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sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

"Pieces of a Woman": um drama emocionalmente poderoso e humanamente atuado (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para trazer a resenha do mais novo lançamento no catálogo original da Netflix. Um drama dolorosamente poderoso sobre perda, luto, e as consequências emocionais de um evento traumático, o filme em questão faz uso de sua premissa extremamente humana para extrair performances marcantes de seu elenco. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Pieces of a Woman”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to bring the review of Netflix's most recent release in its original programming catalog. A painfully powerful drama on loss, grief, and the emotional consequences of a traumatic event, the film I'm about to analyze makes use of its extremely human premise to extract remarkable performances by its cast. So, without further ado, let's talk about “Pieces of a Woman”. Let's go!)



Baseado na peça de 2018 de mesmo nome escrita por Kata Wéber, o filme acompanha 8 meses na vida de Martha Weiss (Vanessa Kirby), uma jovem que, após um parto domiciliar problemático e doloroso, embarca em um profundo processo de luto, afetando suas relações com seu parceiro (Shia LaBeouf) e sua mãe (Ellen Burstyn).

(Based on the 2018 stage play of the same name written by Kata Wéber, the film follows 8 months in the life of Martha Weiss (Vanessa Kirby), a young woman who, after a problematic and painful home birth, embarks on a profound process of grieving, affecting her relationships with her partner (Shia LaBeouf) and her mother (Ellen Burstyn).)



Ouvi falar pela primeira vez sobre esse filme ao pesquisar sobre a programação do Festival de Veneza do ano passado, durante o qual a protagonista de “Pieces of a Woman”, Vanessa Kirby, venceu o prêmio Copa Volpi de Melhor Atriz. Eu nem sabia sobre o que era o filme, mas pelo fato da Vanessa Kirby estar no elenco, já o coloquei no meu radar. Fiquei conhecendo a atriz através do seu papel em “Missão: Impossível – Efeito Fallout”, e ela me deixou com uma impressão extremamente positiva, especialmente durante as cenas de ação do longa. Quando a data de estreia na Netflix estava mais próxima, fiquei surpreso ao descobrir que era uma adaptação de uma peça, e que o diretor e a roteirista da peça assumiriam os seus respectivos postos na versão para os cinemas. Com isso dito, vamos falar sobre o roteiro. Com 2 horas e 6 minutos de duração, é possível dizer que “Pieces of a Woman” poderia ser dividido em oito segmentos, cada um com aproximadamente 15 minutos de duração, explorando os diferentes estágios de luto enfrentados pela protagonista. Eu particularmente adorei a sequência de abertura do filme, envolvendo o parto domiciliar que serve de pano de fundo para o restante do enredo. É algo íntimo, natural e extremamente humano, mas ao mesmo tempo, através das ações e reações dos personagens, o espectador sente muita agonia, desespero, e até um senso de adrenalina, devido à urgência do parto. Os segmentos seguintes, apesar de não conseguirem replicar a dor da sequência inicial com a mesma intensidade, compensam com uma aura uniformemente melancólica ao explorar as consequências emocionais do evento. Uma coisa que me agradou bastante no teor expositivo do trauma foi a sutileza ao revelar o que aconteceu durante o parto. Não foi preciso emitir uma palavra ou uma exclamação de dor para que o espectador pudesse descobrir o resultado por conta própria, e isso resulta em uma exposição menos gratuita ou emocionalmente exagerada do evento retratado em tela, o que é muito bom. Há uma quantidade bem reduzida de personagens e cenários, o que reflete as raízes do material fonte e, ao mesmo tempo, colabora para um estudo mais íntimo e profundo da protagonista, especialmente quando se diz respeito ao relacionamento dela com seu parceiro e sua mãe. A dinâmica entre o trio é o fio condutor da trama, e é absolutamente fascinante ver como cada um dos três personagens lida com a mesma perda de formas completamente diferentes. Enquanto a protagonista lida com o luto de uma maneira bem silenciosa, quase que simbólica, através de olhares capazes de dizer mais que mil palavras, o parceiro recorre às drogas e ao sexo pra abafar a depressão que ele sente, e a mãe se firma aos preceitos religiosos que ela segue fervorosamente desde o seu nascimento durante a Segunda Guerra Mundial, em um gueto polonês. Claro, o título em si expressa o que o filme quer fazer (em tradução livre, ficaria algo como “Pedaços de uma Mulher”), que é juntar todos os “cacos” da protagonista que foram estilhaçados devido à uma tragédia, mas eu gostei muito de ver os pontos de vista das outras pessoas envolvidas. Alguns podem achar que a mudança de tom no ato final foi feita de modo meio brusco, mas eu particularmente gostei bastante. Ao mesmo tempo que dá uma perspectiva mais esperançosa para a protagonista, a humanidade dela se torna mais evidente, o que acaba por fortalecer uma das dinâmicas mais cativantes do filme. Só fico com uma ressalva: o diretor e a roteirista perderam a oportunidade enorme de fazer de “Pieces of a Woman” um filme em língua estrangeira (digo isso, tirando o inglês), ambientando-o na Polônia (como na peça), com uma equipe de atores e técnicos completamente polonesa. Isso não só poderia ter firmado o filme como um dos principais indicados à Melhor Filme Internacional esse ano, pois é uma história emocionalmente muito poderosa, mas também teria adicionado um teor ainda mais significativo à uma das suas sequências de diálogo mais marcantes.

