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sábado, 12 de dezembro de 2020

Animações Diferentes - "Wolfwalkers": a animação tradicional, mais viva do que nunca (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para dar continuidade à nossa postagem especial sobre obras de animação diferentes! O lançamento mais recente no catálogo original de um dos serviços de streaming menos conhecidos (Apple TV+), o filme em questão é uma carta de amor extraordinária aos métodos tradicionais de animação, que se encontram mais vivos do que nunca em um dos principais concorrentes ao Oscar de Melhor Filme de Animação do ano que vem! Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Wolfwalkers”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to continue with our special post on different works of animation. The most recent release in the original catalog of one of the lesser known streaming services (Apple TV+), the film I'm about to analyze is an extraordinary love letter to traditional methods of animation, which are found at their fullest, most gorgeous life in one of the main contenders to next year's Oscar for Best Animated Feature! So, without further ado, let's talk about “Wolfwalkers”. Let's go!)



Irlanda, 1650. A trama acompanha Robyn (voz original de Honor Kneafsey), uma rebelde garota inglesa cujo pai (voz original de Sean Bean) é recrutado pelo general Oliver Cromwell (voz original de Simon McBurney) para livrar a cidadezinha de Kilkenny da ameaça de lobos, os quais habitam em uma floresta próxima. Certo dia, Robyn entra escondida na floresta procurando o pai e é acidentalmente mordida por Mebh (voz original de Eva Whittaker), uma garota “wolfwalker”, capaz de se transformar em lobo ao adormecer. Com a mordida, Robyn também consegue se transformar em lobo ao dormir, e com suas novas habilidades, a garota ajuda Mebh a tentar desvendar o mistério do desaparecimento de sua mãe.

(Ireland, 1650. The plot follows Robyn (originally voiced by Honor Kneafsey), a rebellious English girl whose father (originally voiced by Sean Bean) is recruited by General Oliver Cromwell (originally voiced by Simon McBurney) to rid the town of Kilkenny from the threat of wolves, which inhabit a nearby forest. One day, Robyn sneaks into the woods looking for her father and is accidentally bitten by Mebh (originally voiced by Eva Whittaker), a “wolfwalker” girl, who's able to turn into a wolf while asleep. Due to the bite, Robyn can also manage to turn into a wolf when she's asleep, and with her new abilities, the girl helps Mebh in a journey to try and solve the mystery of her mother's disappearance.)



