Translate

domingo, 28 de junho de 2020

Especial Nolan - "A Origem": um dos filmes mais marcantes e revolucionários da década passada (Bilíngue)

E não se esqueçam de curtir e seguir o blog nas redes sociais:

(And don't forget to like and follow the blog in social medias:)

Facebook: https://www.facebook.com/NoCinemaComJoaoPedroBlog/

Twitter: @nocinemacomjp2

Instagram: @nocinemacomjp


E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para trazer a próxima parte da nossa postagem especial sobre o trabalho de Christopher Nolan. Dois anos após o lançamento do revolucionário “Batman: O Cavaleiro das Trevas”, o sétimo filme de Nolan junta tudo o que definiu o estilo característico do diretor para criar algo original, inteligente, e acima de tudo, único. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “A Origem”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to bring the next part in our special post on the work of Christopher Nolan. Two years after the release of the revolutionary “The Dark Knight”, Nolan's seventh film assembles everything that defined his characteristic cinematic style to create something original, clever, and above all, unique. So, without further ado, let's talk about “Inception”. Let's go!)



O filme conta a história de Dom Cobb (Leonardo DiCaprio), um ladrão com a rara habilidade de roubar segredos do inconsciente, obtidos durante o estado de sono. Impedido de retornar para sua família, ele recebe a oportunidade de se redimir ao realizar uma tarefa aparentemente impossível: plantar uma ideia na mente do herdeiro de um império (Cillian Murphy). Para realizar o crime perfeito, ele conta com a ajuda do parceiro Arthur (Joseph Gordon-Levitt), o discreto Eames (Tom Hardy) e a arquiteta de sonhos Ariadne (Ellen Page). Juntos, eles correm contra o tempo para que o inimigo não antecipe seus passos.

(The film tells the story of Dom Cobb (Leonardo DiCaprio), a thief with the rare ability of stealing secrets from the unconscious, obtained during a dream state. Unable to return to his family, he receives the opportunity to redeem himself by performing an apparently impossible task: plant an idea in the mind of the heir of an empire (Cillian Murphy). In order to perform the perfect crime, he relies on his partner Arthur (Joseph Gordon-Levitt), identity thief Eames (Tom Hardy) and dream architect Ariadne (Ellen Page). Together, they race against time with the objective of overcoming the enemy's obstacles.)



Antes de começar a falar sobre o roteiro, queria dedicar algumas palavras falando sobre o que eu já achava desse filme. Assim como todo filme dirigido pelo Christopher Nolan, acredito que “A Origem” é algo feito para ser visto no cinema, onde nenhuma coisa iria distrair o espectador do que está ocorrendo na tela, especialmente por três razões: é um filme longo, com quase 2h30 de duração; se a atenção do espectador não estiver concentrada na tela, ele se perderá muito facilmente; e pela proeza técnica do filme, que é algo que eu nunca tinha visto em nenhum filme na primeira vez que o assisti. Agora, “A Origem” está completando 10 anos, e continua sendo simplesmente impressionante. O roteiro é o primeiro escrito somente pelo diretor desde “Amnésia”, seu segundo filme, mas não ficarei impressionado se o irmão dele, Jonathan (co-roteirista de “O Grande Truque” e “Batman: O Cavaleiro das Trevas”), deu uma mãozinha no roteiro final. Acho que nem é preciso dizer que o roteiro do filme é simplesmente sensacional. Como disse na introdução, acredito que “A Origem” seja o filme definitivo de Christopher Nolan, pois ele junta tudo que definiu o estilo característico do diretor em termos de enredo: passo mais lento; a não-linearidade da narrativa; personagens muito bem desenvolvidos; reviravoltas chocantes; e um final que ainda dá dor de cabeça pra muita gente. É algo completamente original (dizem as más línguas que Nolan pegou algumas partes emprestadas do anime “Paprika”, dirigido por Satoshi Kon, que também explora a temática do sonho, mas são só rumores) e que nos primeiros minutos, já captura a sua atenção. O primeiro ato do filme faz um trabalho sensacional em apresentar seus protagonistas e o que eles fazem, da maneira mais tecnicamente impecável possível. No segundo ato, alguns obstáculos e reviravoltas surgem, resultando em um desenvolvimento mais profundo de alguns de seus personagens. E no terceiro ato, há uma reviravolta de cair o queixo. A proposta de um filme ambientado nos sonhos de uma pessoa pode deixar muitos espectadores confusos sobre o que é realidade e o que é sonho, mas o filme explica a diferença entre esses dois mundos de uma maneira muito inteligente e, principalmente, clara. E um dos maiores trunfos do roteiro de Nolan é que ele te dá a convicção que “A Origem” é verdadeiramente algo único, porque uma pessoa simplesmente não pode falar que viu vários filmes sobre ladrões que se infiltram em sonhos para roubar informações sigilosas. Essa é uma das razões do porquê alguns filmes do diretor podem ser considerados únicos, inventivos, revolucionários. Eles podem apresentar um conceito normal, mas é o que Nolan faz com esse conceito que transforma o filme em algo que você desejaria apagar da sua memória só para vê-lo novamente pela primeira vez. Sinceramente, acho meio exagerado existirem vários vídeos explicando o final desse filme na Internet, porque não é necessariamente confuso. “A Origem” é complexo, isso eu posso admitir, mas o roteiro entrega todas as respostas para todas as perguntas que o enredo propõe, e transita entre várias narrativas de maneira bem orgânica e fluida, tornando a possibilidade do espectador não entender o filme quase impossível. Novamente, reforço, como toda obra de Christopher Nolan, este é um filme que será melhor aproveitado sem nenhum tipo de distração, e aqueles que seguirem essa regra serão ricamente recompensados com uma história original, inventiva, e que realmente tem algo a dizer sobre temas muito interessantes como memória e culpa. Resumindo, o roteiro de “A Origem” e só mais uma prova de que Christopher Nolan é um dos cineastas mais originais, criativos e talentosos no cinema contemporâneo.

(Before I start talking about the script, I'd like to dedicate some lines to say what I already thought of this movie in particular. Just like every other film directed by Christopher Nolan, I believe that “Inception” is something that demands to be seen in a movie theater, where nothing would distract the viewer from what's happening on-screen, especially for three reasons: it's a long film, with almost 2 hours and 30 minutes of running time; if the viewer's attention isn't entirely focused on the screen, he or she would easily get lost; and for the film's technical feat, which is something I didn't see in any other movie at the time I first watched it. Now, “Inception” is 10 years old, and it's still incredibly impressive. The script is the first one written solely by the director since “Memento”, his second film, but I would not be impressed if his brother, Jonathan (co-writer of “The Prestige” and “The Dark Knight”), ended up giving him a helping hand on the final shooting script. I think I don't even have to say that this screenplay is mind-blowing and sensational. As I said in the intro, I believe that “Inception” is the definitive Christopher Nolan film, as it assembles everything that defined his characteristic cinematic style so far, in terms of plot: the slower pace; the non-linear narrative; very well-developed characters; shocking plot twists, and an ending that still gives a headache to lots of people. It is something completely original (rumors say that Nolan took some ideas from the anime film “Paprika”, directed by Satoshi Kon, which also explores the thematic of dreaming, but again, it's just rumors) and that already gets your attention from the very first minutes in its running time. The film's first act does a marvelous job in introducing its main characters and what they all do, in the most technically flawless way possible. In the second act, some obstacles come into the light, resulting in a deeper development from some of its characters. And in the third and final act, there's a jaw-dropping twist. The proposal of a film set in a person's dreams may leave several viewers confused on what's reality and what's the dream, but the movie explains the difference between these two worlds in a very clever and, especially, clear way. And one of the biggest triumphs in Nolan's screenplay is that it gives you the absolute conviction that “Inception” is truly something unique, as one can't say he or she has watched several films about thieves that go into people's dreams to steal valuable information. That is one of the reasons why some of his films can be considered unique, inventive and revolutionary. They may present a simple concept, but it's what Nolan does to that concept that transforms the film into something you'd like to erase from your memory, just to watch it for the first time again. Honestly, I think it's a bit too much that there are several videos explaining this film's ending out there, because it's not necessarily confusing. “Inception” is a complex movie, that I can admit, but the script delivers all the answers for all the questions the plot proposes, and transitions between several narratives in a fluid, organic way, turning the possibility of the viewer to simply not understand it into something that's almost impossible. Once again, I'd like to reinforce, as with everything Nolan-directed, this is a film that will be better enjoyed without any kind of distraction, and those who follow by that rule will be richly rewarded with an original and inventive story that deals with interesting themes like memory and guilt. In a nutshell, the screenplay for “Inception” is just another reason why Christopher Nolan is one of the most original, creative, and talented filmmakers in contemporary cinema.)



