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segunda-feira, 4 de outubro de 2021

"Missa da Meia-Noite": a melhor obra lançada pela Netflix em 2021 até agora (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para falar sobre um dos lançamentos mais recentes no catálogo original da Netflix! Comandada por um dos melhores, se não o melhor diretor de terror da atualidade, a minissérie em questão encontra seu autor em sua melhor forma, contando uma história pessoal e cativante, povoada por personagens multifacetados e envolta em uma atmosfera que está sempre em crescimento; e, ao mesmo tempo, meditando sobre temas delicados como a religião e a morte de maneira surpreendentemente reflexiva. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre a minissérie “Missa da Meia-Noite”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to talk about one of the most recent releases on Netflix's original programming catalog! Spearheaded by one of the best, if not the best horror filmmaker of our time, the limited series I'm about to review finds its author in his finest form, telling a personal, captivating story, populated by layered characters and wrapped around an atmosphere that's in constant growth; and, at the same time, meditating on delicate themes such as religion and death in a surprisingly thought-provoking way. So, without further ado, let's talk about the limited series “Midnight Mass”. Let's go!)



A minissérie acompanha Riley Flynn (Zach Gilford), um homem que, quatro anos após atropelar e matar uma jovem enquanto dirigia bêbado, é solto da prisão e retorna para sua terra natal, uma ilha minúscula povoada por menos de 150 pessoas, a qual começa a testemunhar um renascimento religioso e alguns eventos sobrenaturais com a chegada de um novo e misterioso padre (Hamish Linklater) na comunidade.

(The limited series follows Riley Flynn (Zach Gilford), a man who, four years after killing a young woman during a hit and run while drunk driving, is released from prison and returns to his homeland, a tiny island populated by less than 150 people, which begins to experience a religious rebirth, as well as some supernatural events, with the arrival of a new and mysterious priest (Hamish Linklater) in the community.)



Ok, para começar, minhas expectativas para assistir “Missa da Meia-Noite” estavam bem altas, mais altas até do que para muitos filmes que ainda serão lançados este ano. A razão do porquê das minhas expectativas estarem assim era bem simples: era uma minissérie criada, escrita e inteiramente dirigida pelo Mike Flanagan, diretor norte-americano responsável por nos trazer algumas das melhores obras de terror dos últimos tempos, como os filmes “Hush: A Morte Ouve”, “Jogo Perigoso” e “Doutor Sono”, e as minisséries “A Maldição da Residência Hill” e “A Maldição da Mansão Bly”, que foram exclusivamente lançadas no catálogo original da Netflix.

“Ok, mas por quê o fato de 'Missa da Meia-Noite' ser criado por Mike Flanagan importa?”, vocês podem perguntar. Bom, isso importa porque, pelo menos na minha opinião, um dos principais diferenciais de Flanagan em relação a outros diretores de terror é que ele sempre consegue fazer uma relação uniformemente orgânica entre os aspectos sobrenaturais do terror, como fantasmas, espíritos e demônios, e os aspectos mais humanos e realistas do gênero, como o medo, a perda e, principalmente, o trauma. E quase sempre, os aspectos sobrenaturais podem ser interpretados como metáforas para estes temas mais humanos.

Outro diferencial de Flanagan é que, seja um filme ou série, ele sempre desenvolve os seus personagens de maneira detalhada e abrangente, mas ao mesmo tempo, íntima e contida. Algo a ser observado é que todos os protagonistas dos filmes do diretor possuem um arco narrativo com início, meio e fim muito bem definidos, descartando a possibilidade de futuras sequências, o que explicaria o fato de que nenhuma das suas obras possui uma continuação. Um último diferencial que gostaria de destacar é a distinta falta de sustos baratos nas obras do diretor. Ao invés de investir nos típicos jumpscares característicos do gênero, Flanagan mergulha o espectador em uma atmosfera enervante e perturbadora, que surte um efeito até maior em nós, como testemunhas da construção desta atmosfera.

