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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para falar sobre o lançamento mais recente no catálogo original da Amazon Prime Video. Um dos títulos mais discutidos e premiados na temporada de festivais do ano passado, o filme em questão é um chamado à mudança, carregado pelo enorme talento de seu quarteto principal de atores e a inegável habilidade de Regina King em sua estreia como diretora. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Uma Noite em Miami”. Vamos lá!
(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to talk about the most recent release in Amazon Prime Video's original programming catalog. One of the most talked-about and awarded titles in last year's film festival season, the film I'm about to discuss is a call for change, carried by the enormous talent of its main quartet of actors and Regina King's undeniable ability in her directorial debut. So, without further ado, let's talk about “One Night in Miami”. Let's go!)
Baseado na peça “One Night in Miami...”, escrita por Kemp Powers, o filme relata um encontro fictício entre o ativista e líder muçulmano Malcolm X (Kingsley Ben-Adir), o cantor e compositor Sam Cooke (Leslie Odom Jr.), o boxeador Cassius Clay/Muhammad Ali (Eli Goree) e o jogador de futebol americano Jim Brown (Aldis Hodge), em um quarto de hotel em Miami, nos anos 1960. Lá, eles embarcam em discussões fervorosas sobre a desigualdade social da população negra estadunidense na época e as mudanças que estão ocorrendo dentro de si mesmos.
(Based on the play of the same name, written by Kemp Powers, the film revolves around a ficticious encounter between social activist and Muslim leader Malcolm X (Kingsley Ben-Adir), singer-songwriter Sam Cooke (Leslie Odom Jr.), professional boxer Cassius Clay/Muhammad Ali (Eli Goree) and football player Jim Brown (Aldis Hodge), in a hotel room in Miami, in the 1960s. There, they embark in fervent discussions on the social inequality of the Black American population at the time and the changes occurring inside themselves.)
Pode-se dizer que as minhas expectativas para assistir “Uma Noite em Miami” foram subindo gradativamente, de acordo com o grande número de festivais em que o filme foi exibido. O longa recebeu uma chuva de elogios em sua exibição inicial no Festival de Veneza, e venceu o segundo lugar do Prêmio do Público no Festival de Toronto, onde em 2019, o vencedor do Oscar “Jojo Rabbit” levou essa honra. Depois desses dois maiores festivais, o filme fora exibido em Zurique, Londres e Chicago, onde foi ainda mais elogiado. Isso, é claro, foi o ponto inicial das minhas expectativas para assisti-lo. Dois fatores que aumentaram ainda mais essas expectativas foram o fato da diretora ser a Regina King (vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por “Se a Rua Beale Falasse”, mais conhecida por seu papel vencedor do Emmy na excelente minissérie de “Watchmen”) e do filme em si ser baseado em uma peça escrita pelo Kemp Powers (co-diretor e co-roteirista de “Soul”, animação da Pixar lançada em dezembro de 2020), que também assina o roteiro da adaptação. Com isso dito, vamos falar sobre o roteiro. De modo bem similar com o que aconteceu com o filme da Netflix, “A Voz Suprema do Blues” (também baseado em uma peça), as ambientações de “Uma Noite em Miami” são propositalmente limitadas. E assim como o longa de George C. Wolfe, a trama do filme de Regina King é quase que inteiramente guiada pelo diálogo entre os protagonistas. Mas antes de falar sobre o desenvolvimento de seus quatro personagens principais, gostaria de ressaltar o quão esclarecedores foram os primeiros minutos do roteiro de Powers. Em uma sequência concisa de aproximadamente 15 minutos, o roteirista introduz X, Ali, Cooke e Brown individualmente, relatando as lutas e as desigualdades sociais enfrentadas por eles: a rejeição de Cooke ao se apresentar em clubes frequentados por pessoas brancas; as represálias sofridas por X devido às ideologias que ele pregava; as dúvidas a respeito de Ali ao estar perto de se tornar o campeão mundial de boxe peso-pesado; e o racismo sofrido por Brown devido à cor de sua pele. É uma sequência poderosa e dolorosa que prepara o terreno para o encontro dos quatro, e as discussões que eles terão ao longo do filme. Se alguém me perguntasse: “Se você pudesse definir o tema de 'Uma Noite em Miami' em uma palavra, qual seria?”, eu responderia: é um filme sobre mudanças. No geral, o assunto é bastante evidente, devido à ambientação nos anos 1960, década onde Martin Luther King e Malcolm X fortaleceram o movimento de direitos civis, como consequência da segregação sofrida pela população negra estadunidense na época. Mas o tempo de duração enxuto de 1 hora e 50 minutos do filme se concentra em explorar as mudanças dentro dos próprios personagens: mudança de identidade, mudança na carreira, mudança nas crenças. E essas mudanças são consequências diretas das discussões entre os quatro protagonistas. Na maior parte do filme, eles discorrem sobre assuntos muito relevantes, tanto para a ambientação quanto para os tempos atuais: desigualdade social, a luta que a