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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para estrear um novo quadro aqui no blog! Chamado Sessão Retrospectiva, nesse quadro, pretendo trazer resenhas de filmes que ainda não abordei aqui no blog e fazem aniversários importantes (5, 10, 15, 20, 25, 50 anos, entre outros) em 2021. Para começar esse quadro, vim aqui trazer a resenha de um filme que estava MUITO à frente de seu tempo, usando suas cenas explícitas e senso de humor ácido para falar de temas que teriam muito mais relevância nos dias de hoje do que em seu lançamento, 50 anos atrás. E, como a cereja no topo, o filme em questão provavelmente é o melhor de seu cultuado diretor. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Laranja Mecânica”. Vamos lá!
(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to bring a new section of reviews to the blog! Titled Retrospective Screening, in this section, I intend to bring reviews of films I haven't analyzed here on the blog yet and that celebrate important anniversaries (5, 10, 15, 20, 25, 50 years, among others) in 2021. To start off this section, I came here to bring the review of a film that was VERY ahead of its time, using its explicit scenes and acid sense of humor to talk about themes that would become much more relevant in today's times than in its release, 50 years ago. And, as the cherry on top, the film I'm about to review is most likely its director's finest. So, without further ado, let's talk about “A Clockwork Orange”. Let's go!)
Baseado no romance de mesmo nome escrito por Anthony Burgess, o filme é ambientado em uma Inglaterra distópica e acompanha Alex DeLarge (Malcolm McDowell), um carismático e antissocial lider de uma gangue de delinquentes, cujos passatempos incluem espancar moradores de rua, estuprar mulheres e escutar composições de Ludwig van Beethoven. Após acidentalmente cometer um assassinato, Alex é traído por seus colegas, preso e submetido a um tratamento psicológico que o forçará a mudar de comportamento e enfrentar as consequências de suas ações passadas.
(Based on the novel of the same name written by Anthony Burgess, the film is set in a dystopian England and follows Alex DeLarge (Malcolm McDowell), a charismatic and antisocial leader of a gang of hoodlums, whose favorite pastimes include beating up homeless people, raping women and listening to Ludwig van Beethoven's compositions. After accidentally committing a murder, Alex is betrayed by his colleagues, arrested and conditioned to a psychological treatment that will force him to change his behavior and face the consequences of his past actions.)
Desde que eu completei 14 anos, com minha personalidade cinéfila ainda em crescimento, sempre tive MUITA curiosidade para assistir “Laranja Mecânica”. A minha razão para tamanho interesse naquela época era apenas uma: o fato de ser ambientado em uma distopia. Mas as cenas explícitas de sexo e violência me afastaram um pouco deste desejo, e fui direcionado para outras obras. Avançando 7 anos, em 2021, durante a pandemia, fiz uma decisão que permitiria que eu finalmente assistisse ao filme: fiz planos de assistir a filmografia parcialmente completa de Stanley Kubrick, começando com “O Grande Golpe”, de 1956, e terminando com “De Olhos Bem Fechados”, de 1999.
Com 21 anos, uma mente mais amadurecida e uma personalidade cinéfila bem formada, tive consciência de que seria capaz de “aguentar o tranco” de um dos filmes mais controversos da história do cinema. Tinha gostado muito de todos os filmes de Kubrick que tinha assistido até ontem, os quais incluem clássicos como “Spartacus”, “Dr. Fantástico” e o revolucionário “2001: Uma Odisseia no Espaço”, então minhas expectativas estavam consideravelmente altas, juntando as atuais com as antigas, lá dos meus 14 anos. E fico extremamente feliz em dizer que eu absolutamente AMEI “Laranja Mecânica”, especialmente pelas escolhas temáticas e narrativas que Kubrick fez, que comprovam a atemporalidade do filme de 1971 e sua influência em obras posteriores dos mais variados gêneros.
Ok, vamos falar do roteiro. Adaptado para a tela pelo próprio diretor, o roteiro de “Laranja Mecânica” cumpre TODOS os pré-requisitos para ser considerado um clássico. Vamos por partes. Primeiro, temos a temporalidade ambígua da ambientação, ou seja, a ambientação não tem detalhes específicos que esclarecem em que época ela está posicionada na História. Pode ser meio bobo à primeira vista, mas isso permite que o filme não seja futurístico demais, ao contrário de outras distopias como “Blade Runner” e “Brazil”, com seus carros voadores e tecnologias avançadas.