E, se estas razões não bastassem, Mike Flanagan fez o que era aparentemente impossível: fazer Stephen King odiar menos uma de suas adaptações mais aclamadas e, ao mesmo tempo, infames. Através de sua adaptação de “Doutor Sono”, o diretor fez com que o filme fosse, ao mesmo tempo, fiel ao livro de mesmo nome e condizente com a continuidade de “O Iluminado”, de Stanley Kubrick, adaptação de 1980 que foi massacrada por King, com o autor comparando o filme à um “Cadillac sem motor”.

Mas, graças à habilidade de Flanagan com o gênero (a qual recebeu o selo de aprovação do Mestre do Terror), King deu a sua bênção para que o diretor utilizasse elementos do filme de Kubrick para sua adaptação de “Doutor Sono”. E desde o lançamento do filme em 2019, King diz que Flanagan “redimiu” a adaptação de Kubrick, no ponto de vista dele. Então, resumindo, sim: minhas expectativas estavam consideravelmente altas para assistir “Missa da Meia-Noite”. E fico muito feliz em dizer que, como eu esperava, Mike Flanagan nos entregou mais uma obra-prima de terror contemporâneo.

Ok, com isso dito, vamos falar do roteiro. Escrito pelo próprio diretor, e contando com colaborações de outros roteiristas, o enredo de “Missa da Meia-Noite” já chama a nossa atenção pelo caráter pessoal que ele tem para seu criador. Sóbrio por três anos, Flanagan transitou entre várias crenças devido à um passado de alcoolismo, e teve um interesse contínuo desde então em explorar a fé em suas obras, em especial a fé em suas formas mais extremas. “Eu sou fascinado pela forma com que nossas crenças moldam o jeito que tratamos uns aos outros”, disse Flanagan em entrevista ao New York Times, mas vamos chegar nos temas em que a série aborda daqui a pouco.

Antes, gostaria de falar um pouco sobre os aspectos gerais da narrativa, e o primeiro que gostaria de destacar é o passo. Com a série sendo composta por 7 episódios de 60 minutos cada, o passo mais lento de “Missa da Meia-Noite” é uma das principais ferramentas utilizadas pelo diretor para construir tanto uma ambientação quanto personagens que ganhem a atenção e a simpatia do espectador. A ausência de um passo mais acelerado colabora para uma narrativa mais envolvente, nos mergulhando em uma experiência que, ao mesmo tempo, nos incentiva a ver o que acontece a seguir e nos motiva a assistir com paciência, para não acabar cedo demais.

Posso dizer com tranquilidade que foi exatamente isso o que aconteceu comigo, enquanto assistia a minissérie com meu pai. Todo episódio me deixava boquiaberto quando os créditos começavam a aparecer, e eu ficava tipo: “Meu Deus, o que vai acontecer agora?”, aumentando as minhas expectativas para o próximo capítulo, que assistiria no dia seguinte. Mas ao mesmo tempo, uma parte dentro de mim ficava um pouco triste, porque eu estava cada vez mais perto da conclusão da história e ainda não estava pronto para me despedir destes personagens. Felizmente, o episódio final é extremamente satisfatório e finaliza a narrativa sem deixar nenhuma ponta solta, resultando, mais uma vez, em uma história surpreendentemente contida.

Outro destaque de “Missa da Meia-Noite” fica com os personagens, que são muito bem desenvolvidos e me lembraram bastante de alguns que foram criados por Stephen King. Falando no Mestre, em sua autobiografia “Sobre a Escrita”, King diz que um dos pontos mais importantes para se escrever bem é “falar sobre o que você sabe”. Assim como King fez vários de seus protagonistas serem escritores, Flanagan aplica aspectos do seu próprio passado em praticamente todos os personagens de “Missa da Meia-Noite”, como um ex-alcoólatra e ex-coroinha por 12 anos que passou parte da sua infância em uma ilha minúscula ao sul de Manhattan. Felizmente, todos os personagens centrais têm bastante tempo para desenvolverem seus arcos narrativos. Flanagan, às vezes, separa um episódio ou outro para sair da trama principal e focar em um ou dois personagens em particular, e o diretor consegue muito bem inserir estes estudos de personagem dentro da trama principal.

