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sábado, 24 de setembro de 2022

"Não se Preocupe, Querida": um exercício de versatilidade para a diretora Olivia Wilde (Bilíngue)

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E aí, meus queridos cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para trazer a minha opinião sobre um dos lançamentos mais recentes, o qual já está em exibição exclusiva nos cinemas! Gravemente afetado por boatos em respeito à dramas de bastidores, o filme em questão foi muito mal recebido pela crítica em sua estreia mundial no Festival de Veneza. Mas, em uma reviravolta chocante, a obra se mostra ser muito mais do que as fofocas que a tornaram infame, mostrando a capacidade impressionante de sua diretora em criar uma atmosfera imersiva de suspense e um enredo deliciosamente enigmático, que vai se revelando ao espectador aos poucos, auxiliado por performances muito competentes de seu elenco e uma estética visual hipnotizante. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Não se Preocupe, Querida”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to bring my opinion on one of the most recent film releases, which is already exclusively showing in theaters! Badly affected by rumors regarding backstage drama, the film reviewed here was really poorly received by critics in its world premiere at the Venice Film Festival. But, in a shocking turn of events, the film ends up being so much more than the gossip that made it infamous, displaying its director's impressive ability in creating an immersive atmosphere of suspense and a deliciously cryptic plot, which slowly reveals itself to the viewer, supported by very competent performances by its cast and a hypnotizing visual aesthetic. So, without further ado, let's talk about “Don't Worry, Darling”. Let's go!)



Ambientado em uma vizinhança retrô dos anos 1950, o filme acompanha Alice (Florence Pugh), uma dona de casa que vive tranquilamente com seu marido atarefado (Harry Styles) em uma vida aparentemente pacata, com o dia-a-dia da moça consistindo em cozinhar, limpar a casa e jantar com os amigos à noite. Porém, a promessa de uma vida perfeita é colocada em dúvida quando Alice começa a ter visões e pesadelos que mostram as imperfeições do local utópico onde vivem, levando-a a questionar seu modo de vida e o trabalho sigiloso de seu marido, desenterrando uma verdade perturbadora no processo.

(Set in a retro 1950s neighborhood, the film follows Alice (Florence Pugh), a housewife that lives peacefully with her hard-working husband (Harry Styles) in an apparently quiet life, with her daily routine consisting in cooking, cleaning the house and having dinner with her friends at night. However, the promise of a perfect life is put on doubt when Alice starts having visions and nightmares that show the imperfections of the utopian place they live in, leading her to question her way of life and her husband's classified work, unearthing a disturbing truth in the process.)



Desde a época em que o filme foi anunciado, eu estava com expectativas perigosamente altas para “Não se Preocupe, Querida” por várias razões. Primeiro, pela direção da Olivia Wilde, que em 2019, nos brindou com a original e cativante comédia de adolescentes “Fora de Série”. Segundo, pelo fato da protagonista ser interpretada pela maravilhosa Florence Pugh, responsável por performances aclamadas em filmes como “Midsommar”, de Ari Aster, e “Adoráveis Mulheres”, de Greta Gerwig, com o último rendendo a Pugh uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. Terceiro, o roteiro original escrito por Carey e Shane Van Dyke (o qual foi reescrito para as filmagens por Katie Silberman, roteirista do filme anterior de Wilde) foi um dos roteiros mais votados na Black List de 2019, lista onde são destacados roteiros promissores que ainda não foram produzidos ou filmados, e onde eventuais indicados e vencedores do Oscar marcaram presença, como “Bela Vingança” e “King Richard: Criando Campeãs”.

