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segunda-feira, 18 de outubro de 2021

"Querido Evan Hansen": um musical tocante, universal e necessário para os dias de hoje (Bilíngue)

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Queridos cinéfilos, hoje vai ser um dia incrível e eu vou lhes dizer o porquê: vim trazer uma nova resenha para vocês, desta vez de um filme que chegará muito em breve aos cinemas de todo o país! Misturando um roteiro universal, relevante e emocionante; atuações extremamente dedicadas de um elenco super talentoso e canções originais que complementam a mensagem que a história deseja passar, o filme em questão não é só o melhor musical do ano até agora, mas também é um dos melhores filmes de 2021, sendo um dos retratos mais honestos e impactantes sobre saúde mental que eu já vi em um filme. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Querido Evan Hansen”. Vamos lá!

(Dear film buffs, today is going to be an amazing day and here's why: I'm here to bring a new review for you guys, this time of a film that's currently in theaters and arriving on Digital HD soon! Blending together an universal, relevant and emotional screenplay; extremely commited performances from a super talented cast and original songs that complement the message that the story wishes to convey, the film I'm about to review is not only the best movie musical of the year so far, but it is also one of the best films of 2021, being one of the most honest and impactful portrayals of mental health I've ever seen in a film. So, without further ado, let's talk about “Dear Evan Hansen”. Let's go!)



Baseado no musical da Broadway vencedor de 6 Tonys, o filme conta a história de Evan Hansen (Ben Platt), um adolescente de 17 anos que sofre de ansiedade social, e que, por causa disso, possui dificuldades em se conectar com outras pessoas. Para fazer com que seu último ano no Ensino Médio seja um pouco melhor, Evan começa a escrever cartas encorajadoras para si mesmo como um exercício terapêutico. Certo dia, uma dessas cartas vai parar nas mãos de Connor Murphy (Colton Ryan), um jovem problemático e temperamental que, dias depois, tira a própria vida. Os pais do falecido (Amy Adams e Danny Pino) encontram uma carta endereçada à Evan em meio aos pertences do filho, fazendo-os acreditar que os dois eram melhores amigos. Sendo incapaz de explicar a situação, Evan acaba refém de uma grande mentira que o aproxima da garota de seus sonhos: Zoe Murphy (Kaitlyn Dever), irmã de Connor. Mas quando a verdade ameaça vir à tona, Evan terá que enfrentar seu maior inimigo: ele mesmo.

(Based on the Tony-winning Broadway musical, the film tells the story of Evan Hansen (Ben Platt), a 17-year-old teen who suffers from social anxiety, and who, because of that, has difficulties in connecting with other people. In order to make his senior year in high school a little better, Evan starts writing encouraging letters to himself as a therapeutic exercise. One day, one of these letters lands in the hands of Connor Murphy (Colton Ryan), a troubled, hot-headed young man who takes his own life a few days later. The deceased's parents (Amy Adams and Danny Pino) find a letter addressed to Evan among their son's belongings, making them believe that the two of them were best friends. Being unable to explain the situation, Evan ends up a hostage of a big lie that brings him closer to the girl of his dreams: Zoe Murphy (Kaitlyn Dever), Connor's sister. But when the truth threatens to come to the surface, Evan will have to face his greatest enemy: himself.)



Ok, pra começo de conversa, “Querido Evan Hansen” era um dos filmes mais esperados do ano para mim, e haviam várias razões para justificar expectativas tão altas. Bom, em primeiro lugar, eu gosto muito do musical de palco que o inspirou. A história é muito boa, os personagens são bem honestos e humanos e as canções originais da mesma dupla responsável pelas trilhas de “La La Land” e “O Rei do Show” são simplesmente lindas. Em segundo lugar, eu me identifico com o protagonista, Evan Hansen, de várias maneiras. Assim como ele, admito que tenho dificuldades em me conectar com outras pessoas, às vezes. Não da maneira que é retratada no filme, mas o importante é que eu consigo frequentemente me ver nas situações enfrentadas por ele.

Em terceiro lugar, quem me conhece sabe que eu amo obras que lidam com saúde mental, especialmente quando se trata de jovens e adolescentes, permitindo que a distância emocional entre personagem e espectador seja um pouco menor, para mim. E em quarto e último lugar, o filme não só seria dirigido por Stephen Chbosky (diretor responsável por “As Vantagens de Ser Invisível”, um dos retratos mais crus e honestos sobre saúde mental em adolescentes que eu já vi), como também contaria com o retorno de Ben Platt, ator premiado por interpretar Evan na Broadway, no papel principal.

