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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para trazer a resenha do filme que eu estava mais esperando para ver nos últimos 2 anos! Munido de um roteiro que traduz a leitura de uma revista de forma extremamente fiel para as telas; aparições breves, mas eficientes, de um elenco mega talentoso; e aspectos técnicos que destacam o teor eclético e dinâmico de um dos movimentos mais importantes da história do cinema, o filme em questão encontra o diretor Wes Anderson em sua obra mais pessoal desde “Moonrise Kingdom”, dedicando uma verdadeira carta de amor ao espírito vibrante do jornalismo. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “A Crônica Francesa”. Vamos lá!
(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to bring the review of the film I was most excited to watch in the last 2 years! Armed with a screenplay that faithfully translates the reading of a magazine to the screen; brief, yet effective, appearances by a mega talented cast; and technical aspects that highlight the eclectic and dynamic tone of one of the most important movements in cinema history, the film I'm about to review finds director Wes Anderson in his most personal work since “Moonrise Kingdom”, dedicating a true love letter to the vibrant spirit of journalism. So, without further ado, let's talk about “The French Dispatch”. Let's go!)
Ambientado após a Segunda Guerra Mundial, o filme acompanha uma equipe de jornalistas americanos que trabalha na filial francesa de uma revista originada no estado do Kansas, nos EUA. Após a morte do editor-chefe (Bill Murray) da publicação, os jornalistas se reúnem para montar uma última edição contendo as três melhores matérias publicadas na revista em seus 50 anos de existência: o perfil de um artista encarcerado por assassinato (Benicio del Toro), e sua ascensão à fama inesperada; a documentação de uma série de protestos estudantis liderados por um jovem enxadrista (Timothée Chalamet), os quais levam à uma verdadeira revolução; e a história de como um chef de cozinha da polícia (Stephen Park) encontra a solução improvável para o sequestro de uma criança.
(Set after World War II, the film follows a staff of American journalists who work in a French foreign bureau of a magazine created in the state of Kansas, in the United States. After the death of their editor-in-chief (Bill Murray), the journalists gather together in order to assemble one last issue containing the three best stories published by the magazine in its 50 years of existence: the profile of an artist who's incarcerated for murder (Benicio del Toro), and his ascension to unexpected fame; the recording of a series of student protests led by a young chess player (Timothée Chalamet), which lead to a real revolution; and the unlikely solving of the kidnapping of a child by a police cook (Stephen Park).)
Acho que eu nem preciso dizer que minhas expectativas estavam muito, mas MUITO altas para ver “A Crônica Francesa”. Primeiro, por se tratar do décimo filme de Wes Anderson (responsável por filmes como “Moonrise Kingdom”, meu filme favorito, e “O Fantástico Sr. Raposo”), que é simplesmente meu diretor favorito, como a grande maioria dos meus leitores certamente deve saber. Segundo, por ser um filme sobre jornalismo. Para aqueles que ainda não sabem, estou atualmente cursando Jornalismo na faculdade, então, dá até pra imaginar a minha reação quando descobri que o meu diretor favorito estava fazendo um filme sobre a carreira que eu pretendia seguir.
Terceiro, pelo elenco estelar que o diretor conseguiu reunir, o qual inclui nomes já conhecidos para Anderson, como Bill Murray, Frances McDormand, Adrien Brody, Owen Wilson e Tilda Swinton, mas também conta com a presença de marinheiros de primeira viagem na carreira cinematográfica do cineasta, como Timothée Chalamet, Lyna Khoudri, Jeffrey Wright, Benicio del Toro e Christoph Waltz. E em quarto e último lugar, pelo filme contar com o retorno da grande maioria da equipe técnica que fez magia nas telonas com “O Grande Hotel Budapeste”, filme de Anderson que ganhou 4 Oscars em 2015, incluindo Melhor Direção de Arte e Melhor Trilha Sonora Original.