Então, sim, eu estava MUITO animado para assistir a “Não Se Preocupe, Querida”, a ponto de colocar o filme na minha lista dos 10 filmes mais esperados para 2022, baseado em um teaser de 12 segundos lançado pela diretora UM ANO antes da estreia do filme nos cinemas. E acho que nem preciso dizer que os boatos de brigas entre Pugh e Wilde no set de filmagens e a rivalidade entre Harry Styles e Chris Pine afetaram estas expectativas, assim como, aparentemente, as primeiras críticas na estreia do filme no Festival de Veneza. Só para vocês terem uma ideia, “Não Se Preocupe, Querida” está com míseros 38% de aprovação da crítica no agregador Rotten Tomatoes, no momento de escrita dessa resenha. E quando vi essa recepção negativa inicial, devo admitir que me senti um pouco frustrado; mas, ainda assim, mantive minha mente aberta ao assistir ao filme ontem.

“Não se Preocupe, Querida” é a prova viva de que a toxicidade das fofocas de Hollywood pode impactar grandemente na recepção crítica de um filme, porque ao contrário dos críticos de Veneza, eu me senti extremamente satisfeito com o resultado final do segundo filme de Wilde. Não somente o longa-metragem mostra a versatilidade da diretora ao lidar com um gênero drasticamente diferente do de seu primeiro trabalho na direção, mas também extrai o melhor de suas várias influências no cinema, literatura e TV para fazer algo que seja um pouco mais do que a mera soma de suas partes. Esta mistura acaba resultando em uma história que não é 100% original, mas que traz novos ingredientes à receita para dar leves toques de criatividade e inventividade à ela.

Ok, então, vamos falar do roteiro. Escrito por Katie Silberman, o primeiro destaque que gostaria de fazer é justamente a mistura calculada de suas várias influências. Não se preocupem, não vou dar referências óbvias que possam ser spoilers. Vou deixar para discuti-los em um possível vídeo posterior no canal. Mas se você pegar a ambientação e a atmosfera de “WandaVision”, misturar com as temáticas de “The Handmaid's Tale” e colocar uma pitadinha de “O Show de Truman” por cima, vai chegar bem perto com o que Wilde, Silberman e os irmãos Van Dyke conseguiram fazer em “Não se Preocupe, Querida”. E é uma mistura tão bem feita que, se a recepção inicial tivesse sido diferente, o filme poderia tranquilamente ser considerado como um dos concorrentes ao Oscar de Melhor Roteiro Original ano que vem.

O segundo destaque do roteiro de Silberman fica com a construção do arco narrativo da protagonista; o qual, curiosamente, é extremamente similar à trajetória da protagonista de “Midsommar”, interpretada pela Florence Pugh, que também protagoniza este filme. E acaba funcionando tão bem quanto. Assim como em “Midsommar”, nós vemos absolutamente TUDO sob a perspectiva da personagem de Pugh, e isso colabora para uma experiência mais imersiva por parte do espectador. O desespero, a desconfiança e as suspeitas que perpassam pela protagonista são igualmente sentidas por quem está assistindo, e Silberman consegue mexer com as nossas cabeças de uma maneira extremamente eficaz; nos fazendo, assim como a Alice, questionar incessantemente o que nós estamos vendo.

Em terceiro lugar, a atmosfera de “Não se Preocupe, Querida” é uma das principais armas da roteirista para atiçar a curiosidade do espectador. E aqui se encontra um verdadeiro diferencial que, na minha opinião, foi mostrado da melhor forma possível em “O Iluminado”, de Stanley Kubrick: Wilde e Silberman encontram o verdadeiro terror na simetria, na repetição das mesmas coisas. Perto do início do filme, os maridos se despedem de suas esposas e vão para o trabalho, com os carros cuidadosamente enfileirados, e todas as ações dos personagens parecendo cronometradas, em perfeita sincronia. E ao mesmo tempo que você pode pensar: “Nossa, mas que vida boa!”, você também pensa: “Tem algo muito errado com este lugar.” O mais interessante é que, enquanto essa atmosfera é usada desta maneira, o visual vibrante da ambientação também é usado para propositalmente desviar a atenção do espectador do que realmente importa, e eu amei essa jogada.

