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quinta-feira, 25 de novembro de 2021

"tick, tick... BOOM!": uma jornada imersiva, frenética e emocionante pelo processo criativo de um gênio (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para falar sobre um dos musicais mais aguardados de 2021, o qual já está disponível no catálogo original da Netflix! Contando com uma abordagem inventiva no roteiro, uma performance digna de Oscar de seu protagonista e aspectos técnicos que conseguem trabalhar o tema principal da obra de maneira essencialmente angustiante, o filme em questão encontra o diretor estreante Lin-Manuel Miranda em sua obra mais pessoal, mergulhando dentro do processo criativo de um dos maiores gênios do teatro musical de forma dinâmica, emocionante e frenética. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “tick, tick... BOOM!”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to talk about one of the year's most anticipated movie musicals, which is already streaming on Netflix's original catalog! Relying on an inventive approach on its screenplay, an Oscar-worthy performance by its protagonist and technical aspects that manage to work with the piece's main theme in an essentially distressing way, the film I'm about to review finds debuting director Lin-Manuel Miranda in his most personal work, diving into the creative process of one of the greatest geniuses in musical theater in a dynamic, emotional and fast-paced way. So, without further ado, let's talk about “tick, tick... BOOM!”. Let's go!)



Baseado no musical semi-autobiográfico de mesmo nome de Jonathan Larson, “tick, tick... BOOM!” acompanha o próprio Larson (Andrew Garfield), um jovem compositor que trabalha como garçom em Nova York, enquanto sonha em escrever um grande musical americano que o levará ao estrelato, com o qual ele já vinha trabalhando por oito anos. Quando seu colega de quarto, Michael (Robin de Jesús), aceita um emprego corporativo e está prestes a se mudar, próximo ao seu aniversário de 30 anos, Jonathan é tomado pela ansiedade de que seu sonho é irreal e que não vale a pena continuar lutando por ele, especialmente com a epidemia de HIV/AIDS afetando diretamente seu círculo mais íntimo de amigos.

(Based on the semi-autobiographical stage musical of the same name by Jonathan Larson, “tick, tick... BOOM!” follows Larson himself (Andrew Garfield), a young songwriter who works as a waiter in a New York diner, while dreaming of writing a great American musical that will lead him to stardom, which he had been working on for eight years. When his roommate, Michael (Robin de Jesús), accepts a corporate job and is about to move out, close to his 30th birthday, Jonathan is taken by the anxiety that his dream is unreachable and that's it's not worth fighting for it, especially with the HIV/AIDS epidemic directly affecting his inner circle of friends.)



Assim como a grande maioria dos filmes lançados este ano (e analisados aqui no blog), eu estava com expectativas bem altas para assistir “tick, tick... BOOM!”, especialmente por quatro razões principais. A primeira: o filme seria um musical baseado em fatos reais. Só por aí, a obra já mereceu um destaque na minha lista. A segunda: “tick, tick... BOOM!” é uma semi-biografia de Jonathan Larson, mais conhecido pelo revolucionário musical de palco “Rent”, que ficou em cartaz por 12 anos na Broadway e ganhou uma quantidade enorme de prêmios, incluindo o Tony de Melhor Musical e o Prêmio Pulitzer de Drama. Infelizmente, Larson não teve a chance de ver o seu sucesso, por ter sofrido uma morte prematura aos 35 anos, um dia antes da primeira performance pública de “Rent”, em decorrência de uma dissecção da aorta, causada por uma síndrome de Marfan não-diagnosticada.

A terceira: o filme seria a estreia na direção de Lin-Manuel Miranda, o gênio responsável pela obra-prima que é “Hamilton” e por “Em um Bairro de Nova York”, também lançado este ano; e também contaria com a colaboração de Steven Levenson, roteirista de “Querido Evan Hansen”, na adaptação do musical para as telas. A quarta e última: o fato de Miranda ser fã declarado da obra de Larson. Além de “Rent” ter sido o musical que o inspirou a escrever suas próprias obras-primas, Miranda percorreu praticamente o mesmo percurso de Larson ao compor “Hamilton”, passando 6 anos de sua vida compondo o musical completamente cantado sozinho, assim como Larson fez com todas as suas obras, tanto finalizadas como inacabadas.

“Hamilton” estreou na Off-Broadway em 2015, e virou um verdadeiro fenômeno nos EUA ao expandir seu alcance para o teatro Richard Rodgers em Nova York, se tornando um sucesso de bilheteria e ganhando 11 Tonys e o Prêmio Pulitzer de Drama, as mesmas honras que marcaram a jornada de “Rent” na Broadway. Além disso, Miranda interpretou o papel de Jonathan em uma montagem de 2014 do musical de palco de “tick, tick... BOOM!”, tendo como colega de palco Leslie Odom, Jr., o futuro Aaron Burr da companhia original de “Hamilton”. Então, sob esse ponto de vista, Miranda é literalmente a pessoa perfeita para dirigir um filme sobre Jonathan Larson.

Em preparação para o filme, eu assisti à uma performance gravada de “Rent”, lançada em 2008, último ano do musical na Broadway. Fiquei impressionado com a humanidade e a crueza utilizadas por Larson ao abordar o modo de vida boêmio dos habitantes de Alphabet City, em NY, durante a epidemia de HIV/AIDS. Também adorei o fato de “Rent” ser completamente cantado, uma característica que “Hamilton” pegou emprestado. As músicas de Larson, majoritariamente pertencentes ao gênero do rock, são simplesmente incríveis, abordando temas como pobreza, abuso, preconceito, vício e sonhos frustrados de forma extremamente realista e sensível, desenvolvendo perfeitamente o seu elenco diverso de personagens.

A presença de Andrew Garfield interpretando Jonathan na adaptação do musical semi-autobiográfico de Larson e as primeiras críticas positivas após sua exibição em Nova York aumentaram ainda mais as minhas expectativas, e eu fico muito, mas muito feliz em dizer que “tick, tick,... BOOM!” não é só o melhor musical do ano até agora (sim, ainda teremos musicais em 2021), mas também um dos melhores filmes de 2021, tendo amplas capacidades de obter sucesso na vindoura temporada de prêmios e alcançar indicações nas categorias principais do Oscar, em especial Melhor Filme, Melhor Direção para Lin-Manuel Miranda, Melhor Ator para Andrew Garfield e, como vocês poderão ver nos parágrafos seguintes, Melhor Roteiro Adaptado.

Ok, com isso dito, vamos falar do roteiro. Como dito anteriormente, o musical foi adaptado por Steven Levenson para as telas, e a primeira coisa que me chamou a atenção foi a abordagem escolhida pelo roteirista e pelo diretor para trabalhar a narrativa originada por Larson. Para aqueles que não sabem, “tick, tick... BOOM!” começou como um monólogo do próprio Jonathan Larson, que conta a história de sua trajetória para trazer um musical distópico chamado “Superbia” para os palcos, às vésperas do seu aniversário de 30 anos. E o interessante sobre a abordagem de Levenson é que ela possui duas perspectivas principais: o filme transita entre cenas ambientadas neste monólogo, apresentado em 1991, e as dramatizações dos eventos relatados por Larson nessa apresentação.

A dinâmica entre estes dois pontos de vista é feita de maneira bem orgânica, de modo que é quase impossível o espectador se perder. É algo bem fácil de acompanhar. Há também algumas partes dentro dessas dramatizações onde o protagonista quebra a quarta parede, se direcionando à câmera, e simultaneamente, ao seu público, na perspectiva de monólogo. Esta dupla perspectiva acaba por misturar o gênero principal do filme, que é o musical, com uma dose generosa de drama, uma pitada de comédia e até uma vibe impressionante de documentário, especialmente nas partes ambientadas no monólogo mencionado. Achei essa escolha criativa brilhante, pela metalinguagem que ela acaba aplicando à narrativa como um todo.

Outro destaque do roteiro é o passo, que, fazendo jus ao título, transforma o longa-metragem uma verdadeira bomba-relógio. Há um sentimento intoxicante de ansiedade e angústia onipresente ao longo das sucintas 2 horas de filme. E grande parte do porquê do ritmo ser frenético se dá pela escolha do roteirista de nos inserir dentro da mente do protagonista, uma das melhores decisões criativas dessa adaptação de “tick, tick... BOOM!”. Jonathan Larson passou 8 anos de sua vida escrevendo “Superbia”, se isolando do mundo e de seu círculo interior de amigos para completar sua obra sob enorme pressão, tanto pelas expectativas do sucesso do musical, quanto pelo efeito da epidemia de HIV/AIDS em sua vida, a qual, prematuramente, já tinha levado três de seus amigos à morte. E o roteiro de Levenson, trabalhando em conjunto com a performance de Garfield e o uso muito bem-calculado dos aspectos técnicos, faz com que o próprio espectador sinta essa pressão na pele de uma maneira extremamente eficiente.

Outro aspecto louvável do trabalho de Levenson em “tick, tick... BOOM!” é o retrato do processo criativo de Larson ao compor “Superbia”, outra vantagem vinda da abordagem imersiva do roteiro dentro da mente de seu protagonista. Há várias partes onde Jonathan, do nada, tem uma ideia. Aí, ele pega um bloquinho de notas e anota aquela ideia. Há também várias cenas fantasiosas (lê-se: números musicais) que ajudam a desenvolver a mentalidade de Larson como compositor perfeitamente. Dois exemplos claros disso se encontram aqui: existe uma sequência musical ambientada na lanchonete onde o protagonista trabalha, e várias gerações de atores da Broadway dão as caras, cantando e dançando juntos em um número extremamente bem coreografado; e há uma cena onde Jonathan está sem inspiração e vai nadar em uma piscina, e lá no fundo, ele acaba encontrando as notas musicais que ele precisa para compor uma canção.

Outro aspecto narrativo que vale a pena destacar em “tick, tick... BOOM!”, mesmo que diga mais respeito à direção de Lin-Manuel Miranda do que ao roteiro de Levenson, é toda a paixão inserida no filme pelo elenco e pela equipe. Já falei isso, mas vale a pena reafirmar: não havia ninguém melhor para comandar esse projeto do que Lin-Manuel Miranda. Pelo que foi afirmado acima, Miranda seria o mais próximo que temos de um Jonathan Larson do século XXI. Ele é fã de carteirinha do trabalho de Larson e é familiarizado com o processo criativo de um compositor de teatro, e Levenson usa essas duas características do diretor para agradar dois públicos ao mesmo tempo: o roteiro apresenta o mundo do teatro musical de uma maneira bem intuitiva e didática para aqueles que ainda não eram tão próximos dele; e insere algumas referências deliciosas para os fãs mais fervorosos da Broadway e do próprio trabalho de Larson, como “Rent”.

Um último destaque que gostaria de fazer sobre o roteiro de “tick, tick... BOOM!” são os temas que ele aborda, e eles variam de temas universais à alguns que são específicos do mercado de teatro musical. A abordagem de temas relevantes como angústia, ansiedade, saúde mental, depressão, perseguir seus sonhos e acreditar em você mesmo quando ninguém mais acredita ajuda o espectador a visualizar a história de Jonathan Larson como uma verdadeira história de superação, mesmo com sua morte prematura. Há uma crítica afiadíssima à originalidade no meio do teatro musical, e a maneira que Levenson e Miranda encontram para fazer essa crítica é simplesmente brilhante.