Outro ponto positivo seria a atmosfera, que pode ser comparada à uma chaleira com água em um fogão aceso. Nos dois primeiros episódios, a água começa a esquentar de forma lenta, mas gradual; nos episódios três a cinco, a temperatura vai aumentando e a fumaça começa a subir; e nos episódios seis e sete, a chaleira já está assobiando de tão quente. É basicamente deste jeito que Flanagan desenvolve a atmosfera de “Missa da Meia-Noite”. O terror começa se manifestando de maneira gradual, e estas manifestações se tornam cada vez mais frequentes ao longo da trama, ao ponto de virar algo realmente aterrorizante e surpreendente na reta final.

E é bem interessante como o diretor consegue desenvolver dois tipos diferentes de terror de forma simultânea aqui: além do trauma (tema frequentemente explorado nas obras de Flanagan), perda, luto e outros terrores mais “humanos”; há também algumas partes que nos remetem à verdadeiros clássicos tradicionais do gênero, e colaboram para que várias reviravoltas peguem o espectador de surpresa. Mas, para não entrar em território de spoiler, não vou entrar em detalhes sobre isso.

Agora, vamos ao que realmente me surpreendeu neste trabalho de Flanagan: a abordagem que a minissérie faz em respeito à fé, crenças e religião. Religião e terror inerentemente andam de mãos dadas, com as crenças possuindo um papel importante em obras como “O Exorcista”, “A Profecia” e “O Bebê de Rosemary”, para dar alguns exemplos. Mas, diferentemente destas obras, a religião assume um protagonismo impressionante em “Missa da Meia-Noite”, e este dilema sobre crenças é explorado de várias maneiras na série: através do contraste entre a grande maioria católica da população da ilha e o xerife da comunidade, que é um muçulmano praticante; através da dinâmica entre o protagonista, Riley, que encontra desafios e dúvidas em relação à sua fé após matar uma pessoa em um acidente, e o padre novato, que acaba de chegar na ilha; através da manipulação sofrida por um dos personagens principais em relação às suas crenças, o que me lembrou bastante da abordagem feita no filme “O Diabo de Cada Dia”, também da Netflix.

O enredo de “Missa da Meia-Noite” é povoado por uma variedade de fiéis que se encontram em diferentes estágios de crença: temos a devota; o que tem a crença diferente dos demais; o que perde a crença devido à algum evento traumatizante; a que tem suas crenças, mas tem um pouco de vergonha de assumi-las publicamente; o que tem suas crenças impostas pela família, mas se vê atraído por religiões diferentes. E talvez o mais mágico sobre esta abordagem de um tema tão sensível como a religião é como Flanagan consegue lidar com estes temas de forma impessoal, de modo que ele não apoia uma crença e demoniza a outra na trama.

Ele faz com que todas as crenças abordadas atinjam um patamar de igualdade, de modo que ele não expressa de forma explícita se elas estão certas ou erradas. Tal abordagem faz com que “Missa da Meia-Noite” tenha algo a dizer sobre as crenças de praticamente todo espectador disposto a viajar para a Ilha Crockett por 7 dias (ou em um dia só, dependendo do itinerário... [Risos]). Eu, particularmente, achei esta abordagem brilhante, e ganha até um quê a mais de autenticidade por ser algo pessoal para o criador da história.

Resumindo, o enredo de “Missa da Meia-Noite” se desenvolve como um bom livro de Stephen King, sendo repleto de personagens fascinantes e reviravoltas chocantes que aumentam as expectativas do espectador para o que virá a seguir. Mas, ao mesmo tempo, a minissérie possui um início, meio e fim extremamente bem definidos, o que pode deixar um gosto agridoce na boca do espectador ao se aproximar da conclusão.