Então, sim, minhas expectativas estavam consideravelmente altas para assistir à adaptação de “Querido Evan Hansen” para as telonas. O que me pegou de surpresa foi o fato do filme ter sido absolutamente massacrado pela crítica internacional, desde sua estreia mundial como filme de abertura do Festival de Toronto deste ano. Críticos falaram que a adaptação “não era autêntica”, que ela tratava seus temas de uma maneira “rasa e superficial”, e que no geral, era algo “doloroso de se ver”, por “literalmente tudo imaginável dar errado”.

Bom, na minha opinião, como um crítico que também faz parte do povão, tenho duas teorias em respeito dessa reação negativa inicial: 1) os críticos não gostaram do musical que o inspirou (porque é meio inevitável: se você não gosta do material fonte, as chances de você não gostar da adaptação são bem grandes), ou 2) eles provavelmente nunca se sentiram na pele do protagonista, e sentiram que o retrato da saúde mental dele tenha sido exagerado e até ofensivo. E, nesses tempos de hoje, é só dar um passo em falso para que a cultura do cancelamento ataque novamente. Eu, pelo contrário, fico muito feliz em dizer que os críticos erraram feio ao julgar “Querido Evan Hansen” em suas críticas. Por fazer parte do público-alvo e por já ser muito fã do material fonte, eu amei como a história foi trazida para uma nova geração de espectadores.

Ok, com tudo isso dito, vamos falar do roteiro. Escrito por Steven Levenson (que também escreveu o roteiro do musical da Broadway), o roteiro de “Querido Evan Hansen” acerta em vários aspectos. Irei dividir essa seção em três partes: uma sobre a narrativa em geral, uma sobre a mensagem e uma última parte sobre as diferenças (boas e ruins) em relação ao material fonte. Começando com a narrativa, eu adorei como Levenson conseguiu fazer com que a adaptação fosse o mais realista e honesto possível, em relação ao mundo em que vivemos.

Ao contrário de vários musicais da Broadway adaptados para o cinema, como “Em um Bairro de Nova York” e “Mamma Mia!”, que contam com a presença de números musicais extremamente bem coreografados, a grande maioria das partes musicais de “Querido Evan Hansen” possui uma distinta falta de coreografia, o que pode ser um ponto negativo para alguns. Para mim, porém, essa escolha criativa acaba por adicionar um caráter mais cru, autêntico e humano à adaptação, como se Levenson quisesse dizer algo do tipo: “Por quê diabos eles estariam dançando, se a vida deles é tão difícil assim?”. Essa escolha me lembrou bastante da abordagem musical no fantástico “Apenas uma Vez”, escrito e dirigido por John Carney, que fez escolhas extremamente similares para inserir as músicas no contexto da narrativa.

Eu amei como Levenson conseguiu adaptar estes personagens já conhecidos para uma nova plateia, e especialmente o jeito que ele explora as máscaras emocionais que cada um deles usa para esconder o que eles estão sentindo naquele momento específico, com o objetivo de não afastar aqueles ao seu redor. Levenson aborda esse tema de uma maneira tão sensacional, que acaba ficando estampado nas performances do elenco, das quais falaremos mais à frente. Algo que eu achei bem interessante é que nenhum dos personagens adolescentes possui um estereótipo clássico do gênero coming-of-age (filmes sobre amadurecimento), e essa escolha me remeteu imediatamente à “As Vantagens de Ser Invisível”, que é do mesmo diretor, onde todos os adolescentes alcançam um patamar de igualdade. Sem panelas, sem grupinhos, só adolescentes imperfeitos com seus problemas particulares.

O roteirista consegue fazer com que nós venhamos a sentir pena e simpatia para com o protagonista logo no início, por causa da maneira que ele aborda o personagem na página. Os tiques, a maneira extremamente rápida da sua fala, a hiperventilação, a fisicalidade introvertida dele. Se você não conseguir sentir simpatia pelo Evan em seus primeiros minutos em tela, ao vê-lo interagir com outras pessoas, Levenson falhou em cumprir uma de suas missões mais importantes como roteirista, tanto do material fonte quanto da adaptação.