Minhas expectativas para esse filme foram subindo gradualmente, de acordo com o lançamento dos materiais promocionais, que destacavam um visual colorido de tirar o fôlego complementado por uma história de fantasia cativante. Mas antes de falar do roteiro, vou dedicar algumas linhas para falar do estúdio por trás de “Wolfwalkers”. O filme é co-dirigido pelo Tomm Moore, cineasta irlandês e co-fundador do estúdio Cartoon Saloon, responsável por três animações indicadas ao Oscar de Melhor Filme de Animação: “Uma Viagem ao Mundo das Fábulas”, “A Canção do Oceano” e “A Ganha-Pão”. O diretor considera “Wolfwalkers” como o capítulo final de uma trilogia temática sobre o folclore irlandês, também composta pelos dois primeiros filmes do estúdio (“Uma Viagem...” e “A Canção do Oceano”, ambos excelentes, inclusive irei trazer as resenhas deles aqui em breve). E parece que Tomm Moore encontra a maior chance de seu estúdio ganhar o tão desejado Oscar em sua obra mais recente. O roteiro é escrito pelo Will Collins, baseado numa ideia original elaborada pelos dois diretores do filme. Um dos melhores aspectos sobre a história de “Wolfwalkers” é justamente a sua originalidade, construindo uma mitologia contida e absolutamente fascinante. Fazendo um excelente uso de seu tempo de duração conciso e enxuto de 1 hora e 43 minutos, Collins consegue criar uma trama perfeitamente compassada, sendo ao mesmo tempo contemplativa e alegórica para os adultos, e frenética e divertida para os pequenos. Os personagens são instantaneamente cativantes, atraindo a atenção do espectador na primeira cena em que eles aparecem. O desenvolvimento deles ocorre de forma bem gradual, andando de mãos dadas com o passo do roteiro. Os aspectos de fantasia não são usados exageradamente. Para minha surpresa, é um filme bem mais humano do que completamente “viajado”, e eu amei isso. Conta uma história cativante sobre identidade, amizades improváveis, aceitação, liberdade, e a tentativa de superar preconceitos, consequentemente carregando uma grande carga emocional. E quem me conhece sabe que eu simplesmente adoro animações que tratam de temas difíceis de serem explicados para os pequenos de uma forma acessível e leve. Para as crianças, “Wolfwalkers” será um excelente divertimento, que levará à boas risadas e algumas lágrimas aqui e ali. Mas uma das melhores sacadas de Moore e companhia é o número de alegorias e críticas presentes aqui, onde a maioria passará despercebida por um público mais jovem. Numa esfera sociopolítica, o filme explora muito bem a relação frequentemente turbulenta entre a Irlanda e o Reino Unido, com a trama constantemente colocando as duas nacionalidades como rivais. Lidando com questões mais ambientais, o roteiro faz uma afiada crítica ao desmatamento e à caça de animais selvagens, estabelecendo os lobos como os “protetores” da floresta. E ainda há a crítica à distorção de preceitos religiosos para servir à intenções pessoais, tema recentemente explorado no ótimo “O Diabo de Cada Dia”, da Netflix (cuja resenha você pode ler aqui: http://nocinemacomjoaopedro.blogspot.com/2020/09/o-diabo-de-cada-dia-um-dos-melhores.html), e representado aqui pelo principal antagonista da trama. Pra terminar, gostaria de constatar que “Wolfwalkers” consegue combinar perfeitamente o que faz de raras animações atraentes para tanto crianças quanto adultos, fazendo uso de uma história que será cativante e divertida para um público mais jovem, enquanto também sendo alegórica e reflexiva para os mais crescidos.

(My expectations for this film were gradually rising, according to the release of its promotional material, which highlighted a breathtaking colorful look complemented by a captivating fantasy story. But before I talk about the script, I want to dedicate some lines to talk about the studio behind “Wolfwalkers”. The film is co-directed by Tomm Moore, an Irish filmmaker and co-founder of the animation studio Cartoon Saloon, which gave us three Oscar-nominated animated feature films: “The Secret of Kells”, “Song of the Sea”, and “The Breadwinner”. The director considers “Wolfwalkers” as the final chapter in a thematic trilogy on Irish folklore, which is also composed by the studio's first two films (“The Secret of Kells” and “Song of the Sea”, both of them are excellent, and I'll bring their reviews to the blog soon). And it looks like Tomm Moore finds his studio's biggest shot in winning their more-than-deserved Oscar in his most recent work. The screenplay is written by Will Collins, based on an original idea elaborated by its two directors. One of the best aspects in the story of “Wolfwalkers” is, indeed, its originality, being able to build a contained, and absolutely fascinating mythology. Making an excellent use of its concise and precisely calculated running time of 1 hour and 43 minutes, Collins manages to create a perfectly paced plot, being at the same time contemplative and allegorical for adults, and engaging and fun for the little ones. The characters are instantly captivating, catching the viewer's attention from their very first moment onscreen. Their development occurs gradually, walking hand in hand with the screenplay's pace. The fantasy aspects are not used in an exaggerated way. For my surprise, it is a much more human film than a completely trippy one, and I loved it. It tells a captivating story about identity, unlikely friendships, acceptance, freedom, and trying to overcome one's prejudices, consequently carrying an enormous emotional weight. And who knows me knows that I simply adore animated films that deal with themes that are hard to be explained to children in an accessible and light way. For the kids, “Wolfwalkers” will be a whole lot of fun, which will provide a good number of laughs and one or two tears shed along the way. But one of Moore and co.'s smartest moves is the number of allegories and criticism in its plot, where most of them will go over the head of a younger audience. In a sociopolitical sphere, it brilliantly explores the frequently turbulent relationship between Ireland and the United Kingdom, with the plot constantly placing the two nationalities as rivals. Dealing with more environmental questions, it makes sharp criticism towards deforestation and hunting for wild animals, establishing the wolves as the “protectors” of the forest. And there's also criticism towards the distortion of religious concepts to achieve personal intentions, a theme recently explored in Netflix's great “The Devil All the Time” (you can read my review on it here: http://nocinemacomjoaopedro.blogspot.com/2020/09/o-diabo-de-cada-dia-um-dos-melhores.html), and represented here by the plot's main antagonist. To cap it off, I'd like to affirm that “Wolfwalkers” manages to perfectly combine what makes rare animated films entertaining to both children and adults, making use of a story that'll be captivating and fun for a younger audience, while also being allegorical and thought-provoking to those already grown-up.)