Essa escolha permite que o espectador visualize aquela época como o ano em que o filme foi lançado, ou o ano em que ele está assistindo o filme, colaborando para uma atemporalidade narrativa que não se torna datada com o passar do tempo. É algo sempre atual, mesmo tendo sido lançado originalmente há 50 anos. Algo bem similar foi feito no brasileiro “Bacurau”, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, que tem um Nordeste “futurístico” como ambientação, mas não há nada que especifique o quão longe no futuro o enredo está. Poderia ser 1 mês, 1 ano, uma década. Seria impossível definir, o que poderia resultar em um caráter atemporal para a narrativa.
Depois, temos a abordagem escolhida pelo diretor para trabalhar o seu protagonista, que é essencialmente imersiva. Temos aqui um uso extensivo, mas extremamente bem calculado de uma narração em voice-over em primeira pessoa feita pelo Alex, a qual é complementada por algumas sequências fantasiosas que nos fazem entrar na mente dele e entender o seu ponto de vista sobre as coisas. Há a utilização constante de termos inventados pelos personagens, pertencentes à uma “língua” chamada Nadsat. Algumas das palavras deste dialeto são difíceis de serem interpretadas à primeira vista, mas ao longo do tempo de duração extremamente conciso de 2 horas e 16 minutos, o espectador já consegue “traduzir” alguns termos devido ao uso repetido das gírias pelos personagens, o que é ótimo.
Mas talvez o mais importante e interessante sobre essa abordagem de desenvolvimento do protagonista é o quanto ela se aproxima de um estudo de personagem. A transformação gradual e (ao mesmo tempo) radical que o Alex sofre ao longo de “Laranja Mecânica” me lembrou MUITO do declínio de Arthur Fleck à loucura em “Coringa”. Mas, enquanto o Príncipe Palhaço do Crime de Joaquin Phoenix começou ganhando a simpatia do espectador e terminou nos causando um sentimento de repulsa e revolta, o protagonista do filme de Kubrick anda pelo caminho oposto: nos primeiros 15 minutos, ele e sua gangue já começam revoltando o espectador, espancando moradores de rua idosos, brigando violentamente com outro grupo de delinquentes, causando acidentes de trânsito e invadindo a casa de um autor e sua esposa, que é brutalmente estuprada.
Nesse curto, mas impactante período de tempo, não há outra opção para nós, se não sentirmos enjôo, repulsa e o mais puro ódio por tudo que o protagonista faz. Mas, na segunda metade do filme, Kubrick faz o impossível: ele nos faz simpatizar com esse psicopata. A partir do momento em que ele sai do tratamento psicológico no qual ele serviu como cobaia, ele se depara com várias situações degradantes, sendo fisicamente abusado, rejeitado pelos próprios pais, o que desperta um sentimento profundo de pena no espectador, que acaba temporariamente abafando o ódio da primeira metade. Há um momento perto da conclusão que é interpretado como um tipo de justiça para um dos personagens, mas devido à proximidade entre protagonista e espectador, esse evento é visto no nosso ponto de vista como um momento de dor e agonia, que acaba nos preocupando com respeito ao destino do personagem. Achei essa abordagem narrativa absolutamente brilhante, não tem outra palavra para descrever isso.
Terceiro, temos a mesma razão que impediu “Trainspotting” de se tornar um “Réquiem para um Sonho”: um senso de humor seco, sarcástico e deliciosamente ácido, que transforma as cenas mais explícitas de violência e sexo em algo não tão difícil assim de engolir. É um senso de humor essencialmente britânico e exagerado, que me lembrou bastante do trabalho da trupe de comédia Monty Python. Seja pela narração em voice-over feita pelo protagonista, pela seleção da trilha sonora para aquela cena em particular, ou pela maneira em que ela é executada, o diretor faz o melhor possível para que essas partes mais sensíveis não tenham um tom desnecessário. Pelo contrário, ele as transforma em algo surpreendentemente lúdico, já que os atos de “ultraviolência” são o que o protagonista faz para se divertir.