Porém, o tema mais recorrente aqui, certamente, é o tema do legado, no sentido de “o que a pessoa planeja deixar para o mundo quando ela partir”. E o mais impressionante sobre esse tema é como ele perpassa a obra inteira tanto do próprio Jonathan Larson quanto do diretor, Lin-Manuel Miranda. Em “tick, tick... BOOM!”, Jonathan se preocupa constantemente em completar seu musical, algo que ele acredita ser seu legado. Em “Rent”, um dos protagonistas, Roger, se preocupa em escrever uma última música antes de morrer, sendo soropositivo. Em “Um Bairro de Nova York”, os protagonistas se mantêm ligados ao legado deixado pelos seus antepassados para que a cultura deles sobrevivesse. E em “Hamilton”, o personagem-título é constantemente preocupado com o legado que ele deixará para o mundo. Veêm como Miranda foi a pessoa perfeita pra dirigir esse filme?

E, para finalizar essa parte do roteiro, pode ser feito um paralelo interessante entre a epidemia de HIV/AIDS e a pandemia de COVID-19, o que daria à “tick, tick... BOOM!” um caráter necessário, atemporal e urgente para os dias de hoje. Assim como a AIDS, o coronavírus tomou muitas vidas prematuramente, e levou muitas pessoas a terem problemas de angústia, ansiedade e até depressão, pela rápida e massiva proliferação do vírus. Uma razão para fundamentar este paralelo entre estes dois eventos é justamente o passo rápido e frenético do filme, que faz a obra parecer uma bomba prestes a explodir. Esta escolha criativa acaba por dar à adaptação um significado simbólico extra, dada a morte prematura de Jonathan Larson aos 35 anos em 1996.

Resumindo, o roteiro de “tick, tick... BOOM!” consegue retratar o processo criativo de um dos maiores gênios do teatro musical com enorme sucesso, graças à abordagem inventiva de suas duas perspectivas principais; ao passo rápido da narrativa, que injeta a trajetória de Jonathan Larson com um sentimento onipresente de ansiedade e angústia; e aos temas abordados na trama, que dão ao filme um caráter relevante, atemporal e necessário, despertando possíveis comparações impressionantes entre a ambientação do filme e os dias de hoje. Tô torcendo para que seja indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado!

(Just like the great majority of films released this year (and reviewed here, in the blog), I had pretty high expectations to watch “tick, tick... BOOM!”, especially for four main reasons. The first one: the movie would be a musical based on true events. Just because of that, it earned a special place on my list. The second one: “tick, tick... BOOM!” is a semi-biopic of Jonathan Larson, best known for creating the revolutionary stage musical “Rent”, which played performances on Broadway for 12 years and won an enormous amount of awards, including the Tony Award for Best Musical and the Pulitzer Prize for Drama. Unfortunately, Larson didn't get the chance to experience his success, as he suffered a premature death at the age of 35, one day before the first public performance of “Rent”, due to an aortic dissection, caused by an undiagnosed Marfan syndrome.

The third one: the film would be the directorial debut of Lin-Manuel Miranda, the genius who's responsible for the masterpiece that is “Hamilton” and “In the Heights”, which was also released this year; and would also count on the collaboration of Steven Levenson, writer of “Dear Evan Hansen”, in the theatrical adaptation of the musical. The fourth and last one: the fact that Miranda is a declarated fan of Larson's work. Besides “Rent” being the musical that inspired him to write his own masterpieces, Miranda walked practically the same path as Larson when writing “Hamilton”, spending six years of his life solely composing the entirely sung-through musical, just like Larson did with all of his work, complete or not.

“Hamilton” premiered Off-Broadway in 2015, and became a true phenomenon in the US after expanding its reach to the Richard Rodgers Theatre in New York, becoming a box-office success and winning eleven Tony Awards and the Pulitzer Prize for Drama, the same honors that marked “Rent”'s journey on Broadway. Besides that, Miranda played the role of Jonathan in a 2014 production of the “tick, tick... BOOM!” stage musical, with Leslie Odom Jr. (aka Aaron Burr in the original company of “Hamilton”) as one of his stage partners. So, taking that point of view into consideration, Miranda is literally the most perfect and fitting person to direct a film about Jonathan Larson.

In preparation for the movie, I watched a recorded performance of “Rent”, released in 2008, its last year on Broadway. I was throroughly impressed with the humanity and rawness used by Larson when portraying the Bohemian way of life of Alphabet City tenants, in New York, during the HIV/AIDS epidemic. I also loved the fact that “Rent” was a sung-through musical, a characteristic that “Hamilton” borrowed from it. Larson's original songs, mostly belonging to the rock genre, are simply amazing, dealing with themes like poverty, abuse, prejudice, addiction and frustrated dreams in an extremely realistic and sensitive way, perfectly developing its diverse cast of characters.

The fact that Andrew Garfield would play the role of Jonathan in the adaptation of Larson's semi-autobiographical musical and its first positive reviews after its premiere in New York made my expectations all the more higher, and I am really, really glad to say that not only “tick, tick... BOOM!” is the best movie musical of the year so far (yes, we'll still have a few other musicals in 2021), it's also one of the best films of 2021, having wide capacities of being successful in the upcoming award season and also reaching nominations for the main Oscar categories next year, most specifically Best Picture, Best Director for Lin-Manuel Miranda, Best Actor for Andrew Garfield, and, as you'll be able to see in the following paragraphs, Best Adapted Screenplay.

Okay, with that said, let's talk about the screenplay. As previously stated, the musical's script was adapted to the screen by Steven Levenson, and the first thing that caught my eye was the approach chosen by the screenwriter and the director to work with the narrative originated by Larson. For those who don't know, “tick, tick... BOOM!” started off as a monologue by Jonathan Larson himself, where he told the story of his trajectory to bring a dystopian musical named “Superbia” to the stage, on the edge of his 30th birthday. And the interesting thing about Levenson's approach is that it has two main perspectives: the film transitions between scenes set in that monologue, performed in 1991, and the reenactments of the events told by Larson during that performance.

The dynamic between these two points of view is done in a very organic manner, in a way that it's almost impossible for the viewer to get lost. It's something that's pretty easy to follow. There's also some parts during these reenactments where the protagonist breaks the fourth wall, talking towards the camera, and simultaneously, towards his audience, in the monologue's perspective. This double perspective ends up mixing the film's main genre, which is the musical, with a hefty amount of drama, some pinches of comedy and even an impressive documentary vibe, especially in the parts that are set in the aforementioned monologue. I thought that creative choice was brilliant, because of the metalanguage it applies to the narrative as a whole.

Another highlight of the screenplay is its pacing, which, making justice to the title, transforms the film into a real ticking bomb. There's an intoxicating feeling of anguish and anxiety which runs through the movie's entire 2-hour runtime. And a great part of why the pacing is that fast can be explained by the screenwriter's choice of taking us into the protagonist's mind, one of the best creative decisions in this adaptation of “tick, tick... BOOM!”. Jonathan Larson spent 8 years of his life writing “Superbia”, isolating himself from the world and his inner circle of friends in order to complete his work under enormous pressure, both because of his expectations for the musical's success, and the effect of the HIV/AIDS epidemic on his life, which, prematurely, led three of his friends to their deaths. And Levenson's screenplay, working in tandem with Garfield's performance and a very well-calculated use of its technical aspects, manages to make the viewers themselves feel that pressure on their skin in an extremely effective way.

Another aspect worth praising in Levenson's work in “tick, tick... BOOM!” is its portrait of Larson's creative process when writing “Superbia”, another advantage coming from the screenplay's immersive approach inside the mind of its protagonist. There are several scenes where, out of nowhere, Jonathan has an idea. Then, he takes a notepad and writes down that idea. There are also several fantasy-like scenes (i.e.: musical numbers) that perfectly help developing Larson's mentality as a songwriter. Two clear examples can be found here: there's a musical sequence set in the diner in which the protagonist works, and several generations of Broadway actors show their faces, singing and dancing in an extremely well-choreographed number; and there's a scene where Jonathan doesn't have any inspiration and goes swimming at a pool, and then, deep down into the pool, he ends up finding the musical notes he needed to write a song.

Another narrative aspect that's worth highlighting in “tick, tick... BOOM!”, even though it's more about Lin-Manuel Miranda's directing than Levenson's screenplay, is all the passion that is put into the film by its cast and crew. I've said this earlier, but it's worth reaffirming: there wasn't anyone more perfect and fitting to helm this project than Lin-Manuel Miranda. From what was stated above, Miranda would be the closest we can get to a 21st-century Jonathan Larson. He's a declarated fan of Larson's work and he's familiar with the creative process of a musical theater writer, and Levenson uses both of these characteristics from the director to please two audiences at the same time: the screenplay introduces the world of musical theater in a very intuitive, didactic way to those who weren't familiar with it; and inserts some delicious references for the most fervent fans of Broadway and Larson's own work, such as “Rent”.

One last highlight I'd like to make about the screenplay of “tick, tick... BOOM!” are the themes it deals with, and they vary from universal ones to some that are more specific of the musical theatre market. The approach of relevant themes such as anguish, anxiety, mental health, depression, chasing your dreams and believing in yourself when no one else does helps the viewer visualize Jonathan Larson's story as one of overcoming obstacles and succeeding in life, even with his premature death. There's a razor-sharp criticism on originality in musical theater, and the way that Miranda and Levenson find of conveying that criticism is nothing but brilliant.

But, the most recurrent theme here, certainly, is that of leaving a legacy, in a way of “what you will leave to the world when you leave”. And the most impressive thing about this theme is how it runs through the entire body of work of both Jonathan Larson and director Lin-Manuel Miranda. In “tick, tick... BOOM!”, Jonathan is constantly worried in completing his musical, which he thinks will be his legacy to the world. In “Rent”, one of the protagonists, Roger, is concerned about writing one last song before he passes away, as an HIV-positive person. In “In the Heights”, the characters keep themselves connected to their forefathers' legacy for their culture to survive. And in “Hamilton”, the title character is constantly worried about the legacy he'll leave to the world. See how Miranda was the perfect person to direct this film?

And, to cap off this screenplay part, an interesting parallel could be made between the HIV/AIDS epidemic and the COVID-19 pandemic, which would give “tick, tick... BOOM!” a necessary, timeless and urgent vein for today's times. Just like AIDS, the coronavirus has taken lots and lots of lives prematurely, and led many people into having problems with anguish, anxiety and even depression, because of the virus's quick and massive proliferation. One reason to justify this parallel could be the film's frenetic and fast pacing, which makes the work feel like a bomb about to explode. That creative choice ends up giving the adaptation an extra symbolic meaning, due to Jonathan Larson's premature death at 35 in 1996.

To sum it up, the screenplay for “tick, tick... BOOM!” manages to successfully portray the creative process of one of musical theater's greatest geniuses, thanks to the inventive approach of its two main perspectives; to the narrative's quick pacing, which injects Jonathan Larson's trajectory with an omnipresent feeling of anguish and anxiety; and to the themes approached in the plot, which give the film a relevant, timeless and necessary feel, awakening possible comparisons between the film's setting and today's times. Here's to hoping it gets nominated to the Oscar for Best Adapted Screenplay!)



Aí vai uma curiosidade: nos palcos, “tick, tick... BOOM!” conta com apenas três pessoas no elenco: um homem interpretando Jonathan; outro homem interpretando o colega de quarto do protagonista, Michael, e os outros personagens masculinos; e uma mulher interpretando a namorada de Jonathan, Susan, e as outras personagens femininas. Na adaptação dirigida por Lin-Manuel Miranda, o maior foco é justamente no trio principal de personagens, ou seja, Jonathan, Michael e Susan, mas há alguns diferenciais que valem a pena destacar, especialmente nos papéis coadjuvantes.

