall, Alana's planet; and Wreath, Marko's moon. While Landfall is similar to a metropolis of sorts, with its skyscrapers and cutting-edge technological advances, Wreath seems like a forest shaped like a moon, with Staples highlighting the nature in the setting, which is pretty cool. Besides those two main scenarios, there's a surprising plurality of settings throughout the nine volumes of “Saga”, and the most incredible thing to realize is how every setting seems taken off or based on reality, and gained a fantasy outfit, due to the work's nature. It's something really impressive.)



Resumindo, os nove primeiros volumes de “Saga” consagram a obra de Brian K. Vaughan e Fiona Staples como uma das histórias em quadrinhos mais originais, ousadas, criativas e únicas dos últimos tempos. A série pode exagerar um pouco nos conteúdos mais explícitos, mas os autores conseguem manter a atenção do leitor com perfeição, devido à história cativante e cheia de reviravoltas chocantes elaborada por Vaughan; aos personagens, que vão ficando cada vez mais humanos ao longo da trama; e à arte de Staples, que exalta e celebra a diversidade presente nas ambientações e protagonistas da trama. Que venham os próximos nove volumes, para a conclusão da saga épica de Alana e Marko!

Nota: 9,9 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, the first nine volumes of “Saga” celebrate Brian K. Vaughan and Fiona Staples' work as one of the most original, daring, creative and unique comic books in recent memory. It might go a little too far in its more explicit content, but the authors manage to perfectly maintain the reader's attention, due to the captivating story filled with shocking twists elaborated by Vaughan; to the characters, who become more and more human throughout the plot; and to Staples's art, which highlights and celebrates the diversity in the plot's settings and protagonists. May the next nine volumes come, for the conclusion of Alana and Marko's epic saga!

I give it a 9,9 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)


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