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quarta-feira, 25 de novembro de 2020

"Era uma Vez um Sonho": um elenco competente limitado por um roteiro repetitivo (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para falar sobre um dos lançamentos mais recentes no catálogo original da Netflix. Baseado em uma história real, e inicialmente previsto como um dos principais concorrentes na temporada de premiações do ano que vem, o filme em questão coloca um elenco extremamente competente para trabalhar com um roteiro limitado, cíclico, e repetitivo. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Era uma Vez um Sonho”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to talk about one of the most recent releases in Netflix's original programming catalog. Based on a true story, and initally predicted as one of the main contenders at next year's award season, the film I'm about to analyze puts an extremely competent ensemble cast to work with a limited, cyclical and repetitive screenplay. So, without further ado, let's talk about “Hillbilly Elegy”. Let's go!)



O filme conta a história real de J.D. Vance (interpretado por Gabriel Basso como adulto, e por Owen Asztalos como criança), um estudante de Direito na Universidade de Yale que, devido à uma emergência familiar, é forçado a enfrentar os demônios de seu passado, marcado pelas relações conturbadas com a mãe (Amy Adams) e a avó (Glenn Close) em uma cidadezinha no Kentucky, e lidar com as consequências da história turbulenta de sua família no presente.

(The film tells the true story of J.D. Vance (portrayed by Gabriel Basso as an adult, and by Owen Asztalos as a child), a Law student at Yale University who, due to a family emergency, is forced to face the demons of his past, marked by his troubled relationships with his mother (Amy Adams) and his grandmother (Glenn Close) in a small town in Kentucky, and to deal with the consequences of his family's troubled history in the present.)


Devo dizer que minhas expectativas para o novo filme de Ron Howard não estavam tão altas assim. Primeiramente, porque o diretor não tem tido uma série de sucessos recentemente igual ele teve no passado (enquanto ele já ganhou 2 Oscars por “Uma Mente Brilhante” e dirigiu “Apollo 13” e “O Grinch”, ele também foi responsável por dirigir todos os filmes baseados no personagem Robert Langdon, criado por Dan Brown, os quais não foram bem recebidos pela crítica). Eu acho essa decaída na qualidade do trabalho de um diretor realmente lamentável, assim como sinto pena do Robert Zemeckis, que nos deu clássicos como a trilogia “De Volta para o Futuro”, “Uma Cilada para Roger Rabbit” e “Forrest Gump” no passado, e mais recentemente, dirigiu os medianos “Bem-vindos à Marwen” e o remake de “Convenção das Bruxas”. Segundo, estaria mentindo se dissesse que as críticas extremamente negativas em torno de “Era uma Vez um Sonho” não afetaram as minhas expectativas. Mas mantive a cabeça erguida ao assistir o filme, na esperança de que fosse como “Os Novos Mutantes” (na perspectiva dos críticos odiarem, e o público gostar bem mais). E foi, em parte. Com isso dito, vamos falar sobre o roteiro. Baseado no livro de mesmo nome escrito por J.D. Vance, o roteiro adaptado é assinado pela Vanessa Taylor, que tem em seu currículo créditos como co-roteirista do vencedor de Oscar de Melhor Filme “A Forma da Água” e como roteirista de 3 episódios de “Game of Thrones”. Começando com os pontos positivos, Taylor faz um bom controle entre as duas linhas temporais que servem de ambientação para o filme. As transições são bem orgânicas e não parecem estar fora do lugar, no ponto de vista do espectador. Às vezes, alguns flashbacks ajudam a dar mais profundidade para o que está acontecendo no presente, o que é bom, nos ajudando a ter uma melhor compreensão do lado psicológico dos personagens e a criar empatia com eles. Há alguns momentos que espelham o que está acontecendo no presente com algum evento parecido no passado, o que também é bom. E a história lida com temas pesados como vício, abuso, perda e traumas de uma maneira bem rasa e diluída, o que é tanto um ponto forte quanto um ponto fraco na minha perspectiva: forte, porque a roteirista consegue trabalhar esses temas com sucesso no roteiro, e em um ano como 2020, é até melhor que esses temas não fossem explorados de uma forma mais explícita; mas acaba sendo fraco pela oportunidade perdida de ter ido mais além do que o papel propunha. E o resultado é uma história apenas decente, que lida com temas pesados de forma rasa para entregar uma mensagem superficial sobre redenção. Agora, vamos à temida parte dos pontos negativos. Eu sinceramente achei o filme muito repetitivo, pareceu que o desenvolvimento dos personagens era cíclico, como se eles só tivessem dois estados de espírito: em um momento, eles são dóceis; em outro, eles são revoltados, e isso apareceu como um grande obstáculo para que eu pudesse ter empatia com eles, mesmo com a presença dos flashbacks. Há personagens bem desenvolvidos no enredo, em especial as da Amy Adams e da Glenn Close, que fazem o melhor que elas podem aqui, mas também há personagens muito mal aproveitadas, como as da Haley Bennett e da Freida Pinto, e isso é bem frustrante. E o maior problema é que o roteiro limita os estados emocionais dos personagens, impedindo que eles possam ter um desenvolvimento emocional com mais nuance. Esse filme tinha literalmente tudo para ser um dos principais concorrentes da Netflix ao Oscar no ano que vem, mas, infelizmente, acho que esse não vai ser o caso.

