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“Lançarei sobre ti imundícias, tratar-te-ei com desprezo e te porei por espetáculo.” - Naum 3:6
(“I will cast abominable filth upon you, make you vile and make you a spectacle.” - Nahum 3:6)
E aí, meus queridos cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para trazer minha opinião sobre um dos lançamentos mais recentes, já em exibição exclusiva nos cinemas! Contando com uma direção extremamente assegurada, um roteiro inteligente e muito bem amarrado, performances notáveis de seu elenco e aspectos técnicos que reforçam com primor o caráter tenso e épico da narrativa, o filme em questão não é somente o filme mais ambicioso de seu diretor até o momento, mas também acaba sendo sua história mais honesta e pessoal, abrindo um enorme espaço para várias interpretações válidas. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Não! Não Olhe!”. Vamos lá!
(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to bring my opinion on one of the most recent film releases, which is available in theaters and VOD! Relying on an extremely assured direction, a clever and well-structured script, remarkable performances by its cast and technical aspects that wonderfully reinforce the narrative's tense and epic feel, the film I'm about to review is not only its director's most ambitious film to date, but it also ends up being his most honest and personal story yet, opening an enormous space for various valid interpretations. So, without further ado, let's talk about “Nope”. Let's go!)
6 meses após a morte trágica do pai durante um fenômeno natural bizarro, uma dupla de irmãos que trabalham como domadores de animais para sets de filmagem (Daniel Kaluuya e Keke Palmer) começa a testemunhar aparições estranhas e sobrenaturais nos arredores de seu rancho. Dispostos a reaver o lugar de seus antepassados na história do cinema, os irmãos contam com a ajuda de um técnico de informática (Brandon Perea) e um diretor de fotografia renomado (Michael Wincott) para registrarem o fenômeno.
(Six months after their father's tragic death during a bizarre natural phenomenon, a duo of siblings who work as animal wranglers for movie sets (Daniel Kaluuya and Keke Palmer) starts witnessing strange and supernatural apparitions in the area around their ranch. Willing to claim back their forefathers' place in the history of motion pictures, the siblings rely on the help of a computer technician (Brandon Perea) and a renowned cinematographer (Michael Wincott) in order to register the phenomenon.)
Fato: Jordan Peele é um dos diretores mais promissores dos últimos tempos. Começando sua carreira na comédia, através do hilário programa de esquetes “Key and Peele”, o comediante começou a direcionar seu trabalho lentamente para o terror, resultando no enorme sucesso de seu primeiro filme, “Corra!”, lançado em 2017, que merecidamente lhe rendeu o Oscar de Melhor Roteiro Original no ano seguinte. Em 2019, Peele lançou seu segundo filme, “Nós”, que, embora tenha sido um sucesso de crítica e bilheteria, não teve o mesmo reconhecimento que sua estreia na direção. 2 anos depois, em 2021 (um ANO antes da estreia), um pôster foi lançado para o terceiro filme do diretor, mostrando uma nuvem com uma rabiola de pipa pairando de forma ameaçadora sobre uma cidadezinha, assim como três dos nomes principais do elenco (o recentemente “Oscarizado” Daniel Kaluuya (protagonista do primeiro filme do diretor), Keke Palmer e Steven Yeun). O título? “Nope” (em tradução livre, algo como “Não, Nem Pensar”, título que depois seria traduzido para “Não! Não Olhe!”).
Durante muito tempo, esse pôster foi a única pista que tínhamos sobre o que o terceiro filme de Jordan Peele iria se tratar. Mas aí, veio o Super Bowl de 2022, que nos brindou com o primeiro e enigmático trailer do longa-metragem. Eu sinceramente não me lembro da última vez que fiquei tão fascinado, hipnotizado e interessado para ver um filme baseado somente no primeiro trailer. Montado com o objetivo de ocultar suas maiores reviravoltas, a prévia conseguiu estabelecer uma atmosfera inegável de suspense com enorme sucesso, sendo um dos melhores conteúdos de filmes lançados durante o evento. Por mim, esse poderia ter sido o único trailer da campanha de marketing do filme, mas a Universal tinha outros planos, lançando mais dois trailers que revelavam coisas até demais da narrativa.
