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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para falar sobre a filmografia de um dos diretores mais visionários da história do cinema! Durante a pandemia, tive o enorme prazer de assistir a (quase) todos os filmes desse incrível cineasta, cujas habilidades narrativas e técnicas só foram se aprimorando com o passar do tempo. Tal aprimoramento resulta em verdadeiros clássicos atemporais que se encontram bem à frente de suas respectivas épocas de lançamento, servindo como influência para alguns dos melhores cineastas da atualidade. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre o currículo impecável de Stanley Kubrick. Vamos lá!
(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to talk about the filmography of one of the most visionary directors in cinema history! During the pandemic, I had the enormous pleasure of watching (almost) every film by this amazing filmmaker, whose narrative and technical skills would only improve as time went by. Such an improvement results in truly timeless classics who find themselves way ahead of their respective release times, serving as an influence to some of the best active filmmakers today. So, without further ado, let's talk about the flawless career of Stanley Kubrick. Let's go!)
Stanley Kubrick era um gênio. Não há outra maneira de descrever o homem. Nascido em Nova York em 1928, o cineasta se interessou pela sétima arte ainda jovem e se tornou um verdadeiro autodidata, aprendendo todos os aspectos da produção e direção cinematográfica por conta própria, após terminar o Ensino Médio. Nos anos 1940 e 1950, após trabalhar como fotógrafo, ele começou a fazer curtas-metragens com orçamentos baixíssimos, e a partir daí, conseguiu seu primeiro trabalho em Hollywood com o filme “O Grande Golpe”, de 1956, onde começaremos nossa jornada pela sua fascinante filmografia.
Um declarado perfeccionista, Kubrick assumia o controle da grande maioria dos aspectos do processo cinematográfico, da direção e roteiro à montagem, direção de fotografia e efeitos especiais, resultando em um trabalho completamente autoral. O cineasta se esforçava para alcançar a cena perfeita, às vezes exigindo que uma mesma cena fosse gravada 127 vezes até ficar do jeito que o agradava. Tal atitude frequentemente causava conflitos entre Kubrick e os elencos de seus filmes.
Deixando estes conflitos de lado, o diretor americano sempre encontrava um jeito de inovar em todos os aspectos da produção cinematográfica, iniciando uma verdadeira revolução na maneira de se fazer cinema. Dos efeitos especiais imersivos e cientificamente corretos de “2001: Uma Odisseia no Espaço”, à direção de fotografia à luz de velas em “Barry Lyndon”, à abordagem do terror sem sustos baratos em “O Iluminado”, Kubrick mereceu seu lugar entre os diretores mais renomados da história da sétima arte, e se tornou um dos meus diretores favoritos. Então, com isso dito, vamos começar!
(Stanley Kubrick was a genius. There's just no other way to describe the man. Born in New York City in 1928, the filmmaker took an interest for cinema when he was still young and became a truly self-taught director, learning every aspect of movie production and direction all by himself, after graduating from high school. In the 1940s and 1950s, after working as a photographer, he started making short films with shoestring budgets, and from that point, he managed to get his first gig in Hollywood with the film “The Killing”, released in 1956, where we will start our journey through his fascinating filmography.
A declared perfectionist, Kubrick took control of the great majority of the aspects in the filmmaking process, from directing and writing to editing, cinematography and special effects, resulting in a completely authoral work. The filmmaker made an effort to always reach the perfect scene, sometimes demanding for a specific sequence to be filmed 127 times in a row until it really pleased him. Such an attitude frequently caused conflicts between Kubrick and cast members from his films.
Leaving all these conflicts aside, the American director always found a way to innovate in every aspect in film production, starting off a true revolution in the way people make cinema. From the immersive, scientifically accurate special effects of “2001: A Space Odyssey”, to the candlelit cinematography in “Barry Lyndon”, to the approach of the horror genre without cheap jumpscares in “The Shining”, Kubrick earned his place among the most renowned directors in cinema history, and also became one of my favorite directors of all time. So, with that said, let's begin!)
