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sábado, 10 de outubro de 2020

"The Forty-Year-Old Version": um honesto retrato da diversidade cultural em Nova York (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para trazer para vocês a resenha da produção original mais recente da Netflix. Um retrato da vida cru e honesto contado sob um ponto de vista diferente, o filme em questão é um divertidíssimo e incrível primeiro projeto de uma poderosa voz em ascensão. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “The Forty-Year-Old Version”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to bring you the review for Netflix's most recent original production. A raw and honest portrait of life told under a different point of view, the film I'm about to review is a really fun and amazing first project by a powerful rising voice in cinema. So, without further ado, let's talk about “The Forty-Year-Old Version”. Let's go!)



Ambientado na cidade de Nova York, o filme segue Radha (Radha Blank), uma dramaturga que está prestes a completar 40 anos de idade. Desesperada para dar uma guinada na sua vida depois de quase uma década sem lançar algo novo (o que acabou por levá-la à uma sofrida profissão como professora de dramaturgia), Radha tenta encontrar sua voz investindo numa carreira como rapper, sob o nome artístico RadhaMUS Prime.

(Set in New York City, the film follows Radha (Radha Blank), a playwright who's about to turn 40. Feeling desperate to turn her life around after not releasing anything new for almost a decade (which ended up leading her into a suffered job as a playwriting teacher), Radha tries to find her voice by investing on a career as a rapper, under the stage name RadhaMUS Prime.)



Pode-se dizer que estamos vivendo em uma época de cada vez mais diversidade no cinema, o que permite que nós, como espectadores, possamos ver diferentes pontos de vista sobre a vida em si. Do início do século para os tempos atuais, tivemos vários exemplos proeminentes de auteurs (cineastas que escrevem e dirigem seus filmes, e que têm um controle criativo muito firme sobre suas obras): Wes Anderson, Guillermo del Toro, Jordan Peele, Barry Jenkins, Greta Gerwig, Steve McQueen, Céline Sciamma, Damien Chazelle, Bong Joon-Ho, Quentin Tarantino, Richard Linklater, entre muitos e muitos outros. Não tinha ouvido falar de “The Forty-Year-Old Version” até alguns dias atrás, quando vi uma reunião de ótimas críticas envolvendo o filme, o qual tinha sido exibido no Festival de Sundance no ínicio do ano, onde a diretora, roteirista e protagonista Radha Blank venceu o prêmio de Melhor Direção na Seção Competitiva Dramática Estadunidense. O filme me chamou ainda mais a atenção por ter sido filmado em preto-e-branco, e mais pra frente, irei falar porque acho que essa escolha foi uma sacada genial que a diretora teve. Então, com isso dito, vamos falar do roteiro. Já de cara, posso dizer que, pelo fato do filme ser roteirizado pela própria diretora E protagonista, há um tom sempre presente de autenticidade aqui. É possível ver que é a história dela que estamos vendo, e Blank consegue transmitir seu ponto de vista com muita graça e bom-humor. A rigor, é um filme bem longo para uma comédia (aproximadamente 2 horas e 5 minutos de duração), mas a história te prende tanto, que você nem consegue ver o tempo passar. Os personagens são muito bem desenvolvidos, ao ponto do espectador pensar que os atores não estão seguindo um roteiro. Eles são tão humanos, tão reais, que nos dão a impressão de que estão interpretando a si mesmos. Por se tratar de um filme sobre questões raciais, um assunto cada vez mais presente no nosso dia a dia, alguém poderia pensar que “The Forty-Year-Old Version” seria bem sério, um drama bem pesado sobre as dificuldades que uma pessoa negra enfrenta no seu cotidiano. Mas é exatamente o contrário: o roteiro ainda aborda temas sérios e relevantes, mas acaba sendo uma comédia dramática extremamente cativante. Se eu pudesse comparar essa obra com outra produção original da Netflix, seria “The Eddy”, porque assim como a minissérie ambientada em Paris, o filme de Radha Blank é uma demonstração das múltiplas culturas presentes e atuantes na “cidade que nunca dorme”. Eu gostei bastante do arco narrativo enfrentado pela protagonista, que se vê dividida entre dois cenários para sua vida, e a maneira que a roteirista e diretora usa para expressar essa indecisão, e consequentemente, a decisão final que ela faz na conclusão do filme, é simplesmente genial. Mas, se eu fosse destacar algo como o diferencial do roteiro de “The Forty-Year-Old Version”, seria a honestidade, porque a obra é basicamente uma autobiografia da própria diretora, sobre as lutas dela para descobrir sua verdadeira voz, em meio ao preconceito e todos os problemas que uma pessoa negra enfrentaria na atualidade. É simplesmente incrível como uma diretora e roteirista estreante consegue achar sua identidade fazendo um filme sobre si mesma. Mal posso esperar para ver os trabalhos futuros dessa tremenda voz em ascensão.