Então, sim, É CLARO que eu estava animado para ver “Não! Não Olhe!”. Não é à toa que coloquei o filme como um dos meus 10 filmes mais esperados para 2022 no início do ano. E fico muito, mas muito feliz em dizer que minhas expectativas foram atendidas e até superadas em certo ponto, graças à direção de Peele, à abordagem do diretor em respeito à mistura entre o terror e a comédia presentes na trama, e às várias interpretações válidas que podem ser aplicadas ao roteiro, que podem variar de algumas mais metafóricas e existenciais até algumas mais realistas e metalinguísticas, que comunicam de forma espetacular com o meio no qual a história está sendo transmitida.
Ok, depois de ter dito tudo isso, vamos ao roteiro. Em seu quarto roteiro de longa-metragem (o terceiro foi o de “A Lenda de Candyman”, lançado ano passado e dirigido por Nia DaCosta), Jordan Peele nos brinda com sua história mais ambiciosa até o momento, fato que é reforçado pela grande diferença entre o orçamento deste filme e o dos anteriores (US$68 milhões contra os US$4,5 milhões de “Corra!” e os US$20 milhões de “Nós”). Tudo aqui, da abordagem narrativa à proeza técnica, parece essencialmente épico, fazendo o espectador relembrar especialmente dos filmes de Steven Spielberg lançados nos anos 1970 e 1980, como “Contatos Imediatos de Terceiro Grau” e “E.T.: O Extraterrestre”. Mas ainda assim, o filme consegue reter várias das características que Peele conseguiu imprimir em seu trabalho anterior, evitando que o diretor se deixe levar por suas influências do que por seu próprio estilo, o que é muito bom.
O primeiro destaque que gostaria de fazer em relação ao roteiro é o caráter enigmático da trama, e a habilidade de Peele em dar explicações compreensíveis para estes enigmas, algo que, na minha opinião, deixou um pouco a desejar em “Nós”. Esse tom de mistério já é evidente na cena de abertura do longa-metragem. “Não! Não Olhe!” começa com uma das sequências mais estranhas e, ao mesmo tempo, fascinantes que eu já vi em uma telona. Sem dar spoilers, me limito a dizer que envolve um set de filmagens, um chimpanzé e uma sapatilha. E então, Peele desenvolve uma justificativa extremamente inteligente e que traz um enorme sentido para todas as bizarrices que ocorreram ao longo da trama, de forma reminiscente ao seu primeiro (e melhor) filme.
O segundo destaque fica com a mistura bem-calculada entre a comédia e o terror, algo que, na opinião de muitos, ficou bem desbalanceado nos dois primeiros trabalhos de Peele na direção. Ao invés de ter somente um personagem para servir de alívio cômico (no caso de “Corra!”, o melhor amigo do protagonista; e em “Nós”, o pai da família principal), o diretor consegue utilizar o humor para trazer mais leveza à trama de “Não! Não Olhe”, ao mesmo tempo que mantém a atmosfera tensa e sinistra com sucesso. Alguns podem reclamar da presença de um senso de humor em um filme de terror, mas é, na verdade, um ótimo recurso para deixar a narrativa e os personagens respirarem por um tempo antes de mais partes assustadoras, algo que eu posso exemplificar com a maravilhosa cena onde Ed Warren canta “Can't Help Falling in Love” em “Invocação do Mal 2”. É uma sequência que não só faz o espectador sorrir, mas também aprofunda o desenvolvimento da química entre os protagonistas.