Então, sim, pode-se dizer que eu estava bem animado para ver “A Crônica Francesa”, tanto que coloquei o filme em primeiro lugar nas listas que fiz dos filmes que queria mais ver em 2020 e em 2021, pois infelizmente, a nova obra de Anderson foi uma das várias que teve seu lançamento adiado pela pandemia de COVID-19. As primeiras reações ao filme vindas de Cannes, onde “A Crônica Francesa” foi aplaudido por 9 minutos consecutivos, me animaram bastante, especialmente por se tratar de uma antologia, de modo que o roteiro conta com três histórias independentes uma da outra. Minhas expectativas estavam tão altas que tive que viajar para assistir ao filme, já que ele não seria exibido na cidade onde eu moro.
E fico extremamente satisfeito em dizer que, mesmo que “A Crônica Francesa” não seja o melhor filme do diretor, minhas expectativas foram atendidas (e até superadas, em alguns aspectos) com sucesso. Ok, com isso dito, vamos falar do roteiro. Escrito por Anderson, e contando com colaborações de Roman Coppola, Hugo Guinness e Jason Schwartzman, pode-se dizer que o enredo de “A Crônica Francesa” é o mais minimalista elaborado pelo cineasta, de modo que não se faz presente aquele envolvimento emocional característico dos filmes do diretor, como em “Os Excêntricos Tenenbaums”, “Moonrise Kingdom” e “O Grande Hotel Budapeste”, mas como qualquer coisa feita por Wes Anderson, há um motivo bastante claro para isso acontecer.
Como uma homenagem ao trabalho feito por jornalistas expatriados em revistas como a The New Yorker, clara inspiração para a estética da revista-título, o filme tenta simular a leitura de uma revista jornalística, feita de maneira rápida e temporária, mas com o objetivo de despertar a vontade no espectador de assistir ao filme novamente, para perceber todos os detalhes colocados em cada história, assim como é possível ocorrer na leitura de uma matéria jornalística marcante de uma publicação. E é por isso que o formato de antologia foi o modo ideal de contar essa história em particular, mesmo sendo bem diferente do que estamos acostumados a ver do diretor.
Mas não se enganem: o filme pode mudar uma coisa ou outra em relação à “fórmula” de marcas registradas estabelecidas pelo cineasta ao longo de sua carreira, mas “A Crônica Francesa” ainda é um filme de Wes Anderson, em sua essência. O passo acelerado da história, a maneira rápida e dinâmica com que os atores manipulam seus diálogos, os planos fotográficos mais centralizados e simétricos, a câmera acompanhando um personagem e percorrendo um cenário na horizontal, o senso de humor excêntrico de seus personagens emocionalmente abalados, a estética dos cenários em tons pastel, a trilha sonora dos anos 1960 e 1970. Tudo aqui, narrativamente e visualmente, é parte daquilo que viemos a esperar de um filme de Wes Anderson.
Como qualquer antologia, as histórias independentes de “A Crônica Francesa” divergem, em termos de qualidade, mas todas as três têm ao menos uma mensagem interessante a ser transmitida. A primeira, a do artista encarcerado por assassinato, é a mais engraçada das três. Ela contém alguns dos personagens mais excêntricos de Anderson, os quais serão levados a fundo mais à frente, e há um momento metalinguístico muito criativo para simular uma espécie de passagem de tempo. Há uma mensagem crítica bem interessante ao verdadeiro significado da arte, e como, muitas vezes, este significado passa batido por pessoas que desejam ganhar fama e glória por cima dos próprios artistas, cientes do que suas obras significam para eles mesmos.
A segunda, sobre os protestos estudantis, é a mais narrativamente “parada” das três, mas por ser mais lenta, acaba tendo várias semelhanças com os filmes da Nouvelle Vague, movimento que deu origem à obras como “Acossado”, de Godard, e “Os Incompreendidos”, de Truffaut, inspirações claras para este segmento em particular. Eu gostei bastante da relação entre os dois protagonistas da história, e isso foi, pra mim, o principal destaque dela. O senso de humor característico e dinâmico de Anderson também se faz presente aqui, especialmente através do personagem de Timothée Chalamet. E além de ser uma homenagem esteticamente perfeita à Nouvelle Vague, o segundo segmento possui uma mensagem brilhante sobre o legado que várias figuras revolucionárias deixam, e como as pessoas que apoiam os movimentos criados por estas figuras, muitas vezes, não têm consciência de metade do que aquele movimento significa, só seguindo-o por “estar na moda”.