população negra enfrenta e como cada um deles poderia ajudar nela, mensagens subliminares escondidas em canções que expressam o que as minorias sociais desejam dizer (algo que se tornou bem evidente no Brasil durante a ditadura militar), e muito mais. E através dessas discussões, é incrível ver como cada um dos quatro personagens principais pensa de um modo completamente diferente do outro, mesmo com eles compartilhando a mesma cor da pele. Ver como cada um deles imagina a mudança iminente e o impacto dela em suas vidas é algo fascinante, e é ainda melhor ver a evolução desses personagens a partir dos diálogos compartilhados. Não vou dar nenhum spoiler, mas o final desse filme me fez aplaudi-lo de pé quando os créditos finais começaram. Assim como “Os 7 de Chicago”, o enredo de “Uma Noite em Miami” faz uso extremamente bem pensado de um evento (embora, no caso do longa de Regina King, fictício) no passado para expressar o que está acontecendo no presente e, por isso, acredito que o roteiro de Powers receberá muito reconhecimento na temporada de premiações desse ano.
(It can be said that my expectations to watch “One Night in Miami” were slowly and gradually growing, according to the great number of festivals it was screened at. It was showered with critical praise when it was first screened in the Venice Film Festival, and was the first runner-up for the Audience Award at the Toronto International Film Festival, where, in 2019, Oscar-winner “Jojo Rabbit” took home that honor. After these two major festivals, the film was screened in Zurich, London and Chicago, where it received even more acclaim. This, of course, was the starting point of my expectations to watch it. Two factors that further enhanced these expectations were the fact that it was directed by Regina King (who won an Oscar for Best Supporting Actress for her performance in “If Beale Street Could Talk”, and became most known by her Emmy-winning role in the excellent “Watchmen” miniseries), and that the film itself was based on a play written by Kemp Powers (co-director and co-writer of “Soul”, a Pixar animated film that was released last December), who also pens the adaptation's screenplay. With that said, let's talk about the script. In a very similar way to what happened with Netflix's film, “Ma Rainey's Black Bottom” (which was also based on a play), the settings of “One Night in Miami” are purposefully limited. And like George C. Wolfe's film, Regina King's directorial debut is almost fully guided by the dialogues between the four protagonists. But before I talk about the development of the main characters, I'd like to highlight how enlightening were the first minutes in Powers's screenplay. Through a concise sequence of approximately 15 minutes long, the screenwriter introduces X, Ali, Cooke and Brown individually, dealing with the struggles and social inequalities suffered by them: Cooke's rejection when performing in a club full of white people; the retaliation suffered by X because of his ideologies; the doubts regarding Ali becoming the world champion of heavyweight boxing; and the racism suffered by Brown due to the color of his skin. It's a powerful, painful sequence that sets the ground for the 4 characters meeting, and the discussions they'll have throughout the film. If someone asked me: “If you could define the theme of 'One Night in Miami' in one word, which would it be?”, I'd answer: it is a film about changes. In general, the subject is quite evident, due to its setting in the 1960s, a decade where Martin Luther King and Malcolm X strengthened the civil rights movement, as a consequence of the segregation suffered by the Black American community at the time. But its precisely cut running time of 1 hour and 50 minutes focuses in exploring the changes happening inside each of the characters: change of identity, change in their career, changes in their beliefs. And these changes are direct consequences of the discussions between the four main characters. During the majority of the running time, they argue about really relevant subjects, that were as relevant then as they are now: social inequality, the struggle the Black community constantly faces and how each of them could help the cause, subliminal messages inside song lyrics that express what social minorities wish to say, and much, much more. And through these discussions, it's incredible to see how each one of the characters thinks in an entirely different way from the other, even with them sharing the same skin color. Seeing how each of them imagines the imminent change and its impact in their lives is something fascinating, and it's even better to see them evolving because of the dialogue they share. I won't spoil anything here, but the ending made me give the film a standing ovation when the final credits started rolling. Just like it happened with “The Trial of the Chicago 7”, the plot of “One Night in Miami” makes a clever use of an event (although, in this film's case, ficticious) set in the past to express what's happening in the present and, because of that, I believe Powers's screenplay will be frequently recognized in this year's award season.)
