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quarta-feira, 18 de março de 2020

"Heathers/Atração Mortal": o extremo ainda causa uma impressão (Bilíngue)


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Minhas saudações e cumprimentos, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, e essa quarentena não vai parar o blog! Estou aqui para falar de uma franquia multimídia que surgiu nos anos 1980 e percorreu até os dias atuais, juntando uma dose carregada de polêmicas ao longo desses 30 anos. Vocês podem ter ouvido do filme original de 1988, da adaptação musical de 2014, ou da minissérie reboot de 2018. E, ao longo de 3 dias, irei estar discutindo cada obra baseada nessa mitologia fictícia. Então, para começar, vamos falar sobre “Heathers”, o filme de 1988, mais conhecido no Brasil como “Atração Mortal”. Vamos lá!
(Greetings and salutations, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, and this quarantine is not stopping this blog! I'm here to discuss a multimedia franchise that originated itself in the 1980s and is still present to this day, gathering a loaded dose of controversy throughout these 30 years. You may have heard of the 1988 original movie, or of the 2014 musical adaptation, or of the 2018 reboot miniseries. And, in the course of 3 days, I'll be discussing every piece of work based on this fictional mythology. So, for starters, let's talk about “Heathers”, the 1988 film, the one that started it all. Let's go!)



O filme conta a história de Veronica Sawyer (Winona Ryder), uma adolescente de 17 anos, que é a ovelha negra de uma panelinha em sua escola conhecida como “as Heathers”, onde todas as componentes do grupo (menos Veronica) se chamam Heather: Chandler (Kim Walker); Duke (Shannen Doherty); e McNamara (Lisanne Falk). Certo dia, Veronica conhece um novato transferido de outro colégio, Jason Dean, mais conhecido como JD (Christian Slater). E diante dos atos maléficos de bullying cometidos pelas Heathers, Veronica e JD bolam um plano para tirar a panelinha da hierarquia da escola. Só que nem tudo vai conforme o planejado.
(The film tells the story of Veronica Sawyer (Winona Ryder), a 17-year-old, who is the black sheep in a school clique known as “the Heathers”, where all the components of the group (except for Veronica) are named Heather: Chandler (Kim Walker); Duke (Shannen Doherty); and McNamara (Lisanne Falk). One day, Veronica meets a new kid who's been transferred from another school, Jason Dean, mostly known as JD (Christian Slater). And because of the terrible bullying acts committed by the Heathers, Veronica and JD come up with a plan to take them out of the school hierarchy. But not everything goes as planned.)