A terceira, sobre o sequestro solucionado por um chef de cozinha, é a melhor das três. É, simultaneamente, o segmento que mais parece algo feito pelo Wes Anderson, e o que possui mais fluidez, realmente parecendo uma matéria jornalística. O primeiro se dá pelo fato da história ter um foco maior no repórter que a está redigindo do que na pessoa sobre a qual o repórter está escrevendo. Ao contrário das duas outras histórias, aprendemos muito sobre o pano de fundo do Roebuck Wright, interpretado pelo Jeffrey Wright, e, por causa disso, aprendemos a ter uma empatia emocional maior por ele do que pelas outras duas jornalistas, interpretadas por Tilda Swinton e Frances McDormand.
O segundo se dá justamente pela onipresença e onisciência do jornalista em relação à reportagem que ele está redigindo. Existem usos incríveis de quebra da quarta parede e narração em voice-over feitos neste segmento em particular, permitindo que o espectador se sinta completamente imerso na ação. Há até uma parte animada neste capítulo, o que pode ser uma semi-referência às narrativas transmidiáticas, onde a mesma história tem um complemento publicado em um meio diferente do original. E, para consolidar esta narrativa como a melhor em “A Crônica Francesa”, há uma troca de diálogos extremamente tocante entre o repórter e o chef de cozinha, que diz muito sobre como é trabalhar como expatriado em uma nação estrangeira.
Mas, mesmo que as histórias tenham suas mensagens particulares, todos os três segmentos possuem um ponto em comum: todos conseguem ir direto ao ponto e se conectar ao que eu considero ser a verdadeira essência do jornalismo, algo que também me chamou a atenção em “Quase Famosos”, um dos melhores filmes sobre a carreira que eu já vi. Fazer jornalismo não se resume à perseguir um furo, ou à procurar alguma tragédia para noticiar. Fazer jornalismo é obter relatos de pessoas que podem não receber espaço nas páginas de um jornal, é fazer o invisível se sentir visto pelos outros, é não se render às demandas do mercado e confiar naquilo que se escreve. Ou seja, jornalismo é uma das várias formas de contar histórias, é uma forma de deixar o legado das pessoas relatadas nas matérias para os leitores daquela publicação.
Nesse ponto de vista, “A Crônica Francesa” é definitivamente um dos melhores filmes sobre jornalismo que eu já vi, e é um filme essencial para aqueles que desejam seguir essa carreira. Não é o melhor filme de Wes Anderson, por faltar aquele investimento emocional nos personagens, mas a estrutura narrativa do roteiro faz um trabalho brilhante em traduzir, de maneira extremamente fiel, a leitura de uma boa revista jornalística para as telonas, e em refletir a paixão do diretor pelos jornalistas expatriados que o inspiraram, atendendo e superando as minhas expectativas com sucesso. Mal posso esperar pela chance de assisti-lo de novo!
(I think I don't even have to say that my expectations were very, VERY high to watch “The French Dispatch”. Firstly, because it was the tenth film directed by Wes Anderson (who's responsible for films like “Moonrise Kingdom”, my favorite movie, and “Fantastic Mr. Fox”), who is simply my favorite director of all time, as the great majority of my readers certainly know by now. Secondly, because it is a film about journalism. To those who still don't know, I'm currently studying Journalism in college, so, you can even imagine my reaction when I found out that my all-time favorite director was making a film about the career I intended to follow.
Thirdly, because of the star-studded cast the director was able to assemble, which includes names that are already familiar to Anderson, such as Bill Murray, Frances McDormand, Adrien Brody, Owen Wilson and Tilda Swinton, as well as first-timers in the filmmaker's cinematic career, such as Timothée Chalamet, Lyna Khoudri, Jeffrey Wright, Benicio del Toro and Christoph Waltz. And in fourth and last place, because it relied on the return of most of the technical crew that made movie magic with “The Grand Budapest Hotel”, one of Anderson's films, which won 4 Oscars in 2015, including Best Production Design and Best Original Score.
