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sábado, 31 de julho de 2021

O Cinema de Stanley Kubrick: ranqueando os filmes de um dos maiores visionários da sétima arte (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para falar sobre a filmografia de um dos diretores mais visionários da história do cinema! Durante a pandemia, tive o enorme prazer de assistir a (quase) todos os filmes desse incrível cineasta, cujas habilidades narrativas e técnicas só foram se aprimorando com o passar do tempo. Tal aprimoramento resulta em verdadeiros clássicos atemporais que se encontram bem à frente de suas respectivas épocas de lançamento, servindo como influência para alguns dos melhores cineastas da atualidade. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre o currículo impecável de Stanley Kubrick. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to talk about the filmography of one of the most visionary directors in cinema history! During the pandemic, I had the enormous pleasure of watching (almost) every film by this amazing filmmaker, whose narrative and technical skills would only improve as time went by. Such an improvement results in truly timeless classics who find themselves way ahead of their respective release times, serving as an influence to some of the best active filmmakers today. So, without further ado, let's talk about the flawless career of Stanley Kubrick. Let's go!)



Stanley Kubrick era um gênio. Não há outra maneira de descrever o homem. Nascido em Nova York em 1928, o cineasta se interessou pela sétima arte ainda jovem e se tornou um verdadeiro autodidata, aprendendo todos os aspectos da produção e direção cinematográfica por conta própria, após terminar o Ensino Médio. Nos anos 1940 e 1950, após trabalhar como fotógrafo, ele começou a fazer curtas-metragens com orçamentos baixíssimos, e a partir daí, conseguiu seu primeiro trabalho em Hollywood com o filme “O Grande Golpe”, de 1956, onde começaremos nossa jornada pela sua fascinante filmografia.

Um declarado perfeccionista, Kubrick assumia o controle da grande maioria dos aspectos do processo cinematográfico, da direção e roteiro à montagem, direção de fotografia e efeitos especiais, resultando em um trabalho completamente autoral. O cineasta se esforçava para alcançar a cena perfeita, às vezes exigindo que uma mesma cena fosse gravada 127 vezes até ficar do jeito que o agradava. Tal atitude frequentemente causava conflitos entre Kubrick e os elencos de seus filmes.

Deixando estes conflitos de lado, o diretor americano sempre encontrava um jeito de inovar em todos os aspectos da produção cinematográfica, iniciando uma verdadeira revolução na maneira de se fazer cinema. Dos efeitos especiais imersivos e cientificamente corretos de “2001: Uma Odisseia no Espaço”, à direção de fotografia à luz de velas em “Barry Lyndon”, à abordagem do terror sem sustos baratos em “O Iluminado”, Kubrick mereceu seu lugar entre os diretores mais renomados da história da sétima arte, e se tornou um dos meus diretores favoritos. Então, com isso dito, vamos começar!

(Stanley Kubrick was a genius. There's just no other way to describe the man. Born in New York City in 1928, the filmmaker took an interest for cinema when he was still young and became a truly self-taught director, learning every aspect of movie production and direction all by himself, after graduating from high school. In the 1940s and 1950s, after working as a photographer, he started making short films with shoestring budgets, and from that point, he managed to get his first gig in Hollywood with the film “The Killing”, released in 1956, where we will start our journey through his fascinating filmography.

A declared perfectionist, Kubrick took control of the great majority of the aspects in the filmmaking process, from directing and writing to editing, cinematography and special effects, resulting in a completely authoral work. The filmmaker made an effort to always reach the perfect scene, sometimes demanding for a specific sequence to be filmed 127 times in a row until it really pleased him. Such an attitude frequently caused conflicts between Kubrick and cast members from his films.

Leaving all these conflicts aside, the American director always found a way to innovate in every aspect in film production, starting off a true revolution in the way people make cinema. From the immersive, scientifically accurate special effects of “2001: A Space Odyssey”, to the candlelit cinematography in “Barry Lyndon”, to the approach of the horror genre without cheap jumpscares in “The Shining”, Kubrick earned his place among the most renowned directors in cinema history, and also became one of my favorite directors of all time. So, with that said, let's begin!)



  1. O GRANDE GOLPE” (1956) – Disponível no Telecine Play

    (“THE KILLING” (1956))

Ok, vamos deixar uma coisa bem clara: este não é um ranking do pior ao melhor filme de Stanley Kubrick. Só por eu ter colocado este filme no último lugar da lista, não quer dizer necessariamente que ele é ruim. Um jeito mais correto de descrever esse ranking seria do filme menos brilhante ao mais brilhante de Kubrick. Porque, querendo ou não, o diretor conseguiu entregar um clássico atemporal para cada gênero que ele trabalhou ao longo de sua carreira.

Aqui, temos um filme de roubo extremamente bem construído, com uma estética noir em preto-e-branco que combina perfeitamente com o tom arriscado e perigoso da história. Como todo bom filme envolvendo roubos, há um número surpreendentemente grande de reviravoltas ao longo do curto tempo de duração de 1 hora e 25 minutos, culminando em um dos melhores finais que eu já vi na minha vida. Se “A Origem”, de Christopher Nolan, não tivesse os sonhos como um aspecto crucial na narrativa, ele teria mais comparações com “O Grande Golpe” do que com a animação japonesa “Paprika”, de Satoshi Kon. Um filme imperdível.

(Okay, let's make something crystal clear: this is not a post that ranks Stanley Kubrick's worst film to his best one. Just because I put this film in the last place on the list, it doesn't necessarily mean that it's bad. A more accurate way to describe this ranking would be from Kubrick's least brilliant to most brilliant film. Because, whether you like it or not, the director managed to deliver a timeless classic for every genre he's worked with throughout his career.

Here, we have an extremely well-built heist film, with a noir, black-and-white aesthetic that perfectly fits the story's risky, dangerous tone. As it happens with every good film involving heists, there's a surprisingly large number of plot twists throughout its short runtime of 1 hour and 25 minutes, culminating in one of the best endings I've ever seen in my life. If Christopher Nolan's “Inception” didn't have dreams as a crucial aspect in its narrative, it would've had more comparisons to “The Killing” than to Satoshi Kon's Japanese animated film “Paprika”. A must-see film.)



  1. GLÓRIA FEITA DE SANGUE” (1957) – Disponível no Telecine Play

    (“PATHS OF GLORY” (1957))

Lançado apenas 1 ano depois de seu primeiro grande filme, “Glória Feita de Sangue” marca 2 aspectos na carreira de Kubrick: é a sua primeira colaboração com Kirk Douglas, ator que, em 1960, iria protagonizar o épico “Spartacus”, também dirigido pelo cineasta; e o filme é uma das 3 obras em que Kubrick abordou o tema da guerra. Assim como “Dr. Fantástico” e “Nascido Para Matar”, “Glória Feita de Sangue” pode ser considerado um filme “anti-guerra”, já que mostra os verdadeiros horrores dos conflitos armados, dentro e fora das linhas de defesa, com o conflito do filme em questão sendo a Primeira Guerra Mundial.

“Glória Feita de Sangue” foi um “1917” feito antes de “1917”, levando em conta os aspectos técnicos. Há uma sequência contínua ambientada dentro das trincheiras que claramente serviu de influência para Sam Mendes e Roger Deakins ao elaborarem o trabalho ambicioso de direção de fotografia de “1917”, que acabou levando o Oscar. Há um uso perfeito de efeitos práticos, com o filme em si sendo descrito como “o filme mais explosivo dos últimos 25 anos”. A história em si não foca no conflito, e sim na estrutura interna do exército da Tríplice Entente e na absoluta covardia dos oficiais britânicos, que desejam liderar uma ofensiva suicida contra a Alemanha e a Tríplice Aliança. É provavelmente o filme de guerra mais profundamente humano que eu já vi na minha vida. Se você ainda não viu “Glória Feita de Sangue”, você não sabe o que está perdendo.

(Released only one year after his first great film, “Paths of Glory” marks two aspects in Kubrick's career: it's his first collaboration with Kirk Douglas, who would, in 1960, star in the epic “Spartacus”, also directed by the filmmaker; and the film is one of the 3 works in which Kubrick dealt with the theme of war. Like “Dr. Strangelove” and “Full Metal Jacket”, “Paths of Glory” could be considered an “anti-war” film, as it displays the true horrors of armed conflict, in and out of the defense lines, with the conflict of this particular film being World War I.

“Paths of Glory” was “1917” made before “1917”, regarding its astounding technical aspects. There's a continuous sequence set inside the trenches which clearly served as an influence to Sam Mendes and Roger Deakins while they elaborated the ambitious cinematography work of “1917”, which eventually won the Oscar. There's a perfect use of practical effects, with the film itself being promoted as “the most explosive motion picture in 25 years”. The story itself doesn't focus on the conflict, but on the internal structure of the Triple Entente army and on the absolute cowardice of British officers, who wish to lead a suicidal offensive against Germany and the Triple Alliance. It's probably the most deeply human war film I've ever seen in my entire life. If you haven't watched “Paths of Glory” yet, you don't know what you're missing on.)



  1. LOLITA” (1962) – Disponível no HBO Max

    (“LOLITA” (1962))

Levando em conta a época de lançamento, “Lolita” provavelmente afugentou a grande maioria dos espectadores pela sua narrativa inerentemente polêmica. Baseado no controverso romance de Vladimir Nabokov, o filme conta a história de um professor de literatura de meia-idade que se encontra obcecado em merecer os afetos de uma garota de 14 anos chamada Lolita. Agora, eu sei o que vocês devem estar pensando: “Por quê esse maluco desse João Pedro colocou 'Lolita' na frente de um dos melhores filmes de guerra de todos os tempos?”.

A resposta é simples: Kubrick pega uma narrativa que é essencialmente doentia e a transforma em uma comédia de humor negro afiadíssima e extremamente ácida. Tudo que há de explícito na história é suavizado, em parte por causa da censura presente na época, mas com o objetivo de deixar tudo implícito para a imaginação do espectador interpretar certas cenas. As performances do James Mason e da Sue Lyon me lembraram bastante da dinâmica entre os personagens do Kevin Spacey e da Mena Suvari em “Beleza Americana”. Por mais estranha que a narrativa possa parecer, é tão interessante que o espectador nem vê o tempo de duração robusto de 2 horas e 32 minutos passar. É bom nesse nível.

(Taking into account its release date, “Lolita” probably scared away the great majority of viewers because of its inherently controversial narrative. Based on Vladimir Nabokov's infamous novel, the film tells the story of a middle-aged literature teacher who finds himself obsessed in earning the affections of a 14-year-old girl named Lolita. Now, I know what you might be thinking: “Why did this crazy person named João Pedro placed 'Lolita' ahead of one of the greatest war films of all time?”.

The answer is simple: Kubrick takes a narrative that is essentially sick and transforms it into a razor-sharp, extremely acid dark comedy. Everything that's explicit in the story is toned down, partly because of the censorship that was present at the time, but with the objective of leaving it all implied for the viewer's imagination to interpret certain scenes. James Mason and Sue Lyon's performances reminded me a lot of the dynamic between Kevin Spacey and Mena Suvari's characters in “American Beauty”. As odd as the narrative may seem, it's such an interesting one, to the point the viewer doesn't see its robust runtime of 2 hours and 32 minutes go by. “Lolita” is that good.)



