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sábado, 26 de dezembro de 2020

"Soul": o filme mais ambicioso e reflexivo da Pixar até agora (Bilíngue)

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E aí, meus caros cinéfilos! Tudo bem com vocês? Estou de volta, para falar sobre um dos filmes mais esperados desse ano atípico que foi 2020. Contando com uma narrativa original, reflexiva e emocionalmente ressonante, e métodos de animação computadorizada de primeira linha, o filme em questão provavelmente é o mais ambicioso do estúdio que o produziu. Então, sem mais delongas, vamos falar sobre “Soul”. Vamos lá!

(What's up, my dear film buffs! How are you guys doing? I'm back, in order to discuss on one of the most anticipated films in this atypical year that was 2020. Relying on an original, thought-provoking and emotionally resonant narrative, and top-notch computer-generated animation methods, the film I'm about to analyze is probably the most ambitious one in its studio's history. So, without further ado, let's talk about “Soul”. Let's go!)



O filme conta a história de Joe Gardner (voz de Jamie Foxx), um professor de música cuja ambição é ser pianista de jazz. Quando ele finalmente recebe uma oportunidade de provar e consolidar o seu talento, Joe sofre um acidente inesperado e sua alma vai parar em um estado pós-vida. Incapaz de aceitar sua iminente morte, Joe tenta escapar de seu destino e acaba por adentrar em um estado pré-vida, habitado por almas que ainda não têm seus corpos. Lá, Joe recebe a missão de ajudar 22 (voz de Tina Fey), uma alma com um olhar pessimista sobre a vida na Terra a encontrar seu propósito.

(The film tells the story of Joe Gardner (voiced by Jamie Foxx), a music teacher whose ambition is to become a jazz pianist. When he finally receives an opportunity to prove and cement his talent, Joe suffers an unexpected accident, and his soul arrives at an afterlife state. Unable to accept his imminent demise, Joe tries to escape his fate, and ends up entering a “before-life” state, inhabited by souls that don't have their bodies yet. There, Joe receives the task of helping 22 (voiced by Tina Fey), a soul with a pessimistic point of view on life on Earth, to find her purpose.)



Antes de 2020 (e sua subsequente pandemia) começar, eu já tinha colocado “Soul” como um dos meus filmes mais aguardados deste ano, por uma simples e significativa razão: a direção do Pete Docter. Agora, “Quem é Pete Docter?”, vocês podem perguntar. Resumindo, ele é um gênio. Falando de forma mais abrangente, ele foi o responsável por nos trazer três clássicos modernos de animação no século XXI: “Monstros S.A.”, “Up: Altas Aventuras”, e “Divertida Mente”, com os dois últimos sendo vencedores do Oscar de Melhor Filme de Animação. Suas contribuições para o cânone diverso e absolutamente fantástico da Pixar acabaram por levar à promoção de Docter para a posição de presidente criativo do estúdio. Lembro que, quando “Soul” tinha sido anunciado em um evento da Disney, eu já tinha compartilhado no meu Facebook as seguintes palavras: “Senhoras e senhores, já temos o vencedor do Oscar de Melhor Filme de Animação em 2021”. Mas aí, veio “Wolfwalkers”, animação que eu ainda considero como o melhor filme do ano (cuja resenha você pode ler aqui:). Minhas convicções começaram a ficar divisivas. Mas, agora, tendo visto “Soul”, posso ver a razão do porquê ele tem sido tão bem recebido e considerado um dos melhores filmes do ano. Com isso dito, vamos falar do roteiro. Escrito por Docter, Kemp Powers e Mike Jones, a narrativa de “Soul” toma um caminho diferente, levando em consideração a fórmula de sucesso presente na maioria dos filmes da Pixar. A grande maioria dos filmes do estúdio tem um momento chave para fazer o espectador chorar: em “Up”, temos os primeiros 15 minutos; em “Toy Story 3”, temos a marcante cena final; e em “Viva: A Vida é uma Festa”, temos aquele emocionante dueto. Em “Soul”, pelo menos para mim, não consegui identificar uma cena com tal objetivo. Mas aí, uma perspectiva interessante me ocorreu. E se o filme de Docter não tivesse como seu principal objetivo fazer o seu público desabar de tanto chorar? E se fosse algo mais? A ideia acabou me acertando em cheio. “Soul” veio para fazer o seu público pensar. Mas antes de falar sobre a bagagem temática presente no roteiro, quero dedicar algumas linhas para falar da sua estrutura geral. Com uma duração bem enxuta de 1 hora e 40 minutos, Docter, Powers e Jones não desperdiçam um segundo do tempo do espectador, introduzindo sua ambientação e seus personagens-chave de maneira carismática e atraente, tanto para o público infantil quanto para o adulto. É uma narrativa original, ambiciosa e única, de modo que não consigo identificar nenhum tipo de inspiração. Se fosse pra eu definir “Soul” a partir de uma comparação com outro filme, seria um “Divertida Mente” espiritual, ao invés de psicológico. O enredo se movimenta muito bem, tendo como principal fio condutor a dinâmica entre os dois protagonistas, a qual é cativante e constantemente hilária. Mas o verdadeiro tesouro da narrativa de “Soul” está na sua mensagem, que é apresentada de forma leve e compreensível, para não passar despercebido na mente dos pequenos. É um filme que te convida para refletir sobre ambições, obsessão em seguir sonhos, o propósito da vida de alguém, e o roteiro aborda esses temas em uma perspectiva positivamente contagiante, servindo como o contraste perfeito para esse ano amargo, que (finalmente!) está prestes a acabar. Eu fiquei impressionado com a profundidade temática que os roteiristas foram capazes de alcançar aqui, e fiquei muito feliz com essa surpreendente mudança de algo emocionante para algo mais reflexivo. E tenho certeza que um filme ambicioso, reflexivo, e otimista como “Soul” não vai passar despercebido no Oscar ano que vem. Falando sério mesmo, esse filme poderia até repetir o feito de animações como “Up” e “Toy Story 3” e ser indicado na categoria principal de Melhor Filme, além da indicação garantida em Melhor Filme de Animação. Com essa perspectiva, eu mal posso esperar para a temporada de premiações ano que vem.

(Before 2020 (and its subsequent pandemic) began, I had already placed “Soul” as one of my most anticipated films of this year, for one simple and significant reason: it's directed by Pete Docter. Now, “Who's Pete Docter?”, you may ask. To sum it up, he's a genius. To state it in a longer sentence, he was responsible for giving us three modern classics in 21st century animation: “Monsters, Inc.”, “Up”, and “Inside Out”, with the last two winning the Oscar for Best Animated Feature. His contributions to Pixar's diverse and absolutely fantastic canon ended up leading to Docter's promotion to become the studio's chief creative officer. I remember that, when “Soul” was announced at a Disney event, I'd already shared the following words on my Facebook page: “Ladies and gentlemen, we already have our Oscar winner for Best Animated Feature in 2021”. But then, came “Wolfwalkers”, an animated film that I still consider to be the best film of the year (you can read my review on it here:). My convictions started to become divisive. But now, having watched “Soul”, I can see why it has been so well-received and considered one of the year's best films. With that said, let's talk about the script. Written by Docter, Kemp Powers and Mike Jones, the narrative of “Soul” takes a different path, in comparison to the studio's successful formula, which is present in most of their films. The great majority of Pixar's films has a key moment to make the viewer cry their eyes out: in “Up”, we have its first 15 minutes; in “Toy Story 3”, we have the final scene; and in “Coco”, we have that heart-wrenching duet. In “Soul”, at least for me, I wasn't able to identify a scene with that objective. But then, an interesting perspective came to me. What if Docter's film wasn't here to make its audience bawl their eyes out from crying? What if it was something more? Then, it hit me like a ton of bricks. “Soul” came to make its audience think. But before I talk about the screenplay's thematic resonance, I'd like to dedicate a few lines to talk about its general structure. With a concise running time of 1 hour and 40 minutes, Docter, Powers and Jones don't waste a single second of the viewer's time, introducing its setting and key characters in a charismatic and attractive way, both to children and adults. It's an original, ambitious and unique narrative, in a way where I literally can't identify any kind of inspiration. If I were to define “Soul” from a comparison with any other film, it would be a spiritual “Inside Out”, rather than psychological. The plot moves forward really well, having the dynamics between its two protagonists as its main conductive force. Those dynamics are captivating and constantly hilarious. But the real treasure of the narrative of “Soul” relies on its message, which is presented in a light and comprehensible way, in order to make the little ones understand it as well. It's a film that invites you to reflect on ambitions, obsessions in following dreams, the purpose of one's life, and the screenplay deals with these themes in a positively contagious perspective, serving as the perfect contrast to this bitter year that is (finally!) coming to an end. I was impressed with the thematic depth the screenwriters were able to reach here, and was really happy with this surprising detour from something emotional to something more thought-provoking. And I'm sure that a film as ambitious, thought-provoking, and positive as “Soul” will not go unnoticed at next year's Oscars. For real, this film is totally able to repeat the feat of animated films like “Up” and “Toy Story 3” and end up being nominated for the main category of Best Picture, besides the guaranteed nod in Best Animated Feature. With that in mind, I can't wait for next year's award season.)



Eu simplesmente amei como os dois personagens principais foram desenvolvidos ao longo da trama. No início do filme, o Joe é introduzido como uma pessoa que não se encontra realizada em seu trabalho e sempre deseja algo mais grandioso. E quando a 22 é introduzida, ela é apresentada como o completo oposto do Joe: ela parece bem realizada no estado em que ela se encontra, e não tem ambições pra algo maior, no caso, uma vida na Terra. E os roteiristas fazem um excelente trabalho em explorar os dois opostos e achar uma maneira em que os dois consigam ajudar um ao outro. Algo bem parecido com o que aconteceu com a Alegria e a Tristeza em “Divertida Mente”. Como dito anteriormente, o fio condutor da trama é a química entre os dois, e a troca de diálogos entre eles é rápida, afiada e dinâmica. Eles compartilham pontos de vista tocantes e reflexivos sobre a vida, complementados com diálogos e interações hilárias para equilibrar o tom do filme para um público mais jovem. Acho que a 22 é, brincadeiras à parte, uma das melhores personagens que a Disney criou nos últimos anos. Eu fiquei impressionado que os roteiristas não usaram o fato do Joe ser o primeiro protagonista negro da Pixar para criar uma subtrama abordando temas socialmente relevantes. Em parte, eu entendo, porque discutir temas como racismo e desigualdade social não é o objetivo de “Soul”, mas houveram tantos filmes abordando esses temas em 2020 que isso pareceu, pra mim, uma oportunidade perdida do estúdio mostrar sua crescente diversidade. O trabalho de voz aqui é absolutamente sensacional. Nomes como Jamie Foxx, Tina Fey, Questlove, Phylicia Rashad, Daveed Diggs, Richard Ayoade, Angela Bassett, Graham Norton e Alice Braga injetam cor e personalidade em cada um desses personagens com primor.

(I just loved how the two main characters were developed throughout the plot. In the beginning of the film, Joe is introduced as someone who is not satisfied with his current job and is always wishing for something greater. And when 22 is introduced, she is presented as the complete opposite of Joe: she seems quite satisfied with the state she finds herself in, and doesn't have ambitions for something bigger, in this case, a life on Earth. And the screenwriters do an excellent job in exploring these two opposites and finding a way where they can both help each other. Something very much alike what happened with Joy and Sadness in “Inside Out”. As previously stated, the plot's conductive force is the chemistry between the two, and their dialogue exchanges are quick, sharp and dynamic. They share touching and thought-provoking perspectives on life, which are complemented with hilarious interactions and dialogue to balance the film's tone to a younger audience. I think 22 is, no joking, one of the best characters Disney created in recent years. I was impressed that the screenwriters didn't use the fact that Joe is Pixar's first Black protagonist to create a subplot dealing with socially relevant themes. Partly, I understand, as discussing themes such as racism and social inequality isn't the objective of “Soul”, but still, there were so many films that dealt with these themes in 2020 that this seemed, to me, a lost opportunity for the studio to show its ever-growing diversity. The voice work here is absolutely sensational. Talents like Jamie Foxx, Tina Fey, Questlove, Phylicia Rashad, Daveed Diggs, Richard Ayoade, Angela Bassett, Graham Norton and Alice Braga wonderfully inject each one of these characters with a lot of color and personality.)



Com uma narrativa tão ambiciosa, a Pixar tinha que procurar aspectos técnicos dignos de mostrar essa ambição na tela. E fico bem feliz em dizer que “Soul”, visualmente, é o filme mais vibrante, colorido, polido e realista que a Pixar já fez até o momento. O retrato dos personagens humanos é feito com muita honestidade e poucas coisas cartunescas. Os detalhes que o estúdio conseguiu destacar aqui é algo de outro mundo. O suor na testa do Joe ao terminar de tocar, a textura no pêlo dos personagens animais. A direção de arte faz um trabalho extraordinário no contraste entre as duas principais ambientações, quase tornando-as personagens em si: enquanto Nova York é concreta, colorida, vibrante, e cheia de detalhes; o estado pré-vida é abstrato, uniforme, um pouco desbotado e simples, no bom sentido. Não vai me surpreender se o filme for indicado à Melhor Direção de Arte no Oscar. Quando o assunto é filmes da Pixar, uma coisa é quase certeza - a trilha sonora vai ser composta por uma dessas duas lendas: Randy Newman ou Michael Giacchino. Mas Pete Docter e companhia tinham outros planos. E pode-se dizer tranquilamente que foi a escolha certa. A trilha sonora original de “Soul” pode ser dividida em duas partes: as composições musicais de jazz, escritas por Jon Batiste (que, inclusive, foi o modelo por trás do design do protagonista), e a trilha sonora instrumental composta por Trent Reznor e Atticus Ross, os compositores responsáveis pelas marcantes faixas que dominaram filmes como “A Rede Social”, “Garota Exemplar” e, mais recentemente, “Mank”. Enquanto as composições de Batiste se fazem mais presentes nas cenas ambientadas em Nova York, injetando cada vez mais vida à cidade; o trabalho de Reznor e Ross casa perfeitamente com a vibe etérea e abstrata do estado pré-vida. A trilha sonora em si é uma obra-prima à parte, e deve ser uma das principais concorrentes ao Oscar de Melhor Trilha Sonora Original ano que vem.

(With such an ambitious narrative, Pixar had to search for worthy technical aspects to display this ambition onscreen. And I'm really glad to say that “Soul”, visually, is the most vibrant, colorful, polished and realistic film Pixar has ever made so far. The portrayal of the human characters is done with a lot of honesty and few cartoonish aspects. The details the studio managed to highlight here are something otherworldly. The sweat on Joe's forehead as he finishes playing, the texture on the fur of its animal characters. The art direction does an extraordinary job in contrasting its two main settings, almost making them characters by themselves: while New York is concrete, colorful, vibrant, and filled with details; the “Great Before” is abstract, uniform, a bit faded and simple, in a good way. I won't be surprised if this ends up being nominated for Best Production Design at the Oscars. When it comes to Pixar films, one thing is almost certain – the score will be composed by one of these two legends: Randy Newman or Michael Giacchino. But Pete Docter and co. had other plans. And I can safely say that they made the right bet. The original score for “Soul” can be divided into two parts: the jazz musical compositions, written by Jon Batiste (who, FYI, was the model behind the protagonist's design), and the instrumental score composed by Trent Reznor and Atticus Ross, those responsable for the remarkable tracks that dominated films like “The Social Network”, “Gone Girl” and, more recently, “Mank”. While Batiste's compositions are more present in the New York-set scenes, injecting more and more life to the city; Reznor and Ross's work is a perfect match to the ethereal and abstract vibe of the “Great Before”. The score itself is a masterpiece on its own, and should be one of the main contenders to the Oscar for Best Original Score next year.)



Resumindo, “Soul” é o melhor filme da Pixar desde “Divertida Mente”. Ambicioso, original e reflexivo, o novo filme de Pete Docter é uma ode positivamente contagiante às boas partes da vida, por mais insignificantes que pareçam ser. É um filme que chegou no momento certo, entregando sua mensagem otimista para que os espectadores terminem 2020 com a cabeça erguida e um sorriso no rosto.

Nota: 10 de 10!!

É isso, pessoal! Espero que tenham gostado! Até a próxima,

João Pedro

(In a nutshell, “Soul” is Pixar's best film since “Inside Out”. Ambitious, original and thought-provoking, Pete Docter's new film is a positively contagious love letter to the good parts of life, as meaningless as they may seem. It's a film that arrived at the right moment, delivering its optimistic message for the viewers to cap off 2020 with their heads held high and a smile on their faces.

I give it a 10 out of 10!!

That's it, guys! I hope you liked it! See you next time,

João Pedro)

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