So, yes, it can be said that I was really excited to watch “The French Dispatch”, so excited that I put it in first place in the lists I've made of my most anticipated films of both 2020 and 2021, because unfortunately, Anderson's new work was one of many that had their releases delayed by the COVID-19 pandemic. The film's first reactions arriving from Cannes, where “The French Dispatch” received a 9-minute standing ovation, left me really excited, especially because it was an anthology, meaning that the screenplay relies on three independent stories that stand on their own feet. My expectations were so high, that I had to travel in order to see the film, as it wasn't being shown in the city I live in.
And I'm extremely satisfied to say that, even though “The French Dispatch” isn't the director's best film, my expectations were successfully met (and even exceeded, in some aspects). Okay, with that said, let's talk about the screenplay. Written by Anderson, relying on collaborations by Roman Coppola, Hugo Guinness and Jason Schwartzman, it can be said that the plot for “The French Dispatch” is the most minimalist one the filmmaker has concocted so far, as it doesn't have that characteristic emotional involvement in the director's films, such as in “The Royal Tenenbaums”, “Moonrise Kingdom” or “The Grand Budapest Hotel”, but just like everything Wes Anderson has made, there's a very specific reason why that actually happens.
As a homage paid to the work done by expatriate journalists for magazines like The New Yorker, which is a clear inspiration for the title magazine's aesthetic, the film tries to simulate the reading of a journalistic magazine, done in a quick, temporary way, but with the objective of making the viewer want to watch it again, to notice every single detail put in each story, as it is also likely to happen with the reading of a distinctive journalistic story published in a newspaper or magazine. And that's why the anthology format was the most ideal one to use for this story in particular, even though it's quite different from what we're used to see from the director.
But don't get me wrong: the film might change one thing or another in the “formula” of trademarks that were established by the filmmaker throughout his career, but “The French Dispatch” is still a Wes Anderson film, in its essence. The quickened, lightning-fast pace of the story, the rapid and dynamic way in which the actors manipulate their dialogue, the more centralized and symmetrical photographic shots, the camera following a character and horizontally going through a whole setting, his emotionally unstable characters' quirky sense of humor, the settings' aesthetic in pastel-coloured palettes, the soundtrack from the 1960s and 1970s. Everything here, both narratively and visually, is part of what we would come to expect from a Wes Anderson film.
As in any anthology, the independent stories in “The French Dispatch” diverge, when it comes to quality, but all three of them have at least one interesting message to convey to the audience. The first one, with the artist who's incarcerated for murder, is the funniest of the three. It contains some of Anderson's quirkiest characters, which will be dealt with later on, and there's an extremely creative meta moment to simulate a time passage of sorts. There's a really interesting critical message on the true meaning of art, and how, many times, that meaning goes over the heads of people who wish to gain money and glory over the artists themselves, who are aware of what their work means to them.
The second one, about the student protests, is the most narratively stalled of the bunch, but because it's slower, it ends up having several similarities with the films in the French New Wave, a movement that gave birth to works such as Godard's “Breathless” and Truffaut's “The 400 Blows”, which were clear inspirations to this particular segment. I really enjoyed the relationship between the story's two protagonists, and that was, to me, its main highlight. Anderson's distinctive and dynamic sense of humor marks its presence here, especially through Timothée Chalamet's character. And besides its aesthetically perfect homage to the French New Wave, the second segment has a brilliant message on the legacy left by revolutionary figures, and how the people who support the movements started by these figures, many times, aren't aware of half of what that movement means, only following it because “it's in fashion”.
The third one, about the kidnapping that's solved by a police cook, is the best one of the three. It's, simultaneously, the one that most feels like something Wes Anderson would've done, and the one which has the most fluidity, really sounding like a journalistic story. It feels like something Wes did because the story has a bigger focus on the reporter who's writing it rather than the person of which the reporter is writing about. Unlike the other two stories, we end up learning a lot from the background of Roebuck Wright, played by Jeffrey Wright, and, because of that, we learn to have a bigger emotional empathy for him than we did for the other two journalists, portrayed by Tilda Swinton and Frances McDormand.
