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domingo, 25 de outubro de 2020

"Os Novos Mutantes": um promissor início a uma nova era de X-Men (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, e depois de 8 meses, fico muito feliz em finalmente trazer uma resenha de um lançamento nas telonas! Na postagem de hoje, irei estar analisando um filme que, para muitos, pareceu estar amaldiçoado, devido aos inúmeros adiamentos sofridos por ele. Mas, depois de 2 anos e meio, somos apresentados à uma nova era de mutantes, através de um divertido e envolvente longa de suspense. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Os Novos Mutantes”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, and after 8 months, I'm very glad to finally bring a review for a movie theater release! In today's post, I'll be analyzing a film which, for many, seemed cursed, due to the numerous delays it suffered throughout recent times. But, after 2 and a half years, we are introduced to a new era of mutants, through a fun and involving thriller feature film. So, without further ado, let's talk about “The New Mutants”. Let's go!)



O filme é ambientado em um futuro distante, e conta a história de Danielle Moonstar (Blu Hunt), uma garota nativo-americana mutante que, após um massacre acontecer na reserva onde ela mora, é levada para um hospital psiquiátrico, o qual é monitorado por uma misteriosa doutora (Alice Braga). Lá, ela conhece outros jovens mutantes: Illyana Rasputin (Anya Taylor-Joy), Sam Guthrie (Charlie Heaton), Rahne Sinclair (Maisie Williams) e Roberto da Costa (Henry Zaga), todos traumatizados por uma lembrança do passado de cada um. Quando acontecimentos sinistros começam a ocorrer, os cinco terão que trabalhar juntos para superarem seus medos e escaparem do hospital.

(The film is set in a distant future, and tells the story of Danielle Moonstar (Blu Hunt), a mutant Native American girl who, after a massacre unfolds in her home, is taken to a psychiatric hospital, which is monitored by a mysterious doctor (Alice Braga). There, she meets other young mutants: Illyana Rasputin (Anya Taylor-Joy), Sam Guthrie (Charlie Heaton), Rahne Sinclair (Maisie Williams) and Roberto da Costa), who are all traumatized by a memory from their own past. When sinister events begin to take place, the five of them will have to work together to overcome their fears and escape the hospital.)



Antes de falar sobre o filme em si, gostaria de dedicar algumas linhas para falar como me senti ao finalmente voltar para uma sala de cinema, 8 meses após minha última sessão. Pra mim, o cinema é uma experiência única, que nunca poderá ser completamente substituída pelos emergentes serviços de streaming. É um lugar onde pessoas desconhecidas se juntam com um objetivo em comum: assistir um filme e passar por todos os estados emocionais impostos pela trama juntos. E a diferença entre assistir algo em casa e no cinema é absolutamente gritante. O tamanho da tela, o alcance do som, a acústica da sala... É um negócio completamente diferente, e por causa da quantidade de tempo que passei longe de uma sala de cinema, senti uma enorme nostalgia, mesmo ao lado de um menor número de pessoas. Mal posso esperar para repetir a dose no sábado, com o novo filme de Christopher Nolan, “Tenet”. Mudando de assunto, minhas expectativas para “Os Novos Mutantes” estavam moderadas: parte de mim estava bastante animado para ver esse universo dos X-Men através de um novo gênero, mas a outra parte estava com um pé atrás, devido aos inúmeros adiamentos, algumas decisões tomadas pela direção, e as críticas iniciais, as quais foram mais negativas do que positivas. Mas, ontem, fui ver o filme com a cabeça erguida, esperando o melhor possível da obra final dos X-Men distribuída pela Fox. E, pelo menos para mim, foi uma grata surpresa. Claro, não chega às apostas arriscadas de “Logan” e “Deadpool”, mas é bem melhor do que outros títulos da franquia, tais como “X-Men Origens: Wolverine” e “X-Men: O Confronto Final”. O roteiro, escrito por Josh Boone (diretor do longa) e Knate Lee, tem uma vibe onipresente dos anos 1980 em sua essência, como se fosse um filme da Sessão da Tarde. Se fosse pra eu comparar “Os Novos Mutantes” com alguma coisa, seria uma mistura entre “Clube dos Cinco” e “It: A Coisa”, mas com super-heróis. É uma história surpreendentemente contida. Ela não estabelece muita continuidade em relação às outras adaptações dos X-Men, salvo algumas poucas referências, se preocupando em estabelecer um universo solo dentro de um escopo maior, algo parecido com o que “Aves de Rapina” fez no Universo Estendido da DC. Somos apresentados a cada um dos personagens com informações suficientes para com que nos importemos com eles. E, como o filme só gira em torno de 6 deles, eles foram desenvolvidos de forma decente para uma duração tão curta (1h34min). Conhecemos um pouco da história de fundo deles, através de exposição pelos diálogos, e vemos até que ponto os poderes deles podem chegar. E cada um dos 5 protagonistas possui muita personalidade, o que desperta uma vontade no espectador de vê-los novamente. Os momentos em que o grupo está junto são os mais vitais para que nós possamos compreender suas motivações, medos e camadas, mesmo que de uma maneira superficial. Talvez, com uma duração mais robusta, os roteiristas poderiam achar mais tempo para explorar as fragilidades desses personagens de forma individual mais a fundo, já que vemos que eles não são destemidos, e que alguns claramente receberam mais material que outros. Outro aspecto que os roteiristas poderiam ter melhorado é a dinâmica entre os 5 como um grupo, que não é tão desenvolvida quanto os relacionamentos amorosos que afloram entre 4 dos membros. A veia de terror que o filme vem carregando no material promocional é bem amena, se comparada com obras recentes do gênero, muito provavelmente devido à classificação indicativa baixa. É sinistro, no máximo, mas tem espaço de sobra para melhoras. Não que o filme seja ruim, de jeito nenhum, é porque ele tinha potencial para ser algo melhor, mais inovador, mais “novo”, como o título sugere. O estúdio deveria ter pego a onda de “Logan”, colocando uma classificação mais alta, mais riscos e desenvolvimento à trama, o que poderia ter feito de “Os Novos Mutantes” uma versão mutante de “It: A Coisa”, se o filme de 2017 fosse ambientado somente na casa da rua Neibolt. Talvez iria resultar em um estudo maior e mais profundo dos personagens, o que nos daria mais vontade ainda de vê-los novamente. No entanto, o resultado final é divertido, energético, envolvente, e deixa uma porta aberta para uma possível continuação, a qual eu realmente espero que ocorra, mais cedo do que mais tarde.

(Before I talk about the film itself, I'd like to dedicate a few lines to talk about how I felt to finally return to a movie theater, 8 months after my last screening. For me, movie theaters are a unique experience, which can never be fully replaced by the emerging streaming services. They are a place where people who don't know each other come together with a common goal: watch a film and go through every emotional state the plot imposes in them. And the difference between watching something at home and at a theater is just astounding. The size of the screen, the sound's reach, the theater's acoustics... It's a whole another thing, and because of the time I passed away from a movie theater, I felt incredibly nostalgic, even with a smaller amount of people. I can't wait to repeat the dosage on Saturday, with Christopher Nolan's new film, “Tenet”. Changing the subject, my expectations for “The New Mutants” were moderate: part of me was quite excited to see this X-Men universe through a different genre, but the other was hesitant, due to the numerous delays, some of the director's decisions, and the initial reviews, which were more negative than positive. But, yesterday, I went to see it with my head held up high, expecting the best from the last X-Men film distributed by Fox. And, at least for me, it was a pleasant surprise. Sure, it doesn't get as risky as “Logan” or “Deadpool”, but it's far better than other titles in the franchise, such as “X-Men Origins: Wolverine” and “X-Men: The Last Stand”. The screenplay, written by Josh Boone (the director) and Knate Lee, has an omnipresent 1980s vibe to it, like a film that an '80s kid would watch on cable TV in the afternoon. If I were to compare “The New Mutants” to anything, it would be a mix between “The Breakfast Club” and “It”, but with superheroes. It's a surprisingly contained story. It doesn't establish that much continuity with previous X-Men films, except for a few references, focusing more in creating its own solo universe inside a larger scope, much like what “Birds of Prey” did with the DCEU. We are introduced to each of the characters with enough information for us to care about them. And, as the film only revolves around 6 of them, they are developed in a decent way for such a short running time (1 hour and 34 minutes). We get to know a little bit about their backstory, through dialogue exposition, and see to which point their powers can reach. And each of the 5 characters has plenty of personality, which makes the viewer want to see them again. The moments where the group is together are some of the most vital ones, in order for us to understand their motivations, fears and layers, even if it's in a superficial way. Maybe, with a more robust running time, the screenwriters could find more time to explore these characters' fragilities individually in a more in-depth way, as we see they are not fearless, and that some of them clearly got more material than others. Other aspect the screenwriters could've improved upon is the dynamics between the 5 of them as a group, which isn't as developed as the romantic relationships that blossom between 4 members. The horror vein the film has been carrying in its promotional material is quite tame, if compared to recent genre works, most likely due to its PG-13 rating. It's sinister, at best, but there's plenty of room for improvements. Not that the film's bad, not at all, it just had the potential to be something better, more innovative, more “new”, as the title suggests. The studio should've gone on the same path as “Logan”, putting a more restricted rating, more risks and development to the plot, which could've turned “The New Mutants” into an X-Men version of “It”, if the 2017 film were only set in the house on Neibolt Street. Maybe it would've resulted in a deeper, larger study of these characters, which would've given us the will to want to see them again even more. However, the final results are fun, energetic, involving, and it leaves a door open for a possible sequel, which I really hope ends up happening, sooner rather than later.)