(I must say that my expectations for Ron Howard's new film weren't that high. Firstly, because he hasn't delivered a streak of good films recently, just like in the past (while he already won 2 Oscars for “A Beautiful Mind” and directed “Apollo 13” and “How the Grinch Stole Christmas”, he was also responsible for directing every film based on Dan Brown's Robert Langdon character, all of which were not well-received by critics). I find this decay on a filmmaker's work quality to be really sad, as I also feel pity for Robert Zemeckis, who gave us classics like the “Back to the Future” trilogy, “Who Framed Roger Rabbit” and “Forrest Gump” in the past, and more recently, helmed the mixed bags “Welcome to Marwen” and a remake of “The Witches”. Secondly, I'd be lying if I said that the extremely negative criticism directed towards “Hillbilly Elegy” didn't affect my expectations for it. But I held my head up high when watching it, hoping it would be like “The New Mutants” (in the perspective that critics hated it, and the audience enjoyed it way more). And it was, partially. With that said, let's talk about the screenplay. Based on the book of the same name written by J.D. Vance, the adapted screenplay is written by Vanessa Taylor, who has in her resumé credits as a co-writer in the Best Picture winner “The Shape of Water” and as a writer for 3 episodes of “Game of Thrones”. Starting off with the positive points, Taylor has a nice control over the two timelines that serve as the film's setting. The transitions are really organic and don't seem out of place, in the viewer's point of view. Sometimes, some flashbacks help in giving more depth to something that's happening in the present, which is good, helping us to understand a little bit more of these characters' psychological side and to create empathy for them. There are some moments that mirror something happening in the present with something similar that happened in the past, which is also good. And the story deals with heavy-hitting themes such as addiction, abuse, loss and traumas in a really shallow and diluted way, which can be both a strong and a weak point, in my perspective: strong, because the screenwriter manages to successfully work with these themes in the screenplay, and in a year like 2020, it's even for the best that they don't get dealt with in a more explicit way; but it ends up being a weak choice for its missed opportunity to go beyond what was proposed in paper. And the result is an only decent story, which deals with hard-hitting themes in a shallow way to deliver a superficial message about redemption. Now, let's move onto the feared part of the negative points. I honestly thought the film was too repetitive, it seemed like the character development was pretty cyclical, like they only had two emotional states: in one moment, they're sweet; in the other, they're revolted, and that came as a huge obstacle for me to reach towards some empathy for them, even through the flashbacks. There are well-developed characters in the plot, especially the ones portrayed by Amy Adams and Glenn Close, who do their best with what they've got here, but there were also some very underused characters, like the ones portrayed by Haley Bennett and Freida Pinto, which is really frustrating. And the biggest problem is the script puts a limit to the characters' emotional state, stopping them from having a more nuanced emotional development. This film had literally everything to be one of Netflix's main contenders to the Oscars next year, but unfortunately, I don't know if that'll be the case.)



Agora, vamos à melhor parte do filme: o elenco. Pode-se dizer com certeza que o maior apelo que a Netflix fez para promover “Era uma Vez um Sonho” foi a presença da Amy Adams e da Glenn Close, as quais, como dito anteriormente, fazem o melhor com o que lhes é oferecido no roteiro. Eu gostei bastante do desempenho da Amy Adams. Ela interpreta uma personagem emocionalmente vazia, violenta, problemática, e ela consegue transmitir as angústias dentro dela muito bem. Ela já entregou performances com mais nuances no passado, mas não acho que ela será receberá sua sétima indicação ao tão desejado Oscar dessa vez, apesar de ser uma boa atuação. Porém, o verdadeiro holofote aqui brilha sobre a Glenn Close, que interpreta a única personagem que vai além dos dois estados de espírito citados no parágrafo acima, sendo amorosa, cuidadosa, e ao mesmo tempo, disciplinadora e justa para com o personagem do Owen Asztalos. Se eu fosse arriscar indicar esse filme pra uma categoria no Oscar, indicaria Close para o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante. As cenas onde Adams e Close estão em tela juntas são algumas das melhores do filme. A química entre as duas, as atrizes mais experientes do elenco, é evidente e, ao mesmo tempo, explosiva. Mas o verdadeiro protagonista do filme é o Gabriel Basso, que é interpretado nos flashbacks pelo Owen Asztalos. Basso faz um bom trabalho aqui, apesar de não ter nenhum momento para realmente brilhar, igual em sua performance honesta em “Os Reis do Verão”. E o Owen Asztalos se redime daquele desastre que foi o quarto filme da série “Diário de um Banana” como um ótimo complemento psicológico e emocional para o personagem de Basso, possuindo uma ótima química com tanto Amy Adams quanto Glenn Close. Infelizmente, o mesmo não pode ser dito sobre a Freida Pinto e a Haley Bennett, cujo potencial é quase que completamente desperdiçado pelo mínimo número de cenas oferecidas a cada uma, o que eu acho realmente lamentável.