Em quarto lugar, gostaria de destacar a reviravolta do roteiro de Silberman, que genuinamente me surpreendeu, especialmente pela forma que ela vai lentamente se revelando ao espectador. Primeiro, através de uma simples música, da qual a protagonista não se lembra de onde conhece. Depois, através de misturas bem calculadas entre sonho e realidade; novamente, de forma bem similar à “Midsommar”, nos fazendo duvidar se realmente há algo preocupante na ambientação ou se é tudo coisa da cabeça da protagonista. E tudo isso vai se acumulando até chegar em um momento crucial onde todas as cortinas se abaixam e a verdade é revelada, mudando completamente o rumo da trama; como aconteceu, por exemplo, com “Parasita”, de Bong Joon-Ho. É incrível como Wilde e Silberman foram capazes de juntar as peças de um quebra-cabeça que prometia ser inerentemente complexo de uma maneira simples e, principalmente, compreensível. Há algumas poucas pontas soltas que impediram que o roteiro fosse 100% completo, mas as revelações elaboradas acabam sendo o suficiente para saciar a sede do espectador por respostas.

E, por último, mas não menos importante, eu simplesmente amo quando filmes de gênero usam seus aspectos mais surreais para lidar com temas bem reais, e “Não se Preocupe, Querida” é mais um exemplo disso. Temas como as relações patriarcais, o papel do homem e da mulher no casamento e padrões de relacionamento são abordados de uma maneira brilhante aqui; da mesma maneira que as relações raciais foram trabalhadas no excelente “Corra!”, de Jordan Peele. Não vou falar em que contexto, porque é uma surpresa que vem junto com a reviravolta. E eu creio que, se a recepção inicial do filme não tivesse sido tão negativa, o segundo trabalho de Olivia Wilde na direção poderia iniciar discussões interessantes, que provavelmente levariam o filme para a temporada de premiações, assim como aconteceu com o filme de Peele, que acabou vencendo o Oscar de Melhor Roteiro Original.

(Ever since this movie was announced, my expectations were dangerously high to watch “Don't Worry Darling” for several reasons. Firstly, because it was directed by Olivia Wilde, who in 2019, gave us the original, heartwarming coming-of-age comedy “Booksmart”. Secondly, because its protagonist was to be portrayed by the wonderful Florence Pugh, responsible for acclaimed performances in movies such as Ari Aster's “Midsommar” and Greta Gerwig's “Little Women”, the latter of which rendered Pugh an Oscar nomination for Best Supporting Actress. Thirdly, the original screenplay written by Carey and Shane Van Dyke (which was rewritten for shooting by Katie Silberman, who wrote Wilde's previous film) was one of the most voted scripts in the 2019 Black List, a list where the most promising unproduced screenplays are highlighted, and where eventual Oscar nominees and winners marked their presence, such as “Promising Young Woman” and “King Richard”.

So, yes, I was VERY excited to watch “Don't Worry Darling”, to the point of placing the film among my 10 most anticipated films of 2022, based only on a 12-second teaser released by the director ONE YEAR before its wider release in theaters. And I guess I don't even have to say that the rumors of Wilde and Pugh fighting on set and the rivalry between Harry Styles and Chris Pine affected those expectations, as well as, apparently, the film's first reviews in its Venice Film Festival premiere. Just so you can get an idea, “Don't Worry Darling” sits at a miserable 38% of approval from critics in the aggregator Rotten Tomatoes, by the time this review is being written. And when I saw that negative initial reception, I must admit I was a bit frustrated; but, still, I kept my mind open when watching the film yesterday.

“Don't Worry Darling” is living proof that the toxicity of Hollywood gossip can make a great impact on a film's critical reception, because unlike the critics at Venice, I felt extremely satisfied with the final result of Wilde's sophomore film. Not only does the feature show its director's versatility by dealing with a drastically different genre to that of her first film, it also extracts the best of its several influences in literature, cinema and TV in order to make something that's a little more than the mere sum of its parts. That mixture ends up resulting in a story that's not 100% original, but that brings new ingredients to the recipe in order to add some good touches of creativity and inventivity.