O elenco, composto de apenas 6 atores, é bem competente. A estreante Blu Hunt, que interpreta a “protagonista” do filme, consegue carregar muito bem o trauma que acompanha sua personagem desde o início da trama. As emoções que essa atriz é capaz de transmitir são bastante críveis. Hunt tem uma química forte com a personagem da Maisie Williams, que é uma das mais interessantes e promissoras do longa. É possível ver que ela se encontra dividida entre duas “facetas” dela mesma, e o jeito que ela lida com essa indecisão é incrível. A Anya Taylor-Joy interpreta a melhor personagem do filme. Louca, psicótica, sarcástica, hilária, dá uma de durona, mas é sensível por dentro. Também não deveria ser novidade, já que, entre os 6 atores do elenco, Joy seja a mais competente e consolidada no mercado cinematográfico. Os personagens masculinos são bem menos desenvolvidos do que as femininas, mas Charlie Heaton e Henry Zaga conseguem trazer carisma, emoção, e alívio cômico para que o filme não fique sombrio demais. Gostaria de ver uma sequência, para que os personagens deles possam ser desenvolvidos de uma forma mais abrangente. A Alice Braga interpreta a “vilã” do filme muito bem, mas ela é mais um instrumento de um inimigo maior, do que um inimigo em si. Mais uma coisa que poderia ser explorada em uma possível continuação.

(The cast, composed by only 6 actors, is quite competent. Newcomer Blu Hunt, who plays the film's “protagonist”, manages to carry the trauma that follows her character since the beginning of the plot really well. The emotions this actress is able to convey are really believable. Hunt has a strong chemistry with Maisie Williams's character, which is one of the film's most interesting and promising figures. You can see she finds herself divided between two “faces” of herself, and the way she deals with this indecision is amazing. Anya Taylor-Joy plays the best character in the film. Bonkers, psychotic, sarcastic, hilarious, gives a tough act, but is sensitive inside. Also, this should be expected, as, out of the cast's 6 actors, Joy is the most competent and consolidated actor in the film business. The male characters are much less developed than the female ones, but Charlie Heaton and Henry Zaga are able to bring charisma, emotion and comic relief, for the film not to get too dark. I'd really like a sequel, to see their characters being developed in a deeper way. Alice Braga portrays the film's “villain” really well, but she's more an instrument of a bigger enemy, than an enemy by herself. Yet another thing a possible sequel could explore.)



Para um filme com menos de US$100 milhões de orçamento, “Os Novos Mutantes” usa seus aspectos técnicos a seu favor. A direção de fotografia do Peter Deming e a direção de arte focam em tons frios, para aumentar o teor claustrofóbico que a história e a ambientação propõem. A trilha sonora do Mark Snow é competente, e mais presente durante as cenas de ação, que são muito bem gravadas. A montagem é muito bem feita, não há nenhuma cena aqui que parece esticada ou curta demais. E o uso do CGI foi perfeito, porque não pareceu tão artificial. Óbvio que não seria realista, mas a computação gráfica não estraga o visual do filme. Inclusive, algumas das melhores cenas no curto tempo de duração de “Os Novos Mutantes” fazem uso de CGI, com tal uso ficando ainda mais justificável pelo fato do longa não ter sido convertido em 3D. Essa escolha acabou favorecendo o filme, tornando-o menos artificial do que poderia ter sido. O design dos personagens sobrenaturais é muito bem feito, bem criativo, mas sinto que poderia ter sido mais ousado com uma classificação indicativa mais alta.

(For a film with a budget of less than US$100 million, “The New Mutants” uses its technical aspects favorably. Peter Deming's cinematography and the art direction focus on colder tones, to enhance the claustrophobic feel the story and the setting propose. Mark Snow's score is competent, and more present during the action scenes, which are really well shot. The editing is very well done, there isn't any scene here that seems stretched or cut too short. And the CGI use hit the right spot, because it didn't seem too much artificial. I mean, obviously, it wouldn't be realistic, but the computer-generated images do not ruin the film's visuals. In fact, some of the best scenes in the short running time of “The New Mutants” use CGI, with said use being even more justified because it didn't get converted to 3D. This choice ended up doing the film a favor, making it less artificial than it could've been. The design of the supernatural characters is really well done, really creative, but I feel that it could've been bolder with a higher rating.)



Resumindo, “Os Novos Mutantes” não traz nada de relativamente novo à mesa, mas o filme compensa com personagens bem desenvolvidos, performances competentes de seu elenco e uma atmosfera sinistra cheia de energia, deixando uma porta aberta para um possível e promissor futuro para esse grupo de super-heróis desajustados. POR FAVOR, FAZ ISSO ACONTECER, DISNEY!!

Nota: 9,0 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “The New Mutants” doesn't bring anything relatively new to the table, but it compensates with well developed characters, competent performances by its cast, and an energy-filled sinister atmosphere, leaving a door open for a possible and promising future for this group of superhero misfits. PLEASE, MAKE THIS HAPPEN, DISNEY!!

I give it a 9,0 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)


sexta-feira, 23 de outubro de 2020

"Fita de Cinema Seguinte de Borat": uma sequência hilária, absurda, e surpreendentemente chocante (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para falar sobre a mais recente produção original da Amazon Prime Video. Uma obra necessária para entender o cenário sociopolítico atual dos EUA, ela vê Sacha Baron Cohen retornando com seu personagem mais conhecido e trazendo um filme hilário, atualizado e, sinceramente, chocante. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Fita de Cinema Seguinte de Borat: Entrega de Propina Prodigiosa ao Regime Americano para Beneficiar a Nação Outrora Gloriosa do Cazaquistão”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to talk about the most recent Amazon Prime Video original production. A necessary piece of work to understand the current sociopolitical scenario of the US, it sees Sacha Baron Cohen returning with his most known character and delivering a hilarious, updated and, honestly, shocking film. So, without further ado, let's talk about “Borat Subsequent Moviefilm: Delivery of Prodigious Bribe to American Regime for Make Benefit Once Glorious Nation of Kazakhstan”. Let's go!)



Ambientado 14 anos após a estreia de seu primeiro documentário, o filme acompanha Borat Sagdiyev (Sacha Baron Cohen), que embarca em uma missão rumo aos EUA com o objetivo de limpar a imagem suja que o primeiro filme deixou em seu país natal para o resto do mundo. Tal missão tem como principal meta entregar um “presente” na forma de Tutar (Maria Bakalova), filha do jornalista cazaque, para o vice-presidente dos EUA, Mike Pence.

(Set 14 years after the release of his first documentary, the film follows Borat Sagdiyev (Sacha Baron Cohen), who embarks on a mission to America with the objective of cleaning the dirty image the first film left in his home country to the rest of the world. The main goal of said mission is delivering a “present” in the form of Tutar (Maria Bakalova), the Kazakh journalist's daughter, to the vice-president of the US, Mike Pence.)



