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sexta-feira, 20 de março de 2020

"Heathers": uma versão bem diferente do original, porém relevante nos dias de hoje (Bilíngue)


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Minhas saudações e cumprimentos, meus caros cinéfilos! Estou de volta, para entregar a terceira e última parte dessa postagem especial sobre todas as obras baseadas no roteiro de “Heathers”, ou “Atração Mortal”. E nessa postagem, falarei sobre a ovelha negra no catálogo de “Heathers”, algo que foi bastante criticado quando foi anunciado e juntou uma boa dose de polêmicas antes de seu lançamento oficial. Pode não ser o mesmo “Heathers” que os fãs do filme e do musical queriam, mas é o “Heathers” que é mais relevante e atual para a presente geração. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre a minissérie de 2018 de “Heathers”. Vamos lá!
(Greetings and salutations, my dear film buffs! I'm back, in order to deliver the third and final part of this special post on all of the work based on the screenplay for “Heathers”. And in this post, I'll be talking about the black sheep in the “Heathers” catalog, something that was really criticized when it was announced, and gathered a good amount of controversy before its official release. It may not be the same “Heathers” that movie and musical fans wanted, but it's the most relevant, current “Heathers” for the present generation. So, without further ado, let's talk about the 2018 miniseries of “Heathers”. Let's go!)



Baseado no filme de 1988, a minissérie de “Heathers” transporta a trama para os dias atuais, e segue Veronica Sawyer (Grace Victoria Cox), uma adolescente de 17 anos que está tentando se descobrir na vida. Ela é a ovelha negra em uma panelinha em seu colégio conhecida como “as Heathers”, e diante dos atos maléficos de bullying e manipulação cometidos pelas Heathers, Veronica junta forças com um novato, JD (James Scully), para tirar a panelinha da hierarquia da escola.
(Based on the 1988 film, the “Heathers” miniseries transports the plot into the present day, and follows Veronica Sawyer (Grace Victoria Cox), a 17-year-old who's trying to find herself in life. She's the black sheep in a school clique known as “the Heathers”, and because of the evil bullying and manipulation acts committed by the Heathers, Veronica joins forces with a new kid, JD (James Scully), to take the clique out of the school hierarchy.)



Muitas pessoas, especialmente fãs da obra original, vem criticando essa adaptação em particular, pelo fato de alguns de seus aspectos serem diferentes do filme de 1988, especialmente quando se trata da aparência das Heathers: enquanto no filme, as Heathers eram patricinhas magérrimas; na minissérie, a Heather Chandler é acima do peso, a Heather Duke é um adolescente gay chamado Heath, mas que prefere ser chamado de Heather; e a Heather McNamara é negra e lésbica. As pessoas se perguntavam, quando o trailer da minissérie foi lançado: como as Heathers conseguiram se tornar aquilo que elas mais criticavam no filme original? Pode ser um artifício para tornar o enredo politicamente correto? Até pode, mas acho que a explicação mais clara é que a sociedade escolar mudou drasticamente de 1988 para cá, e a minissérie queria aplicar essas mudanças no enredo de “Heathers”. Só que aí está o maior problema: a maioria dos fãs nem se importou em realmente ver a adaptação para ver se realmente presta. Como esse não foi o meu caso, vamos falar do roteiro. O roteiro da minissérie de “Heathers” foi encabeçado por Jason Micallef, showrunner do programa, que contou com a ajuda de co-roteiristas em 8 dos 10 episódios. Eu realmente gostei do conceito que a minissérie teve de trazer o enredo para os dias atuais, para a época onde tudo viraliza em questão de segundos na Internet. E é justamente por causa dessa ambientação no presente que faz dessa adaptação de “Heathers” a mais relevante para a realidade de hoje. As pessoas estão sempre conectadas, sabendo de tudo em um instante ou em um clique, realmente é um aspecto que uma versão atual de “Heathers” precisava. Uma coisa que eu realmente gostei na execução dessa série foi o número de reviravoltas (sendo a maioria delas, quase que completamente inesperadas) que ela tem em relação ao original. Se você é fã do filme de 1988 ou do musical, as reviravoltas ao longo desses 10 episódios vão fazer você se importar com a caracterização dos personagens cada vez menos. Coisas que acontecem no filme original podem não acontecer aqui e vice-versa. É diferente, é violenta, eu vejo porque a minissérie causou tanta polêmica nos EUA, mas os temas que ela aborda são necessários para que ela consiga transmitir sua mensagem de forma clara. Um aspecto que me agradou bastante foi a ousadia de ir além dos temas que são discutidos no filme original (que ainda são discutidos aqui) e lidar com temas que são muito presentes nos dias atuais, em especial o assédio sexual e o domínio de nossas vidas sociais pela tecnologia. A minissérie tem um senso de humor bem atualizado, contendo piadas sobre filtros de fotos, a cultura pop atual, tudo que você esperaria de uma série adolescente no nível de “Riverdale” e “Scream Queens”. O roteiro tem uma grande quantidade de mistério envolvendo os personagens, e também preenche alguns vazios que não foram propriamente explicados nas outras propriedades que levam o nome “Heathers”. E o final dessa minissérie não é nada parecido com o que vimos no filme original ou no musical. É algo que me surpreendeu positivamente, pela grande quantidade de ousadia que os produtores dessa adaptação tiveram para fazer o final daquele jeito.
(A lot of people, especially fans of the original work, have been criticizing this adaptation in particular, because some of its aspects are different from the 1988 film, especially when it comes to the Heathers's appearances: while in the film, they are skinny queen bees; in the miniseries, Heather Chandler is overweight; Heather Duke is a gay teenager named Heath, but that prefers to be called Heather; and Heather McNamara is black and lesbian. People wondered, when the trailer for the miniseries was released: how could the Heathers manage to become the type of people they criticized in the original film? Could it be a device to make the plot politically correct? Maybe, but I think that the clearest explanation is that school societies have changed from 1988 until today, and the show wanted to apply those changes into the plot of “Heathers”. But there's the bigger problem: most fans didn't even care to actually watch the show to see if any good came out of it. As that's not my case, let's talk about the script. The script for the “Heathers” miniseries was written by Jason Micallef, who was also showrunner, and got a little help from co-writers in 8 of the 10 episodes. I really liked the concept that it had to bring the plot into the present days, to the time where everything goes viral in a matter of seconds on the Internet. And it's precisely because of this setting that makes this adaptation of “Heathers” the most relevant one for today's reality. People are always connected, knowing about everything in an instant or in a click, it really was an aspect that a modern-day version of “Heathers” needed. One thing I really liked in this plot's execution was the number of plot twists (most of them being completely unexpected) it has, if compared to the original script. If you're a fan of the 1988 film or the musical, the plot twists throughout these 10 episodes will make you care with the characters' appearances less and less. Things that happened in the original film may not happen here and vice-versa. It's different, it's violent, I could see why it gathered so much controversy in the US, but the themes it deals with are necessary for the message to be transmitted more clearly. One aspect I particularly enjoyed was the boldness to go beyond the themes discussed in the original film (which are still discussed here) and deal with themes that are way more present in recent times, especially sexual harassment and the domination technology has over our lives. The miniseries has a very current sense of humor, containing jokes about photo filters, pop culture, everything you'd expect from a teen series like “Riverdale” or “Scream Queens”. The script carries a huge amount of mystery on its characters, and also fills some gaps that weren't properly explained in the other properties that carry the “Heathers” name. And the ending of this miniseries is nothing like the original film's ending or the musical's ending. It's something that positively surprised me, especially because of the boldness the show's producers had to make the ending that way.)