Mas não me entendam errado: assim como “Trainspotting”, “Laranja Mecânica” leva seus elementos mais polêmicos muito a sério, especialmente durante a infame sequência da técnica Ludovico, onde os atos de violência e sexo não são acompanhados por um componente mais lúdico. Essa falta de acompanhamento faz o personagem principal enxergar os espancamentos e estupros como algo revoltante, enjoativo e repulsivo, e esse sentimento acaba sendo refletido no espectador, o que, novamente, foi uma escolha brilhante do diretor, tamanha a profundidade que ele consegue nos imergir na mente do protagonista.
E por último, mas certamente não menos importante, temos a imensa quantidade de temas abordados no enredo, que ainda mantém uma comunicação muito forte com a atualidade, mesmo 50 anos depois de seu lançamento. Um dos temas mais predominantes presentes na obra de Kubrick é a natureza do homem, e como essa natureza, mesmo sendo manipulada por tratamentos psicológicos e comportamentais, sempre acaba inclinando para o mal. Essa dualidade é exposta de maneira brilhante na emblemática cena final, que nos faz pensar se o protagonista realmente mudou, ou se ele voltou para a estaca zero. É bem interessante ver como as três principais perspectivas do filme (Alex, o governo e o autor) pensam de formas diferentes em relação a esse tema.
Outros temas explorados incluem a humanidade na capacidade de fazer escolhas morais; o uso de violência policial para fins pessoais (#BlackLivesMatter, anyone?); o uso de vítimas como garotos-propaganda para fins políticos e como a mídia influencia a maneira que a juventude (e a população, em geral) olha para o mundo, ponto de vista eternizado na fala “É engraçado como as cores do mundo real só parecem reais quando você as vê em uma tela”. Resumindo, Kubrick cumpre com todos os pré-requisitos para fazer de “Laranja Mecânica” um verdadeiro clássico da sétima arte, graças a um enredo imersivo, sensorial e altamente incendiário, que aborda temas extremamente relevantes para os dias de hoje, talvez até mais relevantes do que eram em 1971.
(Ever since I was fourteen, with my cinephile personality still in formation, I was always VERY curious to watch “A Clockwork Orange”. My reason for such an interest in that time was only one: the fact that it was set in a dystopian world. But the explicit scenes of sex and violence pulled me a little back from my desire and I was more attracted towards other works. Fast-forward 7 years, in 2021, during the pandemic, I made a decision that would allow me to finally watch the film: I made plans to watch the partially complete filmography of Stanley Kubrick, starting off with 1956's “The Killing” and ending it with 1999's “Eyes Wide Shut”.
At age 21, with a more matured mind and a well formed cinephile personality, I felt like I could be able to “handle the load” of one of the most controversial films in the history of cinema. I had really enjoyed all of Kubrick's films I watched until yesterday, a selection that includes classics such as “Spartacus”, “Dr. Strangelove” and the revolutionary “2001: A Space Odyssey”, so my expectations were considerably high, if you put the current and the old ones, back when I was 14, together. And I am extremely glad to say that I absolutely LOVED “A Clockwork Orange”, due to the thematic and narrative choices that Kubrick had made, which prove the 1971 film's timelessness and its influence in posterior works from many, many genres.
Okay, let's talk about the screenplay. Adapted for the screen by the director himself, the script for “A Clockwork Orange” fulfills EVERY factor for it to be considered a true classic. Let's do this by parts. First, we have the setting's ambiguous temporality, meaning, the setting doesn't have specific details that clarify in which time it is positioned in History. It might seem kind of silly at first, but this prevents the film from being too futuristic, unlike other dystopias such as “Blade Runner” and “Brazil”, with their flying cars and advanced technologies.
That choice allows the viewer to see that time as the year the film was released, or the year that they are watching the film, collaborating for a narrative timelessness that doesn't lose its power with time. It's something that's always current, even if it was originally released 50 years ago. Something really similar was done in the Brazilian film “Bacurau”, directed by Kleber Mendonça Filho and Juliano Dornelles, which has a “futuristic” Northeastern region as a setting, but there's nothing to specify in how long in the future the plot finds itself. It could be one month, one year, one decade. It would be impossible to define when, which might result in a timeless character for the narrative.