Vai ser bem difícil falar sobre esse filme de uma maneira sucinta sem falar de spoilers, porque preciso falar de algumas coisas que fazem o filme funcionar nos dias atuais, e de outras coisas que envelheceram bem mal, diante de eventos que ocorreram após o lançamento do filme. Mas irei fazer o meu melhor para não dar muitos spoilers. Então, vamos começar com o roteiro. O roteiro de “Heathers” é escrito pelo Daniel Waters, que, por completa coincidência, é irmão do Mark Waters, que foi diretor de um filme com um conceito bem parecido, lançado nos anos 2000: “Meninas Malvadas”. De forma bem tosca, pode-se dizer que “Heathers” é uma versão sombria, violenta e distorcida de “Meninas Malvadas”. Mas o que faz desse filme tão brilhante é a forma como ele subverte todos os clichês estabelecidos pelos filmes adolescentes de sua época, especialmente quando se trata dos filmes do John Hughes (“Clube dos Cinco”, “Curtindo a Vida Adoidado”, “Gatinhas e Gatões”). Tais filmes tratam o ensino médio como uma época perfeita, onde os adultos se importam e onde você precisa aproveitar esse momento ao máximo, porque senão ele vai embora muito rápido. De forma subversiva, “Heathers” retrata o ensino médio como um lugar infernal, onde a hierarquia das panelinhas é mais importante que tudo, e onde os adolescentes são mais malvados e repressivos do que qualquer adulto. Mas muitos filmes também retratam o ensino médio dessa forma. O diferencial de “Heathers” é a quantidade de temas bem pesados que ele aborda ao longo do filme, em especial o bullying, de forma bem extrema; e a banalização do suicídio. Se vocês pararem pra pensar, quase nenhum filme adolescente dessa época aborda o suicídio de maneira tão direta. O filme mostra como uma coisa tão ruim como o suicídio pode contaminar uma sociedade escolar, a ponto dele se tornar algo “popular”. Mas mesmo com “Heathers” abordando esse tema de maneira direta, ele não faz apologia ao suicídio, de maneira alguma. Pelo contrário, ele mostra que o suicídio não é a solução para se tornar popular, já que toda tentativa de suicídio presente no filme falha miseravelmente. Mas, ao trazer esse filme dos anos 1980 para os dias atuais, alguns dos aspectos narrativos dele não caem tão bem, especialmente quando se trata do personagem de Christian Slater, JD. O filme é promovido como uma comédia de humor negro, e devido a certas tragédias que aconteceram após o lançamento do filme, algumas cenas que eram pra ser engraçadas não funcionam tão bem hoje quanto funcionaram na época de lançamento. Não vou dar nenhum spoiler (deixarei o filme completo no YouTube ao final da postagem para vocês assistirem e ligarem os pontos), mas finalizo essa parte dizendo que “Heathers” não é o típico filme adolescente dos anos 1980: é bem sério, bem pesado, e bem necessário nos dias de hoje, assim como o musical e a série baseadas no filme.
(It'll be pretty hard to talk about this film in a succint way without going into spoiler territory, because I need to talk about certain things that make the movie work in recent times, and other things that didn't age well, because of certain tragedies that happened after the film's release. But I'll do my best to not talk a lot of spoilers. So, let's start with the script. The script for “Heathers” was written by Daniel Waters, who, coincidentally, is the brother of Mark Waters, who directed a film with a similar concept, released in the 2000s: “Mean Girls”. In a cheesy way, one can say that “Heathers” is a dark, violent, twisted version of “Mean Girls”. But what makes this film brilliant is how it subverts every single cliché established by teen films of its time, especially when it comes to John Hughes films (“The Breakfast Club”, “Ferris Bueller”, “Sixteen Candles”). Such films portray high school as a perfect time, where grown-ups care and where you have to enjoy every moment of it, or else you'll miss it. In a subversive way, “Heathers” goes the other way around and portrays high school as a hellish place, where the clique hierarchy stands above it all, and where teenagers are way more evil and repressive than any other grown-up. But many films portray high school that way. The difference that “Heathers” has among other 80s teen films is the quantity of really heavy themes it deals with throughout the film, especially bullying, portrayed in an extreme way; and the banalization of suicide. If you stop and think about it, no other 80s teen film deals with suicide in such a direct way. It shows how a horrible thing like suicide can contaminate a school society, to the point that it becomes “popular”. But even with “Heathers” dealing with that theme in a direct way, it's not pro-suicide, in any way. On the contrary, it shows that suicide is not the recipe to become popular, as every suicide attempt in this film fails miserably. But, bringing this 80s film to the present days, some of its narrative aspects don't land as solidly as they should, especially when it comes to Christian Slater's character, JD. The film is promoted as a dark comedy, and due to certain tragedies that happened after the movie's release, some of its “meant to be funny” scenes aren't that funny anymore today as they possibly were in 1988. I won't spoil it or anything (I'll leave the embed film on YouTube at the end of this review for you guys to watch it and connect the dots), but I'll finish this part by saying that “Heathers” is no ordinary 80s teen film: it is quite serious, it is really heavy, and it's quite necessary, for today's time, as it also happens with the musical and the TV show that came after it.)



Como os adultos são pouco importantes na trama, “Heathers” é um filme que encontra no elenco adolescente o foco da narrativa. E já de cara, temos dois talentos enormes, nas peles de Winona Ryder e Christian Slater. Eu gostei bastante do desenvolvimento da personagem de Ryder, especialmente no contraste entre a relação dela com as Heathers e a relação dela com o JD. O espectador vê que ela não se sente nada confortável convivendo com as Heathers, e ela encontra um tipo de “refúgio” com o JD, mas de forma bem curta, porque as coisas ficam bem sombrias e malucas em um curto período de tempo. No personagem de Slater, encontramos o perfeito sociopata anarquista que odeia e manipula todo mundo. Por causa das atitudes de JD, a segunda metade do filme possui algumas semelhanças incrivelmente trágicas com um dos maiores desastres cometidos pelo homem (de novo, sem spoilers aqui, mas dá pra ver pra onde estou caminhando). Como coadjuvantes, temos Kim Walker, Shannen Doherty e Lisanne Falk como as 3 Heathers, e elas trabalham muito bem com o que é dado a cada uma, mesmo com algumas tendo mais tempo de tela, e consequentemente, mais conteúdo do que outras. No elenco adulto, o único destaque fica com Penelope Milford, que aqui interpreta uma professora que deseja que os alunos “se curem” da grande onda de suicídios que vem atormentando a escola, e que acaba atraindo a atenção da mídia, banalizando o suicídio ainda mais na trama.
(As grown-ups have little importance in the plot, “Heathers” is a film that finds its narrative focus in its teen cast. And right off the bat, we have two huge talents, in the form of Winona Ryder and Christian Slater. I really liked the development of Ryder's character, especially when it comes to the contrast between her relationship with the Heathers and her relationship with JD. The viewer sees that she's not comfortable at all with the Heathers, and that she finds some sort of “safe haven” with JD, but it's a really short feeling, because things get very dark and crazy really fast. In Slater's character, we find the perfect sociopath that hates and manipulates everyone. Because of JD's attitudes, the second half of the movie has some incredibly tragic similarities with one of the biggest disasters ever committed by man (again, no spoilers here, but you can see where I'm going with this). As supporting characters, we have Kim Walker, Shannen Doherty and Lisanne Falk as the 3 Heathers, and they work really well with what's given to each of them, even with some receiving more screen time, and consequently, more content than others. In the adult cast, the only highlight stays with Penelope Milford, who plays a teacher that wishes to “heal” the students from the great wave of suicides that's been tormenting the school, and that ends up attracting the attention of the media, making suicide even more banal in the plot.)