It feels like a journalistic story because of the omnipresence and omniscience the journalist displays over the story he's writing. There are some amazing uses of fourth-wall breaking and voice-over narrating in this particular segment, allowing the viewer to feel all the more immersed into the action in the story. There's even an animated bit in this chapter, which might be a semi-reference to transmedia narratives, in which the same story has some kind of complement published in a medium that's different from the original one. And, to cement this narrative as the best one in “The French Dispatch”, there's a really touching exchange of dialogue between the reporter and the police cook, which says a lot about how it is to work as an expatriate in a foreign nation.
But, even though the stories had their own particular messages, all three segments have something in common: all of them manage to go straight to the point, and connect to what I think is the true essence of journalism, something that also caught my attention in “Almost Famous”, one of the best films about the journalistic career I've ever seen. Making journalism isn't just chasing a scoop to report, or looking for your run-of-the-mill tragedy to write about. Making journalism is obtaining stories from people who might not get enough space on the pages of a newspaper, it's making the invisible feel seen by the others, it's not surrendering to the market's demands and trusting what you write. In other words, journalism is one of many ways of storytelling, it's a way of leaving the legacy of the people portrayed in those stories to the readers of that publication.
In that point of view, “The French Dispatch” is definitely one of the best films about journalism that I've ever seen, and it is essential viewing to those who wish to follow that particular career. It's not Wes Anderson's best film, as it lacks that emotional investment in the characters, but the screenplay's narrative structure does a brilliant job of translating, in an extremely faithful way, the reading of a good journalistic magazine to the big screen, and of reflecting the director's passion towards the expatriate journalists who inspired him, successfully meeting and exceeding my expectations. I just can't wait until I get the chance to watch it again!)
Diferente dos outros filmes de Wes Anderson, onde cada membro do elenco tem um papel recorrente a cumprir na trama geral, em “A Crônica Francesa”, grande parte dos atores presentes neste grande elenco é reduzida à participações curtas, em parte pelo formato escolhido pelo diretor. Mas, felizmente, cada um consegue marcar seu território com o que lhe é oferecido, mesmo que há um maior destaque para alguns do que para outros. A Tilda Swinton tem aqui um dos seus papéis mais engraçados. Há uma extravagância presente na performance física dela, a qual serve de contraste para uma melancolia reprimida que é revelada aos poucos. É impossível não gostar dos personagens do Adrien Brody em filmes do Wes Anderson. O personagem dele aqui é bem diferente, por exemplo, do Dmitri de “O Grande Hotel Budapeste”, mas a maneira rápida com a qual ele manipula seus diálogos é algo impagável.
O Benicio del Toro tem uma dinâmica muito boa com a Léa Seydoux, onde a natureza emocional e intelectualmente perturbada do personagem dele faz um contraste perfeito com a rigidez e a frieza da personagem dela. Eu queria ter visto mais do Owen Wilson, cujo personagem assume um protagonismo hilário em um curto segmento antes da primeira história. A Frances McDormand está excelente aqui, como é de se esperar de uma vencedora de 3 Oscars de Melhor Atriz. A performance dela é um dos melhores retratos de solidão e melancolia que eu vi em um filme do Wes Anderson desde o Richie em “Os Excêntricos Tenenbaums”. O Timothée Chalamet caiu como uma luva no conceito da história que ele protagoniza. Ele é um dos personagens mais excêntricos e engraçados do filme, e é bem interessante ver como as performances do ator e de McDormand se complementam perfeitamente.
O melhor personagem do filme, de longe, é o jornalista interpretado pelo Jeffrey Wright, cuja presença é tão imponente e marcante que o espectador acaba desejando que o filme inteiro fosse visto sob o ponto de vista dele. A voz e a performance física de Wright em “A Crônica Francesa” me lembraram muito das narrações e participações do apresentador e roteirista Rod Serling nos episódios da série clássica “Além da Imaginação”, ou como é mais conhecida, “The Twilight Zone”. Eu não descartaria uma indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante para ele ano que vem. Eu também gostei bastante do Stephen Park, que, mesmo com poucas falas, consegue dizer muito sobre seu personagem. E, é claro, temos o Bill Murray, que tem pouquíssimas cenas, mas seu personagem cumpre perfeitamente um papel de mentor para os seus jornalistas, e é bem legal ver ele agindo como o “paizão” da equipe, motivando-os a escreverem com vigor e paixão, do jeito mais Bill Murray possível.