Then, we have the approach the director had chosen to deal with his protagonist, which is essentially immersive. We have here an extensive, yet extremely well-calculated use of a first-person voice-over narration by Alex, which is complemented by some fantasy sequences that lead us inside his mind and help us seeing his point of view on various things. There's a constant use of terms made up by the characters, which are part of a “language” called Nadsat. Some of the words in this dialect are hard to be interpreted at first, but throughout the extremely concise runtime of 2 hours and 16 minutes, the viewer is already able to “translate” some of these terms due to their repeated use by the characters, which is great.
But perhaps the most important and interesting thing about this approach for the protagonist's development is how close it gets from being a character study. The gradual and (at the same time) radical transformation that Alex suffers throughout the film reminded me A LOT of Arthur Fleck's descent into madness in “Joker”. But, while Joaquin Phoenix's Clown Prince of Crime started off earning the viewer's sympathy and ended up revolting and sickening us by its conclusion, the protagonist of Kubrick's film walks an opposite path: within the first fifteen minutes, he and his gang already start the film revolting the viewer, beating up elderly homeless people, violently quarreling with another group of juvenile delinquents, causing traffic accidents and breaking into a house that belongs to an author and his wife, who is brutally raped.
In this short yet impactful period of time, there's no other choice for the viewer but feel sickness, repulsion and pure hatred for everything the main character does. But, in the film's second half, Kubrick does the impossible: he makes us feel sympathy for this psychopath. From the moment he gets released from the psychological treatment he was submitted as a test subject, he faces several degrading situations, being physically abused, rejected by his own parents, which awakens a profound feeling of pity in the viewer, which temporarily muffles the first half's hatred. There's a moment near the conclusion that can be interpreted as a justice of sorts to one of the characters, but due to the proximity between viewer and protagonist, that event is seen in our point of view as a moment of pain and agony, which ends up worrying us, regarding the main character's fate. I found that narrative approach to be simply brilliant, there's just no other word to describe it.
Thirdly, we have the same reason that prevented “Trainspotting” from turning into “Requiem for a Dream”: a dry, sarcastic, delightfully acid sense of humor, which transforms the more explicit scenes of sex and violence into something that's not that tough to watch. It's an essentially English, over-the-top sense of humor, which reminded me a lot of Monty Python's work as a comedy troupe. Whether it's through the voiceover narration, the selection of the soundtrack for that particular scene, or the way it is executed, the director does his best so that these more sensitive parts don't feel unnecessary and exploitational. On the contrary, he transforms them into something surprisingly playful, as the acts of “ultraviolence” are something the protagonist does to have fun.
But don't get me wrong: similarly to “Trainspotting”, “A Clockwork Orange” deals with its more controversial elements in a very serious way, especially during the infamous Ludovico technique sequence, where the acts of violence and sex are not accompanied by a more playful component. That lack of companionship makes the main character see the beatings and raping as something revolting, sickening and repulsive, and that feeling ends up reflecting on ourselves as viewers, which, once again, was a brilliant move by the director, due to the depth he manages to insert us into the main character's mind.
And at last, but certainly not least, there's the enormous quantity of themes analyzed in the plot, which still maintains a strong communication with today's times, even 50 years after its original release. One of the most predominant themes present in Kubrick's work is the nature of man and how this nature, even when being manipulated by psychological and behavioral treatments, always ends up inclining towards evil. That duality is exposed brilliantly in the mind-bending final scene, which makes us think if the protagonist actually changed, or if he's returned to ground zero. It's quite interesting to see how the film's main three perspectives (Alex, the government and the author) think differently, regarding this particular theme.
Other explored themes include the humanity in the capacity of making moral choices; the use of police brutality for personal means (#BlackLivesMatter, anyone?); the use of victims as propaganda in order to reach political goals and how media influences the way young people (and the population, in general) see the world, a point of view that's cemented in the line “It's funny how the colors of the real world only seem really real when you viddy them on a screen”. To sum it up, Kubrick fulfills all the requirements for “A Clockwork Orange” to be considered a true classic in film, thanks to an immersive, sensory and highly incendiary plot, which deals with themes that are extremely relevant to today's times, maybe even more relevant than they were back in 1971.)