“O GRANDE GOLPE” (1956) – Disponível no Telecine Play
(“THE KILLING” (1956))
Ok, vamos deixar uma coisa bem clara: este não é um ranking do pior ao melhor filme de Stanley Kubrick. Só por eu ter colocado este filme no último lugar da lista, não quer dizer necessariamente que ele é ruim. Um jeito mais correto de descrever esse ranking seria do filme menos brilhante ao mais brilhante de Kubrick. Porque, querendo ou não, o diretor conseguiu entregar um clássico atemporal para cada gênero que ele trabalhou ao longo de sua carreira.
Aqui, temos um filme de roubo extremamente bem construído, com uma estética noir em preto-e-branco que combina perfeitamente com o tom arriscado e perigoso da história. Como todo bom filme envolvendo roubos, há um número surpreendentemente grande de reviravoltas ao longo do curto tempo de duração de 1 hora e 25 minutos, culminando em um dos melhores finais que eu já vi na minha vida. Se “A Origem”, de Christopher Nolan, não tivesse os sonhos como um aspecto crucial na narrativa, ele teria mais comparações com “O Grande Golpe” do que com a animação japonesa “Paprika”, de Satoshi Kon. Um filme imperdível.
(Okay, let's make something crystal clear: this is not a post that ranks Stanley Kubrick's worst film to his best one. Just because I put this film in the last place on the list, it doesn't necessarily mean that it's bad. A more accurate way to describe this ranking would be from Kubrick's least brilliant to most brilliant film. Because, whether you like it or not, the director managed to deliver a timeless classic for every genre he's worked with throughout his career.
Here, we have an extremely well-built heist film, with a noir, black-and-white aesthetic that perfectly fits the story's risky, dangerous tone. As it happens with every good film involving heists, there's a surprisingly large number of plot twists throughout its short runtime of 1 hour and 25 minutes, culminating in one of the best endings I've ever seen in my life. If Christopher Nolan's “Inception” didn't have dreams as a crucial aspect in its narrative, it would've had more comparisons to “The Killing” than to Satoshi Kon's Japanese animated film “Paprika”. A must-see film.)
“GLÓRIA FEITA DE SANGUE” (1957) – Disponível no Telecine Play
(“PATHS OF GLORY” (1957))
Lançado apenas 1 ano depois de seu primeiro grande filme, “Glória Feita de Sangue” marca 2 aspectos na carreira de Kubrick: é a sua primeira colaboração com Kirk Douglas, ator que, em 1960, iria protagonizar o épico “Spartacus”, também dirigido pelo cineasta; e o filme é uma das 3 obras em que Kubrick abordou o tema da guerra. Assim como “Dr. Fantástico” e “Nascido Para Matar”, “Glória Feita de Sangue” pode ser considerado um filme “anti-guerra”, já que mostra os verdadeiros horrores dos conflitos armados, dentro e fora das linhas de defesa, com o conflito do filme em questão sendo a Primeira Guerra Mundial.
“Glória Feita de Sangue” foi um “1917” feito antes de “1917”, levando em conta os aspectos técnicos. Há uma sequência contínua ambientada dentro das trincheiras que claramente serviu de influência para Sam Mendes e Roger Deakins ao elaborarem o trabalho ambicioso de direção de fotografia de “1917”, que acabou levando o Oscar. Há um uso perfeito de efeitos práticos, com o filme em si sendo descrito como “o filme mais explosivo dos últimos 25 anos”. A história em si não foca no conflito, e sim na estrutura interna do exército da Tríplice Entente e na absoluta covardia dos oficiais britânicos, que desejam liderar uma ofensiva suicida contra a Alemanha e a Tríplice Aliança. É provavelmente o filme de guerra mais profundamente humano que eu já vi na minha vida. Se você ainda não viu “Glória Feita de Sangue”, você não sabe o que está perdendo.
(Released only one year after his first great film, “Paths of Glory” marks two aspects in Kubrick's career: it's his first collaboration with Kirk Douglas, who would, in 1960, star in the epic “Spartacus”, also directed by the filmmaker; and the film is one of the 3 works in which Kubrick dealt with the theme of war. Like “Dr. Strangelove” and “Full Metal Jacket”, “Paths of Glory” could be considered an “anti-war” film, as it displays the true horrors of armed conflict, in and out of the defense lines, with the conflict of this particular film being World War I.