O elenco desse filme (assim como quase todo elenco de um filme de Christopher Nolan) é mais uma razão do porquê uma categoria de Melhor Elenco no Oscar deveria existir. Leonardo DiCaprio, Joseph Gordon-Levitt, Ellen Page, Tom Hardy, Cillian Murphy, Ken Watanabe, Dileep Rao e o Tom Berenger trabalham muito bem tanto quando estão juntos em tela quanto individualmente. Os diálogos expostos e complementados por cada um dos personagens nos ajudam cada vez mais a achar uma explicação para o que está acontecendo na tela. E o mais legal é que cada personagem tem uma “função”: DiCaprio é a mente criminosa cheia de segredos; Gordon-Levitt é o músculo; Page é a construtora de sonhos; Hardy é um ladrão de identidades; Rao é um químico que providencia sedativos pesados para a missão do grupo; e a relação entre Watanabe, Murphy e Berenger é essencial para que tal missão seja cumprida. Além do grupo principal, temos uma performance sensacional da Marion Cotillard, que está incrivelmente ameaçadora; e breves aparições significativas de Michael Caine, que já virou colaborador recorrente de Nolan. Eu realmente acredito que o Leonardo DiCaprio poderia ter sido indicado a Melhor Ator, assim como Cotillard a Melhor Atriz Coadjuvante, já que eles interpretam os dois personagens mais desenvolvidos do filme, e pela evidente química compartilhada pelos atores quando juntos em tela.

(This film's cast (as well as basically every other cast in a Christopher Nolan film) is yet another reason why a Best Ensemble Cast category should exist in the Oscars. Leonardo DiCaprio, Joseph Gordon-Levitt, Ellen Page, Tom Hardy, Cillian Murphy, Ken Watanabe, Dileep Rao and Tom Berenger work really well when they're together or apart. The dialogue exposed and complemented by each of the characters never fail to help us understand what's happening on-screen. And the coolest thing is every character has a “function”: DiCaprio is the secret-filled mastermind; Gordon-Levitt is the muscle; Page is the dream builder; Hardy is an identity thief; Rao is a chemist that provides heavy sedatives for the group's mission; and the relationship between Watanabe, Murphy and Berenger is essential for the accomplishment of said mission. Besides the main group, we have a sensational performance by Marion Cotillard, who is incredibly menacing; and brief significant appearances by Michael Caine, who's already become a recurring collaborator of Nolan's. I truly think that Leonardo DiCaprio could've been nominated for Best Actor, as well as Cotillard for Best Supporting Actress, as they portray the most developed characters in the film, and because of the evident chemistry the actors share when together on-screen.)



Sobre o marketing do filme, um fato é inegável: o visual foi provavelmente o que chamou mais atenção. E com razão. É o melhor trabalho de fotografia do Wally Pfister (que trabalha com o diretor desde “Amnésia”), que encontra seu maior triunfo nas cenas de ação dinâmicas e cheias de energia. Oscar de Melhor Fotografia merecidíssimo. A montagem do Lee Smith transita entre os vários estados de sonho e realidade com muita fluidez, evitando que o espectador se perca no processo. Eu simplesmente não sei porque essa montagem nem foi indicada ao Oscar, é um trabalho estupendo. O trabalho do Hans Zimmer na trilha sonora é épico em todos os sentidos da palavra. Se não fosse pela espetacular trilha de Trent Reznor e Atticus Ross para “A Rede Social”, tenho quase certeza que esse Oscar iria para o Hans Zimmer. E por último, mas não menos importante, temos os efeitos visuais, que, na minha opinião, foram revolucionários. Posso até dizer que foram influentes para filmes que usariam um conceito parecido, com uma vibe mais psicodélica, como, por exemplo, “Doutor Estranho”. As cidades dobrando ao meio, as cenas em câmera lenta, as cenas de ação em zero-gravidade... Foram tantas coisas que marcaram o visual de “A Origem”, que demoraria um século para listar todas. Mais um Oscar merecidíssimo para o filme. Como disse anteriormente, um dos destaques do filme são os aspectos técnicos, em especial a fotografia e os efeitos visuais, que representam mais uma razão que transforma “A Origem” em algo único e revolucionário. Não é de se impressionar que esse é o filme de Nolan que ganhou mais Oscars até o momento.

(About this film's marketing campaign, one fact is undeniable: the visuals were probably at the center of attention. And rightfully so. It's the best cinematography work by Wally Pfister (who has been working with the director since “Memento”), who finds his greatest triumph in the dynamic and energy-filled action scenes. A very deserving Oscar win for Best Cinematography. Lee Smith's editing transitions between several dream states and reality with so much fluidity, it avoids the viewer from losing his train of thought in the process. I honestly don't know why this editing wasn't even nominated, it's simply amazing. Hans Zimmer's work on the score is epic in every sense of the word. If it wasn't for Trent Reznor and Atticus Ross's incredible score for “The Social Network”, I'm pretty sure that Oscar would've gone to Hans Zimmer. And at last, but definitely not least, we have the visual effects, which, in my opinion, were revolutionary. I can even say they've been influent for later films that followed a similar proposal, with a more psychedelic vibe, like, for example, “Doctor Strange”. The cities bending in half, the slow-mo scenes, the zero-gravity action scenes... So many things marked the visuals for “Inception”, it would take ages to list all of them. Another well-deserved Oscar for it. As I said before, one of the film's main highlights are the technical aspects, especially the cinematography and the visual effects, which represent one more reason that transforms “Inception” into something unique and revolutionary. It's not surprising at all that this was the most awarded Christopher Nolan film in the Oscars so far.)



Resumindo, “A Origem” continua sendo o mesmo filme genial, original e inventivo que era na época de seu lançamento, há 10 anos. Ele junta todos os aspectos que marcaram o estilo cinematográfico de Christopher Nolan para entregar um dos filmes mais marcantes e revolucionários da década passada, com o auxílio de um roteiro inteligente, um elenco extraordinariamente talentoso, e aspectos técnicos que tornam o filme único.

Nota: 10 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “Inception” remains being the same genius, original and inventive film it was back at the time of its release, 10 years ago. It assembles every aspect that marked Christopher Nolan's cinematic style to deliver one of the most groundbreaking, revolutionary films of the past decade, with the help of a clever script, an extraordinarily talented cast, and technical aspects that make it unique.

I give it a 10 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)




sábado, 20 de junho de 2020

Especial Nolan - "Batman: O Cavaleiro das Trevas": o ponto de virada para filmes baseados em quadrinhos (Bilíngue)

E não se esqueçam de curtir e seguir o blog nas redes sociais:

(And don't forget to like and follow the blog in social medias:)

Facebook: https://www.facebook.com/NoCinemaComJoaoPedroBlog/

Twitter: @nocinemacomjp2

Instagram: @nocinemacomjp


E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para continuar com a nossa postagem especial sobre o trabalho de Christopher Nolan. Em seu sexto filme, Nolan retorna ao universo do Homem-Morcego para contar uma história ainda mais realista que seu antecessor, e como resultado, entrega o filme de super-herói mais marcante do séc. XXI até agora. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Batman: O Cavaleiro das Trevas”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to continue with our special post on the work of Christopher Nolan. In his sixth film, Nolan returns to Batman's universe in order to tell a story that's even more realistic than its predecessor, and as a result, he delivers the most influential superhero film in the 21st century so far. So, without further ado, let's talk about “The Dark Knight”. Let's go!)



Dois anos após o surgimento do Batman, Bruce Wayne (Christian Bale) conta com a ajuda do tenente James Gordon (Gary Oldman) e do promotor público Harvey Dent (Aaron Eckhart) para combater o crime organizado em Gotham City. Tendo seu domínio ameaçado pelo Homem-Morcego, os chefes do crime organizado contratam o Coringa (Heath Ledger) para instaurar um verdadeiro caos na cidade, o que acaba transformando sua rivalidade com o Batman em algo bem pessoal, testando Wayne psicologicamente e fisicamente de uma maneira que nunca fora testado antes.

(Two years after the rise of Batman, Bruce Wayne (Christian Bale) relies on the aid of Lt. James Gordon (Gary Oldman) and prosecutor Harvey Dent (Aaron Eckhart) in order to fight organized crime in Gotham City. Having their dominion threatened by the vigilante, the organized crime bosses hire the Joker (Heath Ledger) to ignite a full-on chaos in the city, which ends up transforming his rivalry with Batman into something really personal, testing Wayne both psychologically and physically in a way he had never been tested before.)