Mais uma vez, Mike Flanagan trabalha muito bem os aspectos humanos e sobrenaturais do terror, adicionando uma meditação pessoal fascinante (e surpreendentemente reflexiva) sobre a religião, a morte e a fé em suas diferentes formas. Com essa fórmula nas mãos, o diretor acaba nos entregando mais uma obra-prima contemporânea do gênero. É definitivamente a melhor coisa que a Netflix lançou este ano até agora, junto com o especial de comédia “Bo Burnham: Inside”. Simplesmente imperdível.

(Okay, for starters, my expectations to watch “Midnight Mass” were pretty high, even higher than to watch many films that will still be released this year. The reason why my expectations were reaching that level was quite simple: it was a limited series that was created, written and entirely directed by Mike Flanagan, an American filmmaker who was responsible for bringing us some of the best horror films and TV shows of the last 5 years, such as the films “Hush”, “Gerald's Game” and “Doctor Sleep”, and the limited shows “The Haunting of Hill House” and “The Haunting of Bly Manor”, which were exclusively released on Netflix's original catalog.

“Okay, but why does the fact that Mike Flanagan created 'Midnight Mass' matters?”, you may ask. Well, that matters because, at least under my point of view, one of the main things that make Flanagan different from other horror filmmakers is that he always finds a way of creating an uniformly organic relationship between the supernatural aspects of horror, such as ghosts, spirits and demons, and the more realistic and human aspects in the genre, such as fear, loss, and mainly, trauma. And almost always, the supernatural aspects can be interpreted as metaphors for these more human themes.

Another thing that makes Flanagan different from anyone else is that, whether it's a film or a show, he always develops his characters in a detailed and expansive, yet intimate and contained way. Something worth pointing out is that every protagonist in the director's work has a narrative arc with a very well-defined structure of beginning, middle and ending, discarding the possibility of future installments, which might explain the fact that none of his work has a continuation of some sort. One last difference that I'd like to point out about him is the distinct lack of cheap scares in his films and TV shows. Instead of relying on the genre's characteristic jumpscares, Flanagan plunges the viewer deep into an unnerving and disturbing atmosphere, which is even more impactful for us, as witnesses of that atmosphere's construction.

And if those reasons weren't enough, Mike Flanagan did what was apparently impossible: making Stephen King hate one of his most acclaimed yet infamous adaptations a little less. Through his adaptation of “Doctor Sleep”, the filmmaker found a way of making the film, at the same time, faithful to the novel of the same name and communicative with the continuity established in Stanley Kubrick's “The Shining”, a 1980 adaptation that was massacred by King, with the author comparing it to a “Cadillac with no engine”.

But, thanks to Flanagan's abilities with the genre (which received the Master of Horror's seal of approval), King gave the director his blessing to use aspects of Kubrick's film for his adaptation of “Doctor Sleep”. And ever since the release of the film in 2019, King says that Flanagan “redeemed” Kubrick's adaptation, on his point of view. So, to sum it up, yes: my expectations were considerably high to watch “Midnight Mass”. And I'm really glad to say that, as I expected, Mike Flanagan has delivered yet another masterpiece in contemporary horror.

Okay, with that said, let's talk about the screenplay. Written by the director himself, and relying on collaborations with other screenwriters, the plot for “Midnight Mass” already catches our attention for the personal character it has for its creator. A man who has been sober for the last 3 years, Flanagan has traveled through several beliefs due to a past of alcoholism, and ever since had a continuous interest in exploring faith in his work, especially faith in its most extreme forms. “I'm fascinated by how our beliefs shape how we treat each other”, said Flanagan to the New York Times, but we'll get to the themes it approaches in a minute.

Before that, I'd like to discuss more about the general aspects of the narrative, and the first one I'd like to highlight is the pacing. With the show being composed by 7 episodes running 60 minutes each, the slower pace of “Midnight Mass” is one of the main tools used by the director to build both a setting and characters that catch the viewer's attention and sympathy right from the start. The absence of a faster pace collaborates for a more involving and engaging narrative, plunging us into an experience that, simultaneously, makes us want to see what happens next and motivates us to watch with patience, so that it doesn't end that soon.