Acho que nem é preciso dizer que eu estava bastante animado para a volta de Borat. Depois de ter assistido o primeiro filme novamente (cuja resenha você pode ler aqui: http://nocinemacomjoaopedro.blogspot.com/2020/09/borat-mais-uma-prova-da-irreverencia-e.html), também consegui ver a primeira temporada completa do novo programa de Sacha Baron Cohen, chamado “Who is America?”. Cada episódio dessa série consistia em interações entre o ator disfarçado e pessoas do mundo real, resultando em situações embaraçosas, chocantes e cada vez mais absurdas. É uma obra hilária, que poderia estar disponível no Brasil, e ela abriu os meus olhos para vários aspectos até então desconhecidos para mim, em relação ao cenário sociopolítico atual dos EUA. A razão para eu estar ressaltando a importância de “Who is America?” para o filme em análise aqui, é porque os roteiristas do programa também compartilham os créditos do roteiro de “Fita de Cinema Seguinte de Borat”, o qual é absolutamente brilhante. Eu realmente não sabia se um novo filme do personagem de Cohen iria funcionar na sociedade atual, mas o envolvimento da talentosa equipe de roteiristas da obra anterior do ator nessa sequência me deu uma certa segurança de que essa empreitada iria dar certo. E como deu. Primeiro, é preciso destacar como Cohen e companhia conseguiram atualizar e apresentar um cenário novo para o seu protagonista. 14 anos se passaram desde a primeira viagem de Borat aos EUA, então, dessa vez, muitas coisas novas são introduzidas a ele: tecnologias de última ponta, a Internet, e, mais recentemente, a pandemia do COVID-19. E, assim como no primeiro filme, é altamente divertido ver o personagem interagindo e lidando com essas novas e desconhecidas situações. Em segundo lugar, eu gostei bastante do fato da sequência realmente ter uma história por trás de sua superfície cômica. Ao invés de ser composta por várias interações entre Cohen e pessoas do mundo real, o que já seria engraçado por si só, o filme inova ao criar uma história original que também lida com as mencionadas interações, mas cujo principal objetivo é estabelecer um núcleo emocional forte e pulsante. Muitos podem pensar: “Ué, mas o Borat não foi criado para ser cativante, ele foi criado pra satirizar tudo quanto é coisa!”, mas a arriscada aposta dos roteiristas funciona perfeitamente. A relação entre o protagonista e sua filha é desenvolvida quase que exatamente da mesma forma que a relação entre Joel e Ellie no videogame “The Last of Us”. E é preciso ressaltar que, ao invés de tentarem repetir o sucesso do primeiro através das mesmas batidas, os roteiristas conseguem criar um fluxo narrativo bem consistente, que vai além das interações características do personagem. E esse fluxo é sincronizado com as situações reais que os EUA estavam enfrentando e ainda enfrentam nesses últimos meses, incluindo a pandemia em que o mundo inteiro se encontra neste momento. Isto acaba por dar uma urgência e um caráter atual à obra, o que é maravilhoso. E por último, gostaria de destacar o quão importante essa obra é para entender o cenário sociopolítico atual dos EUA. Estrategicamente programado para ser lançado antes das eleições estadunidenses, a sequência de “Borat” faz um necessário alerta à população americana, através de cenas similares àquelas expostas no programa de Cohen anteriormente mencionado, “Who is America?”. Tais cenas retratam situações absurdas e surpreendentemente chocantes, e é através dessas partes que Cohen encontra uma maneira de apontar um dedo e dizer: “Olha só o que a sociedade de vocês está virando. Vocês têm o poder de mudar isso. Não percam essa oportunidade.” Resumindo, como a maioria das obras de Sacha Baron Cohen, “Fita de Cinema Seguinte de Borat” é hilário, e inova bastante ao criar um fluxo narrativo comovente e necessário para compreender a situação política enfrentada atualmente pelos EUA.

(I think I don't even have to say that I was really excited for Borat's return. After rewatching the first film (you can read my review on it here: http://nocinemacomjoaopedro.blogspot.com/2020/09/borat-mais-uma-prova-da-irreverencia-e.html), I also managed to watch the complete first season of Sacha Baron Cohen's new TV show, titled “Who is America?”. Each episode of that show consisted in interactions between the disguised actor and real-world people, resulting in embarassing, shocking situations that keep on getting more and more absurd. It's a hilarious piece of work that ended up opening my eyes to several (until then) unknown aspects of the current sociopolitical scenario of the US. The reason why I'm reinforcing the importance of “Who is America?” to the film analyzed in this post is because the show's screenwriters also share screenwriting credits for “Borat Subsequent Moviefilm”, which is absolutely brilliant. I really didn't know if a new film with Cohen's character would work in today's society, but the involvement of the talented screenwriting crew from the actor's previous show gave me a certain safety that this new endeavor would hit all the right notes. And it did. First, it has to be recognized how Cohen and Co. managed to update and present a new scenario for its protagonist. 14 years have passed since Borat's first trip to America, and many new things are introduced to him this time around: top-notch technology, the Internet, and, most recently, the COVID-19 pandemic. And, as it happens in the first film, it is extremely fun to see the character interacting and dealing with these new and unknown situations. Second, I really appreciated how the sequel actually has a plot beneath its comical surface. Rather than only being composed by Cohen's interactions with real-world people, which would've been funny by itself, it innovates by creating an original story that also deals with said interactions, but its main focus is establishing a strong, pulsating emotional core. Many could think: “But Borat isn't supposed to be captivating, he's supposed to satirize every living thing!”, yet the screenwriters' risky bet works perfectly. The relationship between the protagonist and his daughter is developed almost exactly in the same way as Joel and Ellie's relationship in the videogame “The Last of Us”. And it has to be reinforced that, rather than trying to repeat the first one's success by following the same beats, the screenwriters manage to create a pretty consistent narrative flow, that goes beyond the character's iconic interactions. And that flow is synchronized with the real situations the US has been going through for the past few months, including the pandemic in which the whole world finds itself right now. This ends up giving it an urgency and a current character, and that's marvelous. And lastly, I'd like to highlight how important this film is for people to understand America's sociopolitical scenario. Strategically programmed to launch before the US election, the “Borat” sequel gives Americans a necessary warning, through scenes that are quite similar to those exposed in Cohen's show, “Who is America?”. Those scenes show absurd and surprisingly shocking situations, and it's through those bits that Cohen finds a way to point a finger and say: “Look at what your society's turning into. You have the power to change that. Don't throw away this opportunity.” To sum it up, like most of Sacha Baron Cohen's work, “Borat Subsequent Moviefilm” is hilarious, and it innovates a lot by creating a moving and necessary narrative flow to understand the political situations that the US is going through right now.)



Assim como no primeiro filme, Sacha Baron Cohen é acompanhado por mais alguém como ator contratado. Mas antes de falar sobre a rouba-cenas da vez, vamos falar sobre o desempenho do protagonista. Eu fiquei bem impressionado com o caminho que Cohen traçou para o seu personagem mais famoso, e há algumas partes em que o espectador acaba pensando: “Como é que ele conseguiu fazer isso?”, de tão absurdas que são. É muito bom ver que o ator não perdeu o seu impacto e sua irreverência como Borat, mas ao invés de focar mais na sua faceta mais cômica, Cohen dá um maior destaque à dinâmica entre o protagonista e sua filha, interpretada pela Maria Bakalova. A atriz faz um excelente trabalho aqui, enchendo com sucesso o vazio deixado pelo Ken Davitian. Ela é hilária, e os diálogos que ela compartilha com o “pai” conseguem recuperar o teor politicamente incorreto do senso de humor que marcou o primeiro filme. É bem possível ver que os dois representam extremos opostos, e a equipe de roteiristas acaba por usar essas diferenças para aproximá-los, resultando em uma química surpreendentemente comovente. Eu realmente não esperava por isso, tomando como base os trabalhos anteriores do ator, mas foi uma grata surpresa. Os dois possuem um timing cômico perfeito, tornando o senso de humor deles ideal para as interações características do jornalista cazaque de Cohen.

(As it happened in the first film, Sacha Baron Cohen is accompanied by someone else as a hired actor. But before I talk about this film's scene stealer, let's talk about the protagonist's development. I was really impressed with the path that Cohen treaded for his most famous character, and there are some parts where the viewer is left thinking: “How the hell did he manage to do that?”, because of their level of absurdity. It's really good to see that the actor didn't lose his impact and irreverence as Borat, but instead of focusing on his comic side, Cohen highlights the dynamic between the protagonist and his daughter, portrayed by Maria Bakalova. She does an excellent job here, successfully filling the void left by Ken Davitian. She's hilarious, and the dialogue she shares with her “father” manage to retrieve the politically incorrect tone of the first film's sharp sense of humor. It's really possible to see that both of them represent extreme opposites, and the screenwriters end up using these differences to bring them closer, resulting in a surprisingly moving chemistry. I really wasn't expecting it, regarding the actor's previous work, but it was a pleasant surprise. Both of them have a perfect comic timing, making their sense of humor ideal for Cohen's Kazakh journalist's iconic interactions.)