Me lembro que já tinha visto esse filme uma vez, mas foi há um bom tempo, na época que o DVD tinha lançado. Agora, mais de 10 anos depois, decidi assisti-lo de novo, tanto pela fama que ele ainda tem nos dias de hoje, quanto pelo suspense enorme que “Batman Begins” deixou em aberto na sua cena final. E acho que nem preciso dizer que valeu cada segundo das suas 2 horas e meia de duração. Assim como em seu filme anterior, “O Grande Truque”, o roteiro de “Batman: O Cavaleiro das Trevas” é co-escrito por Nolan e seu irmão Jonathan, e a aposta dos dois aqui é apresentar algo ainda mais realista do que o filme anterior da trilogia. A começar pela extremamente tensa cena inicial, que retrata um roubo de banco, algo bem real e bem presente fora dos quadrinhos. Essa cena já nos apresenta o nosso vilão de forma perfeita, bem antes do personagem-título dar as caras. Creio que um dos maiores trunfos do roteiro dos irmãos Nolan é a verdadeira investida em algo mais realista, pois em “Batman Begins”, ainda existiam alguns aspectos cartunescos e fora da nossa realidade. Mas na sequência, nós nos sentimos realmente assustados pelas coisas que acontecem na tela, pois os roteiristas nos fazem acreditar de maneira bem convincente que aquilo pode ser bem possível de acontecer na vida real. E essa investida em algo mais pé no chão ajudou “Batman: O Cavaleiro das Trevas” a tornar a linha entre “filme de super-heróis” e “filme (no ponto de vista do Scorsese)” um pouquinho mais tênue, preparando o terreno para vários outros filmes que, algum tempo depois, investiriam em um enredo mais realista, como “Watchmen” e “Logan”. Outro aspecto que os dois roteiristas acertaram em cheio é a construção de seu vilão. Porque, quando se pensa no Coringa, a primeira coisa que nos vem à mente é sua clássica história de origem, onde ele cai em um barril de produtos químicos tóxicos e isso leva ele a perder sua sanidade. Mas aqui, os irmãos Nolan constroem um Coringa bem humano, que inventa várias “histórias de origem” (que é uma referência tremenda à clássica fala do vilão em “A Piada Mortal”: “Se eu vou ter um passado, prefiro que ele seja de múltipla escolha.”) somente para chegar ao ponto que ele é um agente do caos, que ele somente quer, nas palavras de Alfred Pennyworth, “ver o circo pegar fogo”. E algo que esse filme investe mais ainda do que em seu antecessor é o teor psicológico do enredo. Enquanto em “Batman Begins”, esse teor se concentrava nas alucinações causadas pelo Espantalho; na sequência, ele é focado em decisões da vida real, especialmente nas famosas “escolhas de Sofia”, na qual há duas opções e você tem que quebrar a cabeça, porque precisa escolher apenas uma. Isso ajuda bastante a desenvolver o seu protagonista de uma maneira bem mais profunda, e essas decisões acabam por abalá-lo emocionalmente, com ele ainda ficando com as cicatrizes das consequências de suas escolhas. E isso foi simplesmente revolucionário para o gênero dos filmes baseados em quadrinhos na época. Além de entregar uma história bem engajante, o roteiro também lida com algumas questões bem interessantes, como problemas de identidade, e como certas decisões ajudam a destruir essa identidade e construir outra, sendo essa nova identidade corrupta; a dualidade entre ordem e caos; o impacto do terrorismo na vida das pessoas e como isso ajuda a criar novos vilões (fazendo um paralelo extraordinário com o 11 de setembro), e muito mais. Resumindo, os irmãos Nolan, através do roteiro magnífico de “Batman: O Cavaleiro das Trevas”, nos ajudam a compreender que filmes de quadrinhos não servem somente para entreter, mas também para lidar com questões importantes que nos auxiliam a entender a nossa realidade.

(I remember having seen this movie once, but it was quite a long time ago, when the DVD was released. Now, more than a decade later, I decided to watch it again, both for the fame it clearly still has, and for the enormous cliffhanger that “Batman Begins” left us on in its final scene. And I think I don't even have to say it was worth every second of its 2-hour-and-a-half running time. As it happened with his previous movie, “The Prestige”, the screenplay for “The Dark Knight” is co-written by Nolan himself and his brother Jonathan, and their proposition here is to present something even more realistic than the previous film in the trilogy. Starting off with the extraordinary opening sequence, which depicts a bank robbery, something pretty real and really present outside the comics. This scene already perfectly introduces us to our villain, way before the title character's first appearance. I believe that one of the biggest pros in the Nolan brothers' screenplay is the decision to fully invest in something more realistic, because, in “Batman Begins”, there were still some cartoonish aspects that were outside of our reality. But in the sequel, we actually feel terrified by the events onscreen, as the screenwriters make us believe, in an extremely convincing way, that this could happen in real life. And that decision of a down-to-earth superhero film helped “The Dark Knight” make the line between “superhero film” and “film (in Scorsese's point of view)” a little bit thinner, preparing the ground for several other movies that, sometime later, would invest in more realistic stories, such as “Watchmen” and “Logan”. Another aspect that the screenwriters are extremely good at is constructing its villain. Because, when you think of the Joker, the first thing that comes to mind is his classic origin story, where he falls into a vat of toxic chemicals and that leads him to lose his sanity. But here, the Nolan brothers manage to build a more human Joker, who comes up with several “origin stories” (which is a tremendous reference to the villain's classic line in “The Killing Joke”: “If I'm going to have a past, I prefer it to be multiple choice.”) only to get to the point that he is an agent of chaos, that he only wants, in the words of Alfred Pennyworth, “to watch the world burn”. And something that this film invests even more in than its predecessor is the plot's psychological content. While, in “Batman Begins”, that content was focused on the hallucinations caused by the Scarecrow; in the sequel, it is focused on real-life decisions, especially on those known as “Sophie's choices”, where you have two options, and you have to think really hard, as you have to choose only one of them. This helps a lot in developing its protagonist in a deeper way, and these decisions end up making an emotional impact on him, with him still bearing the scars of the consequences of his choices. And that was simply revolutionary for comic book movies back then. Besides delivering a really engaging story, the script also deals with some interesting themes, such as identity problems, and how some decisions can destroy one's identity and build another corrupt one; the duality between order and chaos; the impact of terrorism in people's lives and how it can help build new villains (which makes an extraordinary parallel with 9-11), and much, much more. In a nutshell, the Nolan brothers, through the magnificent screenplay for “The Dark Knight”, help us understand that comic book movies are not there only to entertain, but also to deal with important questions that may help us understand our own reality.)



Boa parte do elenco de “Batman Begins” retorna na sequência, mais notavelmente Christian Bale como o personagem-título; Michael Caine como Alfred; Gary Oldman como o Comissário Gordon; e Morgan Freeman como Lucius Fox. Bale leva o personagem-título a uma profundidade não vista no primeiro filme; Caine continua sendo o Alfred perfeito, contando histórias e conselhos sábios e motivadores para seu patrão; Oldman se vê enfrentando novos riscos, se comparado com o antecessor; e Freeman novamente ajuda o protagonista em suas missões. Novas e interessantes adições ao elenco incluem Aaron Eckhart como Harvey Dent, e é extremamente incrível ver a desconstrução de sua persona política, e o declínio de sua sanidade, o que o leva à construção do clássico vilão Duas-Caras; e Maggie Gyllenhaal como Rachel Dawes, anteriormente interpretada por Katie Holmes, que tem vital importância tanto para o desenvolvimento do protagonista quanto para o de Dent. Mas a verdadeira estrela aqui é o falecido Heath Ledger como o Coringa. Ao tornar sua personalidade e sua história de origem bem maleáveis, Ledger já diferencia sua versão do Príncipe Palhaço do Crime de encarnações anteriores do personagem. Ele é realmente ameaçador, tem um senso de humor bem sádico e sarcástico, e junto com o Joaquin Phoenix, em “Coringa”, a performance de Ledger é uma das versões mais humanas e realistas do supervilão. É uma atuação tão marcante, que quando ele sai de tela, você mal pode esperar pela próxima aparição dele. Oscar de Melhor Ator Coadjuvante merecido.

(A good part of the cast for “Batman Begins” makes its return in the sequel, most notably Christian Bale as the title character; Michael Caine as Alfred; Gary Oldman as Commissioner Gordon; and Morgan Freeman as Lucius Fox. Bale takes the title character to a depth not seen in the first film; Caine keeps on being the perfect Alfred, telling wise and motivational stories and advice for his boss; Oldman sees himself facing new risks, if compared to the predecessor; and Freeman, once again helps the main character on his missions. New and interesting additions to the cast include Aaron Eckhart as Harvey Dent, and it's extremely amazing to see the de-construction of his political persona, and the decline of his sanity, which leads him to build the classic villain Two-Face; and Maggie Gyllenhaal as Rachel Dawes, previously portrayed by Katie Holmes, who is of vital importance to both the main character's development and Dent's. But the real star here is the late Heath Ledger as Joker. By making his personality and his origin story fluid, Ledger already makes his version of the Clown Prince of Crime different from previous incarnations of the character. He is truly threatening, has a really sadistic, sarcastic sense of humor, and along with Joaquin Phoenix in “Joker”, Ledger's performance is one of the most human and realistic portrayals of the supervillain. It's such a good performance, that when he walks out of the scene, you can't wait for his next appearace. He earned that Oscar for Best Supporting Actor.)