Nos aspectos técnicos, encontramos uma maneira bem interessante de explorar as personalidades dos personagens através da escolha e do uso de cores feita pela direção de arte. Por exemplo, a cor mais presente em Veronica é o azul, que, de acordo com a psicologia das cores, é percebida como uma cor fria, representando como Veronica está fora de lugar junto com as Heathers, que são representadas por cores mais vibrantes (Chandler = vermelho, representando a paixão e a tomada de decisões, já que ela é a líder; Duke = verde, representando a inveja que ela tem da liderança de Heather Chandler; McNamara = amarelo, representando o otimismo e a inocência que ela tem perante as outras Heathers). E isso também se faz presente ao representar a personalidade de JD com a cor preta, que pode representar a dureza e o poder, o que faz muito sentido quando o espectador vê o desenvolvimento do personagem no filme. A fotografia é bem trabalhada, o design de som causa um impacto que você não espera de um filme adolescente dos anos 80, há um uso brilhante de efeitos práticos, e a trilha sonora foi muito bem selecionada, especialmente quando se trata da música tocada nos créditos iniciais, “Que Sera, Sera (Whatever Will Be, Will Be)”, popularizada por Doris Day, que representa o conceito do filme de forma perfeita.
(In the technical aspects, we find a really interesting way of exploring the personalities of the characters through the choice and the use of color made by the production designers. For example, the color that stands out in Veronica is blue, which, according to the psychology of colors, is perceived as a cold, distant color, representing how Veronica is out of place along with the Heathers, who are represented by more vibrant colors (Chandler = red, representing the passion and the decision-making, as she is the leader; Duke = green, representing the envy she has of Heather Chandler's leadership; McNamara = yellow, representing the optimism and innocence she has, if compared to the other Heathers). And that also fits when representing JD's personality with black, which may represent harshness and power, which makes a lot of sense when the viewer sees his character development in the film. The cinematography is very well done, the sound design causes an impact you usually don't expect from an 80s teen film, there is a brilliant use of practical visual effects, and the soundtrack was really well chosen, especially when it comes to the song played in the initial credits, “Que Sera, Sera (Whatever Will Be, Will Be)”, which was popularized by Doris Day and represents the concept of this film perfectly.)



Resumindo, “Atração Mortal/Heathers” pode ter alguns aspectos narrativos que não funcionem tão bem atualmente, mas o filme continua causando um impacto com sua subversão de clichês do gênero, com seu ponto de vista mais dark e distorcido do ensino médio, e com a abordagem de temas controversos que se fazem muito presentes nos dias de hoje.

Nota: 9,5 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Vou deixar o filme aqui embaixo para que, no caso de você, caro cinéfilo, não ter assistido esse filme ainda, você possa assisti-lo! Até amanhã, com a segunda parte dessa postagem!
- João Pedro

(In a nutshell, “Heathers” may have some narrative aspects that don't work that well in today's times, but it still manages to cause an impression with its subversion of genre clichés; its dark, twisted point of view on high school; and its dealing of controversial themes that are really present in today's reality.

I give it a 9,5 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! I'll leave the film down below so that you, dear film buff who hasn't watched it yet, get the chance to watch it! See you tomorrow, with the second part of this post!
- João Pedro)




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