Começando pelo Andrew Garfield, que está impecável aqui. A atuação dele em “tick, tick... BOOM!” é uma daquelas onde o ator simplesmente se torna o personagem, tamanho o compromisso de Garfield com o papel. Além de ser fisicamente muito parecido com Jonathan Larson, o ator faz um ótimo trabalho em transmitir as emoções passando pela cabeça de alguém sob enorme pressão, contando com o auxílio de tiques nervosos e uma manipulação fantástica da voz para exprimir a ansiedade do personagem através da performance física e do diálogo. E ainda por cima, sim, senhoras e senhores: o Espetacular Homem-Aranha (que vai voltar em “Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa”. Pronto, falei. Pode vir, Kevin Feige, que eu não tenho medo de você e do seu boné, não... [Risos]) canta, e demais! Quase nem dá pra acreditar que ele não teve uma aula de canto sequer antes de conseguir o papel. É algo impressionante. Ainda preciso checar os concorrentes, mas Andrew Garfield está atualmente em primeiro lugar na minha lista de favoritos para o Oscar 2022 de Melhor Ator.

Os personagens do Robin de Jesús e da Alexandra Shipp são as principais maneiras utilizadas pelo roteirista para dar continuidade ao desenvolvimento do protagonista, e os dois atores fazem um trabalho muito bom aqui. Eu gostei bastante do Robin de Jesús, especialmente em como ele lida com as expectativas contrastantes entre o futuro de seu personagem e o do melhor amigo. É possível ver, através da atuação de Jesús, que o Michael se importa bastante com o Jonathan. Essa amizade entre os dois é um dos principais fios condutores emocionais de “tick, tick... BOOM!”, e Garfield e Jesús têm uma química inegável juntos, mais forte até do que a de Jonathan com a namorada. Falando em namorada, a Alexandra Shipp tem menos material para trabalhar, em comparação com Jesús, mas ela faz um excelente trabalho ao exprimir a frustração de estar em um relacionamento com alguém que tem outras prioridades. Há uma canção que a personagem dela canta perto do final que é simplesmente maravilhosa. A melhor do filme, eu diria.

Já no lado coadjuvante, temos performances competentes de Vanessa Hudgens, Joshua Henry, Bradley Whitford e Mj Rodriguez. Eu adorei o quão pouco o roteirista nos deixa saber da personagem da Vanessa Hudgens, e no que a atriz falta de desenvolvimento em sua personagem, ela compensa nas canções que ela participa, com uma performance vocal perfeita. Não há muito para o Joshua Henry trabalhar fora do canto, mas pelo menos, ele dá um show nas sequências musicais de seu personagem. O Bradley Whitford interpreta um dos melhores personagens do filme, como uma figura de mentor para o protagonista. Há uma troca de diálogos contrastante e hilária entre o personagem dele e o do Richard Kind que é um dos melhores momentos de alívio cômico no longa. Ele não tem nenhuma parte cantada, mas queria muito que ele fosse indicado à Melhor Ator Coadjuvante. E, por fim, a Mj Rodriguez fica responsável em grande maioria pela exposição de eventos que irão desencadear um desenvolvimento maior por parte do protagonista, sem infelizmente ter o seu próprio desenvolvimento.

(Here's a fun fact: in the stage, “tick, tick... BOOM!” relies on only three cast members: one man playing Jonathan; another man playing the protagonist's roommate, Michael, as well as all other male characters; and a woman playing Jonathan's girlfriend, Susan, as well as all other female characters. In the film adaptation directed by Lin-Manuel Miranda, the larger focus is, indeed, in the main trio of characters, meaning, Jonathan, Michael and Susan, but there are some noticeable differences that are worth highlighting, especially when it comes to supporting characters.

Starting off with Andrew Garfield, who is flawless here. His performance in “tick, tick... BOOM!” is one of those where the actor simply becomes the character he's playing, just to show you how committed Garfield is with his role. Besides being very physically similar to Jonathan Larson, the actor does a great job in conveying every emotion going through the head of someone who's under enormous pressure, relying on the aid of nervous tics and a fantastic manipulation of his voice in order to express his character's anxiety through physical performance and dialogue. And as the cherry on top, yes, ladies and gentlemen: the Amazing Spider-Man (who will return in “Spider-Man: No Way Home”. There, I said it. Come at me, Kevin Feige, I'm not scared of you and your cap... [LOL]) sings, and like a goddamn angel! You almost can't believe that he didn't have one singing lesson prior to him getting the role. It's something impressive. I still gotta check out the competition, but for now Andrew Garfield holds the number one spot for my favorite picks to win the 2022 Oscar for Best Actor.

Robin de Jesús and Alexandra Shipp's characters are the main way used by the screenwriter to continue with the main character's development, and both actors do a really good job here. I really liked Robin de Jesús, especially on how he deals with the contrasting expectations between his character's future and his best friend's. You could actually see, through Jesús's performance, that Michael cares about Jonathan a lot. This friendship between the two of them is one of the main emotional conductive forces of “tick, tick... BOOM!”, and Garfield and Jesús have an undeniable chemistry together onscreen, even stronger than Jonathan's chemistry with his own girlfriend. Speaking of girlfriend, Alexandra Shipp has less material to work with, in comparison to Jesús, but she does an excellent job in expressing the frustration of being in a relationship with someone who has other priorities. There's a song her character sings near the ending that is simply wonderful. The best song in the whole film, I'd say.

In the supporting side, we have competent performances by Vanessa Hudgens, Joshua Henry, Bradley Whitford and Mj Rodriguez. I loved how little the screenwriter lets us know about Vanessa Hudgens's character, and in what the actress lacks in regard of her character's development, she makes it up with the songs she participates in, with a pitch-perfect vocal performance. There's not much for Joshua Henry to work with outside of singing, but at least he gives showstopping performances in his character's musical sequences. Bradley Whitford plays one of the film's best characters, as a mentor figure to the protagonist. There's a contrasting, hilarious dialogue exchange between his character and Richard Kind's, which is one of the film's best comic relief moments. He doesn't have any singing bits, but I really wish he could be nominated for Best Supporting Actor. And, at last, Mj Rodriguez is mainly responsible for the exposition of events that'll trigger a larger development for the protagonist, unfortunately, without her character having a development to call her own.)



Como dito anteriormente, os aspectos técnicos são muito bem utilizados para transmitir o sentimento de ansiedade e angústia, o qual é quase onipresente no roteiro. A direção de fotografia da Alice Brooks trabalha em conjunto com a montagem do Myron Kerstein e do Andrew Weisblum com esse objetivo em mente. Eu gostei bastante como, em alguns dos números musicais, as tomadas são mais prolongadas, enquanto, nas sequências de diálogo, há um uso constante de cortes rápidos. Também achei as transições entre as duas ambientações principais do filme muito bem feitas. Não há nenhuma diferença visível na composição visual dos dois cenários, o que é bom e injeta um tom mais uniforme aos números musicais, os quais, às vezes, ocorrem simultaneamente no monólogo e na dramatização.

Eu preciso ver o filme de novo para ver se minha suposição está certa, mas pelo uso constante de tique-taques pela equipe de edição e mixagem de som, provavelmente deve ter um relógio em cada ambientação. Se for verdade, é um baita de um easter egg no departamento de direção de arte. Além do movimento constante dos ponteiros de um relógio ser um bom método de expressar passagem de tempo, é também uma maneira perfeita de transmitir a ansiedade e a sensação de tempo perdido que passa pela cabeça do protagonista. Pode muito bem ser um dos principais indicados à categoria recém-inaugurada de Melhor Som no Oscar, ano que vem. Os números musicais são muito bem trabalhados. Alguns são mais íntimos, já outros esbanjam na coreografia, o que dá um tom lúdico e jovial às letras compostas por Larson.

E, por fim, temos o que faz um musical ser um musical: a trilha sonora, composta inteiramente por Jonathan Larson. Eu gostei de como a direção escolheu usar algumas canções que não estavam presentes nas montagens de palco feitas após a morte de Larson, mas faziam parte do monólogo inicial da obra. O ritmo delas é basicamente o mesmo de “Rent”, então se você curte as músicas daquele musical, tem altas chances de gostar dessas aqui. Os temas abordados nas canções são basicamente os mesmos trabalhados no roteiro, e há três músicas em particular que gostaria de destacar: a música de abertura, que consegue ser meio deprimente, mas ao mesmo tempo viciante; o dueto do Jonathan com o Michael, que possui uma dualidade fantástica, sendo uma canção de rock e, ao mesmo tempo, algo composto pela Disney; e a canção cantada pelas personagens da Vanessa Hudgens e Alexandra Shipp, que pode muito bem ser a melhor música do filme inteiro. Uma pena que estas canções já foram lançadas antes da adaptação, porque se não fosse o caso, o Oscar já ia para elas.

(As previously stated, the technical aspects are very well used to convey the feeling of anxiety and anguish, which is almost omnipresent in the screenplay. Alice Brooks's cinematography works in tandem with Myron Kerstein and Andrew Weisblum's editing with that objective in mind. I really enjoyed how, in some of the musical numbers, the shots are more overlong, yet, in the dialogue sequences, there's a constant use of rapid, quick cuts. I also thought that the transitions between the film's main two settings were really well done. There isn't any visible difference in the visual composition of both sets, which is good and injects a more uniform tone to the musical numbers, which, sometimes, occur simultaneously in the monologue and in the reenactment.

I need to see the film again to see if my suspicions are right, but because of the constant use of clock ticking by the sound editing and mixing teams, there's probably a watch or a clock in every single set. If it's true, it's one hell of an easter egg in the production design department. Besides the fact that the constant movement of the hands of a clock is a good method of portraying the passage of time, it's also a perfect way of conveying the anxiety and the feeling of lost time that have been going through the protagonist's head. It might as well be one of the main nominees to the recently renamed Best Sound category in next year's Oscars. The musical numbers are very well worked through. Some of them are more intimate, yet others run wild when it comes to choreography, which gives a playful, youthful tone to Larson's lyrics.

And, finally, we have what makes a musical a musical: the soundtrack, composed entirely by Jonathan Larson. I liked how the directing chose to use a few songs that weren't in the stage musical's productions after Larson's death, but were a part of the work's initial monologue production. Their rythym is very similar to those from “Rent”, so if you liked the songs from that musical, there's a high chance you'll like these ones. The themes approached in the songs are basically the same ones worked in the screenplay, and there are three particular songs I'd like to highlight: the opening song, which manages to be a little depressing, yet highly addictive; Jonathan's duet with Michael, which has an amazing duality, being a rock song and, simultaneously, something composed by Disney; and the song sung by Vanessa Hudgens and Alexandra Shipp's characters, which might as well be the best one in the entire film. Too bad these songs were already released before the film, because, if otherwise, they would've made it big at the Oscars.)



Resumindo, “tick, tick... BOOM!” não é só o melhor musical do ano, mas também um dos melhores filmes de 2021. Guiado pela direção apaixonada (e estreante) de Lin-Manuel Miranda; um roteiro imersivo, necessário e inventivo; a melhor atuação da carreira de seu protagonista; aspectos técnicos que esteticamente acentuam os temas principais da trama e um conjunto de canções digno de estar na playlist de qualquer amante da Broadway, o filme consegue mergulhar fundo no processo criativo de um dos maiores gênios do teatro musical, sendo uma bela homenagem à uma estrela em ascensão que parou de brilhar cedo demais.

Nota: 10 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “tick, tick... BOOM!” is not only the best movie musical of the year, but also one of the best films of 2021. Led by Lin-Manuel Miranda's passionate (and debut) direction; an immersive, necessary and inventive screenplay; a career-best performance by its protagonist; technical aspects that aesthetically enhance the plot's main themes and a set of songs that's worthy of being in any Broadway lover's playlist, the film manages to dive deep into the creative process of one of musical theater's greatest geniuses, being a beautiful homage to a rising star that stopped shining way too soon.