Novamente, os aspectos técnicos funcionam em harmonia com o roteiro e com os atores para somente aperfeiçoar o filme. A direção de fotografia do Wally Pfister fica cada vez mais cinematográfica, se diferenciando dos filmes normais de super-heróis e apostando em movimentos e truques de câmera que se aproximam mais de filmes propriamente ditos, de acordo com Martin Scorsese. (Risos.) As cenas de ação são extremamente bem coreografadas; a montagem é incrivelmente eficiente; a trilha sonora do Hans Zimmer e do James Newton Howard é de tirar o fôlego, apesar que parte de mim queria que a trilha sonora impecável da Hildur Gudnadóttir para “Coringa” fosse reeditada para as cenas específicas do Coringa, porque, na minha opinião, ela combina tanto com a versão do Phoenix quanto com a versão do Ledger. Me impressiona como esse filme ganhou poucos Oscars. De 8 indicações, entre elas Melhor Fotografia, Maquiagem e Penteado (por aquela maquiagem assustadoramente realista do Coringa), e Melhores Efeitos Visuais (pela transformação aterrorizante do Harvey Dent em Duas-Caras), o filme apenas levou o de Melhor Ator Coadjuvante para Heath Ledger e de Melhor Edição de Som. Mais um exemplo de oportunidades perdidas da Academia. Se tivessem indicado esse filme ao prêmio principal, tenho quase certeza que o resultado ia ser diferente.

(Once again, the technical aspects work in harmony with the screenplay and the actors to enhance the film's impact. Wally Pfister's cinematography just keeps on being more and more cinematic, standing out among normal superhero films and relying on camera movements and tricks that are closer to proper films, according to Martin Scorsese. (LOL.) The action scenes are extremely well-choreographed; the editing is incredibly effective; Hans Zimmer and James Newton Howard's score is breathtaking, although part of me wished that Hildur Gudnadóttir's flawless score for “Joker” was re-edited for the Joker scenes, as, in my opinion, it fits with both Phoenix's and Ledger's versions of the character. I was impressed at this film's performance in the Oscars. Out of 8 nominations, among them Best Cinematography, Makeup and Hairstyling (because of that harrowingly realistic Joker make-up), and Best Visual Effects (because of Harvey Dent's terrifying transformation into Two-Face), it only took home the awards for Best Supporting Actor for Heath Ledger and Best Sound Editing. And here we have one more example of the Academy's missed opportunities. If they had nominated this film to the main category, I'm pretty sure the results would be different.)



Resumindo, “Batman: O Cavaleiro das Trevas” é um filme revolucionário. O roteiro tornou os filmes de super-heróis em algo mais sério e realista; conta com uma das melhores atuações vencedoras do Oscar por meio de Heath Ledger; e explora o lado psicológico de seu protagonista de uma maneira bem mais profunda. Um verdadeiro ponto de virada para os filmes baseados em quadrinhos.

Nota: 10 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “The Dark Knight” is a revolutionary film. The script turned superhero films into something more serious and realistic; it relies on one of the best Oscar-winning performances through Heath Ledger; and explores the psychological side of its main character in a much deeper way. A true turning point for comic book movies.

I give it a 10 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)




quinta-feira, 18 de junho de 2020

Especial Nolan - "O Grande Truque": um truque de mágica impecavelmente executado (Bilíngue)

E não se esqueçam de curtir e seguir o blog nas redes sociais:

(And don't forget to like and follow the blog in social medias:)

Facebook: https://www.facebook.com/NoCinemaComJoaoPedroBlog/

Twitter: @nocinemacomjp2

Instagram: @nocinemacomjp

E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, com a próxima parte da nossa postagem especial sobre o trabalho de Christopher Nolan. Com metade do caminho andado, o quinto filme de Nolan era o único que faltava para eu ter assistido toda a filmografia dele. E agora, posso dizer tranquilamente que ele não tem nenhum filme ruim até agora, com o filme em questão sendo o melhor filme sobre mágica que eu já vi na minha vida. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “O Grande Truque”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, with the next part of our special post on the work of Christopher Nolan. As we're halfway through the job, Nolan's fifth film was the only one missing for me to have watched his entire filmography. And now, I can safely say that he hasn't made one bad film so far, with the movie I'm about to review being the greatest film about magic that I've ever seen in my life. So, without further ado, let's talk about “The Prestige”. Let's go!)



O filme é ambientado em Londres, no séc. XIX, e conta a história de dois mágicos amigos, Robert Angier (Hugh Jackman) e Alfred Borden (Christian Bale), que se conhecem há muitos anos, desde que começaram a trabalhar no ramo. Desde então, eles vivem competindo entre si, o que faz com que a amizade se transforme em uma grande rivalidade, com o passar dos anos. Tal rivalidade chega ao pico quando Alfred apresenta um truque revolucionário, o que leva Robert a ficar obcecado em descobrir como ele consegue realizá-la.

(The film is set in London during the 19th century, and it tells the story of two magician friends, Robert Angier (Hugh Jackman) and Alfred Borden (Christian Bale), who have known each other for several years, ever since they started working in the business. Ever since, they frequently compete against each other, which transforms their friendship into a great rivalry that goes on throughout the years. And that rivalry reaches its peak when Alfred presents a revolutionary trick, which makes Robert obsessed on finding out how he manages to do it.)



Bem, antes de começar a falar sobre o roteiro, vou falar um pouco sobre minhas expectativas para esse filme. Eu já tinha tentado assistir a ele 2 vezes, e eu não tinha me investido completamente na trama, porque eu achava que o filme parecia mais longo e lento do que realmente era, e como eu não sentia nenhuma conexão com os personagens, eu acabei deixando-o de lado. Até que ontem, decidi dar uma terceira chance ao filme, assistindo-o numa tacada só. E é mais uma prova de que, como disse na introdução, Christopher Nolan não fez nenhum filme ruim até agora. Eu, sinceramente, não entendo como os críticos se dividiram tanto ao alcançarem um consenso sobre “O Grande Truque”. Talvez seja porque, assim como em um truque de mágica, eles não observaram atentamente a cada minuto das enxutas 2 horas e 10 minutos de duração que o filme tem. O roteiro é escrito pelo diretor e pelo irmão dele, Jonathan Nolan (criador de Westworld, e autor do conto que inspirou o roteiro de “Amnésia”), e o longa representa ao mesmo tempo, um retorno à forma para Nolan (que um ano antes, tinha dirigido um blockbuster, “Batman Begins”) e seu último filme que seria tratado como apenas um filme em si, e não como um filme-evento, contando com um orçamento bem mais modesto de US$40 milhões, que é usado de maneira perfeita aqui. Temos novamente o uso característico de uma narrativa não-linear, que conta com flashbacks e flashforwards durante a trama para explicar os eventos que iniciaram a rivalidade entre os protagonistas, e, se o espectador prestar bastante atenção, esse recurso funciona perfeitamente. O desenvolvimento de seus personagens principais é feito de forma impecável, tendo uma quase perfeita dualidade entre opostos: enquanto o personagem de Bale é mais modesto, e, digamos, humilde; o personagem de Jackman é pomposo, excêntrico e sofisticado. Eu adorei esse aspecto do roteiro. Como todo truque de mágica, o roteiro tem várias reviravoltas, e o diretor tenta nos enganar a cada cena e a cada truque mostrado no filme, e nós, como espectadores tanto do filme quanto do truque mostrado na tela, ficamos com o queixo caído quando o método dos roteiristas e dos personagens é revelado. “O Grande Truque” é um filme que fica melhor ao assisti-lo novamente, pelo fato do diretor ter colocado alguns easter eggs e segredos que passam batido na primeira vez, mas que chamam a sua atenção ao descobri-los durante uma segunda ou terceira assistida. A história tem um passo bem cuidadoso, deixando todos os segredos para serem revelados no ato final da trama. E ela trata de alguns temas bem interessantes, com os principais sendo a obsessão, o sigilo, e, principalmente, o sacrifício. Sem spoilers aqui, mas devo dizer que o final desse filme me chocou, em um bom sentido. Eu fiquei impressionado na inteligência que os dois roteiristas demonstraram ao elaborar o ato final de “O Grande Truque”, que me deixou com o queixo caído por mais tempo do que o de “Amnésia”, que também tem seu roteiro escrito pelos dois irmãos. Tenho que reassistir aos filmes seguintes do diretor para ter um consenso mais concreto, mas até agora, junto com “Amnésia”, “O Grande Truque” é o melhor filme de Christopher Nolan, na minha opinião.