Em terceiro lugar, gostaria de destacar a abordagem escolhida por Peele para trabalhar o terror presente no roteiro. É difícil descrever sem dar spoilers, mas vou tentar: se você pegar a trama de alienígenas de “Contatos Imediatos” e “Sinais”; misturar com o terror cósmico de H.P. Lovecraft e “O Nevoeiro”; e colocar uma quantidade generosa da atmosfera extremamente tensa de filmes de terror contemporâneos, como “A Bruxa” e “Um Lugar Silencioso”, você vai experimentar algo parecido com a vibe que Peele conseguiu criar em “Não! Não Olhe!”. E eu não estou brincando quando digo que o filme é BEM tenso: há certas cenas onde não há uma presença da trilha sonora, mantendo os olhos do espectador grudados na tela, com medo de pegar um punhado de pipoca pelo barulho das mordidas, o qual poderá quebrar a tensão. É tenso e sufocante a esse nível, e funciona, graças à parceria próxima entre o roteiro e a equipe técnica do longa.
Como o quarto destaque, temos os personagens, que são muito bem construídos e desenvolvidos ao longo da trama, possuindo motivações bem sólidas para justificarem suas ações. Um detalhe que é importante ressaltar é a inteligência que o diretor imprime em seus personagens, diferenciando-os da grande maioria dos protagonistas de filmes de terror, o que é louvável. Claro que alguns são mais desenvolvidos que outros, mas Peele faz o seu melhor trabalho possível para despertar a simpatia do espectador pelo arco narrativo de cada um dos personagens centrais, sejam eles protagonistas, como os sensacionais irmãos interpretados por Kaluuya e Palmer, ou coadjuvantes, como os incríveis personagens de Brandon Perea, Michael Wincott e Steven Yeun, sendo este último uma das figuras mais fascinantes da trama, a qual eu gostaria muito que Peele pudesse explorar em um futuro spin-off. (Por favor, Jordan, nunca te pedi nada!)
E em quinto e último lugar, gostaria de falar sobre as diferentes interpretações que o roteiro pode ter, com quase todas elas sendo pré-planejadas pelo próprio diretor. Tais interpretações podem variar das mais convencionais, como uma abordagem sociopolítica sobre a natureza do espetáculo e a capitalização em cima de fenômenos naturais e/ou tragédias; às mais metalinguísticas, com o enredo servindo como uma resposta ao constante apagamento da influência da comunidade negra na história do cinema (algo que é reforçado pelo fato de Peele sempre escalar atores negros para seus protagonistas); até as mais existenciais, com os acontecimentos bizarros da trama podendo ser explicados como eventos bíblicos/apocalípticos, levando em conta o versículo bíblico destacado no início da resenha, que serve de epígrafe para o filme.
Ou seja, resumindo, “Não! Não Olhe!” é a narrativa mais ambiciosa e enigmática elaborada por Jordan Peele até o momento, fazendo seu grande orçamento valer a pena graças à característica mistura entre comédia e terror, às justificativas compreensíveis para seus pontos de interrogação, aos seus personagens muito bem construídos e desenvolvidos, e ao caráter narrativo de estar aberto à várias interpretações, permitindo que o espectador leia a história da maneira que ele/a achar mais adequada. Preciso ver a concorrência para decidir se esse roteiro seria indicado ao Oscar, mas se for, certamente não ficarei surpreso.
(Here's a fact: Jordan Peele is one of the most promising filmmakers in recent times. Starting off his career in comedy, with the hilarious sketch show “Key and Peele”, the comedian started to slowly direct his work towards horror, resulting in the enormous success of his first film, “Get Out”, released in 2017, which deservingly won him the Oscar for Best Original Screenplay the following year. In 2019, Peele released his second feature film, “Us”, which, even though being a critical and commercial success, didn't get as much recognition as his directorial debut. 2 years later, in 2021 (one WHOLE YEAR before its release), a poster for the director's third film was released to the world, showing a cloud with a kite tail menacingly hovering above a small town, as well as three of the main names of the cast (the recent Oscar winner Daniel Kaluuya (who starred in the director's first film), Keke Palmer and Steven Yeun). The title? “Nope”.