“Paths of Glory” was “1917” made before “1917”, regarding its astounding technical aspects. There's a continuous sequence set inside the trenches which clearly served as an influence to Sam Mendes and Roger Deakins while they elaborated the ambitious cinematography work of “1917”, which eventually won the Oscar. There's a perfect use of practical effects, with the film itself being promoted as “the most explosive motion picture in 25 years”. The story itself doesn't focus on the conflict, but on the internal structure of the Triple Entente army and on the absolute cowardice of British officers, who wish to lead a suicidal offensive against Germany and the Triple Alliance. It's probably the most deeply human war film I've ever seen in my entire life. If you haven't watched “Paths of Glory” yet, you don't know what you're missing on.)
“LOLITA” (1962) – Disponível no HBO Max
(“LOLITA” (1962))
Levando em conta a época de lançamento, “Lolita” provavelmente afugentou a grande maioria dos espectadores pela sua narrativa inerentemente polêmica. Baseado no controverso romance de Vladimir Nabokov, o filme conta a história de um professor de literatura de meia-idade que se encontra obcecado em merecer os afetos de uma garota de 14 anos chamada Lolita. Agora, eu sei o que vocês devem estar pensando: “Por quê esse maluco desse João Pedro colocou 'Lolita' na frente de um dos melhores filmes de guerra de todos os tempos?”.
A resposta é simples: Kubrick pega uma narrativa que é essencialmente doentia e a transforma em uma comédia de humor negro afiadíssima e extremamente ácida. Tudo que há de explícito na história é suavizado, em parte por causa da censura presente na época, mas com o objetivo de deixar tudo implícito para a imaginação do espectador interpretar certas cenas. As performances do James Mason e da Sue Lyon me lembraram bastante da dinâmica entre os personagens do Kevin Spacey e da Mena Suvari em “Beleza Americana”. Por mais estranha que a narrativa possa parecer, é tão interessante que o espectador nem vê o tempo de duração robusto de 2 horas e 32 minutos passar. É bom nesse nível.
(Taking into account its release date, “Lolita” probably scared away the great majority of viewers because of its inherently controversial narrative. Based on Vladimir Nabokov's infamous novel, the film tells the story of a middle-aged literature teacher who finds himself obsessed in earning the affections of a 14-year-old girl named Lolita. Now, I know what you might be thinking: “Why did this crazy person named João Pedro placed 'Lolita' ahead of one of the greatest war films of all time?”.
The answer is simple: Kubrick takes a narrative that is essentially sick and transforms it into a razor-sharp, extremely acid dark comedy. Everything that's explicit in the story is toned down, partly because of the censorship that was present at the time, but with the objective of leaving it all implied for the viewer's imagination to interpret certain scenes. James Mason and Sue Lyon's performances reminded me a lot of the dynamic between Kevin Spacey and Mena Suvari's characters in “American Beauty”. As odd as the narrative may seem, it's such an interesting one, to the point the viewer doesn't see its robust runtime of 2 hours and 32 minutes go by. “Lolita” is that good.)
“2001: UMA ODISSEIA NO ESPAÇO” (1968) – Disponível no HBO Max
(“2001: A SPACE ODYSSEY” (1968))
O revolucionário filme que rendeu ao diretor seu único Oscar (pelos efeitos especiais), “2001” é inovador por vários aspectos. Seja por ter previsto várias tecnologias que se fariam presentes nos dias atuais (como chamadas de vídeo e inteligências artificiais) ou pela inerente complexidade de seu roteiro, que lida com temas interessantes como existencialismo e a possibilidade de vida extraterrestre, o que muitos consideram ser a obra-prima de Stanley Kubrick é uma das provas de que o diretor era MUITO à frente de seu tempo.
A trilha sonora de composições clássicas é absolutamente icônica, a direção de arte continua sendo algo impressionante, ao ponto de você não acreditar que algo como “2001” foi feito há mais de 50 anos. Temos aqui um dos melhores vilões de todos os tempos na inteligência artificial HAL 9000 (responsável pela icônica fala “I'm sorry, Dave. I'm afraid I can't do that.”), e os efeitos especiais, além de terem merecido o Oscar, são cientificamente corretos, o que pode reforçar a teoria de que Kubrick teria falsificado a chegada do homem à Lua em 1969. O final pode ser um pouco bizarro, mas “2001: Uma Odisseia no Espaço” definitivamente é uma viagem fascinante, na qual toda pessoa deve embarcar pelo menos uma vez na vida.