Okay, then, let's talk about the screenplay. Written by Katie Silberman, the first highlight I'd like to make is exactly its well-calculated mixture of its several influences. Don't worry, I won't give away obvious references that can be spoilers. I'll discuss them in a possible video later on in my channel. But if you take the setting and atmosphere of “WandaVision”, mix it with the themes of “The Handmaid's Tale”, and sprinkle a bit of “The Truman Show” on top, it'll be pretty close to what Wilde, Silberman and the Van Dyke brothers managed to create in “Don't Worry Darling”. And it's a mix that's so well-done and executed that, if the initial reception wasn't as negative as it was, the film could've easily been considered as a contender for Best Original Screenplay at the Oscars next year.

The second highlight in Silberman's screenplay stays with the development of the protagonist's narrative arc; which, curiously, is extremely similar to the trajectory of the protagonist of “Midsommar”, played by Florence Pugh, who also stars in this film. And it ends up working just as well as it did in that film. Just like in “Midsommar”, we see absolutely EVERYTHING through the eyes of Pugh's character, and that collaborates to a more immersive experience for the viewer. The despair, the distrust, and the suspicions that go through the protagonist's head are equally felt by who's watching her, and Silberman manages to mess with our heads in an extremely effective way; making us, just like Alice, relentlessly question everything we're watching.

Thirdly, the atmosphere of “Don't Worry Darling” is one of the main weapons used by the screenwriter to entice the viewer's curiosity. And in here, we find a true difference that, in my opinion, was best displayed in Stanley Kubrick's “The Shining”: Wilde and Silberman find true horror in symmetry, in repeating the same things over and over. Near the beginning of the film, the husbands kiss their wives goodbye and head off to work, their cars carefully lined up, with each one the characters' actions seeming timed, all perfectly synchronized. And at the same time the viewer might think “Wow, that's a good life!”, they also think “There is something really wrong with this place.” And the most interesting thing is that, while the atmosphere is used that way, the setting's vibrant visuals are also used to purposefully distract the viewer's attention from what really matters, and I loved that move.

In fourth place, I'd like to highlight the plot twist in Silberman's screenplay, which genuinely surprised me, especially with how the way it slowly revealed itself to the viewer. First, through the humming of a song, which the protagonist cannot remember where it came from. Then, through well-calculated mixes between dreams and reality; again, in a very similar way to “Midsommar”, making us doubt whether if there's something really worrying in the setting or if it's all in the protagonist's head. And all that just builds up and up, until a crucial moment where every curtain is open and the truth is revealed, completely changing the path of the narrative; like it happened, for example, with Bong Joon-ho's “Parasite”. It's amazing how Wilde and Silberman were able to put together the pieces of a puzzle that promised to be inherently complex in a very simple and, mainly, comprehensible way. There are very few loose ends that prevented the script from being 100% complete, but the elaborated revelations end up being enough to quench the viewer's thirst for answers.

And at last, but not least, I just love it when genre films use their most surreal aspects to deal with very real themes, and “Don't Worry Darling” is yet another example of that. Themes like patriarchy relationships, the roles of men and women in a marriage and relationship standards are approached brilliantly here; in the same way race relations were dealt with in Jordan Peele's excellent “Get Out”. I won't say in which context, because that is a surprise that comes along with the plot twist. And I believe that, if the film's initial reception wasn't so negative, Olivia Wilde's sophomore work in the director's chair could've jumpstarted interesting discussions, that would probably get the film into the award season, just like it happened with Peele's film, which won the Oscar for Best Original Screenplay.)