Falando do protagonista, Levenson consegue trabalhar muito bem todos os temas que marcaram presença no material original, e ele os atualiza para as telonas de uma maneira muito acessível e, principalmente, universal. A abordagem super delicada de temas muito presentes nos dias de hoje como o luto, a perda, a solidão, a dificuldade em se conectar com outras pessoas, o suicídio e a conscientização da saúde mental (temas que, inclusive, se agravaram devido às condições impostas pela pandemia de COVID-19) permite que “Querido Evan Hansen” tenha algo a dizer para toda pessoa que se sentiu sozinha durante esse período difícil.

Através das canções encorajadoras, Levenson e os compositores Benj Pasek e Justin Paul conseguem oferecer uma fonte de consolo, otimismo e esperança para tempos melhores. E isso, em uma época onde muitas pessoas perderam entes queridos, é algo simplesmente inestimável e necessário para os dias de hoje. Para mim, toda escola deveria organizar sessões para que os alunos do Ensino Médio assistam a este filme, porque, querendo ou não, são eles que Chbosky, Levenson e o elenco desejam alcançar. Os críticos podem ter opinado de que os temas do filme foram tratados de maneira superficial e rasa, mas não há dúvidas de que a mensagem terá muito mais chances de ser compreendida por um público mais jovem, assim como ela me cativou e emocionou de tal maneira, que quase chorei em algumas cenas.

O processo de adaptação do material fonte teve seus altos e baixos. Por um lado, Levenson conseguiu humanizar ainda mais certas situações e personagens, adicionando novas subtramas, fazendo mudanças necessárias no enredo e aprofundando personagens que não foram muito bem trabalhados no palco. Um exemplo claro disso é a personagem Alana, interpretada por Amandla Stenberg. No musical original, ela é uma das piores personagens da trama, na minha opinião. Ela é irritante, e parece se envolver com a trama principal para perseguir seus próprios interesses, de modo bem similar à Rachel Berry, de “Glee”. Já no filme, Stenberg transforma uma personagem aparentemente robótica em um ser humano pleno, imperfeito, o que permite que o espectador crie uma conexão emocional consideravelmente maior com a personagem, especialmente com o auxílio de uma canção original fantástica.

Porém, enquanto alguns personagens são mais aprofundados na adaptação, outros perdem o desenvolvimento que os marcou no material fonte. Isto fica bem claro no retrato da mãe de Evan, interpretada pela Julianne Moore. No musical de palco, a mãe de Evan assume um papel principal no desenvolvimento do protagonista. Com três canções, Heidi consegue confrontar, consolar e encorajar o filho a fazer a coisa certa e cumprir com suas responsabilidades. Por conta da redução do material para a adaptação, essa relação entre os dois não fica tão bem desenvolvida, e Levenson acaba deixando que outros personagens ajudem no desenvolvimento de Evan, deixando Heidi com somente um momento crucial para o arco narrativo do protagonista. Mesmo que essa escolha não seja condizente com o material fonte, ela funciona e, para falar a verdade, é o suficiente para que a história siga seu rumo e transmita sua mensagem para o espectador.

Resumindo, o roteiro da adaptação de “Querido Evan Hansen” faz algumas mudanças significativas em relação ao material fonte (algumas das quais poderiam ser aplicadas ao musical de palco), para a alegria de alguns e a tristeza de outros, mas o roteirista Steven Levenson consegue adaptar seu próprio texto para um novo meio de uma maneira acessível e universal para uma nova geração de espectadores. O texto de Levenson cativa e encanta pelo desenvolvimento humano e honesto de seus personagens, e pelo caráter atual e necessário dos temas abordados no material original, resultando no melhor musical de 2021 até agora. Não vão na onda dos críticos, só assistam e aproveitem.

(Okay, for starters, “Dear Evan Hansen” was one of the most anticipated films of the year for me, and there were several reasons to justify such high expectations. Well, firstly, I'm a huge fan of the stage musical that inspired it. The story is really good, the characters are really honest and human and the original songs by the same duo that gave us the soundtracks to “La La Land” and “The Greatest Showman” are nothing but beautiful. Secondly, I can relate with the main character, Evan Hansen, in many ways. Just like him, I admit I have difficulties in connecting with other people, sometimes. Not like the way it is portrayed in the film, but the important thing is that I can frequently see myself reflected in the situations that he faces.

Thirdly, those who know me know how much I love films and TV shows that deal with mental health, especially when it comes to young people and teenagers, allowing the emotional distance between character and viewer to be a bit smaller, for me. And, in fourth and last place, not only was the film going to be directed by Stephen Chbosky (the filmmaker who gave us “The Perks of Being a Wallflower, one of the most raw and honest portrayals of teen mental health I've ever seen), it was also counting on the return of Ben Platt, an actor who received several awards for playing Evan on Broadway, in the main role.