No elenco, encontramos alguns dos maiores trunfos da minissérie, mas nem todos se sobressaem tão bem. A Grace Victoria Cox faz uma boa Veronica. Não é uma Winona Ryder, mas eu gostei bastante da quantidade de mistério e das atitudes que essa Veronica tem, se comparado à outras versões da personagem. Muitas das surpresas do enredo tem a ver com ela, mas sem spoilers aqui. O James Scully é mais parecido com o JD do filme do que com o JD do musical, mas o ator nem tenta ser carismático. Ele entrega suas falas da forma mais apática possível, o que seria até adequado para um psicopata, mas ele não tem a personalidade que o Christian Slater ou que os roteiristas do musical deram para o personagem. Nas Heathers, encontramos surpresas, tanto gratas quanto desagradáveis. A Melanie Field é a Heather Chandler mais desenvolvida, em termos de caráter, no cânone de “Heathers”. Gostei muito da atuação dela. O Brendan Scannell me fez rir bastante como a Heather Duke. Diferente das outras obras, a Heather Duke traz a maior quantidade de humor para o programa. E confesso que o desenvolvimento da Heather McNamara, interpretada pela Jasmine Mathews, me decepcionou bastante, se comparado a como a personagem foi tratada nas outras versões do roteiro. A maior surpresa para mim ficou com a Nikki SooHoo como a Betty Finn, que é a melhor amiga da Veronica no filme original e na minissérie. Ela tem bem mais personalidade, carisma e desenvolvimento do que a Betty do filme. Eu adorei como os adultos foram tratados aqui, como pessoas gravemente alienadas, que não se importam com o que acontece ao redor deles, especialmente quando se trata dos pais da Veronica, que sempre estão com os olhos grudados no tablet em toda cena em que aparecem. Fãs do original ficarão bem felizes com as aparições da Shannen Doherty, que interpreta a Heather Duke no filme de 1988, e que aqui, interpreta a mãe do JD, e recebemos muito desenvolvimento a respeito de sua misteriosa morte, que é somente mencionada no filme e no musical.
(In the cast, we find some of the show's biggest wild cards, but not all of them are that good. Grace Victoria Cox is a good Veronica. She's no Winona Ryder, but I really liked the amount of mystery and some of the attitudes of this Veronica, if compared to other versions of the character. Lots of the plot's surprises have to do with her, but no spoilers here. James Scully is more similar to Movie JD than Musical JD, but the actor doesn't even try to be charismatic. He delivers his lines in the most apathetic way possible, which would be adequate for a psychopath, but he doesn't have the personality that Christian Slater or the musical's writers gave to the character. In the Heathers, we have surprises, both pleasant and unpleasant. Melanie Field is the most well-developed Heather Chandler, in terms of character, in the “Heathers” canon. I really liked her performance. Brendan Scannell made me laugh a lot as Heather Duke. Unlike what happened in the other versions, Heather Duke brings the largest amount of humor into the show. And I confess that Heather McNamara, portrayed by Jasmine Mathews, was a huge letdown for me, if compared to how the character was treated in other versions of the script. The biggest surprise for me was Nikki SooHoo as Betty Finn, Veronica's best friend in the original film and in the miniseries. She has way more personality, charisma and character development than movie Betty. I loved how grownups are portrayed here, as hugely alienated people, who don't care about what happens around them, especially when it comes to Veronica's parents, who always have their eyes glued to a tablet, in every scene they're in. Fans of the original work will be very pleased with the appearances by Shannen Doherty, who played Heather Duke in the 1988 film, and who plays JD's mom here, and we get much more development regarding her mysterious death, which is only mentioned in the movie and in the musical.)



Os aspectos técnicos da minissérie são o que há de menos problemático. A fotografia é bem dinâmica, há um episódio que é inteiramente sob o ponto de vista de um dos personagens, o que eu achei bem interessante. A direção de arte mistura a veia oitentista do filme e do musical com um tom mais neon que comunica mais com a atualidade de modo perfeito, e faz o máximo possível para fazer um enorme número de referências ao filme original, seja por meio do uso das cores, ou por meio de recriação de cenas, falas e tomadas do filme de 1988, ou por meio da trilha sonora, e para falar a verdade, essas referências serão um verdadeiro deleite para quem é fã de carteirinha das obras de “Heathers” que vieram antes dessa. Há um uso constante de flashbacks, e gostei bastante de como eles conseguiram diferenciar as duas épocas através dos aspectos técnicos. Há um uso eficiente de efeitos práticos, e o impacto desses efeitos é acentuado pelos jogos de câmera, o que eu achei bem legal.
(The technical aspects are what's less problematic about the miniseries. The cinematography is quite dynamic, there's an episode that's entirely under the point of view of one of the characters, which I found to be rather interesting. The art direction mixes the 80s vibe of the film and the musical with something more of a neon tone that communicates more with today perfectly, and does the best it can to make an enormous amount of references to the original film, through the use of color, through the recreation of scenes, lines or takes in the 1988 film, or through the soundtrack, and to tell the truth, these references will be a true delight for the “Heathers” diehards out there. There is a constant use of flashbacks, and I really liked how they managed to differentiate the two settings through the technical aspects. There is an efficient use of practical effects, and the impact of these effects is heightened by the camera movements, which I thought it was pretty cool.)



Resumindo, a minissérie de “Heathers” é bem diferente de todas as obras que tomaram como base o roteiro de Daniel Waters, possuindo várias reviravoltas, se comparado ao filme original, mas devido à sua ambientação no presente, à sua abordagem de temas discutidos tanto nos anos 1980 quanto na atualidade, e à personalidade de alguns de seus personagens, essa acaba sendo a versão mais relevante para os dias de hoje. Recomendo bastante para os fãs do filme original ou do musical!