Como o filme em si é visto sob a perspectiva de uma só personagem, o maior peso no elenco reside sobre os ombros da protagonista, Florence Pugh. Como dito anteriormente, o arco narrativo de sua personagem é extremamente similar ao de sua própria personagem principal em “Midsommar”, e realmente há algumas partes em “Não se Preocupe, Querida” onde é possível ver a mesma dedicação, a mesma imersão, e até as mesmas reações de Pugh no filme de 2019 dirigido por Ari Aster. O filme é tão focado na perspectiva dela, que todos os outros personagens acabam sendo instrumentos usados para movimentar a trajetória dela no enredo. E a atriz, assim como em “Midsommar”, tira o papel de letra aqui. É incrível como a protagonista dela consegue se conectar de forma tão intrínseca ao espectador, porque nós estamos descobrindo coisas sobre a trama ao mesmo tempo que ela, uma personagem, também descobre, e Pugh consegue interpretar este papel de interlocutora entre o roteirista e o espectador de forma magistral.

No lado masculino, temos uma atuação competente do Harry Styles que, de pouco a pouco, está construindo uma carreira consolidada como ator. O personagem dele é propositalmente raso, com a roteirista tendo um motivo bem específico para escrevê-lo dessa maneira. Inclusive, tem uma cena que simboliza, de uma maneira bem sucinta, o que ele significa para a trama geral. E, de forma curiosa, o Jack de Styles é muito, mas muito parecido com o personagem do Jack Reynor em “Midsommar”, interpretando o par romântico de Pugh. Achei essas analogias bem interessantes. E eu só não falo que Pugh carrega o filme nas costas, porque o Chris Pine rouba toda cena em que ele aparece. Parece que ele nasceu pra ser um vilão, porque ele consegue equilibrar perfeitamente as atitudes carismáticas e ameaçadoras de seu personagem. Nessa perspectiva, a performance de Pine é a antítese ideal para a de Pugh, já que as duas se contradizem e se complementam muito bem.

Em papéis mais coadjuvantes, temos uma performance genuinamente aterrorizante e fria da Gemma Chan, que seria a Rainha de Copas para a Alice de Pugh. É absolutamente enervante ver Chan lidando com seus diálogos com um tom propositalmente monótono. Tem algumas sequências onde parece que a personagem dela nem pisca, e isso colabora ainda mais para o caráter misterioso e arrepiante da performance da atriz. E, por fim, temos a própria diretora, Olivia Wilde, interpretando uma das amigas da personagem de Pugh, o que é irônico, para dizer o mínimo, já que os boatos dizem que as duas se desentenderam no set. Porém, a personagem de Wilde oferece uma perspectiva verdadeiramente emocionante para a realidade que as duas personagens enfrentam, auxiliando, assim, a trajetória da protagonista ao longo da trama.

(As the film itself is seen under the perspective of a single character, the biggest weight in the cast resides on the shoulders of the protagonist, Florence Pugh. As previously stated, her character's narrative arc is extremely similar to that of her own main character in “Midsommar”, and there are actually a few sequences in “Don't Worry Darling” where you can see the same dedication, the same immersion, and even the same reactions from Pugh in the 2019 film directed by Ari Aster. The film is so focused on her perspective, that every other character ends up being an instrument to propel her trajectory forward in the plot. And the actress, just like in “Midsommar”, is a knockout in this role. It's amazing how her protagonist manages to connect with the viewer in such an intricate way, as we are figuring things out from the plot at the exact same time that she, a character, also does the same, and Pugh manages to play that role of interlocutor between the writer and the viewer in a masterful way.

On the male side, we have a competent performance by Harry Styles, who's slowly building himself a solid career as an actor. His character is purposefully shallow, with the screenwriter having a very specific reason to write him as such. By the way, there's a scene that symbolizes, in a very succint way, what he represents to the plot in general. And, curiously, Styles's Jack is really, really similar to Jack Reynor's character in “Midsommar”, playing Pugh's romantic interest. I thought those analogies were pretty interesting. And I'm not saying that Pugh solely carries this film, because Chris Pine steals every single scene he's in. It seems like he was born to play a villain, as he manages to perfectly balance his character's charismatic and menacing attitudes. In that perspective, Pine's performance is the ideal antithesis to that of Pugh's, as both of them contradict and complement each other really well.