For a long time, that poster was the only lead we had of what Jordan Peele's third film would be about. But then, the 2022 Super Bowl came, presenting us with the feature's first and cryptic trailer. I honestly can't remember the last time I became so fascinated, mesmerized and interested in watching a film based only on the first trailer. Put together with the objective of hiding its biggest plot twists, the preview managed to establish an undeniably suspenseful narrative with an enormous success, being one of the best film contents released during the event. If it were up to me, that would've been the only trailer in its marketing campaign, but Universal had other plans, releasing two further trailers that revealed too many details regarding the plot.
So, yes, OF COURSE I was excited to watch “Nope”. I mean, I even placed it among my top 10 most anticipated films of 2022 in a list I wrote in the beginning of the year. And I am really, REALLY glad to say that my expectations were met and even surpassed at a certain level, thanks to Peele's direction, the director's approach to the mix between comedy and horror in the plot, and its various valid interpretations that could be applied to the script, which vary from the most metaphorical and existential ones to more realistic and metalinguistic ones, which spectacularly communicate with the medium used to tell the story.
Okay, after having said all that, let's head to the screenplay. In his fourth feature-length screenplay (his third was that of “Candyman”, released in 2021 and directed by Nia DaCosta), Jordan Peele presents us with his most ambitious story to date, a fact that's reinforced by the great difference between this film's budget and the previous ones' (US$68 million against the US$4.5 million of “Get Out” and the US$20 million of “Us”). Everything here, from the narrative approach to the technical prowess, feels essentially epic, making the viewer remember especially of Steven Spielberg's films from the 1970s and 1980s, like “Close Encounters of the Third Kind” and “E.T.: The Extra-Terrestrial”. But still, the film manages to retain several of the characteristics that Peele managed to imprint in his previous work, preventing the director from letting himself be led by his influences rather than his own style, which is great.
The first highlight I'd like to make about the screenplay is the plot's enigmatic, cryptic vibe, and Peele's ability in giving comprehensible explanations to these enigmas, something that, in my opinion, left a little to be desired in “Us”. This mysterious tone is already established in the film's very first scene. “Nope” opens with one of the strangest and, at the same time, most fascinating sequences I've ever seen on a big screen. Without spoiling it, I'll only say that it envolves a filming set, a chimpanzee and a slipper. And then, Peele develops an extremely clever justification that brings a whole lot of sense to all the freakiness that takes place throughout the plot, in a reminiscent way to his first (and finest) film.
The second highlight stays on the screenplay's well-calculated mix between comedy and horror, something that, in the opinion of many people, came out as unbalanced in Peele's two first directorial works. Instead of having just one character to serve as a comic relief (in “Get Out”, through the protagonist's best friend; and in “Us”, through the main family's father), the director manages to use humor to bring more lightness to the plot of “Nope”, while successfully maintaining its tense and sinister atmosphere. Some people might complain of the presence of a sense of humor in a horror film, but it's actually a great device to let the narrative and the characters take a breath before further scary parts, something I can exemplify with the wonderful scene where Ed Warren sings “Can't Help Falling in Love” in “The Conjuring 2”. It's a sequence that not only makes the viewer smile, but also deepens the chemistry between the two protagonists.
Thirdly, I'd like to highlight the approach chosen by Peele to work with the horror that's present in the screenplay. It's hard to describe it without spoiling it, but I'll try: if you take the alien plotline of “Close Encounters” and “Signs”, mixing it with the cosmic horror of H.P. Lovecraft and “The Mist”; and dumping a generous amount of the extremely tense atmosphere of contemporary horror films such as “The Witch” and “A Quiet Place”, you'll come up with something similar to what Peele managed to create with “Nope”. And I'm not joking when I say that the film is VERY tense: there are certain scenes where there's no use of soundtrack, keeping the viewer's eyes glued to the screen, and scared of taking a handful of popcorn because of the bite noises, which might break the tension. It's tense and suffocating to that level, and it works, thanks to the close partnership between the script and the technical crew.