Temos aqui um elenco bem reduzido de personagens, e todos os atores coadjuvantes fazem um ótimo trabalho com o que lhes é oferecido. O Warren Clarke e o James Marcus fazem um bom contraste com a posição do protagonista como líder da gangue. O Patrick Magee protagoniza uma das cenas mais arrepiantes do longa. O Michael Gover, o Anthony Sharp, o Aubrey Morris, o Clive Francis e o Carl Duering são os verdadeiros antagonistas de “Laranja Mecânica”, ninguém consegue me convencer do contrário. O Michael Bates é a melhor fonte de alívio cômico do filme, me lembrando bastante do trabalho do John Cleese no grupo Monty Python.
Mas quem realmente importa aqui, sem nenhuma sombra de dúvida, é o Malcolm McDowell, que tem aqui sua melhor, mais memorável, icônica e lendária performance, a qual foi criminalmente injustiçada no Oscar, nem ao menos recebendo uma indicação a Melhor Ator. É incrível como McDowell consegue manipular as emoções do espectador perante o seu personagem, fazendo uso do fantástico texto de Kubrick. É uma daquelas raras performances onde o ator consegue te fazer sentir toda emoção possível. Ele te faz rir, chorar, sentir medo, ódio, nojo, pena pelo Alex.
McDowell brinca com uma verdadeira amálgama de sentimentos com sua atuação, muitos dos quais são quase instantaneamente refletidos no espectador, o que, pelo menos para mim, é absolutamente essencial em uma performance de protagonista. Eu poderia escrever inúmeras linhas sobre o quão maravilhoso o trabalho de McDowell é em “Laranja Mecânica”, mas como há outros aspectos a serem considerados, fecho com essa afirmação: se vocês não forem assistir ao filme pela história, assistam pela performance altamente dedicada de seu protagonista, que conta com alguns dos melhores improvisos da história do cinema. É isso.
(We have here a pretty reduced cast of characters, and all the supporting actors do a great job with what's offered to them. Warren Clarke and James Marcus do a nice contrast with the protagonist's position as leader of the gang. Patrick Magee is a central figure in one of the film's most spine-chilling scenes. Michael Gover, Anthony Sharp, Aubrey Morris, Clive Francis and Carl Duering are the true antagonists of “A Clockwork Orange”, no one will manage to convince me otherwise. Michael Bates is the film's best source of comic relief, reminding me a lot of John Cleese's work in the Monty Python comedy troupe.
But who really matters here, without any shadow of a doubt, is Malcolm McDowell, who has here his finest, most memorable, iconic and legendary performance, which ended up being criminally snubbed in the Oscars, not even being nominated for Best Actor. It's amazing how McDowell manages to manipulate the viewer's emotions towards his characters, making exceptional use of Kubrick's fantastic screenplay. It's one of those rare performances where the actor manages to make you feel every emotion you're able to feel. He makes you laugh, cry, feel afraid, enraged, disgusted, pity for Alex.
McDowell toys with a true encyclopedia of feelings with his performance, many of which are almost instantly reflected in the viewer, which, at least for me, is absolutely essential in a main character's performance. I could go on and on writing how wonderful McDowell's work is in “A Clockwork Orange”, but as there are other aspects to be considered, I'll close with this statement: if you're not going to watch the film for the story, watch it for its protagonist's highly dedicated performance, which relies on some of the best improvisational bits in cinema history. That's it.)
Assim como em literalmente todo filme de Stanley Kubrick (sim, até os em preto-e-branco), todo aspecto técnico de “Laranja Mecânica” é perfeito, não há outra palavra para descrever. É só mais uma prova do controle que Kubrick tinha sobre suas obras, que é incomparavelmente único. A direção de fotografia do John Alcott casa muito bem com o teor caótico e eclético da história, misturando tomadas contínuas com algumas mais prolongadas, e experimentando com cenas em câmera lenta e outras em um passo bem mais acelerado, resultando em sequências altamente eficientes em todas as frentes, se tornando um verdadeiro marco na história do cinema. Essa grande amálgama de estilos de tomada é abordada de forma bem orgânica, de modo que o espectador não se sente abatido pela mudança brusca no andamento das cenas, o que é simplesmente sensacional.