So, yes, my expectations were considerably high to watch the film adaptation of “Dear Evan Hansen”. What caught me by surprise was the fact that it was absolutely slaughtered by international critics, ever since its world premiere as the opening film in this year's Toronto International Film Festival. Critics had stated that the adaptation was “inauthentic”, that it approached its themes in a “shallow” way, and that, in general, it was something “painful to watch”, as literally “everything imaginable has gone wrong”.

Well, in my opinion, as a critic who's also part of a larger audience, I have two theories regarding this initial negative reaction: 1) or the critics didn't even like the musical that inspired it (which is kind of inevitable: if you don't like the source material, the chances of you not enjoying the adaptation are really big), or 2) they probably never felt themselves under the protagonist's skin, and felt that the portrayal of his mental health was a bit too much and even borderline offensive. And, in these days, it only takes one step for the cancel culture to strike back. I, on the other hand, am really glad to say that critics got it wrong when judging “Dear Evan Hansen” on their reviews. By being a part of its target audience and a fan of the source material, I loved how the story was adapted for a new generation of viewers.

Okay, with all that said, let's talk about the screenplay. Written by Steven Levenson (who also wrote the book for the Broadway musical), the screenplay for “Dear Evan Hansen” gets many things right. I'll divide this section into three parts: one on the narrative in general, another on the message it attempts to convey and a last one on the differences (both good and bad) in comparison to the source material. Starting off with the narrative, I loved how Levenson managed to make this adaptation as realistic and as honest as possible, in regards with the world we live in.

Unlike many Broadway musicals that had film adaptations in the past, such as “In the Heights” and “Mamma Mia!”, which relied on extremely well-choreographed musical sequences, the great majority of musical bits in “Dear Evan Hansen” has a distinct lack of choreography, which many could interpret as a negative thing. To me, however, this creative choice ends up adding a more raw, authentic and human flair to the adaptation, as if Levenson wanted to say something like: “Why the hell would they be dancing, if their life is that tough?”. That choice reminded me a lot of the musical approach in the fantastic “Once”, directed by John Carney, who made extremely similar choices to insert the songs in the narrative's context.

I loved how Levenson managed to adapt these already-known characters to a whole new audience, and especially how he explored the emotional masks that each one uses in order to hide what they're truly feeling at that specific moment, with the objective of not pushing away those around them. Levenson approaches that theme in such a sensational way, it ends up imprinted in the cast's performances, which will be talked about later on. Something I found to be quite interesting is that none of the teenage characters here is part of a classic coming-of-age stereotype, which led me back immediately to “The Perks of Being a Wallflower”, from the same director as this one, where every teenager reaches a place of equality. No cliques, no separate groups, just imperfect teenagers with their own particular problems.

The screenwriter manages to make us feel sympathetic and sorry for the main character right from the start, just from the way he approaches the character on the page. His tics, the extremely fast speech he applies to his dialogue, his hyperventilating, his introverted physicality. If you don't feel sympathy for Evan from the minute he appears onscreen, by seeing him interact with other people, Levenson has failed in one of his most important missions as a screenwriter for both the source material and the adaptation.

Speaking of the protagonist, Levenson manages to work really well with all the themes that left a mark on the original material, and he updates them for the big screen in an accessible and, mainly, universal way. The intricately delicate way with which Levenson deals with ever-so-present themes in our days, such as grief, loss, loneliness, the difficulty of connecting with other people, suicide and mental health awareness (themes that, as a matter of fact, became even more relevant due to the conditions imposed by the COVID-19 pandemic) allows “Dear Evan Hansen” to have something to say to every person who ever felt alone during these difficult times.

Through the encouraging songs, Levenson and composers Benj Pasek and Justin Paul manage to offer a source of comfort, optimism and hope for better days. And that, in a time where many people have lost their loved ones, is something simply priceless and necessary for today's times. To me, every school should organize private screenings for high school students to watch this film, because, whether you like it or not, they're the ones who Chbosky, Levenson and the cast want to reach. Critics might have argued that the film's themes were dealt with in a shallow and superficial way, but there's no doubt that its message will have a much larger chance of being understood by a younger audience, just like it captivated and devastated me in such a way, that I almost cried in a few scenes.