(It can be said that we're living in a time of ever-growing diversity in cinema, which allows us, as viewers, to see different points of view on life itself. From the beginning of the century to today, we've had several proeminent examples of auteurs (filmmakers that write and direct their own films, and that have a tighter creative grip on their work): Wes Anderson, Guillermo del Toro, Jordan Peele, Barry Jenkins, Greta Gerwig, Steve McQueen, Céline Sciamma, Damien Chazelle, Bong Joon-Ho, Quentin Tarantino, Richard Linklater, among many, many others. I haven't heard about “The Forty-Year-Old Version” until a few days ago, when I saw a collection of rave reviews about it, all from its screening at the Sundance Film Festival earlier this year, where director, writer and protagonist Radha Blank won the U.S. Dramatic Competition Directing Award. The film caught my attention even more by being filmed in black-and-white, and further on, I'll explain why I think this particular choice was a genius move by the director. So, with that out of our way, let's talk about the script. Out of the blue, I can already say that, because it's written by the director AND the protagonist, the film has an ever-present tone of authenticity. We are very able to see that this story we're witnessing is hers, and Blank manages to expose her points of view with such grace and humor. One would say this film is way too long for a comedy (clocking in about 2 hours and 5 minutes), but the story has such a grip on you, that you don't even see the time pass by. The characters are very well-developed, to the point where the viewer thinks that they're not even following a script. They're so human, so real, that they give us the impression that they're playing themselves. As it's a film that deals with racial issues, a subject becoming more and more present in our collective minds, one might think that “The Forty-Year-Old Version” would be quite serious, a hard-hitting drama on the difficulties a black person faces in their day-to-day lives. But it's exactly the opposite: the script still deals with serious and relevant themes, but it ends up being an extremely captivating dramatic comedy. If I could compare this to another original work by Netflix, it would be “The Eddy”, because, as it happens with the Paris-set miniseries, Radha Blank's film is a demonstration of the multiple cultures co-existing in “the city that never sleeps”. I really liked the protagonist's narrative arc, where she sees herself divided between two scenarios for her life, and the way the writer-director finds of exploring this indecision, and consequently, her final decision in the film's conclusion, is simply a genius move. But, if I were to highlight something as the differential of “The Forty-Year-Old Version”, it would be its honesty, because it is basically an autobiography for its director, about her struggles to find her own real voice, amidst the prejudices and every problem a black person would face today. It's simply amazing how a debut writer-director manages to find her identity by making a movie about herself. I can't wait for this tremendous rising voice's future work.)



Eu não conhecia nenhum dos atores presentes em “The Forty-Year-Old Version”, o que, pra mim, foi maravilhoso, porque permitiu que eu ficasse positivamente surpreso pelo incrível desempenho desse elenco. A começar pela roteirista e diretora, Radha Blank, que dá um verdadeiro espetáculo de interpretação aqui. Ela é engraçada, carismática, honesta, pé no chão, e acima de tudo, humana. Ela não tem tudo na vida decidido ainda, e isso contribui para que o espectador se identifique mais rapidamente com ela. O resto do elenco também trabalha muito bem. O Peter Kim e o Oswin Benjamin possuem ótimas dinâmicas com a protagonista: Kim interpreta o hilário melhor amigo-agente, e Benjamin o interesse amoroso-parceiro de trabalho. O Reed Birney e a Welker White são alguns dos únicos atores brancos no elenco, e é possível dizer que eles têm uma espécie de antagonismo por sempre interferir nos planos da personagem de Blank. Eu gostei bastante do alívio cômico que o Antonio Ortiz e a Haskiri Velazquez providenciaram. E por último, mas não menos importante, temos o Jacob Ming-Trent, que protagoniza uma das cenas mais memoráveis e decisivas do longa.

