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sábado, 21 de novembro de 2020

"Run": um suspense tenso, aterrorizante e constantemente surpreendente (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para falar sobre um dos lançamentos mais recentes nas plataformas de streaming dos EUA. Inicialmente previsto para uma estreia nas telonas, o filme em questão é o retorno triunfal do diretor de um dos suspenses mais originais e inventivos dos últimos tempos, e serve de vitrine para o trabalho excelente de suas duas protagonistas. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Run”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to talk about one of the most recent releases on American streaming platforms. Initially intended to be released in theaters, the film I'm about to discuss is the triumphant return from the director of one of the most original and inventive thrillers in recent years, and serves as a showcase for the excellent work by its two main actresses. So, without further ado, let's talk about “Run”. Let's go!)



O filme acompanha Chloe (Kiera Allen), uma adolescente cadeirante que vive com a mãe solteira e super-protetora (Sarah Paulson) numa cidade pacata dos EUA. Estudando em casa e sonhando em, finalmente, entrar em uma faculdade, Chloe vê sua vida virar de cabeça para baixo ao fazer descobertas chocantes que levam-a a acreditar que sua mãe não é quem parece ser.

(The film follows Chloe (Kiera Allen), a teenage wheelchair user who lives with her single, overprotective mother (Sarah Paulson) in a quiet American town. Being homeschooled and dreaming of, finally, getting into college, Chloe sees her life turn upside down when she makes shocking discoveries that lead her to believe her mother is not who she seems to be.)



Sabe aquelas vezes onde você não põe expectativa nenhuma em um filme, e quando você assiste, acaba se impressionando com o resultado final? Pois é, esse foi o meu caso com “Run”. Não tinha dado muita atenção aos trailers na época em que eles lançaram, e só fui me interessar pela sua premissa nesta semana, ao descobrir que a imprensa (em geral) inundou o filme de elogios. Mas quando vi quem eram os responsáveis por “Run”, entendi porque tinha sido muito bem recebido pela crítica. O filme é dirigido e co-escrito pelo Aneesh Chaganty, que em 2018, nos presenteou com sua estreia na direção: o inventivo suspense “Buscando”, o qual conta uma história convencional de uma maneira não tão convencional, e o conceito funcionou perfeitamente. “Run” só veio para provar a versatilidade de Chaganty em criar suspenses muito bem construídos e desenvolvidos, tanto de formas convencionais quanto não-convencionais. Em parceria com o co-roteirista Sev Ohanian (que também colaborou na trama de seu filme anterior), o diretor elabora uma história aterrorizante, tensa e surpreendente, em sua progressão narrativa. Não é uma história propriamente original, no sentido mais claro da palavra, mas as voltas que o roteiro dá aqui e ali dão a ela mais uma percepção de ar fresco do que o sentimento de nos fazer pensar que estamos vendo mais do mesmo. Se fosse para comparar “Run” com qualquer outro filme, seria uma mistura entre “Louca Obsessão” (tanto que várias cenas remetem à atmosfera que o diretor Rob Reiner criou para a adaptação da obra homônima de Stephen King) e “Coraline e o Mundo Secreto”, mas essa comparação só fará sentido depois de assisti-lo. Mas voltando à originalidade do roteiro, grande parte desse ar fresco se dá pelo desenvolvimento das duas protagonistas, interpretadas pela Kiera Allen e pela Sarah Paulson. Já de cara, dá pra ver que elas têm um senso de co-dependência uma com a outra, como mãe e filha. A mãe prepara todas as refeições e remédios da filha, enquanto a filha retribui com os resultados de seus estudos. Mas aí, o caldo vai engrossando de forma bem lenta e surpreendente. E isso é uma das melhores coisas sobre o roteiro: ele não entrega todas as suas surpresas em uma única cena. Elas vão se revelando de forma bem gradativa, e quanto mais o número de guinadas, mais o queixo do espectador desce até o chão. Eu gostei bastante da maneira que o roteiro acha de construir tensão, a ponto de se tornar insuportavelmente enervante. Seja por através de um pequeno detalhe no fundo da tela, ou pela dinâmica dos jogos de câmera usados aqui, tensão é a principal força condutora da narrativa de “Run”. E eu fiquei bem impressionado de como Chaganty e Ohanian conseguiram juntar vários momentos de roer as unhas em um curto, mas extremamente bem aproveitado tempo de duração de 1 hora e 30 minutos. É um roteiro que faz uma progressão narrativa constantemente crescente, até os 5-10 minutos finais, onde achei que faltava uma conclusão mais “redonda”. Pensei que todos os eventos ocorridos levariam à algo que, infelizmente, não se concretizou. Mas no geral, “Run” consolida ainda mais o talento de Aneesh Chaganty e Sev Ohanian em criar suspenses originais surpreendentes e com alto nível de tensão.