  1. 2001: UMA ODISSEIA NO ESPAÇO” (1968) – Disponível no HBO Max

    (“2001: A SPACE ODYSSEY” (1968))

O revolucionário filme que rendeu ao diretor seu único Oscar (pelos efeitos especiais), “2001” é inovador por vários aspectos. Seja por ter previsto várias tecnologias que se fariam presentes nos dias atuais (como chamadas de vídeo e inteligências artificiais) ou pela inerente complexidade de seu roteiro, que lida com temas interessantes como existencialismo e a possibilidade de vida extraterrestre, o que muitos consideram ser a obra-prima de Stanley Kubrick é uma das provas de que o diretor era MUITO à frente de seu tempo.

A trilha sonora de composições clássicas é absolutamente icônica, a direção de arte continua sendo algo impressionante, ao ponto de você não acreditar que algo como “2001” foi feito há mais de 50 anos. Temos aqui um dos melhores vilões de todos os tempos na inteligência artificial HAL 9000 (responsável pela icônica fala “I'm sorry, Dave. I'm afraid I can't do that.”), e os efeitos especiais, além de terem merecido o Oscar, são cientificamente corretos, o que pode reforçar a teoria de que Kubrick teria falsificado a chegada do homem à Lua em 1969. O final pode ser um pouco bizarro, mas “2001: Uma Odisseia no Espaço” definitivamente é uma viagem fascinante, na qual toda pessoa deve embarcar pelo menos uma vez na vida.

(The revolutionary film that won the director his only Oscar (for special effects), “2001” is innovative on several aspects. Whether it's because it predicted several technologies that would be feasible in the present day (like video calls and artificial intelligences) or by the inherent complexity of its screenplay, which deals with interesting themes such as existencialism and the possibility of extraterrestrial life, what many consider to be Stanley Kubrick's masterpiece is one of many proofs that the filmmaker was WAY ahead of his time.

The soundtrack of classical compositions is absolutely iconic, the production design remains something impressive, to the point you can't believe that something like “2001” was made over 50 years ago. We have here one of the greatest villains of all time in artificial intelligence HAL 9000 (who's responsible for the iconic line “I'm sorry, Dave. I'm afraid I can't do that.”), and its special effects, besides having earned the Oscar, are scientifically accurate, which might reinforce the theory that Kubrick would've faked the Moon landing in 1969. The ending might be a little bizarre, but “2001: A Space Odyssey” is definitely a fascinating trip, which every person must go on at least once in their lives.)



  1. DE OLHOS BEM FECHADOS” (1999) – Disponível no HBO Max

    (“EYES WIDE SHUT” (1999)

O último filme de Stanley Kubrick, “De Olhos Bem Fechados” é superficialmente taxado como “o filme da orgia”. Sim, o filme tem uma orgia como uma das cenas mais memoráveis, assim como inúmeras cenas com nudez explícita, mas isso é somente a ponta do iceberg. A última obra desse cineasta é um estudo fascinante sobre a falta de amor em um relacionamento amoroso, neste caso, um casamento. E, além da abordagem desse tema muito interessante, há uma trama de suspense enervante e altamente atraente que vai lentamente se desenvolvendo ao longo do tempo de duração de 2 horas e 40 minutos.

O Tom Cruise e a Nicole Kidman (que eram casados na época de filmagens, e iriam se separar 2 anos após o lançamento do filme) fazem um excelente trabalho como um casal infeliz com desejos reprimidos, os quais são levados à pontos extremos. A direção de arte com uma paleta de cores azul e a falta de iluminação em algumas cenas conseguem refletir muito bem o tom frio da história. A trilha sonora, composta por Jocelyn Pook, bebe da mesma fonte da Wendy Carlos em “O Iluminado”, e acentua o teor enervante da narrativa. Kubrick faz um espetacular trabalho em fazer com que cada cena seja, ao mesmo tempo, atraente e repulsiva para o espectador, misturando doses idênticas de suspense e erotismo. Um tremendo último filme para um tremendo cineasta.

(The final film by Stanley Kubrick, “Eyes Wide Shut” is superficially taxed as “the orgy film”. Yes, the film does have an orgy as one of its most memorable scenes, as well as numerous scenes with explicit nudity, but that is just the tip of the iceberg. The last work by this filmmaker is a fascinating study about the lack of love in an amorous relationship, in this case, a marriage. And, besides the approach to this very interesting theme, there's an unnerving, highly attractive suspense plot which slowly builds itself throughout its runtime of 2 hours and 40 minutes.

Tom Cruise and Nicole Kidman (who were married at the time of filming, and would be separated two years after the film's release) do an excellent job as an unhappy couple with repressed desires, which are taken to extreme points. The art direction with a blue color palette and the lack of lighting in a few scenes manage to wonderfully reflect the story's cold tone. The original score, composed by Jocelyn Pook, learns from Wendy Carlos's work in “The Shining”, and heightens the narrative's unnerving tone. Kubrick does a spectacular job in making each scene, at the same time, arousing and repulsive for the viewer, mixing identical doses of suspense and erotism. A tremendous final film for a tremendous filmmaker.)



  1. SPARTACUS” (1960) – Disponível no Telecine Play

    (“SPARTACUS” (1960)

Com 3 horas e 17 minutos de duração, “Spartacus” é o filme mais longo da carreira de Stanley Kubrick, e o primeiro de seus épicos. Felizmente, graças à performance arrebatadora de Kirk Douglas no papel principal, à narrativa elaborada pelo renomado roteirista Dalton Trumbo, e à direção de arte absolutamente impecável, o filme consegue manter a atenção do espectador do início ao fim. É um filme grandioso, trágico, e extremamente divertido que foi responsável por revitalizar o interesse por filmes de gladiadores, chamados de “espadas e sandálias” nos EUA.

Sendo o primeiro filme colorido de Kubrick, é bem interessante ver como o diretor consegue utilizar esse novo artifício ao seu favor. É um filme relativamente leve. Se não fossem por algumas cenas de violência, ele poderia ser facilmente um ponto de partida para que espectadores mais jovens fossem introduzidos ao trabalho de Kubrick. As cenas de luta entre os gladiadores são de tirar o fôlego. São sequências inegavelmente tensas, que nos fazem torcer para que nada de ruim aconteça com o nosso herói. E o final é extremamente cativante, concluindo o arco narrativo do protagonista com perfeição. Não percam este clássico.

(Clocking in at 3 hours and 17 minutes, “Spartacus” is the longest film in Stanley Kubrick's career, and the first one of his epics. Fortunately, thanks to Kirk Douglas's riveting performance in the main role, to the narrative elaborated by acclaimed screenwriter Dalton Trumbo, and to the absolutely flawless work in the production design, the film manages to maintain the viewer's attention from start to finish. It's a grand, tragic and extremely entertaining film that was responsible for revitalizing the interest for gladiator films, dubbed as “swords and sandals” films.

As Kubrick's first film made in color, it's very interesting to see how the director manages to use this new artifice to his favor. It's a relatively light film. If it weren't for a few fairly violent scenes, it could've easily been a starting point for younger viewers to be introduced to Kubrick's work. The fight scenes between the gladiators are breathtaking. They are undeniably tense sequences, which make us hope that nothing bad happens to our hero. And the ending is extremely captivating, closing its protagonist's narrative arc with perfection. Don't sleep on this classic.)



  1. NASCIDO PARA MATAR” (1987) – Disponível no Telecine Play

    (“FULL METAL JACKET” (1987))

Chegando no top 5, temos o último filme de guerra feito por Stanley Kubrick, desta vez abordando a Guerra do Vietnã. Dividido em duas partes, o filme aborda de forma brilhante o abuso físico e psicológico sofrido pelos Fuzileiros Navais dos EUA, especialmente através da dinâmica entre o sarcástico e icônico sargento eternizado por R. Lee Ermey e o personagem interpretado por um jovem Vincent D'Onofrio (o Rei do Crime da série “Demolidor”), cujo desenvolvimento culmina em uma das cenas mais assustadoras que não pertencem à um filme de terror.

Na segunda metade do filme, acompanhamos o personagem do Matthew Modine (o Dr. Brenner de “Stranger Things”) enquanto ele trabalha como correspondente do jornal do Exército dos EUA no Vietnã. Há algumas cenas de ação impecáveis nessa porção do filme, que rivalizam aquelas aperfeiçoadas por “O Resgate do Soldado Ryan”, e o desenvolvimento da dinâmica entre os soldados resulta em uma das cenas mais trágicas e possivelmente traumatizantes em um filme de Stanley Kubrick. Mais uma obra imperdível.

(Onto our top 5, we have the last war film made by Stanley Kubrick, this time approaching the Vietnam War. Divided into two parts, the film brilliantly deals with the physical and psychological abuse suffered by the US Marine Corps, especially through the dynamics between the sarcastic and iconic drill sergeant played by R. Lee Ermey and the character played by a young Vincent D'Onofrio (Kingpin from the show “Daredevil”), whose development culminates in one of the scariest scenes in a non-horror film.

In the film's second half, we follow Matthew Modine's (Dr. Brenner from “Stranger Things”) character while working as a correspondent for the US Army newspaper in Vietnam. There are some flawless action scenes in this part of the film, which rival those perfected in “Saving Private Ryan”, and the development of the dynamics between the soldiers results in one of the most tragic and possibly traumatizing scenes in a Stanley Kubrick film. Yet another piece of work of his that you can't miss.)



  1. DR. FANTÁSTICO, OU: COMO EU APRENDI A PARAR DE ME PREOCUPAR E AMAR A BOMBA” (1964) – Disponível para compra no YouTube

    (“DR. STRANGELOVE, OR: HOW I LEARNED TO STOP WORRYING AND LOVE THE BOMB” (1964))

O filme mais engraçado de Stanley Kubrick, “Dr. Fantástico” é uma sátira afiadíssima de humor negro ambientada no auge da Guerra Fria, onde um conflito nuclear entre os EUA e a União Soviética nunca deixou de ser uma possibilidade. O filme conta a história de um general americano paranoico que ordena bombardeiros a atacarem a URSS com ogivas nucleares. Com isso, o Presidente dos EUA organiza uma reunião no Pentágono, que conta com a presença de um embaixador soviético e um médico ex-nazista, resultando em conflitos devido às ideologias contrastantes do grupo.

Kubrick faz um ótimo uso da direção de fotografia em preto-e-branco, especialmente nas cenas mais visualmente escuras. Ele consegue reter muito bem o tom noir que marcou “O Grande Golpe”. O roteiro de Kubrick, Terry Southern e Peter George é absolutamente hilário, contando com cenas icônicas, que incluem um oficial do exército cavalgando uma ogiva nuclear (não, você não leu errado), várias discussões sobre como a URSS deseja contaminar os “fluidos corporais” dos americanos, e falas que, graças à esperteza do cineasta, são mais sarcásticas do que bobas (“Senhor, você não pode deixá-lo entrar aqui. Ele vai ver o painel enorme!” e “Senhores, vocês não podem brigar aqui. Esta é a Sala de Guerra!”). O ator Peter Sellers assume três papéis diferentes no filme, cada um melhor do que o outro, mas o destaque fica para o personagem-título, um médico cadeirante que constantemente se refugia nos seus costumes como ex-oficial do Partido Nazista. “Mein Führer, eu consigo andar!”

