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quarta-feira, 18 de setembro de 2019

"Undone": a obra-prima cheia de imaginação da Amazon Prime Video (Bilíngue)


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E aí, galerinha de cinéfilos! Estou de volta, e vim aqui falar sobre uma série que prova que a Netflix não é o único serviço de streaming que traz bom conteúdo. Temos a Hulu, que nos trouxe “The Handmaid's Tale” e irá nos trazer a adaptação de “Quem é Você, Alasca?”; teremos o Disney+, que trará uma quantidade enorme de conteúdos interessantes; e por último, mas não menos importante, temos a Amazon Prime Video, que é o streaming da série que irei discorrer agora. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Undone”. Vamos lá!
(What's up, film buffs! I'm back, and I come here to talk about a TV show that proves that Netflix isn't the only streaming service that brings good content. We have Hulu, which brought us “The Handmaid's Tale” and will bring us the adaptation of “Looking for Alaska”; we'll have Disney+, which promises to bring a huge amount of interesting content; and at last, but not least, we have Amazon Prime Video, which streams the show I'm about to discuss. So, without further ado, let's talk about “Undone”. Let's go!)



A série conta a história de Alma (Rosa Salazar), uma mulher que está entediada com sua vida. Sua irmã (Angelique Cabral) está prestes a se casar, o que deixa a vida dela bem mais sem sentido. Certo dia, Alma sofre um acidente de carro que a deixa em coma, mas ela logo descobre que possui as habilidades de manipular o tempo. Então, ela decide usar essas habilidades para descobrir a verdade sobre a morte repentina de seu pai (Bob Odenkirk).
(The show tells the story of Alma (Rosa Salazar), a woman who is bored of living. Her sister (Angelique Cabral) gets engaged, which makes her life even more meaningless. One day, Alma suffers a car accident that leaves her in a coma, but she soon discovers that she has the abilities of manipulating time. So, she decides to use these abilities to discover the truth about her father's (Bob Odenkirk) sudden death.)