(I first heard about this film when researching the lineup programming for last year's Venice Film Festival, during which its main actress, Vanessa Kirby, won the Volpi Cup award for Best Actress. I didn't even know what the film was about back then, but because Vanessa Kirby was in it, I already put it on my radar. I was introduced to her work by her performance in “Mission: Impossible – Fallout”, and she left me with a very positive impression, especially during that film's action scenes. When the Netflix release date was a little bit closer, I was surprised to find out it was based upon a play, and that the director and writer of the play would reprise their roles in the film adaptation.With that said, let's talk about the screenplay. With a running time of 2 hours and 6 minutes, it can be said that “Pieces of a Woman” could be divided into 8 segments, each with a running time of approximately 15 minutes, exploring the many stages of grief that the main character goes through. I particularly loved the film's opening sequence, which depicts the home birth that'll serve as a background to the entire plot. It's something intimate, natural, and extremely human, and at the same time, through the characters' actions and reactions, the viewer can't help but feel agony, distress, despair, and even a sense of adrenaline, due to the urgency of the labor. The following segments, although not replicating the pain of its predecessor with the same intensity, compensate with a uniformly melancholic aura when exploring the emotional consequences of the event. One thing that pleased me a lot in the trauma's expositional tone was the subtlety in revealing what went down. It wasn't necessary to use a single word or exclamation of pain for the viewers to figure out the result by themselves, which collaborates for a less gratuitous or emotionally exaggerated exposition of the event portrayed onscreen. There's a significantly reduced amount of characters and settings, and that choice reflects on the source material's theatrical roots, at the same time it helps us get a more intimate, in-depth study on the main character, especially when it comes to her relationship with her partner and her mother. The dynamics between the trio are the main conductive force of the plot, and it's absolutely fascinating to see how each one of the three characters deal with the same loss in completely different ways. While the protagonist deals with her grief in a quiet, almost symbolic way, through glances that speak more than a thousand words, her partner descends into drug addiction and sex to mask his depression, and her mother stands firm on the religious concepts she vigorously follows ever since her birth during World War II, in a Polish ghetto. Sure, the title itself expresses what the film wants to do, which is put together all of the protagonist's “pieces” that were shattered due to a tragedy, but I really enjoyed seeing the perspectives of other people involved. Some might think that the change of tone in the final act was roughly made, but I particularly really liked it. At the same time it gives a more hopeful eye for the main character's future, her humanity becomes even more evident, which ends up making one of the film's most captivating dynamics a bit stronger. I only have one thing to say: the writer and director missed a huge opportunity to make “Pieces of a Woman” a foreign-language film, setting it in Poland (as in the play), with an entirely Polish cast and crew. That not only could've cemented it as one of the main contenders for Best International Feature Film this year, as it is an emotionally powerful story, but it would have also added a more significant tone to one of its most remarkable dialogue sequences.)



O elenco foi a principal fonte de avaliações positivas de “Pieces of a Woman” quando foi exibido no Festival de Veneza, e tendo assistido ao filme, posso ver o porquê. A começar pela Vanessa Kirby, que está absolutamente sensacional aqui. Ela consegue atuar as dores do parto de forma extremamente humana e natural, ao mesmo tempo que é bem restrita e reservada ao demonstrar a perda e o luto sofridos por sua personagem. Há uma cena em um supermercado onde nenhuma palavra é emitida por ela, mas só pelo olhar que ela direciona para uma pessoa em particular, é possível perceber o que a cena queria ter dito e sentir o que a personagem estava sentindo naquele momento. Para mim, ela é uma das principais concorrentes ao Oscar de Melhor Atriz, junto com a Frances McDormand e a Carey Mulligan. Houve uma enorme polêmica em torno da performance do Shia LaBeouf, devido à uma acusação de agressão física feita contra ele. Isso acabou por excluí-lo das considerações da Netflix, que estava desejando uma indicação à Melhor Ator Coadjuvante por conta da sua atuação. Ele está muito bem aqui. Não no nível de ser indicado ao Oscar (para mim, ele tinha alcançado esse potencial em “Honey Boy”, mas o ator foi esnobado), mas gostei muito de ver as duas “facetas” que o personagem assume. Ele consegue ser agressivo e ameaçador, mas na cena seguinte, ele desaba em uma vulnerabilidade imperceptível para os outros personagens. O último destaque fica com a Ellen Burstyn, que ficou permanentemente marcada na cabeça de muita gente devido à sua performance aterradora indicada ao Oscar em “Réquiem para um Sonho”. A dinâmica que ela tem com a personagem da Vanessa Kirby é altamente instável, e funciona por causa disso. Há um monólogo em particular emitido pela personagem dela que pode ser a chave para uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, e com razão. No elenco secundário, temos Sarah Snook, Molly Parker, Benny Safdie, e Iliza Shlesinger e, mesmo que o material para eles seja pouco, os atores conseguem manusear seus personagens muito bem.

