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quarta-feira, 11 de novembro de 2020

"Spontaneous": uma tragicomédia original, inventiva e reflexiva (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para falar sobre um dos lançamentos mais recentes em plataformas de VOD (video on-demand) nos EUA. Sendo uma comédia dramática adolescente de humor negro afiadíssima, a obra em questão faz um excelente uso de sua premissa exageradamente absurda para falar de assuntos reais, reflexivos e relevantes. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Spontaneous”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to talk about one of the most recent releases on VOD (video on-demand) platforms in the US. As a razor-sharp teen black comedy-drama, the film I'm about to analyze makes an excellent use of its exaggeratedly absurd premise to talk about real, thought-provoking, relevant themes. So, without further ado, let's talk about “Spontaneous”. Let's go!)



Baseado no romance de mesmo nome escrito por Aaron Starmer, o filme é ambientado na cidade de Covington, no estado da Geórgia, e acompanha Mara (Katherine Langford), uma adolescente revoltada que vê sua cidade-natal virar de cabeça para baixo quando estudantes do terceiro ano começam a literalmente explodir, do nada. Nesse cenário, Mara encontra conforto em Dylan (Charlie Plummer), e os dois, na perspectiva de que o amanhã não seja uma total certeza, começam a viver suas vidas ao máximo.

(Based on the novel of the same name written by Aaron Starmer, the film is set in the city of Covington, Georgia, and follows Mara (Katherine Langford), a rebellious teenager who sees her hometown turn upside down when 12th grade students start to literally explode, out of nowhere. In that scenario, Mara finds comfort in Dylan (Charlie Plummer), and the two of them, in a perspective where tomorrow isn't totally certain, start to live their lives to the max.)



Eu realmente não tinha ouvido falar desse filme até o algoritmo do YouTube magicamente me levar à um vídeo dos primeiros 5 minutos de “Spontaneous”. Confesso que não vi a prévia por completo, mas as presenças da Katherine Langford (que me impressionou bastante na primeira temporada de “13 Reasons Why”, a qual foi a única que eu vi, porque pareceu ser a única que realmente importava) e do Charlie Plummer (que interpretou um dos melhores papéis de adolescentes na minissérie “Looking for Alaska”, cuja resenha você pode ler aqui no blog) já me chamaram a atenção. Aí, como resultado da minha curiosidade, fui pesquisar um pouco sobre a obra. E acabei descobrindo que era escrita e dirigida pelo Brian Duffield, que escreveu o roteiro do primeiro “A Babá”, da Netflix, e da ótima comédia pós-apocalíptica “Love and Monsters”, lançada este ano. E óbvio, soube da absurda premissa de adolescentes explodindo do nada. Pronto, o filme me comprou. O baixei e assisti ontem, com a expectativa de ser bastante divertido e bom pra passar o tempo, como as obras anteriores de Duffield. E eu estava certo, parcialmente. Acontece que “Spontaneous” não é sua comédia adolescente de sempre, no estilo “Para Todos os Garotos que Já Amei”. É ácida, pervertida, e consegue retratar sem nenhum filtro como é ser um adolescente no século XXI. É um filme muito engraçado, especialmente para o seu público-alvo. Os personagens são extremamente carismáticos, de modo que o espectador consegue até se relacionar com as situações que eles passam, de tão humanos que são. Através da narração da protagonista, somos completamente imersos no universo fictício de “Spontaneous”, e sempre atualizados quando algo novo e inesperado acontece. Nós vemos tudo pelo ponto de vista dela, e isso acaba por dar cor para o filme, dar uma personalidade diferenciada para ele. E isso, pelo menos pra mim, me prendeu bastante. São usados aqui vários recursos cômicos eficientes, como algumas quebras da quarta parede (quando o personagem se endereça ao espectador), sequências de sonho hilárias, diálogos afiadíssimos, e acima de tudo, atuais... Há muito material no enxuto tempo de duração de 1 hora e 40 minutos para fazer o espectador dar boas risadas. Mas fazer você rir não é o principal objetivo de “Spontaneous”. O que eu realmente não esperava sobre o filme era o uso dessa premissa absurda e fantasiosa para falar de temas reflexivos e reais. O roteiro consegue balancear de forma surpreendente o senso de humor ácido e assuntos como luto, perda, a percepção da própria mortalidade e a fugacidade do tempo, e os dois extremos acabam casando perfeitamente no resultado final. Outra coisa que eu gostei bastante no roteiro é a total ambiguidade em respeito a quem ou o quê está causando as explosões espontâneas dos adolescentes, o que pode abrir as portas para as mais variadas interpretações sobre o conceito do filme. Resumindo, em seu melhor trabalho, Brian Duffield pega uma premissa absurda e a transforma em uma tragicomédia original, hilária e reflexiva com um peso emocional surpreendentemente grande. Mal posso esperar pelo futuro brilhante desse diretor e roteirista.