Grande parte dos elogios recebidos pelo filme de King foi direcionada ao seu excepcional elenco, encabeçado por Kingsley Ben-Adir, Leslie Odom Jr., Eli Goree e Aldis Hodge, e com razão. Cada um dos quatro dá um verdadeiro show aqui, tendo no mínimo um momento para seu personagem brilhar. A começar pelo Kingsley Ben-Adir, que está excelente como Malcolm X. Ele consegue equilibrar perfeitamente o tom fervoroso com o qual ele expõe suas ideologias para os amigos e uma vulnerabilidade que é raramente vista em retratos da figura dele. Há vários diálogos impactantes que ganham mais força por causa da performance de Ben-Adir, que não passará despercebida pelo Oscar. Ele tem uma dinâmica particularmente explosiva com o Leslie Odom Jr., que, ideologicamente, representa o completo oposto do Malcolm X através de seu Sam Cooke. Os dois frequentemente discutem argumentos plausíveis e agressivos sobre a luta que a população negra enfrenta, e tanto Ben-Adir quanto Odom Jr. lidam com os diálogos de Powers de uma forma bem natural. Um ponto a mais é acrescentado à performance de Odom Jr. pelo fato dele, assim como seu personagem, também ser cantor (para quem ainda não viu a performance vencedora do Tony dele como Aaron Burr na versão filmada do musical “Hamilton”, disponível no Disney+, preparem-se para se impressionar!). Acredito que ele seja um dos maiores concorrentes ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Eu gostei bastante do equilíbrio que o Eli Goree mostrou entre ser o alívio cômico e investir em um lado mais sério e decisivo como Muhammad Ali. A performance dele rende boas risadas, mas também boas reflexões. E por fim, temos o Aldis Hodge que, dos 4 protagonistas, é o menos desenvolvido, mas há uma cena em particular que ele compartilha com Ben-Adir que oferece a ele uma chance de realmente brilhar, pela naturalidade e dor com a qual ele lida com seus diálogos. Em papéis coadjuvantes, temos performances competentes de Nicolette Robinson, Joaquina Kalukango e Lance Reddick, e todos lidam muito bem com o material que lhes é dado, mesmo sendo extremamente limitado.
(A large part of the acclaim received by King's film was directed towards its exceptional cast, led by Kingsley Ben-Adir, Leslie Odom Jr., Eli Goree and Aldis Hodge, and rightfully so. Each one of the them gives a showstopping performance here, having at least one moment for their characters to shine. Starting off with Kingsley Ben-Adir, who is excellent as Malcolm X. He manages to perfectly balance the fervent tone with which he exposes his ideologies to his friends and a vulnerability that is rarely seen in portrayals of his figure. There are several impactful dialogues that gain more strength because of Ben-Adir's performance, which surely won't go unnoticed at the Oscars. He has a particularly explosive dynamic with Leslie Odom Jr., who, ideologically, represents the complete opposite of Malcolm X with his Sam Cooke. The two of them argue frequently and aggressively about plausible subjects on the struggle the American Black population currently finds itself in, and both Ben-Adir and Odom Jr. deal with Powers's dialogue in an extremely natural way. An extra point is added to Odom Jr.'s performance due to the fact that, much like his character, he is also a singer (to those who still haven't checked out his Tony-winning performance as Aaron Burr in the filmed performance of the stage musical “Hamilton”, available on Disney+, prepare to be amazed!). I believe he is one of the main contenders for the Oscar for Best Supporting Actor. I really enjoyed the balance that Eli Goree showed when being the comic relief of the group and also investing in a more serious, decided face of Muhammad Ali. His performance will give you plenty of laughs, and maybe a little food for thought. And at last, we have Aldis Hodge, who, out of the main 4, plays the least developed character, but there is one particular scene he shares with Ben-Adir which really gives him a chance to stand out, through his natural and painful tone with which he deals with the dialogue. In supporting roles, we have competent performances by Nicolette Robinson, Joaquina Kalukango and Lance Reddick, and each one of them deals with their material really well, even with their roles being limited.)