Nota: 9,0 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que vocês tenham gostado! Até a próxima,
João Pedro

(In a nutshell, the “Heathers” miniseries is pretty different from everything that was based on Daniel Waters's script, with several plot twists, if compared to the original film, but due to its present-day setting, its dealing of themes discussed both in the 1980 and in the present, and the personality of some of its characters, this ends up being the most relevant version for today. I highly recommend it for the fans of the original film or the musical!

I give it a 9,0 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,
João Pedro)



quinta-feira, 19 de março de 2020

"Heathers: O Musical": uma versão mais bem trabalhada, divertida e impactante do filme original (Bilíngue) [SPOILERS]


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Minhas saudações e cumprimentos, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para dar continuidade à postagem especial em três partes sobre todas as obras que tomaram como base o roteiro de “Heathers”, ou “Atração Mortal”, escrito por Daniel Waters. Então, nessa segunda parte, vamos falar sobre uma versão mais leve, mais adequada para os dias atuais, mas que possui o mesmo impacto da obra original. Vamos falar sobre “Heathers: O Musical”. Vamos lá!
(Greetings and salutations, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to continue this special 3-part post about every piece of work that was based on the screenplay of “Heathers”, written by Daniel Waters. So, in this second part, let's talk about a lighter, more adequate version for today's times, but that still holds the same amount of impact as the original work. Let's talk about “Heathers: The Musical”. Let's go!)



Baseado no filme de 1988, o musical conta a história de Veronica Sawyer, a ovelha negra em uma panelinha de patricinhas valentonas conhecidas como “as Heathers”. Certo dia, Veronica conhece JD, um novato leitor de Baudelaire que acaba de ser transferido de outra escola. Diante dos atos maléficos de bullying cometidos pelas Heathers, Veronica e JD bolam um plano para tirar a panelinha da hierarquia da escola.
(Based on the 1988 film, the musical tells the story of Veronica Sawyer, the black sheep in a school clique of bully mean girls known as “the Heathers”. One day, Veronica meets JD, a Baudelaire-reading new kid who just got transferred from another school. Because of the evil bullying acts committed by the Heathers, Veronica and JD come up with a plan to take the clique out of the school hierarchy.)



Como o enredo do musical é quase igual ao enredo do filme, essa postagem será menos uma crítica do musical e mais uma comparação das duas obras. (Então, caso você ainda não tenha lido a resenha crítica do filme “Heathers”, e especialmente, se você não viu o filme (o qual eu postei ao final da crítica), recomendo que faça essas duas coisas antes de seguir em frente lendo essa postagem, porque terão alguns SPOILERS, tanto do filme quanto do musical.) Como não vi o musical (que inclusive, tem montagem brasileira, e estou aceitando qualquer convite para ir assistir em São Paulo quando estrear... [Risos]), pretendo dividir essa postagem em três partes: um parágrafo explicando as diferenças no roteiro do musical, se comparado ao filme; outro explicando um pouco sobre o desenvolvimento dos personagens; e um último parágrafo falando sobre a trilha sonora. Então, vamos começar com o roteiro. “Heathers” é um filme bem peculiar para ser transformado em um musical. Uma pessoa mal consegue imaginar como transformar um filme que fala sobre a banalização do suicídio em um musical. Mas os autores da adaptação, Laurence O'Keefe e Kevin Murphy, que não só escreveram o roteiro do musical, mas também todas as músicas presentes nele, fizeram esse musical funcionar nos dias de hoje. Primeiramente, eles conseguiram manter o enredo na época do filme original (ou seja, assim como no filme, o musical é ambientado nos anos 1980). Em segundo lugar, eles mantiveram a essência da obra original, com um senso de humor negro que funciona e não fica estranho nos dias de hoje. Em terceiro lugar, eles deram mais importância a personagens que não receberam tanta atenção no filme original (mas discutiremos isso mais adiante). Em quarto lugar, eles transformaram essa história de algo mais adulto, para algo mais “jovem adulto”. É bem mais energético, engraçado, jovial, divertido, e por incrível que pareça, impactante do que o filme escrito por Waters. É uma adaptação que toma algumas liberdades para tornar o enredo mais digerível e leve, mas que ainda mantém a enorme carga emocional que um tema pesado como o suicídio carrega. E as mudanças no enredo (que nem são tantas) conseguem consertar todas as partes do filme que ficariam estranhas de processar nos dias de hoje. Por exemplo, na cena do refeitório, onde o Kurt e o Ram intimidam o JD: no filme, o assunto é resolvido quando JD, do nada, puxa uma pistola do sobretudo dele e atira (balas de festim) na direção dos dois; no musical, o assunto é resolvido através de uma luta em câmera lenta entre JD e os dois valentões, enquanto Veronica canta um solo expressando sua admiração pelo futuro namorado pelo fato dele estar lutando com pessoas que já a intimidaram. Veem como tudo ficou mais leve e menos estranho de processar? Por causa dessas mudanças, o enredo do musical é algo bem mais adequado para os dias atuais, especialmente para a geração pós-Columbine, o que colabora para uma melhor compreensão da história e da mensagem que a obra deseja transmitir.
(As the plot of the musical is almost the same as the film's, this post will be less of a review of the musical, and more of a comparison between the two pieces of work. (So, if you haven't read my review of the original “Heathers” film, or more importantly, if you haven't watched the movie (which I posted at the end of that review), I recommend you do both those things before continuing to read this post, because there will be SPOILERS, both from the movie and the musical.) As I haven't seen the musical on stage, I intend to divide this post into 3 parts: one paragraph explaining the differences between the musical and the movie, in terms of plot; another paragraph explaining more about the development of the characters; and one last paragraph talking about the soundtrack. So, let's start with the book of the musical. “Heathers” is a pretty peculiar movie to be transformed into a musical. One can barely imagine how can one transform a movie about the banalization of suicide into a musical. But the authors of the adaptation, Laurence O'Keefe and Kevin Murphy, who not only wrote the book, but also all the songs in it, made this musical work in today's times. Firstly, they maintained the plot in the time where the movie was released (meaning that, as it happens with the film, the musical is also set in the 1980s). In second place, they maintained the essence of the original work, with a dark sense of humor that actually works today, and that doesn't get weird. In third place, they gave more importance to characters that didn't make that much of a difference in the original film (but we'll discuss that later). In fourth place, they transformed this story from something more mature to something more “young adult”-ish. It's way more energetic, funny, jovial, enjoyable, and as hard as it may seem, impactful than the film written by Waters. It's an adaptation that takes certain liberties in order to make the plot lighter and more digestible, but it still contains the enormous amount of emotional baggage that a serious subject as suicide carries. And the plot changes (which aren't that many) fix everything in the original movie that would be weird to process today. For example, in the cafeteria scene, where Kurt and Ram intimidate JD: in the film, the issue is settled when JD, out of nowhere, pulls out a gun off his trenchcoat and fires (blanks) in their direction; in the musical, the issue is settled through a slow-motion fight between JD and the two bullies, while Veronica sings a solo expressing her admiration for her future boyfriend because he's fighting people that bullied her. See how everything got lighter and less weird to process? Because of these changes, the musical's plot is something far more adequate for today's times, especially for the post-Columbine generation, which collaborates for an easier comprehension of the story and of the message it wishes to transmit.)