As the fourth highlight, we have the characters, which are really well-built and developed throughout the plot, having pretty solid motivations to justify their actions. A detail that's important to bring to light is the cleverness the director imprints his characters with, setting them apart from the great majority of horror film protagonists, which is something you can't help but praise. Sure, some of them are more developed than others, but Peele does the best work he can to awaken the viewer's sympathy towards all of the central characters' narrative arcs, whether they're the main ones, like the sensational siblings portrayed by Kaluuya and Palmer, or the supporting ones, like the characters portrayed by Brandon Perea, Michael Wincott and Steven Yeun, the latter of which is one of the most fascinating figures in the plot, and I would really like it if Peele managed to explore his character further in a future spin-off. (Please, Jordan, I never asked you anything!)
And in fifth and last place, I'd like to talk about the different interpretations the screenplay can have, all of which seeming pre-planned by the director himself. These interpretations can vary from more conventional ones, like a sociopolitical approach on the nature of a spectacle and the act of capitalizing over a natural phenomenon and/or a tragedy; to those that are more metalinguistic, with the plot serving as a response to the constant erasure of the Black community's influence in the history of filmmaking (something that's reinforced by Peele's creative choice of casting Black people as his protagonists); to even those that are existential, where the plot's bizarre happenings can be explained as Biblical/apocalyptical events, taking into account the Biblical verse highlighted in the beginning of this review, which serves as the film's epigraph.
Meaning, to sum it up, “Nope” is the most ambitious and enigmatic narrative elaborated by Jordan Peele to date, making its great budget worth every penny, thanks to the characteristic mixture between comedy and horror, the comprehensible justifications for its question marks, to its very well-built and developed characters, and to its narrative character of being open to several interpretations, allowing the viewer to read the story in the way they think it's the most adequate. I have to see the competition before deciding if this script could be Oscar-nominated, but if it ends up so, I certainly won't be surprised.)
Como em todos os filmes anteriores de Peele, o elenco é bem reduzido à, no máximo, cinco personagens centrais, permitindo que os atores tenham muito conteúdo no roteiro para basearem suas performances. Em “Não! Não Olhe!”, temos alguns dos atores mais talentosos dessa geração para trazerem vida ao roteiro de Peele, a começar pelo retorno de Daniel Kaluuya. Indicado ao Oscar de Melhor Ator por “Corra!” e vencedor do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por “Judas e o Messias Negro”, é impressionante a forma com que Kaluuya consegue dizer tanto com suas expressões sem emitir uma simples palavra. Possuindo uma química contrastante e cativante com a personagem de Keke Palmer, o ator consegue, com enorme sucesso, expressar a insatisfação e, ao mesmo tempo, a obrigação de seu personagem de manter o trabalho da família após a morte do patriarca.
Mas, enquanto a performance de Kaluuya é essencialmente mais silenciosa e séria, o núcleo emocional da trama se encontra no desempenho incrivelmente carismático de Keke Palmer como a irmã caçula de Kaluuya, que parece ter uma aura positiva quase onipresente ao redor de sua personagem. É incrível ver como as personalidades dos dois irmãos são contrastantes, e como isso é refletido nas performances dos atores: enquanto o irmão mais velho é bem acomodado onde vive e se vê obrigado a manter o legado de seus antepassados vivo; a irmã caçula é extremamente ambiciosa e mal pode esperar para dar o fora daquele rancho e seguir seus sonhos. Há alguns momentos verdadeiramente emocionantes vindos da performance de Palmer, graças à sua química com Kaluuya, que podem até ser o bastante para uma indicação ao Oscar. Estarei na torcida por ela.
Em papéis mais coadjuvantes, temos performances igualmente competentes de Brandon Perea, que é o mais próximo que “Não! Não Olhe!” tem de um alívio cômico, sendo peça central para o desenvolvimento da trama e para a presença do senso de humor do filme; Michael Wincott, cujo personagem tem uma motivação tão ambiciosa e impressionante quanto a de Palmer, e o ator consegue trabalhar com seu arco narrativo muito bem; e Steven Yeun, que interpreta o personagem mais misterioso e enigmático do enredo, cujo passado tem uma conexão intrínseca com o que ocorre ao longo das sucintas 2 horas e 10 minutos de duração, e eu ADORARIA se Peele fizesse um spin-off seguindo a trajetória desse personagem em particular.