I give it a 10 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)


segunda-feira, 22 de novembro de 2021

"A Crônica Francesa": a carta de amor de Wes Anderson ao espírito vibrante do jornalismo (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para trazer a resenha do filme que eu estava mais esperando para ver nos últimos 2 anos! Munido de um roteiro que traduz a leitura de uma revista de forma extremamente fiel para as telas; aparições breves, mas eficientes, de um elenco mega talentoso; e aspectos técnicos que destacam o teor eclético e dinâmico de um dos movimentos mais importantes da história do cinema, o filme em questão encontra o diretor Wes Anderson em sua obra mais pessoal desde “Moonrise Kingdom”, dedicando uma verdadeira carta de amor ao espírito vibrante do jornalismo. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “A Crônica Francesa”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to bring the review of the film I was most excited to watch in the last 2 years! Armed with a screenplay that faithfully translates the reading of a magazine to the screen; brief, yet effective, appearances by a mega talented cast; and technical aspects that highlight the eclectic and dynamic tone of one of the most important movements in cinema history, the film I'm about to review finds director Wes Anderson in his most personal work since “Moonrise Kingdom”, dedicating a true love letter to the vibrant spirit of journalism. So, without further ado, let's talk about “The French Dispatch”. Let's go!)



Ambientado após a Segunda Guerra Mundial, o filme acompanha uma equipe de jornalistas americanos que trabalha na filial francesa de uma revista originada no estado do Kansas, nos EUA. Após a morte do editor-chefe (Bill Murray) da publicação, os jornalistas se reúnem para montar uma última edição contendo as três melhores matérias publicadas na revista em seus 50 anos de existência: o perfil de um artista encarcerado por assassinato (Benicio del Toro), e sua ascensão à fama inesperada; a documentação de uma série de protestos estudantis liderados por um jovem enxadrista (Timothée Chalamet), os quais levam à uma verdadeira revolução; e a história de como um chef de cozinha da polícia (Stephen Park) encontra a solução improvável para o sequestro de uma criança.

(Set after World War II, the film follows a staff of American journalists who work in a French foreign bureau of a magazine created in the state of Kansas, in the United States. After the death of their editor-in-chief (Bill Murray), the journalists gather together in order to assemble one last issue containing the three best stories published by the magazine in its 50 years of existence: the profile of an artist who's incarcerated for murder (Benicio del Toro), and his ascension to unexpected fame; the recording of a series of student protests led by a young chess player (Timothée Chalamet), which lead to a real revolution; and the unlikely solving of the kidnapping of a child by a police cook (Stephen Park).)



Acho que eu nem preciso dizer que minhas expectativas estavam muito, mas MUITO altas para ver “A Crônica Francesa”. Primeiro, por se tratar do décimo filme de Wes Anderson (responsável por filmes como “Moonrise Kingdom”, meu filme favorito, e “O Fantástico Sr. Raposo”), que é simplesmente meu diretor favorito, como a grande maioria dos meus leitores certamente deve saber. Segundo, por ser um filme sobre jornalismo. Para aqueles que ainda não sabem, estou atualmente cursando Jornalismo na faculdade, então, dá até pra imaginar a minha reação quando descobri que o meu diretor favorito estava fazendo um filme sobre a carreira que eu pretendia seguir.

Terceiro, pelo elenco estelar que o diretor conseguiu reunir, o qual inclui nomes já conhecidos para Anderson, como Bill Murray, Frances McDormand, Adrien Brody, Owen Wilson e Tilda Swinton, mas também conta com a presença de marinheiros de primeira viagem na carreira cinematográfica do cineasta, como Timothée Chalamet, Lyna Khoudri, Jeffrey Wright, Benicio del Toro e Christoph Waltz. E em quarto e último lugar, pelo filme contar com o retorno da grande maioria da equipe técnica que fez magia nas telonas com “O Grande Hotel Budapeste”, filme de Anderson que ganhou 4 Oscars em 2015, incluindo Melhor Direção de Arte e Melhor Trilha Sonora Original.

Então, sim, pode-se dizer que eu estava bem animado para ver “A Crônica Francesa”, tanto que coloquei o filme em primeiro lugar nas listas que fiz dos filmes que queria mais ver em 2020 e em 2021, pois infelizmente, a nova obra de Anderson foi uma das várias que teve seu lançamento adiado pela pandemia de COVID-19. As primeiras reações ao filme vindas de Cannes, onde “A Crônica Francesa” foi aplaudido por 9 minutos consecutivos, me animaram bastante, especialmente por se tratar de uma antologia, de modo que o roteiro conta com três histórias independentes uma da outra. Minhas expectativas estavam tão altas que tive que viajar para assistir ao filme, já que ele não seria exibido na cidade onde eu moro.

E fico extremamente satisfeito em dizer que, mesmo que “A Crônica Francesa” não seja o melhor filme do diretor, minhas expectativas foram atendidas (e até superadas, em alguns aspectos) com sucesso. Ok, com isso dito, vamos falar do roteiro. Escrito por Anderson, e contando com colaborações de Roman Coppola, Hugo Guinness e Jason Schwartzman, pode-se dizer que o enredo de “A Crônica Francesa” é o mais minimalista elaborado pelo cineasta, de modo que não se faz presente aquele envolvimento emocional característico dos filmes do diretor, como em “Os Excêntricos Tenenbaums”, “Moonrise Kingdom” e “O Grande Hotel Budapeste”, mas como qualquer coisa feita por Wes Anderson, há um motivo bastante claro para isso acontecer.

Como uma homenagem ao trabalho feito por jornalistas expatriados em revistas como a The New Yorker, clara inspiração para a estética da revista-título, o filme tenta simular a leitura de uma revista jornalística, feita de maneira rápida e temporária, mas com o objetivo de despertar a vontade no espectador de assistir ao filme novamente, para perceber todos os detalhes colocados em cada história, assim como é possível ocorrer na leitura de uma matéria jornalística marcante de uma publicação. E é por isso que o formato de antologia foi o modo ideal de contar essa história em particular, mesmo sendo bem diferente do que estamos acostumados a ver do diretor.

Mas não se enganem: o filme pode mudar uma coisa ou outra em relação à “fórmula” de marcas registradas estabelecidas pelo cineasta ao longo de sua carreira, mas “A Crônica Francesa” ainda é um filme de Wes Anderson, em sua essência. O passo acelerado da história, a maneira rápida e dinâmica com que os atores manipulam seus diálogos, os planos fotográficos mais centralizados e simétricos, a câmera acompanhando um personagem e percorrendo um cenário na horizontal, o senso de humor excêntrico de seus personagens emocionalmente abalados, a estética dos cenários em tons pastel, a trilha sonora dos anos 1960 e 1970. Tudo aqui, narrativamente e visualmente, é parte daquilo que viemos a esperar de um filme de Wes Anderson.

Como qualquer antologia, as histórias independentes de “A Crônica Francesa” divergem, em termos de qualidade, mas todas as três têm ao menos uma mensagem interessante a ser transmitida. A primeira, a do artista encarcerado por assassinato, é a mais engraçada das três. Ela contém alguns dos personagens mais excêntricos de Anderson, os quais serão levados a fundo mais à frente, e há um momento metalinguístico muito criativo para simular uma espécie de passagem de tempo. Há uma mensagem crítica bem interessante ao verdadeiro significado da arte, e como, muitas vezes, este significado passa batido por pessoas que desejam ganhar fama e glória por cima dos próprios artistas, cientes do que suas obras significam para eles mesmos.

A segunda, sobre os protestos estudantis, é a mais narrativamente “parada” das três, mas por ser mais lenta, acaba tendo várias semelhanças com os filmes da Nouvelle Vague, movimento que deu origem à obras como “Acossado”, de Godard, e “Os Incompreendidos”, de Truffaut, inspirações claras para este segmento em particular. Eu gostei bastante da relação entre os dois protagonistas da história, e isso foi, pra mim, o principal destaque dela. O senso de humor característico e dinâmico de Anderson também se faz presente aqui, especialmente através do personagem de Timothée Chalamet. E além de ser uma homenagem esteticamente perfeita à Nouvelle Vague, o segundo segmento possui uma mensagem brilhante sobre o legado que várias figuras revolucionárias deixam, e como as pessoas que apoiam os movimentos criados por estas figuras, muitas vezes, não têm consciência de metade do que aquele movimento significa, só seguindo-o por “estar na moda”.

A terceira, sobre o sequestro solucionado por um chef de cozinha, é a melhor das três. É, simultaneamente, o segmento que mais parece algo feito pelo Wes Anderson, e o que possui mais fluidez, realmente parecendo uma matéria jornalística. O primeiro se dá pelo fato da história ter um foco maior no repórter que a está redigindo do que na pessoa sobre a qual o repórter está escrevendo. Ao contrário das duas outras histórias, aprendemos muito sobre o pano de fundo do Roebuck Wright, interpretado pelo Jeffrey Wright, e, por causa disso, aprendemos a ter uma empatia emocional maior por ele do que pelas outras duas jornalistas, interpretadas por Tilda Swinton e Frances McDormand.

O segundo se dá justamente pela onipresença e onisciência do jornalista em relação à reportagem que ele está redigindo. Existem usos incríveis de quebra da quarta parede e narração em voice-over feitos neste segmento em particular, permitindo que o espectador se sinta completamente imerso na ação. Há até uma parte animada neste capítulo, o que pode ser uma semi-referência às narrativas transmidiáticas, onde a mesma história tem um complemento publicado em um meio diferente do original. E, para consolidar esta narrativa como a melhor em “A Crônica Francesa”, há uma troca de diálogos extremamente tocante entre o repórter e o chef de cozinha, que diz muito sobre como é trabalhar como expatriado em uma nação estrangeira.

Mas, mesmo que as histórias tenham suas mensagens particulares, todos os três segmentos possuem um ponto em comum: todos conseguem ir direto ao ponto e se conectar ao que eu considero ser a verdadeira essência do jornalismo, algo que também me chamou a atenção em “Quase Famosos”, um dos melhores filmes sobre a carreira que eu já vi. Fazer jornalismo não se resume à perseguir um furo, ou à procurar alguma tragédia para noticiar. Fazer jornalismo é obter relatos de pessoas que podem não receber espaço nas páginas de um jornal, é fazer o invisível se sentir visto pelos outros, é não se render às demandas do mercado e confiar naquilo que se escreve. Ou seja, jornalismo é uma das várias formas de contar histórias, é uma forma de deixar o legado das pessoas relatadas nas matérias para os leitores daquela publicação.

Nesse ponto de vista, “A Crônica Francesa” é definitivamente um dos melhores filmes sobre jornalismo que eu já vi, e é um filme essencial para aqueles que desejam seguir essa carreira. Não é o melhor filme de Wes Anderson, por faltar aquele investimento emocional nos personagens, mas a estrutura narrativa do roteiro faz um trabalho brilhante em traduzir, de maneira extremamente fiel, a leitura de uma boa revista jornalística para as telonas, e em refletir a paixão do diretor pelos jornalistas expatriados que o inspiraram, atendendo e superando as minhas expectativas com sucesso. Mal posso esperar pela chance de assisti-lo de novo!

(I think I don't even have to say that my expectations were very, VERY high to watch “The French Dispatch”. Firstly, because it was the tenth film directed by Wes Anderson (who's responsible for films like “Moonrise Kingdom”, my favorite movie, and “Fantastic Mr. Fox”), who is simply my favorite director of all time, as the great majority of my readers certainly know by now. Secondly, because it is a film about journalism. To those who still don't know, I'm currently studying Journalism in college, so, you can even imagine my reaction when I found out that my all-time favorite director was making a film about the career I intended to follow.

Thirdly, because of the star-studded cast the director was able to assemble, which includes names that are already familiar to Anderson, such as Bill Murray, Frances McDormand, Adrien Brody, Owen Wilson and Tilda Swinton, as well as first-timers in the filmmaker's cinematic career, such as Timothée Chalamet, Lyna Khoudri, Jeffrey Wright, Benicio del Toro and Christoph Waltz. And in fourth and last place, because it relied on the return of most of the technical crew that made movie magic with “The Grand Budapest Hotel”, one of Anderson's films, which won 4 Oscars in 2015, including Best Production Design and Best Original Score.