Em relação aos aspectos técnicos, não há nada relativamente novo, em comparação com o primeiro filme, mas tudo continua sendo extremamente operante. A direção de fotografia do Luke Geissbühler consegue extrair aquela veia de documentário e aquela crueza nos movimentos da câmera que marcou a primeira viagem de Borat aos EUA, com um pouco mais de sofisticação. É um filme cirurgicamente montado, com alguns de seus cortes funcionando perfeitamente para objetivos cômicos. A trilha sonora do Erran Baron Cohen têm o mesmo efeito obtido no primeiro filme. A direção de arte e a maquiagem são hilárias, e colaboram bastante para aumentar o teor absurdo de algumas cenas da sequência.

(Regarding the technical aspects, there's nothing relatively new, in comparison to the first film, but everything remains extremely operative. Luke Geissbühler's cinematography manages to extract that documentary vein and that rawness in the camera movements, both of which marked Borat's first trip to America, yet a little bit more sophisticated. It's a surgically edited film, with some of its cuts perfectly working for comic objetives. Erran Baron Cohen's score has the exact same effect it had for the first film. The art direction and makeup are hilarious, really collaborating to enhance the absurdity of some of the sequel's scenes.)



Resumindo, “Fita de Cinema Seguinte de Borat” é mais um triunfo de Sacha Baron Cohen. Afiado como sempre, Cohen faz uso de um fluxo narrativo consistente e uma dinâmica cativante com Maria Bakalova para reavaliar os preceitos de seu protagonista. É hilário, absurdo e surpreendentemente chocante, sendo uma obra necessária para entender o cenário sociopolítico atual dos EUA.

Nota: 9,5 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “Borat Subsequent Moviefilm” is yet another triumph by Sacha Baron Cohen. Sharp as he always is, Cohen uses a consistent narrative flow and a captivating dynamic with Maria Bakalova to reevaluate its protagonist's precepts. It's hilarious, absurd and surprisingly shocking, being a necessary piece of work to understand the current sociopolitical scenario of the USA.

I give it a 9,5 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)


sábado, 17 de outubro de 2020

"Os 7 de Chicago": usando o passado para falar do presente (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para falar sobre a mais nova produção original da Netflix. Uma obra necessária relatando uma história real que faz incríveis paralelos com o cenário sociopolítico atual nos EUA, o filme em questão é impulsionado para o triunfo pelo seu maravilhoso roteiro e pelo talento abundante de seu elenco estelar, o que pode fazer dele o carro-chefe da plataforma de streaming para o Oscar 2021. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Os 7 de Chicago”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to talk about the most recent Netflix original production. A necessary opus retelling a true story that makes incredible parallels with the current sociopolitical scenario of the US, the film I'm about to review is bolstered to triumph by its wonderful screenplay and by its stellar cast's overflowing talent, which can make it the streaming platform's main bet for next year's Oscars. So, without further ado, let's talk about “The Trial of the Chicago 7”. Let's go!)



Ambientado em 1968, o filme acompanha o julgamento de um grupo de manifestantes que protestavam contra a Guerra do Vietnã conhecido como “Os 7 de Chicago”, que foi acusado pelo governo dos EUA de conspiração e ultrapassar fronteiras estaduais com o objetivo de incitar uma revolta durante a Convenção Nacional Democrata, na cidade de Chicago, Illinois. O filme tem como principal foco o julgamento do grupo, contando com flashbacks para que os espectadores tenham múltiplos pontos de vista sobre o acontecimento.

(Set in 1968, the film follows the trial of an anti-Vietnam War group of protesters known as “The Chicago Seven”, which was charged by the US government with conspiracy and crossing state lines with the objective of inciting riots during the Democratic National Convention, in the city of Chicago, Illinois. The film has the group's trial as its main focus, making use of flashbacks for the viewers to have multiple points of view on what happened.)



Antes de começar a falar sobre o filme em si, acho melhor dedicar algumas linhas falando sobre minhas expectativas para “Os 7 de Chicago”. Haviam várias razões para que eu estivesse realmente animado para esse filme, a começar pelo seu roteirista e diretor, Aaron Sorkin, que nos entregou um dos melhores roteiros dos últimos tempos por meio de “A Rede Social”, filme de 2010 dirigido por David Fincher. Depois, havia o inegável e abundante talento de seu elenco, composto de vencedores e indicados ao Oscar (Eddie Redmayne, Mark Rylance, Michael Keaton, Frank Langella), assim como grandes nomes do palco, da TV e até da comédia (Sacha Baron Cohen, Alex Sharp, Yahya Abdul-Mateen II, John Carroll Lynch). E por último, mas não menos importante, o fato da Paramount Pictures ter vendido os direitos de distribuição do filme para a Netflix, devido à atual pandemia do coronavírus. E eu nem contei sobre o enorme número de críticas positivas recebidas após sua exibição limitada nas salas de cinema já abertas em seu país de origem. Então, aos meus olhos, simplesmente não tinha como um filme desse calibre ser ruim. E realmente não é. Com isso dito, vamos falar do roteiro. Para aqueles já familiarizados com o trabalho de Aaron Sorkin nos roteiros de “A Rede Social” e de “Questão de Honra”, de 1992, está bem claro que ele tem um domínio incrível sobre o diálogo, especialmente em cenários contidos, devido às suas raízes como dramaturgo na Broadway. E com o roteiro de “Os 7 de Chicago”, é possível ver que esse talento permanece impecável. Tendo como base os cenários de alguns de seus roteiros anteriores, pode-se perceber que Sorkin pega situações que seriam bem maçantes de se ver em tela, como a criação do Facebook e vários julgamentos, e transforma tais situações em algo realmente excitante, engajante e extraordinariamente bem desenvolvido. E seu novo filme não é uma exceção. O roteirista e diretor pega um julgamento de mais de 150 dias de duração e, através de sua inegável habilidade de criar diálogos memoráveis e personagens cheios de personalidade, dramatiza esse acontecimento real em um dos melhores filmes do ano, se não for o melhor. Os personagens-título são desenvolvidos com maestria, e Sorkin faz um uso constante e eficiente de flashbacks para que nós, como espectadores, possamos ver o ponto de vista deles sobre o acontecimento que os levou ao julgamento. Em vários momentos do filme, eu pensei que ele só iria focar nos julgamentos e acabar não mostrando as revoltas em que vários dos personagens se envolveram. E essa foi uma daquelas vezes em que eu fiquei bem feliz em estar enganado. As cenas mostrando esses acontecimentos são retratadas com crueza, brutalidade e um realismo incríveis, fazendo um uso maravilhoso de filmagens de arquivo para complementar e espelhar o que está sendo mostrado em tela. São cenas pesadas que chamam a atenção do espectador para o que está acontecendo no filme e, especialmente, para o cenário sociopolítico atual dos EUA, à luz dos protestos liderados pelo grupo Black Lives Matter, devido ao recente assassinato de George Floyd. Por esse paralelo entre duas ondas de protesto relacionadas à vida das pessoas negras nos EUA (na Guerra do Vietnã, onde a grande maioria dos enviados para lutar foi negra, e cujo cenário levou à criação do partido dos Panteras Negras, que propunha o confronto aberto com a cultura racista do país; e atualmente, onde foram vivenciados vários assassinatos de pessoas negras por policiais, mais especialmente George Floyd e Breonna Taylor), o filme ganha uma profundidade inesperada e uma conexão temática com os dias de hoje, destacando as similaridades entre as duas ondas de protestos, e mostrando que a realidade ainda não mudou, 50 anos depois. Sem a menor sombra de dúvida, esse será um filme que chamará a atenção da Academia, e certamente será um dos maiores concorrentes na temporada de prêmios do ano que vem.