(The revolutionary film that won the director his only Oscar (for special effects), “2001” is innovative on several aspects. Whether it's because it predicted several technologies that would be feasible in the present day (like video calls and artificial intelligences) or by the inherent complexity of its screenplay, which deals with interesting themes such as existencialism and the possibility of extraterrestrial life, what many consider to be Stanley Kubrick's masterpiece is one of many proofs that the filmmaker was WAY ahead of his time.
The soundtrack of classical compositions is absolutely iconic, the production design remains something impressive, to the point you can't believe that something like “2001” was made over 50 years ago. We have here one of the greatest villains of all time in artificial intelligence HAL 9000 (who's responsible for the iconic line “I'm sorry, Dave. I'm afraid I can't do that.”), and its special effects, besides having earned the Oscar, are scientifically accurate, which might reinforce the theory that Kubrick would've faked the Moon landing in 1969. The ending might be a little bizarre, but “2001: A Space Odyssey” is definitely a fascinating trip, which every person must go on at least once in their lives.)
“DE OLHOS BEM FECHADOS” (1999) – Disponível no HBO Max
(“EYES WIDE SHUT” (1999)
O último filme de Stanley Kubrick, “De Olhos Bem Fechados” é superficialmente taxado como “o filme da orgia”. Sim, o filme tem uma orgia como uma das cenas mais memoráveis, assim como inúmeras cenas com nudez explícita, mas isso é somente a ponta do iceberg. A última obra desse cineasta é um estudo fascinante sobre a falta de amor em um relacionamento amoroso, neste caso, um casamento. E, além da abordagem desse tema muito interessante, há uma trama de suspense enervante e altamente atraente que vai lentamente se desenvolvendo ao longo do tempo de duração de 2 horas e 40 minutos.
O Tom Cruise e a Nicole Kidman (que eram casados na época de filmagens, e iriam se separar 2 anos após o lançamento do filme) fazem um excelente trabalho como um casal infeliz com desejos reprimidos, os quais são levados à pontos extremos. A direção de arte com uma paleta de cores azul e a falta de iluminação em algumas cenas conseguem refletir muito bem o tom frio da história. A trilha sonora, composta por Jocelyn Pook, bebe da mesma fonte da Wendy Carlos em “O Iluminado”, e acentua o teor enervante da narrativa. Kubrick faz um espetacular trabalho em fazer com que cada cena seja, ao mesmo tempo, atraente e repulsiva para o espectador, misturando doses idênticas de suspense e erotismo. Um tremendo último filme para um tremendo cineasta.
(The final film by Stanley Kubrick, “Eyes Wide Shut” is superficially taxed as “the orgy film”. Yes, the film does have an orgy as one of its most memorable scenes, as well as numerous scenes with explicit nudity, but that is just the tip of the iceberg. The last work by this filmmaker is a fascinating study about the lack of love in an amorous relationship, in this case, a marriage. And, besides the approach to this very interesting theme, there's an unnerving, highly attractive suspense plot which slowly builds itself throughout its runtime of 2 hours and 40 minutes.
Tom Cruise and Nicole Kidman (who were married at the time of filming, and would be separated two years after the film's release) do an excellent job as an unhappy couple with repressed desires, which are taken to extreme points. The art direction with a blue color palette and the lack of lighting in a few scenes manage to wonderfully reflect the story's cold tone. The original score, composed by Jocelyn Pook, learns from Wendy Carlos's work in “The Shining”, and heightens the narrative's unnerving tone. Kubrick does a spectacular job in making each scene, at the same time, arousing and repulsive for the viewer, mixing identical doses of suspense and erotism. A tremendous final film for a tremendous filmmaker.)
“SPARTACUS” (1960) – Disponível no Telecine Play
(“SPARTACUS” (1960)
Com 3 horas e 17 minutos de duração, “Spartacus” é o filme mais longo da carreira de Stanley Kubrick, e o primeiro de seus épicos. Felizmente, graças à performance arrebatadora de Kirk Douglas no papel principal, à narrativa elaborada pelo renomado roteirista Dalton Trumbo, e à direção de arte absolutamente impecável, o filme consegue manter a atenção do espectador do início ao fim. É um filme grandioso, trágico, e extremamente divertido que foi responsável por revitalizar o interesse por filmes de gladiadores, chamados de “espadas e sandálias” nos EUA.
Sendo o primeiro filme colorido de Kubrick, é bem interessante ver como o diretor consegue utilizar esse novo artifício ao seu favor. É um filme relativamente leve. Se não fossem por algumas cenas de violência, ele poderia ser facilmente um ponto de partida para que espectadores mais jovens fossem introduzidos ao trabalho de Kubrick. As cenas de luta entre os gladiadores são de tirar o fôlego. São sequências inegavelmente tensas, que nos fazem torcer para que nada de ruim aconteça com o nosso herói. E o final é extremamente cativante, concluindo o arco narrativo do protagonista com perfeição. Não percam este clássico.
(Clocking in at 3 hours and 17 minutes, “Spartacus” is the longest film in Stanley Kubrick's career, and the first one of his epics. Fortunately, thanks to Kirk Douglas's riveting performance in the main role, to the narrative elaborated by acclaimed screenwriter Dalton Trumbo, and to the absolutely flawless work in the production design, the film manages to maintain the viewer's attention from start to finish. It's a grand, tragic and extremely entertaining film that was responsible for revitalizing the interest for gladiator films, dubbed as “swords and sandals” films.
As Kubrick's first film made in color, it's very interesting to see how the director manages to use this new artifice to his favor. It's a relatively light film. If it weren't for a few fairly violent scenes, it could've easily been a starting point for younger viewers to be introduced to Kubrick's work. The fight scenes between the gladiators are breathtaking. They are undeniably tense sequences, which make us hope that nothing bad happens to our hero. And the ending is extremely captivating, closing its protagonist's narrative arc with perfection. Don't sleep on this classic.)
“NASCIDO PARA MATAR” (1987) – Disponível no Telecine Play
(“FULL METAL JACKET” (1987))
Chegando no top 5, temos o último filme de guerra feito por Stanley Kubrick, desta vez abordando a Guerra do Vietnã. Dividido em duas partes, o filme aborda de forma brilhante o abuso físico e psicológico sofrido pelos Fuzileiros Navais dos EUA, especialmente através da dinâmica entre o sarcástico e icônico sargento eternizado por R. Lee Ermey e o personagem interpretado por um jovem Vincent D'Onofrio (o Rei do Crime da série “Demolidor”), cujo desenvolvimento culmina em uma das cenas mais assustadoras que não pertencem à um filme de terror.
Na segunda metade do filme, acompanhamos o personagem do Matthew Modine (o Dr. Brenner de “Stranger Things”) enquanto ele trabalha como correspondente do jornal do Exército dos EUA no Vietnã. Há algumas cenas de ação impecáveis nessa porção do filme, que rivalizam aquelas aperfeiçoadas por “O Resgate do Soldado Ryan”, e o desenvolvimento da dinâmica entre os soldados resulta em uma das cenas mais trágicas e possivelmente traumatizantes em um filme de Stanley Kubrick. Mais uma obra imperdível.
(Onto our top 5, we have the last war film made by Stanley Kubrick, this time approaching the Vietnam War. Divided into two parts, the film brilliantly deals with the physical and psychological abuse suffered by the US Marine Corps, especially through the dynamics between the sarcastic and iconic drill sergeant played by R. Lee Ermey and the character played by a young Vincent D'Onofrio (Kingpin from the show “Daredevil”), whose development culminates in one of the scariest scenes in a non-horror film.
In the film's second half, we follow Matthew Modine's (Dr. Brenner from “Stranger Things”) character while working as a correspondent for the US Army newspaper in Vietnam. There are some flawless action scenes in this part of the film, which rival those perfected in “Saving Private Ryan”, and the development of the dynamics between the soldiers results in one of the most tragic and possibly traumatizing scenes in a Stanley Kubrick film. Yet another piece of work of his that you can't miss.)
“DR. FANTÁSTICO, OU: COMO EU APRENDI A PARAR DE ME PREOCUPAR E AMAR A BOMBA” (1964) – Disponível para compra no YouTube
(“DR. STRANGELOVE, OR: HOW I LEARNED TO STOP WORRYING AND LOVE THE BOMB” (1964))
O filme mais engraçado de Stanley Kubrick, “Dr. Fantástico” é uma sátira afiadíssima de humor negro ambientada no auge da Guerra Fria, onde um conflito nuclear entre os EUA e a União Soviética nunca deixou de ser uma possibilidade. O filme conta a história de um general americano paranoico que ordena bombardeiros a atacarem a URSS com ogivas nucleares. Com isso, o Presidente dos EUA organiza uma reunião no Pentágono, que conta com a presença de um embaixador soviético e um médico ex-nazista, resultando em conflitos devido às ideologias contrastantes do grupo.
Kubrick faz um ótimo uso da direção de fotografia em preto-e-branco, especialmente nas cenas mais visualmente escuras. Ele consegue reter muito bem o tom noir que marcou “O Grande Golpe”. O roteiro de Kubrick, Terry Southern e Peter George é absolutamente hilário, contando com cenas icônicas, que incluem um oficial do exército cavalgando uma ogiva nuclear (não, você não leu errado), várias discussões sobre como a URSS deseja contaminar os “fluidos corporais” dos americanos, e falas que, graças à esperteza do cineasta, são mais sarcásticas do que bobas (“Senhor, você não pode deixá-lo entrar aqui. Ele vai ver o painel enorme!” e “Senhores, vocês não podem brigar aqui. Esta é a Sala de Guerra!”). O ator Peter Sellers assume três papéis diferentes no filme, cada um melhor do que o outro, mas o destaque fica para o personagem-título, um médico cadeirante que constantemente se refugia nos seus costumes como ex-oficial do Partido Nazista. “Mein Führer, eu consigo andar!”
(Stanley Kubrick's funniest film, “Dr. Strangelove” is a razor-sharp dark comedy satire set during the peak of the Cold War, where a nuclear conflict between the US and the Soviet Union was always a possibility. The film tells the story of a paranoid American general who orders B-52 bombers to attack the USSR with nuclear warheads. Because of that, the President of the United States organizes a meeting in the Pentagon, which relies on the presence of a Soviet ambassador and a former Nazi doctor, resulting in conflicts due to the group's contrasting ideologies.
Kubrick makes a great use of the black-and-white cinematography, especially in the visually darker scenes. He manages to retain really well that noir tone that made “The Killing” a hit. The screenplay penned by Kubrick, Terry Southern and Peter George is absolutely hilarious, relying on iconic scenes, which include an Army officer riding a nuclear warhead (no, you didn't read that wrong), several discussions on how the USSR wishes to contaminate the Americans' “bodily fluids”, and lines that, thanks to the filmmaker's cleverness, are more sarcastic than silly (“Sir, you can't let him in here. He's going to see the big board!” and “Gentlemen, you can't fight here. This is the War Room!”). Actor Peter Sellers takes on three different roles in the film, each one better than the last, but the highlight stays with the title character, a handicapped doctor who constantly takes refuge in his customs as a former officer of the Nazi Party. “Mein Führer, I can walk!”)
“O ILUMINADO” (1980) – Disponível no HBO Max
(“THE SHINING” (1980))
Adorado pelos fãs do diretor, mas odiado pelos fãs e pelo autor do livro que o inspirou, “O Iluminado” encontra Stanley Kubrick em sua melhor forma. Ancorado por uma performance inesquecível de Jack Nicholson, o diretor consegue fazer aqui o que filmes como “A Bruxa”, “Hereditário” e “Midsommar” só iriam fazer 40 anos depois. Ele consegue criar uma história de terror sem o uso de sustos baratos, conhecidos como jumpscares. O verdadeiro terror do filme vem de cenas que causam arrepios em toda parte do seu corpo, que conseguem penetrar até a fonte do horror: o trauma.
Já tendo feito “2001”, “Laranja Mecânica” e “Barry Lyndon” até aqui, Kubrick pega o que aprendeu na produção destes filmes e aplica em um dos trabalhos de direção de arte mais impecáveis que eu já vi na minha vida. Não sei porque, mas o fato da grande maioria das cenas estar em perfeita simetria só torna tudo ainda mais enervante e assustador. “O Iluminado” é uma verdadeira amálgama de cenas icônicas (“Here's Johnny!”, a cena do elevador e a infame cena da escada que foi filmada 127 vezes até ficar perfeita), e é facilmente o filme mais acessível do diretor. Se você se considera fã de filmes de terror, este clássico de 1980 é obrigatório.
Você pode ler minha resenha completa aqui: https://nocinemacomjoaopedro.blogspot.com/2019/10/o-iluminado-uma-obra-relevante.html
(Beloved by the director's fans, but hated by the fans and the author of the book that inspired it, “The Shining” finds Stanley Kubrick in his finest form. Anchored by an unforgettable performance by Jack Nicholson, the director manages to do here what films like “The Witch”, “Hereditary” and “Midsommar” would only accomplish 40 years later. He manages to create a horror story without the use of cheap scares, known as jumpscares. The real horror of the movie comes from scenes that give chills all over your body, that manage to penetrate into the very source of terror: trauma.
With “2001”, “A Clockwork Orange” and “Barry Lyndon” already made and released to this point, Kubrick takes everything he's learned while making those films and applies it in one of the most flawless works in production design I've ever seen in my entire life. I don't know why, but the fact that the great majority of scenes is in perfect symmetry only makes everything even more unnerving and frightening. “The Shining” is a true collection of iconic scenes (“Here's Johnny!”, the elevator scene and the infamous staircase scene which was filmed 127 times until it was perfect), and it is easily the director's most accessible film. If you consider yourself to be a horror movie fan, this 1980 classic is mandatory viewing.
You can read my full review on it here: https://nocinemacomjoaopedro.blogspot.com/2019/10/o-iluminado-uma-obra-relevante.html)
“LARANJA MECÂNICA” (1971) – Disponível no HBO Max
(“A CLOCKWORK ORANGE” (1971))
Eu assisti a esse controverso clássico bem recentemente (inclusive, fiz uma resenha completa dele, a qual você pode ler aqui: https://nocinemacomjoaopedro.blogspot.com/2021/06/sessao-retrospectiva-laranja-mecanica.html), então ele está bem fresco na minha memória. “Laranja Mecânica” é um filme genial. Difícil de ver? Às vezes. Mas o estudo de personagem do delinquente Alex DeLarge, eternizado pelo Malcolm McDowell, é absolutamente fascinante. Parafraseando minha resenha, amei como Kubrick primeiro nos faz odiar o personagem pelos atos horrendos que ele comete, para depois nos fazer ter simpatia por ele através destes mesmos atos.
A direção de arte, assim como em “2001” e “O Iluminado”, é implacavelmente impecável. A distopia visual que Kubrick cria não se distancia tanto assim da realidade, colaborando para que o filme tenha (e mantenha) um caráter atemporal, o que é fantástico, para um filme que foi feito há 50 anos. A distopia narrativa, assim como a visual, também consegue ter relevância em qualquer época, devido à abordagem de temas onipresentes como livre-arbítrio, rebeldia contra autoridade e o abuso psicológico que pessoas podem sofrer pelas mãos de um governo. Aconteça o que acontecer, não percam esse clássico!
(I had watched this controversial classic quite recently (in fact, I wrote a full review on it, which you can read here: https://nocinemacomjoaopedro.blogspot.com/2021/06/sessao-retrospectiva-laranja-mecanica.html), so it's pretty fresh in my memory. “A Clockwork Orange” is a genius film. Tough to watch? Sometimes. But the character study of delinquent Alex DeLarge, brilliantly portrayed by Malcolm McDowell, is absolutely fascinating. To quote my own review, I loved how Kubrick first makes us hate the character for the horrendous acts he commits, to then make us have sympathy towards him through those same acts.