Quando se trata dos personagens, é possível dizer que o musical os desenvolve de uma forma bem mais profunda do que no filme. A começar pela Veronica, que aqui, se direciona à plateia frequentemente para expressar seus pensamentos e apresentar personagens. Nós somos como o “diário” dela no filme. Ela tem diálogos mais engraçados, sarcásticos, e requer uma voz poderosa para as performances musicais. E acima de tudo, no musical, ela é uma protagonista cuja personalidade atrai o espectador de uma maneira mais significativa do que no filme. Eu gostei bastante das mudanças que o musical fez no JD, que no filme, é um psicopata sem coração, e a gente se sente bem quando algo de ruim acontece com ele. Não se enganem: ele ainda é um psicopata aqui, mas o enredo e as músicas dessa adaptação permitem que nós venhamos a compreender mais de sua história de fundo e suas motivações, além de incluir um verdadeiro relacionamento entre ele e Veronica, ao invés de somente ver o personagem manipulando-a. O desenvolvimento das Heathers foi algo bem interessante, porque, diferente do filme, o fantasma de Heather Chandler aparece várias vezes após a morte por envenenamento. E através dessas aparições, temos direito à diálogos bem engraçados e sarcásticos por parte da personagem. A Heather Duke é a que tem menos novidades no desenvolvimento, é quase a mesma coisa do filme, mas ela fica mais sádica e se torna a personagem que os espectadores vão odiar mais (sim, mais do que o JD). A verdadeira novidade aqui fica com a Heather McNamara, que ganha mais importância através de um solo, onde ela expressa suas emoções e sentimentos diante do “suicídio” da melhor amiga (Heather Chandler) e do ex-namorado (Kurt). Outra personagem cujo desenvolvimento é bem diferente do filme é Martha Dunnstock, que aqui, é a melhor amiga de Veronica, substituindo Betty Finn. Ela tem muito mais personalidade (no filme, ela só tem uma fala), e a música solo dela é algo de cortar o coração. O Kurt e o Ram possuem a personalidade de dois bobalhões, e a maioria do alívio cômico que o musical tem vem deles. As duas músicas que os dois cantam são simplesmente hilárias.
(When it comes to the characters, you can say that the musical develops them in a deeper way, if compared to the film. Starting with Veronica, who here, directions herself to the audience frequently in order to express her feelings and introduce characters. We are like her “diary” in the film. She has funnier, more sarcastic dialogues, and requires a powerful singing voice for the musical performances. And above all, in the musical, she is a protagonist whose personality is more attractive to the viewer than it is in the film. I really liked the changes the musical made to JD, who, in the movie, is a heartless psychopath, and you feel good every time something bad happens to him. Don't be mistaken: he's still a psychopath here, but the plot and the songs in this adaptation allow us to further comprehend his backstory and motivations, besides including a real relationship between him and Veronica, which is different from just seeing him manipulate her. The development of the Heathers was something interesting to see, because, unlike the film, the ghost of Heather Chandler shows up several times after her death by poisoning. And through these appearances, we get to witness very funny, sarcastic dialogues from her. Heather Duke is the one who doesn't have much new things to further her development, it's basically the same as the film, but she gets more sadistic here and becomes the most hateful character in the plot (yes, more than JD). The real new thing here stands with Heather McNamara, who is way more important to the plot, through a solo where she expresses her emotions and feelings towards the “suicide” of her best friend (Heather Chandler) and her ex-boyfriend (Kurt). Another character whose development is far different from the film is Martha Dunnstock, who is Veronica's best friend here, replacing Betty Finn. She has way more personality (in the film, she only has one line of dialogue), and her solo song is heartbreaking. Kurt and Ram have the personality of two goofballs here, and most of the comic relief the musical provides comes from these two characters. The two songs they headline are hilarious.)



E por último, mas não menos importante, vamos falar do aspecto que faz um musical ser um musical: a trilha sonora. A trilha sonora de “Heathers: O Musical” é composta de músicas originais escritas pelos roteiristas (Laurence O'Keefe e Kevin Murphy), e a grande maioria segue um gênero mais voltado para o rock (tanto que a adaptação é promovida como um musical de rock). E é uma trilha sonora bem legal. Claro, não chega no nível de um “Hamilton” ou um “Chicago”, mas o contraste entre a jovialidade das melodias e o caráter sombrio e adulto das letras em algumas músicas é o que torna esse musical diferente entre uma infinidade de musicais de palco. O número musical que inicia o enredo (“Beautiful”) tem mais de 8 minutos de duração, e não fica entediante em nenhum momento. Há músicas mais animadas (“Candy Store”, “Big Fun”), músicas mais sentimentais (“Seventeen”), músicas de cortar o coração e torcer a faca várias vezes (“Lifeboat”, “Kindergarten Boyfriend”), músicas que nos fazem entender mais sobre os personagens (“Freeze Your Brain”), e músicas que servem primordialmente para alívio cômico (“Blue”, “My Dead Gay Son”). Tem um pouco pra todo mundo aqui. Vou deixar aqui embaixo a playlist da trilha sonora completa no YouTube para vocês darem uma olhada. É genial.
(And at last, but not least, let's talk about the aspect that makes a musical a musical: the soundtrack. The soundtrack for “Heathers: The Musical” is composed by original songs written by the writers of the book (Laurence O'Keefe and Kevin Murphy), and most of them follow a genre that's more rock-ish (as the adaptation is promoted as a rock musical). And it's a pretty nice soundtrack. Sure, it's not a “Hamilton” or a “Chicago”, but the contrast between the upbeat sound of the melodies and the dark, adult aspect of the lyrics of some songs is what makes this musical different among an endless quantity of stage musicals. The musical number that starts us off (“Beautiful”) is over 8 minutes long, and it doesn't get boring at any moment. There are more pop-ish songs (“Candy Store”, “Big Fun”), more sentimental songs (“Seventeen”), heart-wrenching “repeated knife-twisting in open wound” songs (“Lifeboat”, “Kindergarten Boyfriend”), songs that make us understand more things about characters (“Freeze Your Brain”), and songs that are primarily there for comic relief (“Blue”, “My Dead Gay Son”). There's a little bit for everyone here. I'll leave a playlist of the complete soundtrack on YouTube for you guys to check it out. It's a work of genius.)



Resumindo, “Heathers: O Musical” conserta tudo o que ficou estranho de processar do filme nos dias de hoje, transformando o enredo em algo mais leve e fácil de digerir, mas que ainda mantém o peso emocional de um assunto sério como o suicídio. A adaptação consegue desenvolver seus personagens de uma forma mais profunda, seja através de diálogos ou através da genial trilha sonora. Alguém, por favor, faça um filme desse musical!

Nota: 10 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até amanhã, com a terceira e última parte dessa postagem!
João Pedro

(In a nutshell, “Heathers: The Musical” fixes everything that got weird to process in the original film today, transforming the plot into something lighter and easier to digest, but that still maintains the emotional weight of a serious subject like suicide. The adaptation manages to develop its characters in a deeper way, both through dialogue and the genius soundtrack. Someone, please, make a movie out of this musical!

I give it a 10 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you tomorrow, with the third and final part in this post!
João Pedro)



quarta-feira, 18 de março de 2020

"Heathers/Atração Mortal": o extremo ainda causa uma impressão (Bilíngue)


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Minhas saudações e cumprimentos, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, e essa quarentena não vai parar o blog! Estou aqui para falar de uma franquia multimídia que surgiu nos anos 1980 e percorreu até os dias atuais, juntando uma dose carregada de polêmicas ao longo desses 30 anos. Vocês podem ter ouvido do filme original de 1988, da adaptação musical de 2014, ou da minissérie reboot de 2018. E, ao longo de 3 dias, irei estar discutindo cada obra baseada nessa mitologia fictícia. Então, para começar, vamos falar sobre “Heathers”, o filme de 1988, mais conhecido no Brasil como “Atração Mortal”. Vamos lá!
(Greetings and salutations, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, and this quarantine is not stopping this blog! I'm here to discuss a multimedia franchise that originated itself in the 1980s and is still present to this day, gathering a loaded dose of controversy throughout these 30 years. You may have heard of the 1988 original movie, or of the 2014 musical adaptation, or of the 2018 reboot miniseries. And, in the course of 3 days, I'll be discussing every piece of work based on this fictional mythology. So, for starters, let's talk about “Heathers”, the 1988 film, the one that started it all. Let's go!)



O filme conta a história de Veronica Sawyer (Winona Ryder), uma adolescente de 17 anos, que é a ovelha negra de uma panelinha em sua escola conhecida como “as Heathers”, onde todas as componentes do grupo (menos Veronica) se chamam Heather: Chandler (Kim Walker); Duke (Shannen Doherty); e McNamara (Lisanne Falk). Certo dia, Veronica conhece um novato transferido de outro colégio, Jason Dean, mais conhecido como JD (Christian Slater). E diante dos atos maléficos de bullying cometidos pelas Heathers, Veronica e JD bolam um plano para tirar a panelinha da hierarquia da escola. Só que nem tudo vai conforme o planejado.
(The film tells the story of Veronica Sawyer (Winona Ryder), a 17-year-old, who is the black sheep in a school clique known as “the Heathers”, where all the components of the group (except for Veronica) are named Heather: Chandler (Kim Walker); Duke (Shannen Doherty); and McNamara (Lisanne Falk). One day, Veronica meets a new kid who's been transferred from another school, Jason Dean, mostly known as JD (Christian Slater). And because of the terrible bullying acts committed by the Heathers, Veronica and JD come up with a plan to take them out of the school hierarchy. But not everything goes as planned.)



Vai ser bem difícil falar sobre esse filme de uma maneira sucinta sem falar de spoilers, porque preciso falar de algumas coisas que fazem o filme funcionar nos dias atuais, e de outras coisas que envelheceram bem mal, diante de eventos que ocorreram após o lançamento do filme. Mas irei fazer o meu melhor para não dar muitos spoilers. Então, vamos começar com o roteiro. O roteiro de “Heathers” é escrito pelo Daniel Waters, que, por completa coincidência, é irmão do Mark Waters, que foi diretor de um filme com um conceito bem parecido, lançado nos anos 2000: “Meninas Malvadas”. De forma bem tosca, pode-se dizer que “Heathers” é uma versão sombria, violenta e distorcida de “Meninas Malvadas”. Mas o que faz desse filme tão brilhante é a forma como ele subverte todos os clichês estabelecidos pelos filmes adolescentes de sua época, especialmente quando se trata dos filmes do John Hughes (“Clube dos Cinco”, “Curtindo a Vida Adoidado”, “Gatinhas e Gatões”). Tais filmes tratam o ensino médio como uma época perfeita, onde os adultos se importam e onde você precisa aproveitar esse momento ao máximo, porque senão ele vai embora muito rápido. De forma subversiva, “Heathers” retrata o ensino médio como um lugar infernal, onde a hierarquia das panelinhas é mais importante que tudo, e onde os adolescentes são mais malvados e repressivos do que qualquer adulto. Mas muitos filmes também retratam o ensino médio dessa forma. O diferencial de “Heathers” é a quantidade de temas bem pesados que ele aborda ao longo do filme, em especial o bullying, de forma bem extrema; e a banalização do suicídio. Se vocês pararem pra pensar, quase nenhum filme adolescente dessa época aborda o suicídio de maneira tão direta. O filme mostra como uma coisa tão ruim como o suicídio pode contaminar uma sociedade escolar, a ponto dele se tornar algo “popular”. Mas mesmo com “Heathers” abordando esse tema de maneira direta, ele não faz apologia ao suicídio, de maneira alguma. Pelo contrário, ele mostra que o suicídio não é a solução para se tornar popular, já que toda tentativa de suicídio presente no filme falha miseravelmente. Mas, ao trazer esse filme dos anos 1980 para os dias atuais, alguns dos aspectos narrativos dele não caem tão bem, especialmente quando se trata do personagem de Christian Slater, JD. O filme é promovido como uma comédia de humor negro, e devido a certas tragédias que aconteceram após o lançamento do filme, algumas cenas que eram pra ser engraçadas não funcionam tão bem hoje quanto funcionaram na época de lançamento. Não vou dar nenhum spoiler (deixarei o filme completo no YouTube ao final da postagem para vocês assistirem e ligarem os pontos), mas finalizo essa parte dizendo que “Heathers” não é o típico filme adolescente dos anos 1980: é bem sério, bem pesado, e bem necessário nos dias de hoje, assim como o musical e a série baseadas no filme.
(It'll be pretty hard to talk about this film in a succint way without going into spoiler territory, because I need to talk about certain things that make the movie work in recent times, and other things that didn't age well, because of certain tragedies that happened after the film's release. But I'll do my best to not talk a lot of spoilers. So, let's start with the script. The script for “Heathers” was written by Daniel Waters, who, coincidentally, is the brother of Mark Waters, who directed a film with a similar concept, released in the 2000s: “Mean Girls”. In a cheesy way, one can say that “Heathers” is a dark, violent, twisted version of “Mean Girls”. But what makes this film brilliant is how it subverts every single cliché established by teen films of its time, especially when it comes to John Hughes films (“The Breakfast Club”, “Ferris Bueller”, “Sixteen Candles”). Such films portray high school as a perfect time, where grown-ups care and where you have to enjoy every moment of it, or else you'll miss it. In a subversive way, “Heathers” goes the other way around and portrays high school as a hellish place, where the clique hierarchy stands above it all, and where teenagers are way more evil and repressive than any other grown-up. But many films portray high school that way. The difference that “Heathers” has among other 80s teen films is the quantity of really heavy themes it deals with throughout the film, especially bullying, portrayed in an extreme way; and the banalization of suicide. If you stop and think about it, no other 80s teen film deals with suicide in such a direct way. It shows how a horrible thing like suicide can contaminate a school society, to the point that it becomes “popular”. But even with “Heathers” dealing with that theme in a direct way, it's not pro-suicide, in any way. On the contrary, it shows that suicide is not the recipe to become popular, as every suicide attempt in this film fails miserably. But, bringing this 80s film to the present days, some of its narrative aspects don't land as solidly as they should, especially when it comes to Christian Slater's character, JD. The film is promoted as a dark comedy, and due to certain tragedies that happened after the movie's release, some of its “meant to be funny” scenes aren't that funny anymore today as they possibly were in 1988. I won't spoil it or anything (I'll leave the embed film on YouTube at the end of this review for you guys to watch it and connect the dots), but I'll finish this part by saying that “Heathers” is no ordinary 80s teen film: it is quite serious, it is really heavy, and it's quite necessary, for today's time, as it also happens with the musical and the TV show that came after it.)