(Before I start talking about the film itself, I think it's better to dedicate some lines to talk about my expectations regarding “The Trial of the Chicago 7”. There were several reasons for me to be excited for this film, starting off with its writer-director, Aaron Sorkin, who gave us one of the best screenplays in recent times through “The Social Network”, a 2010 film directed by David Fincher. Then, there's the undeniable and overflowing talent of its cast, composed by Oscar winners and nominees (Eddie Redmayne, Mark Rylance, Michael Keaton, Frank Langella), as well as big names from stage, screen and even comedy (Sacha Baron Cohen, Alex Sharp, Yahya Abdul-Mateen II, John Carroll Lynch). And at last, but not least, the fact that Paramount Pictures sold the distribution rights to Netflix, due to the current COVID-19 pandemic. And I'm not even counting the enormous amount of positive reviews after its limited run in the already-opened movie theaters in its country of origin. So, in my point of view, there was simply no way for a film of this caliber to be bad. And it really isn't. With that out of our way, let's talk about the screenplay. For those already familiar with Aaron Sorkin's work in the screenplays for “The Social Network” and 1992's “A Few Good Men”, it's quite clear that he has an incredible dominion over dialogue, especially in contained scenarios, due to his roots as a playwright on Broadway. And with the script of “The Trial of the Chicago 7”, we're able to see that this talent remains flawless. Looking at some of his previous screenplays' scenarios, it can be noticed that Sorkin takes situations that would be very tiring to witness onscreen, such as the creation of Facebook and several trials, and transforms said situations into something exciting, engaging, and extraordinarily well-developed. And his new film isn't an exception. The writer-director takes a trial that lasted over 150 days and, through his undeniable ability of creating memorable dialogue and multi-layered characters, he dramatizes this true story in one of the best (if not the best) films of the year. The title characters are masterfully developed, and Sorkin makes a constant and efficient use of flashbacks for us, as viewers, to be able to see their point of view on the event that led them to the trial. In many moments during the film, I thought it was only going to focus on the trial and end up not showing the riots in which several of the film's characters got involved in. And this was one of those times where I was really happy to be mistaken. The scenes showing these events are portrayed with an amazing rawness, brutality and realism to them, making a wonderful use of archival footage to complement and mirror what's being shown onscreen. They are hard-hitting scenes that will draw the viewer's attention to what's happening in the film and, especially, to the current sociopolitical scenario in the US, in the light of the protests led by the group Black Lives Matter, due to the recent murder of George Floyd. Because of this parallel between two waves of protests related to the lives of black people in the US (during the Vietnam War, where the great majority of Americans sent to fight was black, and that scenario led to the creation of the Black Panther party, which proposed an open confrontation with the country's racist culture; and today, where we lived through several murders of black people by police officers, most notably George Floyd and Breonna Taylor), the film gains an unexpected depth and a thematic connection with our reality, highlighting the similarities between the two waves of protests, and showing that absolutely nothing changed, in the past 50 years since this trial. Without a shadow of a doubt, this film will definitely call for the Academy's attention, and will certainly be one of the main contenders in next year's award season.)



Agora, vamos falar sobre uma das principais cartas na manga de “Os 7 de Chicago”: o seu elenco. Tem tanto talento nos nomes presentes aqui, que eu nem sei por onde começar. Todos trabalham de forma extraordinária aqui, tanto individualmente como em conjunto. (Dona Academia, tá aí mais uma razão pra criar uma categoria de Melhor Elenco Conjunto!) Eu amei o desempenho do Sacha Baron Cohen, especialmente pela versatilidade que ele mostrou ao transitar entre humor e momentos dramáticos ao interpretar um dos personagens-título. Há uma cena em particular aqui que pode (e na minha opinião, deve) indicá-lo ao Oscar de Melhor Ator, pelo realismo e crueza transmitidos pelo ator em relação aos diálogos escritos por Sorkin. Outro destaque fica com o Eddie Redmayne, que interpreta seu melhor personagem desde sua atuação vencedora do Oscar por “A Teoria de Tudo”. Um dos personagens-chave da trama, é simplesmente fascinante ver as discussões que Redmayne compartilha com os outros 7 de Chicago. Devido ao incrível desempenho dele, é possível ver mais uma indicação iminente ao Oscar de Melhor Ator. Dois veteranos que também fazem um trabalho extraordinário aqui são o Mark Rylance e o Frank Langella, que provavelmente competirão pela estatueta de Melhor Ator Coadjuvante. E por fim, Sorkin consegue extrair boas e memoráveis atuações de seu diverso elenco, o qual inclui nomes como Joseph Gordon-Levitt, Michael Keaton, Alex Sharp, Jeremy Strong, Yahya Abdul-Mateen II e John Carroll Lynch, por mais breves que algumas dessas performances possam acabar sendo.

(Now, let's talk about one of the main tricks up the sleeve of “The Trial of the Chicago 7”: its cast. There's so much talent in these names, that I don't even know where to start. Everyone does an extraordinary job here, both individually and as an ensemble. (Hey Academy, here's one more reason for you to create a category for Best Ensemble Cast!) I loved Sacha Baron Cohen's performance, especially for the versatility he showed when transitioning between humor and dramatic moments while portraying one of the title characters. There's a particular scene here that may (and in my opinion, should) nominate him for the Oscar for Best Actor, for the realism and rawness the actor transmitted to the dialogue written by Sorkin. Another highlight stays with Eddie Redmayne, who plays his best character since his Oscar-winning performance for “The Theory of Everything”. One of the key characters in the plot, it's simply fascinating to behold the discussions Redmayne shares with the rest of the Chicago Seven. Due to his incredible work, it's possible to see one more imminent nomination for the Oscar for Best Actor. Two veterans that also do an extraordinary job here are Mark Rylance and Frank Langella, who will likely go head to head while competing for the Best Supporting Actor award. And at last, Sorkin manages to extract good and memorable performances by its diverse cast, which includes names such as Joseph Gordon-Levitt, Michael Keaton, Alex Sharp, Jeremy Strong, Yahya Abdul-Mateen II and John Carroll Lynch, as brief as some of these performances may end up being.)



Tecnicamente, “Os 7 de Chicago” é impecável. Eu gostei bastante da direção de fotografia do Phedon Papamichael e da direção de arte, que conseguiu recriar a ambientação e os personagens de uma forma extremamente fiel à realidade. A trilha sonora instrumental do Daniel Pemberton é maravilhosa, como sempre. O uso dela no final do filme quase me fez chorar e aplaudir de pé. Mas se há um aspecto técnico para ser o destaque nas premiações, esse aspecto seria a montagem. Assim como aconteceu em roteiros anteriores de Sorkin, como “A Rede Social”, a edição é extremamente dinâmica. Por exemplo, há uma cena onde uma testemunha está sendo interrogada pelos procuradores-gerais sobre uma conversa que ela teve com os réus. Aí, antes da testemunha falar o que eles conversaram, o filme faz um corte cirúrgico para a conversa em tempo real, através de um flashback. Esses tipos de corte acontecem mais de uma vez, e ajudam bastante o espectador a ter múltiplos pontos de vista sobre o acontecimento que levou os personagens à julgamento. Outro uso brilhante da montagem se torna evidente ao vermos imagens e filmagens de arquivo para complementar e espelhar o que está acontecendo em tela. Às vezes, esses cortes podem ser bem rápidos com o objetivo de tornar a linha entre a realidade e a dramatização cada vez mais tênue, o qual é alcançado com maestria. É altamente provável que “Os 7 de Chicago” seja o principal concorrente ao Oscar de Melhor Montagem.

(Technically, “The Trial of the Chicago 7” is flawless. I really liked Phedon Papamichael's cinematography and the art direction, which managed to recreate its setting and characters in an extremely faithful way to reality. Daniel Pemberton's score is wonderful, as per usual. Its use in the film's ending almost made me cry and give it a standing ovation. But if there's one technical aspect that will be its highlight in the award season, that aspect would be the editing. As it happened with Sorkin's previous screenplays, such as “The Social Network”, the editing is extremely dynamic. For example, there's a scene where a witness is being interrogated by the attorneys about a conversation he had with the defendants. Then, before the witness says what they talked about, the film makes an extremely calculated cut to the real-time conversation, through a flashback. These types of cuts happen more than once, and they really help the viewer in having multiples points of view on the event that led the characters to trial. Another brilliant use of editing becomes evident when we see archival images and footage to complement and mirror what's happening onscreen. Sometimes, these cuts may be very quick with the objective of blurring the line between reality and dramatization more and more, which is masterfully reached. It's highly likely that “The Trial of the Chicago 7” ends up being the main contender for the Oscar for Best Film Editing.)



Resumindo, “Os 7 de Chicago” é mais um triunfo original da Netflix. Ancorado por um roteiro maravilhoso e atuações altamente dedicadas de seu elenco absurdamente talentoso, o filme consegue fazer um paralelo entre duas situações igualmente importantes no cenário sociopolítico dos EUA, o que acaba fazendo dele uma obra necessária para que o espectador entenda a realidade atual do país. Definitivamente vai ser um dos principais concorrentes na temporada de premiações do ano que vem, e é um dos melhores filmes do ano, se não for o melhor.

Nota: 10 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “The Trial of the Chicago 7” is yet another Netflix original triumph. Anchored by a wonderful screenplay and highly dedicated performances by its absurdly talented cast, the film manages to make a parallel between two equally important situations in the US sociopolitical scenario, which ends up making it a necessary opus for the viewer to understand the country's current reality. It'll definitely be one of the main contenders in next year's award season, and it is one of the best films of the year, if not the best.

I give it a 10 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)


sábado, 10 de outubro de 2020

"The Forty-Year-Old Version": um honesto retrato da diversidade cultural em Nova York (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para trazer para vocês a resenha da produção original mais recente da Netflix. Um retrato da vida cru e honesto contado sob um ponto de vista diferente, o filme em questão é um divertidíssimo e incrível primeiro projeto de uma poderosa voz em ascensão. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “The Forty-Year-Old Version”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to bring you the review for Netflix's most recent original production. A raw and honest portrait of life told under a different point of view, the film I'm about to review is a really fun and amazing first project by a powerful rising voice in cinema. So, without further ado, let's talk about “The Forty-Year-Old Version”. Let's go!)



Ambientado na cidade de Nova York, o filme segue Radha (Radha Blank), uma dramaturga que está prestes a completar 40 anos de idade. Desesperada para dar uma guinada na sua vida depois de quase uma década sem lançar algo novo (o que acabou por levá-la à uma sofrida profissão como professora de dramaturgia), Radha tenta encontrar sua voz investindo numa carreira como rapper, sob o nome artístico RadhaMUS Prime.

(Set in New York City, the film follows Radha (Radha Blank), a playwright who's about to turn 40. Feeling desperate to turn her life around after not releasing anything new for almost a decade (which ended up leading her into a suffered job as a playwriting teacher), Radha tries to find her voice by investing on a career as a rapper, under the stage name RadhaMUS Prime.)



Pode-se dizer que estamos vivendo em uma época de cada vez mais diversidade no cinema, o que permite que nós, como espectadores, possamos ver diferentes pontos de vista sobre a vida em si. Do início do século para os tempos atuais, tivemos vários exemplos proeminentes de auteurs (cineastas que escrevem e dirigem seus filmes, e que têm um controle criativo muito firme sobre suas obras): Wes Anderson, Guillermo del Toro, Jordan Peele, Barry Jenkins, Greta Gerwig, Steve McQueen, Céline Sciamma, Damien Chazelle, Bong Joon-Ho, Quentin Tarantino, Richard Linklater, entre muitos e muitos outros. Não tinha ouvido falar de “The Forty-Year-Old Version” até alguns dias atrás, quando vi uma reunião de ótimas críticas envolvendo o filme, o qual tinha sido exibido no Festival de Sundance no ínicio do ano, onde a diretora, roteirista e protagonista Radha Blank venceu o prêmio de Melhor Direção na Seção Competitiva Dramática Estadunidense. O filme me chamou ainda mais a atenção por ter sido filmado em preto-e-branco, e mais pra frente, irei falar porque acho que essa escolha foi uma sacada genial que a diretora teve. Então, com isso dito, vamos falar do roteiro. Já de cara, posso dizer que, pelo fato do filme ser roteirizado pela própria diretora E protagonista, há um tom sempre presente de autenticidade aqui. É possível ver que é a história dela que estamos vendo, e Blank consegue transmitir seu ponto de vista com muita graça e bom-humor. A rigor, é um filme bem longo para uma comédia (aproximadamente 2 horas e 5 minutos de duração), mas a história te prende tanto, que você nem consegue ver o tempo passar. Os personagens são muito bem desenvolvidos, ao ponto do espectador pensar que os atores não estão seguindo um roteiro. Eles são tão humanos, tão reais, que nos dão a impressão de que estão interpretando a si mesmos. Por se tratar de um filme sobre questões raciais, um assunto cada vez mais presente no nosso dia a dia, alguém poderia pensar que “The Forty-Year-Old Version” seria bem sério, um drama bem pesado sobre as dificuldades que uma pessoa negra enfrenta no seu cotidiano. Mas é exatamente o contrário: o roteiro ainda aborda temas sérios e relevantes, mas acaba sendo uma comédia dramática extremamente cativante. Se eu pudesse comparar essa obra com outra produção original da Netflix, seria “The Eddy”, porque assim como a minissérie ambientada em Paris, o filme de Radha Blank é uma demonstração das múltiplas culturas presentes e atuantes na “cidade que nunca dorme”. Eu gostei bastante do arco narrativo enfrentado pela protagonista, que se vê dividida entre dois cenários para sua vida, e a maneira que a roteirista e diretora usa para expressar essa indecisão, e consequentemente, a decisão final que ela faz na conclusão do filme, é simplesmente genial. Mas, se eu fosse destacar algo como o diferencial do roteiro de “The Forty-Year-Old Version”, seria a honestidade, porque a obra é basicamente uma autobiografia da própria diretora, sobre as lutas dela para descobrir sua verdadeira voz, em meio ao preconceito e todos os problemas que uma pessoa negra enfrentaria na atualidade. É simplesmente incrível como uma diretora e roteirista estreante consegue achar sua identidade fazendo um filme sobre si mesma. Mal posso esperar para ver os trabalhos futuros dessa tremenda voz em ascensão.

(It can be said that we're living in a time of ever-growing diversity in cinema, which allows us, as viewers, to see different points of view on life itself. From the beginning of the century to today, we've had several proeminent examples of auteurs (filmmakers that write and direct their own films, and that have a tighter creative grip on their work): Wes Anderson, Guillermo del Toro, Jordan Peele, Barry Jenkins, Greta Gerwig, Steve McQueen, Céline Sciamma, Damien Chazelle, Bong Joon-Ho, Quentin Tarantino, Richard Linklater, among many, many others. I haven't heard about “The Forty-Year-Old Version” until a few days ago, when I saw a collection of rave reviews about it, all from its screening at the Sundance Film Festival earlier this year, where director, writer and protagonist Radha Blank won the U.S. Dramatic Competition Directing Award. The film caught my attention even more by being filmed in black-and-white, and further on, I'll explain why I think this particular choice was a genius move by the director. So, with that out of our way, let's talk about the script. Out of the blue, I can already say that, because it's written by the director AND the protagonist, the film has an ever-present tone of authenticity. We are very able to see that this story we're witnessing is hers, and Blank manages to expose her points of view with such grace and humor. One would say this film is way too long for a comedy (clocking in about 2 hours and 5 minutes), but the story has such a grip on you, that you don't even see the time pass by. The characters are very well-developed, to the point where the viewer thinks that they're not even following a script. They're so human, so real, that they give us the impression that they're playing themselves. As it's a film that deals with racial issues, a subject becoming more and more present in our collective minds, one might think that “The Forty-Year-Old Version” would be quite serious, a hard-hitting drama on the difficulties a black person faces in their day-to-day lives. But it's exactly the opposite: the script still deals with serious and relevant themes, but it ends up being an extremely captivating dramatic comedy. If I could compare this to another original work by Netflix, it would be “The Eddy”, because, as it happens with the Paris-set miniseries, Radha Blank's film is a demonstration of the multiple cultures co-existing in “the city that never sleeps”. I really liked the protagonist's narrative arc, where she sees herself divided between two scenarios for her life, and the way the writer-director finds of exploring this indecision, and consequently, her final decision in the film's conclusion, is simply a genius move. But, if I were to highlight something as the differential of “The Forty-Year-Old Version”, it would be its honesty, because it is basically an autobiography for its director, about her struggles to find her own real voice, amidst the prejudices and every problem a black person would face today. It's simply amazing how a debut writer-director manages to find her identity by making a movie about herself. I can't wait for this tremendous rising voice's future work.)



Eu não conhecia nenhum dos atores presentes em “The Forty-Year-Old Version”, o que, pra mim, foi maravilhoso, porque permitiu que eu ficasse positivamente surpreso pelo incrível desempenho desse elenco. A começar pela roteirista e diretora, Radha Blank, que dá um verdadeiro espetáculo de interpretação aqui. Ela é engraçada, carismática, honesta, pé no chão, e acima de tudo, humana. Ela não tem tudo na vida decidido ainda, e isso contribui para que o espectador se identifique mais rapidamente com ela. O resto do elenco também trabalha muito bem. O Peter Kim e o Oswin Benjamin possuem ótimas dinâmicas com a protagonista: Kim interpreta o hilário melhor amigo-agente, e Benjamin o interesse amoroso-parceiro de trabalho. O Reed Birney e a Welker White são alguns dos únicos atores brancos no elenco, e é possível dizer que eles têm uma espécie de antagonismo por sempre interferir nos planos da personagem de Blank. Eu gostei bastante do alívio cômico que o Antonio Ortiz e a Haskiri Velazquez providenciaram. E por último, mas não menos importante, temos o Jacob Ming-Trent, que protagoniza uma das cenas mais memoráveis e decisivas do longa.

(I didn't know any of the actors in “The Forty-Year-Old Version”, which, for me, was wonderful, because it allowed me to be positively surprised by this cast's amazing job. Starting off with the writer-director, Radha Blank, who gives a showstopping performance here. She's funny, charismatic, honest, down-to-earth, and above all, human. She doesn't have everything in life figured out yet, and that contributes for the viewer to identify themselves more quickly with her. The rest of the cast also does a really good job. Peter Kim and Oswin Benjamin have great dynamics with the main character: Kim plays her hilarious best friend-agent, while Benjamin portrays her love interest-work partner. Reed Birney and Welker White are some of the only white actors in the cast, and it's possible to say they have an antagonism of sorts for always interfering with Blank's character's plans. I really enjoyed the comic relief that Antonio Ortiz and Haskiri Velazquez could provide. And at last, but not least, we have Jacob Ming-Trent, who plays a main part in one of the film's most memorable and decisive scenes.)



Nos aspectos técnicos, se encontram alguns dos maiores pontos fortes do longa. A começar pela genial escolha de filmar o filme em preto-e-branco na direção de arte, que é altamente simbólica: a protagonista está prestes a completar 40 anos, e então ela vê a vida daquele jeito, porque ela pensa que os bons tempos, os tempos coloridos, já foram embora. Só fui perceber isso na cena final do filme, que é construída de forma primorosa, o que acabou por dar uma profundidade simbólica muito maior para algo que só deveria ter sido levar em conta em um quesito mais técnico. Eu adorei como a fotografia foi usada aqui. Como o filme é basicamente uma autobiografia da própria diretora, a câmera move e balança de uma forma bem amadora, o que combina perfeitamente com a proposta de ser um retrato cru e realista da vida, quase como um documentário. A montagem é muito bem feita. Várias vezes, após uma cena “decisiva”, o filme corta para depoimentos de pessoas falando suas opiniões sobre o que foi exibido na cena anterior, o que contribui ainda mais pra essa ideia de ser um “falso documentário” sobre a diretora. E pra terminar, temos a trilha sonora, composta inteiramente de músicas de rap (algumas delas compostas por Blank), o que cai como uma luva na vibe urbana que o filme deseja passar para o seu público.

(In the technical aspects, we find some of the film's strongest points. Starting off by the genius choice of filming it in black-and-white in the art direction department, which is highly symbolic: the protagonist is about to turn 40, and then she sees life like that, because she thinks that the good times, the colorful times, are long gone. I only realized that in the film's final scene, which is wonderfully built, and that ended up giving a much larger symbolic depth to something that should only be analyzed from a more technical point of view. I loved how cinematography was used here. As the film is basically an autobiography for its director, the camera moves and shakes in a very amateurish way, which fits perfectly with the proposal of being a raw, realistic portrait, almost like a documentary. The editing is very well done. Several times, after a “decisive” scene, the film cuts to individual opinions by people who cash in on their point of view on what was shown in the previous scene, which contributes even more to this idea of being a “false documentary” on the director. And to top it off, we have the soundtrack, composed entirely by rap music (some of the songs being written and composed by Blank), which fits like a glove in the urban vibe the film wants to transmit to its audience.)



Resumindo, “The Forty-Year-Old Version” é uma das melhores estreias de diretores e roteiristas em ascensão dos últimos anos. Transbordando de honestidade e realismo, e impulsionado pelo enorme talento de sua roteirista-atriz-protagonista, o filme acerta todas as notas ao fazer um belo retrato da diversidade cultural na cidade de Nova York.

Nota: 10 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “The Forty-Year-Old Version” is one of the best rising writer-director debuts in recent years. Overflowing with honesty and realism, and bolstered by its writer-director-protagonist's enormous talent, the film hits all the right notes while making a beautiful portrait of cultural diversity in New York City.

I give it a 10 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)


quinta-feira, 8 de outubro de 2020

"O Halloween do Hubie": um pequeno pacote de alegria para o caos de 2020 (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para falar sobre uma grata surpresa no catálogo da Netflix. Mesmo sendo às vezes bobo e previsível, o longa em questão é carregado pelo enorme carisma de seu elenco cômico e seu tom otimista, o que serve como um antídoto perfeito para o caos em que estamos vivendo neste momento. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre a nova empreitada de Adam Sandler para a Netflix: “O Halloween do Hubie”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to talk about a pleasant surprise in your Netflix catalog. Even though it's often silly and predictable, the film I'm about to review is carried by its comical cast's enormous charisma and its optimistic tone, which serves as a perfect antidote for the chaotic situation we're all facing right now. So, without further ado, let's talk about Adam Sandler's new endeavor for Netflix: “Hubie Halloween”. Let's go!)



Ambientado na cidade de Salem, Massachusetts, o filme acompanha Hubie Dubois (Adam Sandler), um homem medroso e ingênuo que é constantemente atormentado e maltratado pelos seus vizinhos e concidadãos. Mas no Dia das Bruxas, um assassino com problemas mentais escapa de um hospício e retorna à Salem, sua cidade natal, influenciando e motivando Hubie, o maior fã do feriado, a tentar superar seus medos e salvar os moradores de Salem do vilão.

(Set in the town of Salem, Massachusetts, the film follows Hubie Dubois (Adam Sandler), a naive, fearful man who is constantly tormented and mistreated by his neighbors and the town's citizens. But on Halloween night, a mentally-ill serial killer escapes from an asylum and makes his way to Salem, his hometown, influencing and motivating Hubie, the holiday's biggest fan, to try overcoming his fears and saving the people of Salem from the villain.)



Adam Sandler é uma figura polêmica e controversa para os críticos de cinema. Para os críticos em geral, os filmes de comédia dele não são nada engraçados, e ganha o centro das atenções deles somente quando ele investe mais em papéis dramáticos, como nos filmes “Embriagado de Amor”, “Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe”, e o elogiadíssimo “Joias Brutas”. Eu, mesmo não sendo tão consagrado assim como crítico de cinema, respeitosamente discordo. Claro, Sandler já fez alguns filmes terríveis no passado (vamos fingir que “Cada um Tem a Gêmea que Merece” não existe), mas a grande maioria dos filmes dele é completamente assistível, tendo como melhores exemplos “Click” e “Gente Grande”. O que os críticos precisam entender é que os filmes de Sandler não são feitos para serem inteligentes. Eles são bobos de propósito, porque a própria persona cômica do ator, estabelecida no programa de esquetes “Saturday Night Live”, é boba e infantil, e foi isso que fez dele um sucesso no programa. Com isso dito, em qualquer outra circunstância que o mundo estivesse passando, tenho quase certeza que “O Halloween do Hubie” teria sido implacavelmente e completamente massacrado pelos críticos, porque literalmente toda fórmula e estereótipo que eles esperariam de um filme do ator se repete aqui. Mas, levando em conta a situação caótica em que estamos vivendo, onde, exceto por emergências, precisamos ficar em casa, “O Halloween do Hubie” é um pequeno pacote de alegria para o mundo sombrio de hoje em dia. Claro, não chega a ser melhor ou mais emocionante do que “Click”, mas também não é um “Cada um Tem a Gêmea que Merece”. Eu gostei da investida do roteiro em um caminho mais direcionado para o “terrir” (uma mistura entre comédia e terror), e as várias referências ao clássico “Halloween”, de 1978, dirigido por John Carpenter. Como em todo filme de Sandler, “Hubie” tem muitas piadas recorrentes, e na grande maioria das vezes, elas funcionam pelo teor absurdo que elas vão obtendo no decorrer do sucinto tempo de duração de 1 hora e 42 minutos (Adam, me diz onde eu acho aquela garrafa térmica). Os personagens são bem desenvolvidos. Não de um modo “MEU DEUS DO CÉU, EU AMO ESSE PERSONAGEM”, mas eles são decentes e carismáticos o bastante para que o espectador se importe com eles. Agora, tá aí algo que eu realmente não esperava em um filme de Adam Sandler: reviravoltas. Sim, você leu certo. “O Halloween do Hubie” tem algumas gratas reviravoltas para que o roteiro não fique somente na fórmula de sempre, funcionando para efeito cômico ou para dar uma verdadeira “guinada” no enredo. Resumindo, a história é formulaica e previsível? Claro, mas esse é o propósito de assistir um filme de Sandler. Eles são feitos para um entretenimento superficial, mas eficiente. Não são filmes propriamente originais, mas para os tempos de hoje, a vibe feel-good de “Hubie” é um perfeito antídoto. Os cinéfilos mais cultos podem me esculachar por isso, mas aí vai: os filmes dele podem ser “bobos” e infantis, mas em situações como essa pandemia, Adam Sandler pode não ser o herói que queremos, mas certamente é o herói que precisamos para trazer uma dose eficiente de risadas e uma distração das tristes situações do mundo real.

