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segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

"Bela Vingança": um suspense tenso e relevante para a era #MeToo (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para falar sobre o meu filme favorito da temporada de premiações desse ano. Munido de um roteiro surpreendentemente inteligente e provocativo e uma das melhores performances da carreira de sua protagonista, o filme em questão consegue ser, ao mesmo tempo, inegavelmente tenso e essencialmente reflexivo. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Bela Vingança”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to talk about my favorite film in this year's award season. Armed with a surprisingly clever, provocative screenplay and one of the best performances in its protagonist's career, the film I'm about to analyze manages to be, at the same time, undeniably tense and essentially thought-provoking. So, without further ado, let's talk about “Promising Young Woman”. Let's go!)



O filme conta a história de Cassie (Carey Mulligan), uma estudante de medicina que, devido à um evento traumatizante, deixa a faculdade e embarca em uma jornada de vingança contra aqueles responsáveis pelo evento.

(The film tells the story of Cassie (Carey Mulligan), a medical school undergraduate who, due to a traumatizing event, drops out of college and embarks on a journey of vengeance against those who were responsible for that event.)



Posso dizer, sem rodeios, que eu esperei um ano inteiro para assistir “Bela Vingança”. Primeiramente, o filme me chamou a atenção em sua primeira exibição no Festival de Sundance do ano passado, onde a recepção foi quase que unanimemente positiva, com a maioria dos elogios destacando a atuação da Carey Mulligan e o roteiro. Depois, fui pesquisar mais um pouco sobre o filme, e descobri que ele tinha sido escrito e dirigido pela Emerald Fennell. Para quem não sabe, Fennell foi a responsável por supervisionar e roteirizar a segunda temporada de “Killing Eve”, série de espionagem que explora a relação obsessiva entre uma agente do Serviço Secreto Inglês e uma assassina psicopata. Os roteiros de Fennell para a série aumentaram a tensão e aprofundaram o desenvolvimento estabelecidos pela genialidade de Phoebe Waller-Bridge, criadora da obra-prima que é “Fleabag”, na primeira temporada. Minhas expectativas já aumentaram um pouco, por “Bela Vingança” parecer algo na mesma linha de “Killing Eve”, em termos de tom. Depois disso, no segundo semestre de 2020, quando a estreia do filme nos EUA já estava programada para o dia 25 de dezembro, minhas expectativas atingiram um pico inesperado pela presença do Bo Burnham, compositor e comediante norte-americano que fez uma das melhores coisas que vi ano passado, o especial de stand-up “Make Happy”, disponível na Netflix. Aí, pronto. Eu fui completamente fisgado por Fennell e companhia. Então, eu esperei até o filme finalmente estar ao meu alcance. E fico extremamente feliz em dizer que não me decepcionei nem um pouco. É necessário ressaltar a sagacidade da roteirista e diretora ao estabelecer o tom da sua obra. Ela consegue misturar perfeitamente aqui uma vibe constantemente tensa com algumas piadas de humor negro para evitar que fique sombrio demais. Falando sobre o fator de entretenimento, Fennell consegue construir sequências que vão ficando cada vez mais tensas e até assustadoras a cada minuto que se passa. É um filme original, provocativo e ousado. Uma das melhores partes do roteiro de “Bela Vingança” é a manipulação que a roteirista tem sobre o espectador. Quando você pensa que a trama vai seguir certo rumo e apostar em algo que você já viu antes, Fennell quebra suas expectativas, às vezes de modo inesperado e chocante. Mas o fator de entretenimento é só a ponta do iceberg do roteiro. “Todo ano, vem um filme que dá início à uma discussão, segura um espelho à realidade e nos força a acordar.” Essa foi a frase usada no trailer final do filme, e é exatamente o que o longa faz. Ele desperta discussões relevantes, especialmente para os tempos atuais; lida com essas discussões de modo dolorosamente realista e, por consequência, nos conscientiza sobre a mensagem que ele quer passar. Além de ser um suspense com bastante tensão de roer as unhas, “Bela Vingança” também é um tremendo estudo de personagem da sua protagonista, lidando com o trauma e as cicatrizes deixadas por ele com muita honestidade e humanidade. Acho que já falei isso no blog, mas para mim, o vencedor ideal do Oscar de Melhor Filme precisa ter um equilíbrio entre os fatores artístico e entretenimento, e o filme de estreia de Fennell cumpre todos esses pré-requisitos. É tenso, enervante, original, ousado, ao mesmo tempo que é reflexivo, atual e realista, permanecendo na mente do espectador mesmo depois do filme acabar. Na minha opinião, o roteiro de “Bela Vingança” é o principal concorrente aos prêmios de Melhor Roteiro e Melhor Roteiro Original dessa temporada, e merece todo o reconhecimento que está recebendo até agora.