Como os adultos são pouco importantes na trama, “Heathers” é um filme que encontra no elenco adolescente o foco da narrativa. E já de cara, temos dois talentos enormes, nas peles de Winona Ryder e Christian Slater. Eu gostei bastante do desenvolvimento da personagem de Ryder, especialmente no contraste entre a relação dela com as Heathers e a relação dela com o JD. O espectador vê que ela não se sente nada confortável convivendo com as Heathers, e ela encontra um tipo de “refúgio” com o JD, mas de forma bem curta, porque as coisas ficam bem sombrias e malucas em um curto período de tempo. No personagem de Slater, encontramos o perfeito sociopata anarquista que odeia e manipula todo mundo. Por causa das atitudes de JD, a segunda metade do filme possui algumas semelhanças incrivelmente trágicas com um dos maiores desastres cometidos pelo homem (de novo, sem spoilers aqui, mas dá pra ver pra onde estou caminhando). Como coadjuvantes, temos Kim Walker, Shannen Doherty e Lisanne Falk como as 3 Heathers, e elas trabalham muito bem com o que é dado a cada uma, mesmo com algumas tendo mais tempo de tela, e consequentemente, mais conteúdo do que outras. No elenco adulto, o único destaque fica com Penelope Milford, que aqui interpreta uma professora que deseja que os alunos “se curem” da grande onda de suicídios que vem atormentando a escola, e que acaba atraindo a atenção da mídia, banalizando o suicídio ainda mais na trama.
(As grown-ups have little importance in the plot, “Heathers” is a film that finds its narrative focus in its teen cast. And right off the bat, we have two huge talents, in the form of Winona Ryder and Christian Slater. I really liked the development of Ryder's character, especially when it comes to the contrast between her relationship with the Heathers and her relationship with JD. The viewer sees that she's not comfortable at all with the Heathers, and that she finds some sort of “safe haven” with JD, but it's a really short feeling, because things get very dark and crazy really fast. In Slater's character, we find the perfect sociopath that hates and manipulates everyone. Because of JD's attitudes, the second half of the movie has some incredibly tragic similarities with one of the biggest disasters ever committed by man (again, no spoilers here, but you can see where I'm going with this). As supporting characters, we have Kim Walker, Shannen Doherty and Lisanne Falk as the 3 Heathers, and they work really well with what's given to each of them, even with some receiving more screen time, and consequently, more content than others. In the adult cast, the only highlight stays with Penelope Milford, who plays a teacher that wishes to “heal” the students from the great wave of suicides that's been tormenting the school, and that ends up attracting the attention of the media, making suicide even more banal in the plot.)



Nos aspectos técnicos, encontramos uma maneira bem interessante de explorar as personalidades dos personagens através da escolha e do uso de cores feita pela direção de arte. Por exemplo, a cor mais presente em Veronica é o azul, que, de acordo com a psicologia das cores, é percebida como uma cor fria, representando como Veronica está fora de lugar junto com as Heathers, que são representadas por cores mais vibrantes (Chandler = vermelho, representando a paixão e a tomada de decisões, já que ela é a líder; Duke = verde, representando a inveja que ela tem da liderança de Heather Chandler; McNamara = amarelo, representando o otimismo e a inocência que ela tem perante as outras Heathers). E isso também se faz presente ao representar a personalidade de JD com a cor preta, que pode representar a dureza e o poder, o que faz muito sentido quando o espectador vê o desenvolvimento do personagem no filme. A fotografia é bem trabalhada, o design de som causa um impacto que você não espera de um filme adolescente dos anos 80, há um uso brilhante de efeitos práticos, e a trilha sonora foi muito bem selecionada, especialmente quando se trata da música tocada nos créditos iniciais, “Que Sera, Sera (Whatever Will Be, Will Be)”, popularizada por Doris Day, que representa o conceito do filme de forma perfeita.
(In the technical aspects, we find a really interesting way of exploring the personalities of the characters through the choice and the use of color made by the production designers. For example, the color that stands out in Veronica is blue, which, according to the psychology of colors, is perceived as a cold, distant color, representing how Veronica is out of place along with the Heathers, who are represented by more vibrant colors (Chandler = red, representing the passion and the decision-making, as she is the leader; Duke = green, representing the envy she has of Heather Chandler's leadership; McNamara = yellow, representing the optimism and innocence she has, if compared to the other Heathers). And that also fits when representing JD's personality with black, which may represent harshness and power, which makes a lot of sense when the viewer sees his character development in the film. The cinematography is very well done, the sound design causes an impact you usually don't expect from an 80s teen film, there is a brilliant use of practical visual effects, and the soundtrack was really well chosen, especially when it comes to the song played in the initial credits, “Que Sera, Sera (Whatever Will Be, Will Be)”, which was popularized by Doris Day and represents the concept of this film perfectly.)