The process of adapting the source material had its ups and downs. On one way, Levenson managed to make some characters and situations even more human, adding brand-new subplots, making necessary changes to the story and digging deeper into characters that didn't get a better development onstage. A clear example of that is the character Alana, played by Amandla Stenberg. In the original musical, she is one of the worst characters in the plot, in my opinion. She's annoying, and seems to get herself involved in the main plot to chase after her own interests, quite similarly to Rachel Berry, from “Glee”. Yet in the movie, Stenberg transforms an apparently robotic character into a plain, imperfect human being, which allows the viewer to create a much stronger emotional connection with the character, especially when relying on the aid of a brand-new original song.

However, while some characters are dealt with in a deeper way in the adaptation, others lose the development that left a mark on them in the source material. This becomes quite clear when it comes to the portrayal of Evan's mom, played by Julianne Moore. In the stage musical, Evan's mom plays a main role in the protagonist's development. With three songs, Heidi manages to confront, comfort and encourage her son to do the right thing and fulfill his responsabilities in life. Because of the material's reduction for the adaptation, this relationship between the two of them doesn't come out as developed, and Levenson ends up letting other characters help out with Evan's development, leaving Heidi with only one crucial moment for the protagonist's narrative arc. Even if this choice doesn't match the source material, it works and, honestly, it's enough for the story to move forward and transmit its message to the viewer.

To sum it up, the screenplay for the film adaptation of “Dear Evan Hansen” makes some significant changes to the source material (some of which could be applied to the stage musical), to bring joy to some and sadness to others, but screenwriter Steven Levenson manages to adapt his own text to a new medium in a way that's accessible and universal to a whole new generation of viewers. Levenson's text charms and captivates because of its characters' human and honest development, and the current character of the themes approached in the original material, resulting in the best musical of 2021 so far. Don't go for the critics, just watch it and enjoy.)



O elenco da adaptação de “Querido Evan Hansen” foi algo que causou bastante controvérsia entre jornalistas de cinema e até fãs do musical, especialmente em relação à escalação de Ben Platt como Evan. Em 2017, Platt venceu o Tony de Melhor Ator em um Musical por sua performance na Broadway como o protagonista, e quando fora anunciado que o ator iria reprisar seu papel nas telonas, houveram duas principais razões para fundamentar as reações negativas. A primeira seria a idade de Platt. Enquanto os outros atores que interpretam adolescentes são mais velhos do que os seus papéis, mas ainda conseguem passar por jovens de 17 anos, a diferença na fisicalidade destes atores em relação à Platt, com 27 anos, é bem visível. Não foi algo que me incomodou, mas certamente foi um ponto negativo para muita gente.

Houve também muita polêmica pelo fato do pai de Platt, Marc, ser produtor da adaptação, levando as pessoas a acreditarem que a escalação do ator fosse um caso de nepotismo, onde um parente (no caso, o filho) ganharia o papel principal, em detrimento de outras pessoas que fizeram audição para o papel. Mas fico muito feliz em dizer que, novamente, as críticas negativas são jogadas no lixo ao vermos, por conta própria, Platt reprisando o papel que mais marcou sua carreira. Para mim, não importou realmente que o ator fosse velho demais pro papel ou que o pai dele tenha sido um produtor do filme, porque Ben Platt É Evan Hansen. Podem ter outros atores que talvez fizeram um papel melhor com o personagem no palco? Claro. Mas não há dúvidas que o ator que vem à cabeça das pessoas e fãs mais frequentemente ao pensar em Evan seja, de fato, Ben Platt. Afinal de contas, é a voz dele presente na trilha sonora oficial do musical de palco.

E, na minha opinião, foi um absoluto deleite ver Platt encarnando Evan Hansen mais uma vez. Como dito anteriormente, a fisicalidade dele é muito bem trabalhada. Os tiques nervosos; a maneira rápida com que o ator conduz seus diálogos; o jeito meio corcunda, com as mãos nos bolsos ou nas alças da mochila, presente no andar do personagem; a respiração sempre ofegante e hiperventilada. Platt investe em uma performance essencialmente física e expressiva para retratar a ansiedade de seu personagem. A voz dele, mesmo depois de 5 anos, continua impecável. Parece até que o personagem se torna uma pessoa completamente diferente durante os números musicais. Ao invés de esconder suas emoções, o ator as despeja aos montes ao cantar. É algo, ao mesmo tempo, devastador e lindo, e Platt sabe exatamente como manipular sua voz para provocar emoções no espectador, o que é maravilhoso. Se as críticas não fossem tão negativas, confiaria plenamente em uma indicação ao Oscar de Melhor Ator para ele.