I can safely say that that was exactly what happened to me, while I watched the limited series with my father. Every episode left my jaw dropped to the floor when the credits started to roll, and I was like: “Oh, my God! What's going to happen now?”, increasing my expectations for the next chapter, which I would watch on the next day. But at the same time, a part of me got a little sad, because I knew I was getting closer to the story's conclusion and I didn't want to say goodbye to these characters just yet. Fortunately, the final episode is extremely satisfying and caps off the narrative by tying all loose ends, resulting, again, in a surprisingly contained story.

Another highlight of “Midnight Mass” stays with the characters, who are exquisitely well-developed and reminded me a lot of some written by Stephen King, in some parts. Speaking of the Master, in his memoir “On Writing”, King says that one of the most important points for someone to write well is to “talk about what you know”. Just like King made writers out of several of his protagonists, Flanagan applies aspects of his own past into practically every character in “Midnight Mass”, as someone who's been a former alcoholic and former altar boy for 12 years and who lived part of his childhood in a tiny, isolated island south of Manhattan. Fortunately, every central character has plenty of time to develop their narrative arcs. Flanagan, at times, sets apart one or two episodes to deviate from the main plot and focus on one or more particular characters, and the director manages to insert these character studies into the main plotline really well.

Another positive point would be the atmosphere, which could be compared to a boiling kettle on a stove. In the first two episodes, the water starts to get hot slowly, yet gradually; in episodes three through five, the temperature rises more and more and smoke starts to come out; and in episodes six and seven, the kettle starts whistling because of the heat inside of it. It's basically that way that Flanagan builds the atmosphere of “Midnight Mass”. The horror starts manifesting itself slowly and gradually, and these manifestations become more and more frequent throughout the plot, to the point it becomes something surprisingly terrifying by its conclusion.

And it's pretty interesting how the director manages to develop two different types of horror simultaneously here: besides trauma (a theme frequently explored in Mike Flanagan's work), loss, grief, and other more “human” horrors; there are also some parts that remind us of true traditional genre classics, and collaborate for several plot twists to catch the viewer by surprise. But, in order to avoid spoilers throughout this review, I won't delve into this any further.

Now, let's head to what really surprised me in this particular Flanagan piece: the miniseries's approach on faith, beliefs and religion. Religion and horror inherently walk hand-in-hand, with beliefs playing an important role in works such as “The Exorcist”, “The Omen” and “Rosemary's Baby”, to name a few examples. But, unlike these works, religion takes on an impressive protagonist role in “Midnight Mass”, and this dilemma over beliefs is explored in various ways throughout the series: through the contrast between the great Catholic majority of the island's population and the community's sheriff, a practicing Muslim; through the dynamics between protagonist Riley, who finds himself doubtful on his faith after killing someone in an accident, and the newly-arrived priest, who arrives suddenly on the island; through the manipulation suffered by one of the main characters regarding their beliefs, which reminded me a lot of the film “The Devil All the Time”, also on Netflix.

The plot of “Midnight Mass” is populated by a variety of believers who find themselves on different stages of faith: there's the devout one; the one that has a different belief than everyone else; the one who loses their belief due to a traumatizing event; the one that has their beliefs, but is a little embarrassed to publicly state them; the one who has their beliefs imposed by their family, but finds themselves attracted towards another religion. And probably, the most magical thing about this approach on such a sensitive theme as religion is how Flanagan manages to deal with these themes in an unbiased way, in a way that he doesn't support one faith and condemns the other in the plot.

He makes every belief approached in the show reach the same level of equality, in a way he doesn't explicitely express whether they're right or wrong. Such an approach makes “Midnight Mass” some sort of universally communicative show that has something to say about the beliefs of practically every viewer who's willing to travel to Crockett Island for 7 days (or just one, depending on their itinerary... [LOL]). I, particularly, found that approach to be brilliant, and it even gains some extra points of authenticity for being something personal to the story's creator.