Resumindo, “Atração Mortal/Heathers” pode ter alguns aspectos narrativos que não funcionem tão bem atualmente, mas o filme continua causando um impacto com sua subversão de clichês do gênero, com seu ponto de vista mais dark e distorcido do ensino médio, e com a abordagem de temas controversos que se fazem muito presentes nos dias de hoje.

Nota: 9,5 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Vou deixar o filme aqui embaixo para que, no caso de você, caro cinéfilo, não ter assistido esse filme ainda, você possa assisti-lo! Até amanhã, com a segunda parte dessa postagem!
- João Pedro

(In a nutshell, “Heathers” may have some narrative aspects that don't work that well in today's times, but it still manages to cause an impression with its subversion of genre clichés; its dark, twisted point of view on high school; and its dealing of controversial themes that are really present in today's reality.

I give it a 9,5 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! I'll leave the film down below so that you, dear film buff who hasn't watched it yet, get the chance to watch it! See you tomorrow, with the second part of this post!
- João Pedro)




sábado, 14 de março de 2020

"Stargirl": uma história familiar com carisma de sobra (Bilíngue)


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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para trazer a crítica de um filme necessário na época que estamos enfrentando hoje. Não porque ele aborda temas muito presentes (apesar de trazer uma mensagem bem bonita), mas porque a atmosfera dele cria um contraste muito necessário com a desesperada e bagunçada realidade em que estamos vivendo agora. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Stargirl”. Vamos lá!
(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to review a film that's necessary in these times we're facing today. Not because it deals with really recent themes (although it brings a rather beautiful message), but because its atmosphere creates a much needed contrast with the desperate, messy reality we're living in right now. So, without further ado, let's talk about “Stargirl”. Let's go!)



Baseado no livro “A Extraordinária Garota Chamada Estrela”, escrito por Jerry Spinelli, o filme conta a história de Leo (interpretado por Graham Verchere), um menino de 16 anos que vive com a mãe viúva (interpretada por Darby Stanchfield) em uma pacata cidade no estado do Arizona, nos EUA. Certo dia, sua vida vira de cabeça para baixo quando uma garota otimista e de espírito-livre, Stargirl (interpretada por Grace VanderWaal), é transferida para a sua escola e começa a mudar todos dentro dela.
(Based on the novel of the same name, written by Jerry Spinelli, the film tells the story of Leo (portrayed by Graham Verchere), a 16-year-old boy who lives with his widowed mother (portrayed by Darby Stanchfield) in a quiet town in the state of Arizona, in the US. One day, his life turns upside down when an optimistic, free-spirited girl, Stargirl (portrayed by Grace VanderWaal), gets transferred to his school and starts to change everyone in it.)



Quando ouvi falar desse filme, nunca tinha ouvido falar do livro em que ele foi baseado, mas acredito que ele capturou minha atenção pelo mesmo motivo que muitas pessoas: o fato da personagem-título ter sido interpretada pela Grace VanderWaal, que foi a vencedora do programa America's Got Talent em 2016. E, mesmo não tendo lido o livro, posso ver porque VanderWaal foi escalada para esse papel. Mas, agora, vamos falar do roteiro. Não há nada de relativamente novo ou original aqui. Esse é um daqueles filmes que o espectador sabe exatamente para onde o enredo vai, mas o diferencial dele é o charme, algo que esse filme tem de sobra, graças ao carisma dos atores. Os personagens são bem desenvolvidos, mesmo com alguns recebendo mais reconhecimento do que outros. O roteiro faz com que nós venhamos a nos importar com os protagonistas (Leo e Stargirl) em seus primeiros momentos de tela. Isso porque, assim como a maioria dos filmes ambientados em escolas, o tema frequente do bullying é abordado aqui, de forma bem superficial, mas eficiente. Eu realmente gostei da caracterização da personagem Stargirl, que possui uma aura fantasiosa em cada cena que ela aparece. Ela é tão cativante que, nos momentos onde ela não está em tela, o espectador sente que aquela cena está faltando alguma coisa, o que foi algo bem similar ao que a Leslie, de “Ponte para Terabítia”, nos fez sentir ao assistir as cenas onde ela não está presente. Parte de mim está satisfeito que o livro tenha sido adaptado na forma de longa-metragem, mas para um desenvolvimento mais aprofundado dos personagens (especialmente os coadjuvantes e os adultos) e para desacelerar um pouco o passo, a outra parte de mim acha que o formato de série teria sido mais adequado para a trama. Na introdução, mencionei que o filme trazia uma mensagem bem bonita, a qual, no caso, seria a da auto-aceitação, algo do tipo “Seja você mesmo, mesmo que a sociedade tente te moldar à vontade dela.”. E “Stargirl” lida com essa mensagem e a entrega de uma forma bem bonita e poética, até. É um filme bem inspirador e motivacional, especialmente para o público-alvo principal dele, composto por adolescentes que estão tentando se encontrar no mundo. E além disso, é um filme bem leve, cativante, agridoce, e totalmente adequado para toda a família, o que faz dele algo bem apropriado para assistir na época turbulenta em que vivemos hoje.
(When I first heard about this film, I had never even heard about the book that it was based upon, but I believe that it has captured my attention because of the same reason that it captured other people's: the fact that the title character is portrayed by Grace VanderWaal, who won America's Got Talent, in 2016. And, even though I haven't read the book, I could see why VanderWaal got cast for this role. But now, let's talk about the script. There's nothing relatively new or original here. This is one of those films where you know exactly where it's going, but what makes it different is the charm it carries, and that is something “Stargirl” has to spare, thanks to the actors' charisma. The characters are well-developed, even with some getting more recognition than others. The script makes us care about the main characters (Leo and Stargirl) from their first moments on-screen. That happens because, just like most school-set films, the frequent theme of bullying is dealt with here, in a very superficial, but efficient way. I really liked the characterization of the character Stargirl, who has a fantasy-ish aura all around her in every scene she's in. She's so captivating that, in the moments where she's not on-screen, the viewer feels that scene is missing something, which is similar to what Leslie, from “Bridge to Terabithia”, made us feel in every scene she's not in. Part of me is satisfied that this was adapted in feature-length form, but in order to give supporting and adult characters some more depth and to slow down the pace a bit, the other part believes it would've turned out a little better in a limited series format. In the introduction, I mentioned that it carried a beautiful message, which, in this case, would be that of self-acceptance, something like “Be yourself, even though society tries to mold you their way”. And “Stargirl” deals with and delivers that message in a very beautiful and poetic way, even. It's a really inspiring and motivational film, especially for its main target audience, composed by teenagers who want to find themselves in the world. And besides that, it's a light, captivating, bittersweet film that's fit for the whole family, which makes it appropriate to watch during the turbulent times we're living in today.)