So, yes, it can be said that I was really excited to watch “The French Dispatch”, so excited that I put it in first place in the lists I've made of my most anticipated films of both 2020 and 2021, because unfortunately, Anderson's new work was one of many that had their releases delayed by the COVID-19 pandemic. The film's first reactions arriving from Cannes, where “The French Dispatch” received a 9-minute standing ovation, left me really excited, especially because it was an anthology, meaning that the screenplay relies on three independent stories that stand on their own feet. My expectations were so high, that I had to travel in order to see the film, as it wasn't being shown in the city I live in.

And I'm extremely satisfied to say that, even though “The French Dispatch” isn't the director's best film, my expectations were successfully met (and even exceeded, in some aspects). Okay, with that said, let's talk about the screenplay. Written by Anderson, relying on collaborations by Roman Coppola, Hugo Guinness and Jason Schwartzman, it can be said that the plot for “The French Dispatch” is the most minimalist one the filmmaker has concocted so far, as it doesn't have that characteristic emotional involvement in the director's films, such as in “The Royal Tenenbaums”, “Moonrise Kingdom” or “The Grand Budapest Hotel”, but just like everything Wes Anderson has made, there's a very specific reason why that actually happens.

As a homage paid to the work done by expatriate journalists for magazines like The New Yorker, which is a clear inspiration for the title magazine's aesthetic, the film tries to simulate the reading of a journalistic magazine, done in a quick, temporary way, but with the objective of making the viewer want to watch it again, to notice every single detail put in each story, as it is also likely to happen with the reading of a distinctive journalistic story published in a newspaper or magazine. And that's why the anthology format was the most ideal one to use for this story in particular, even though it's quite different from what we're used to see from the director.

But don't get me wrong: the film might change one thing or another in the “formula” of trademarks that were established by the filmmaker throughout his career, but “The French Dispatch” is still a Wes Anderson film, in its essence. The quickened, lightning-fast pace of the story, the rapid and dynamic way in which the actors manipulate their dialogue, the more centralized and symmetrical photographic shots, the camera following a character and horizontally going through a whole setting, his emotionally unstable characters' quirky sense of humor, the settings' aesthetic in pastel-coloured palettes, the soundtrack from the 1960s and 1970s. Everything here, both narratively and visually, is part of what we would come to expect from a Wes Anderson film.

As in any anthology, the independent stories in “The French Dispatch” diverge, when it comes to quality, but all three of them have at least one interesting message to convey to the audience. The first one, with the artist who's incarcerated for murder, is the funniest of the three. It contains some of Anderson's quirkiest characters, which will be dealt with later on, and there's an extremely creative meta moment to simulate a time passage of sorts. There's a really interesting critical message on the true meaning of art, and how, many times, that meaning goes over the heads of people who wish to gain money and glory over the artists themselves, who are aware of what their work means to them.

The second one, about the student protests, is the most narratively stalled of the bunch, but because it's slower, it ends up having several similarities with the films in the French New Wave, a movement that gave birth to works such as Godard's “Breathless” and Truffaut's “The 400 Blows”, which were clear inspirations to this particular segment. I really enjoyed the relationship between the story's two protagonists, and that was, to me, its main highlight. Anderson's distinctive and dynamic sense of humor marks its presence here, especially through Timothée Chalamet's character. And besides its aesthetically perfect homage to the French New Wave, the second segment has a brilliant message on the legacy left by revolutionary figures, and how the people who support the movements started by these figures, many times, aren't aware of half of what that movement means, only following it because “it's in fashion”.

The third one, about the kidnapping that's solved by a police cook, is the best one of the three. It's, simultaneously, the one that most feels like something Wes Anderson would've done, and the one which has the most fluidity, really sounding like a journalistic story. It feels like something Wes did because the story has a bigger focus on the reporter who's writing it rather than the person of which the reporter is writing about. Unlike the other two stories, we end up learning a lot from the background of Roebuck Wright, played by Jeffrey Wright, and, because of that, we learn to have a bigger emotional empathy for him than we did for the other two journalists, portrayed by Tilda Swinton and Frances McDormand.

It feels like a journalistic story because of the omnipresence and omniscience the journalist displays over the story he's writing. There are some amazing uses of fourth-wall breaking and voice-over narrating in this particular segment, allowing the viewer to feel all the more immersed into the action in the story. There's even an animated bit in this chapter, which might be a semi-reference to transmedia narratives, in which the same story has some kind of complement published in a medium that's different from the original one. And, to cement this narrative as the best one in “The French Dispatch”, there's a really touching exchange of dialogue between the reporter and the police cook, which says a lot about how it is to work as an expatriate in a foreign nation.

But, even though the stories had their own particular messages, all three segments have something in common: all of them manage to go straight to the point, and connect to what I think is the true essence of journalism, something that also caught my attention in “Almost Famous”, one of the best films about the journalistic career I've ever seen. Making journalism isn't just chasing a scoop to report, or looking for your run-of-the-mill tragedy to write about. Making journalism is obtaining stories from people who might not get enough space on the pages of a newspaper, it's making the invisible feel seen by the others, it's not surrendering to the market's demands and trusting what you write. In other words, journalism is one of many ways of storytelling, it's a way of leaving the legacy of the people portrayed in those stories to the readers of that publication.

In that point of view, “The French Dispatch” is definitely one of the best films about journalism that I've ever seen, and it is essential viewing to those who wish to follow that particular career. It's not Wes Anderson's best film, as it lacks that emotional investment in the characters, but the screenplay's narrative structure does a brilliant job of translating, in an extremely faithful way, the reading of a good journalistic magazine to the big screen, and of reflecting the director's passion towards the expatriate journalists who inspired him, successfully meeting and exceeding my expectations. I just can't wait until I get the chance to watch it again!)



Diferente dos outros filmes de Wes Anderson, onde cada membro do elenco tem um papel recorrente a cumprir na trama geral, em “A Crônica Francesa”, grande parte dos atores presentes neste grande elenco é reduzida à participações curtas, em parte pelo formato escolhido pelo diretor. Mas, felizmente, cada um consegue marcar seu território com o que lhe é oferecido, mesmo que há um maior destaque para alguns do que para outros. A Tilda Swinton tem aqui um dos seus papéis mais engraçados. Há uma extravagância presente na performance física dela, a qual serve de contraste para uma melancolia reprimida que é revelada aos poucos. É impossível não gostar dos personagens do Adrien Brody em filmes do Wes Anderson. O personagem dele aqui é bem diferente, por exemplo, do Dmitri de “O Grande Hotel Budapeste”, mas a maneira rápida com a qual ele manipula seus diálogos é algo impagável.

O Benicio del Toro tem uma dinâmica muito boa com a Léa Seydoux, onde a natureza emocional e intelectualmente perturbada do personagem dele faz um contraste perfeito com a rigidez e a frieza da personagem dela. Eu queria ter visto mais do Owen Wilson, cujo personagem assume um protagonismo hilário em um curto segmento antes da primeira história. A Frances McDormand está excelente aqui, como é de se esperar de uma vencedora de 3 Oscars de Melhor Atriz. A performance dela é um dos melhores retratos de solidão e melancolia que eu vi em um filme do Wes Anderson desde o Richie em “Os Excêntricos Tenenbaums”. O Timothée Chalamet caiu como uma luva no conceito da história que ele protagoniza. Ele é um dos personagens mais excêntricos e engraçados do filme, e é bem interessante ver como as performances do ator e de McDormand se complementam perfeitamente.

O melhor personagem do filme, de longe, é o jornalista interpretado pelo Jeffrey Wright, cuja presença é tão imponente e marcante que o espectador acaba desejando que o filme inteiro fosse visto sob o ponto de vista dele. A voz e a performance física de Wright em “A Crônica Francesa” me lembraram muito das narrações e participações do apresentador e roteirista Rod Serling nos episódios da série clássica “Além da Imaginação”, ou como é mais conhecida, “The Twilight Zone”. Eu não descartaria uma indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante para ele ano que vem. Eu também gostei bastante do Stephen Park, que, mesmo com poucas falas, consegue dizer muito sobre seu personagem. E, é claro, temos o Bill Murray, que tem pouquíssimas cenas, mas seu personagem cumpre perfeitamente um papel de mentor para os seus jornalistas, e é bem legal ver ele agindo como o “paizão” da equipe, motivando-os a escreverem com vigor e paixão, do jeito mais Bill Murray possível.

Além dos já citados, há aparições curtas, mas eficientes, de atores como Willem Dafoe, Henry Winkler, Bob Balaban, Lyna Khoudri, Alex Lawther, Christoph Waltz, Elisabeth Moss, Jason Schwartzman, Edward Norton, Mathieu Amalric, Saoirse Ronan, Tony Revolori, Lois Smith, Rupert Friend, Cécile de France, Liev Schreiber, Denis Menochet, Fisher Stevens, Wally Wolodarsky, Griffin Dunne e Anjelica Bette Fellini, que fazem um ótimo trabalho com o que é oferecido aos seus personagens. E, para fechar o elenco com chave de ouro, temos a voz de Anjelica Huston como narradora do filme em geral, com o trabalho dela aqui me lembrando muito das narrações em voice-over do Alec Baldwin em “Os Excêntricos Tenenbaums” e do Jude Law e Tom Wilkinson em “O Grande Hotel Budapeste”.

(Unlike other films by Wes Anderson, where each member of the cast has a recurring role to fulfill in the general plot, in “The French Dispatch”, a great part of the actors present in this grand cast is reduced to short appearances, partly because of the format the director chose for this film in particular. But, fortunately, every actor manages to make their mark with what's offered to their characters, even if some are better highlighted than others. Tilda Swinton finds one of her funniest roles here. There's an extravagance of sorts in her physical performance, which is a worthy contrast to a repressed melancholy that's slowly unfolding. It's impossible not to like Adrien Brody's characters in Wes Anderson films. His character here is quite different from, let's say, Dmitri from “The Grand Budapest Hotel”, but the lightning-fast way with which he manipulates his dialogue delivery is something to behold.

Benicio del Toro has a very good dynamic with Léa Seydoux, where his character's emotionally and intellectually disturbed nature makes a perfect contrast with her character's more rigid, cold and dead-serious nature. I wish I could've seen more of Owen Wilson, whose character assumes a hilarious main role in a short segment before the first story. Frances McDormand is excellent here, as it is expected from a 3-time Oscar winner for Best Actress. Her performance is one of the best portrayals of loneliness and melancholy I've seen in a Wes Anderson film since Richie in “The Royal Tenenbaums”. Timothée Chalamet fit like a glove in the concept of the story in which he plays a main role. He's one of the film's most eccentric and funny characters, and it's pretty interesting to see how the actor's and McDormand's performances are perfect complements to each other.

The film's best character, by far, is the journalist played by Jeffrey Wright, whose presence is so imposing and mesmerizing that the viewer ends up wishing that the entire movie could be seen under his point of view. Wright's voice and physical performance in “The French Dispatch” reminded me a lot of the voice-over narrations and appearances by host and head writer Rod Serling in the episodes of the classic 1959 series “The Twilight Zone”. I wouldn't discard a possible nomination for Wright to the Oscar for Best Supporting Actor next year. I also really liked Stephen Park, who, even with a small amount of lines, managed to tell us a lot about his character. And, of course, there's Bill Murray, who has very little appearances throughout the film, but his character perfectly fulfills a mentor role for his journalists, and it's pretty fun to see him acting as a father figure of sorts, in a way that only Bill Murray can do it.

Besides those already mentioned, there are short, yet effective appearances by actors like Willem Dafoe, Henry Winkler, Bob Balaban, Lyna Khoudri, Alex Lawther, Christoph Waltz, Elisabeth Moss, Jason Schwartzman, Edward Norton, Mathieu Amalric, Saoirse Ronan, Tony Revolori, Lois Smith, Rupert Friend, Cécile de France, Liev Schreiber, Denis Menochet, Fisher Stevens, Wally Wolodarsky, Griffin Dunne and Anjelica Bette Fellini, who do a great job with what's offered to their characters. And, to finish off the cast with a bang, we have Anjelica Huston's voice as the film's general narrator, with her work here reminding me a lot of Alec Baldwin's voice-over narrations in “The Royal Tenenbaums” and Jude Law's and Tom Wilkinson's work in “The Grand Budapest Hotel”.)



A grande maioria das marcas registradas do diretor está contida nos aspectos técnicos de seus filmes, e praticamente tudo que faz os visuais de Wes Anderson serem distintos se faz presente aqui, com algumas modificações interessantes. O trabalho do Robert D. Yeoman na direção de fotografia aqui está em outro nível, em comparação às suas colaborações anteriores com Anderson. Há uma sequência prolongada (ou, graças à montagem precisa de Andrew Weisblum, ela ao menos nos dá a impressão de ser prolongada) que acompanha um garçom que precisa chegar à sede da revista As Crônicas Francesas. O enquadramento continua sendo o mesmo, enquanto vemos o garçom viajar por ele, começando pelo canto inferior esquerdo da imagem e terminando no canto superior direito, como se fosse um verdadeiro labirinto.

Outro diferencial do trabalho de Yeoman em “A Crônica Francesa” é o uso simultâneo de fotografia em cor e preto-e-branco. A grande maioria das cenas pertencentes às histórias são em preto-e-branco, o que dá ao espectador a impressão de estar assistindo à um flashback. Mas, em certos momentos, em especial momentos onde o preto-e-branco não daria o destaque necessário para o que está sendo mostrado em tela, Yeoman muda para a fotografia em cores, o que dá às imagens retratadas um tom mais vibrante e vivo. Essa dinamicidade na direção de fotografia foi um dos maiores diferenciais deste novo filme de Wes Anderson, em comparação aos anteriores.

Eu gostei bastante do fato da direção de arte não ser tão exorbitante e luxuosa como a de “O Grande Hotel Budapeste”, por exemplo. Pelo contrário, temos como ambientação principal a cidadezinha francesa fictícia de Ennui-sur-Blasé, que se traduzida, seria algo como “Tédio e Cansaço”. Ou seja, é um lugar essencialmente monótono, sujo e decadente, e o contraste entre o mundano da ambientação e o extraordinário contido nas histórias é algo surpreendentemente visível. Além dos clássicos tons pastel de Anderson, temos aqui um uso bem pensado de tons em cinza, algo mais desbotado, o que me pegou até de surpresa, de modo positivo.

Dou um destaque em especial para a sequência de animação perto da conclusão da terceira história. O uso das cores vibrantes e o tom noturno da cena me lembraram muito dos traços usados pelo cartunista belga Hergé nos quadrinhos do repórter Tintim (outra inspiração para que eu seguisse a carreira de jornalista) e também de algumas das sequências em animação 2D no filme “Ilha dos Cachorros”, do próprio Wes Anderson. Há uma leveza característica dos filmes do diretor e até um teor surreal aplicado à cena, o que eu achei bem-vindo, já que o que acontece nela é algo extremamente improvável de acontecer na vida real.

E por fim, temos a trilha sonora original, composta por Alexandre Desplat, responsável pela trilha sonora vencedora do Oscar de “O Grande Hotel Budapeste”. Assim como o próprio roteiro, as faixas de Desplat assumem um tom bem minimalista, o que acaba por dar uma veia mais jovial e lúdica às composições que embalam as histórias do roteiro. Foi algo bem parecido com o trabalho do compositor em “O Fantástico Sr. Raposo”, primeira animação em stop-motion de Wes Anderson. E na trilha sonora compilada, temos já de cara o clássico “Aline”, de Christophe, em uma roupagem nova de Jarvis Cocker, e canções de artistas como Grace Jones, Gus Viseur, Charles Aznavour e Ennio Morricone, que injetam a história de Anderson com um tom deliciosamente vintage.

(The great majority of the director's trademarks is contained within his films' technical aspects, and practically everything that makes Wes Anderson's visuals feel distinctive marks its presence here, along with a few interesting modifications. Robert D. Yeoman's work in the cinematography here is on a whole 'nother level, in comparison with his previous collaborations with Anderson. There's a prolonged sequence (or, thanks to Andrew Weisblum's precise editing, it at least gives us the impression of being prolonged) that follows a waiter who needs to get to the headquarters of the French Dispatch magazine. The frame remains the same, while we see the waiter travel through it, starting from the image's lower left side and finishing it on its top right side, as if it was one hell of a labyrinth.

Another distinctive look in Yeoman's work in “The French Dispatch” relies on the simultaneous use of color and black-and-white cinematography. The great majority of scenes that belong to the stories are in black-and-white, which gives the viewer the impression that they're watching a flashback. But, during certain moments, especially moments where the black-and-white wouldn't give the needed highlight to what's being shown on-screen, Yeoman switches to color cinematography, which gives a more vibrant, alive tone to the images portrayed. This dynamic nature in the cinematography was one of the biggest distinctive qualities of this new Wes Anderson film, in comparison to previous ones.

I really enjoyed the fact that the production design isn't as classy and luxurious like in “The Grand Budapest Hotel”, for example. On the contrary, we have as our main setting the fictional French town of Ennui-sur-Blasé, which if translated, works out as something like “Boredom-on-Apathy”. Meaning, it's an essentially monotonous, dirty, and decadent place, and the contrast between the mundane of the setting and the extraordinary contained in the stories is something that's surprisingly visible. Besides Anderson's classic pastel-coloured tones, we have here a well-calculated use of gray-ish tones, something a little more faded, which even caught me by surprise, in a positive way, of course.

I give a special highlight to the animation sequence set near the conclusion of the third and final story. The use of vibrant colors and the nocturnal tone of the scene reminded me a lot of Belgian cartoonist Hergé's drawings and art in the comics featuring reporter Tintin (another inspiration for me to follow through with a journalist career) and also some of the 2D animated sequences in the film “Isle of Dogs”, directed by Wes Anderson himself. There's a lightness that's characteristic of the director's films, as well as a surreal tone applied to the scene, which was welcome, as it's extremely unlikely that something like that scene could ever happen in real life.

And at last, we have the film's original score, composed by Alexandre Desplat, who's responsible for the Oscar-winning original score for “The Grand Budapest Hotel”. Just like the screenplay itself, Desplat's tracks assume a more minimalist tone, which ends up injecting them with a youthful, playful feel to the compositions that are played throughout the screenplay's stories. It was something really similar to the composer's work in “Fantastic Mr. Fox”, Wes Anderson's first stop-motion animated film. And, in the compiled soundtrack, we have Christophe's classic, “Aline”, under a new recording by Jarvis Cocker, as well as songs by artists like Grace Jones, Gus Viseur, Charles Aznavour and Ennio Morricone, which inject Anderson's story with a deliciously vintage vibe.)



Resumindo, “A Crônica Francesa” é uma verdadeira carta de amor de Wes Anderson ao espírito vibrante do jornalismo. Composto por um roteiro que traduz fielmente a leitura de uma boa revista jornalística para as telonas, um elenco pra lá de talentoso, e praticamente todas as marcas registradas visuais e estéticas do diretor, o décimo filme de Anderson é um prato cheio para seus fãs mais cultuados e uma homenagem bela aos jornalistas expatriados que o inspiraram.

Nota: 9,5 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “The French Dispatch” is Wes Anderson's true, passionate love letter to the vibrant spirit of journalism. Composed by a screenplay that faithfully translates the reading of a good journalistic magazine to the big screen, an obscenely talented cast, and practically every one of the director's visual and aesthetic trademarks, Anderson's tenth film is a well-served complete course for his most dedicated fans and a beautiful homage to the expatriate journalists who inspired him.

I give it a 9,5 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)


sexta-feira, 19 de novembro de 2021

"Saga", de Brian K. Vaughan e Fiona Staples - Vols. 1-9: a melhor HQ da atualidade (Bilíngue)

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Todas as boas histórias para crianças são as mesmas: jovem criatura quebra regras, tem uma incrível aventura, aí retorna para casa com o conhecimento que as regras mencionadas estão lá por uma razão. É claro, a verdadeira mensagem para o leitor atento é: quebre as regras frequentemente quando puder, porque quem diabos não quer ter uma aventura?” - D. Oswald Heist

(“All good children's stories are the same: young creature breaks rules, has incredible adventure, then returns home with the knowledge that aforementioned rules are there for a reason. Of course, the actual message to the careful reader is: break the rules as often as you can, because who the hell doesn't want to have an adventure?” - D. Oswald Heist)


E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para falar sobre uma das melhores leituras que fiz neste ano! Quebrando todas as regras do meio, e abordando temas relevantes, sensíveis e surpreendentemente humanos, mesmo em meio à um cenário fantasioso, a obra em questão conta uma história original, ousada, viciante e cativante, povoada por personagens fascinantes e reviravoltas chocantes que deixarão o leitor ansioso e faminto para o que está por vir. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre os volumes 1 a 9 de “Saga”, série de histórias em quadrinhos escrita por Brian K. Vaughan e ilustrada por Fiona Staples. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to talk about one of the best reads I've had the pleasure of doing this year! Breaking all the rules in the medium, and dealing with relevant, sensitive and surprisingly human themes, even if amidst a fantasy scenario, the work I'm about to review tells an original, bold, addictive and captivating story, which is populated by utterly fascinating characters and shocking twists that will leave the viewer anxious and hungry for what comes next. So, without further ado, let's talk about volumes 1-9 of “Saga”, a comic book series written by Brian K. Vaughan and illustrated by Fiona Staples. Let's go!)



A série de quadrinhos acompanha a jornada de Alana e Marko, dois soldados de mundos diferentes que se encontram em constante guerra um com o outro. Ela, uma oficial pertencente à um planeta altamente tecnológico, e ele, um prisioneiro de guerra nativo da lua repleta de magia que orbita ao redor do planeta inimigo, se apaixonam e têm uma filha juntos, a pequena Hazel, que narra cada capítulo já quando adulta. Por Marko e Alana terem se apaixonado e tido uma filha juntos, os três se tornam fugitivos da lei, viajando de planeta à planeta e conseguindo novos e improváveis aliados, tudo isso enquanto são constantemente perseguidos por um príncipe robô, um caçador de recompensas e figuras distantes de seus passados.

(The comic book series follows the journey of Alana and Marko, two soldiers from different worlds that are in constant war with each other. They, Alana as an officer belonging to a highly technological planet, and Marko as a prisoner of war who's a native to the magic-filled moon that orbits around its enemy planet, end up falling in love and having a daughter together, little Hazel, who narrates every chapter as an unseen adult. Because Marko and Alana fell in love and had a child together, the three of them become fugitives of the law, travelling from planet to planet and making new and unlikely allies, all while being constantly chased by a robot prince, a bounty hunter and distant figures from their pasts.)



Ok, aí vai um fato: assim como aconteceu com “Sandman”, série de quadrinhos escrita por Neil Gaiman que acabou sendo a melhor obra de ficção que eu já li em minha vida (inclusive, até fiz uma resenha aqui no blog, vocês podem lê-la aqui:), recebi a recomendação para ler “Saga” de uma das minhas melhores amigas. E literalmente nenhuma das recomendações desta amiga falha em me surpreender. Então, Angela, se você estiver lendo isso, MUITO OBRIGADO. Não conhecia nada da série, mesmo com o co-criador Brian K. Vaughan (responsável por “Y: O Último Homem” e “Fugitivos”) não sendo um completo estranho, mas lembro muito de ver algumas postagens equiparando “Saga” à uma mistura entre “Star Wars” e “Game of Thrones”.