To sum it up, the plot for “Midnight Mass” develops itself like a good Stephen King book, being filled with fascinating characters and shocking plot twists that enhance the viewer's expectations for what comes next. But, at the same time, the miniseries has an extremely well-defined structure of beginning, middle and ending, which might leave a bittersweet taste on the viewer's mouth when getting closer to its conclusion.

Once again, Mike Flanagan works really well with the human and supernatural aspects of horror, adding a fascinating, personal (and surprisingly thought-provoking) meditation on religion, death and faith in all its forms. With that formula on his hands, the director ends up delivering yet another contemporary masterpiece in the genre. It's definitely the best thing Netflix has released this year so far, alongside the musical comedy special “Bo Burnham: Inside”. You just can't miss it.)



Assim como nas duas minisséries anteriores do diretor para a Netflix, o elenco de “Missa da Meia-Noite” eleva as ambições do roteiro à novas alturas. Começando pela dupla de protagonistas, interpretados por Zach Gilford e Kate Siegel, que estão excelentes aqui. Os personagens dos dois atores são a principal ferramenta usada por Flanagan para transmitir o trauma e a tragédia características de seu trabalho, e Gilford e Siegel trabalham de forma excepcional com os dilemas que o roteiro impõe sobre seus personagens. Inclusive, as cenas mais reflexivas da minissérie inteira são aquelas onde os personagens deles estão juntos em tela, então prestem uma atenção extra à estas sequências.

Eu gostei muito da performance do Rahul Kohli. Ele havia interpretado um dos melhores personagens de “A Maldição da Mansão Bly”, mas aqui Kohli assume uma vibe completamente diferente. Ao invés da faceta mais acolhedora, bondosa e caridosa do Owen de “Mansão Bly”, o ator interpreta um homem amargurado que constantemente enfrenta preconceitos de parte da população da ilha por causa de sua religião. E, assim como em “Mansão Bly”, Kohli consegue fazer com que venhamos a nos importar com seu personagem logo no início. Outro destaque fica com a dupla de mãe e filha interpretada por Annabeth Gish e Alex Essoe. É bem interessante ver as personagens delas começando a trama como coadjuvantes e depois, lentamente, vê-las assumindo um protagonismo maior. Outras performances que merecem uma menção especial são a da Annarah Cymone (tem uma cena no episódio 3 que exibe as capacidades emocionais da atriz de maneira estrondosa); do Henry Thomas e da Kristin Lehman (que possuem uma química inegável em tela, mesmo quando eles não concordam em toda coisa).

Agora, vamos aos dois prováveis indicados ao Emmy ano que vem (se eles não forem ao menos indicados, não há justiça nesse mundo): Hamish Linklater, que interpreta o padre novato, e Samantha Sloyan, que interpreta a fiel mais devota da ilha. O personagem de Linklater é o que tem o desenvolvimento mais eficiente ao longo da trama. O arco narrativo dele é um dos mais bem trabalhados no roteiro. Eu adorei como, no início, nós não sabemos praticamente nada dele; aí ao longo dos episódios, nós vamos aprendendo cada vez mais sobre a história de fundo dele, e esses desdobramentos nos pegam MUITO de surpresa. Linklater, para mim, está empatado com Andrew Scott (de “Fleabag”) como “melhor atuação de alguém interpretando um padre”. As cenas onde seu personagem está fazendo sermões (e acreditem, são várias) são fervorosas e cheias de energia e paixão, que só reforçam o compromisso que o ator teve em relação ao seu papel.

E, por último, mas certamente não menos importante, temos a Samantha Sloyan, cuja personagem redefine o conceito de fanática religiosa na ficção. De forma mais intensa do que Margaret White em “Carrie, a Estranha” ou a Sra. Carmody em “O Nevoeiro”, a fé da personagem de Sloyan não é completamente cega, de modo que o espectador venha a compreender o ponto de vista dela em alguns momentos, por mais mal aplicado que possa ser em algumas situações. Há várias cenas envolvendo a personagem dela onde ela aplica certas passagens da Bíblia à algumas situações, e algumas fazem tanto sentido inseridas nestas situações, que você chega a pensar: “Cara, eu não gostaria de entrar em um embate sobre a Bíblia com uma pessoa dessas”. As performances de Linklater e Sloyan foram as únicas onde eu não pude ver os atores (tanto que eu não os conhecia até ver a série), e sim somente os personagens, o que, pra mim, é a melhor parte de uma atuação.