(Stanley Kubrick's funniest film, “Dr. Strangelove” is a razor-sharp dark comedy satire set during the peak of the Cold War, where a nuclear conflict between the US and the Soviet Union was always a possibility. The film tells the story of a paranoid American general who orders B-52 bombers to attack the USSR with nuclear warheads. Because of that, the President of the United States organizes a meeting in the Pentagon, which relies on the presence of a Soviet ambassador and a former Nazi doctor, resulting in conflicts due to the group's contrasting ideologies.

Kubrick makes a great use of the black-and-white cinematography, especially in the visually darker scenes. He manages to retain really well that noir tone that made “The Killing” a hit. The screenplay penned by Kubrick, Terry Southern and Peter George is absolutely hilarious, relying on iconic scenes, which include an Army officer riding a nuclear warhead (no, you didn't read that wrong), several discussions on how the USSR wishes to contaminate the Americans' “bodily fluids”, and lines that, thanks to the filmmaker's cleverness, are more sarcastic than silly (“Sir, you can't let him in here. He's going to see the big board!” and “Gentlemen, you can't fight here. This is the War Room!”). Actor Peter Sellers takes on three different roles in the film, each one better than the last, but the highlight stays with the title character, a handicapped doctor who constantly takes refuge in his customs as a former officer of the Nazi Party. “Mein Führer, I can walk!”)



  1. O ILUMINADO” (1980) – Disponível no HBO Max

    (“THE SHINING” (1980))

Adorado pelos fãs do diretor, mas odiado pelos fãs e pelo autor do livro que o inspirou, “O Iluminado” encontra Stanley Kubrick em sua melhor forma. Ancorado por uma performance inesquecível de Jack Nicholson, o diretor consegue fazer aqui o que filmes como “A Bruxa”, “Hereditário” e “Midsommar” só iriam fazer 40 anos depois. Ele consegue criar uma história de terror sem o uso de sustos baratos, conhecidos como jumpscares. O verdadeiro terror do filme vem de cenas que causam arrepios em toda parte do seu corpo, que conseguem penetrar até a fonte do horror: o trauma.

Já tendo feito “2001”, “Laranja Mecânica” e “Barry Lyndon” até aqui, Kubrick pega o que aprendeu na produção destes filmes e aplica em um dos trabalhos de direção de arte mais impecáveis que eu já vi na minha vida. Não sei porque, mas o fato da grande maioria das cenas estar em perfeita simetria só torna tudo ainda mais enervante e assustador. “O Iluminado” é uma verdadeira amálgama de cenas icônicas (“Here's Johnny!”, a cena do elevador e a infame cena da escada que foi filmada 127 vezes até ficar perfeita), e é facilmente o filme mais acessível do diretor. Se você se considera fã de filmes de terror, este clássico de 1980 é obrigatório.

Você pode ler minha resenha completa aqui: https://nocinemacomjoaopedro.blogspot.com/2019/10/o-iluminado-uma-obra-relevante.html

(Beloved by the director's fans, but hated by the fans and the author of the book that inspired it, “The Shining” finds Stanley Kubrick in his finest form. Anchored by an unforgettable performance by Jack Nicholson, the director manages to do here what films like “The Witch”, “Hereditary” and “Midsommar” would only accomplish 40 years later. He manages to create a horror story without the use of cheap scares, known as jumpscares. The real horror of the movie comes from scenes that give chills all over your body, that manage to penetrate into the very source of terror: trauma.

With “2001”, “A Clockwork Orange” and “Barry Lyndon” already made and released to this point, Kubrick takes everything he's learned while making those films and applies it in one of the most flawless works in production design I've ever seen in my entire life. I don't know why, but the fact that the great majority of scenes is in perfect symmetry only makes everything even more unnerving and frightening. “The Shining” is a true collection of iconic scenes (“Here's Johnny!”, the elevator scene and the infamous staircase scene which was filmed 127 times until it was perfect), and it is easily the director's most accessible film. If you consider yourself to be a horror movie fan, this 1980 classic is mandatory viewing.

You can read my full review on it here: https://nocinemacomjoaopedro.blogspot.com/2019/10/o-iluminado-uma-obra-relevante.html)



  1. LARANJA MECÂNICA” (1971) – Disponível no HBO Max

    (“A CLOCKWORK ORANGE” (1971))

Eu assisti a esse controverso clássico bem recentemente (inclusive, fiz uma resenha completa dele, a qual você pode ler aqui: https://nocinemacomjoaopedro.blogspot.com/2021/06/sessao-retrospectiva-laranja-mecanica.html), então ele está bem fresco na minha memória. “Laranja Mecânica” é um filme genial. Difícil de ver? Às vezes. Mas o estudo de personagem do delinquente Alex DeLarge, eternizado pelo Malcolm McDowell, é absolutamente fascinante. Parafraseando minha resenha, amei como Kubrick primeiro nos faz odiar o personagem pelos atos horrendos que ele comete, para depois nos fazer ter simpatia por ele através destes mesmos atos.

A direção de arte, assim como em “2001” e “O Iluminado”, é implacavelmente impecável. A distopia visual que Kubrick cria não se distancia tanto assim da realidade, colaborando para que o filme tenha (e mantenha) um caráter atemporal, o que é fantástico, para um filme que foi feito há 50 anos. A distopia narrativa, assim como a visual, também consegue ter relevância em qualquer época, devido à abordagem de temas onipresentes como livre-arbítrio, rebeldia contra autoridade e o abuso psicológico que pessoas podem sofrer pelas mãos de um governo. Aconteça o que acontecer, não percam esse clássico!

(I had watched this controversial classic quite recently (in fact, I wrote a full review on it, which you can read here: https://nocinemacomjoaopedro.blogspot.com/2021/06/sessao-retrospectiva-laranja-mecanica.html), so it's pretty fresh in my memory. “A Clockwork Orange” is a genius film. Tough to watch? Sometimes. But the character study of delinquent Alex DeLarge, brilliantly portrayed by Malcolm McDowell, is absolutely fascinating. To quote my own review, I loved how Kubrick first makes us hate the character for the horrendous acts he commits, to then make us have sympathy towards him through those same acts.

The production design, just like in “2001” and “The Shining”, is relentlessly flawless. The visual dystopia that Kubrick creates here isn't that far away from reality, collaborating for the film to have (and maintain) a timeless character, which is freaking fantastic, for a film that was made 50 years ago. The narrative dystopia, like the visual one, also manages to have its relevance in any time in history, due to its approach of omnipresent themes such as free will, rebelling against a higher authority and the psychological abuse that people could suffer from the hands of a government. No matter what, don't sleep on this classic!)



  1. BARRY LYNDON” (1975) – Disponível no HBO Max

    (“BARRY LYNDON” (1975))

Esse filme... Ah, esse filme... Quatro anos após lançar “Laranja Mecânica”, em 1975, a Warner Bros. lançava a obra mais recente de Stanley Kubrick, baseada no romance seriado de William Makepeace Thackeray. Assim como todos os filmes nessa lista, “Barry Lyndon” é uma obra-prima, e talvez o filme mais subestimado de Kubrick, perdendo o holofote para “2001”, “Laranja Mecânica” e “O Iluminado”. O enredo é ambientado no século XVIII, e acompanha um jovem irlandês que, ao desertar do exército inglês, se torna um oportunista e se concentra em casar com uma viúva rica para ascender na sociedade e obter uma posição aristocrática. Este filme tem literalmente TUDO que caracteriza uma boa história: amor, ódio, aventura, romance, traição, drama, tragédia, e até uma pitadinha de comédia.

Visualmente, então, é como se você estivesse vendo uma pintura em movimento. A direção de fotografia vencedora do Oscar de “Barry Lyndon” foi revolucionária para a época, com Kubrick e o diretor de fotografia John Alcott utilizando lentes especiais que permitiriam que todas as cenas fossem filmadas com apenas luz natural, e várias cenas somente à luz de velas. A direção de arte (que também venceu o Oscar) é provavelmente a mais vistosa que eu já vi em uma obra de época. Figurinos luxuosos, um trabalho estupendo de maquiagem e os cenários... É cada castelo mais lindo que o outro! “Barry Lyndon” literalmente é a definição da expressão estética “A cada quadro, uma pintura”, que se popularizou bastante entre os fãs da sétima arte na atualidade. E o filme todo é conduzido pela performance maravilhosa do Ryan O'Neal como o personagem-título, com o arco narrativo dele evoluindo de forma bem orgânica. Então, se você é fã de uma boa história, ou fã do trabalho do diretor (ou os dois), não perca essa joia escondida no verdadeiro baú de tesouros que é a filmografia de Stanley Kubrick!

(This film... Ah, this film... Four years after releasing “A Clockwork Orange”, in 1975, Warner Bros. released Stanley Kubrick's latest work, based on William Makepeace Thackeray's serial novel. Just like every single film in this list, “Barry Lyndon” is a masterpiece, and perhaps Kubrick's most underrated film, losing the spotlight to the likes of “2001”, “A Clockwork Orange” and “The Shining”. The plot is set in the 18th century, and follows a young Irish man who, by deserting the English army, becomes an opportunist and focuses on marrying a rich widow to climb up the social ladder and obtain an aristocractic position. This film has literally EVERYTHING that defines a good story: love, hatred, adventure, romance, betrayal, drama, tragedy, and even a small pinch of comedy.

Visually, then, it is like you're watching a painting in motion. The Oscar-winning cinematography of “Barry Lyndon” was revolutionary for its time, with Kubrick and cinematographer John Alcott using special lenses which would allow all scenes to be filmed using only natural light, and several scenes under candlelight. The art direction (which also won an Oscar) is probably the most stunning one I've ever seen on a period film. Luxurious costumes, a stupendous work in makeup and hairstyling, and the sets... Each castle is more beautiful than the previous one! “Barry Lyndon” is the literal definition of the aesthetic expression “Every frame, a painting”, which became very popular with movie fans in today's times. And the whole film is led by Ryan O'Neal's wonderful performance as the title character, with his narrative arc evolving in a very organic way. So, if you're a fan of a good story, or of the director's work (or both), don't miss on this hidden gem in the real treasure chest that is Stanley Kubrick's filmography!)



É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)

sexta-feira, 23 de julho de 2021

"Caçadores de Trolls - A Ascensão dos Titãs": uma conclusão divertida, porém insatisfatória para a trilogia Contos da Arcadia (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para falar sobre um dos lançamentos mais recentes no catálogo original da Netflix! Sendo a conclusão da saga animada Contos da Arcadia, criada pelo visionário Guillermo del Toro, o filme em questão acerta em fechar o arco narrativo de seu protagonista, mas erra a marca em reter o teor mais sombrio e metafórico das séries e em entregar a todos os personagens o desfecho épico que eles mereciam. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Caçadores de Trolls: A Ascensão dos Titãs”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to talk about one of the most recent releases in Netflix's original catalog! As the conclusion in the Tales of Arcadia animated saga, created by visionary director Guillermo del Toro, the film I'm about to review hits a few marks when bringing its protagonist's narrative arc to a close, but misses in retaining the darker, more metaphorical tone of the shows and in giving every character the epic closure they deserved. So, without further ado, let's talk about “Trollhunters: Rise of the Titans”. Let's go!)