In more supporting roles, we have a genuinely terrifying and cold performance by Gemma Chan, who would be the Queen of Hearts to Pugh's Alice. It's absolutely unnerving seeing Chan deliver her dialogue in a purposefully monotonous tone. There are some sequences where it seems that her character doesn't even blink, collaborating even more to the mysterious, spine-chilling feel in the actress's performance. And, finally, we have the director herself, Olivia Wilde, as one of Pugh's character's best friends, which is ironic to say the least, considering that the rumors say both actresses had a misunderstanding on set. However, Wilde's character brings a truly emotional point of view to the reality both characters face, helping, therefore, to move the protagonist's trajectory forward in the plot.)



É muito bom ver o quanto que a execução dos aspectos técnicos de “Não se Preocupe, Querida” anda de mãos dadas com o roteiro de Silberman e a direção de Wilde, a começar pela direção de fotografia magistral de Matthew Libatique. O melhor é que Libatique não é um completo estranho em capturar visualmente thrillers psicológicos, tendo sido diretor de fotografia de “Cisne Negro”, “Réquiem para um Sonho” e “Mãe!”, todos dirigidos por Darren Aronofsky. E aqui, ele faz um trabalho impressionante usando simetria, tomadas contínuas e a arquitetura da ambientação para retratar um ambiente enganosamente “perfeito”; e é tudo tão bem executado que, visualmente, o trabalho de Libatique acaba sendo bem semelhante ao do John Alcott em “O Iluminado”, de Stanley Kubrick, pela atenção e dedicação que os dois diretores de fotografia têm em relação aos mesmos aspectos na tela. O mesmo pode ser dito pela montagem bem calculada do Affonso Gonçalves, que mostra a mesma eficácia do trabalho sensacional de Ray Lovejoy na adaptação de Kubrick em fazer cortes extremamente precisos para acentuar o caráter psicológico e atmosférico da trama.

Uma coisa interessante que fiquei sabendo pela internet é que a estética visual de “Não Se Preocupe, Querida” foi inspirada em um ensaio do fotógrafo norte-americano Slim Aarons chamado “Poolside” (À Beira da Piscina), em especial uma foto intitulada “Poolside Gossip” (Fofocas À Beira da Piscina). E realmente, tudo no ambiente (dos prédios, aos figurinos e carros, e até à maquiagem) replica o caráter vibrante e atraente do trabalho fotográfico de Aarons, com algumas cenas até tendo sido filmadas no exato local em que as fotos foram originalmente tiradas. Todo o trabalho na direção de arte faz com que o espectador se sinta simultaneamente acomodado e incomodado com tudo o que ocorre na trama. Há algumas cenas retratando coisas pacatas e cotidianas, levando o espectador a pensar: “Isso é perfeito... Perfeito até demais pra ser verdade”; e isso meio que serve de gatilho para o suspense entrar com tudo, e isso é muito bom.

E por fim, temos o trabalho de som, que é absolutamente espetacular. Por exemplo, há uma cena ambientada em uma mesa de jantar onde várias conversas corriqueiras estão ocorrendo. E aí, a personagem de Pugh faz uma pergunta que faz o ambiente todo se calar. Não dá pra ouvir nem um grilo. É assim que todo trabalho de som em suspenses deveria ser. Essa aura sufocante é também replicada na trilha sonora instrumental de John Powell, que consegue misturar aqui dois “tipos” de trilha sonora do gênero: aquela com vários “booms” sonoros e um uso inventivo de vocais, como, por exemplo, o trabalho excepcional do Hans Zimmer em “Duna”; e aquela trilha mais orquestral, com um uso de violinos e instrumentos de corda para acentuar o caráter enervante da trama, como, por exemplo, o trabalho incrível do Michael Abels nos filmes dirigidos por Jordan Peele. E além disso, contamos com a presença de canções da época retratada, compostas por Ray Charles e Ella Fitzgerald, para uma maior fidelidade e imersão na estética dos anos 1950.