(As in every previous film by Peele, the cast is reduced to five central characters, at the most, allowing the actors to have plenty of content in the script to base their performances from. In “Nope”, we have some of the most talented actors in our generation to bring life to Peele's script, starting with the return of Daniel Kaluuya. Oscar-nominated for Best Actor for “Get Out” and winner of the Oscar for Best Supporting Actor for “Judas and the Black Messiah”, it's impressive how Kaluuya manages to tell us so many things about his character without saying a single word, only through his facial expressions. Having a contrasting and captivating dynamic with Keke Palmer's character, the actor manages to successfully express his character's dissatisfaction and obligation of keeping his family's work after the patriarch's death.
But, while Kaluuya's performance is essentially more quiet and serious, the plot's emotional core comes from Keke Palmer's incredibly charismatic performance as Kaluuya's younger sister, who seems to have an almost omnipresent positive aura around her character. It's incredible to see how the siblings' personalities are contrasting, and how that's reflected in the actors' performances: while the older brother is well-settled at his home and sees himself obligated in maintaining his forefathers' legacy alive; his younger sister is extremely ambitious and can't wait to get the hell out of that ranch and follow her dreams. There are some truly emotional moments coming from Palmer's performance, due to her chemistry with Kaluuya, which might just be enough for her to get an Oscar nomination. My fingers are crossed for her.
In more supporting roles, we have equally competent performances by Brandon Perea, who is the closest that “Nope” has to a comic relief, with his character being a central piece in the plot's development and in the presence of a sense of humor in the film; Michael Wincott, whose character has a motivation that's as ambitious and as impressive as Palmer's, and the actor manages to work with his narrative arc really well; and Steven Yeun, who plays the most mysterious and enigmatic character in the plot, whose past has an intricate connection to what happens throughout the film's succint runtime of 2 hours and 10 minutes, and I would LOVE IT if Peele made a spin-off following the trajectory of this particular character.)
Já digo isso por agora: se “Não! Não Olhe!” sair do Oscar 2023 sem um prêmio em alguma categoria técnica, tem alguma coisa errada com a premiação. Temos um trabalho de direção de fotografia ESTUPENDO do Hoyte van Hoytema, que é ninguém mais, ninguém menos, do que o diretor de fotografia dos filmes do Christopher Nolan, como “Interestelar”, “Dunkirk” e “Tenet”. O dinamismo e o caráter contínuo da câmera de Hoytema nas cenas mais aceleradas injetam um caráter essencialmente cinematográfico no filme, fazendo com que tudo pareça ainda mais épico e ambicioso. (Pelo amor de Deus, vejam esse filme no cinema, se possível.) A montagem do Nicholas Monsour é muito bem calculada e precisa, tornando as tomadas de Hoytema mais fluidas, para manter a atmosfera tensa prescrita no roteiro de Peele.
O trabalho de som é um espetáculo a parte, com o filme contando com cenas essencialmente silenciosas, com poucos sons ambientes, para que, depois, um jumpscare cause um breve estouro nos tímpanos do espectador, de uma forma incrivelmente eficaz. Essa abordagem me lembrou (e muito) do fantástico trabalho de som em “Um Lugar Silencioso” e em sua sequência. Eu amei a mistura de vibes que a trilha sonora original do Michael Abels consegue imprimir no trabalho de Peele. Ao mesmo tempo que o compositor investe em melodias mais nostálgicas, nos remetendo ao que o John Williams fez na trilha de “E.T.”, Abels também dá um caráter mais enervante que casa muito bem com as partes mais tensas da trama, lembrando muito o trabalho do Trent Reznor e do Atticus Ross na trilha soberba de “Garota Exemplar”, de David Fincher.