Após os eventos de “Caçadores de Trolls”, “Os 3 Lá Embaixo” e “Magos”, o filme acompanha Jim Lake Jr. (voz original de Emile Hirsch), Claire Nuñez (voz original de Lexi Medrano) e Toby Domzalski (voz original de Charlie Saxton), que, ao descobrirem que uma ordem antiga de feiticeiros deseja acordar uma legião de titãs para reiniciar a Terra, unem forças com o mago Douxie (voz original de Colin O'Donoghue) e os irmãos alienígenas Aja (voz original de Tatiana Maslany) e Krel (voz original de Diego Luna) para salvar o mundo.

(After the events of “Trollhunters”, “3Below” and “Wizards”, the film follows Jim Lake Jr. (originally voiced by Emile Hirsch), Claire Nuñez (originally voiced by Lexi Medrano) and Toby Domzalski (originally voiced by Charlie Saxton), who, by finding out that an ancient order of sorcerers wishes to awaken a legion of titans to reboot the Earth, join forces with wizard Douxie (originally voiced by Colin O'Donoghue) and alien siblings Aja (originally voiced by Tatiana Maslany) and Krel (originally voiced by Diego Luna) in order to save the world.)



Ok, para começar, eu sou MUITO fã da trilogia de séries animadas “Contos da Arcadia”, criada pelo Guillermo del Toro para o catálogo original da Netflix. Acompanhei as 3 séries que a compõem (“Caçadores de Trolls”, “Os 3 Lá Embaixo” e “Magos”) desde o início da primeira em dezembro de 2016, e simplesmente amei como cada temporada foi colaborando para a construção de uma mitologia fascinante, a qual não só enriqueceu a obra, mas também a presenteou com um caráter sociopolítico impecável. A trilogia como um todo é uma das melhores obras de fantasia que já tive o prazer de assistir, e é bem interessante ver como del Toro flerta com os mais diversos gêneros aqui, diante da evolução das séries: além da fantasia em si, há bastante comédia, romance, ficção-científica e algumas pitadas muito eficientes de terror e fantasia sombria.

É uma obra que fica cada vez mais diversa, madura e interessante, em termos de tom e temas, com o passar do tempo. E, talvez o mais importante, é um ponto de partida perfeito para introduzir um público mais jovem ao trabalho extraordinário de Guillermo del Toro, cineasta conhecido por fazer filmes para espectadores mais adultos, como “O Labirinto do Fauno”, “A Espinha do Diabo” e o vencedor do Oscar de Melhor Filme “A Forma da Água”. O fato de ser uma história protagonizada por crianças e adolescentes, se juntando à uma mitologia essencialmente acessível e repleta de magia, permitiu que o diretor flexibilizasse seu público-alvo, agradando tanto crianças quanto adultos.

Com isso dito, eu estava BEM animado para assistir à conclusão da saga, “Caçadores de Trolls: A Ascensão dos Titãs”. Assim como “Vingadores: Ultimato” foi a culminação de mais de 10 anos de trabalho para a Marvel Studios, este filme é a conclusão da história que foi iniciada com a primeira temporada de “Caçadores de Trolls”, cinco anos atrás. Então, eu esperava algo bastante épico, com o escopo expansivo que “Ultimato” teve, mas retendo o tom maduro e metafórico das séries e entregando um final digno para a saga Contos da Arcadia e seus vários personagens. Infelizmente, lamento em dizer que, mesmo que o filme tenha alguns momentos que me lembraram dos melhores episódios das séries, “Caçadores de Trolls: A Ascensão dos Titãs” não foi uma conclusão completamente satisfatória para mim.

Ok, vamos falar do roteiro. Escrito por Marc Guggenheim e os irmãos Dan e Kevin Hageman (os três sendo roteiristas e produtores executivos da trilogia de séries), o enredo de “A Ascensão dos Titãs” acerta em alguns aspectos narrativos, mas peca seriamente em outros. Vamos por partes. Por um lado, o filme consegue explorar um lado mais humano do protagonista, Jim Lake Jr. Há certas circunstâncias aqui que impedem Jim de alcançar seu verdadeiro potencial como Caçador de Trolls, e o roteiro faz um bom trabalho em expor a impotência e o dilema que passa pela cabeça do personagem, algo do tipo “Sem isso, o que eu sou?”.

Para mim, essa exploração da humanidade do protagonista foi um dos maiores acertos do roteiro, porque isso colabora para que ele interaja e busque conselhos com alguns dos melhores personagens coadjuvantes da saga. A jornada que Jim precisa caminhar para alcançar seu máximo potencial é o principal fio condutor do filme, e nisso, a conclusão da saga Contos da Arcadia me lembrou bastante do primeiro filme do Thor, que eu gosto muito.

No geral, é um filme bem divertido. Não tem o escopo enorme que eu esperava, no estilo “Vingadores: Ultimato”, mas para os padrões da trilogia, é uma conclusão significativamente rica, contando com muitas cenas de ação, um passo bem acelerado e aparições de praticamente todos os personagens que conhecemos e amamos, de todas as três séries. Eu gostei de como, mesmo sendo promovido como um capítulo final, o filme conseguiu também trazer algo novo para a já fascinante mitologia dos Contos da Arcadia. Há uma subtrama em particular no enredo que é absolutamente hilária, por mais bizarra que realmente seja. As cenas de ação envolvendo os titãs do título são bem épicas e tecnicamente ambiciosas, me lembrando bastante dos combates entre Jaegers e Kaijus em “Círculo de Fogo”, também de Guillermo del Toro; porém, por ser algo direcionado a um público mais jovem, são sequências altamente previsíveis.

Mas, infelizmente, a conclusão “épica” dos Contos da Arcadia falha em replicar os melhores aspectos que fizeram das séries um sucesso, a começar pelo tom. Para uma série que teve como um de seus principais eventos o exorcismo de uma das personagens principais, “Caçadores de Trolls: A Ascensão dos Titãs” foi um capítulo final bem infantil, para falar a verdade. O senso de humor praticamente universal das séries foi modificado para algo bem bobinho, que falha tanto em tirar a atenção da ameaça iminente quanto em alcançar um público mais adulto, sendo capaz de agradar somente os espectadores mais jovens.

Para mim, eles deveriam ter bebido mais da fonte de “Vingadores: Ultimato”, no quesito de ser o capítulo mais sombrio da saga criada por del Toro, com um alívio cômico mais descontraído e um impacto emocional mais forte. Ia ser completamente original? Não. Mas com certeza, seria melhor do que o resultado final. E o pior é que, quando o filme se aproxima, em termos de tom, de algo mais impactante e potencialmente emocionante, os roteiristas tomam o caminho fácil e levam a história para um rumo completamente diferente, que apaga o teor emocionante do filme inteiro, somente para adequar a trama aos padrões que viemos a esperar de filmes feitos por estúdios como Disney e DreamWorks. Na minha opinião, essa mudança de tom para algo mais sombrio era uma das maiores oportunidades que os roteiristas tinham para entregar uma conclusão digna e emocionalmente potente para a saga dos Contos da Arcadia, e eles a desperdiçaram quase que completamente.

Outro grande problema presente no filme é o passo, que é demasiadamente acelerado. Com 1 hora e 46 minutos de duração, “Caçadores de Trolls: A Ascensão dos Titãs” pareceu mais um episódio estendido de uma das séries do que um longa-metragem propriamente dito. Há muitas coisas interessantes a serem exploradas aqui, mas, infelizmente, nenhuma delas é bem-desenvolvida o suficiente para ser memorável na mente do espectador. Outra consequência do passo acelerado seria o desenvolvimento dos personagens, que, fora o do protagonista, é bem raso. Há algumas interações aqui e ali entre eles que tentam levar os eventos do filme para um território mais sério e decisivo, mas os roteiristas escolhem em focar nas cenas de luta e ação, desperdiçando ou ocultando quase que completamente alguns dos melhores personagens da saga. Isso poderia ter sido facilmente consertado com uma duração mais longa, talvez com 2 horas ou um pouco mais, contendo um equilíbrio entre as cenas de ação e cenas mais calmas, especificamente para o desenvolvimento de personagens.

E, por último, talvez o maior problema de “Caçadores de Trolls: A Ascensão dos Titãs” seja justamente a sua conclusão. Não vou tratar de spoilers aqui, mas há um certo ponto perto do final onde o espectador pensa “Caramba, eu realmente não esperava que isso acontecesse”, mas de um jeito positivo. Aí, ao invés de deixar o filme fechado com essa conclusão diferente e inesperada, porém surpreendentemente boa; os roteiristas acabam tomando um caminho bizarro para terminar o enredo... DE MANEIRA ABERTA. A última coisa que eu esperava desse filme era um final aberto. Nas séries, eu até entendo, porque eles tinham que dar um gancho para as próximas temporadas ou universos particulares no cânone.

Mas colocar um suspense bizarro e (sinceramente) preguiçoso como esse nos momentos finais de algo que pretendia ser a CONCLUSÃO de uma história que começou cinco anos atrás definitivamente não é o final que os Contos da Arcadia e seus personagens mereciam. Em suma, o roteiro de “Caçadores de Trolls: A Ascensão dos Titãs” acerta ao focar em seu protagonista e apresenta ideias interessantes que propõem um teor mais sério para o enredo. Porém, infelizmente, tais ideias não são bem desenvolvidas, devido às limitações impostas pelo tom infantil e passo acelerado da história, resultando em uma conclusão que não faz jus à fascinante mitologia construída ao longo dos últimos 5 anos.

(Okay, for starters, I am a HUGE fan of the Tales of Arcadia animated trilogy of TV shows, which was created by Guillermo del Toro for Netflix's original programming catalog. I've followed the three shows that compose it (“Trollhunters”, “3Below” and “Wizards”) ever since the first one started way back in December 2016, and I simply loved how each season collaborated in the construction of a fascinating mythology, which not only made the works a whole lot richer, but also gifted it with a flawless sociopolitical interpretation. The trilogy, as a whole, is one of the finest works of fantasy I've had the pleasure of watching, and it's very interesting to see how del Toro flirts with a great amount of genres here, as the series progresses: besides fantasy itself, there's plenty of comedy, romance, science fiction and some very effective pinches of horror and dark fantasy.

It's something that gets more diverse, mature and interesting, when it comes to tone and themes, as the episodes go by. And, perhaps most importantly, it's a perfect starting point to introduce a younger audience to the extraordinary work of Guillermo del Toro, a filmmaker who's known for making films to a more adult audience, such as “Pan's Labyrinth”, “The Devil's Backbone” and the Best Picture Oscar-winner “The Shape of Water”. The fact that it's a story that has children and teenagers as its protagonists, walking hand-in-hand with an essentially accessible mythology that's brimming with magic, allowed the director to appeal to a wider target audience, pleasing both children and adults.

With that said, I was REALLY excited to watch the saga's conclusion, “Trollhunters: Rise of the Titans”. As “Avengers: Endgame” was the culmination of over 10 years of work for Marvel Studios, this film is the conclusion of the story that was started with the first season of “Trollhunters”, five years ago. So, I was expecting something pretty epic, with the expansive scope of “Endgame”, but retaining the mature and metaphorical tone of the shows and delivering a worthy finale for the Tales of Arcadia saga and its numerous characters. Unfortunately, I'm sorry to say that, even though the film had some moments that reminded me of the best episodes in the shows, “Trollhunters: Rise of the Titans” wasn't a completely satisfying conclusion for me.

Okay, let's talk about the screenplay. Written by Marc Guggenheim and brothers Dan and Kevin Hageman (all three of them being writers and executive producers for the trilogy of TV shows), the plot for “Rise of the Titans” gets a few narrative aspects right, but seriously misses the mark on others. Let's do this by parts. On one hand, the film manages to explore a more human side of its protagonist, Jim Lake Jr. There are certain circumstances here that prevent Jim from reaching his true potential as Trollhunter, and the screenplay does a very good job in exposing the powerlessness and the dilemma that's going through his head, something of the “Without this, who am I?” kind.

To me, that exploration of the protagonist's humanity was one of the screenplay's greatest qualities, as it allows him to interact, search for advice and exchange meaningful dialogue with some of the saga's greatest supporting characters. The journey that Jim needs to go on to reach his maximum potential is the film's main conductive force, and in that, the conclusion in the Tales of Arcadia saga reminded me a lot of the first film in the Thor franchise, which I enjoyed a lot.

Generally, it's a pretty fun film. It didn't have the enormous scope I expected, like the one in “Avengers: Endgame”, but, considering the trilogy's patterns, it's a significantly rich conclusion, relying on many action scenes, really fast pacing and appearances by practically every character we know and love, from all three shows. I liked how, even though it's promoted as a final chapter, the film also managed to bring something new to the Tales of Arcadia's already fascinating mythology. There's a particular subplot in the story that's absolutely hilarious, as bizarre as it actually is. The action scenes involving the titular titans are pretty epic and technically ambitious, reminding me a lot of the one-on-one combats between Jaegers and Kaijus in “Pacific Rim”, also by Guillermo del Toro; but, as it is something directed towards a younger audience, they are highly predictable sequences.

But, unfortunately, the “epic” conclusion to the Tales of Arcadia fails in replicating the best aspects that made the shows a hit, starting off with the tone. For a show that had, as one of its main events, the exorcism of one of its key characters, “Trollhunters: Rise of the Titans” was a pretty childish final chapter, to tell the truth. The practically universal sense of humor in the TV shows was modified to something quite silly, that fails in both taking off the attention from the imminent threat and reaching towards a more adult audience, being able to please only its youngest viewers.

To me, they should've inspired themselves more on what “Avengers: Endgame” did, in the context of being the darkest chapter in the saga created by del Toro, with an uncompromising comic relief and a stronger emotional impact. Would it be completely original? No. But certainly, it would've been better than the final result. And the worst thing is that, when the film comes closer, tone-speaking, to something more impactful and emotionally resonant, the writers take the easy way out and take the story on a totally different path, which erases the entire film's emotional factor, only to fit it in the patterns of what we've come to expect from a film by studios such as Disney and DreamWorks. In my opinion, this shift of tone towards something more serious was one of the biggest opportunities the writers had at their hands to deliver a worthy and emotionally potent conclusion to the Tales of Arcadia saga, and they almost completely wasted it.

Another huge problem in the film is the pacing, which is way too fast. Clocking in at 1 hour and 46 minutes, “Trollhunters: Rise of the Titans” feels more like an extended episode from one of the shows than a properly-said feature-length film. There are many interesting things to be explored here, but, unfortunately, none of them is well-developed enough to be memorable on the viewer's mind. Another consequence of the fast pacing would be the characters' development, which, apart from the main character, is pretty shallow. There are some interactions sprinkled here and there that try to take the film's events to a more serious and decisive territory, but the writers choose to focus on the fight and action scenes instead, wasting or almost completely shadowing some of the saga's best characters. That could've been easily fixed with a longer runtime, maybe 2 hours or a little bit more, with a balance between the action scenes and more calm scenes, specifically directed towards character development.

And, at last, maybe the biggest problem in “Trollhunters: Rise of the Titans” is, matter of fact, its conclusion. I won't deal with any spoilers here, but there's a certain point near the ending where the viewer thinks “Wow, I really didn't expect that to happen”, but in a positive way. And so, instead of closing the film with that different, unexpected yet surprisingly good conclusion; the writers end up taking a bizarre turn to finish off the plot... WITH AN OPEN ENDING. The last thing I expected from this film was for it to have an open ending. In the shows, I get it, as you had to put a cliffhanger to keep the viewer interested for the next seasons or particular universes in the canon.

But putting a bizarre and (honestly) lazy cliffhanger like this one in the final moments of something that's intended to be the CONCLUSION of a story that started five years ago is not the ending that the Tales of Arcadia and its characters deserved. To sum it up, the screenplay for “Trollhunters: Rise of the Titans” gets something right by focusing on its protagonist, and introducing interesting ideas that propose something more serious for the plot. But, unfortunately, those ideas aren't well developed, due to limitations imposed by the story's childish tone and fast pacing, resulting in a conclusion that doesn't do justice to the fascinating mythology built in the last five years.)



Além do protagonista, Jim Lake Jr., todo personagem em “Caçadores de Trolls: A Ascensão dos Titãs” recebe uma dessas duas opções de tratamento: A) ele(a) é quase que completamente obscurecido pelo roteiro; ou B) ele(a) tem o relacionamento com Jim como única fonte de desenvolvimento. Como dito anteriormente, o desenvolvimento do protagonista é um dos poucos destaques do filme. Assombrado por um dilema, ele compartilha cenas comoventes com a grande maioria dos personagens, e é o maior fator motivador para que eles sigam em frente com sua missão, mesmo com ele mesmo não sendo capaz de alcançar seu potencial máximo como Caçador de Trolls. A jornada que o Jim faz ao longo do filme é cativante, envolvente e tem um desfecho bem satisfatório, ao contrário do próprio longa-metragem.

A parte ruim é que todos os outros personagens, infelizmente, não compartilham da mesma recompensa. Personagens como Toby, Claire, Blinky, AAAAAAARGGGHH!!!, Strickler, Nomura, Douxie, Aja, Krel e a mãe do protagonista, Barbara, foram reduzidos à no máximo 10 minutos de desenvolvimento, com os roteiristas fazendo o mesmo que pegar toda a linha narrativa que foi construída ao longo das três séries, amassá-la no formato de bolinha, e jogá-la na lata de lixo mais próxima. Mas os que foram realmente injustiçados pelo filme são justamente os melhores personagens da saga. Os rouba-cenas respectivos de “Caçadores de Trolls” e “Os 3 Lá Embaixo”, mais conhecidos como os Caça-Monstroz e Varvatos Vex, são quase que completamente desperdiçados na trama, salvo em algumas poucas cenas. Os vilões não chegam a ser ameaçadores, porque, como é algo direcionado a um público mais infantil, o espectador meio que já sabe qual vai ser a trajetória deles. Ou seja, resumindo, o desenvolvimento dos personagens no filme desperdiça o potencial obtido por eles nas séries, e falha em entregar o desfecho épico que eles tanto mereciam.

(Besides the main character, Jim Lake Jr, every character in “Trollhunters: Rise of the Titans” gets either one of these two options of treatment: A) he (or she) is almost completely overshadowed by the screenplay; or B) he (or she) has his (or her) relationship with Jim as its only source of development. As previously stated, the protagonist's development throughout the plot is one of the film's few highlights. Haunted by a dilemma, he shares moving scenes with the great majority of the characters, and he's the greatest motivating factor for them to move forward with their mission, even if he isn't able to reach his maximum potential as Trollhunter. The journey Jim goes on throughout the film is captivating, involving and has a pretty satisfying conclusion, unlike the film itself.

The bad part is that every other character, unfortunately, doesn't share the same reward. Characters like Toby, Claire, Blinky, AAAAAAARGGGHH!!!, Strickler, Nomura, Douxie, Aja, Krel and the protagonist's mom, Barbara, were reduced to a maximum amount of 10 minutes of development, with the writers doing the same thing as taking all the narrative storyline that was built throughout the three shows, crumpling it into the size of a small ball, and tossing it in the nearest trash can. But the ones who suffered the greatest amount of injustice were, as a matter of fact, the best characters in the saga. The respective scene-stealers of “Trollhunters” and “3Below”, mostly known as the Creepslayerz and Varvatos Vex, are almost completely wasted in the plot, except for a little amount of scenes. The villains aren't even threatening, because, as it is something directed towards a younger audience, the viewer kind of already knows their trajectory throughout the plot. Meaning that, resuming, the character development in the film wastes the potential they obtained in the TV shows, and fails in delivering the epic closure that they deserved.)



Felizmente, a proeza na animação e nos aspectos técnicos de “Caçadores de Trolls: A Ascensão dos Titãs” compensam as falhas narrativas do roteiro, demonstrando o quanto a qualidade no visual da animação evoluiu desde a primeira temporada de “Caçadores de Trolls”, em 2016. Uma coisa que sempre me atraiu nos visuais da trilogia Contos da Arcadia é a presença de uma paleta de cores essencialmente vibrante, que instantaneamente captura a atenção do espectador. E, especialmente quando se trata de crianças, quanto mais cores estiverem presentes na tela, melhor e mais atraente a animação será para elas. E isso, “A Ascensão dos Titãs” tem de sobra. Se você se apaixonou pelo visual de “Festa no Céu” (que foi produzido por Guillermo del Toro), prepare-se para mergulhar dentro da paleta de cores vibrante dos Contos da Arcadia.

Cada ambiente criado aqui, seja ele pertencente ao mundo real ou fantástico, demonstra uma textura tão realista e palpável que não era muito proeminente há cinco anos. Os movimentos dos personagens em si ficaram bem mais fluidos, os efeitos visuais são usados de maneira bastante orgânica. O design dos titãs foi muito bem feito. Em termos de estética, eles me lembraram bastante dos gigantes de pedra de “Frozen II”. O diferencial (e a parte interessante) dos titãs é que cada um representa um elemento da natureza. O que representa o fogo é um vulcão em erupção, o representante do gelo é um iceberg ambulante, o da natureza em si é um ecossistema gigantesco. Achei bem legal! A montagem é muito precisa e, devido ao passo acelerado da história, bem ágil. Há uma sequência em particular onde a edição ajuda a criar um alívio cômico. Para mim, foi uma das únicas cenas onde o senso de humor do filme realmente funcionou, e a montagem foi um aspecto crucial para a eficácia dela.

E, por fim, temos a trilha sonora original composta pelo Jeff Danna e pelo Scott Kirkland (ambos responsáveis pelas faixas eletrônicas de “Os 3 Lá Embaixo”), que conseguem replicar perfeitamente o teor épico e fantástico do trabalho que o Alexandre Desplat e o Tim Davies fizeram em “Caçadores de Trolls”. Há uma presença marcante de violinos e orquestras durante as cenas que possuem um passo mais acelerado e fantástico, me lembrando bastante do trabalho do Howard Shore nas trilhas de “O Senhor dos Anéis”. Por outro lado, há uma parte mais eletrônica da trilha sonora, presente nas cenas de ação e, principalmente, nas sequências envolvendo a Aja e o Krel, nos remetendo imediatamente à “Os 3 Lá Embaixo”, e até um pouco ao trabalho do Daft Punk em “Tron: O Legado”. Gostei bastante do trabalho de Danna e Kirkland aqui.

(Luckily, the prowess in the animation and technical aspects of “Trollhunters: Rise of the Titans” compensate for the screenplay's narrative flaws, demonstrating how much the quality in the animation's visuals has evolved since the first season of “Trollhunters”, in 2016. One thing that has always attracted me with the visuals in the Tales of Arcadia trilogy is the presence of an essentially vibrant color palette, which instantly captures the viewer's attention. And, especially when it comes to children, the more colors that are present onscreen, the better and more attractive the animation will be for them. And that, “Rise of the Titans” has to spare. If you fell in love with the looks from “The Book of Life” (which was produced by Guillermo del Toro), get ready to dive into the vibrant color palette of the Tales of Arcadia.

Every environment created here, whether if it belongs to the real world or the fantastical one, demonstrates a texture that's so realistic and palpable, which wasn't that proeminent five years ago. The characters' movements themselves are way more fluid, the visual effects are used in a very organic way. The design of the titans was really well-done. In terms of aesthetic, they reminded me a lot of the stone giants from “Frozen II”. The different thing (and the interesting part) about them is that each one represents one element from nature. The one that represents fire is an erupting volcano, the representant of ice is a walking iceberg, and the one that's nature itself is a gigantic ecosystem. I thought that was pretty neat! The editing is really accurate and, due to the story's fast pacing, very agile. There's a particular sequence where the editing helps creating a comic relief. To me, that was one of the only scenes in where the film's sense of humor actually worked, and the editing was a crucial aspect for that effectiveness.

And, at last, we have the original score, composed by Jeff Danna and Scott Kirkland (both of them responsible for creating the electronic tracks of “3Below”), who manage to perfectly replicate the epic, fantastic tone of Alexandre Desplat and Tim Davies' work in “Trollhunters”. There's a marking presence of violins and orchestras in the faster-paced, fantastical scenes, reminding me a lot of Howard Shore's work in the scores for the “Lord of the Rings” trilogy. On the other hand, there's a more electronic side to the soundtrack, which is present in the action scenes and sequences involving Aja and Krel, reminding us instantly of their work in “3Below”, and even a little bit of Daft Punk's work in “Tron: Legacy”. I really liked Danna and Kirkland's work here.)



Resumindo, “Caçadores de Trolls: A Ascensão dos Titãs” é um filme bem divertido por si só, contando com cenas de ação ambiciosas, um arco narrativo satisfatório para o seu protagonista e uma proeza técnica praticamente impecável. Porém, como conclusão à trilogia Contos da Arcadia, o filme peca em não capturar o tom mais sombrio e maduro das séries, e não entrega o desenvolvimento que seus numerosos personagens mereciam, resultando num capítulo final que não faz jus à mitologia construída ao longo dos últimos cinco anos.

Nota: 7,5 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “Trollhunters: Rise of the Titans” is a pretty fun film on its own, relying on ambitious action scenes, a satisfying narrative arc for its protagonist and a practically flawless technical prowess. But, as a conclusion to the Tales of Arcadia trilogy, the film stumbles in not capturing the darker, more mature tone of the shows, and it doesn't give its numerous characters the development they deserved, resulting in a final chapter that doesn't do justice to the mythology built throughout the last five years.

I give it a 7,5 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)


domingo, 18 de julho de 2021

Trilogia "Rua do Medo": a melhor obra de terror da Netflix desde "Residência Hill" (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para falar sobre três dos lançamentos mais recentes no catálogo original da Netflix! Sendo uma verdadeira carta de amor para três vertentes bem específicas do gênero do terror, os três filmes em questão não só despertam um sentimento de nostalgia naqueles que já estão familiarizados com as obras homenageadas, mas também podem muito bem servir como porta de entrada para os iniciantes que não conhecem muito do gênero, graças à sua narrativa ambiciosa, envolvente e muito divertida, a qual vai sendo gradualmente construída ao longo dos três longas-metragens. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre a trilogia “Rua do Medo”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to talk about three of the most recent releases in Netflix's original catalog! As a true love letter to three very specific strands in the horror genre, the three films I'm about to review not only manage to make those already familiar with the work being honored here feel nostalgic, but also could very well serve as a doorway for beginners who aren't that close to the genre, thanks to its ambitious, involving, extremely fun narrative, which is gradually built upon throughout the three features. So, without further ado, let's talk about the “Fear Street” trilogy. Let's go!)



Começando em 1994, a trilogia acompanha Deena Johnson (Kiana Madeira), uma adolescente que vive com sua família e amigos na infame cidade de Shadyside, local onde ocorreram várias ondas de assassinatos nos últimos três séculos, ao contrário da bem-aventurada e pacata cidade vizinha de Sunnyvale. Quando uma nova leva de mortes brutais tem como alvo a ex-namorada Sam (Olivia Scott Welch), Deena e seus amigos descobrem que as ondas de assassinatos têm ligação direta com uma maldição que permeia a cidade desde 1666, e que reverberou de maneira impactante em um acampamento de verão em 1978. Dispostos a quebrar a maldição de uma vez por todas, Deena, Sam e companhia enfrentam perigos mortais e sobrenaturais para limpar o nome da notória cidade.

(Starting off in 1994, the trilogy follows Deena Johnson (Kiana Madeira), a teenager who lives with her family and friends in the infamous town of Shadyside, a place where several murder sprees went down in the last three centuries, unlike the fortunate, quiet neighbouring town of Sunnyvale. When a new batch of brutal killings sets its target on ex-girlfriend Sam (Olivia Scott Welch), Deena and her friends find out that the murder sprees are directly connected with a curse that runs through the town since 1666, and that reverberated in an impactful way in a summer camp in 1978. Willing to break the curse for good, Deena, Sam and their friends face deadly, supernatural threats in order to clean their town's notorious reputation.)



Eu estava animado para assistir à trilogia “Rua do Medo” por várias razões. A primeira delas era o fato dos três filmes serem baseados em uma série de livros menos conhecida (e mais adulta) do autor R. L. Stine, famoso por escrever histórias de terror para o público infantojuvenil através da série “Goosebumps”, que ganhou duas adaptações para o cinema em 2015 e 2018. Inclusive, um dos meus primeiros contatos com o gênero do terror, se não for o primeiro, foi um livro de “Goosebumps” intitulado “Acampamento Fantasma”. Consigo lembrar muito bem o efeito que as reviravoltas assustadoras dessa história causaram em mim, no auge dos meus 7 ou 8 anos. Stine conseguiu, com sucesso, causar arrepios na minha espinha, fazendo jus ao título da sua série mais famosa (Goosebumps = arrepios, em inglês).

A segunda razão para as minhas expectativas estarem altas para assistir à trilogia seria a maneira que os filmes foram gravados. Assim como a trilogia “O Senhor dos Anéis” e as sequências da Marvel “Vingadores: Guerra Infinita” e “Ultimato”, os três longas-metragens de “Rua do Medo” foram gravados simultaneamente, como se fossem um único filme, com o mesmo elenco e equipe envolvidos na produção. Assim como os exemplos citados anteriormente, este método de gravação me convenceu de que a trilogia teria um nível de qualidade bem uniforme, pelas sequências não terem sido gravadas muito tempo depois do filme original, e por ter praticamente as mesmas pessoas ocupando os mesmos postos nos três filmes.

E a terceira, e talvez mais importante razão para minhas altas expectativas seria o fato de “Rua do Medo” ser uma homenagem aos subgêneros do slasher e do terror folclórico, duas das minhas vertentes favoritas do abrangente gênero do terror. Filmes como “Pânico”, “Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado”, “Sexta-Feira 13” e “A Bruxa” foram os primeiros que passaram pela minha cabeça ao ver o material promocional da trilogia. E fico muito feliz em dizer que, mesmo que alguns dos filmes (individualmente) possuam mais vantagens sobre outros, a trilogia, como um todo, é a melhor obra de terror original da Netflix desde a espetacular minissérie “A Maldição da Residência Hill”, por ter uma narrativa muito bem construída, atores jovens que realmente são convincentes em seus papéis e aspectos técnicos que abraçam por completo os subgêneros que cada filme pretende homenagear.

Ok, com isso dito, vamos falar do roteiro, e como é uma trilogia, dividirei este bloco em três partes, começando com o primeiro filme, ambientado em 1994. A primeira parte da trilogia tem seu roteiro escrito pela diretora Leigh Janiak e por Phil Graziadei, e já de cara, nos primeiros 5 a 10 minutos de projeção, há uma homenagem muito bem feita e tecnicamente bem construída da icônica cena inicial de “Pânico”. Toda a estética aplicada no primeiro filme da trilogia, da onipresença das luzes em neon, ao início das salas de chat online, à presença de Radiohead e Pixies na trilha sonora, faz um excelente trabalho em recriar a nostálgica época em que o longa é ambientado. Os personagens principais da trama são muito bem apresentados, assim como conceitos iniciais da mitologia que irá se desenvolver ao longo da trilogia, suprindo informações suficientes para capturar a atenção do espectador e convencê-lo à assistir ao restante da história nos dois filmes subsequentes.

Eu gostei bastante da rivalidade visível que existe entre as duas cidades vizinhas de Shadyside e Sunnyvale, que me lembrou dos constantes conflitos entre as duas vizinhanças da série “Riverdale”. Há alguns traços do senso de humor metalinguístico que marcou o clássico homenageado de Wes Craven, o que eu achei bem legal. Mas o que me pegou de surpresa, positivamente, foi o uso da violência explícita nas cenas de ação. Claro, por ser um slasher, eu esperava algumas cenas de violência na primeira parte da trilogia, mas algo mais no nível de “Pânico”, algo mais leve, até condizendo com o público-alvo dos livros que a inspiraram. Para a minha surpresa, há algumas cenas de morte grotescas aqui, algumas até sendo bem criativas.

A única ressalva que eu faço para “Rua do Medo – Parte 1: 1994” é o fato de ser um pouco inchado demais para o primeiro filme de uma trilogia. Óbvio que, para manter o interesse do espectador para assistir aos outros dois filmes, os roteiristas teriam que apresentar algo intrigante e misterioso para prendê-lo à trama e conectá-lo aos personagens. O problema é que, na minha opinião, Janiak e Graziadei apresentaram uma quantidade enorme de conceitos que não receberam a mesma atenção no papel e, portanto, não ficam gravados na mente do espectador. O lado bom é que, a partir disso, a diretora já entra com tudo na segunda parte da trilogia com um gancho espetacular. O lado ruim é que, infelizmente, “Rua do Medo – Parte 1: 1994” não funciona tão bem como um filme isolado, somente como a primeira parte de uma série.