Há vários aspectos técnicos em “Uma Noite em Miami” que são dignos de reconhecimento. A direção de fotografia da Tami Reiker lida com as limitações do roteiro muito bem, ao mesmo tempo que aumenta o escopo da história. A montagem do Tariq Anwar é simplesmente espetacular, em particular em uma cena onde Malcolm X relata os eventos de um show de Cooke. Anwar calcula exatamente e precisamente onde cortar, trabalhando de mãos dadas com o teor dinâmico do roteiro de Powers para entregar um produto final em constante movimento. A direção de arte faz um trabalho estupendo em recriar a ambientação do filme. Tudo, dos motéis de beira de estrada aos carros utilizados, reflete aos anos 1960. Um destaque em particular fica com o departamento de maquiagem e penteado, que consegue fazer com que os atores sejam extraordinariamente parecidos com as figuras da vida real interpretadas por eles. A trilha sonora instrumental do Terence Blanchard investe em composições de soul, o que realmente combina com a ambientação e com os personagens, já que Sam Cooke é considerado o “Rei do Soul”, ao mesmo tempo que canções reais de Cooke são usadas de forma significativa e até simbólica no enredo. E há uma canção original co-escrita por Odom Jr., “Speak Now”, cuja letra é basicamente um discurso que ativistas como o Malcolm X ou o Martin Luther King fariam, só que cantado e é disparadamente uma das principais concorrentes ao Oscar de Melhor Canção Original.
(There are several technical aspects in “One Night in Miami” that are worthy of recognition. Tami Reiker's cinematography deals with the screenplay's limitations really well, at the same time it expands the story's scope. Tariq Anwar's editing is simply spectacular, particularly during one scene where Malcolm X talks about the events of a concert by Cooke. Anwar calculates precisely where to cut, working hand-in-hand with the dynamic tone in Powers's screenplay to deliver a final product that's constantly moving. The art direction does a stupendous job in recreating the film's setting. Everything, from the roadside motels to the cars used, screams the 1960s. A particular highlight stays with the make-up and hairstyling department, that manages to make the actors extraordinary alike their real-life counterparts. Terence Blanchard's score invests in soul arrangements, which really matches the setting and the characters, as Sam Cooke himself is considered the “King of Soul”, at the same time that real songs by Cooke are used significantly and even symbolically in the plot. And there's an original song co-written by Odom Jr., “Speak Now”, and its lyrics are basically a speech that activists like Malcolm X or Martin Luther King would make, only that it's sung-through, and it's definitely one of the main contenders for the Oscar for Best Original Song.)
Resumindo, “Uma Noite em Miami” é um tremendo filme. Um chamado à mudança carregado pelo impacto do roteiro de Kemp Powers, pelas performances excepcionais de seu elenco e pela habilidosa direção de Regina King, o filme é uma das melhores adições ao catálogo original da Amazon Prime Video e tem muito potencial para ser uma das principais obras a serem reconhecidas na temporada de premiações desse ano.
Nota: 10 de 10!!
É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,
João Pedro
(In a nutshell, “One Night in Miami” is a tremendous film. A call for change carried by the impact of Kemp Powers's screenplay, the exceptional performances by its cast and Regina King's skillful direction, the film is one of the finest additions to Amazon Prime Video's original programming catalog, and has loads of potential to be one of the main movies to be recognized in this year's award season.
I give it a 10 out of 10!!
That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,
João Pedro)
Vibrante!!! Quero ver!!!
ResponderExcluirMuito bom mesmo!
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