(Just like the director's previous two limited shows made for Netflix, the cast of “Midnight Mass” elevates the script's ambitions to greater heights. Starting off with the duo of protagonists, played by Zach Gilford and Kate Siegel, who are excellent here. The two actors' characters are the main tool Flanagan uses to transmit the characteristic themes of trauma and tragedy in his work, and Gilford and Siegel wonderfully work through the dilemmas that the screenplay imposes over their characters. As a matter of fact, the most thought-provoking scenes in the entire miniseries are those where the two of them are together onscreen, so pay extra attention to these particular sequences.

I really, really liked Rahul Kohli's performance. He had played one of the best characters in “The Haunting of Bly Manor”, but here Kohli takes on a whole different vibe. Instead of the more welcoming, kind-hearted and caring personality of Owen from “Bly Manor”, the actor plays a bittered man who faces constant prejudice from part of the island's population because of his religion. And, just like in “Bly Manor”, Kohli manages to make us care about his character right from the start. Another highlight stays with the mother-daughter duo portrayed by Annabeth Gish and Alex Essoe. It's pretty interesting to see them start out as supporting players, and then slowly, see them taking over a bigger role. Other performances that deserve a special mention are those of Annarah Cymone (there's a scene in episode 3 that displays the actress's emotional abilities wonderfully well); Henry Thomas and Kristin Lehman (who have undeniable chemistry onscreen, even when they don't see eye-to-eye).

Now, let's head to the likely Emmy nominees next year (if they don't get at least nominated, there's no justice in the world): Hamish Linklater, who portrays the newly-arrived priest, and Samantha Sloyan, who portrays the most devout believer in the island. Linklater's character is the one with the most effective development throughout the plot. His narrative arc is one of the best worked ones in the screenplay. I loved how, at first, we don't know anything about him; then throughout the episodes, we end up learning more and more about his backstory, and these unfoldings take us A LOT by surprise. Linklater, for me, is tied with Andrew Scott (from “Fleabag”) as the “best performance by someone playing a priest”. The scenes where his character is preaching sermons (and believe me, there are several) are filled with fervor, energy and passion, which only reinforce Linklater's commitment to the role.

And, at last, but certainly not least, we have Samantha Sloyan, whose character redefines the concept of religious fanatic in fiction. In a more intense way than Margaret White in “Carrie” or Mrs. Carmody in “The Mist”, Sloyan's character's faith isn't completely blind, in a way that the viewer understands her point of view in some moments, as badly applied as it might be in some situations. There are several scenes involving her character where she applies certain passages of the Bible to some situations, and a few of them make so much sense when inserted into those particular situations, that you think: “Man, I would not want to enter an argument over the Bible with someone like that.”. Linklater and Sloyan's performances were the only ones where I wasn't able to see the actors (probably because it was my first contact with both of them), but I could only see the characters, which, for me, is the best thing about a good performance.)



E, por último, mas não menos importante, temos os aspectos técnicos, os quais, assim como em toda obra de Mike Flanagan, ajudam fortemente a construir a atmosfera e tensão necessárias para a trama surtir um efeito na mente do espectador. A direção de fotografia e a montagem trabalham em conjunto para dar vida à ambientação. Há várias sequências que destacam a beleza natural da Ilha Crockett, que servem como o contraste perfeito para as cenas mais assustadoras. A direção de arte faz uso de uma paleta de cores bem acinzentada, para acentuar o caráter isolado da ambientação, o que é bem legal.