A montagem do Bill Butler trabalha muito bem em conjunto com a câmera de Alcott, colaborando para que a experiência de assistir à “Laranja Mecânica” seja a mais enervante, imersiva, perturbadora, psicodélica e proveitosa possível. A direção de arte, novamente, faz um excelente trabalho de manter a temporalidade ambígua da ambientação, de modo que não há como dizer com certeza que o filme é ambientado no futuro. Há lixo nas ruas, obras de arte vandalizadas, bares noturnos, cassinos abandonados. Salvo algumas exceções que remetem ao tom psicodélico dos anos 1960, não há um aspecto definitivo que diferencie a Londres “distópica” do filme do nosso mundo real, o que é bem raro de ver em futuros distópicos da ficção-científica.
A trilha sonora original da Wendy Carlos é essencialmente atmosférica, criando uma aura enervante que penetra até o âmago do espectador com seus sintetizadores, que seriam novamente utilizados de forma extremamente eficiente em “O Iluminado”, também de Stanley Kubrick. E, por fim, temos a trilha sonora compilada de composições de Ludwig van Beethoven, que é uma obra-prima à parte. As cenas em que as sinfonias são reproduzidas fazem um contraste perfeito entre o tom crescente e vívido das orquestras e a natureza degradante e perturbadora do que é mostrado nessas cenas.
(Just like in literally every film by Stanley Kubrick (yes, even those in black-and-white), every technical aspect of “A Clockwork Orange” is perfect, there's no other word to put it. It's just further proof of the control Kubrick had over his work, which is uncomparably unique. John Alcott's cinematography makes an outstanding match with the chaotic, eclectic tone of the story, mixing continued shots with some more prolonged ones, and experimenting with scenes in slow motion and others in a much faster pace, resulting in highly effective sequences on all fronts, becoming a true landmark in cinema history. This huge mix of shot styles is dealt with in a very organic way, as the viewer doesn't feel lost by the rough change in the scenes' tempo, which is simply sensational.
Bill Butler's editing works really well in tandem with Alcott's camera, collaborating for the experience of watching “A Clockwork Orange” to be as unnerving, immersive, disturbing, psychedelic and enjoyable as possible. The art direction, once again, does an excellent job in maintaining the setting's ambiguous spot in History, in a way that we're not able to tell how long it is set in the future. There's litter in the streets, vandalized works of art, night bars, abandoned casinos. Save a few exceptions that take us back to the psychedelic tone of the Swinging Sixties, there isn't a definitive aspect that differs the film's “dystopian” London from our real world, which is something quite rare to see in science fiction's dystopian futures.
Wendy Carlos's original score is essentially atmospheric, creating an unnerving aura that penetrates the very deep core of the viewer with her synthesizers, which would be used once again in an extremely effective way in “The Shining”, also a Stanley Kubrick film. And, lastly, we have the compiled soundtrack of Ludwig van Beethoven's compositions, which is a particular masterpiece. The scenes in where the symphonies are played manage to make a perfect contrast between the crescent and vivid tone of the orchestras and the degrading, disturbing nature of what's shown onscreen.)
Resumindo, “Laranja Mecânica” é um verdadeiro marco na história do cinema. Mal-entendido na época de lançamento, a obra-prima rebelde e controversa de Stanley Kubrick ganha uma nova vida 50 anos depois, graças ao seu enredo imersivo, sensorial e tematicamente relevante para a atualidade, e às escolhas técnicas que destacam o realismo e a atemporalidade do cenário “distópico” do longa. Um filme que, definitivamente, precisa ser visto uma vez na vida, e a melhor obra de seu realizador, na minha opinião (empatado com “O Iluminado”)!
Nota: 10 de 10! (Não tinha como ser outra.)
É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,
João Pedro
(In a nutshell, “A Clockwork Orange” is a true landmark in movie history. Misunderstood in its time of release, Stanley Kubrick's rebellious and controversial masterpiece gains new life 50 years later, thanks to its immersive, sensory and thematically relevant plot for today's times, and to the technical choices that highlight the realism and timelessness of the feature's “dystopian” setting. A film that, definitely, needs to be seen once in a lifetime, and its director's finest work, in my opinion (tied with “The Shining”)!
I give it a 10 out of 10!! (There's no other possible grade to award this film.)
That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,
João Pedro)