(You know those times where you have absolutely no expectation whatsoever for a film, and then you end up positively impressed with the final result? Yeah, that was my case with “Run”. I hadn't given the trailers that much attention when they were released, and I only got interested in its premise this week, after discovering that the press (generally) flooded it with compliments and acclaim. But when I researched about it and found out who wrote and directed “Run”, I understood why it was being so well-received by critics. The film was directed and co-written by Aneesh Chaganty, who in 2018, gifted us with his directorial debut: the inventive thriller “Searching”, which tells a conventional story in a rather unconventional way, and its concept fit perfectly. “Run” only came to prove Chaganty's versatility in crafting well-built and developed thrillers, told in either conventional or unconventional ways. Partnering up with co-writer Sev Ohanian (who also collaborated for his previous film's story), the director elaborates a terrifying, tense and surprising story, in its narrative progression. It's not a properly original plot, in the clearest sense of the word, but the twists and turns made by the screenplay give it more of a fresh air feeling than the feeling of making us think we're seeing more of the same. If I were to compare “Run” with any other film, it would be a mix between “Misery” (as several scenes throw back to the atmosphere director Rob Reiner injected into his adaptation of Stephen King's novel of the same name) and “Coraline”, but this comparison will only make sense after you finish watching it. But coming back to the screenplay's originality, a large part of this freshness happens because of the development of its two main characters, portrayed by Kiera Allen and Sarah Paulson. In the first scene they share, you can notice they have a sense of co-dependence with each other, as mother and daughter. The mother prepares all of her daughter's meals and medicine, and the daughter gives that back with the results of her studies. But then, the plot thickens in a slow and surprising way. And that's one of the best things about the screenplay: it doesn't deliver all of its surprises in one single scene. They reveal themselves one by one, and the more the plot twists it uncovers, more the viewer's jaw lowers itself. I really liked the way the script builds tension, to the point it becomes unbearably unnerving. Either through a small detail in the back of the screen, or by the dynamics of the camera movements used here, tension is the main conductive force of “Run”'s narrative. And I got really impressed on how Chaganty and Ohanian managed to gather several nail-biting moments in a short, yet well-calculated running time of 1 hour and 30 minutes. It's a script that has a constantly growing narrative progression, until the final 5-10 minutes, where I thought it lacked a more well-rounded conclusion. I thought all the events shown onscreen would lead to something that, unfortunately, did not come true. But generally, “Run” consolidates even more the talents of both Aneesh Chaganty and Sev Ohanian in creating original, surprising thrillers filled with tension.)



Não há muito o que falar do elenco, pelo fato de ter apenas 4 atores no filme inteiro. Mas o reconhecimento precisa ser dado para as duas protagonistas, Kiera Allen e Sarah Paulson. A começar pela estreante Kiera Allen, que é cadeirante na vida real. Só por esse fato, a atuação dela merece um holofote em particular, porque ela não finge que está enfrentando as dificuldades que alguém com capacidades motoras reduzidas teria, ela realmente as enfrenta. E é preciso parabenizar o diretor por dar a oportunidade para uma atriz cadeirante ser ela mesma no papel. E ela faz um ótimo trabalho aqui. Allen consegue transitar entre emoções opostas de modo crível e humano. Ela consegue transmitir estados de espírito como medo, desespero, paranoia e, ao mesmo tempo, uma sagacidade impressionante. A personagem dela provavelmente é uma das mais inteligentes que eu já vi em um filme de suspense, se não for a mais inteligente. E então, chegamos à Sarah Paulson, que não é estranha ao gênero, graças aos seus papéis nas temporadas de “American Horror Story” e, mais recentemente, em “Ratched”. E ao pregar os olhos nela, eu pensei: “ela daria uma boa Annie Wilkes (a antagonista de “Louca Obsessão”)”. A atriz faz um trabalho excelente em balancear a doçura na figura materna de sua personagem e a crescente desconfiança em relação às descobertas da filha. Eu fiquei bastante impressionado em como só 2 atrizes conseguiram carregar o filme nas costas. Realmente surpreendente.

(There's not a lot to talk about in the cast, as it is entirely composed by only 4 actors. But we have to give recognition to the two main actresses, Kiera Allen and Sarah Paulson. Starting off with newcomer Kiera Allen, who is a wheelchair user in real life. Just for that fact alone, her performance deserves a particular spotlight, as she doesn't fake the difficulties a person with reduced motor capabilities would face, she actually faces them. And we have to congratulate the director for giving the opportunity to a wheelchair user who's also an actress to feel more comfortable in her role. And she does a marvelous job here. Allen manages to travel through opposite emotions in a believable and human way. She manages to transmit moods like fear, despair, paranoia and, at the same time, an impressive amount of wit. Her character is likely one of the smartest I've ever seen in a thriller film, if not the smartest. And then, we come to Sarah Paulson, who isn't a stranger to the genre, thanks to her roles in the seasons of “American Horror Story” and, more recently, in “Ratched”. And just by looking at her, I thought: “she would make a fantastic Annie Wilkes (the antagonist of “Misery”)”. She does an outstanding job in balancing the sweetness in her character's maternal figure and the ever-growing disbelief regarding her daughter's discoveries. I was very impressed on how only 2 actresses were able to carry this film on their back. Really surprising.)



Se comparado com o filme anterior de Chaganty, “Run” não é tão inovador em seus aspectos técnicos, mas faz um uso inventivo dos recursos presentes para aumentar a tensão sugerida pelo roteiro. A direção de fotografia da Hillary Fyffe Spera é bem dinâmica, sempre em fluido movimento durante as cenas com mais ação. Eu dou um destaque especial sobre o quão bem ela consegue capturar os pontos de vista dos personagens, e talvez até o que eles não conseguem ver. Um trabalho extremamente competente. A montagem do Nick Johnson e do Will Merrick é boa, eles sabem exatamente onde cortar e onde prolongar para uma tensão mais eficiente. Só não gostei do fato de que, em mais de uma ocasião, a tela ficou escura por tempo o suficiente para ser notável. Para mim, esses cortes com tela preta precisam ser imperceptíveis para ninguém botar defeito, e, infelizmente, isso aconteceu mais de uma vez em “Run”. Mas isso não afetou minha ótima experiência com o filme, de modo algum. A trilha sonora original do Torin Borrowdale me lembrou bastante do trabalho do Michael Abels em “Nós”, do Jordan Peele, onde foram usados violinos para tornar a atmosfera do filme cada vez mais enervante, e Borrowdale repetiu essa fórmula com sucesso em seu trabalho.

(If compared to Chaganty's previous film, “Run” isn't as innovative in its technical aspects, but it does make an inventive use of the present resources to enhance the tension suggested by the screenplay. Hillary Fyffe Spera's cinematography is really dynamic, always in fluid motion during the scenes with a little bit of more action to them. I'd like to give a special highlight on how well she manages to capture the characters' point of view, and maybe even what they aren't able to see. An extremely competent work. Nick Johnson and Will Merrick's editing is good, they know exactly where to cut and where to make things a little longer for a more efficient amount of tension. I just didn't like the fact that, in more than one occasion, the screen went dark long enough to be noticeable. For me, these dark screen cuts need to be imperceptible so that no one is able to call them out, and, unfortunately, that happened more than once in “Run”. But that didn't affect my great experience with the film, in any way. Torin Borrowdale's original score reminded me a lot of Michael Abels's work in Jordan Peele's “Us”, where violins were used to make the film's atmosphere more and more unnerving, and Borrowdale successfully repeated that formula in his work.)



Resumindo, “Run” foi uma das maiores surpresas do ano, para mim. Tendo como base um roteiro aterrorizante, tenso e constantemente surpreendente, o diretor Aneesh Chaganty e o roteirista Sev Ohanian não reinventam a roda, mas adicionam ingredientes extras à fórmula para fazer do filme uma verdadeira vitrine para o excelente desempenho das duas protagonistas.

Nota: 9,5 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “Run” was one of the year's biggest surprises, for me. Relying on a terrifying, tense and constantly surprising screenplay, director Aneesh Chaganty and screenwriter Sev Ohanian don't reinvent the wheel, but they add extra ingredients to the plot's formula to make the film a real showcase for the excellent performances by its two main actresses.

I give it a 9,5 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)


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