Translate

sábado, 28 de novembro de 2020

"Cidadão Kane": um clássico atemporal e inovador na história do cinema (Bilíngue)

 E não se esqueçam de curtir e seguir o blog nas redes sociais:

(And don't forget to like and follow the blog in social medias:)

Facebook: https://www.facebook.com/NoCinemaComJoaoPedroBlog/

Twitter: @nocinemacomjp2

Instagram: @nocinemacomjp


E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para falar sobre um dos maiores clássicos da história do cinema. Em preparação para “Mank”, o novo filme de David Fincher para a Netflix, que vai ser lançado no dia 04 de dezembro, acho que seria mais do que adequado que eu trouxesse a resenha do longa de 1941, cuja produção servirá como pano de fundo para a nova obra de Fincher. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Cidadão Kane”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to talk about one of the greatest classics in the history of cinema. In preparation for “Mank”, David Fincher's new film for Netflix, which will be released on December 4th, I think it would be more than adequate that I finally bring in my review for the 1941 film, as its production will serve as a background for Fincher's new work. So, without further ado, let's talk about “Citizen Kane”. Let's go!)



O filme segue um jornalista, Jerry Thompson (William Alland), o qual parte para fazer várias entrevistas com pessoas que marcaram a ascensão e a queda do magnata da imprensa Charles Foster Kane (Orson Welles), já falecido. Através das entrevistas, Thompson tenta descobrir cada aspecto da vida de Kane que possa levar ao significado de sua última palavra, dita em seu leito de morte: Rosebud.

(The film follows a journalist, Jerry Thompson (William Alland), who sets off to make multiple interviews with people that marked both the rise and fall of press tycoon Charles Foster Kane (Orson Welles), who's already passed. Through the interviews, Thompson tries to find out every aspect of Kane's life that can lead to the meaning of his last word, uttered on his deathbed: Rosebud.)



Eu já tinha visto “Cidadão Kane” uma vez durante a pandemia do COVID-19, mas estava esperando o momento certo para lançar uma resenha especialmente a respeito desse filme. E agora, com o iminente lançamento de “Mank” na Netflix, eu não poderia ter escolhido uma hora melhor. Para quem ainda não sabe, “Mank” contará a história de Herman J. Mankiewicz, co-roteirista de “Cidadão Kane”, que enfrenta vários conflitos com o diretor e protagonista, Orson Welles, durante a produção do filme, no final dos anos 1930 e início dos anos 1940. Então, para me preparar para o lançamento de “Mank”, que já está sendo aclamado como um dos melhores filmes de 2020, acho que revisitar o longa de 1941 será algo bem proveitoso, tanto para mim (que finalmente trarei a resenha da obra-prima de Welles para o blog) quanto para vocês (com o objetivo de vocês não ficarem perdidos ao assistirem o novo filme de David Fincher na Netflix). Então, com isso dito, vamos falar sobre o roteiro. Escrito por Herman J. Mankiewicz e Orson Welles, a estrutura narrativa de “Cidadão Kane” poderia encaixar-se facilmente em uma estrutura de documentário, já que a própria trama gira em torno de entrevistas à respeito do personagem-título. Mas, provavelmente pelo fato de Charles Foster Kane ser um personagem fictício, o diretor Orson Welles faz a sábia escolha de interpretar essas entrevistas por meio de flashbacks. E são nesses flashbacks que se encontra aquilo que faz de “Cidadão Kane” um estudo de personagem absolutamente brilhante: cada um dos entrevistados apresenta um ponto de vista completamente diferente sobre o sujeito da entrevista. E isso se torna evidente quando os roteiristas decidem fazer um contraste entre um programa de notícias produzido logo após a morte de Kane, onde foram destacados os maiores feitos da vida do magnata, colocando-o num pedestal absurdamente alto; e as entrevistas, que oferecem uma quase total desconstrução da personalidade de Kane, explorando tanto os seus momentos de triunfo quanto os seus fracassos. E esse aspecto narrativo de apresentar várias perspectivas sobre algo ou alguém foi verdadeiramente revolucionário para a época, já que na maioria dos filmes de Hollywood nas décadas de 1930 e 1940, os cineastas apostavam mais na simplicidade de entregar tudo o que os espectadores precisam saber para entender a trama sob um único ponto de vista. Em “Cidadão Kane”, Mankiewicz e Welles fazem a brilhante escolha de fazer de seu protagonista um enigma, a qual deixa os espectadores sempre refletindo nas seguintes perguntas e afirmações: “Mas será que tal coisa é verdade?” e “Ué, mas essa parte aqui não estava no programa de notícias no início do filme!”. E esse senso de mistério ao redor da persona de Kane faz do filme de 1941 um exemplo pioneiro do gênero film noir, caracterizado por tramas de detetive bem elaboradas, com um visual inspirado na direção de fotografia do expressionismo alemão. Ele é frequentemente desconstruído, mas sua trajetória ainda consegue causar fascínio no espectador. Pode-se dizer que “Cidadão Kane” foi marcado pelo mistério da última palavra de seu protagonista, e os roteiristas fazem um excelente trabalho em revelar tudo que possa levar à revelação do significado dessa palavra de uma forma bem gradativa e lenta, o que acaba por prender o espectador à trama e ao desenrolar da vida pessoal de Kane, exposta pelos entrevistados. E acho que nem é preciso dizer que o filme de Orson Welles foi uma das maiores influências para os cineastas dos dias de hoje, inclusive para o próprio David Fincher, diretor do vindouro “Mank”, que recebeu comparações com “Cidadão Kane” por explorar a vida de um magnata da mídia através de entrevistas e flashbacks em “A Rede Social”, que conta a história da fundação do Facebook. E o fato de Fincher ter quase que literalmente criado um Charles Foster Kane para o século XXI por meio da sua interpretação de Mark Zuckerberg no filme de 2010 faz dele o diretor perfeito para contar a história dos bastidores desse clássico atemporal.