(I really didn't hear anything on this film until the YouTube algorithm magically sent me to a video with the first 5 minutes of “Spontaneous”. I confess I didn't see the preview as a whole, but the presences of Katherine Langford (who caused quite an impression on me in the first season of “13 Reasons Why”, which was the only season I watched, as it seemed like the only one that actually mattered) and Charlie Plummer (who played one of the best teenager roles in the miniseries “Looking for Alaska”, you can read my review on it here on the blog) already captured my attention. Then, as a result of my curiosity, I researched a little bit about it. And I ended up finding out it was written and directed by Brian Duffield, who wrote the screenplay for the first film in the Netflix franchise “The Babysitter”, and for the great post-apocalyptic comedy “Love and Monsters”, which was released this year. And obviously, I heard about its absurd premise of teenagers blowing up out of nowhere. There, I was sold. I downloaded it and watched it yesterday, with the expectations of it being a lot of fun and good to pass the time, as many of Duffield's previous work. And I was right, partially. It happens that “Spontaneous” isn't your go-to teen comedy film, like “To All the Boys I've Loved Before”. It's acid, perverted, and manages to show an unfiltered look on how it is to be a teenager in the 21st century. It's a really funny flick, especially for its target audience. The characters are extremely charismatic, to the point where the viewer can actually relate to them, because of their human nature. Through the protagonist's voice-over narration, we are completely immersed into the fictional universe of “Spontaneous”, and always updated when something new or unexpected happens. We see everything through her point of view, and that ends up giving the film more color, a unique personality to it. And that, at least for me, got me hooked into it. Several resources are efficiently used for comic effect here, like some fourth wall breaks (when the character addresses the viewer), hilarious dream sequences, razor-sharp and, above all, current dialogue... There's plenty of material in this calculated running time of 1 hour and 40 minutes to give the viewer some good laughs. But making you laugh isn't the main objective of “Spontaneous”. What I really wasn't expecting it to do is taking this absurd, fantasy-ish premise to talk about real and thought-provoking themes. The screenplay can balance its acid sense of humor and subjects like grief, loss, the perception of one's own mortality and the fast nature of time surprisingly well, and these two extremes end up being a perfect match in the final results. Another thing I quite enjoyed in the screenplay is the total ambiguity towards who or what is causing the teenagers' spontaneous explosions, which can open the door to several interpretations of the film's concept. To sum it up, in his best work, Brian Duffield takes an absurd premise and transforms it into an original, hilarious and thought-provoking tragicomedy that has a surprisingly large emotional weight. I can't wait for this writer-director's bright, promising future.)



Claro, uma premissa original como essa precisa do elenco certo. E “Spontaneous” acertou em cheio na escalação de seus atores. A começar pela Katherine Langford, que interpreta aqui o completo oposto de sua personagem em “13 Reasons Why”. Ela é revoltada, sarcástica, rebelde, muito engraçada, e sua performance fica ainda melhor contracenando com o Charlie Plummer, que também está ótimo. Quando os dois estão em tela, nós somos capazes de ver a química instantânea que seus personagens têm, e sentimos que eles são realmente perfeitos um para o outro. A relação deles chega a esse nível de credibilidade, e é preciso reconhecer o desempenho desses atores. Em um papel mais secundário, temos a Hayley Law, conhecida por seu papel em “Riverdale”. Ela está muito bem aqui, servindo como uma âncora emocional para a personagem de Langford. No elenco adulto, temos performances bem competentes de Yvonne Orji, Piper Perabo e Rob Huebel, mas quem rouba a cena é a Chelah Horsdal, que está presente em uma das sequências mais emocionalmente carregadas do longa, trocando alguns dos diálogos mais importantes e emocionantes do roteiro.

(Sure, a premise this original needs the right cast. And “Spontaneous” hit the jackpot while casting its actors. Starting off with Katherine Langford, who plays the complete opposite of her character in “13 Reasons Why” here. She's rebellious, sarcastic, very funny, and her performance gets even better when onscreen with Charlie Plummer, who is also great. When the two of them are onscreen, we are able to see the instant chemistry their characters share, and we feel that they actually are perfect for each other. Their relationship reaches that level of credibility, and the development of these actors must be recognized. In a more secondary role, we have Hayley Law, known for her role in “Riverdale”. She's really good here, serving as an emotional anchor to Langford's character. In the adult cast, we have really competent performances by Yvonne Orji, Piper Perabo and Rob Huebel, but the scene-stealer here is Chelah Horsdal, who's a key part in one of the most emotionally charged sequences in the film, exchanging some of the screenplay's most important and emotional pieces of dialogue.)



Os aspectos técnicos seguiram um rumo bastante interessante, no meu ponto de vista. A direção de fotografia do Aaron Morton e a montagem do Steve Edwards, em conjunto, fizeram a decisão sábia de não mostrar as explosões espontâneas explicitamente, porque isso poderia dar um sabor gratuito a esse artifício. No lugar, tomadas em offscreen (ou seja, fora da tela) são usadas para esses fenômenos, fazendo uso de cortes muito bem calculados para um maior efeito no espectador. A trilha sonora é exatamente o que eu esperaria de uma playlist de uma adolescente revoltada vivendo no século XXI. Todos os sentimentos que passam pela cabeça desses personagens são, de algum modo, expressas através das músicas presentes na trilha sonora. A montagem também ajuda bastante a estabelecer uma continuidade em relação aos eventos do filme, o que por consequência, nos ajuda a ter um melhor acompanhamento de sua linha temporal.

(The technical aspects followed a very interesting path, in my point of view. Aaron Morton's cinematography and Steve Edwards's editing, in unison, made the wise decision of not showing the spontaneous explosions in an explicit manner, as it could give that device a sort of gratuitous bad taste. Instead, offscreen takes are used for these phenomena, making use of very well calculated cuts for an enhanced effect on the viewer. The soundtrack was exactly what I would expect from a playlist by an angsty teenager living in the 21st century. Every feeling that goes through these characters' heads are, somehow, expressed through the songs in the soundtrack. The editing is also a helping hand in establishing a continuity regarding the film's events, which consequently, helps us following its timeline a little better and clearer.)



Resumindo, “Spontaneous” foi uma das maiores surpresas do ano, pra mim. Munido de uma premissa absurda, um elenco perfeitamente escalado, e um uso criativo e diferenciado de seus aspectos técnicos, o diretor estreante e roteirista Brian Duffield consegue fazer de seu primeiro filme algo hilário e comovente, com os dois extremos em perfeito equilíbrio.

Nota: 10 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “Spontaneous” was one of the year's biggest surprises, for me. Armed with an absurd premise, a perfectly cast group of actors, and a creative, different use of its technical aspects, screenwriter Brian Duffield (in his directorial debut) makes his first feature film something hilarious and moving, with these two extremes in a perfect balance.

I give it a 10 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)


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