(I can say, without exaggerations, that I waited an entire year to watch “Promising Young Woman”. Firstly, it caught my attention in its world premiere at last year's Sundance Film Festival, where the reception to it was almost unanimously positive, with most praise headed towards Carey Mulligan's performance and the screenplay. Then, I researched about it a little bit more, and found out it was written and directed by Emerald Fennell. For those who don't know, Fennell was the showrunner and head writer for the second season of “Killing Eve”, a spy thriller show that explores an obsessive relationship between a MI6 agent and a psychopath assassin. Fennell's screenplays for the show enhanced on the tension and deepened the character development established by the genius of Phoebe Waller-Bridge, creator of the masterpiece that is “Fleabag”, in its first season. My expectations became a little bit higher, as “Promising Young Woman” seemed to follow the same steps as “Killing Eve”, when it comes to tone. After that, in the second half of 2020, when the film's release date was already scheduled to December 25th in the US, my expectations hit an all-time peak due to the involvement of Bo Burnham, an American composer and comedian who made one of the best things I've watched last year, the stand-up special “Make Happy”, available on Netflix. Then, I was set. I became fully hooked by Fennell and her crew. So, I waited until the film was finally within my reach. And I am extremely glad to say I wasn't disappointed at all with it. You have to reinforce the writer-director's ability in establishing her film's tone. She's able to perfectly mix a constantly tense vibe with dark humor jokes here, in order for the film not to get too bleak. When it comes to the entertainment factor, Fennell manages to build sequences that get more tense, and even more scary, by the minute. It is an original, provocative and bold film. One of the best parts about the “Promising Young Woman” screenplay is the manipulation the screenwriter has over the viewer. When you think the plot will follow a certain path and bet on something you've already seen before, Fennell breaks your expectations, sometimes in an unexpected and even shocking way. But the entertainment factor is only the tip of the script's iceberg. “Every now and then, comes a film that ignites a conversation, holds up a mirror and jolts us awake”. That was the sentence used in the film's final trailer, and that is exactly what it does. It sparks relevant, timely discussions, especially for today; deals with such discussions in a painfully realistic way and, consequently, makes us conscious of the message it is trying to get through. Apart from being a nail-biting tense thriller, “Promising Young Woman” is also a tremendous character study of its protagonist, dealing with trauma and the emotional scars left by it in a very honest and human way. I think I've already stated this on the blog, but for me, the ideal winner of the Oscar for Best Picture needs to have a balance between its artistic and entertainment factors, and Fennell's directorial debut ticks all of the boxes. It's tense, unnerving, original and bold, at the same time it is thought-provoking, timely and realistic, lingering on the viewer's mind long after the credits start rolling. In my opinion, the script for “Promising Young Woman” is the main contender for the awards of Best Screenplay and Best Original Screenplay of this award season, and it deserves every single bit of recognition it's getting so far.)



Todo o marketing de “Bela Vingança” nos EUA deu o maior destaque à atuação da Carey Mulligan, e com razão. A atriz consegue exibir perfeitamente a atitude manipuladora e vingativa que a personagem requer, ao mesmo tempo que ela também mostra a vulnerabilidade emocional de alguém que passou por um evento particularmente traumático, de forma extremamente convincente, e acima de tudo, humana. Grande parte da tensão vem dos diálogos da personagem dela, e eu amei a reviravolta que a roteirista fez na fórmula dos filmes de vingança, de modo que a protagonista se vinga por meio de suas palavras ao invés de suas ações. Isso não só injeta mais personalidade e originalidade no projeto, como também ajuda a centrá-lo na realidade e a não apelar para algo mais sensacionalista. Os diálogos expostos por ela são dolorosamente realistas, e são uma das principais formas que a roteirista encontra de conscientizar o espectador. Em geral, Mulligan dá um verdadeiro show aqui, que certamente será reconhecido nas iminentes cerimônias de premiações. Como âncoras emocionais para a personagem principal, temos performances competentes de Bo Burnham, Clancy Brown, Jennifer Coolidge e Laverne Cox. Esses quatro são responsáveis por algumas das trocas de diálogo mais engraçadas do filme (não aposto nada que alguns dos diálogos de Burnham foram improvisados, devido à sua carreira como comediante) e ajudam a equilibrar o tom, para não ficar sombrio demais. Em papéis mais coadjuvantes, temos Alison Brie, Alfred Molina, Connie Britton, Molly Shannon e Chris Lowell, cujos personagens ajudam a esclarecer o trauma da protagonista, através de cenas memoráveis com Mulligan.