Além dos já citados, há aparições curtas, mas eficientes, de atores como Willem Dafoe, Henry Winkler, Bob Balaban, Lyna Khoudri, Alex Lawther, Christoph Waltz, Elisabeth Moss, Jason Schwartzman, Edward Norton, Mathieu Amalric, Saoirse Ronan, Tony Revolori, Lois Smith, Rupert Friend, Cécile de France, Liev Schreiber, Denis Menochet, Fisher Stevens, Wally Wolodarsky, Griffin Dunne e Anjelica Bette Fellini, que fazem um ótimo trabalho com o que é oferecido aos seus personagens. E, para fechar o elenco com chave de ouro, temos a voz de Anjelica Huston como narradora do filme em geral, com o trabalho dela aqui me lembrando muito das narrações em voice-over do Alec Baldwin em “Os Excêntricos Tenenbaums” e do Jude Law e Tom Wilkinson em “O Grande Hotel Budapeste”.
(Unlike other films by Wes Anderson, where each member of the cast has a recurring role to fulfill in the general plot, in “The French Dispatch”, a great part of the actors present in this grand cast is reduced to short appearances, partly because of the format the director chose for this film in particular. But, fortunately, every actor manages to make their mark with what's offered to their characters, even if some are better highlighted than others. Tilda Swinton finds one of her funniest roles here. There's an extravagance of sorts in her physical performance, which is a worthy contrast to a repressed melancholy that's slowly unfolding. It's impossible not to like Adrien Brody's characters in Wes Anderson films. His character here is quite different from, let's say, Dmitri from “The Grand Budapest Hotel”, but the lightning-fast way with which he manipulates his dialogue delivery is something to behold.
Benicio del Toro has a very good dynamic with Léa Seydoux, where his character's emotionally and intellectually disturbed nature makes a perfect contrast with her character's more rigid, cold and dead-serious nature. I wish I could've seen more of Owen Wilson, whose character assumes a hilarious main role in a short segment before the first story. Frances McDormand is excellent here, as it is expected from a 3-time Oscar winner for Best Actress. Her performance is one of the best portrayals of loneliness and melancholy I've seen in a Wes Anderson film since Richie in “The Royal Tenenbaums”. Timothée Chalamet fit like a glove in the concept of the story in which he plays a main role. He's one of the film's most eccentric and funny characters, and it's pretty interesting to see how the actor's and McDormand's performances are perfect complements to each other.
The film's best character, by far, is the journalist played by Jeffrey Wright, whose presence is so imposing and mesmerizing that the viewer ends up wishing that the entire movie could be seen under his point of view. Wright's voice and physical performance in “The French Dispatch” reminded me a lot of the voice-over narrations and appearances by host and head writer Rod Serling in the episodes of the classic 1959 series “The Twilight Zone”. I wouldn't discard a possible nomination for Wright to the Oscar for Best Supporting Actor next year. I also really liked Stephen Park, who, even with a small amount of lines, managed to tell us a lot about his character. And, of course, there's Bill Murray, who has very little appearances throughout the film, but his character perfectly fulfills a mentor role for his journalists, and it's pretty fun to see him acting as a father figure of sorts, in a way that only Bill Murray can do it.