Ao mesmo tempo que o roteiro de “Wolfwalkers” consegue construir uma mitologia envolvente e cativante, também consegue desenvolver os seus personagens de forma extremamente satisfatória. Eu amei a protagonista, Robyn. Em questões de personalidade, ela seria uma mistura entre a Princesa Merida, de “Valente”, e o Soluço, de “Como Treinar o seu Dragão”, no sentido de equilibrar muito bem sua coragem e sua sensibilidade. E o fio condutor da história é a dinâmica que ela compartilha com a Mebh, a “wolfwalker”, que é justamente o contrário de Robyn. Enquanto esta é bem-arrumada e cuidadosa, aquela é selvagem e desenfreada, capaz de fazer de tudo para cumprir seus objetivos. E essa bipolaridade entre a personalidade das duas personagens é o que faz a dinâmica delas funcionar tão bem, com alguns aspectos da Robyn complementando a personalidade da Mebh, e vice-versa. Os adultos, em geral, são os “antagonistas” da história. O desenvolvimento gradual do pai da Robyn em respeito ao progresso da trama é evidente e cativante. Há um fazendeiro presente na primeira cena do filme que, ao mesmo tempo, serve como alívio cômico e como um farol de esperança para a protagonista. Os roteiristas foram bem ousados ao fazer do vilão principal do filme uma figura da vida real, sendo a figura em questão o general Oliver Cromwell, cujo nome nunca é mencionado, sendo apenas conhecido como “Lorde Protetor”. Mas comparando as características do personagem com as de Cromwell, é bem evidente que os dois são a mesma pessoa. Ele é ameaçador, e sua personalidade é bem similar ao Juiz Claude Frollo, vilão de “O Corcunda de Notre Dame”.

(At the same time the script of “Wolfwalkers” manages to build an engaging and captivating mythology, it also manages to develop its characters in an extremely satisfying way. I absolutely loved the main character, Robyn. When it's about personality, she would be a mix between Princess Merida, from “Brave”, and Hiccup, from “How to Train Your Dragon”, in the way of balancing her courage and sensibility really well. And the guiding force of the story is the dynamic she shares with Mebh, the “wolfwalker”, who is the exact opposite of Robyn. While the latter is tidied up and careful, the former is wild and unstoppable, capable of doing anything to achieve her goals. And this bipolarity between the two characters' personalities is what makes their dynamic work so well, with some aspects of Robyn complementing Mebh's personality and vice versa. The adults, generally, are the story's “antagonists”. The gradual development of Robyn's father regarding the plot's progress is evident and captivating. There is a farmer who's in the film's first scene who, at the same time, is a comic relief and a beacon of hope for the main character. The screenwriters were really bold in turning a real-life figure into the film's main villain, the figure in question being General Oliver Cromwell, whose name is never mentioned, being only referred to as “Lord Protector”. But when comparing the character's traits with Cromwell's, it's quite evident that they're one and the same. He's threatening, and his personality is quite similar to that of Judge Claude Frollo, the antagonist of “The Hunchback of Notre Dame”.)