(It's really good to see how the execution of the technical aspects in “Don't Worry Darling” walks hand-in-hand with Silberman's screenplay and Wilde's direction, starting off with Matthew Libatique's masterful cinematography. The best thing is that Libatique isn't a total stranger when visually capturing psychological thrillers, having served as cinematographer to “Black Swan”, “Requiem for a Dream” and “Mother!”, all of them directed by Darren Aronofsky. And here, he does an impressive job with symmetry, continuous takes and the setting's architecture in order to portray a deceptively “perfect” environment; and it's all so well executed that, visually, Libatique's work ends up being quite similar to that of John Alcott's in Stanley Kubrick's “The Shining”, because of the attention and dedication that both cinematographers have over the same aspects onscreen. The same can be said about Affonso Gonçalves's well-calculated editing, who shows the same effectiveness as Ray Lovejoy's sensational work in the Kubrick adaptation in making extremely precise cuts in order to enhance the plot's psychological and atmospheric feel.

An interesting thing I heard about on the internet is that the visual aesthetic of “Don't Worry Darling” was inspired by a photoshoot from American photographer Slim Aarons named “Poolside”, especially a photo titled “Poolside Gossip”. And for real, everything in the environment (from the buildings, to the costumes and cars, to even the make-up) replicates the vibrant, attractive feel in Aarons's photographic work, with some scenes even being filmed in the exact same places the photos were originally taken. All the work in the production design makes the viewer feel simultaneously settled and unsettled with everything that's going on. There are some scenes portraying quiet, everyday things, making the viewer think: “This is perfect... Even too perfect to be true”; and that kind of triggers it for the suspense to go all in, which is really good.

And, finally, we have the sound work, which is absolutely spectacular. For example, there's a scene set around a dinner table where several people are talking at the same time. And then, Pugh's character asks a question that makes the entire room go silent. You can't even hear a cricket. That's how every sound work in suspense films should be. That suffocating aura is also replicated in John Powell's original score, which mixes two “types” of genre scores: that one with several sonic “booms” and an inventive use of vocals, like, for example, Hans Zimmer's exceptional work in “Dune”; and that one that's more orchestral, with a use of violins and string musical instruments to make the plot even more unnerving, like, for instance, Michael Abels's amazing work in the films directed by Jordan Peele. And besides that, we have the presence of songs from the time the film portrays, composed by Ray Charles and Ella Fitzgerald, for a greater fidelity and immersion to all the 1950s aesthetic.)



Resumindo, “Não se Preocupe, Querida” é muito, mas muito mais do que todas as fofocas de Hollywood que o tornaram infame. É um exercício louvável de versatilidade por parte da diretora Olivia Wilde, que conta com a ajuda de um roteiro bem construído, um elenco muito competente e aspectos técnicos extraordinariamente bem utilizados para criar uma história que consegue misturar suas brilhantes influências e entregar reviravoltas surpreendentes, de forma que acaba sendo um pouco mais do que a mera soma de suas partes, mesmo com o resultado não sendo 100% original.

Nota: 9,5 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “Don't Worry Darling” is much, much more than all the Hollywood gossip that made it infamous. It's a praise-worthy exercise in versatility from director Olivia Wilde, who relies on the help of a well constructed screenplay, a very competent cast and extraordinarily well-used technical aspects in order to create a story that manages to blend its brilliant influences together and deliver surprising plot twists, in a way that it ends up being a bit more than the mere sum of its parts, even if the results aren't 100% original.

I give it a 9,5 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)


Um comentário:

  1. Assisti e o filme e gostei bastante, concordo, portanto, com o ponto de vista da resenha!!

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