Por fim, mas certamente não menos importante, os efeitos especiais precisam de um destaque em particular. Eu não sei qual é a porcentagem prática dos efeitos de “Não! Não Olhe!”, mas de uma coisa, eu tenho absoluta certeza: é um trabalho muito, mas muito realista, mesmo em seus momentos mais surreais. Ao mesmo tempo que há uma transição quase imperceptível entre efeitos práticos e CGI nas partes mais sobrenaturais da trama; temos um dos melhores trabalhos de captura de movimento desde a trilogia mais recente de “Planeta dos Macacos” pelas mãos do excepcional Terry Notary, de “The Square”. Se tem um lugar onde “Não! Não Olhe!” promete brilhar na vindoura temporada de premiações, são as categorias técnicas.
(I'll say this already: if “Nope” comes out of the 2023 Oscars without a single award in a technical category, there's something severely wrong with these awards. We have a STUPENDOUS cinematography work by Hoyte van Hoytema, who's the absolute genius responsible for shooting Christopher Nolan's films, such as “Interstellar”, “Dunkirk” and “Tenet”. The dynamic and continuous trajectory of Hoytema's camera in the more fast-paced scenes inject an essentially cinematic character in the film, making everything seem even more epic and ambitious. (For the love of God, watch this movie on a big screen, if possible.) Nicholas Monsour's editing is well-calculated and precise, making Hoytema's shots more fluid, in order to keep the film's tense atmosphere, prescribed in Peele's script.
The sound work is a particular spectacle, with the film relying on essentially silent scenes, with only a few ambient sounds, so that, later, a jumpscare briefly causes the viewer's eardrums to pop, in an incredibly effective way. That approach reminded me (a lot) of the fantastic sound work in “A Quiet Place” and its sequel. I loved the mixture of vibes that Michael Abels's original score manages to imprint in Peele's work. While the composer invests in more nostalgic melodies, reminiscent to what John Williams did in the score for “E.T.”, Abels also gives a more unnerving vibe to the score, which makes a hella fine pair to the film's more tense scenes, reminding me a lot of Trent Reznor and Atticus Ross' work in the superb score for David Fincher's “Gone Girl”.
At last, but certainly not least, the visual effects deserve a particular highlight. I don't know how much of the effects for “Nope” were practical, but one thing's for sure: it's a work that's very, VERY realistic, even in its more surreal moments. At the same time there's an almost imperceptible transition between practical effects and CGI during the plot's supernatural bits; we have one of the best works in motion capture since the latest trilogy of “Planet of the Apes” by the hands of the exceptional Terry Notary, from “The Square”. If there's a place where “Nope” promises to shine and make its mark in the upcoming award season, it's in the technical categories.)
Resumindo, “Não! Não Olhe!” é, nas próprias palavras de Jordan Peele, um espetáculo. Mesmo não sendo melhor do que “Corra!”, o terceiro filme do diretor consegue ser bem melhor amarrado do que “Nós”, contando com um roteiro extremamente inteligente e aberto à interpretações, performances muito, muito competentes de seu elenco e aspectos técnicos impecáveis que acentuam o caráter tenso e enigmático da trama. Esta combinação de fatores acaba fazendo com que este seja o filme mais ambicioso e épico de Jordan Peele até o momento. VEJAM NO CINEMA.
Nota: 10 de 10!!
É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,
João Pedro
(In a nutshell, “Nope” is, in Jordan Peele's own words, a spectacle. Even though it's not better than “Get Out”, the director's third film manages to be way better built in a narrative way than “Us”, relying on an extremely clever script that's open to interpretations, really, really competent performances from its cast and flawless technical aspects that reinforce the plot's tense and enigmatic approach. This combination of factors ends up making this film the most ambitious and epic one that Jordan Peele has directed to date. SEE IT ON A BIG SCREEN.
I give it a 10 out of 10!!
That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,
João Pedro)
Excelente resenha, demostrando a maturidade do crítico.
ResponderExcluirSe vc disse que esse filme superou a suas expectativas, então o filme é bom 👏👏👏😃👍
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