Eu acho que não consigo descrever em palavras o quão maravilhado eu fiquei ao ver o primeiro teaser desse filme. Assim como os filmes anteriores do estúdio, “Wolfwalkers” é animado de forma tradicional. E é tão bom ver um filme tradicionalmente bem animado em um cenário quase dominado pelas imagens geradas por computadores (ou CGI, que é o termo mais popular). Pode-se dizer que o Cartoon Saloon faz pela animação tradicional a mesma coisa que estúdios como a Laika e a Aardman fazem pelo stop-motion, no sentido de trazer cada vez mais vida à um método considerado “ultrapassado”. E o visual de “Wolfwalkers” é uma verdadeira obra de arte. A direção de arte faz um trabalho sensacional em diferenciar as duas ambientações principais do filme: enquanto a cidadezinha de Kilkenny é simétrica, geométrica, e friamente calculada, como se cada humano fosse um clone, com movimentos cronometrados; a floresta é desenhada de forma quase surreal, com cores vibrantes, atraentes e formas imprevisíveis. Eu gostei bastante do tom mais rústico que a animação tradicional deu ao filme, com sombreamentos extraordinários, e mínimos detalhes expostos em um milésimo de segundo que colocarão um sorriso de admiração no rosto do espectador. Sinceramente, me deu vontade de pausar o filme em cada quadro, só pra pegar cada detalhe em cada centímetro da tela. Como dito anteriormente, é um filme extraordinariamente bem montado, não desperdiçando uma cena sequer. Todo momento, por mais pequeno que pareça ser, é de suma importância. A trilha sonora do Bruno Coulais casa muito bem com a ambientação do filme, usando sons e instrumentos medievais para dar um ar folclórico à história. Tem uma cena em particular onde a música “Running with the Wolves”, da norueguesa Aurora, é tocada que quase me fez chorar. Só faço uma recomendação: assistam à “Wolfwalkers” na melhor qualidade possível, porque vale a pena.

(I don't think I can put into words how marveled I was when I watched the first teaser for this film. As it happened with the studio's previous work, “Wolfwalkers” is traditionally animated. And it feels so good to see a traditionally well-animated film in a scenario that's almost dominated by computer-generated imagery (or CGI, for short). It can be said that Cartoon Saloon does the exact same thing for traditional animation as studios like Laika and Aardman do for stop-motion, in a way that they bring more life into a method considered to be “old-fashioned”. And the visuals of “Wolfwalkers” are a true work of art. The art direction does a sensational job in telling the film's two main settings apart: while the town of Kilkenny is symmetrical, geometrical, and coldly calculated, as if every human was a clone, with perfectly timed movements; the woods are drawn in an almost dream-like way, with vibrant, attractive colors and unpredictable shapes. I really appreciated the more rustic tone that traditional animation injected into the film, with extraordinary shading, and tiny details exposed in a hundredth of a second that'll put a smile of admiration on the viewer's face. Honestly, I wanted to pause the film in each frame, just so I could catch every single detail in every corner of the screen. As previously stated, it's an extraordinarily well-edited film, not wasting one single scene. Every moment, as small as it may seem, is really important. Bruno Coulais's score is a perfect match to the film's setting, using medieval sounds and instruments to inject a folk-ish feel to the story. There's one particular scene where the song “Running with the Wolves”, performed by Norwegian singer Aurora, is played that almost made me cry. I just want to make one recommendation: watch “Wolfwalkers” in the best quality you can get, because it's worth it.)



Resumindo, “Wolfwalkers” é uma verdadeira obra-prima, e o melhor filme do ano! Munido de uma história atraente para todas as idades, personagens muito bem desenvolvidos, e aspectos técnicos irretocáveis, Tomm Moore cria uma carta de amor aos métodos tradicionais de animação, e chega o mais perto possível de ganhar um Oscar para o Cartoon Saloon. Pixar, cuidado para não cantar vitória muito cedo, porque a concorrência estará acirrada em 2021... (Risos)

Nota: 10 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “Wolfwalkers” is a true masterpiece, and the best film of the year! Armed with a story that's appealing to all ages, very well-developed characters, and flawless technical aspects, Tomm Moore creates a love letter to the traditional methods of animation, and gets as close as he can to winning an Oscar for Cartoon Saloon. Pixar, be careful not to call it a win too soon, because competition will be tough next year... (LOL)

I give it a 10 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)


2 comentários: