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terça-feira, 6 de novembro de 2018

"Inside No. 9": o primo cotidiano, excêntrico e ainda mais britânico de "Black Mirror" (Bilíngue)


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E aí, galerinha de cinéfilos! Estou de volta, com a resenha de uma série parcialmente conhecida pelo grande público, pelo fato de séries mais populares no mesmo formato a tirarem do holofote, mas que é tão boa quanto. Pode ser descrita como um primo cotidiano, excêntrico, perverso e ainda mais britânico de “Black Mirror”. Sem mais delongas, vamos falar de “Inside No. 9”. Vamos lá!
(What's up, film buffs! I'm back, with the review of a show that's partially known by the great public, because of more popular shows in the same format taking it out of the spotlight, but it's just as good as these shows. It can be described as an everyday, eccentric, twisted and even more British cousin to “Black Mirror”. Without further ado, let's talk about “Inside No. 9”. Let's go!)



“Inside No. 9” é uma série antológica de humor negro criada e roteirizada por Steve Pemberton e Reece Shearsmith, cujos episódios têm em comum o fato de se ambientarem em um lugar identificado com o número 9, daí o nome da série (Dentro do Número 9, em tradução livre), e todos os episódios possuem uma aparição de uma estátua em forma de lebre. Todos os episódios possuem enredos e personagens diferentes, mas cada um tenta tornar um evento cotidiano e comum em um caos colossal com reviravoltas e histórias de plano de fundo.
(“Inside No. 9” is a dark humor anthology series created and written by Steve Pemberton and Reece Shearsmith, and all the episodes are set inside somewhere identified with the number 9, hence the name of the show, and all of them contain an appearance by a hare statue. All the episodes have different plots and characters, but each one tries to turn a common, every-day event into colossal chaos, with twists and backstories.)



Ouvi falar desse programa, assim como toda coisa britânica boa que eu descubro, através da minha série favorita, “Doctor Who”, pelo fato de tanto Pemberton quanto Shearsmith (os criadores do programa) participarem de projetos de DW. Fui assistir quase sem expectativas, e acabei me surpreendendo. Cada episódio é uma história contida, sem indícios de continuação, mas cada final de episódio te deixa atordoado de tão brilhante que é. Às vezes, esses finais podem ser confusos, mas aí você vai juntando as peças do quebra-cabeça montado ao longo do episódio, e quando você finalmente entende o que está rolando, você fica tipo assim:
(I heard about this show, just like every good British thing I discover, through my favorite TV series, “Doctor Who”, as Pemberton and Shearsmith (the show's creators) participated in DW projects. I watched it without any kind of expectations, and I ended up surprised by it. Each episode is a contained story, without any cliffhangers for a sequel, but each episode ending leaves you stunned because of its brilliance. Sometimes, these endings may be confusing, but then you gather all the pieces of the puzzle put together throughout the episode, and when you finally understand what the heck is going on, you can't help but feel like this:)



O bom é que essa série não tem um gênero definido. Você gosta de terror? Tem aqui! Você gosta de drama? Tem aqui! Você gosta de comédia? Tem aqui também! Você gosta de suspense? É o que tem de sobra! E acredite se quiser, tem até episódio musical. Isso é mais uma prova do quão brilhantes os dois criadores desse programa são, pois eles conseguem adaptar as tramas em gêneros diferentes sem perder o humor negro que define e caracteriza o trabalho dos dois. Nesse aspecto, eu acho essa série um pouco melhor do que “Black Mirror”, que, mesmo bebendo da mesma fonte de “uma ambientação por episódio”, fica concentrada nos aspectos da tecnologia e seus efeitos no ser humano. Sem querer rebaixar “Black Mirror”, que é uma das melhores séries originais da Netflix, na minha opinião, mas a capacidade de Pemberton e Shearsmith tem que ser reconhecida aqui.
(The good thing is this show has no defined genre. Do you like horror? They have it! Do you like drama? They have it! Do you like comedy? They also have it! Do you like suspense? They have it to spare! And believe it or not, they even have a musical episode. That's one more piece of evidence of how brilliant the two creators of this show are, because they can adapt their plots into different genres without losing the dark humor that defines and characterizes their work. In that aspect, I think this series is a little better than “Black Mirror”, which, even making use of the “one setting per episode” format, stays focused in the aspects of technology and its effects on human beings. I don't mean to put “Black Mirror”, which, to me, is one of the best Netflix original shows, on a lower level, but Pemberton and Shearsmith's capacity has to be recognized here.)



Como toda série, “Inside No. 9” tem episódios excelentes, e outros nem tanto. Não levem pro lado ruim, na minha opinião, os episódios de “Inside No. 9” devem ser ranqueados de “menos brilhante” para o “mais brilhante”. Mas, para vocês começarem a assistir e se acostumarem com o formato do programa, aqui estão 5 episódios (1 de cada temporada) que eu considero essenciais:
(As any show out there, “Inside No. 9” has excellent episodes, and others which are not that excellent. Don't take this the wrong way, in my opinion, the episodes should be ranked from “least brilliant” to “most brilliant”. But, in order for you to start watching and get used to the show's format, here are 5 episodes (one of each season) which I consider to be essential:)


1 – A QUIET NIGHT IN (UMA NOITE SILENCIOSA NO NÚMERO 9) – Primeira temporada, episódio 2
(1 – A QUIET NIGHT IN – Season 1, episode 2)
Depois de um episódio de estreia claustrofóbico em “Sardines”, o segundo episódio se ambienta numa grande mansão, e acompanha dois bandidos (interpretados por Pemberton e Shearsmith) que desejam roubar um quadro valioso, o qual o dono da mansão tem em posse. O gênero predominante no episódio é a comédia, e um diferencial que esse episódio tem em relação aos outros episódios cômicos da série é que ele é, em sua maioria, mudo, ou seja, não é preciso de falas para entender o episódio e seu humor. O roteiro de Pemberton e Shearsmith se influencia em trupes icônicas de humor antigas, como o Gordo e o Magro e os Três Patetas, para construir o humor desse episódio, e funciona de maneira estupenda. O elenco trabalha muito bem, e é uma das meias-horas mais engraçadas que eu já vi na televisão. Totalmente recomendo para quem quer começar o programa com o pé direito.
(After a claustrophobic debut episode in “Sardines”, the second episode is set in a huge mansion, and follows two burglars (played by Pemberton and Shearsmith) who wish to steal a valuable painting, which the mansion's owner has in possession. The predominant genre in the episode is comedy, and what makes this episode different from other comedy ones is that it is, in its majority, silent, meaning, it doesn't need lines for the episode and its humor to be understood. Pemberton and Shearsmith's script takes as an influence comedy troupes from the old days, like Laurel and Hardy and the Three Stooges, to construct this episode's humor, and it works in a stupendous way. The cast is really good, and it is one of the funniest half hours I've ever seen on television. Highly recommend it to the ones who want to start the show with the right foot.)



2 – THE 12 DAYS OF CHRISTINE (OS 12 DIAS DE CHRISTINE) – Segunda temporada, episódio 2
(2 – THE 12 DAYS OF CHRISTINE – Season 2, episode 2)
O segundo episódio da segunda temporada se ambienta no Natal, em um apartamento, e segue 12 anos na vida de Christine (Sheridan Smith), uma mulher que é regularmente assombrada por um homem com capa de chuva (Reece Shearsmith). A sinopse leva a acreditar que o episódio é um suspense, mas na verdade é um drama. Um drama brilhantemente construído e com uma carga emocional enorme, diga-se de passagem. O roteiro faz muito bem em compactar um período tão longo em meia hora, e é um daqueles episódios que você vê de uma maneira completamente diferente na segunda assistida (que nem “Shut Up and Dance”, de Black Mirror), de tão profundo que ele é. O elenco é muito bom: a Sheridan Smith dá um show como a protagonista, assim como Steve Pemberton e Tom Riley. É uma meia-hora sensacional, e é uma das razões pelas quais “Inside No. 9” é um dos programas mais engenhosos e inteligentes dos tempos atuais.
(The second episode in the second season is set on Christmas, in an apartment, and follows 12 years in the life of Christine (Sheridan Smith), a woman who is regularly haunted by a man in a raincoat (Reece Shearsmith). The plot leads to believe that it is a thriller, but it's actually a drama. A brilliantly built, emotionally charged drama, to be honest. The script succeeds wonderfully in compacting such a long period of time into half an hour, and it's one of those episodes you watch in a completely different way when you see it for the second time (just like Black Mirror's “Shut Up and Dance”), as a proof of its depth. The cast is really good: Sheridan Smith nails it as the main character, as Steve Pemberton and Tom Riley do too. It's a sensational half hour, and it's one of the reasons why “Inside No. 9” is one of the most ingenious and clever shows in recent times.)



3 – THE RIDDLE OF THE SPHINX (O ENIGMA DA ESFINGE) – Terceira temporada, episódio 3
(3 – THE RIDDLE OF THE SPHINX – Season 3, episode 3)
Indo um pouco mais para o suspense e o mistério, “The Riddle of the Sphinx” se ambienta em um escritório de um professor (Steve Pemberton), o qual é invadido por uma universitária (Alexandra Roach), que deseja saber as respostas das palavras-cruzadas do dia seguinte, para provar ao namorado que ela é inteligente. Esse é um daqueles episódios que é reviravolta atrás de reviravolta, e é cada uma mais chocante que a outra, então não irei falar muito. O roteiro é um dos mais brilhantes que eu já vi do gênero, e o elenco, composto por apenas três atores (Pemberton, Roach e Reece Shearsmith), trabalha muito bem junto. É uma meia-hora tensa, desconfortável e perturbadora, mas continua sendo brilhante, como de costume por parte de Pemberton e Shearsmith. Recomendo bastante para aqueles que adoram um bom suspense!
(Going in direction towards thriller and mystery, “The Riddle of the Sphinx” is set in a professor's (Steve Pemberton) study, which is raided by a college girl (Alexandra Roach), who wishes to know the answers to the following day's crossword puzzles, in order to prove her boyfriend she is smart. This is one of those episodes that contain one twist after another, and each one's more shocking than the last one, so I'll not talk too much about it. The script is one of the most brilliant ones I've ever seen in the genre, and the cast, composed by only three actors (Pemberton, Roach and Reece Shearsmith), works really well together. It's a tense, unconfortable, disturbing half hour, but that doesn't stop it from being brilliant, just like everything Pemberton and Shearsmith do. I highly recommend this to those who love a good suspense!)



4 – BERNIE CLIFTON'S DRESSING ROOM (O CAMARIM DO BERNIE CLIFTON) – Quarta temporada, episódio 2
(4 – BERNIE CLIFTON'S DRESSING ROOM – Season 4, episode 2)
Contando com uma mistura de dois gêneros opostos (comédia e drama), o episódio se ambienta em um grande salão, onde uma dupla de comediantes (Pemberton e Shearsmith), famosa nos anos 80, se reúne para fazer um último show, mas conflitos emergem quando um momento ruim na carreira dos dois é lembrado por um deles. Eu não duvido que esse deve ser o episódio mais pessoal e íntimo que os dois escreveram, porque parece até que eles estão interpretando a eles mesmos, de tão brilhante que é. Assim como “The 12 Days of Christine”, o episódio é meticulosamente construído e emocionalmente carregado. Ele também conta com duas performances sensacionais de Pemberton e Shearsmith, sendo o episódio no qual a dinâmica entre os dois funciona melhor. É engraçado, trágico, e possui uma cena altamente simbólica, que será perceptível quando assistido pela segunda vez. Um dos melhores episódios da série, e uma das provas que ela só continua crescendo em qualidade.
(Being a mixture of two opposite genres (comedy and drama), the episode is set in a big hall, where a duo of comedians (Pemberton and Shearsmith), famous in the 80s, gets back together to perform one last show, but conflict emerges when one bad moment in their career is remembered by one of them. I have no doubt that this might be the most personal, intimate episode the two have ever written, because it seems that they are playing themselves, just to prove its brilliance. Alike “The 12 Days of Christine”, it is meticulously built and emotionally charged. It also has two sensational performances by Pemberton and Shearsmith, with this episode standing out as the one in which their dynamic works out better. It's funny, tragic, and it has a highly symbolic scene, perceptible when watched for a second time. One of the best episodes in the series, and one of the proofs that it only keeps growing in quality.)



5 – DEAD LINE (LINHA CORTADA) – Especial de Halloween
(5 – DEAD LINE – Halloween special)
Um episódio complexo de discutir, “Dead Line” pode ser um assunto para uma futura postagem no blog. É altamente experimental e metalinguístico, e faz um test drive com técnicas de câmera pouco usadas no programa. Esse é outro episódio que possui reviravoltas de sobra, então tenha cuidado com o que você leia sobre o especial. Mas posso dizer que é ambicioso, inovador, brilhante e realmente assustador, trazendo um arrepio na espinha que não aparece desde o episódio 6 da primeira temporada (The Harrowing). Um fato interessante é que ele foi exibido ao vivo no Reino Unido, então imaginem o quão tenso foi filmar um especial de Halloween do jeito que foi filmado ao vivo. É simplesmente impressionante o resultado, e é um dos melhores episódios de televisão do ano até agora!
(A complex episode to discuss, “Dead Line” may be a subject to a future post here in the blog. It's highly experimental and metalinguistic, and test drives several camera techniques which were very little used in the show. This is another twist-filled episode, so be careful on what you read about it. But I can say it is ambitious, innovative, brilliant and truly scary, bringing a chill to the spine which hadn't returned since episode 6 (The Harrowing). An interesting fact about “Dead Line” is that it was a live show in the UK, so imagine how tense it was to film a Halloween special the way it was filmed live. The results are simply impressive, and it's one of the best TV episodes of the year so far!)



Resumindo, “Inside No. 9” é engenhosa, inteligente, perversa, e muito britânica, e alerta o espectador para ficar de olho no que os dois criadores irão criar a seguir!

Nota: 10 de 10!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,
João Pedro

(In a nutshell, “Inside No. 9” is ingenious, clever, twisted, and very British, and alerts the viewer to keep an eye on what the two creators will create at a later time!

I give it a 10 out of 10!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,
João Pedro)



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