E é exatamente isso pela superfície, mas como um todo, acaba sendo muito, mas muito mais do que essa simples comparação. É algo tão mais abrangente, épico e envolvente, que mesmo se eu escrevesse “'Saga' é incrível” umas mil vezes aqui nesta resenha, não chegaria nem perto de descrever o quão maravilhosa essa série de quadrinhos é. Diga-se de passagem que, mesmo com a citação na introdução sendo de um personagem da obra em questão, “Saga” é uma série feita estritamente para o público ADULTO. Vou trabalhar isso mais a frente na resenha, mas só digo por agora que a série não é comparada à “Game of Thrones” por acidente ou coincidência.

Ok, então, com isso dito, vamos falar um pouco sobre o enredo de “Saga”, primeiro sobre as coisas que ele têm em comum com outras obras em quadrinhos e depois passando por alguns diferenciais específicos da série em relação à estas outras obras. Primeiro, é essencial destacar a amálgama de gêneros presente nos primeiros nove volumes da obra de Vaughan e Staples. A história mistura aspectos de ficção-científica, romance, coming-of-age (ou amadurecimento), comédia, ação, aventura, drama e até faroeste em alguns momentos, e de alguma forma, essa “gororoba” de gêneros estabelecida pelos autores acaba dando certo, devido à maneira que eles manipulam cada um destes elementos e os transformam em algo único, de modo que qualquer comparação feita com a obra não chegará perto do que ela realmente é.

Depois, há a construção de mundo e os personagens de “Saga”, aspectos onde a narração feita pela Hazel adulta assume um protagonismo, e acaba sendo expositiva da melhor maneira possível. A cada capítulo, novas ambientações, circunstâncias e personagens são introduzidos, de modo que o escopo narrativo da obra só vai aumentando. Eu amei o desenvolvimento de cada um destes personagens perfeitamente imperfeitos nos primeiros nove volumes, os quais são compostos por 54 capítulos no total. Por mais alienígenas que pareçam ser visualmente, a narrativa de Vaughan e Staples faz com que cada personagem se torne cada vez mais humano ao longo dos capítulos já publicados, e eu simplesmente adoro quando uma obra de ficção faz com que suas ambientações e personagens pareçam com nós mesmos e o mundo em que vivemos, especialmente quando ela parece estar tão distante da atualidade.

E a última semelhança que gostaria de fazer entre “Saga” e outras histórias em quadrinhos é a qualidade viciante da prosa do autor. Cada página é repleta de diálogos, narrações e ações visuais que mergulham o leitor no universo fascinante e abrangente criado por Vaughan e Staples. Assim como aconteceu em “Sandman”, “Saga” me capturou na primeira página e só foi me soltar quando terminei a última. É simplesmente impossível não se apaixonar por cada um dos personagens presentes ao longo dos primeiros nove volumes, de tão cativantes, carismáticos e humanos que eles são. Vou trabalhar mais sobre a prosa de Vaughan mais à frente, mas por enquanto, as semelhanças são essas.

Passando para os diferenciais, Vaughan e Staples injetam o universo de “Saga” com uma irrefutável e impactante humanidade, um atributo que acaba abrindo portas para que os autores trabalhem temas surpreendente próximos à atualidade, mesmo que a ambientação pareça estar à milênios de distância. Só pela sinopse que coloquei no início da resenha, é possível ver que alguns dos temas abordados são o racismo, o preconceito, a miscigenação, o contraste entre o progresso e a tradição, a guerra e a xenofobia, mas também se fazem presentes aqui temas universais, como o trauma, a redenção e o perdão. Há uma variedade de outras temáticas trabalhadas nos 54 primeiros capítulos de “Saga”, mas não irei aprofundar em todas, para não entrar em território de spoiler.

E falando em spoiler, temos aqui um outro diferencial da obra em questão: as suas reviravoltas, cada uma mais chocante que a outra, com o trabalho de Vaughan e Staples realmente merecendo ser comparado à “Game of Thrones”. Não se enganem: só porque “Saga” é uma história em quadrinhos, não quer dizer que os personagens não irão morrer. O material promocional de “O Esquadrão Suicida” já avisava: “Não se apeguem demais”, e o mesmo pode ser aplicado aqui, porém a tarefa de não se apegar emocionalmente aos personagens de “Saga” é particularmente difícil, pela quantidade de desenvolvimento que eles têm ao longo da trama. Aí, quando os autores dão uma de George R.R. Martin e resolvem matar um deles, é tipo reassistir a já icônica cena do Casamento Vermelho de “GoT”, tudo de novo.

Eu acho simplesmente incrível como Vaughan e Staples conseguem terminar cada capítulo com um cliffhanger (aquele suspense maldito que só será resolvido no próximo capítulo de algo), e na grande maioria das vezes, estes cliffhangers me deixaram boquiaberto, especialmente aqueles que terminam os volumes, ou seja, a cada 6 capítulos. É bem incomum os volumes de “Saga” terminarem de uma maneira que não seja chocante, deixando uma narração da Hazel ou uma informação visual que aumente as expectativas do leitor para os próximos passos da trama. Eu mal posso esperar pelo retorno de “Saga” em janeiro, para que os autores voltem a me deixar boquiaberto com os desenrolares e reviravoltas deste fascinante universo que eles criaram.

E, por último, mas não menos importante, temos aqui outro fator que aproxima “Saga” de “Game of Thrones”: as inúmeras, extensas e explícitas cenas de violência grotesca, uso de drogas, sexo e nudez. Lembram quando eu disse na introdução que a série quebra todas as regras do meio de histórias em quadrinhos? Pois é, essa escolha criativa é uma das razões do porquê disso acontecer. O co-criador Brian K. Vaughan já recebeu várias propostas de adaptação do material para outras mídias, mas ele negou todas elas, restringindo “Saga” ao seu meio original, explicando que “[ele] quis fazer algo que era caro demais para ir para a televisão e obsceno e adulto demais para ser um blockbuster”, e isso é claramente exposto no primeiro capítulo da obra.

Em seus melhores momentos, o conteúdo explícito de “Saga”, como a violência, o sexo e o uso de drogas, é usado com o propósito de introduzir e aprofundar certos personagens, e isso funciona. Mas o problema (e isso, pra mim, é a única falha dessa incrível obra de ficção) é que, muitas vezes, o uso destes conteúdos não é justificado, fazendo com que algumas cenas, situações e até ambientações sejam essencialmente gratuitas, só com o intuito de “aparecer”, “causar”, “lacrar”, e por aí vai. Como dito anteriormente, “Saga” é uma série estritamente direcionada para o público adulto, mas mesmo com o seu público-alvo restrito, Vaughan e Staples às vezes desperdiçam algumas oportunidades que eles têm de desenvolver certas subtramas interessantes, e acabam inserindo momentos desnecessários e, muitas vezes, desconexos da trama principal, só com o intuito de colocá-las lá mesmo, com nenhum objetivo narrativo visível.

(Okay, here's a fun fact: as it happened with “The Sandman”, a comic book series written by Neil Gaiman that ended up being the greatest work of fiction I've ever read in my life (by the way, I even wrote a review for it on the blog, you can read it here:), I was recommended to read “Saga” by one of my best friends. And literally none of this friend's book recommendations ever fails to surprise me. So, Angela, if you're reading this, THANK YOU VERY MUCH. I didn't know anything about this series, even though if its co-creator Brian K. Vaughan (responsible for “Y: The Last Man” and “Runaways”) wasn't a complete stranger to me, but I'm fairly reminded of reading some posts on the Internet, which compared “Saga” to a mix between “Star Wars” and “Game of Thrones”.

And that's exactly what it is on the surface, but as a whole, it ends up being so, so much more than that simple comparison. It's something that's so much more comprehensive, epic and envolving, that even if I wrote “'Saga' is amazing” a thousand times in this review, it still wouldn't come even close to describe how wonderful this comic book series is. By the way, I have to state that, even though the quote in the intro belongs to a character from this work, “Saga” is a series strictly made for an ADULT audience. I'll work on that more ahead on the review, but, for now, I'll just say that it doesn't get compared to “Game of Thrones” by accident or coincidence.

Okay, so, with that said, let's talk about the general plot of “Saga”, firstly on the things that it has in common with other comic book works and then going through some specific different things about it that makes the series stand out among other comic books. First off, it's essential to reinforce the amalgamous amount of genres present in the first nine volumes of Vaughan and Staples' work. The story blends aspects from science fiction, romance, coming-of-age, comedy, action, adventure, drama and even Western in a few parts, and somehow, this smorgasbord of genres established by the authors ends up actually working, due to the way they manipulate each one of these elements and transform them into something unique, in a way that any comparison made with it won't even come close to what it really is.

Then, there's the world-building and characters of “Saga”, aspects in which the narration by adult Hazel assume a fairly main role, and ends up being a tool of exposition in the best way possible. In each chapter, new settings, circumstances and characters are introduced, in a way that the work's narrative scope is constantly expanding. I loved the development of each one of these perfectly imperfect characters throughout the first nine volumes, which are composed by a total of 54 chapters. As alien as they may seem visually, Vaughan and Staples' narrative makes each character become more and more human throughout its already-published chapters, and I just love it when a work of fiction makes its settings and characters feel like ourselves and the world we live in, especially when it seems so far away from reality.

And the last similarity I'd like to point out between “Saga” and other comic books is the addictive quality of the author's prose. Each page is filled with dialogue, narrations and visual actions that immerse the reader into the fascinating and comprehensive universe created by Vaughan and Staples. Just like it happened in “Sandman”, “Saga” captured me on the first page, and only let me go when I was through with the last one. It's simply impossible not to fall in love with each one of the characters present throughout the first nine volumes, due to their charisma, emotional depth and humanity. I'll work more on Vaughan's prose later on, but for now, these are the similarities it has in comparison to other comics.

Onto the differences, Vaughan and Staples inject the universe of “Saga” with an irrefutable and impactful humanity, an attribute that ends up opening doors for the authors to work with themes that are surprisingly close to today's times, even though its setting seems like a million miles away. Just from the synopsis I've written in the beginning of this review, it's possible to see that some of the themes dealt with here are racism, prejudice, miscigenation, the contrast between progress and tradition, war and xenophobia, but there are also some universal themes here, such as trauma, redemption and forgiveness. There's a variety of other themes worked and dealt with in the 54 chapters of “Saga”, but I won't delve deep into them, so that I don't risk going into spoiler territory.

And speaking of spoilers, we have here yet another difference of the work reviewed here: its plot twists, which get more shocking as the plot moves forward, with Vaughan and Staples' work really earning that comparison to “Game of Thrones”. Don't be fooled: only because “Saga” is a comic book, it doesn't mean its characters can't die. The “The Suicide Squad” promotional material already warned us: “Don't get too attached”, and the same can be applied here, but the task of not getting emotionally attached to the characters of “Saga” is particularly tough, because of the amount of development they get throughout the plot. Then, when the authors decide to pull off a George R.R. Martin and kill one of them off, it's like rewatching the already iconic Red Wedding scene from “GoT”, all over again.

I think it's absolutely amazing how Vaughan and Staples manage to finish off every chapter with a cliffhanger, and in most of the times, those cliffhangers leave my jaw dropped to the floor, especially the ones that finish off the volumes, meaning every 6 chapters. It's quite unusual for a volume of “Saga” to end in a way that's not shocking, leaving behind a narration by Hazel or some visual information that lifts the reader's expectations all the way to the top to see the story's next steps forward. I simply can't wait for the return of “Saga” in January, so that the authors can leave my jaw dropped to the floor again with the developments and plot twists in this fascinating universe they've created.