(All of the marketing campaign for “Promising Young Woman” in the US shined the brightest spotlight on Carey Mulligan's performance, and rightfully so. Not only does she manage to perfectly showcase the manipulative, vindictive attitude her character requires, she is also able to show the emotional vulnerability of someone who went through a particularly traumatizing event, in an extremely convincing and, above everything, human way. A big part of the screenplay's tension comes from her character's dialogue, and I love the twist that the screenwriter did to the formula of revenge films, in a way that she gets her vengeance through her words instead of her actions. That not only injects more personality and originality to the project, as it also helps cementing it into reality and not appealing to something more explicit. The dialogues exposed by her are painfully realistic, and they are one of the main ways the screenwriter uses to make the viewer realize the film's message. Generally, Mulligan gives a showstopping performance here, which will certainly be recognized in the imminent award ceremonies. As emotional anchors to the main character, we have competent performances from Bo Burnham, Clancy Brown, Jennifer Coolidge and Laverne Cox. These four are responsible for some of the film's funniest dialogue exchanges (I'm pretty sure some of Burnham's dialogue might have been improvised, due to his career as a comedian) and they help to balance its tone, preventing it from becoming way too dark. In more supporting roles, we have Alison Brie, Alfred Molina, Connie Britton, Molly Shannon and Chris Lowell, whose characters help clarifying the protagonist's trauma, through memorable scenes they share with Mulligan.)



Os aspectos técnicos ajudam bastante a dar um toque mais contemporâneo para o filme. A direção de fotografia do Benjamin Kracun é muito simétrica, a montagem do Frédéric Thoraval é bem dinâmica. Mas os verdadeiros destaques, no quesito técnico, são a direção de arte e a trilha sonora instrumental do Anthony Willis. Para um thriller de vingança, “Bela Vingança” é surpreendentemente colorido. O design dos cenários, os figurinos, a maquiagem e o penteado, alguns recheados de tons em pastel, outros em tons mais fortes. Gostei bastante, especialmente por ter me lembrado da direção de arte de “Aves de Rapina”, que também é bem vibrante, visualmente. A trilha sonora original do Anthony Willis é agradavelmente enervante, aumentando a tensão e ditando o tom de cada cena. Se apoiando em arranjos de violino, Willis consegue entrar debaixo da pele do espectador, fazendo algo bem parecido com o que a Hildur Gudnadóttir fez, em sua trilha vencedora do Oscar por “Coringa”. Há uma versão instrumental de “Toxic”, da Britney Spears, que vai lentamente se construindo, causando arrepios no espectador e combinando perfeitamente com a cena onde ela é tocada. Posso dizer que essa faixa em particular é a melhor faixa instrumental de uma trilha sonora de 2020, empatando com a maravilhosa “Epiphany”, composta por Trent Reznor e Atticus Ross para a animação da Pixar “Soul”.

(The technical aspects really help giving “Promising Young Woman” a more contemporary touch. Benjamin Kracun's cinematography is really symmetrical, Frédéric Thoraval's editing is really dynamic. But the real highlights, technically speaking, shine upon the art direction and Anthony Willis's original score. For a revenge thriller, “Promising Young Woman” is surprisingly colorful. The set designs, the costumes, the makeup and hairstyling, some of them drenched in pastel-coloured tones, others in stronger tones. I really liked it, especially for reminding me of the production design for “Birds of Prey”, which is also really vibrant, visually. Anthony Willis's original score is pleasantly unnerving, enhancing the tension and dictating the tone of each scene. Relying on violin arrangements, Willis manages to get under the viewer's skin, doing something really similar to what Hildur Gudnadóttir did, in her Oscar-winning score for “Joker”. There's an instrumental version of Britney Spears's “Toxic” that slowly builds up, sending chills to the viewer's spine and matching perfectly with the scene it is played on. I can say that this particular track is the best instrumental track in a 2020 original score, tying with the wonderful “Epiphany”, composed by Trent Reznor and Atticus Ross for the Pixar animated film “Soul”.)



Resumindo, “Bela Vingança” é um suspense tenso e relevante para a era #MeToo. Munido de um roteiro surpreendentemente inteligente, original, provocativo e reflexivo, o filme consolida o talento de Emerald Fennell como roteirista e diretora, e encontra a protagonista Carey Mulligan em uma de suas melhores e mais hipnotizantes performances. Fiquem de olho nesse filme na temporada de prêmios desse ano!

Nota: 10 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que vocês tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “Promising Young Woman” is a tense thriller that's relevant to the #MeToo era. Armed with a surprisingly clever, original, provocative and thought-provoking screenplay, the film cements Emerald Fennell's talent as a screenwriter and director, and finds protagonist Carey Mulligan in one of her best, most hypnotizing performances. Keep an eye out for this one at this year's award season!

I give it a 10 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)



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