Quem me conhece sabe o quanto eu sou apaixonado pela Kaitlyn Dever. As performances dela em “Short Term 12”, “Fora de Série” e “Inacreditável” são absolutamente arrebatadoras, e o papel da Zoe cai como uma luva na atriz. Gostei bastante de como ela começa a trama principal como uma pessoa bastante amargurada, e com o passar do tempo, ela vai se abrindo gradualmente à novas emoções. Eu gostei bastante das similaridades entre as performances de Platt como Evan e do Colton Ryan como Connor. Assim como Evan, Connor tem dificuldades em se conectar com outras pessoas, e, mesmo que seu personagem tenha pouco tempo de tela, Ryan consegue expôr as vulnerabilidades de Connor de uma maneira bem sensível e delicada, o que eu achei bem legal. Há uma canção original cantada por Ryan que faz um ótimo trabalho em trazer mais profundidade para o personagem, algo que não aconteceu no musical de palco.

O Nik Dodani interpreta um ótimo alívio cômico, mas confesso que senti falta do caráter mais extrovertido que seu personagem possui no material original. A Amandla Stenberg consegue redimir com perfeição uma das piores personagens do musical de palco, injetando Alana com uma quantidade enorme de personalidade, sensibilidade e vulnerabilidade, o que a transforma em alguém com quem o espectador possa se identificar. Falarei da trilha sonora mais pra frente, mas há uma canção co-composta por Stenberg que me destruiu emocionalmente, pelo retrato que a canção faz de viver com ansiedade e depressão, mas escondê-las das outras pessoas.

Enquanto os personagens adolescentes ganham mais visibilidade, porque afinal, a história é sobre eles, os adultos, que tinham um papel principal no desenvolvimento dos protagonistas, foram reduzidos à poucas aparições. A Amy Adams está maravilhosa aqui, em especial ao sempre tentar esconder as verdadeiras emoções passando pela cabeça de sua personagem, mascarando-as com um sorriso falso, mas, ao mesmo tempo, reconfortante e acolhedor. Eu queria muito ter ouvido mais da voz dela, que é simplesmente linda. O Danny Pino interpreta um dos personagens mais prejudicados pelo trabalho de adaptação. No musical original, o pai de Connor encontra um último recurso para lembrar do filho falecido em Evan, despejando no protagonista tudo aquilo que ele gostaria de ter compartilhado com o filho. É algo bem triste de se ver, e diz muito sobre como as pessoas lidam com o luto, mas infelizmente, isso não ocorre no filme. O personagem de Pino é reduzido à padrasto de Connor e, enquanto isso consiga trazer um conflito em relação ao conceito de família, não chega perto do desenvolvimento dele no musical de palco.

Agora, eu fiquei bem triste pelo desenvolvimento da mãe de Evan, interpretada pela Julianne Moore, ter sido reduzido pela adaptação. Entendo que, para fazer uma adaptação, é preciso moldar o material original às demandas e necessidades do novo meio, mas excluir quase completamente o desenvolvimento de uma das personagens cruciais do material original é outra história. É bem interessante ver o contraste entre a família de Evan e a família de Connor, em termos financeiros, e o momento em que Heidi decide soltar a voz para confortar o filho é simplesmente de cortar o coração, mas isso, no mesmo caso de Pino, não substitui o desenvolvimento que os personagens tiveram no musical de palco.

(The cast of the “Dear Evan Hansen” was something that caused a lot of controversy between movie journalists and even fans of the musical, especially when it comes to Ben Platt's casting as Evan. In 2017, Platt won the Tony Award for Best Leading Actor in a Musical for his Broadway portrayal of the protagonist, and when it was announced that he was set to reprise his role in the big screen, there were two main reasons to argue its negative reaction. The first one would be Platt's age. While the other actors who play teenagers are still older than their characters, but manage to pass through as such, the difference between these actors' physicality and Platt's, who was 27 when filming the adaptation, is quite visible. It didn't bother me, but it certainly was a no-no to many people.

Then, there was a lot of controversy regarding the fact that Platt's father, Marc, is a producer in the adaptation, leading people to believe that the actor's casting was a case of nepotism, where a relative (in this case, the son) would get the main role, in spite of all the other people that auditioned for it. But I'm really glad to say that, once again, all negative reactions are thrown in the trash when you witness, for yourself, Platt reprising his most memorable role. To me, it didn't really matter about his age or his father being a producer, because Ben Platt IS Evan Hansen. Can there be other actors that maybe did a better job with the character onstage? Sure. But there's no doubt that the actor that most frequently comes on people's heads when thinking about Evan is, indeed, Ben Platt. After all, it's his voice we hear on the stage musical's official soundtrack.

In my opinion, it was an absolute delight to see Platt embodying Evan Hansen once again. As previously said, he works really well with his physicality. His nervous tics; the fast way the actor works through his dialogue; the hunched way, with hands in pockets or backpack straps, in the character's walk; his always panting and hyperventilated breathing. Platt commits to an essentially physical performance in order to portray his character's anxiety. His voice, even after 5 years, remains flawless. It seems like his character becomes an entirely different person in the musical numbers. Instead of hiding his emotions, Platt pours them over by the pound when singing. It's something simultaneously devastating and beautiful, and Platt knows how to manipulate his voice to provoke certain emotions in the viewer, which is amazing. If reviews weren't so negative, I'd fully chip in for an Oscar nomination for Best Actor.

Who knows me knows how much in love I am with Kaitlyn Dever. Her performances in “Short Term 12”, “Booksmart” and “Unbelievable” are absolutely amazing, and the role of Zoe fits the actress like a glove. I really liked how she starts off the main plot as someone completely bittered, and as time goes by, she slowly opens herself to new emotions. I really enjoyed the similarities between Platt's performance as Evan and Colton Ryan's as Connor. Just like Evan, Connor has difficulties in connecting with other people and, even though his character has little screen time, Ryan manages to expose Connor's vulnerabilities in a very sensitive and delicate way, which I loved. There's an original song sung by Ryan that does a great job in adding depth to the character, which didn't happen in the stage musical.

Nik Dodani plays a really good comic relief, but I confess that I missed the more extroverted attitude his character has in the original material. Amandla Stenberg manages to perfectly redeems one of the stage musical's worst characters, injecting Alana with an enormous amount of personality, sensitivity and vulnerability, which transforms her into someone the viewer can relate to. I'll talk about the soundtrack later on, but there's a song co-written by Stenberg that emotionally wrecked me, because of its portrayal of how it's like to live with anxiety and depression, but hiding them from other people.

While the teenage characters gain more visibility, because after all, the story's about them, the grown-ups, that played a main role in the protagonists' development, are reduced to only a few appearances. Amy Adams is wonderful here, especially when it comes to hiding the true emotions going through her character's head, masking them with a fake, yet, comforting and welcoming smile. I wish I could've heard more of her singing voice, which is simply beautiful. Danny Pino plays one of the characters that suffered the most damage in the adaptation, in terms of development. In the original musical, Connor's dad finds a last resource in remembering his late son in Evan, pouring over him everything he wished he had shared with his son. It's something really sad, and it says a lot on how some people deal with grief, but unfortunately, that doesn't happen in the film. Pino's character is reduced to Connor's stepfather and, while that manages to bring out some conflict on the meaning of family, it doesn't come even close to his development in the musical.

Now, I was really sad that the development of Evan's mom, played by Julianne Moore, was reduced for the adaptation. I get it that, to make an adaptation, you have to shape the material into the new medium's needs and demands, but excluding almost completely the development of one of the plot's key characters is a whole 'nother story. It's quite interesting to see the differences between Evan and Connor's families, financially, and the moment when Heidi decides to open up and comfort her son is simply heart-wrenching, but that, like Pino's case, can't serve as a replacement for the characters' development in the original stage musical.)



Os aspectos técnicos, como praticamente tudo nesse filme, foi alvo de reações negativas pela crítica internacional. Eu, pelo contrário, acho que a direção de fotografia do Brandon Trost e a montagem da Anne McCabe fizeram um trabalho brilhante em retratar a ansiedade social severa da qual o protagonista sofre. Há um uso bem legal de profundidade, especialmente quando o cenário está rodeado de personagens e figurantes andando pra lá e pra cá. Consegue traduzir muito bem como é estar sozinho em um lugar repleto de pessoas. Já a montagem faz uso de cortes bem rápidos, o que pode ser meio ruim para algumas pessoas, mas é um retrato perfeito do nervosismo e ansiedade que passam pela cabeça do protagonista.

Estes dois aspectos técnicos também trabalham juntos de maneira muito bem calculada ao criar diferentes pontos de vista sobre uma mesma cena. Por exemplo, há uma sequência no início que é vista pela perspectiva do Evan e, depois, esta mesma cena é revisitada sob a perspectiva de outro personagem. E o mais interessante é que enquanto a primeira vez destaca as diferenças entre os personagens, a segunda vez ressalta as semelhanças entre eles. Achei isso bem legal. Os números musicais são muito bem trabalhados, e são bem realistas. Como a grande maioria das canções poderia servir como diálogo, não há um uso extenso de coreografia nessas sequências. Mas há uma em particular, minha favorita, que usa a coreografia de uma maneira brilhante.

E por fim, temos o que faz de um musical um musical: a trilha sonora, composta pela dupla de compositores Benj Pasek e Justin Paul, responsáveis pelas trilhas sonoras já icônicas de “La La Land” e “O Rei do Show”. Já era familiarizado com a grande maioria das canções do musical original, que são absolutamente lindas e ajudam bastante a transmitir a mensagem geral do filme, sobre solidão, luto e perda. Mas o que realmente me chamou a atenção foram as duas canções originais compostas especificamente para a adaptação, as quais trazem aprofundamento para personagens que tiveram um desenvolvimento abaixo do esperado no material fonte, e ajudam a reforçar a mensagem do filme. Há uma específica, “The Anonymous Ones”, cantada pela personagem de Amandla Stenberg, que pode ter grandes chances no Oscar de Melhor Canção Original.

(The technical aspects, much like everything else in this film, was a target of negative reactions by international critics. I, on the other hand, think that Brandon Trost's cinematography and Anne McCabe's editing did a brilliant job in portraying the severe social anxiety that the protagonist is suffering from. There's a really nice use of depth, especially when the set is crowded with characters and extras walking here and there. It manages to translate really well how it's like to feel alone in a place that's full of people. The editing makes use of rapid and fast cuts, which might be a bit bad for some, but it's a perfect portrayal of the nervousness and anxiety that go through the protagonist's head.

These two technical aspects also work together in a really well-calculated way in order to create different points of view over the same scene. For example, there's a sequence early on that's seen under Evan's perspective, then, later on, that same scene is revisited through the perspective of another character. And the most interesting thing is that the first time highlights the differences between both characters, yet the second one gives focus to the similarities between them. I thought that was really nice. The musical numbers are really well-done, and very realistic. As many of the songs could be expressed through dialogue, there isn't a great use of choreography in these sequences. But there is one in particular, my favorite one, that uses the choreography in a brilliant way.

And finally, we have what makes a musical a musical: the soundtrack, composed by writing duo Benj Pasek and Justin Paul, who were responsible for gifting us with the already iconic songs from both “La La Land” and “The Greatest Showman”. I was already famíliar with most of the songs from the original musical, which are simply beautiful and help transmitting the film's general message, on loneliness, grief and loss. But what really caught my attention were the two original songs written specifically for the adaptation, both of which bring depth to characters who had a below-average development onstage, and help reinforce the film's message. There's a particular one, “The Anonymous Ones”, sung by Amandla Stenberg's character, that I think has big chances in the Oscar race for Best Original Song.)



Queridos cinéfilos, hoje vai ser um dia incrível e aí vai o porquê: a adaptação de “Querido Evan Hansen” para as telonas é um triunfo. Munido de um roteiro tocante, relevante e atualizado; performances altamente dedicadas de um elenco mega talentoso; e aspectos técnicos que ajudam a reforçar uma mensagem absolutamente necessária nos dias de hoje, sobre solidão, luto, perda e a dificuldade de se conectar com outras pessoas, Stephen Chbosky e companhia conseguem entregar o melhor musical de 2021 até agora, e um dos melhores filmes do ano!

Nota: 9,5 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Sinceramente,

João Pedro

(Dear film buffs, today is going to be an amazing day and here's why: the film adaptation of “Dear Evan Hansen” is a big-screen triumph. Armed with a touching, relevant and updated screenplay, highly committed performances by a cast that's overflowing with talent, and technical aspects that help reinforcing an absolutely necessary message for today, on loneliness, grief, loss, and difficulty in connecting with other people, Stephen Chbosky and his cast and crew manage to deliver the best movie musical of 2021 so far, and one of the best movies of the year!

I give it a 9,5 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! Sincerely,

João Pedro)

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