(Well, before I start talking about the script, I'll discuss a little about my expectations for this film. I had already tried to watch it twice, and I didn't feel fully invested in its story, as I thought the film was longer and slower than it actually was, and because I didn't feel any connection to its characters, I ended up leaving it aside. Until yesterday, I decided to give it a third chance, watching it in one go. And it's yet another proof that, as I said in the intro, Christopher Nolan hasn't made a single bad film so far. I honestly don't understand why were critics divided when creating a consensus for “The Prestige”. Maybe it's because, as it happens with a magic trick, they didn't watch every minute of its well-enjoyed running time of 2 hours and 10 minutes closely. The screenplay was written by Nolan himself and his brother, Jonathan (creator and showrunner of Westworld, and the author of the short story that inspired “Memento”), and this feature represents at the same time, a return to form for Nolan (who, one year earlier, directed a blockbuster “Batman Begins”), and his final film that was considered a proper film, rather than an event film, relying on a much more modest budget of US$40 million, which is spent perfectly here. We have, once again, the characteristic use of a non-linear narrative, which relies on flashbacks and flashforwards in order to explore the events that started the rivalry between the two protagonists, and, if the viewer pays attention, that resource works splendidly. The development of its characters is done flawlessly, creating a near-perfect duality between the two main characters: while Bale's character is modest and, let's say, humble; Jackman's character is pompous, eccentric, and sophisticated. I loved that aspect in the script. As it happens with every magic trick, the screenplay has a lot of twists, and the director tries to deceive its viewers in every scene and in every trick shown on-screen, and we, as viewers of both the film and the trick shown on-screen, are left with our jaws dropped when the methods of the screenwriters and of the characters are revealed. “The Prestige” is one of those films that gets better when you watch it again, as the director put some smart easter eggs and secrets that probably will go unnoticed on a first viewing, but that become more and more clear during a second or third viewing. The story has a very careful pace, saving all of its secrets to be revealed in the final act. And it also deals with some very interesting themes, with the main ones being obsession, secrecy, and most importantly, sacrifice. No spoilers here, but I must say that the ending of this film shocked me, in a good way. I was impressed at how clever the screenwriters were when writing the final act of “The Prestige”, which left my jaw dropped for a longer period of time than the one from “Memento”, that is also written by the two brothers. I have to rewatch his later films to have a more concrete consensus, but so far, along with “Memento”, “The Prestige” is Christopher Nolan's best film, in my opinion.)



O elenco de “O Grande Truque” é uma maravilha a parte, sendo encabeçado por Hugh Jackman e Christian Bale, que dão aqui algumas de suas melhores performances. A rivalidade entre seus personagens é a força condutora do filme e do roteiro, e os dois atores fazem um trabalho sensacional com seus papéis. É algo verdadeiramente impressionante. Não devo dar spoilers aqui, mas digo que cada um tem suas camadas e segredos, e eles dão um verdadeiro show quando esses segredos são finalmente revelados. A química entre os dois é agressiva e explosiva quando juntos em tela. Não entendo porque eles não receberam uma indicação ao Oscar. Em papéis coadjuvantes, mas tão significativos quanto os protagonistas, temos Scarlett Johansson, Michael Caine e Rebecca Hall, e os três trabalham muito bem com o que é dado a cada um, e várias reviravoltas dominam o arco desses personagens, em especial os de Caine e Johansson. E pra fechar com chave de ouro, temos as participações curtas, mas extremamente efetivas, de Andy Serkis e David Bowie, que interpreta Nikola Tesla, o rival de Thomas Edison, da forma que só o Bowie interpretaria.

(The cast for “The Prestige” is a particular wonder, being led by Hugh Jackman and Christian Bale, who give some of their best performances here. The rivalry between their characters is the conductive force of the film and the script, and both actors do a sensational job with their roles. It's something truly impressive. I shouldn't give spoilers here, but I'll say that each of them has their own layers and secrets, and they both knock it out of the park when those secrets are finally revealed. The chemistry between them is agressive and explosive when they're together on-screen. I don't understand why they didn't get an Oscar nomination. In supporting roles, that are just as important as the main ones, we have Scarlett Johansson, Michael Caine and Rebecca Hall, and all three of them work really well with what's given to each of them, and several twists envelop these characters' arcs, especially Caine's and Johansson's. And to cap it off on a high note, we have the short, but extremely effective, participations of Andy Serkis and David Bowie, who portrays Nikola Tesla, Thomas Edison's rival, in a way that only Bowie would.)



Os únicos aspectos de “O Grande Truque” reconhecidos pelo Oscar foram os técnicos, e eu parcialmente acho isso uma injustiça, porque o roteiro e as atuações desse filme são sensacionais, mas pelo menos, o filme não foi deixado de fora da premiação, e por um bom motivo. A direção de fotografia do Wally Pfister (que foi indicada ao Oscar) e o trabalho de montagem do Lee Smith (que trabalhou em “Batman Begins”) são a chave para os roteiristas e os atores enganarem seus espectadores durante as cenas de truques de mágica, com esses aspectos nos fazendo acreditar que o que foi mostrado na tela realmente aconteceu. A direção de arte, outro aspecto reconhecido pelo Oscar, recria a época em que o filme é ambientado da forma como o espectador imaginaria de como fosse a vida na Londres do séc. XIX. Os figurinos foram muito bem desenhados, os cenários são típicos de filmes ambientados nessa época. Tecnicamente, é um filme muito bem construído. Outro aspecto técnico de destaque aqui são os efeitos visuais, especialmente durante as cenas onde o Nikola Tesla está presente, que até servem como uma referência à própria carreira de David Bowie, que é famoso por um de seus alter-egos, Ziggy Stardust, que tinha um raio atravessando seu rosto. Se isso foi intencional, não sei, mas foi uma referência bem legal. Uma coisa que eu senti falta foi de uma trilha sonora mais memorável. O trabalho foi do David Julyan, que trabalhou nos 3 primeiros filmes do diretor, e mesmo com a trilha sonora sendo produzida pelo Hans Zimmer (responsável pela trilha sonora de “Batman Begins”), ela foi bastante ofuscada pela grandiosidade das coisas que vemos na tela.

(The only aspects in “The Prestige” that were recognized by the Academy were the technical ones, and I partially think that's unfair, as the script and the cast's performances are sensational, but at least, it wasn't left out of the award show, and for a good reason. Wally Pfister's (Oscar-nominated) cinematography and the editing done by Lee Smith (who worked on “Batman Begins”) are the key for the screenwriters and the actors to deceive their viewers during the magic trick scenes, with these aspects actually making us believe that what was shown on-screen was real. The art direction, another aspect that was recognized by the Academy, recreates the time the film is set in a way the viewer would imagine how life would be in 19th century London. The costumes were very well designed, the scenarios are typical of films set in the same time. Technically, it's a very well constructed film. Another technical aspect here are the visual effects, especially during the scenes where Nikola Tesla is present, which can even serve as a reference to the career of David Bowie himself, who is known for his alter-ego Ziggy Stardust, who had a lightning drawn across his head. I don't know if that was intentional, but it was a really cool reference. One thing I really missed here was a more memorable score. The score was composed by David Julyan, who worked on Nolan's first three films, and even though it was produced by Hans Zimmer (who scored “Batman Begins”), it was really overshadowed by the grand character of the things we see on-screen. )



Resumindo, “O Grande Truque” é um filmaço. Tem um roteiro muito bem elaborado, um elenco simplesmente sensacional, é muito bem dirigido, e seus aspectos técnicos elevam o filme e seus truques a novas alturas. É um daqueles filmes para ver de novo, e de novo, e de novo, para perceber todos os segredos que os roteiristas pincelaram ao longo do filme. Junto com “Amnésia”, esse é o melhor filme de Christopher Nolan até agora.

Nota: 10 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “The Prestige” is one hell of a film. It has a very elaborate screenplay, sensational performances by its cast, assured direction by Nolan himself, and its technical aspects elevate it and its tricks to new heights. It's one of those films you need to watch again, and again, and again, to notice every secret the screenwriters put throughout the film. Along with “Memento”, this is Christopher Nolan's finest film so far.