A minissérie faz um trabalho sensacional no departamento de maquiagem e penteado. Não vou entrar em detalhes para não dar nenhum spoiler, mas é absolutamente revigorante ver uma obra de terror usando o mínimo de efeitos gerados por computador possível para dar um upgrade no suspense. E este uso não só acentua a tensão, mas também ganha mais fidelidade no realismo ao retratar certas situações, o que, pra mim, é tudo que algo do gênero precisa fazer para realmente causar um impacto no espectador.

E, por fim, temos a trilha sonora original, composta pelos irmãos Newton, colaboradores frequentes do diretor Mike Flanagan. O diferencial (e a melhor coisa) desta trilha sonora é que ela é composta inteiramente por arranjos de hinos cristãos tradicionais, muitos dos quais possuem traduções para o Português. E eu, como cristão, fiquei impressionado várias vezes quando reconhecia um cântico que já havia cantado na igreja, e fiquei boquiaberto com a beleza das versões compostas pelos irmãos. Posso dizer, com tranquilidade, que é o melhor trabalho dos compositores em uma obra de Mike Flanagan, especialmente pela autenticidade que ela tem em relação à história de fundo do diretor. Simplesmente brilhante.

(And at last, but not least, we have the technical aspects, which, as in every Mike Flanagan work, are there to help build the necessary atmosphere and tension for the story to have some sort of effect on the viewer's mind. The cinematography and editing work hand-in-hand to breathe life into the show's setting. There are several sequences that highlight Crockett Island's natural beauty, which serve as the perfect contrast for the scariest scenes. The production design makes use of a gray-ish color palette, to heighten the isolated character of the setting, which is really cool.

The limited series does a sensational job in the makeup and hairstyling department. I won't delve into details to avoid giving away any spoilers, but it's absolutely invigorating to see a work of horror using as little computer-generated effects as possible to give the suspense an upgrade. And that use not only heightens the tension, as it also gives it more faithfulness in the realism when portraying certain situations, which, to me, is everything that something in the genre has to do to really cause an impact on the viewer.

And, at last, we have the original score, composed by the Newton brothers, who are frequent collaborators of director Mike Flanagan. The different (and best) thing about this original score is that it is entirely composed by arrangements of traditional Christian hymns and songs, many of which have translations to multiple languages. And I, as a Christian, was impressed several times when I recognized a song I'd already sung at church, and I was spellbound by the utter beauty in these versions composed by the Newton brothers. I can safely say that this is the composers' best work in something by Mike Flanagan, especially for its authenticity in regards to the director's background. Just brilliant.)



Resumindo, “Missa da Meia-Noite” é a melhor coisa lançada pela Netflix em 2021 até agora, juntamente com o especial de comédia “Bo Burnham: Inside”. Contando com uma história cativante, viciante, assustadora e surpreendentemente reflexiva; atuações muito dedicadas de um elenco que transborda talento; e aspectos técnicos que acentuam a atmosfera, a tensão e a beleza da ambientação, este é o melhor trabalho de Mike Flanagan até o presente momento, especialmente pelo caráter autêntico e pessoal que a história tem para seu criador. Façam a si mesmos um favor, e não percam essa minissérie.

Nota: 10 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “Midnight Mass” is the best thing Netflix has released in 2021 so far, alongside Bo Burnham's comedy special “Inside”. Relying on a captivating, addictive, terrifying and surprisingly thought-provoking story; very dedicated performances by a cast that's overflowing with talent; and technical aspects that heighten the setting's atmosphere, tension and beauty, this is Mike Flanagan's finest work to date, especially because of the story's authentic and personal tone towards its creator. Do yourselves a favor and don't miss on this miniseries.

I give it a 10 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)


6 comentários:

  1. Uma resenha à altura do que a série foi! Excelente!!

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  2. Excelente resenha, JP, parabéns 👏👏👏👏 Pena que vi a série antes!!!

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  3. Excelente trabalho, JP, Digno de nota!! Parabéns 👏👏👏

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  4. Excelente trabalho, JP!! Digno de nota!!

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  5. O filme parece ser bom, mais eu não assisto filme de terror maus não, e olha q eu gostava kkkkkkk, mais os seus comentários são top! Parabéns JP

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