Ok, já irei começar dizendo que eu adorei a proposta dessa série desde quando ela foi anunciada. Por quê? Por causa do formato de animação em que ela é feita, chamada de rotoscoping. Para aqueles que não sabem, rotoscoping é um método de animação onde uma cena em live-action (ou seja, com pessoas de verdade) é filmada, e então, a cena é animada por cima da sequência live-action. É um método realmente fascinante, que foi usado em duas obras de Richard Linklater: “Waking Life” e “O Homem Duplo”. Ambos os filmes são complicados de se entender, não pelo método de animação, mas sim pelo estabelecimento da narrativa, na minha opinião. Aqui, não é tão complicado assim, porque tudo é exposto de forma compreensível pelos personagens. O roteiro é muito envolvente, apesar do primeiro episódio ser um pouco arrastado. Mesmo com só meia hora de duração, o primeiro episódio é quase que completamente introdutório, somente servindo para introduzir os personagens principais e o que está acontecendo em suas vidas. A partir do segundo episódio é que o negócio decola. Tem algumas partes de ação, algumas partes bem viajadas e reviravoltas impressionantes. Há três coisas que eu queria destacar no roteiro de “Undone”. Primeira, a repetição das mesmas cenas, só que sob diferentes pontos de vista. Por exemplo, há um episódio que é completamente ambientado em um hospital. Nele, Alma entra em um loop temporal, revivendo as mesmas cenas sob diferentes pontos de vista. Em algumas dessas vezes ela está menos consciente do que está acontecendo, mas essa consciência vai se tornando mais aparente ao passo do episódio. Segunda, a não-linearidade do enredo. Como uma obra sobre viagem no tempo, Undone não se preocupa em criar um roteiro linear e cronológico. Tanto que a cena inicial do episódio de estreia é o final do mesmo. Terceira, a habilidade dos roteiristas de fazer de Alma uma protagonista não-confiável. Por exemplo, há uma cena onde ela, de alguma forma, precisa mergulhar dentro de um espelho para chegar a um certo ponto de seu passado no final de um episódio. No início do episódio seguinte, vemos que ela conseguiu, mas também vemos o ocorrido sob o ponto de vista das pessoas ao seu redor, nos fazendo duvidar se o ponto de vista de Alma é realmente confiável ou não. Além de ser uma obra fantástica de ficção-científica, “Undone” também tem algo a dizer, principalmente sobre a psicologia dos sentimentos humanos e saúde mental, de uma maneira surreal e narrativamente complexa. Mesmo sendo uma obra regida completamente por imaginação, com cenas de sonho, fantasias, etc., a série também é uma história bem humana, bem relevante, e que precisa ser vista, discutida e interpretada. Sem falar que “Undone” deixa aquele cliffhanger (ou gancho) dos infernos, para promissoras futuras temporadas (as quais eu realmente espero que aconteçam).
(Ok, I'll start off by saying that I loved this show's premise ever since it was announced. Why? Because of the animation format it was made in, called rotoscoping. For those who don't know, rotoscoping is an animation technique in which a live-action scene is filmed, and then, animators animate the scene on top of the live-action sequence. It's a really fascinating method, which was used in two Richard Linklater movies: “Waking Life” and “A Scanner Darkly”. Both these movies are really complicated to comprehend, not because of the animation technique, but because of the narrative's establishment, in my opinion. Here, it's not that complicated, as everything is exposed by the characters in an understandable way. The script is really engaging, although the first episode can be a little dragged. Even with only half an hour, the premiere episode is an introduction for most of the time, presenting us with the characters and what is going on with their lives. Now, the second episode is where everything blasts off to incredible heights. There are a few action parts, some really trippy parts, and impressive plot twists. There are three things I'd like to highlight on “Undone”'s scripts. First, the repetition of the same scenes, under different points of view. For example, there's an episode set entirely inside a hospital. In it, Alma enters a time loop, living the same scenes over and over again, under different points of view. In some of those times, she is less conscious of what's happening to her, but her consciousness grows throughout the episode. Second, the non-linear plot. As a time-travel story, Undone does not worry in delivering a linear, chronological script. As a proof of that, we have the fact that the initial scene of the premiere episode is also the final scene of it. Third, the ability of the screenwriters in making Alma a non-reliable protagonist. For example, in the ending of an episode, Alma needs to, somehow, dive inside a mirror in order to get to a certain point of her past. In the beginning of the following episode, we see that she succeeds in doing that, but we also see what happened under the points of view of those around her, making us doubt if Alma's point of view is really reliable or not. Besides being a fantastic sci-fi story, “Undone” also has something to say, mainly about the psychology of human emotions and mental health, in a surreal, narratively complex way. Even if it's conducted purely by imagination, with dream sequences, fantasies, etc., it is also a really human, relevant story, which must be seen, talked about, and interpreted. Oh, yeah, I forgot to mention that “Undone” has one HELL of a cliffhanger for promising future seasons (which I really hope they end up happening).)