Besides those already mentioned, there are short, yet effective appearances by actors like Willem Dafoe, Henry Winkler, Bob Balaban, Lyna Khoudri, Alex Lawther, Christoph Waltz, Elisabeth Moss, Jason Schwartzman, Edward Norton, Mathieu Amalric, Saoirse Ronan, Tony Revolori, Lois Smith, Rupert Friend, Cécile de France, Liev Schreiber, Denis Menochet, Fisher Stevens, Wally Wolodarsky, Griffin Dunne and Anjelica Bette Fellini, who do a great job with what's offered to their characters. And, to finish off the cast with a bang, we have Anjelica Huston's voice as the film's general narrator, with her work here reminding me a lot of Alec Baldwin's voice-over narrations in “The Royal Tenenbaums” and Jude Law's and Tom Wilkinson's work in “The Grand Budapest Hotel”.)
A grande maioria das marcas registradas do diretor está contida nos aspectos técnicos de seus filmes, e praticamente tudo que faz os visuais de Wes Anderson serem distintos se faz presente aqui, com algumas modificações interessantes. O trabalho do Robert D. Yeoman na direção de fotografia aqui está em outro nível, em comparação às suas colaborações anteriores com Anderson. Há uma sequência prolongada (ou, graças à montagem precisa de Andrew Weisblum, ela ao menos nos dá a impressão de ser prolongada) que acompanha um garçom que precisa chegar à sede da revista As Crônicas Francesas. O enquadramento continua sendo o mesmo, enquanto vemos o garçom viajar por ele, começando pelo canto inferior esquerdo da imagem e terminando no canto superior direito, como se fosse um verdadeiro labirinto.
Outro diferencial do trabalho de Yeoman em “A Crônica Francesa” é o uso simultâneo de fotografia em cor e preto-e-branco. A grande maioria das cenas pertencentes às histórias são em preto-e-branco, o que dá ao espectador a impressão de estar assistindo à um flashback. Mas, em certos momentos, em especial momentos onde o preto-e-branco não daria o destaque necessário para o que está sendo mostrado em tela, Yeoman muda para a fotografia em cores, o que dá às imagens retratadas um tom mais vibrante e vivo. Essa dinamicidade na direção de fotografia foi um dos maiores diferenciais deste novo filme de Wes Anderson, em comparação aos anteriores.
Eu gostei bastante do fato da direção de arte não ser tão exorbitante e luxuosa como a de “O Grande Hotel Budapeste”, por exemplo. Pelo contrário, temos como ambientação principal a cidadezinha francesa fictícia de Ennui-sur-Blasé, que se traduzida, seria algo como “Tédio e Cansaço”. Ou seja, é um lugar essencialmente monótono, sujo e decadente, e o contraste entre o mundano da ambientação e o extraordinário contido nas histórias é algo surpreendentemente visível. Além dos clássicos tons pastel de Anderson, temos aqui um uso bem pensado de tons em cinza, algo mais desbotado, o que me pegou até de surpresa, de modo positivo.
Dou um destaque em especial para a sequência de animação perto da conclusão da terceira história. O uso das cores vibrantes e o tom noturno da cena me lembraram muito dos traços usados pelo cartunista belga Hergé nos quadrinhos do repórter Tintim (outra inspiração para que eu seguisse a carreira de jornalista) e também de algumas das sequências em animação 2D no filme “Ilha dos Cachorros”, do próprio Wes Anderson. Há uma leveza característica dos filmes do diretor e até um teor surreal aplicado à cena, o que eu achei bem-vindo, já que o que acontece nela é algo extremamente improvável de acontecer na vida real.
E por fim, temos a trilha sonora original, composta por Alexandre Desplat, responsável pela trilha sonora vencedora do Oscar de “O Grande Hotel Budapeste”. Assim como o próprio roteiro, as faixas de Desplat assumem um tom bem minimalista, o que acaba por dar uma veia mais jovial e lúdica às composições que embalam as histórias do roteiro. Foi algo bem parecido com o trabalho do compositor em “O Fantástico Sr. Raposo”, primeira animação em stop-motion de Wes Anderson. E na trilha sonora compilada, temos já de cara o clássico “Aline”, de Christophe, em uma roupagem nova de Jarvis Cocker, e canções de artistas como Grace Jones, Gus Viseur, Charles Aznavour e Ennio Morricone, que injetam a história de Anderson com um tom deliciosamente vintage.