O elenco trabalha muito bem com o que é dado a cada um. Eu gostei bastante da atuação do Graham Verchere, ele consegue transmitir muito bem todos os sentimentos que um adolescente apaixonado por alguém transmite. A química dele com VanderWaal é praticamente instantânea. Os melhores momentos do filme são aqueles onde os dois estão em tela juntos. Ainda prefiro a atuação dele em “Summer of '84”, mas ele faz um ótimo trabalho aqui. A Grace VanderWaal literalmente dá vida ao filme. Achei a performance dela impressionante para uma estreante. O talento musical dela é usado aqui de forma que complementa a atuação dela com diálogos perfeitamente. Assim como disse no parágrafo anterior, a personagem (e por consequência, a atriz) tem tanto carisma, que nas cenas onde ela não está presente, nós sentimos que algo está faltando. Nas cenas musicais, VanderWaal injeta nelas uma aura bem fantasiosa e lúdica, o que colabora com um sentimento de mistério que surge no público, quando se trata de sua personagem, o que é intensificado pelo uso dos aspectos técnicos, mas falaremos disso depois. Eu gostei muito da performance do Karan Brar, conhecido por interpretar o Chirag na série de filmes “Diário de um Banana”. É adequado dizer que foi uma evolução bem visível, porque em “Diário...”, o personagem dele era extremamente estereotipado e limitado a trejeitos que serviriam de alívio cômico. Aqui, ele também serve como alívio cômico, mas é possível ver que ele está bem mais à vontade com seu personagem, o que eu, particularmente, acho muito bom. Eu queria ter visto mais da Darby Stanchfield, que fez um ótimo trabalho em “Locke & Key” recentemente (também interpretando uma mãe viúva), mas em “Stargirl”, ela é bem distante de Leo, diferente do que aconteceu com a Sra. Locke e os filhos. Talvez em formato de série, a personagem dela poderia ter sido desenvolvida de forma mais eficiente. O Giancarlo Esposito faz um bom trabalho em expor informações e colaborar para o desenvolvimento de Leo e de seu relacionamento com Stargirl. Não é um papel tão importante assim (temos aqui outro caso de personagem cujo desenvolvimento seria melhor numa série), mas ele tem muito carisma.
(The cast works really well with what's given to each of them. I really enjoyed Graham Verchere's performance, he manages to transmit all the feelings that a teenager in love goes through really well. His chemistry with VanderWaal is practically instant. The best moments in the film are those in which the two are on-screen together. I still think his performance in “Summer of '84” is a little better, but he does a really good job here. Grace VanderWaal literally gives life to the film. I personally thought her performance was impressive, for a debut acting performance. Her musical talent is used here as a perfect complement to her dialogue work. Like I said in the previous paragraph, the character (and consequently, the actress) is so charismatic, that during the scenes she's not in, we can't help but feel they're missing something. In the musical scenes, VanderWaal injects them with a fantasy atmosphere, which collaborates with the feeling of mystery the viewer has regarding her character, and that's heightened through the technical aspects, but we'll get to that later. I really liked Karan Brar's performance, who is known for playing Chirag in the “Diary of a Wimpy Kid” movie series. It's proper to say that this was a visible evolution, because his character in “Diary...” was highly stereotyped and limited to certain attitudes that would serve for comic relief. Here, he's also the comic relief, but it's visible that he's way more comfortable with this role, which I, particularly, think it's really good. I wanted to see more of Darby Stanchfield, who did a great job in “Locke & Key” recently (also playing a widowed mother), but in “Stargirl”, she's more distant from Leo, unlike what happened with Mrs. Locke and her kids. Maybe in a series format, her character could've been developed in a more efficient way. Giancarlo Esposito does a good job in exposing information and collaborating for the development of Leo and his relationship with Stargirl. It's not a very important role (we have here another case of character whose development would've been better in a series), but he has a lot of charisma.)



E, por último, mas não menos importante, temos os aspectos técnicos. A fotografia não demonstra nada de novo, mas é bem operante. A montagem faz algo bom e algo ruim ao mesmo tempo: nos números musicais, a edição é dinâmica e confere uma veia mais de videoclipe às cenas, tornando tudo mais “perfeito” e colaborando ainda mais para o mistério da personagem Stargirl; mas certos cortes fazem tudo ficar um pouco apressado, o que interfere no desenvolvimento de alguns personagens e no passo da história. A trilha sonora foi muito bem escolhida, sendo a maioria covers de músicas famosas de bandas como The Beach Boys, Big Star e The Go-Go's, e VanderWaal injeta uma nova identidade mais acústica a elas, o que é bem legal. A trilha sonora instrumental de Rob Simonsen também é bem agradável de se ouvir, mantendo o tom acústico do trabalho de VanderWaal, e construindo a identidade de alguns dos personagens a partir das melodias.
(And at last, but not least, we have the technical aspects. The cinematography doesn't show anything new, but it's really operative. The editing does something good and something bad at the same time: in the musical numbers, the editing is dynamic and it gives the scenes a music video-ish vein, making everything more “perfect” and collaborating even more for the mystery of Stargirl's character; but some cuts make everything feel a little rushed, which interferes in the development of some characters and in the story's pacing. The soundtrack was really well chosen, with most of the songs being covers of famous songs by bands like The Beach Boys, Big Star and The Go-Go's, and VanderWaal injects them with a new, more acoustic identity, which is pretty cool. Rob Simonsen's score is also really pleasant to hear, maintaining the acoustic tone of VanderWaal's work, and building the identity of some of the characters through the melodies.)



Resumindo, “Stargirl” é o tipo de filme que deveria fazer mais presença na época turbulenta em que estamos vivendo hoje. Não é uma história totalmente original, mas ele consegue transmitir uma mensagem de uma forma bonita, e é carregado pelo carisma de seus atores e pelo enorme talento de Grace VanderWaal.

Nota: 8,5 de 10!

É isso, pessoal! Espero que vocês tenham gostado! Até a próxima,
João Pedro

(In a nutshell, “Stargirl” is the type of film that should be more present in these turbulent times we're living today. It's not a totally original story, but it manages to transmit a message in a beautiful way, and is carried by the charisma of its actors and by Grace VanderWaal's enormous talent.

I give it an 8,5 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,
João Pedro)