And at last, but not least, we have another factor that brings “Saga” closer to “Game of Thrones”: its numerous, extended and explicit sequences of grotesque violence, drug use, sex and nudity. Remember when I said in the intro that the series breaks every rule in the comic book medium? Yeah, this creative choice is one of the reasons why that happens. Co-creator Brian K. Vaughan has already received several propositions to adapt the source material to other media, but he declined all of them, restraining “Saga” to its original medium, explaining that “[he] wanted to do something that was way too expensive to be TV and too dirty and grown-up to be a four-quadrant blockbuster”, and that's clearly exposed in the first chapter of the series.

In its best moments, the explicit content of “Saga”, such as violence, sex and drug use, is used with the purpose of introducing or deepening the characters' development, and that works. But the problem (and that, for me, is the only flaw in this amazing work of fiction) is that, in most of the times, the use of such content is not entirely justified, making some scenes, situations and even settings seem essentially gratuitous, only with the objective of “baring it all”, “showing off”, “making a scene”, and so it goes. As previously stated, “Saga” is a series that's strictly directed towards an adult audience, but even with its restricted target audience, Vaughan and Staples often waste some opportunities they get of working on interesting subplots, and end up inserting unnecessary scenes that are, at many times, disconnected from the main plot, just for the sake of placing them there, without any visible narrative objective.)



É bem difícil falar dos personagens de “Saga”, pois o desenvolvimento deles é tão aprofundado ao longo dos primeiros nove volumes, que é quase impossível dissertar sobre o arco narrativo de cada um sem entrar em território de spoiler, já que muitos destes personagens são introduzidos de surpresa, mas vou tentar fazer o meu melhor. O Marko e a Alana são os melhores protagonistas de uma série de quadrinhos contínua que eu já vi. Eu adoro os contrastes entre os dois, em termos de personalidade. Enquanto o Marko pode ser mais filosófico, pacífico e contido, a Alana é sarcástica, imprudente e extrovertida, mas isso não significa que os personagens estão presos à estas características, e isso é o mais mágico sobre o desenvolvimento de todos os personagens de “Saga”.

Assim como em “Life is Strange 2”, os personagens coadjuvantes criados por Vaughan e Staples são fantásticos e adicionam muita profundidade e escopo à trama de “Saga”. Falando dos personagens mencionados na sinopse: o príncipe robô é um dos meus personagens favoritos da série, sendo ao mesmo tempo temível, implacável e sarcástico, dono de um senso de humor ácido; o caçador de recompensas é, de longe, o personagem mais humano de “Saga”, tanto visualmente quanto emocionalmente, e é uma das principais ferramentas utilizadas pelos autores para trabalhar o tema recorrente do trauma, e as cicatrizes que um evento traumático pode deixar em uma pessoa.

E por último, mas certamente, não menos importante, temos os vilões, que se apresentam mais através de uma maneira simbólica e temática do que em carne e osso. Eu acho isso brilhante porque, diferente das pessoas, que podem mudar de comportamento constantemente, os temas que Vaughan e Staples abordam em “Saga”, como o preconceito e a guerra, nunca mudam, e ainda por cima, estes temas são todos criados e estabelecidos pelos seres humanos, o que dá ao cenário geral da série uma dose extra de humanidade, mesmo sendo ambientada em uma realidade que parece estar extremamente distante da nossa.

(It's quite hard to talk about the characters of “Saga”, as their development is so deepened throughout its first nine volumes, that it's almost impossible to discuss about each of their narrative arcs without entering spoiler territory, as many of these characters are introduced by surprise, but I'll try and do my best. Marko and Alana are the best protagonists in a continuous comic book series I've ever seen. I love the contrasts between both of them, when it comes to their personalities. While Marko can be more philosophical, peaceful and contained, Alana is sarcastic, reckless and extroverted, but that doesn't mean the characters are stuck with these qualities, and that's the most magical thing on the development of every character in “Saga”.

Just like in “Life is Strange 2”, the supporting characters created by Vaughan and Staples are fantastic and add extremely large amounts of depth and scope to the plot of “Saga”. Speaking of the characters mentioned in the synopsis: the robot prince is one of my favorite characters in the series, being simultaneously fearsome, relentless and sarcastic, owning a very acid sense of humor; the bounty hunter is, by far, the most human character in “Saga”, both visually and emotionally, and he's one of the main tools used by the authors to work and deal with the recurring theme of trauma, and the scars that a traumatic event can leave on a person.

And at last, but certainly, not least, we have the villains, which are presented a lot more in a symbolic and thematic way than they do in flesh and bone. I personally think that's brilliant because, unlike people, who can constantly change their behaviour and way of living, the themes that Vaughn and Staples work with in “Saga”, such as prejudice and war, never change, and as a matter of fact, those themes were all created and established by human beings, which gives the series's general scenario an extra dose of humanity, even if it's set in a reality that seems like it's a million miles away from our own.)



Eu fico constantemente impressionado com o trabalho que ilustradores de histórias de quadrinhos precisam fazer para que cada quadro planejado no roteiro ganhe vida, visualmente. Alguns, como os de “Sandman”, conseguem ser bastante inventivos na maneira de montar as páginas, às vezes expandindo a ação para duas páginas ao invés de uma, ou mudando a direção dos quadros ao longo da página. Em “Sandman”, foi preciso de uma equipe de várias pessoas para dar vida à visão narrativa de Neil Gaiman. Em “Saga”, eu fico ainda mais impressionado, por toda a composição visual da narrativa, dos personagens e das ambientações ficar inteiramente sobre os ombros de uma pessoa: a ilustradora e co-criadora da série, Fiona Staples.

Brian K. Vaughan, co-autor de “Saga”, pode até ter falado que ele criou a série com o objetivo de restringi-la aos quadrinhos e evitar que ela seja adaptada para outras mídias, como o cinema e a TV. Mas, ao ver as composições visuais de Staples feitas ao longo dos 54 capítulos publicados, é quase impossível não ter o seguinte pensamento voando pela sua cabeça: “Nossa, isso daria um baita filmão”, de modo que todas as cenas criadas pela ilustradora são essencialmente cinematográficas. As cenas de ação possuem uma sensação inegável de fluidez e movimento, como se os quadros parados estivessem, por si mesmos, em movimento, de tão rápida, dinâmica e precisa que a arte de Staples consegue ser.

Os personagens são outro destaque do trabalho de Staples em “Saga”, especialmente pela diversidade e pela criatividade que a ilustradora consegue injetar neles. Só para vocês terem uma ideia do quão diverso o elenco de personagens de “Saga” é: dos doze personagens principais da série, somente um se identifica como branco. Nas palavras de Staples, em entrevista ao Hero Complex: “A representatividade e a diversidade em HQs é algo importante para mim, e eu também acho que isso faz com que o universo que você esteja criando seja mais realista e autêntico. […] A grande maioria das pessoas na Terra não são brancas. Por quê esta galáxia seria?”. Outro detalhe em relação ao design dos personagens é a presença de vários pulos temporais entre os volumes, e Staples faz um ótimo trabalho em explorar as mudanças físicas sofridas pelos personagens, com algumas destas mudanças sendo quase inacreditáveis de tão drásticas.

E, por último, temos as ambientações, cada uma mais fascinante e complexa que a anterior. O mais interessante fica com o contraste entre as duas ambientações principais: Landfall, planeta de Alana; e Wreath, lua de Marko. Enquanto Landfall parece mais uma metrópole, com seus arranha-céus e avanços tecnológicos, Wreath parece ser uma floresta em formato de lua, com Staples dando destaque à natureza presente na ambientação, o que é bem legal. Além desses dois cenários principais, há uma pluralidade surpreendente de ambientações ao longo dos nove volumes de “Saga”, e o mais incrível de se perceber é como cada ambientação parece ter sido tirada da realidade e ter ganho uma roupagem fantasiosa, devido à natureza da obra. É algo realmente impressionante.

(I get constantly impressed with the amount of work that comic book illustrators have to go through in order to make every frame planned on the script come alive, visually. Some of them, like the ones in “The Sandman”, manage to be really inventive when assembling their pages, sometimes expanding one action to two pages instead of just one, or changing the direction of the frames as the page goes on. In “Sandman”, it took an entire crew to bring Neil Gaiman's ambitious narrative vision to life. In “Saga”, I get even more impressed, because the entire visual composition of the story, characters and settings relies solely over the shoulders of one single artist: the series's illustrator and co-creator, Fiona Staples.

Brian K. Vaughan, co-author of “Saga”, may even have stated that he created the series with the objective of restraining it to the comic book medium and preventing it from being adapted to other media, such as movies or TV. But, when we see Staples's visual compositions throughout its published 54 chapters, it's almost impossible not to have the following thought floating through our heads: “Damn, that would make one hell of a movie”, in a way that every scene created by the illustrator is essentially cinematic. The action scenes have an undeniable feeling of fluidity and motion, as if the still frames are, by themselves, in motion, all thanks to the quick, dynamic and precise tone that Staples injects in her art.

The characters are another highlight of Staples's work in “Saga”, especially for the diversity and creativity the illustrator displays and injects into them. Just so you can get an idea of how diverse the cast of characters of “Saga” is: out of the twelve main characters in the series, only one of them identifies as white. In Staples's words, when interviewed by Hero Complex: “Representation and diversity in comics is something that's important to me, and I also think it just makes a more realistic universe when you're constructing a brand-new world and you want it to feel authentic. Most of the people on Earth are not white. Why would this galaxy be?”. Another detail when it comes to designing the characters is the presence of several time jumps inbetween volumes, and Staples does a terrific job in exploring the physical changes suffered by the characters, with some of these changes being so drastic they're nearly unbelievable.

And, at last, we have the settings, each one more fascinating and complex than the last. The most interesting thing about them relies on the contrast between its two main settings: Landfall, Alana's planet; and Wreath, Marko's moon. While Landfall is similar to a metropolis of sorts, with its skyscrapers and cutting-edge technological advances, Wreath seems like a forest shaped like a moon, with Staples highlighting the nature in the setting, which is pretty cool. Besides those two main scenarios, there's a surprising plurality of settings throughout the nine volumes of “Saga”, and the most incredible thing to realize is how every setting seems taken off or based on reality, and gained a fantasy outfit, due to the work's nature. It's something really impressive.)



Resumindo, os nove primeiros volumes de “Saga” consagram a obra de Brian K. Vaughan e Fiona Staples como uma das histórias em quadrinhos mais originais, ousadas, criativas e únicas dos últimos tempos. A série pode exagerar um pouco nos conteúdos mais explícitos, mas os autores conseguem manter a atenção do leitor com perfeição, devido à história cativante e cheia de reviravoltas chocantes elaborada por Vaughan; aos personagens, que vão ficando cada vez mais humanos ao longo da trama; e à arte de Staples, que exalta e celebra a diversidade presente nas ambientações e protagonistas da trama. Que venham os próximos nove volumes, para a conclusão da saga épica de Alana e Marko!

Nota: 9,9 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, the first nine volumes of “Saga” celebrate Brian K. Vaughan and Fiona Staples' work as one of the most original, daring, creative and unique comic books in recent memory. It might go a little too far in its more explicit content, but the authors manage to perfectly maintain the reader's attention, due to the captivating story filled with shocking twists elaborated by Vaughan; to the characters, who become more and more human throughout the plot; and to Staples's art, which highlights and celebrates the diversity in the plot's settings and protagonists. May the next nine volumes come, for the conclusion of Alana and Marko's epic saga!

I give it a 9,9 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)