(Now, let's move onto the best part of the film: its cast. It can be certainly said that the biggest appeal that Netflix did to promote “Hillbilly Elegy” was the presence of Amy Adams and Glenn Close, who, as previously said, do their best with what the script offers them. I really liked Amy Adams's performance. She plays an emotionally drained, violent and troubled character, and she's able to transmit the anguish inside her really well. She's already delivered more nuanced performances in the past, but I don't think she'll get her seventh nomination for her desired Oscar this time, although she does a pretty good job. But the true spotlight here shines upon Glenn Close, who plays the only character who goes beyond the two emotional states mentioned in the paragraph above, being loving, careful, and at the same time, disciplinatory and fair with Owen Asztalos's character. If I were to risk nominating this film for any category in the Oscars, I'd nominate Close for Best Supporting Actress. The scenes in where Adams and Close are together onscreen are some of the film's best. The chemistry between the two, the most experienced actors in the cast, is evident and, at the same time, explosive. But the film's actual main character is Gabriel Basso, who is portrayed in the flashbacks by Owen Asztalos. Basso does a really good job here, although he doesn't have a moment to really shine, as he did in his honest performance in “The Kings of Summer”. And Owen Asztalos redeems himself from that disaster known as the fourth film in the “Diary of a Wimpy Kid” series as a great psychological and emotional complement to Basso's character, sharing some great chemistry with both Amy Adams and Glenn Close. Unfortunately, the same can't be said about Freida Pinto and Haley Bennett, as their potential is almost completely wasted by the small number of scenes offered to each actress, which is just regrettable.)



Os aspectos técnicos são bem aproveitados aqui. A fotografia da Maryse Alberti não aposta em algo grandioso, mas compensa pelo íntimo, pelo lado pessoal que o seu trabalho tenta refletir, o que é muito bom. A montagem do James D. Wilcox foi muito bem executada, especialmente nas partes de transição entre as duas linhas temporais do roteiro, as quais são previsíveis, porém eficientes. Gostei bastante do fato dele não ter prolongado as cenas mais pesadas, o que, num ano como esse, é um ponto superpositivo. A montagem também ajudou o filme a não ficar arrastado, resultando em um tempo de duração aceitável de 1h55min. Gostei muito do tom natural e cru que a direção de arte deu ao filme. Há muita natureza, muita iluminação natural, o que acabou por dar uma certa humanidade à narrativa. Há um excelente trabalho de maquiagem aqui, especialmente nas personagens de Adams e Close, que, graças aos profissionais responsáveis, ficaram extremamente parecidas com as pessoas reais que elas interpretam. E você literalmente não erra no departamento musical se tiver Hans Zimmer na trilha sonora instrumental.

(The technical aspects are put to good use here. Maryse Alberti's cinematography doesn't bet on being great, but it compensates for the intimate and personal side that her work tries to reflect, which is really good. James D. Wilcox's editing was really well-executed, especially in the transition parts between the screenplay's two timelines, which are predictable, yet efficient. I really appreciated how he didn't make the more heavy-hitting scenes longer, which, in a year like this one, is one hell of a positive point. The editing also helped the film not to drag itself on, resulting in an acceptable running time of 1 hour and 55 minutes. I really liked the natural, raw tone that the art direction gave to the film. There's a lot of nature, a lot of natural lighting, which ended up giving the narrative a certain humanity. There's an excellent work in makeup here, especially on Adams's and Close's characters, who, thanks to the professionals responsible, turned out to look extremely similar to the real-life people they were playing. And you literally can't go wrong in the musical department if you've got Hans Zimmer composing the score.)



Resumindo, “Era uma Vez um Sonho” não é um desastre total, mas também não é perfeito. Orientado por um roteiro limitado, repetitivo e cíclico, o novo longa dirigido por Ron Howard encontra sua redenção em um elenco extremamente competente e aspectos técnicos muito bem aproveitados, com destaque para as performances de Amy Adams e Glenn Close e o extraordinário trabalho de maquiagem.

Nota: 8,0 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “Hillbilly Elegy” isn't a total disaster, but it isn't perfect either. Guided by a limited, repetitive and cyclical screenplay, Ron Howard's new feature-length film finds its redemption in an extremely competent cast and a great use of its technical aspects, with special highlights to the performances by Amy Adams and Glenn Close and the extraordinary makeup work.

I give it an 8,0 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)


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