The production design, just like in “2001” and “The Shining”, is relentlessly flawless. The visual dystopia that Kubrick creates here isn't that far away from reality, collaborating for the film to have (and maintain) a timeless character, which is freaking fantastic, for a film that was made 50 years ago. The narrative dystopia, like the visual one, also manages to have its relevance in any time in history, due to its approach of omnipresent themes such as free will, rebelling against a higher authority and the psychological abuse that people could suffer from the hands of a government. No matter what, don't sleep on this classic!)
“BARRY LYNDON” (1975) – Disponível no HBO Max
(“BARRY LYNDON” (1975))
Esse filme... Ah, esse filme... Quatro anos após lançar “Laranja Mecânica”, em 1975, a Warner Bros. lançava a obra mais recente de Stanley Kubrick, baseada no romance seriado de William Makepeace Thackeray. Assim como todos os filmes nessa lista, “Barry Lyndon” é uma obra-prima, e talvez o filme mais subestimado de Kubrick, perdendo o holofote para “2001”, “Laranja Mecânica” e “O Iluminado”. O enredo é ambientado no século XVIII, e acompanha um jovem irlandês que, ao desertar do exército inglês, se torna um oportunista e se concentra em casar com uma viúva rica para ascender na sociedade e obter uma posição aristocrática. Este filme tem literalmente TUDO que caracteriza uma boa história: amor, ódio, aventura, romance, traição, drama, tragédia, e até uma pitadinha de comédia.
Visualmente, então, é como se você estivesse vendo uma pintura em movimento. A direção de fotografia vencedora do Oscar de “Barry Lyndon” foi revolucionária para a época, com Kubrick e o diretor de fotografia John Alcott utilizando lentes especiais que permitiriam que todas as cenas fossem filmadas com apenas luz natural, e várias cenas somente à luz de velas. A direção de arte (que também venceu o Oscar) é provavelmente a mais vistosa que eu já vi em uma obra de época. Figurinos luxuosos, um trabalho estupendo de maquiagem e os cenários... É cada castelo mais lindo que o outro! “Barry Lyndon” literalmente é a definição da expressão estética “A cada quadro, uma pintura”, que se popularizou bastante entre os fãs da sétima arte na atualidade. E o filme todo é conduzido pela performance maravilhosa do Ryan O'Neal como o personagem-título, com o arco narrativo dele evoluindo de forma bem orgânica. Então, se você é fã de uma boa história, ou fã do trabalho do diretor (ou os dois), não perca essa joia escondida no verdadeiro baú de tesouros que é a filmografia de Stanley Kubrick!
(This film... Ah, this film... Four years after releasing “A Clockwork Orange”, in 1975, Warner Bros. released Stanley Kubrick's latest work, based on William Makepeace Thackeray's serial novel. Just like every single film in this list, “Barry Lyndon” is a masterpiece, and perhaps Kubrick's most underrated film, losing the spotlight to the likes of “2001”, “A Clockwork Orange” and “The Shining”. The plot is set in the 18th century, and follows a young Irish man who, by deserting the English army, becomes an opportunist and focuses on marrying a rich widow to climb up the social ladder and obtain an aristocractic position. This film has literally EVERYTHING that defines a good story: love, hatred, adventure, romance, betrayal, drama, tragedy, and even a small pinch of comedy.
Visually, then, it is like you're watching a painting in motion. The Oscar-winning cinematography of “Barry Lyndon” was revolutionary for its time, with Kubrick and cinematographer John Alcott using special lenses which would allow all scenes to be filmed using only natural light, and several scenes under candlelight. The art direction (which also won an Oscar) is probably the most stunning one I've ever seen on a period film. Luxurious costumes, a stupendous work in makeup and hairstyling, and the sets... Each castle is more beautiful than the previous one! “Barry Lyndon” is the literal definition of the aesthetic expression “Every frame, a painting”, which became very popular with movie fans in today's times. And the whole film is led by Ryan O'Neal's wonderful performance as the title character, with his narrative arc evolving in a very organic way. So, if you're a fan of a good story, or of the director's work (or both), don't miss on this hidden gem in the real treasure chest that is Stanley Kubrick's filmography!)
É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,
João Pedro
(That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,
João Pedro)