Já o segundo capítulo, ambientado em 1978, escrito por Janiak e Zak Olkewicz, faz tão pouco uso da trama principal da trilogia, que para mim, pode ser considerado como o melhor dos três filmes, por funcionar dentro de uma mitologia estendida, mas também por ser extremamente divertido e envolvente por conta própria. Vários personagens novos, assim como versões jovens daqueles já introduzidos na primeira parte, são apresentados e conseguem conquistar o coração do espectador, seja pelo carisma dos atores que os interpretam, ou toda a história de fundo deles, que é significativamente mais aprofundada do que a dos protagonistas do primeiro filme. Esteticamente, é uma baita homenagem aos filmes de acampamento dos anos 1970 e 1980, em especial “Sexta-Feira 13”. O visual vibrante do acampamento, a violência (ainda mais) explícita das cenas de morte, a presença de algumas cenas de sexo e nudez, a trilha sonora marcada por clássicos de rock como The Runaways e David Bowie. É uma recriação ainda mais criteriosa do que a da primeira parte, e assim como ela, é algo feito de maneira muito fiel, e principalmente, apaixonada, o que é fantástico.

Mas o que torna “Rua do Medo – Parte 2: 1978” ainda mais mágico, além da trama isolada altamente envolvente, é a continuidade compartilhada com os eventos apresentados no primeiro filme e as perguntas que surgem para serem respondidas na conclusão da trilogia. Um aprofundamento significativo na mitologia deste universo e uma certa adição na agressividade da rivalidade entre Shadyside e Sunnyvale colaboram para que esta segunda parte aumente ainda mais as expectativas do público para assistir ao terceiro e último capítulo.

A conclusão da trilogia, ambientada em 1666 e roteirizada por Janiak, Graziadei e Kate Trefry (roteirista de “Stranger Things”), se preocupa, primeiramente, em responder perguntas e amarrar pontas soltas dos dois filmes anteriores, e, felizmente, o filme consegue responder a grande maioria das dúvidas que surgiram na consciência coletiva do público, através de uma história de terror essencialmente atmosférica, enervante e surpreendentemente humana. Quase todos os atores da trilogia retornam em novos e reescalados papéis, e, mesmo que em alguns aspectos, o enredo lembre o da primeira parte, os roteiristas fazem algumas mudanças, especialmente em relação à estética do filme, para distanciar as tramas dos dois capítulos.

Eu gostei bastante de como a equipe técnica conseguiu transitar tão bem entre algo mais mainstream, como os slashers dos anos 1990, para algo quase que exclusivamente cult, como os filmes de terror folclórico. E ainda por cima, fiquei impressionado sobre o quanto este filme em particular, mesmo com o subgênero homenageado tendo uma origem mais cultuada e diálogos em um dialeto mais antiquado, parece algo mais familiarizado com o público em geral dos filmes de terror. Gostei de como o filme puxou um freio quase total na ação e focou mais na atmosfera. As cenas de violência são mais cruas e a trilha sonora instrumental dominada pelo som de violinos adiciona um tom inegavelmente enervante para um filme que já é sufocante por natureza. Há várias reviravoltas nesta terceira parte, que, ao mesmo tempo, aprofundam a mitologia que foi construída nos outros dois filmes e adicionam um caráter humano ao enredo, o que não estava presente nas tramas anteriores.

Mas se você pensou que, acabando a história de Sarah Fier, o filme em si iria acabar, pense de novo: há um epílogo que continua os eventos de 1994, juntando todos os personagens sobreviventes para um confronto final que fecha a trilogia “Rua do Medo” com chave de ouro, mesmo deixando algumas perguntas sem resposta e um final em aberto, que pode despertar a curiosidade do espectador para mais capítulos desta história. A única ressalva que faço para “Rua do Medo – Parte 3: 1666” é que, ao transformarem seus antagonistas em inimigos mais humanos, os roteiristas acabam fazendo da religião cristã uma das principais vilãs da história, e o pior é que eles fazem isso de forma bem rasa, sem um desenvolvimento que realmente justifique este antagonismo.

Tirando isso, o roteiro dos três filmes é construído de maneira bem orgânica, com algumas referências feitas através do uso de um espelhamento entre certas cenas. A continuidade entre a conclusão de um filme e o início de outro é muito fluida e quase imperceptível, de modo que a Netflix poderia tranquilamente montar os três longas-metragens em um superfilme de 5 horas e meia, o qual eu teria vontade de assistir no cinema. Se você é fã de “Pânico”, “Sexta-Feira 13” e “A Bruxa”, a trilogia “Rua do Medo” não só irá suprir suas necessidades de assistir bons filmes de terror, mas também irá te recompensar por ter assistido aos três enredos com uma narrativa conjunta envolvente e nostálgica, e uma mitologia intrigante e gradualmente muito bem construída.

(I was excited to watch the “Fear Street” trilogy for several reasons. The first of them would be the fact the three films are based on a lesser-known (and more mature) book series by author R.L. Stine, who's famous for writing horror stories for younger readers through the “Goosebumps” series, which gained two film adaptations in 2015 and 2018. In fact, one of my first contacts with the horror genre, if not my actual first, was a “Goosebumps” book titled “Ghost Camp”. I'm able to vividly remember the effect that this story's scary twists had on me, when I was around 7 or 8 years old. Stine managed to, successfully, cause goosebumps to run through my spine, making justice to the title of his most famous book series.

The second main reason for my expectations to watch the trilogy to be that high would be the way the films were filmed. Just like the “Lord of the Rings” trilogy and the Marvel sequels “Avengers: Infinity War” and “Endgame”, the three feature-length chapters in the “Fear Street” saga were shot back-to-back, as if it was a single motion picture, with the same cast and crew involved in the production. Like the previously mentioned examples, this filming method had convinced me that the trilogy would have a very uniform level of quality, as the sequels weren't shot that far from the original film, and because it practically has the same people occupying the same roles in all three films.

And the third, and perhaps most important reason for my high expectations is the fact that “Fear Street” is a homage to the slasher and folk horror subgenres, two of my favorite sides in the wide, varied genre of horror. Films like “Scream”, “I Know What You Did Last Summer”, “Friday the 13th” and “The Witch” were the first that passed by my mind when watching the promotional material for the trilogy. And I'm very glad to say that, even though some films (individually) have more advantage over others, the trilogy, as a whole, is the best Netflix original work in the horror genre since the spectacular miniseries “The Haunting of Hill House”, as it has a very well-built narrative, young actors who are actually convincing in their roles and technical aspects that completely embrace the subgenres that each film intends to honor.

Okay, with that said, let's talk about the screenplay, and as it is a trilogy, I'll split this block into three parts, starting off with the first film, set in 1994. The first part in the trilogy has its screenplay written by director Leigh Janiak and Phil Graziadei, and right off the bat, in the first 5 to 10 minutes of film, there's a very well-done and technically well-built recreation of the iconic opening scene from “Scream”. All the aesthetics applied to this first film, from the omnipresence of neon lights, to the start of online chatrooms, to the use of Radiohead and Pixies on the soundtrack, do an excellent job in recreating the nostalgic time in which the film is set. The main characters in the plot are very well introduced, as well as initial concepts of the mythology that'll be developed throughout the trilogy, fulfilling us with enough information to capture our attention and convince us to watch the rest of the story in the two following films.

I really enjoyed the visible rivalry that exists between the two neighboring cities of Shadyside and Sunnyvale, which reminded me of the constant conflicts between the two neighborhoods in the show “Riverdale”. There are some traces of the metalinguistic sense of humor that marked Wes Craven's honored classic, which I found to be really nice. But what, positively, caught me by surprise was the use of explicit violence in the action scenes. Sure, because it is a slasher, I expected some violent scenes in the first part of the trilogy, but I hoped for something like “Scream”, something lighter, to even match with the target audience of the books that inspired it. To my surprise, there are some grotesque death scenes here, some of them are even creative.

The only setback I had regarding “Fear Street – Part One: 1994” is the fact that it's a bit more crowded for the starting film in a trilogy. Sure that, to keep the viewers interested to watch the next two films, the writers would have to present something intriguing and mysterious to keep us hooked and connected to the characters. The problem is that, in my opinion, Janiak and Graziadei introduced an enormous amount of concepts that didn't get the same amount of attention on paper, and therefore, didn't stick on the viewer's mind. The good part is, from that point, the director dives head-on into the second part in the trilogy with a spectacular cliffhanger. The bad part is that, unfortunately, “Fear Street – Part One: 1994” doesn't work well as a standalone film, only as a first part of a trilogy.

Yet the second chapter, set in 1978, written by Janiak and Zak Olkewicz, makes so little use of the trilogy's main plot, that for me, it can be considered as the best of the three, for working inside an extended mythology, but also because it is extremely fun and involving on its own. Several new characters, as well as younger versions of those introduced in the first chapter, are presented to us and they manage to capture the viewer's heart, because of the charisma of the actors who portray them or because of their whole backstory, which is significantly more in-depth than the ones in the first film. Aesthetically, it is one hell of an homage to camp films from the 1970s and 1980s, specially “Friday the 13th”. The vibrant visuals of the camp, the (even more) explicit violence in the death scenes, the presence of a few sex and nudity scenes, the soundtrack marked by rock classics such as the Runaways and David Bowie. It's an even more meticulous recreation than the first part, and just like it, it is something that's done faithfully, but most of all, passionately, which is fantastic.

But what makes “Fear Street – Part 2: 1978” all the more magical, besides the highly involving isolated plot, is the continuity shared with the events presented in the first film and the rising questions to be answered in the trilogy's conclusion. A significant depth in this universe's mythology and a certain adding into the aggressive character in the rivalry between Shadyside and Sunnyvale collaborate for this second part to bring the viewer's expectations to watch the third and final chapter to an even higher level.

The trilogy's conclusion, set in 1666, written by Janiak, Graziadei and Kate Trefry (writer for “Stranger Things”), worries, firstly, in answering questions and tying up loose ends from the two previous movies, and, fortunately, the film manages to put away most of the doubts in the audience's collective consciousness, through an essentially atmospheric, unnerving and surprisingly human horror story. Almost every actor in the trilogy returns in new and recast roles, and, even though in some aspects, the plot reminds us of the first part, the writers make some changes, especially regarding the film's aesthetics, to tell the two films' plots apart.

I really enjoyed how the crew managed to transit so fluidly between something more mainstream, like 1990s slashers, to something's that's almost exclusively cult, which is the folk horror films. And yet, I was impressed on how this particular film, even though its honored subgenre has a more cult-ish origin and dialogues in a more old-fashioned dialect, it seems like something's that's familiar to the audience that's used to watch works of horror. I enjoyed how the film pulled almost all breaks on the action to focus on the atmosphere. The violent scenes are more raw and the original score dominated by the sound of violins adds an undeniably unnerving tone to a film that's already naturally suffocating. There are several plot twists in this third part, which, at the same time, deepen the mythology that was built in the past two films, and add a human character to the plot, something that wasn't there in the previous premises.

But, if you were thinking that, by the time Sarah Fier's story is over, the film itself would come to an end, think again: there's an epilogue that continues the events from 1994, bringing every surviving character together for one final confrontation that brings the “Fear Street” trilogy to an immensely satisfying close, even though it leaves some unanswered questions and an open ending, which can make viewers curious to see more chapters in the story. The only setback I have regarding “Fear Street – Part Three: 1666” is that, by transforming the antagonists into more human threats, the writers end up making the Christian religion one of the story's main villains, and the worst thing is that they do that in a very shallow way, with not enough development to justify this antagonism.