(I had already watched “Citizen Kane” during the COVID-19 pandemic, but I was waiting for the right moment to write a review especially about this film. And now, with the imminent release of “Mank” on Netflix, I couldn't have chosen a better time. For those who still don't know, “Mank” will tell the story of Herman J. Mankiewicz, co-screenwriter of “Citizen Kane”, who faces several conflicts with director and protagonist Orson Welles during the production of the film, in the late 1930s and early 1940s. So, in preparation for the release of “Mank”, which is already being acclaimed as one of the best films of 2020, I think revisiting the 1941 film would be something really beneficial, for me (as I will finally bring the review of Welles's masterpiece to the blog) and for you (in order for you not to feel lost when watching David Fincher's new film on Netflix). So, with that said, let's talk about the screenplay. Written by Herman J. Mankiewicz and Orson Welles, the narrative structure of “Citizen Kane” could've easily fit into a documentary structure, as the plot itself revolves around interviews regarding the title character. But, probably because of the fact that Charles Foster Kane is a fictional character, director Orson Welles makes the wise choice of portraying said interviews through flashbacks. And it's in those flashbacks that we find out what makes “Citizen Kane” a brilliant character study: each one of the interviewees presents a completely different point of view on the subject of the interview. And that becomes evident when the screenwriters decide to make a contrast between a newsreel produced right after Kane's death, which highlighted the biggest feats of the tycoon's life, putting him on an absurdly high pedestal; and the interviews, which offer an almost complete deconstruction of Kane's personality, exploring his moments of triumph as well as his failures. And this particular narrative aspect of presenting several perspectives on something or someone was truly revolutionary for its time, as in most of Hollywood's films in the 1930s and 40s, filmmakers made their bet on the simplicity of giving up everything the viewer needed to understand the story under one single point of view. In “Citizen Kane”, Mankiewicz and Welles make the brilliant choice of turning its main character into a real puzzle, which will end up leading the viewer thinking about the following questions and affirmations: “But is that thing actually true?” and “What? But this wasn't in that newsreel in the beginning of the movie!”. And this sense of mystery regarding Kane's persona makes the 1941 film an early example of the film noir genre, known by its well-elaborate detective stories, with visuals inspired by German Expressionism cinematography. He is frequently deconstructed, but his trajectory still manages to leave the viewers wonderstruck. It can be said that “Citizen Kane” was marked by the mystery regarding its protagonist's last spoken word, and the screenwriters do an excellent job in slowly and gradually revealing everything that may lead to the meaning of that word, which ends up keeping the viewer engaged in the story and in the unraveling of Kane's personal life, exposed by the interviewees. And I think it goes without saying that Orson Welles's film was highly influential for today's filmmakers, including David Fincher himself, the director of the upcoming “Mank”, who received comparisons with “Citizen Kane” by exploring the life of a media mogul through interviews and flashbacks in “The Social Network”, which tells the story of the foundation of Facebook. And the fact that Fincher actually created a Charles Foster Kane for the 21st century through his portrayal of Mark Zuckerberg in the 2010 film makes him the perfect director to tell the making-of story of this timeless classic.)



Um fato interessante sobre o elenco é que a grande maioria dos atores era estreante no mercado cinematográfico, inclusive o próprio Orson Welles, que também fez sua estreia na direção com “Cidadão Kane”. E todos fazem um excelente trabalho aqui. Welles consegue capturar a essência de ser um magnata que possui influência sobre as pessoas com perfeição. Nas partes onde o protagonista faz algum discurso ou está ao redor de uma multidão de pessoas, ele tem bastante carisma e imponência. Mas são nas cenas onde Kane se encontra sozinho com alguém que as suas vulnerabilidades são expostas ao público. A inveja, a raiva, a ignorância, a incapacidade de verdadeiramente amar alguém. É uma tremenda performance que serviu de influência para vários protagonistas com o mesmo estilo nos filmes dos dias de hoje, como Jordan Belfort, em “O Lobo de Wall Street”. Os entrevistados também entregam ótimas performances: a Dorothy Comingore foi a que mais me convenceu ao mostrar que sua personagem foi realmente afetada pelo relacionamento com o protagonista; o Joseph Cotten expressa muito bem a inveja e a total desconsideração que seu personagem tem com Kane; e o Everett Sloane consegue mostrar o afeto e a consideração entre seu personagem e o protagonista através de uma boa química com Welles. Como coadjuvantes, temos performances competentes de Ray Collins, que é ameaçador; do Erskine Sanford, que é engraçado; e do William Alland, que é o fio condutor entre cada uma das entrevistas.