(I didn't know any of the actors in “The Forty-Year-Old Version”, which, for me, was wonderful, because it allowed me to be positively surprised by this cast's amazing job. Starting off with the writer-director, Radha Blank, who gives a showstopping performance here. She's funny, charismatic, honest, down-to-earth, and above all, human. She doesn't have everything in life figured out yet, and that contributes for the viewer to identify themselves more quickly with her. The rest of the cast also does a really good job. Peter Kim and Oswin Benjamin have great dynamics with the main character: Kim plays her hilarious best friend-agent, while Benjamin portrays her love interest-work partner. Reed Birney and Welker White are some of the only white actors in the cast, and it's possible to say they have an antagonism of sorts for always interfering with Blank's character's plans. I really enjoyed the comic relief that Antonio Ortiz and Haskiri Velazquez could provide. And at last, but not least, we have Jacob Ming-Trent, who plays a main part in one of the film's most memorable and decisive scenes.)



Nos aspectos técnicos, se encontram alguns dos maiores pontos fortes do longa. A começar pela genial escolha de filmar o filme em preto-e-branco na direção de arte, que é altamente simbólica: a protagonista está prestes a completar 40 anos, e então ela vê a vida daquele jeito, porque ela pensa que os bons tempos, os tempos coloridos, já foram embora. Só fui perceber isso na cena final do filme, que é construída de forma primorosa, o que acabou por dar uma profundidade simbólica muito maior para algo que só deveria ter sido levar em conta em um quesito mais técnico. Eu adorei como a fotografia foi usada aqui. Como o filme é basicamente uma autobiografia da própria diretora, a câmera move e balança de uma forma bem amadora, o que combina perfeitamente com a proposta de ser um retrato cru e realista da vida, quase como um documentário. A montagem é muito bem feita. Várias vezes, após uma cena “decisiva”, o filme corta para depoimentos de pessoas falando suas opiniões sobre o que foi exibido na cena anterior, o que contribui ainda mais pra essa ideia de ser um “falso documentário” sobre a diretora. E pra terminar, temos a trilha sonora, composta inteiramente de músicas de rap (algumas delas compostas por Blank), o que cai como uma luva na vibe urbana que o filme deseja passar para o seu público.

(In the technical aspects, we find some of the film's strongest points. Starting off by the genius choice of filming it in black-and-white in the art direction department, which is highly symbolic: the protagonist is about to turn 40, and then she sees life like that, because she thinks that the good times, the colorful times, are long gone. I only realized that in the film's final scene, which is wonderfully built, and that ended up giving a much larger symbolic depth to something that should only be analyzed from a more technical point of view. I loved how cinematography was used here. As the film is basically an autobiography for its director, the camera moves and shakes in a very amateurish way, which fits perfectly with the proposal of being a raw, realistic portrait, almost like a documentary. The editing is very well done. Several times, after a “decisive” scene, the film cuts to individual opinions by people who cash in on their point of view on what was shown in the previous scene, which contributes even more to this idea of being a “false documentary” on the director. And to top it off, we have the soundtrack, composed entirely by rap music (some of the songs being written and composed by Blank), which fits like a glove in the urban vibe the film wants to transmit to its audience.)



Resumindo, “The Forty-Year-Old Version” é uma das melhores estreias de diretores e roteiristas em ascensão dos últimos anos. Transbordando de honestidade e realismo, e impulsionado pelo enorme talento de sua roteirista-atriz-protagonista, o filme acerta todas as notas ao fazer um belo retrato da diversidade cultural na cidade de Nova York.

Nota: 10 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “The Forty-Year-Old Version” is one of the best rising writer-director debuts in recent years. Overflowing with honesty and realism, and bolstered by its writer-director-protagonist's enormous talent, the film hits all the right notes while making a beautiful portrait of cultural diversity in New York City.

I give it a 10 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)


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