(The great majority of the director's trademarks is contained within his films' technical aspects, and practically everything that makes Wes Anderson's visuals feel distinctive marks its presence here, along with a few interesting modifications. Robert D. Yeoman's work in the cinematography here is on a whole 'nother level, in comparison with his previous collaborations with Anderson. There's a prolonged sequence (or, thanks to Andrew Weisblum's precise editing, it at least gives us the impression of being prolonged) that follows a waiter who needs to get to the headquarters of the French Dispatch magazine. The frame remains the same, while we see the waiter travel through it, starting from the image's lower left side and finishing it on its top right side, as if it was one hell of a labyrinth.
Another distinctive look in Yeoman's work in “The French Dispatch” relies on the simultaneous use of color and black-and-white cinematography. The great majority of scenes that belong to the stories are in black-and-white, which gives the viewer the impression that they're watching a flashback. But, during certain moments, especially moments where the black-and-white wouldn't give the needed highlight to what's being shown on-screen, Yeoman switches to color cinematography, which gives a more vibrant, alive tone to the images portrayed. This dynamic nature in the cinematography was one of the biggest distinctive qualities of this new Wes Anderson film, in comparison to previous ones.
I really enjoyed the fact that the production design isn't as classy and luxurious like in “The Grand Budapest Hotel”, for example. On the contrary, we have as our main setting the fictional French town of Ennui-sur-Blasé, which if translated, works out as something like “Boredom-on-Apathy”. Meaning, it's an essentially monotonous, dirty, and decadent place, and the contrast between the mundane of the setting and the extraordinary contained in the stories is something that's surprisingly visible. Besides Anderson's classic pastel-coloured tones, we have here a well-calculated use of gray-ish tones, something a little more faded, which even caught me by surprise, in a positive way, of course.
I give a special highlight to the animation sequence set near the conclusion of the third and final story. The use of vibrant colors and the nocturnal tone of the scene reminded me a lot of Belgian cartoonist Hergé's drawings and art in the comics featuring reporter Tintin (another inspiration for me to follow through with a journalist career) and also some of the 2D animated sequences in the film “Isle of Dogs”, directed by Wes Anderson himself. There's a lightness that's characteristic of the director's films, as well as a surreal tone applied to the scene, which was welcome, as it's extremely unlikely that something like that scene could ever happen in real life.
And at last, we have the film's original score, composed by Alexandre Desplat, who's responsible for the Oscar-winning original score for “The Grand Budapest Hotel”. Just like the screenplay itself, Desplat's tracks assume a more minimalist tone, which ends up injecting them with a youthful, playful feel to the compositions that are played throughout the screenplay's stories. It was something really similar to the composer's work in “Fantastic Mr. Fox”, Wes Anderson's first stop-motion animated film. And, in the compiled soundtrack, we have Christophe's classic, “Aline”, under a new recording by Jarvis Cocker, as well as songs by artists like Grace Jones, Gus Viseur, Charles Aznavour and Ennio Morricone, which inject Anderson's story with a deliciously vintage vibe.)
Resumindo, “A Crônica Francesa” é uma verdadeira carta de amor de Wes Anderson ao espírito vibrante do jornalismo. Composto por um roteiro que traduz fielmente a leitura de uma boa revista jornalística para as telonas, um elenco pra lá de talentoso, e praticamente todas as marcas registradas visuais e estéticas do diretor, o décimo filme de Anderson é um prato cheio para seus fãs mais cultuados e uma homenagem bela aos jornalistas expatriados que o inspiraram.
Nota: 9,5 de 10!!
É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,
João Pedro
(In a nutshell, “The French Dispatch” is Wes Anderson's true, passionate love letter to the vibrant spirit of journalism. Composed by a screenplay that faithfully translates the reading of a good journalistic magazine to the big screen, an obscenely talented cast, and practically every one of the director's visual and aesthetic trademarks, Anderson's tenth film is a well-served complete course for his most dedicated fans and a beautiful homage to the expatriate journalists who inspired him.
I give it a 9,5 out of 10!!
That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,
João Pedro)
Excelente! Ansioso para assistir novamente!!!
ResponderExcluirParabéns, JP.Excelente resenha. Quero ver também..
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