Apart from that, the screenplays for all three films are built in a very organic way, with some references being made by mirroring certain scenes between movies. The continuity between the conclusion of one film and the beginning of another is very fluid and almost imperceptible, in a way that Netflix could easily edit all 3 films into a 5-hour-and-a-half supermovie, which I would like to watch in theaters. If you're a fan of “Scream”, “Friday the 13th” and “The Witch”, the “Fear Street” trilogy not only will fulfill your needs to watch good horror films, as it will also reward you for watching all three plots with an involving, nostalgic combined narrative and an intriguing, gradually well-built mythology.)



A grande maioria do elenco da trilogia “Rua do Medo” é composta de adolescentes e jovens adultos se passando por adolescentes, e, felizmente, diferente de outras obras da Netflix, o elenco da trilogia é realmente convincente interpretando personagens mais jovens. A começar pela Kiana Madeira e pela Olivia Scott Welch, cuja dinâmica é o fio condutor principal da trama da trilogia como um todo. A performance de Madeira em todos os três filmes me lembrou bastante do trabalho da Neve Campbell em “Pânico 2”, e cumpre com todos os pré-requisitos para, ao final da trilogia, se tornar a final girl perfeita. Scott Welch, mesmo que não receba a mesma atenção que Madeira recebeu, consegue capturar a atenção do espectador com a vulnerabilidade que sua personagem demonstra em algumas das melhores cenas da trilogia.

O Benjamin Flores Jr. interpreta o meu personagem favorito de “Rua do Medo”. O ator consegue cumprir com perfeição duas tarefas difíceis simultaneamente, através de seu personagem: ser uma das principais fontes de exposição, ou seja, apresentar os fatos que introduzirão e aprofundarão a mitologia da trilogia; e ser aquele ótimo personagem que, ao mesmo tempo, rouba a cena e realmente evolui ao longo dos filmes. A Julia Rehwald, o Fred Hechinger, a Emily Rudd e a Ryan Simpkins interpretam os melhores personagens coadjuvantes da saga, sendo os respectivos rouba-cenas dos dois primeiros capítulos. Queria muito que eles tivessem tido mais tempo de tela. A performance do McCabe Slye me lembrou, em especial na Parte 3, do trabalho do Robert Pattinson em “O Farol” e “O Diabo de Cada Dia”, com o ator conseguindo replicar, de forma quase perfeita, o caráter enervante destes papéis específicos de Pattinson.

E, por fim, temos os dois adultos do elenco principal, Gillian Jacobs e Ashley Zukerman, que fazem um excelente trabalho, mesmo não recebendo a mesma atenção que o elenco mais jovem. Os personagens de Jacobs e Zukerman, na parte 2, são interpretados em versões adolescentes por Sadie Sink, a Max de “Stranger Things”, fazendo um ótimo trabalho em seu primeiro papel principal fora da série; e Ted Sutherland, que demonstra uma autoridade destemida e quase fria, a qual é replicada por Zukerman na versão adulta de seu personagem.

(The great majority of the cast for the “Fear Street” trilogy is composed by teenagers and young adults who are young enough to pass as teenagers, and, fortunately, unlike other works by Netflix, the trilogy's cast is actually convincing portraying younger characters. Starting off with Kiana Madeira and Olivia Scott Welch, whose dynamic is the plot's main conductive force for the trilogy as a whole. Madeira's performance in all three films reminded me a lot of Neve Campbell's work in “Scream 2”, and ticks all of the boxes for her to, by the end of the trilogy, become the perfect final girl. Scott Welch, even though not receiving the same amount of attention as Madeira, manages to capture the viewer's attention with the vulnerability her character demonstrates in some of the best scenes in the trilogy.

Benjamin Flores Jr. plays my favorite character in “Fear Street”. The actor manages to perfectly fulfill two hard tasks simultaneously, through his character: to be one of the main sources of exposition, meaning, presenting the facts that'll introduce and deepen the trilogy's mythology; and to be that great character that, at the same time, steals the scene and actually evolves throughout the films. Julia Rehwald, Fred Hechinger, Emily Rudd and Ryan Simpkins play the best supporting characters in the saga, being the respective scene-stealers from the first two chapers. I really wish they had had more screentime. McCabe Slye's performance reminded me, especially on Part 3, of Robert Pattinson's work in “The Lighthouse” and “The Devil All the Time”, with the actor managing to replicate, almost perfectly, the unnerving character in these specific roles of Pattinson's.

And, at last, we have the main cast's two adults, Gillian Jacobs and Ashley Zukerman, who do an excellent job, even if they don't receive the same amount of attention as the younger cast. Jacobs and Zukerman's characters, in part 2, are played in teenage versions by Sadie Sink, Max from “Stranger Things”, doing a fantastic job in her first main role outside the show; and Ted Sutherland, who demonstrates a fearless and almost cold authority, which is replicated by Zukerman in the grown-up version of his character.)



Tiro o chapéu para todos aqueles envolvidos na parte técnica desta trilogia, por terem abraçado completamente a estética dos slashers dos anos 1970, 80 e 90 e dos filmes de terror folclórico. A direção de fotografia do Caleb Heymann em todos os três longas-metragens consegue transitar muito bem entre o tom vibrante e eletrônico dos anos 1970 e 1990, respectivamente, e a época mais rústica, propositalmente mais escura e enevoada do século XVII. A montagem da Rachel Goodlett Katz faz tudo certo aqui, unindo os três filmes de maneira bem fluida. O melhor do trabalho de Katz é como ela consegue fazer com que as cenas de violência e morte sejam digeríveis, impactantes e até chocantes, mesmo até aquelas onde nunca vemos a violência em tempo real, para não parecer gratuito demais. Há um ótimo trabalho na edição e mixagem de som aqui, com cada facada, machadada, enforcamento e derramamento de sangue parecendo o mais realista possível, o que é sempre bom.

A direção de arte fez um trabalho estupendo na recriação das épocas que servem de ambientação para a trilogia, o que vai despertar a nostalgia de muita gente. O trabalho feito nas duas primeiras partes me lembrou bastante do design de produção de “Stranger Things”, em especial na terceira, e mais recente, temporada, com uma quase onipresença de luzes em neon e um visual mais vibrante; já a direção de arte da Parte 3, ambientada em 1666, tomou uma clara inspiração no trabalho sombriamente lindo feito em “A Bruxa”, filme de Robert Eggers, com o auxílio de um ambiente sempre enevoado e propositalmente mais visualmente escuro.

A trilha sonora destes filmes é uma das joias mais preciosas da trilogia “Rua do Medo”, tanto a instrumental quanto a compilada. O compositor Marco Beltrami, responsável pelas trilhas sonoras da saga “Pânico”, faz um ótimo trabalho de criação de atmosfera, com o auxílio de Marcus Trumpp, Brandon Roberts e Anna Drubich. As canções escolhidas para embalar as cenas dos dois primeiros filmes são uma verdadeira overdose de nostalgia para quem viveu a época: nos anos 90, temos faixas dos Nine Inch Nails, Pixies, Radiohead, Iron Maiden e Portishead; já nos anos 70, temos hits de The Runaways, David Bowie, Nirvana, Cat Stevens, Neil Diamond e Kansas. Por favor, deem um prêmio para quem selecionou estas trilhas sonoras. E, por fim, há um equilíbrio muito bem feito entre efeitos práticos e CGI, com o último cobrindo as cenas mais “surreais” dos filmes e o primeiro sendo responsável pela execução das cenas mais grotescas.

(I tip my hat towards all the people that were involved in the technical part of this trilogy, as they completely embraced the aesthetics to 1970, 80 and 90s slashers and folk horror films. Caleb Heymann's cinematography in all three films manages to make a swift and fluid transition from the vibrant, electronic tone of the 1970s and 1990s, respectively, to the more rustic, purposefully darker, foggier time in the 17th century. Rachel Goodlett Katz's editing does everything right here, joining all three films in a very fluid way. The best thing about Katz's work is how she manages to make the violent and death scenes to be digestible, impactful and even shocking, even those where we never see the violence in real time, in order to not make it too gratuitous. There's a great work in the sound editing and mixing here, with every knife and axe swing, hanging and bloodshed seeming as realistic as possible, which is always good.

The art direction did a stupendous job in recreating the times in which the trilogy is set in, which will awake many people's nostalgia. The work done in the first two parts reminded me a lot of the production design in “Stranger Things”, especially in its third, and more recent, season, with an almost omnipresence of neon lights and a more vibrant look; yet the art direction in Part 3, set in 1666, has taken a clear inspiration in the darkly beautiful work done in “The Witch”, a film by Robert Eggers, aided by an always foggy and purposefully darker environment.

The soundtrack in these films is one of the most precious jewels in the “Fear Street” trilogy, both the original score and the compiled soundtrack. Composer Marco Beltrami, who's responsible for scoring the “Scream” saga, does a great job of atmosphere-building, being aided by Marcus Trumpp, Brandon Roberts and Anna Drubich. The songs chosen to play during the scenes in the first two films are a true nostalgia overdose for those who actually lived the time set: in the 1990s, we have tracks by the Nine Inch Nails, Pixies, Radiohead, Iron Maiden and Portishead; in the 1970s, we've got hits by The Runaways, David Bowie, Nirvana, Cat Stevens, Neil Diamond and Kansas. Please, give an award to the person who selected these soundtracks. And, lastly, we have a very nice balance between practical effects and CGI, with the latter covering up the films' most “surreal” scenes, and the former being responsible for the execution of the gorier scenes.)



Resumindo, a trilogia “Rua do Medo” é um tremendo passo para a frente para a Netflix, no contexto de construção de franquias. Contando com uma narrativa ambiciosa e fluida; uma mitologia abrangente e intrigante; um elenco jovem extremamente talentoso e realmente convincente; e aspectos técnicos que abraçam por completo a estética dos slashers dos anos 1970, 80 e 90 e do terror folclórico, a trilogia não só é uma viagem de nostalgia para os fãs do gênero, como também oferece um ponto de partida para aqueles que não estão familiarizados com o terror.

Notas: - Rua do Medo – Parte 1: 1994 – 8,5 de 10

    • Rua do Medo – Parte 2: 1978 – 10 de 10

    • Rua do Medo – Parte 3: 1666 – 9,5 de 10

    • Trilogia – 9,0 de 10

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, the “Fear Street” trilogy is a tremendous step forward for Netflix, when trying to build a potential franchise. Relying on an ambitious and fluid narrative; a wide and intriguing mythology; an extremely talented and actually convincing young cast; and technical aspects that completely embrace the aesthetics to slashers from the 70s, 80s and 90s and folk horror, the trilogy not only is a nostalgic trip to genre fans, but also offers a starting point to those who aren't familiar with horror.

Grades: - Fear Street – Part 1: 1994 – 8,5 out of 10

    • Fear Street – Part 2: 1978 – 10 out of 10

    • Fear Street – Part 3: 1666 – 9,5 out of 10

    • Trilogy – 9,0 out of 10

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)