(The cast was the main source of positive acclaim for “Pieces of a Woman” when it initially premiered in the Venice Film Festival, and now that I've watched it, I can see why. Starting off with Vanessa Kirby, who is absolutely showstopping here. She can act on the pains of childbirth in an extremely human and natural way, while she is also really restricted and reserved when showing the grief and loss that her character suffered. There's a scene in a supermarket where she doesn't say a single word, but just by the glance she directs towards a particular person, the viewer is able to notice what the scene wanted to say and feel what the character was feeling in that moment. To me, she is one of the top contenders to the Oscar for Best Actress, along with Frances McDormand and Carey Mulligan. There was a huge amount of controversy regarding Shia LaBeouf's performance, due to an assault accusation made against him. This ended up excluding him from Netflix's considerations, which nominated him for Best Supporting Actor for his performance. He is really good here. Not to the point of being Oscar-bound (to me, he had reached those heights in “Honey Boy”, but he was snubbed), but I really enjoyed seeing the two “faces” the character has. He manages to be aggressive and threatening, but in the following scene, he just breaks apart in a vulnerability that goes unnoticed by the other characters. The final highlight stays with Ellen Burstyn, who was permanently etched in many people's heads due to her harrowing, Oscar-nominated performance in “Requiem for a Dream”. The chemistry she has with Vanessa Kirby's character is highly unstable, and it works because of that. There's a particular monologue spoken by her character that can be the key to a nomination for Best Supporting Actress, and rightfully so. In the secondary cast, we have Sarah Snook, Molly Parker, Benny Safdie and Iliza Shlesinger and, even though they're short on material, the actors manage to make good use of their characters.)



Os aspectos técnicos conseguem refletir as raízes teatrais do material fonte. Eu amei a direção de fotografia do Benjamin Loeb. É bem natural, bem firmada na realidade, mas ela realmente se destaca durante a cena do parto. Sem trilha sonora e sem cortes, a câmera vai seguindo os personagens de forma frenética, colaborando para aquela sensação de adrenalina mencionada anteriormente. A direção de arte é o aspecto técnico que mais esclarece que o filme é uma adaptação de uma peça. Não há uma variedade grande de cenários, focando em espaços realmente essenciais para uma compreensão maior da história, o que é ótimo. Há um foco proposital em maçãs, o que pode deixar o espectador meio perplexo, mas fiquem tranquilos, porque a razão é explicada de forma compreensível e emocionante. E por fim, temos a trilha sonora instrumental do Howard Shore, responsável por acentuar o tom melancólico da história, usando arranjos mais lentos e sentimentais de violino e piano.

(The technical aspects are able to reflect the source material's theatrical roots. I loved Benjamin Loeb's cinematography. It's really natural, really fixed on reality, but it really stands out during the childbirth scene. Without a score and with no cuts at all, the camera follows the characters in a fast-paced way, collaborating to that aforementioned feeling of adrenaline. The art direction is the technical aspect that mostly enlightens that the film is an adaptation of a stage play. There isn't a wide variety of scenarios, focusing on really essential spaces for a bigger comprehension of the story, which is great. There is a purposeful focus on apples, which might leave the viewer a bit baffled, but don't worry, because the reason why that happens is explained in an understandable and emotionally thrilling way. And at last, we have Howard Shore's score, responsible for enhancing the story's melancholic tone, using slower, more sentimental arrangements from the violin and the piano.)



Resumindo, “Pieces of a Woman” é um excelente drama. Munido de uma história emocionalmente ressonante e poderosa, o diretor Kornél Mundruczó e a roteirista Kata Wéber conseguem adaptar seu próprio material fonte para as telonas com sucesso, extraindo performances memoráveis de seu elenco no processo, especialmente das atrizes Vanessa Kirby e Ellen Burstyn.

Nota: 9,5 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “Pieces of a Woman” is an astounding drama. Armed with an emotionally resonant and powerful story, director Kornél Mundruczó and screenwriter Kata Wéber manage to successfully adapt their own source material to the big screen, extracting memorable performances by their cast in the process, especially those of Vanessa Kirby and Ellen Burstyn.

I give it a 9,5 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)


5 comentários:

  1. Para um excelente filme, corresponde uma excelente análise!!

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  2. Para um excelente filme, corresponde uma excelente análise!!

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  3. Caramba, muito bom, com essa análise não posso deixar de ver.

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  4. Quando vc comenta, da vontade de assistir na hora 👏👏👏😀👍

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  5. Excelente resenha e excelente filme também 👏👏👏

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