É difícil falar do elenco, porque todos os personagens principais têm muitos segredos, e não desejo dar spoilers aqui, mas aí vai. Esse provavelmente é o melhor papel da carreira da Rosa Salazar. Não vai ser novidade se ela for indicada a uma enxurrada de prêmios ano que vem. O desenvolvimento da Alma é muito bom, nos levando a acreditar que o que ela fala é a verdade, mas por causa do roteiro, temos sérias dúvidas a respeito dela. O Bob Odenkirk interpreta o personagem que serve para explicar, tanto para Alma quanto para o espectador, o que diabos está acontecendo na tela. E graças ao roteiro e ao magnetismo de Odenkirk, tudo é muito bem explicado. A química dele com a Rosa Salazar é muito boa, sendo a principal dupla de atores em que o programa se concentra. A Angelique Cabral e a Constance Marie têm arcos interessantes, com uma das reviravoltas mais impressionantes envolvendo a personagem de Marie. E completando o elenco principal, temos Siddharth Dhananjay, como o namorado de Alma, cujo desenvolvimento é bem trabalhado durante a série; e Daveed Diggs, como o chefe da creche em que a protagonista trabalha, que serve para colocar Alma no mundo real e duvidar de seus pontos de vista. Os dois são muito bons com o que o roteiro os deu.
(It's hard to talk about the cast, because every main character has many secrets, and I don't want to spoil anything here, but here it goes. This is probably the best role in Rosa Salazar's career. I won't be surprised if she gets nominated for a ton of awards next year. Alma's development is really good, leading us to believe in what she says, but again, thanks to the script, we have some serious doubts about her. Bob Odenkirk plays the character whose function is to explain, to both Alma and the viewer, what the hell is going on in the screen. And thanks to the script and Odenkirk's magnetism, everything is very well explained. His chemistry with Rosa Salazar is really good, with the two of them being the most relevant duo in the show. Angelique Cabral and Constance Marie have some interesting story arcs, with one of the most impressive twists involving Marie's character. And to round up the main cast, we have Siddharth Dhananjay as Alma's boyfriend, whose development is really well done throughout the series; and Daveed Diggs, as the boss of the daycare where Alma works, who's there to put Alma in the real world and to doubt her points of view. The two of them work really well with what the script offers to their characters.)



Mas, se tem uma coisa completamente impressionante em “Undone”, é o visual. Novamente, pela capacidade de imaginação que o rotoscoping oferece. Graças ao visual (e isso inclui fotografia, direção de arte, maquiagem, penteado, e figurino), temos a sensação de que estamos vendo algo único, que nunca vimos antes, algo bem parecido com um sonho. Isso foi algo que a Netflix, que está no mercado por mais tempo do que a Amazon Prime Video, nunca foi capaz de fazer com suas obras originais. O uso de efeitos especiais também é muito bem feito, com algumas cenas sendo, ao mesmo tempo, completamente viajadas, mas visualmente impressionantes, capturando a nossa atenção somente com o que estamos vendo na tela. A montagem é muito eficiente. Como mencionei acima, a série transita entre linhas temporais e pontos de vista diferentes de uma maneira orgânica e criativa. A trilha sonora também é muito boa, sendo, na maioria das vezes, algo bem melancólico, para prender o enredo da série na parte humanizada da história.
(But, if there's something that's completely impressive about “Undone”, that something is the visual aspect of it. Again, because of the capacity of imagination rotoscoping offers. Thanks to the visuals (and that includes cinematography, art direction, makeup, hairstyling and costume design), we have this feeling that we're watching something unique, that we've never seen before, something that looks like a dream. This was something that Netflix, which has been in the market longer than Amazon Prime Video, was never capable of doing with its original content. The use of special effects is also really well done, with some scenes being, at the same time, completely trippy, yet visually astounding, capturing our attention only with what we're seeing on-screen. The editing is really efficient. As I've said before, the series moves through different timelines and points of view in an organic, creative way. The soundtrack is also really good, being, at most of the times, something pretty melancholic, to restrain the plot of the series to the human part of the story.)



Resumindo, “Undone” é a melhor série nova de 2019 até agora. É uma obra narrativamente complexa, mas profundamente humana. Ela possui um elenco talentoso, e um visual que encanta e captura a atenção do espectador. Uma série para ver, rever, comentar e interpretar.

Nota: 10 de 10!

É isso, pessoal! Espero que vocês tenham gostado! Até a próxima,
João Pedro

(In a nutshell, “Undone” is the best new TV show of 2019 so far. It's a narratively complex, yet deeply human story. It makes use of a talented cast, and visuals that will enchant and capture the viewer's attention. A TV show that you can watch, rewatch, talk about, and interpret in many ways.

I give it a 10 out of 10!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,
João Pedro)



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