(Adam Sandler is a thoroughly controversial figure for movie critics. For critics in general, his comedy films aren't funny at all, and he becomes their center of attention only when investing in more dramatic endeavors, such as the films “Punch-Drunk Love”, “The Meyerowitz Stories”, and the acclaimed “Uncut Gems”. Even though I'm not as respected or renowned as many movie critics out there, I respectfully disagree. Sure, Sandler has made some terrible films in the past (let's just forget that “Jack and Jill” ever existed), but the great majority of his films is completely watchable, the best examples being “Click” and “Grown Ups”. What critics need to understand is that Sandler's films aren't supposed to be clever. They're purposedly silly, as the comic persona he built and established in the sketch comedy show “Saturday Night Live” is also silly and childish, and that silliness was what made him a hit on the show. With that out of the way, in every other possible circumstance the world would be going through, “Hubie Halloween” would be relentlessly and completely massacred by critics, as literally every formula and stereotype they've come to expect from his films is repeated once again here. But, taking in account the chaotic situation we're living in right now, where, except for emergencies, we have to stay home, “Hubie Halloween” is a little bundle of joy for today's grim world. Sure, it's not better or as emotional as “Click”, but it also isn't as awful as “Jack and Jill”. I really liked the script's investment of being a horror-comedy film, as well as the several references and winks to the 1978 classic slasher “Halloween”, directed by John Carpenter. As in every Sandler film, “Hubie” has lots of recurring gags, and in their great majority, they land for the absurd and surreal tone they gain throughout its succint running time of 1 hour and 42 minutes (Adam, please tell me where I can find that thermos). The characters are well developed. Not in a “OH MY GOD, I LOVE THIS CHARACTER” way, but they are charismatic and decent enough for the viewer to care about them. Now, there's something I did not expect from an Adam Sandler film: plot twists. Yes, you heard that right. “Hubie Halloween” has some pleasant plot twists for the script not to stick too hard to its formula, either working for comic effect or to turn things around for the plot. To sum it up, is the story formulaic and predictable? Sure, but that's the point of watching a Sandler film. They're made as a superficial, but efficient source of entertainment. They're not properly original films, but for today, “Hubie”'s feel-good vibe is a perfect antidote. The more cult-ish film buffs may bash me for this, but here goes: his films may be silly and predictable, but when facing situations like this pandemic, Adam Sandler may not be the hero we want, but he certainly is the hero we need to bring an efficient dose of laughs and a distraction from the real world's sad situations.)



Assim como acontece com vários diretores, Adam Sandler também tem sua rede de colaboradores frequentes, e muitos deles retornam em seu novo filme. Mas antes de falar deles, vamos falar sobre o homem em pessoa. O Hubie pode muito bem ser o personagem mais “fofo” que o ator interpretou até agora. Nós rimos quando ele se assusta, sentimos dó quando ele é maltratado. Há muitas pessoas que dizem que Sandler interpreta o mesmo personagem em todos os seus filmes, mas há sempre um diferencial em cada personagem que afasta o ator do papel, e no caso de Hubie, é o seu abundante carisma. Para os já familiarizados com os filmes do ator, vários rostos serão identificados, entre eles Kevin James, Rob Schneider, Steve Buscemi, Maya Rudolph, Julie Bowen, Tim Meadows, Colin Quinn, China Anne McClain, Shaquille O'Neal (em um dos seus papéis mais engraçados) e a esposa de Sandler, Jackie. E todos eles trabalham bem aqui. As novas adições são majoritariamente no elenco adolescente, mais notavelmente Karan Brar, Peyton List, e Paris Berelc. Eu gostei bastante que Sandler adicionou membros atuais do programa “Saturday Night Live”, que o trouxe para o estrelato (como Kenan Thompson, Melissa Villaseñor e Mikey Day, que são bem engraçados). A June Squibb interpreta uma das personagens mais engraçadas do longa, e eu fiquei bastante decepcionado com o desempenho do Noah Schnapp, depois do show que ele deu em “Stranger Things”.

(As it happens with many directors, Adam Sandler also has his net of frequent collaborators, and many of them return in his new film. But before I talk about them, let's talk about the man himself. Hubie might as well be the “cutest” character the actor has portrayed to this day. We laugh when he gets scared, feel bad for him when he's mistreated. There are many people who say Sandler plays the same role in every film, but there's always a small difference that puts the actor away from the role, and in Hubie's case, it's his overflowing charisma. For those who are already familiar with the actor's work, several faces will be identified, among them Kevin James, Rob Schneider, Steve Buscemi, Maya Rudolph, Julie Bowen, Tim Meadows, Colin Quinn, China Anne McClain, Shaquille O'Neal (in one of his funniest roles) and Sandler's wife, Jackie. And all of them do a good job here. The new additions are mostly in the teen cast, most notably Karan Brar, Peyton List and Paris Berelc. I really liked the fact Sandler added acting members of “Saturday Night Live”, the show that brought him to stardom (such as Kenan Thompson, Melissa Villaseñor and Mikey Day, who are really funny). June Squibb portrays one of the funniest characters in the film, and I got pretty disappointed with Noah Schnapp's performance, after his show-stopping role in “Stranger Things”.)



Tudo nos aspectos técnicos funciona muito bem. A fotografia navega de um modo eficiente em todas as cenas. A direção de arte dá um tom super aconchegante para suas ambientações durante o dia, e uma paleta de cores neon vibrante e uma atmosfera sombria e enevoada durante o período noturno, o que combina perfeitamente com a vibe de Halloween do longa. Há um uso consciente e proposital de CGI aqui para algumas das piadas recorrentes, e esse uso fica cada vez mais absurdo e engraçado ao longo do tempo de duração, sendo uma fonte cômica bem eficiente. É um filme bem montado, não há nenhuma cena que eu achei descartável. E a trilha sonora faz um bom uso de músicas que encaixam no tema de Halloween, tais como “Monster Mash”, e a música-tema do filme “Caça-Fantasmas”, “Ghostbusters”, de Ray Parker Jr.

(Everything in the technical aspects works smoothly. The cinematography efficiently travels in every scene. The art direction gives a super cozy vibe for its settings during the daytime, and a vibrant neon color palette and a dark, foggy atmosphere during the nighttime, which perfectly fits the Halloween vibe of the film. There's a conscient and purposeful use of CGI here for some of its recurring gags, and that use gets more absurd and funny throughout its running time, serving as a really efficient source for comic relief. It's a well edited film, there isn't any scene I'd count as expendable. And the soundtrack makes a good use of songs that fit into the Halloween theme, such as “Monster Mash” and the theme song from “Ghostbusters”, performed by Ray Parker Jr.)



Resumindo, pode-se dizer que “O Halloween do Hubie” chegou na hora certa. Mesmo sendo infantil e previsível, o que já é característico do ator, o filme é carregado pelo enorme carisma de seu elenco e pelo tom otimista presente na trama, que irá servir como um perfeito antídoto para as situações lamentáveis que o mundo enfrenta neste momento.

Nota: 8,0 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, it can be said that “Hubie Halloween” arrived just at the right time. Even though it's silly and predictable, which is already characteristic of its protagonist, the film is carried by its cast's enormous charisma and its optimistic tone, which will serve as a perfect antidote to the sorrowful situations the world is going through right now.

I give it an 8,0 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)