I give it a 10 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)




sábado, 13 de junho de 2020

"Destacamento Blood": a reflexão de Spike Lee sobre os efeitos duradouros da violência e da guerra (Bilíngue)

E não se esqueçam de curtir e seguir o blog nas redes sociais:

(And don't forget to like and follow the blog in social medias:)

Facebook: https://www.facebook.com/NoCinemaComJoaoPedroBlog/

Twitter: @nocinemacomjp2

Instagram: @nocinemacomjp

E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, mas não para continuar nossa postagem especial sobre o trabalho de Christopher Nolan. Estou aqui para trazer a resenha de um dos lançamentos mais recentes da Netflix, que continua a odisseia de Spike Lee em retratar as relações raciais no mundo, e que pode ser um dos principais indicados ao Oscar 2021. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Destacamento Blood”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, but not to continue our special post on the work of Christopher Nolan. I'm here to bring the review of one of Netflix's most recent releases, which continues Spike Lee's odyssey of portraying race relations in the world, and that may be one of the main contenders at next year's Oscars. So, without further ado, let's talk about “Da 5 Bloods”. Let's go!)



O filme conta a história de quatro veteranos afro-americanos da Guerra do Vietnã: Paul (Delroy Lindo), Otis (Clarke Peters), Melvin (Isiah Whitlock Jr.) e Eddie (Norm Lewis), que retornam ao Vietnã com o objetivo de encontrar os restos mortais do comandante do destacamento deles (Chadwick Boseman), junto com 17 milhões de dólares em ouro.

(The film tells the story of four African-American veterans from the Vietnam War: Paul (Delroy Lindo), Otis (Clarke Peters), Melvin (Isiah Whitlock Jr.) and Eddie (Norm Lewis), who return to Vietnam with the objective of finding the remains of their fallen commander (Chadwick Boseman), along with US$17 million in gold.)



Esse é um daqueles filmes que te enganam pela simplicidade da sinopse. Pois, se somente a sinopse for levada em consideração, “Destacamento Blood” seria uma mistura de “Os Goonies” e “Apocalypse Now”, com um contexto sociopolítico por trás disso. Mas não é isso que Spike Lee faz com seu novo filme. Os quatro roteiristas (Danny Bilson, Paul De Meo, o próprio Spike Lee, e Kevin Willmott) já começam o primeiro ato com o mesmo plano que deu muito certo no final do filme anterior de Lee, “Infiltrado na Klan”, mostrando cenas e filmagens de violência brutal contra negros e filmagens da própria Guerra do Vietnã, o que já prepara o espectador para o que está por vir nas bem trabalhadas 2 horas e 35 minutos de duração. O filme começa apresentando seus personagens de maneira amigável, com eles tendo aquele momento clássico de reencontro, possuindo até uma veia cômica nesse tipo de cena. Mas aí, as discordâncias entre eles começam a ser mostradas, revelando um viés cada vez mais dramático, e são nesses momentos de discussões entre os quatro protagonistas que o maior trunfo do roteiro está localizado. Não é simplesmente um filme de caça ao tesouro. É uma reflexão profunda sobre temas como a síndrome de estresse pós-traumático, raiva, luto, culpa, traição, amizades, relações familiares, os efeitos duradouros da violência e da guerra na vida das pessoas e muito mais. Algo que o roteiro faz muito bem para expor esses temas de forma clara e compreensível é o desenvolvimento de seus protagonistas. Cada um tem sua própria identidade, suas próprias motivações, e seus próprios demônios. E algo que o roteiro trabalha de forma excelente em retratar as contendas entre os personagens é a relação que cada um deles tinha com o falecido comandante, interpretado pelo Chadwick Boseman. Como qualquer filme que explora as consequências e os efeitos colaterais de uma guerra, “Destacamento Blood” faz um uso eficiente de flashbacks para explorar as lembranças dos protagonistas sobre a Guerra do Vietnã e sobre os objetivos deles no presente. E uma coisa bastante interessante é que os roteiristas fazem uso de fotos e filmagens antigas para contar uma verdadeira aula de História sobre a luta dos cidadãos afro-americanos pelos seus direitos, algo que “Infiltrado na Klan” também fez muito bem. Há algumas cenas que chegam a doer do quão verdadeiras elas parecem ser, especialmente durante um monólogo do personagem do Delroy Lindo, que é uma verdadeira mensagem ao governo dos EUA, e só por essa cena, pra mim, ele merece uma indicação ao Oscar de Melhor Ator, assim como os quatro roteiristas também merecem uma indicação a Melhor Roteiro Original, pela sua ambição e pela nova maneira que eles encontraram para explorar os efeitos da violência e da guerra, que contém uma mensagem extremamente relevante e realista para os dias atuais, especialmente depois do assassinato de George Floyd nos EUA.

(This is one of those films that fool the viewer because of its plot synopsis' simplicity. Because, if only the synopsis revealed the true plot of the film, “Da 5 Bloods” would be a mix of “The Goonies” with “Apocalypse Now”, with a sociopolitical context behind it. But that's not what Spike Lee does in his new film. The four screenwriters (Danny Bilson, Paul De Meo, Spike Lee himself, and Kevin Willmott) already start off the first act with the same plan that worked spectacularly well in Lee's previous film, “BlacKkKlansman”, showing images and footage of brutal violence against black people, and actual footage from the Vietnam War, which already prepares the viewer for what's to come in its well-put running time of 2 hours and 35 minutes. The film starts off presenting its characters in a friendly way, with them having that classic reunion moment, possessing a comical vibe during these scenes. But then, the disagreements between them begin to float towards the surface, revealing a dramatic vibe that just keeps getting more and more intense as the film moves forward, and it's during those discussion moments between them that lies the biggest triumph of the screenplay. It's not simply a treasure hunt movie. It's a deep reflection on themes like post-traumatic stress disorder, rage, grief, guilt, betrayal, friendships, family relations, the long-lasting effects of violence and war that's still in people, and much, much more. Something that the script does very well to work with these themes in a clear, comprehensible way is through the development of its characters. Each character has their own identity, their own motivations, and their own demons. And something the script excels at when portraying the struggles between its protagonists is through the relationship each one had with their late commander, played by Chadwick Boseman. As it happens with any film that explores the consequences of violence and war, “Da 5 Bloods” makes an efficient use of flashbacks to work with the protagonists' memories of the Vietnam War and of their objectives in the present. And a pretty interesting thing that the screenwriters do is that they show archival images and footage to give a true History class on the struggle of African-Americans to obtain their civil rights, something that “BlacKkKlansman” also did very well. There are some scenes that are even able to hurt because of how true they may sound, especially during a monologue by Delroy Lindo's character, which is a true message to the US government, and just because of that scene, for me, he deserves a nomination for the Oscar for Best Actor, just like its four screenwriters deserve a nomination for Best Original Screenplay, for their ambition, and for the new way they found of exploring the effects of violence and war, which contains an extremely relevant and realistic message for today, especially after George Floyd's assassination in the US.)



Além de um ótimo roteiro, “Destacamento Blood” também conta com um ótimo elenco. O quarteto principal composto por Delroy Lindo, Clarke Peters, Isiah Whitlock Jr. e Norm Lewis é o coração pulsante do filme. Todos trabalham muito bem com o que lhes é dado, mas o destaque fica com o Delroy Lindo. Ele é o mais conturbado dos quatro protagonistas, e é através dele e através das relações dele com o filho, interpretado pelo Jonathan Majors, e com o comandante que a maioria dos temas presentes no roteiro são abordados. Ele dá um verdadeiro show aqui, e as melhores cenas e falas pertencem ao personagem dele, e por isso, eu acho que ele merece uma indicação ao Oscar de Melhor Ator. Os outros três protagonistas dão interpretações memóraveis também, e cada um tem sua identidade: o Clarke Peters é o mais racional; o Isiah Whitlock Jr. é mais ou menos um alívio cômico, mas que também possui uma boa profundidade dramática; e o Norm Lewis é o mais receoso quando se diz respeito ao objetivo deles nos dias atuais. Outro ator que trabalha extremamente bem é o Jonathan Majors, que interpreta o filho do personagem de Lindo, e que é o absoluto contrário do pai, e quando os dois estão juntos em tela, há uma química evidente e explosiva entre eles. O Chadwick Boseman, a Mélanie Thierry, o Paul Walter Hauser e o Jasper Pääkkönen interpretam bons papéis coadjuvantes. E por fim, temos o Jean Reno, que interpreta um ótimo antagonista.

(Besides having a great script, “Da 5 Bloods” also relies on a great cast. The main quartet composed by Delroy Lindo, Clarke Peters, Isiah Whitlock Jr. and Norm Lewis is the beating heart of the film. All of them work really well with what's given to each of them, but the true highlight stays with Delroy Lindo. He is the most disturbed out of the four protagonists, and it's through him, and through his relationships with his son, portrayed by Jonathan Majors, and with his commander that most of the themes in the script are worked with. He gives a knockout performance here, and the best scenes and lines in the film belong to his character, and because of that, I think he deserves a nomination for the Oscar for Best Actor. The other three protagonists also work really well, and each one has their own identity: Clarke Peters is the most rational one; Isiah Whitlock Jr is kind of a comic relief, but that also has dramatic depth; and Norm Lewis is the most uneasy one when it comes to their objective in the present day. Another actor that gives a really good performance is Jonathan Majors, who plays the son of Lindo's character, and when the two of them are on-screen together, there's an evident, explosive chemistry between them. Chadwick Boseman, Mélanie Thierry, Paul Walter Hauser, and Jasper Pääkkönen play good supporting roles. And at last, we have Jean Reno, who plays a great antagonist.)



Assim como quase todo filme de guerra, uma das maiores ambições e trunfos de “Destacamento Blood” são os aspectos técnicos. A direção de fotografia feita pelo Newton Thomas Sigel consegue capturar, com tons de cor cinzentos nos dias atuais, e tons mais vibrantes nos flashbacks, os efeitos e as consequências da guerra. A montagem faz algo bem interessante ao transitar entre as duas linhas temporais: assim como aconteceu com “O Grande Hotel Budapeste”, por exemplo, o formato de tela muda de acordo com a época retratada, sendo em 16:9 nos dias atuais, e em 4:3 nos flashbacks, mas o mais interessante é que a transição entre as duas linhas temporais é bem fluida. O filme não simplesmente corta para um formato diferente de tela, o espectador vê a tela mudar quando essa transição acontece. Eu gostei bastante disso. Outra coisa que me chamou bastante a atenção foram as cenas de guerra e violência, que são bem explícitas e bem dirigidas, ao ponto de fazer o espectador pensar que está vendo um blockbuster, e são durante essas cenas que os departamentos de maquiagem e efeitos visuais têm a chance de brilhar, resultando em sequências bem realistas. A trilha sonora do Terence Blanchard é típica de filmes de guerra, e um deleite para quem gosta do gênero.

(Just like every war film, one of the biggest ambitions and triumphs of “Da 5 Bloods” are the technical aspects. Newton Thomas Sigel's cinematography manages to capture, through grayer tones in the present day, and more vibrant ones in the flashbacks, the effects and the consequences of war. The editing does something really interesting when transitioning between the two timelines: just like it happened with “The Grand Budapest Hotel”, for example, the screen format changes according to the time it is set, being in 16:9 in the present day, and in 4:3 during the flashbacks, but the most interesting thing about it is that the transition between the two timelines is really fluid. The film doesn't just cut to a different screen format, the viewer actually sees the screen change when that transition happens. I really liked that. Another thing that caught my attention were the war and violence scenes, which are pretty graphic and well directed, to the point of making the viewer think he's watching a blockbuster, and it's during those scenes that the make-up and special effects departments have their chance to shine, resulting in really realistic sequences. Terence Blanchard's score is a typical war film score, and a true delight for those who love this genre.)



Resumindo, “Destacamento Blood” já consolida a Netflix como uma das principais empresas concorrentes ao Oscar ano que vem, contando com um roteiro extremamente realista, multidimensional e relevante para os dias de hoje, performances memoráveis de seu talentoso elenco, e a ambição de seus aspectos técnicos extremamente bem trabalhados.

Nota: 9,0 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “Da 5 Bloods” already consolidates Netflix as one of the main contender companies to the Oscars next year, making great use of an extremely realistic, multidimensional and relevant script for today, counting with memorable performances by its talented cast, and the ambition of its extremely well-polished technical aspects.

I give it a 9,0 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)




sexta-feira, 12 de junho de 2020

Especial Nolan - "Batman Begins": a história de origem perfeita para o Homem-Morcego (Bilíngue)

E não se esqueçam de curtir e seguir o blog nas redes sociais:

(And don't forget to like and follow the blog in social medias:)

Facebook: https://www.facebook.com/NoCinemaComJoaoPedroBlog/

Twitter: @nocinemacomjp2

Instagram: @nocinemacomjp


E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, com a próxima parte da nossa postagem especial sobre o trabalho de Christopher Nolan. Em seu quarto filme, Nolan começa uma das trilogias de filmes mais icônicas do século XXI, contando uma história de origem plausível e realista para um dos maiores super-heróis de todos os tempos, mas ainda assim, não deixa de ser um filme de Christopher Nolan. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Batman Begins”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, with the next part of our special post on the work of Christopher Nolan. In his fourth film, Nolan starts off one of the most iconic film trilogies of the 21st century, telling a plausible, realistic origin story to one of the greatest superheroes of all time, but still, it ends up being a true Christopher Nolan film. So, without further ado, let's talk about “Batman Begins”. Let's go!)



Após o brutal assassinato de seus pais, Bruce Wayne (Christian Bale) viaja para o Extremo Oriente, com o objetivo de superar seus medos através de um treinamento em artes marciais oferecido por um grupo conhecido como Liga das Sombras. Depois de descobrir que o objetivo da Liga era destruir sua cidade-natal, Wayne retorna a Gotham City com o objetivo de criar uma nova identidade para trazer justiça à corrupta cidade, com a ajuda de seu mordomo Alfred (Michael Caine) e Lucius Fox (Morgan Freeman).

(After the brutal assassination of his parents, Bruce Wayne (Christian Bale) travels to the Extreme Orient, with the objective of overcoming his fears through a martial arts training offered by a group known as the League of Shadows. After finding out that the League's objective was to destroy his hometown, Wayne returns to Gotham City with the objective of creating a new identity to bring justice to the corrupt city, with the help of his butler Alfred (Michael Caine) and Lucius Fox (Morgan Freeman).)



Antes de começar a falar do filme em si, devo dizer que esse foi o único filme da trilogia do Cavaleiro das Trevas que eu não tinha visto. Quem me conhece sabe que no contexto de filmes, eu prefiro aqueles inspirados no trabalho da Marvel do que os da DC. Mas, quando eu terminar a trilogia inteira (porque eu já sei que as sequências são excelentes), posso até colocar os dois (Marvel e DC) no mesmo nível. O roteiro de “Batman Begins” foi escrito por Christopher Nolan e David S. Goyer (que depois iria trabalhar como roteirista em dois filmes do Universo Estendido da DC, “O Homem de Aço” e “Batman vs. Superman”), e o objetivo dos roteiristas era criar uma história mais realista, se comparado às iterações anteriores do personagem em live-action, como as dirigidas por Tim Burton e Joel Schumacher, que claramente miraram para um alvo mais cartunesco. Nem é preciso dizer que a proposta de Nolan caiu como uma luva para a mitologia do Homem-Morcego. O primeiro ato do filme já nos dá uma vibe de uma obra típica do diretor, por investir em uma narrativa não-linear, fazendo um uso eficiente de flashbacks para explorar os medos de seu protagonista, com o objetivo de fazer o espectador ter um investimento emocional com ele, o que funciona extremamente bem. Do segundo ato para a frente, vem um dos maiores trunfos do roteiro, o que só iria ser aperfeiçoado nos dois filmes seguintes da trilogia: ao mesmo tempo que o filme investe em uma história com os pés no chão, fazendo dela o mais realista possível, com personagens cheios de camadas, com uma carga emocional forte, o que é bem raro em adaptações de quadrinhos; ele também investe em algumas coisas que estão fora da nossa realidade, como algumas tecnologias que não estariam disponíveis nos dias de hoje, para nos lembrar constantemente que estamos vendo um filme baseado em quadrinhos. Outra coisa que o roteiro faz muito bem é uma coisa que não funcionou em alguns filmes de super-heróis mais recentes, que é o número de vilões presentes no filme. Em “Batman Begins”, temos 3 vilões, e algo que esse filme faz de diferente, se comparado a filmes que jogam os 3 vilões de uma vez só, é apresentar um vilão de cada vez. Um vilão leva a outro vilão, que por sua vez, leva ao vilão final. Outro aspecto que me impressionou positivamente foi como eles pegaram algo cartunesco dentro da mitologia do Batman, que seria um dos vilões presentes no filme, o Espantalho, e transformaram ele num vilão verdadeiramente assustador, com as alucinações causadas pela toxina que ele expele sendo dignas de estarem em filmes de terror. E eu, como fã de filmes de terror, adorei esse aspecto do roteiro. E uma última coisa que eu achei sensacional foi como os roteiristas apresentaram uma história de origem plausível para o Batman. Eles não fizeram uma montagem rápida do Bruce malhando para entrar em forma, para depois, vestir a armadura e simplesmente ser o Batman. Eles levaram bastante tempo para trabalhar em uma história que investe na relação do Bruce com o “mestre” dele, interpretado pelo Liam Neeson, e que serve como uma explicação perfeita e compreensível de como o Batman conseguiu aquelas proezas em combate. Resumindo, o roteiro de “Batman Begins” cria uma história de origem perfeita para o Homem-Morcego, que é fortalecida por personagens multidimensionais e um investimento emocional bem forte.

(Before I start talking about the film itself, I must say this was the only film in the Dark Knight trilogy that I didn't watch until some days ago. Who knows me knows that, when it comes to movies, I prefer those based on the works of Marvel than the ones based on the works by DC. But when I finish the entire trilogy (as I already know that both sequels are excellent), I may feel tempted to put both Marvel and DC at the same level. The script for “Batman Begins” was written by Christopher Nolan and David S. Goyer (who would later work as screenwriter for two films in the DC Extended Universe, “Man of Steel” and “Batman v Superman”), and the screenwriters' objective was to create a more realistic story, if compared to previous live-action incarnations of the character, like those directed by Tim Burton and Joel Schumacher, which clearly pointed at something more cartoonish. I don't even have to say that Nolan's proposal fit like a glove for the Batman's mythology. The first act of the film already gives us vibes of a typical Christopher Nolan film, investing in a non-linear narrative which makes an efficient use of flashbacks to explore its protagonist's fears, with the objective of making the viewer invest in him emotionally, which works extremely well. From the second act to the very end, comes one of the script's biggest pros: at the same time it invests in a more down-to-earth, realistic story, with multi-layered characters, and a really strong emotional baggage, which is something really rare in superhero movies; it also invests in some things outside our reality, like technologies that wouldn't exist in today's times, to constantly remind us that we're watching a comics-based film. Another thing that the script does really well is something that didn't work in more recent superhero films, which is the number of villains presented throughout the plot. In “Batman Begins”, we have 3 villains, and what this film does differently from those who throw all 3 villains at once, is that it presents one villain at a time. One villain leads to another villain, which in turn, leads to the final villain. Another aspect that positively surprised me is how the screenwriters took something clearly cartoonish from the Batman mythology, which would be one of his villains, Scarecrow, and transformed him into a truly terrifying villain, with the hallucinations caused by the toxins he expels being worthy of appearing in horror movies. And I, as a horror movie fan, loved that aspect in the screenplay. And one last thing that I thought it was awesome is how the screenwriters created a plausible origin story for the Batman. They didn't do a quick montage of Bruce working out to get in shape, then he would don the armor and simply be Batman. They took plenty of time to work on a story that invested in the relationship between Bruce and his “master”, played by Liam Neeson, and that served as a perfect, comprehensible explanation of how Batman got so good at combat. In a nutshell, the script for “Batman Begins” creates a perfect origin story for the Batman, which is lifted to new heights by its multi-layered characters and its strong emotional baggage.)



Outra coisa impressionante em “Batman Begins” é o elenco, que deve ser um dos elencos mais estelares em uma adaptação live-action do Batman. O Christian Bale é excelente como as duas facetas do personagem: como Bruce Wayne, ele é sarcástico, convencido, playboy, e como Batman, ele é realmente ameaçador. Há 3 papéis nessa trilogia que eu não consigo ver ninguém mais além dessas pessoas interpretando esses personagens: Michael Caine como Alfred; Gary Oldman como o Comissário Gordon; e Morgan Freeman como Lucius Fox. Começando pelo Michael Caine, que é simplesmente o Alfred perfeito: engraçado, sarcástico, e principalmente, ele serve como uma âncora emocional para o protagonista, motivando-o a seguir em frente, o que é algo essencial para o personagem. Só pelo visual do Gary Oldman, dá pra ver que ele caiu como uma luva no papel do Comissário Gordon. A divisão dele em ajudar o Batman e a polícia ao mesmo tempo, quando a polícia é claramente contra o Batman, é trabalhada de forma muito boa na performance de Oldman. E o Morgan Freeman interpreta um dos melhores personagens do filme, servindo para oferecer as tecnologias que o Batman iria usar, e que possui uma química muito boa com o Christian Bale. E como os vilões, temos Tom Wilkinson, Cillian Murphy e Liam Neeson, e os três estão simplesmente sensacionais em seus papéis. Wilkinson interpreta o vilão mais realista dos 3; Murphy consegue ser ameaçador graças às alucinações que seu personagem causa; e Neeson é um digno adversário do Batman devido às habilidades que os dois compartilham. E por último, mas não menos importante, temos Katie Holmes como o interesse amoroso de Bruce, e os dois tem uma boa química quando estão em tela juntos.

(Another thing that's impressive in “Batman Begins” is the cast, which is probably one of the most stellar casts in a live-action Batman adaptation. Christian Bale is excellent as both faces of the protagonist: as Bruce Wayne, he is sarcastic, cocky, playboy-ish, and as Batman, he is truly threatening. There are 3 roles in this trilogy that I simply can't see anyone else other than these people portraying these characters: Michael Caine as Alfred; Gary Oldman as Commissioner Gordon; and Morgan Freeman as Lucius Fox. Starting off with Michael Caine, who is simply the perfect Alfred: funny, sarcastic, and mainly, he serves as an emotional anchor to the protagonist, motivating him to move forward, which is something essential to the character. Just by looking at Gary Oldman, you can see that he fit like a glove as Commissioner Gordon. His divisive behavior in helping both Batman and the police, which is clearly against Batman, is worked with in a really good way through Oldman's performance. And Morgan Freeman portrays one of the best characters in the movie, being there to offer all the technology the Batman would use, and that has a really good chemistry with Christian Bale. And as the villains, we have Tom Wilkinson, Cillian Murphy and Liam Neeson, and all 3 of them are simply sensational in their roles. Wilkinson portrays the most realistic villain out of the 3; Murphy manages to be threatening thanks to the hallucinations his character causes; and Neeson is a worthy adversary to the Batman due to the abilities they share. And at last, but not least, we have Katie Holmes as Bruce's love interest, and the two of them have a good chemistry when in scene together.)



Como em todo filme do Nolan, os aspectos técnicos elevam a história e seus personagens à novas alturas. A direção de fotografia do Wally Pfister consegue capturar o mesmo sentimento de sujeira, corruptibilidade, e realismo que a direção de fotografia de “Coringa” capturou perfeitamente 14 anos depois. Outra indicação ao Oscar merecida. A direção de arte também preparou o terreno para o que “Coringa” iria aperfeiçoar, criando uma Gotham City sombria, ameaçadora, na qual o espectador não desejaria morar. A montagem do Lee Smith consegue fazer o mesmo que o Dody Dorn conseguiu fazer nos filmes anteriores de Christopher Nolan ao transitar entre as linhas temporais do primeiro ato, estabelecido como uma narrativa não-linear. E por último, mas com certeza não o menos importante, temos o começo de uma parceria que iria durar pela grande maioria da carreira do diretor, que é a trilha sonora do Hans Zimmer (que iria trabalhar nas trilhas sonoras do restante da trilogia do Cavaleiro das Trevas, “A Origem”, “Interestelar” e “Dunkirk”), que trabalhou com James Newton Howard na trilha sonora de “Batman Begins”, que é épica em todos os sentidos. Me impressiona como essa trilha sonora não foi indicada ao Oscar.

(As in every Nolan film, the technical aspects manage to lift the story and its characters to new heights. Wally Pfister's cinematography manages to capture that same feeling of dirtiness, corruptibility, and realism that the cinematography for “Joker” perfectly captured 14 years later. Another deserving Oscar nomination. The art direction also prepared the grounds to what “Joker” would perfect, creating a dark, threatening Gotham City, which the viewer wouldn't like to live in. The editing by Lee Smith manages to do the same that Dody Dorn did in Christopher Nolan's previous films when transitioning between timelines in the first act, which is established as a non-linear narrative. And at last, but definitely not least, we have the beginning of a partnership that would go on for most of the director's career, which is the score composed by Hans Zimmer (who would later work for the rest of the Dark Knight trilogy, “Inception”, “Interstellar” and “Dunkirk”), who worked with James Newton Howard to compose the score for “Batman Begins”, which is epic in every sense of the word. It surprised me how it didn't get Oscar-nominated.)



Resumindo, “Batman Begins” é a história de origem perfeita para o Batman. O filme faz uso de um roteiro realista que investe emocionalmente em seus personagens, que possuem várias camadas; um elenco perfeitamente escalado que esbanja talento; e aspectos técnicos que acentuam o realismo que a história requer. Tudo isso como preparação para o que seria considerado o melhor filme de super-herói de todos os tempos.

Nota: 10 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “Batman Begins” is the perfect origin story for Batman. It makes use of a realistic script which emotionally invests in its multi-layered characters; a perfectly cast roster of actors which overflows with talent; and technical aspects that enhance the realism the story requires. All that to prepare the ground to what would be considered the best superhero movie of all time.

I give it a 10 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)