(An interesting fact about the cast is that the great majority of the actors were making their debut performance in the cinema market, including Orson Welles himself, who also made his directorial debut with “Citizen Kane”. And all of them do an excellent job here. Welles succeeds in perfectly capturing the essence of being someone big who has an influence over people. In the parts where the main character makes a speech or is around a crowd of people, he shows a lot of charisma and grandiosity. But it's in the scenes where Kane finds himself alone with someone that his vulnerabilities are exposed to the audience. Envy, rage, ignorance, the inability of truly loving someone. It's a knockout performance that served as an influence to several protagonists in that same style in today's films, such as Jordan Belfort, in “The Wolf of Wall Street”. The interviewees also deliver great performances: Dorothy Comingore was the one who convinced me the most that her character's life was truly affected by her relationship with the main character; Joseph Cotten expresses the envy and total disconsideration his character has towards Kane very well; and Everett Sloane manages to show the affection and consideration between his character and the protagonist through a good dynamic with Welles. As supporting actors, we have competent performances by Ray Collins, who is threatening; Erskine Sanford, who is funny; and William Alland, who is the conductor for each of the interviews.)



Além das inovações narrativas que “Cidadão Kane” trouxe para o cinema, houveram vários detalhes nos aspectos técnicos que foram considerados à frente de seu tempo. A direção de fotografia do Gregg Toland acentua bastante o tom sombrio e misterioso que um bom film noir precisa ter. Os jogos e dinâmicas feitos com a iluminação, especialmente com respeito à relação entre luz e sombra; com as tomadas mais longas e com a perspectiva de profundidade da câmera foram inovadores para a época, e acabaram por influenciar o visual do gênero. Inclusive, Toland foi considerado um dos maiores revolucionários para a direção de fotografia no cinema em 1941. A montagem do Robert Wise (que, depois, iria ganhar 4 Oscars por seu trabalho na direção e produção de “Amor, Sublime Amor” e “A Noviça Rebelde”) é perfeita, em todos os sentidos. A dissolução ao transitar entre uma entrevista e um flashback é orgânica e serviu de influência para vários filmes posteriores. A percepção de passagem do tempo é estabelecida de forma impecável pela montagem de Wise. A trilha sonora original do Bernard Herrmann (que, posteriormente, iria compor a icônica melodia de “Psicose”, de Alfred Hitchcock) consegue capturar muito bem o tom sombrio da história, ditando a condução de cada uma das entrevistas, fazendo uso de instrumentos mais graves para representar os pontos baixos da vida do protagonista.

(Besides the narrative innovations that “Citizen Kane” brought to cinema, there were several details in the technical aspects that were considered ahead of their time. Gregg Toland's cinematography heavily enhances the ominous, mysterious tone a good film noir needs to have. The tricks and dynamics made with the lighting, especially regarding the relationship between light and shadow; with the longer takes and with the perspective of depth to the camera were innovative for its time, and ended up influencing the visuals for the genre. By the way, Toland was considered one of the biggest revolutionaries for cinematography in 1941. The editing by Robert Wise (who, later, would win 4 Oscars for his work in directing and producing “West Side Story” and “The Sound of Music”) is perfect, in every sense of the word. The dissolution when transitioning between an interview and a flashback is organic and served as influence for several later films. The perception of the passage of time is flawlessly established by Wise's editing. The original score by Bernard Herrmann (who would later compose the iconic melody in Alfred Hitchcock's “Psycho”) manages to capture the story's dark tone very well, dictating the conduction of each interview, making use of lower, bass-like instruments to represent the low points in the protagonist's life.)



Resumindo, “Cidadão Kane” é uma obra-prima. Contando com inovações narrativas e técnicas, e um elenco majoritariamente estreante, o filme de Orson Welles consegue firmar cada vez mais seu lugar como um dos maiores clássicos atemporais da história do cinema, com o passar do tempo. Um filme essencial para os amantes da sétima arte e do jornalismo, e uma das maiores injustiças da história do Oscar.

Nota: 10 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “Citizen Kane” is a masterpiece. Relying on narrative and technical innovations, and a mostly debuting cast, Orson Welles's film manages to reaffirm its place more and more as one of the greatest timeless classics in the history of cinema, as time goes by. An essential viewing for those who love cinema and journalism, and one of the greatest injustices in Oscar history.

I give it a 10 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)

Um comentário: